sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Ernst Loosen Pinot Noir 2017

 

Os períodos de festas de fim de ano vêm chegando. As pessoas decidem ficarem legais e boazinhas talvez “contaminadas” pelo natal e ano novo, o cidadão fica meio maleável às coisas da vida. Eu nunca me importei com essas festas de fim de ano, não tem nenhuma relevância no que tange as quaisquer mensagens edificadoras, apenas um viés mercadológico, de consumo exacerbado e nada mais.

Não vou entrar na complexidade da questão, contudo não posso negligenciar que as iguarias gastronômicas são excelentes! Come-se maravilhosamente e demasiadamente nesses dias e para nós, enófilos de plantão, torna-se um desafio harmonizar um rótulo com essa grande demanda de pratos, com a diversidade de sabores e aromas.

E para quem não é um especialista em harmonizações como eu, ao longo desses anos, tem sido complicado escolher um vinho, uma casta, uma região, que seja, que pudesse ser uma espécie de “coringa” que harmonize muito bem com os diversos pratos sem ter que escolher diversos rótulos para cada tipo de comida.

Levou algum tempo escolher aquele vinho legal que tivesse esse “perfil” mais versátil. Mas sem querer eu consegui chegar a um rótulo, ou melhor, uma casta que sintetizasse o meu propósito. Eis que surgiu a já conhecida e maravilhosa Pinot Noir. Sim! Pinot é delicada, frutada, leve, na maior parte das propostas, e ideal para o período de clima quente como em dezembro, por exemplo.

Acho que cheguei a degustação “perfeita” para o natal e, claro que para este difícil e complicado ano de 2021 a Pinot Noir figuraria na minha degustação do dia do famigerado Papai Noel comercial. E já estou no terceiro ano seguido, tornando-se uma “nova tradição”. Os dois anos anteriores os vinhos Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2017 e o francês do Languedoc, Domaine de la Motte 2018, foram os contemplados e o rótulo de hoje é especial também.

Esse rótulo vem da Alemanha! A minha segunda experiência com a Spätburgunder, como é chamada a Pinot Noir naquelas bandas. O primeiro que degustei fora com um grande amigo Paulo Roberto e se chama J. Meyer Pinot Noir da safra 2018. Então precisava ter uma nova experiência sensorial. Na realidade esse vinho já estava na minha adega há algum tempo, já estava quando o meu bom amigo Paulo trouxe esse rótulo germânico em minha casa, somente aguardava para abri-lo em um momento especial, conveniente, diria.

E eis que o dia chegou e na temperatura mais do que adequada, apesar da dificuldade de manter resfriado em dias quentes em Niterói, Rio de Janeiro, ele estava no ponto para ser degustado, deleitado. A rolha anunciou sua liberdade da garrafa, a bebida inundou a minha taça e... voilá! O vinho que degustei e gostei veio da icônica região de Pfalz, na Alemanha e se chama Ernst Loosen, da casta Pinot Noir, da safra 2017. E como a Alemanha tem sido desbravada, vagarosamente por mim, ao longo desse curto período de tempo, nada mais do que pertinente falar sobre a região que veio o vinho e das classificações dos vinhos alemães que ainda é um assunto muito novo em nossas terras. Ah surgiu também o nome Ernst Loosen, de um viticultor alemão que vem ganhando notoriedade ao longo dos anos e convém claro falar sobre ele também e falarei no desfecho dessa resenha. Chegarei lá!

Pfalz

Localizada no sudoeste da Alemanha e fazendo fronteira com a Alsácia, na França, Pfalz é famosa por seus vinhos. É a segunda maior das 13 regiões vinícolas do país, com mais de três mil famílias de vinicultores dedicadas à produção de vinho. Região estreita de 22.000ha, o Platinado se estende a oeste do Reno, por cerca de 80 km seguindo um eixo norte-sul. Divide-se em três setores: Mittelhaardt (Haardt média), Deutschen Weinstraße (Rota Alemã do Vinho) e Südliche Weinstrasse (Rota Sul do Vinho).

