sábado, 4 de março de 2023

Partridge Reserva Petit Verdot 2019

 

Nesses últimos anos, pelo menos para mim, Mendoza vem descortinando uma realidade que não se restringe apenas a clássica Malbec. O nosso mercado tem sido recebido e arriscaria dizer, bombardeado, com rótulos de outras castas que confesso não sabia que era cultiva na principal região vinícola dos nossos hermanos.

Claro que, além da emblemática Malbec, tem também a Bonarda que é a segunda casta mais cultivada naquelas terras, temos também a Cabernet Sauvignon, a Merlot, Syrah, mas jamais esperaria encontrar cepas como Cabernet Franc e Petit Verdot, por exemplo.

Talvez esteja imergido em uma total ignorância, mas é difícil encontrar castas na Argentina como a Petit Verdot sendo ofertado no mercado brasileiro, por exemplo e até mesmo a famosa e estabelecida Cabernet Franc, ouso dizer. Talvez eu esteja procurando nos lugares errados, mas o fato é que o cenário não é tão favorável para encontra-las até porque a “demanda” opta pelos famosos “malbecões” argentinos.

E como é fantástico a gente redescobrir, a cada degustação, regiões emblemáticas e conhecidas e que já degusta a décadas como a região argentina de Mendoza. É a comprovação de que o universo do vinho é vasto e inexplorado e não me canso de entonar isso, de gritar isso aos quatro cantos.

E dessa vez eis que me surge a Petit Verdot! A casta famosa de Bordeaux figurando nos rótulos argentinos de Mendoza! Quais são as características que entregará, além das essenciais típicas da uva? É no mínimo animador, quando as expectativas nos tomam de assalto dias antes de uma degustação como essa.

E ainda há outro ponto que merece ser ressaltado: há também poucas ofertas de rótulos 100% Petit Verdot por aí, figurando apenas em blends, em cortes. Porém de um tempo para cá temos testemunhado alguns varietais sendo produzidos na América do Sul, principalmente no Brasil.

Talvez essa realidade tem facilitado a oferta de tais rótulos em nosso mercado! O fato é que a animação é grande e decidi hoje desarrolhar um rótulo de um produtor que vem conquistando fama e reconhecimento no Brasil, como a Viña Las Perdices e a sua linha “Partridge”, de excelente custo X benefício.

Então já revelado o vinho que degustei e gostei que se chama Partridge Reserva da casta Petit Verdot (100%) da safra 2019. E já que a protagonista é a Petit Verdot nada mais justo e certeiro falar um pouco dela, da sua história.

Petit Verdot

A uva Petit Verdot é mais uma das castas que compõem o corte bordalês. Embora a Petit Verdot seja geralmente considerada proveniente do Gironde, no sudoeste da França, e de fato a primeira menção a casta foi lá em 1736, pesquisas ampelográficas apontam que a Petit Verdot se originou nos Pirineus, onde foi domesticada de videiras silvestres. Há ainda indícios de que teria sido trazida pelos romanos do Mediterrâneo.

Normalmente, é utilizada em pequenas doses nos cortes com a uva Cabernet Sauvignon para dar cor e corpo aos vinhos tintos (na região de Médoc se utiliza em torno de 1% a 5%). Dentre todas as uvas cultivadas na região de Bordeaux, a casta bordalesa Petit Verdot é uma das que mais demora para chegar à fase de maturação, contribuindo com a elaboração de vinhos tintos densos e bastante escuros. São poucos os varietais feitos com ela ao redor do mundo, mas há enólogos investindo bastante nesta casta principalmente em países como Chile e Argentina. 

Na Sicília, ilha localizada ao sul da Itália, por exemplo, a casta é responsável por vinhos tintos surpreendentes. A maior parte dos vinhedos estão localizados perto do vulcão Etna, proporcionando condições favoráveis para o cultivo da, muitas vezes incompreendida, Petit Verdot.

