sábado, 10 de julho de 2021

Santa Ema Select Terroir Reserva Merlot 2018

 

A Merlot definitivamente tem uma importância ímpar na minha trajetória de enófilo. Diria, sem medo ou exagero, que a Merlot ajudou a moldar o que sou como um apreciador incondicional da poesia líquida. Foi uma casta essencial para a minha transição dos vinhos de mesa para os vinhos finos, de uvas vitis vinífera. Mas o mais importante disso tudo é o impacto que ela causou em minha vida e que, a cada degustação, a cada experiência sensorial vem impactando.

Lembro-me com nitidez que os primeiros rótulos da casta Merlot que degustei logo me rendi de forma incondicional, me curvei perante a ela e de imediato se tornou a minha casta preferida, mesmo que naquela época eu ainda estava apenas no início da minha trajetória no universo do vinho.

Degustei alguns rótulos nacionais e chilenos, mas o segundo, de cara, me impressionou: tinham personalidade, eram marcantes, alguns encorpados, mas macios, equilibrados e fáceis de degustar. Embora naquela época, como disse, estava apenas no início da minha caminhada no mundo dos vinhos, eu conseguia ter essa percepção do vinho, o que fez curvar diante da cobiçada Merlot.

E degustei de forma ávida e dedicada alguns rótulos chilenos da casta Merlot e que maravilha era explorar cada um deles, de várias regiões, cada um com a seu terroir, as suas características, fazendo com que eu mergulhasse profundamente nos rótulos chilenos da casta. Tive momentos em que a minha simples adega se tinha Merlot chileno, como foi intenso, uma espécie de paixão avassaladora em que, determinadas situações, temia que razão tomasse conta de meus sentidos e fizesse trazer à tona alguma ingrata realidade.

Mas não permiti que a temível e silenciosa zona de conforto, tomasse conta de mim e o Chile se desbravou diante dos meus olhos e sentidos de outras formas, ou melhor, de outras castas e rótulos nas suas mais diversas propostas, mas não posso negar que o Chile e os seus grandiosos vinhos chegou a mim graças a Merlot, bem como a casta propriamente dia.

E a minha mais nova degustação de um Merlot chileno veio de uma forma inusitada e surpreendentemente incrível. Avistei, em uma das minhas novas incursões aos supermercados, um Merlot do Chile com um atraente valor na faixa dos R$ 23,00! Receoso, me aproximei para conferir com cuidado. Como costumo fazer, acessei a página do produtor para colher mais informações acerca do vinho e o que lá li me chamou muito atenção, sobretudo pelo fato do valor tão baixo.

Não tinha nada a perder, afinal, um valor baixo, caso o vinho não me agradasse eu perderia pouco dinheiro. E eis que o dia, o momento, chegou! No barulho da rolha se desprendendo da garrafa, por um instante eu voltei no tempo e relembrei de agradáveis degustações de bons Merlots chilenos. Que vinho! Então apresento o vinho que degustei e gostei que veio do Vale del Cachapoal, no Chile, e se chama Santa Ema Select Terroir Reserva, da safra 2018.

Então já que fiz comentários elogiosos a Merlot, falemos um pouco da casta e também da região a qual o vinho foi concebido, já que o nome do vinho traz a palavra-chave: “Terroir”.

Merlot: popular sim, mas elegante.

Por um longo período na história dos vinhos, a Merlot ficou conhecida pejorativamente como a “outra tinta de Bordeaux”, região de sua origem e cuja estrela principal era a Cabernet Sauvignon. Esse panorama começou a mudar no final do século XX – atualmente ela é uma das castas de maior sucesso no mundo, sendo cultivada em diversos países vitivinicultores.

Pesquisas revelam que a Merlot descende da casta Cabernet Franc, também francesa, sendo meia-irmã das não menos famosas Carmenère e da Cabernet Sauvignon. Apesar de seu prestígio ter se espalhado pelo mundo apenas na década de 1980, a Merlot tem cultivo documentado há séculos atrás. A primeira referência à uva que se tem notícia data de 1784, no seu país de origem: a França.