Os melhores vinhedos ladeiam as encostas a leste da Floresta do Platinado. A região é famosa pela qualidade de seus vinhos brancos, particularmente por seus Rieslings, vinhos de caráter, minerais, geralmente encorpados, mas também muito finos. A produção dos vinhos tintos é muito limitada, mas sua qualidade é geralmente excelente.

Pfalz

A região vinícola do Palatinado, denominada oficialmente de Pfalz, pode ser descoberta da melhor maneira pela Rota Alemã do Vinho (Deutschen Weinstraße). Essa rota turística de vinhos, a mais antiga do gênero no mundo, liga diversas cidades produtores de vinho, de Bockenheim, ao norte, a Schweigen, na fronteira com a França. A rota permite conhecer de maneira agradável a região vinícola entre a floresta Pfälzerwald e o Reno.

Pfalz possui uma grande variedade de solos: arenito (na maior parte da região), calcário erodido, ardósia, rocha basáltica e loess (sedimento fértil de cor amarela que só existe em algumas partes da Europa e da China), entre outros - o que permite o cultivo de amplo sortimento de castas de uvas tintas e brancas. Comparado a outras regiões alemãs, o clima de Pfalz é mais quente, porém ameno. Não há invernos rigorosos e verões de altíssimas temperaturas. A chuva acontece na medida certa e tudo isto beneficia o cultivo das uvas, influenciando diretamente na qualidade destas.

Em Pfalz são cultivadas 45 castas de uva branca e 22 de uva tinta. Aproximadamente 25% dos vinhedos do local são cultivados com a variedade Riesling, por isso, Pfalz é considerada a maior produtora destas uvas em todo o mundo. Entretanto, 40% dos vinhedos são de frutas tintas, e a região é a maior produtora de vinhos tintos do país. Além da Riesling, as uvas brancas Gewürztraminer e Scheurebe são destaque na região. Entre as tintas cultivadas em Pfalz temos Dornfelder, Portugieser, Spätburgunder (Pinot Noir) e Regent, além das mundialmente conhecidas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tempranillo e Syrah. Em Pfalz a Pinot Noir dá os melhores resultados dentre as regiões alemãs.

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais.

O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.

Nomenclatura dos vinhos alemães

Deutscher Wein: São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein: Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA): É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.

Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta o típico e lindo vermelho rubi, claro, com reflexos violáceos, em tons vivazes e brilhantes, com lágrimas finas e em profusão.

No nariz explodem em aromas de frutas vermelhas frescas, mesmo com seus quatro anos de vida, de safra, tais como amora, cereja, framboesa e morango, em plena sinergia com a madeira, além de toques terrosos, que lembra floresta, florais e de especiarias.

Na boca ressalta-se a fruta vermelha mesclando, de forma equilibrada, com as notas discretas da madeira e baunilha, graças aos 50% do lote que passou por longos 15 meses em barricas de carvalho e a outra metade em tanque de inox pelo mesmo período. Revela-se um vinho harmonioso, fresco, saboroso, com estrutura média, complexo, de bom volume de boca, com taninos vivos, presentes, mas delicados, com grande acidez e um final prolongado e frutado.

Um cantinho desse planeta fértil em produção vitivinícola vem, aos poucos, com paciência e deleite, sendo explorado. Cada rótulo, cada casta, cada região vem demonstrando, de forma significativa seu potencial, sua magnífica história. É um grande prazer degustar, sentir os aromas, a experiência sensorial a toda prova, adicionando, claro, o fator histórico, da cultura dessas regiões que são definitivas para as degustações e todas as impressões. Ah e as harmonizações com as iguarias gastronômicas natalinas? Digo que, mais uma vez, foi uma acertada escolha. Trata-se de um vinho com longos 15 meses por barricas de carvalho, cerca de 50% do lote, que trouxe complexidade e até estrutura ao vinho, mas que se equilibrou maravilhosamente com a delicadeza, enaltecendo a fruta e a elegância tão comum e típica da Pinot Noir. Então celebre a vida, as pessoas que ama e pratique boas ações em todos os dias do ano e tenha sempre ao lado um bom e digno vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Ernst Loosen:

Ernst Loosen nasceu em uma grande tradição de vinificação alemã e, dessa forma, a propriedade no rio Mosel é familiar há mais de 200 anos. Em 1988, sendo assim, Ernst assumiu a frente dos negócios. Ele concluiu os estudos na renomada escola de vinificação da Alemanha em Geisenheim e, em seguida, lançou uma revisão autodirigida dos grandes vinhos do mundo.