A casta Petit Verdot também pode aparecer em vinhos varietais, principalmente australianos e espanhóis da região de Jumilla, originando tintos intensos e vigorosos. Quando jovens, os vinhos tintos revelam aromas de bananas e madeira, e quando amadurecem, apresentam toques animais.

O nome Petit Verdot foi atribuído a casta por conta do pequeno tamanho de seu cacho e por existir em seus bagos frutos de cor escura e outros com tom esverdeado, graças a uma característica bastante predominante da cepa, o amadurecimento tardio. A tradução livre de Petit Verdot é “Pequeno Verde”. Sendo uma das castas com maior presença de flavonoides, a uva bordalesa Petit Verdot é uma das que mais trazem benefícios a saúde, contribuindo para o retardamento do envelhecimento e reduzindo os danos causados pelos radicais livres.

Petit Verdot

A Petit Verdot produz vinhos potentes, ricos, de cor profunda, tânicos, muitas vezes especiados e com bons níveis de álcool e acidez. Os vinhos desta cepa francesa harmonizam de excelente forma com alimentos que possuam bastante presença de proteína. Entretanto, os excelentes rótulos elaborados com a uva podem ser apreciados e degustados sozinhos, exaltando as características marcantes e únicas que a Petit Verdot concede ao paladar.

A evolução do Petit Verdot argentino é cativante. Não só porque conta com um nicho de fiéis seguidores, mas também porque entusiasma paladares internacionais. Sem ir muito além, em sua última visita ao país, Jancis Robinson destacou com entusiasmo: “Experimentei Petit Verdot mais consistentes que em Bordeaux”. Nesse cenário, um grupo de winemakers vem explorando o potencial da variedade em terroirs argentinos.

Como acontece com muitas variedades, pouco se sabe sobre como chegou à Argentina. Uma pista é que se encontra misturada com os vinhedos mais antigos de Malbec e, nos anos em que atinge o ponto ideal de maturação, contribui muito para a complexidade dos blends, dando cor, taninos, estrutura e acidez.

Jancis Robinson

A primeira menção em um rótulo veio justamente de um vinhedo antigo, quando Luigi Bosca lançou seu Finca Los Nobles Malbec Verdot 1995. “A Finca los Nobles é um vinhedo antigo, onde as variedades estavam misturadas desde seu plantio, e por isso quisemos transmiti-lo no rótulo e comunicá-lo como um fiel blend de Malbec e Petit Verdot”, conta Pablo Cúneo, Diretor de Enologia da Bodega Luigi Bosca.

No começo deste século, no entanto, alguns viticultores se animaram a elaborá-lo como um varietal puro. Um dos primeiros produtores em lançar um Petit Verdot argentino como varietal, e que, inclusive, o converteu no emblema da bodega graças a uma permanente consistência ano após ano, é a Finca Decero, em Agrelo, na província de Mendoza.

Pouco a pouco, foram aparecendo mais rótulos de Petit Verdot argentino no mercado. As primeiras vieram das zonas mais tradicionais de Mendoza e San Juan, inclusive alguma de La Rioja. Com o passar dos anos, enólogos e agrônomos foram se animando a plantá-lo em diferentes latitudes e altitudes. Hoje em dia, da Patagônia ao Valle Calchaquí, pode-se encontrar mais de 120 rótulos diferentes que mostram como o Petit Verdot se adaptou aos diferentes terrenos.

Segundo dados do INV (Instituto Nacional de Vitivinicultura da Argentina), existem 653 hectares plantados de Petit Verdot, dos quais 470 estão em Mendoza e praticamente não há região vitivinícola da Argentina onde não se encontra um vinhedo desta variedade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, mas que exibe um lindo brilho, com lágrimas finas e em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz traz aromas vívidos de frutas negras bem maduras, quase em compota, com destaque para cerejas pretas e amoras, com notas amadeiradas, baunilha, torrefação, chocolate, tabaco, couro, algo herbáceo, ervas e pimenta preta.