Ele viajou para a Áustria, Borgonha e Alsácia, até a Califórnia. O que ele descobriu, portanto foi que todos compartilham uma dedicação à produção de vinhos intensos e concentrados que proclamam corajosamente sua herança.

Eles também têm uma visão mundana que lhes permite manter o respeito pela tradição, enquanto a temperam com a razão. Isso lhes dá a liberdade de reconhecer então que nem todas as tradições merecem ser observadas obstinadamente e permitem o uso criterioso das técnicas modernas de vinificação quando isso melhora a qualidade.

É essa visão de mercado global à qual Ernst atribui com entusiasmo, uma filosofia que equilibra enfim o antigo com o novo. É uma maneira de pensar que lhe permitiu ir além do fácil e familiar, do experimentado e não necessariamente tão verdadeiro, para assim fazer vinhos que se destacam como verdadeiramente distintos e de classe mundial.

Desde que Ernst Loosen assumiu o controle da propriedade, reconheceu muito potencial que não estava sendo utilizado. Seu pai e seu avô estavam mais envolvidos na política do que na produção de vinho, então nada havia sido feito para manter as vinhas ou atualizar o porão.

Ironicamente, Ernst viu que o desinteresse de seus antepassados ​​havia lhe dado exatamente o que ele precisava para produzir o tipo de vinho rico e corajoso que ele prefere.

Como seus antecessores não estavam dispostos a investir em novas vinhas para o que era essencialmente um hobby em família, Ernst herdou pois um bom número de vinhas com mais de 100 anos – vinhas perfeitamente adequadas ao estilo de baixo rendimento e altamente concentrado que ele queria produzir.

E a propriedade não sucumbiu às tendências dos anos 60 e 70, no momento em que muitos produtores estavam replantando suas vinhas Riesling com variedades de menor qualidade e alto rendimento. A negligência de seu pai na adega também acabou trabalhando sem dúvida alguma a favor de Ernst.

Sem nenhum equipamento de alta tecnologia para tentá-los, Ernst e seu mestre de adega não tiveram escolha a não ser fazer vinhos de maneira minimalista, com muito pouco manuseio e fermentações longas e lentas.

Desde que Ernst assumiu, os seus vinhos receberam inúmeros prêmios e críticas brilhantes na imprensa. Assim sendo, a propriedade tornou-se membro da prestigiada VDP, a associação alemã das melhores vinícolas do país, e foi nomeada uma das 10 melhores propriedades da Alemanha por quase todas as publicações de vinhos do mundo.

Ernst foi nomeado então o enólogo do ano na Alemanha na edição de 2001 do Weinguide Deutschland da Gault Millau e homem do ano da revista Decanter em 2005. Assim como foi o enólogo branco do ano do International WINE Challenge em 2005.

Anteriormente, em 1995, Ernst e seu irmão mais novo, Thomas, lançaram um segundo rótulo, Riesling, chamado “Dr. L”. Contratando produtores locais, eles podem obter frutas de alta qualidade para fazer um vinho não-embalado e com sabor muito característico da região.

Dr. L Riesling exibe os sabores de ardósia limpas e limonadas do Mosel Médio a um preço muito acessível. É uma introdução maravilhosa ao alemão Riesling e aos vinhos da propriedade Dr. Loosen.

“Ernst Loosen inseriu o vinho alemão no cenário mundial do século XXI” (Jancis Robinson).

Mais informações acesse:





Nenhum comentário:

Postar um comentário