Na boca é de médio corpo a encorpado, intenso, complexo, com as frutas negras maduras protagonizando, como no aspecto olfativo, em total sinergia com a madeira, muito bem integrada, graças aos 12 meses em barricas de carvalho, bem como o álcool em evidência, propiciando bom volume de boca. Tem taninos presentes e marcados, acidez equilibrada, com toque de chocolate, café torrado, baunilha e mentolado. Final persistente.

Falamos de terroir demasiadamente, de tipicidade, um assunto, um tema tão complexo, tão deliciosamente interminável, com os seus solos, “microclimas” dentro de uma região que parece mesmo diante de nossa imensa capacidade enciclopédica acerca do assunto, parece que quando degustamos vinhos como o Partridge Reserva Petit Verdot este entrega com fidelidade tipicidade, olha a palavra aí de novo. Essas impressões, as experiências sensoriais se tornam tão aguçadas que quando, às vezes, falta a questão técnica sobre o entendimento do terroir, nos sobra os sentidos, o que já é, claro, relevante. Percebi que uma das filosofias da Viña Las Perdices, produtor responsável pela linha “Partridge”, é de que os vinhos têm de maturar em barricas de carvalho, tendo o aporte da madeira, sendo incorporados ao vinho, conferindo-lhe estrutura e complexidade, mas nunca mascarando as características essenciais da Petit Verdot. Tem 14% de teor alcoólico.

Sobre a Viña Las Perdices:

Em 1952, Juan Muñoz López decidiu deixar sua cidade natal, Andalucia, no sul da Espanha, e ele e sua família emigraram para Mendoza, na Argentina, a fim de buscar novos horizontes.

Em seguida, já em solo argentino, não pôde deixar de notar as perdizes que vagavam pela terra. Com efeito, um vizinho disse a ele que essas aves geralmente são vistas em grupos de três.

Assim sendo, com o passar dos dias, as perdizes se tornaram as companheiras constantes de Don Juan em seus longos dias de trabalho. Assim, ele decidiu nomear sua vinícola Partridge Vineyard: “Viña las Perdices”.

A adega hoje é uma operação familiar criada por Juan Muñoz López, sua esposa Rosario, seus filhos Nicolas e Carlos e sua filha Estela.

A vinícola, assim, se localiza no sopé da Cordilheira dos Andes a 1.030 metros acima do nível do mar, em Agrelo, Luján de Cuyo – a primeira zona DOC (denominação de origem controlada) argentina. Do mesmo modo, as uvas são provenientes de duas de suas vinhas em Agrelo em Lujan de Cuyo e Barancas em Maipu.

Por fim, hoje Las Perdices continua a ser uma vinícola de pequena produção e com um espírito entusiasmado em apresentar os vinhos finos de Mendoza.

Sobre a Partridge Vineyard:

A linha Partridge foi criada em 2009 para complementar o portfólio da Viña Las Perdices nos mercados internacionais. São vinhos de perfil clássico e de qualidade, que ganhou a preferência dos consumidores.

A linha tem quatro divisões, que variam de acordo com o perfil dos rótulos:Partridge Flying, Partridge Reserva, Partridge Gran Reserva e Partridge Selección de Barricas.

A sub-linha Partridge Flying oferece vinhos fáceis de beber que são excelentes para o dia a dia. Em Reserva, os rótulos amadurecem em barricas de carvalho, agregando mais corpo e complexidade aos vinhos. Já na Gran Reserva, os vinhos são sofisticados e passam no mínimo 12 meses em carvalho, garantindo grande intensidade. E, por último, a Selección de Barricas, conta com exemplares de alta gama.

Mais informações acesse:

https://www.lasperdices.com/index.php

Referências:

“Blog Wines of Argentina”: https://blog.winesofargentina.com/pt-pt/breaking-pt/petit-verdot-argentino/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-bordalesa-petit-verdot-e-dicas-de-vinhos-para-amar-casta_13628.html

“Blog Famiglia Valduga”: https://blog.famigliavalduga.com.br/petit-verdot-conheca-as-particularidades-desta-casta-francesa/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/petit-verdot

 



 




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