A sua designação, Merlot, deriva de Merle – nome dado a um pássaro na França que, assim como a uva, ostenta uma coloração escura e profunda. 

Melre

No século XIX foi muito cultivada na região de Médoc, que fica à margem esquerda do rio Gironde. Tem seu nome mencionado em diversas ocasiões na Itália e Suíça já na virada para o século XX, mas ganha notoriedade mesmo quando entra no Novo Mundo em 1990, tornando-se a uva mais popular nos Estados Unidos.

A França continua sendo o maior cultivador desta casta, com aproximadamente dois terços da sua produção mundial. Bordeaux, com 56% de seus vinhedos cobertos de Merlot, é a principal produtora; sobretudo na sua margem direita, onde a uva domina as plantações das regiões de St. Émilion e Pomerol. Outros países como Itália (onde a Merlot é a quinta casta mais plantada), Estados Unidos (na Califórnia, principalmente), Argentina, Chile, Austrália, Brasil, Canadá e África do Sul cultivam a Merlot de forma significativa. Denotando seu prestígio, popularidade e fácil adaptação em diversas partes do globo.

Assim como a Cabernet Sauvignon, a Merlot tem boa adaptabilidade a diversos solos e terroirs. Suas cepas se desenvolvem muito bem em solos rochosos e áridos, mas também são bem cultivadas em solos argilosos. Quanto ao clima, a adaptabilidade também reina, pois consegue produzir boas safras tanto em climas mais quentes quanto em mais frios e úmidos.

Apesar do seu fácil cultivo e da sua flexibilidade, os especialistas divergem a respeito do tempo de maturação dessa uva, não existindo consenso. Isso porque, outra característica dessa uva é sua propensão para passar do ponto do amadurecimento, o que pode acontecer em questão de dias (um dia está boa e dias depois já amadureceu muito).

Os que defendem a colheita tardia entendem que isso conserva os açúcares e a maturação fenólica de forma mais concentrada. A outra corrente, ao contrário, acredita que a colheita tardia prejudica a acidez e destaca excessivamente os aromas frutados, tornando o vinho mais pesado, com menos frescor e elegância, razão pela qual defendem a colheita precoce.

Por causa dessa divergência que atualmente existem dois tipos de vinhos Merlot: (i) o estilo internacional, elaborado no novo mundo, no qual a uva é colhida mais tarde (no momento em que está mais madura), com teor alcoólico mais alto e que resulta em um vinho mais encorpado. E (ii) o tradicional estilo de Bordeaux, que usa uva colhida mais cedo para manter a acidez e produzir vinhos de corpo médio, com teor alcoólico moderado.

Como se não bastassem essas diferenças, especialistas ainda afirmam que há diferença de entre os vinhos em razão da região onde a uva é cultivada, especificamente se é em local mais quente ou mais frio. De fato, vinhos de regiões mais frias, como França, Itália e Chile, são mais estruturados, com maior presença de taninos e aromas de tabaco. Já os vinhos de regiões mais quentes, como da Califórnia, da Austrália e da Argentina, são mais frutados e com taninos menos predominantes.

Vale de Cachapoal

O Valle del Cachapoal – Valle del Rapel, é uma sub-região da região de Valle Central. Ocupa a parte sententrional do vale de Rapel, enquanto o vizinho meridional é Colchágua. Embora por muito tempo se tenha falado só de Rapel, pouco a pouco ambos foram se desligando dessa vizinhança a ponto de já muitos poucos rótulos falarem em um Rapel genérico.

Valle Central e o Valle del Cachapoal

Existe lógica por trás dessa divisão, porque as diferenças são importantes, tanto em clima quanto em topografia. Boa parte dos produtores mais importantes de Cachapoal tem seus vinhedos aos pés dos Andes, local chamado de Alto Cachapoal. Nessa região a Cabernet Sauvignon brilha com seu frescor e elegância, mas, também, aproveitando a influência fria da cordilheira e dos pedregosos solos aluviais de média fertilidade, conseguiram-se interessantes resultados com a Viognier em brancos  e  Cabernet Franc em tintos.

O poente, nos arredores de Peumo, as temperaturas aumentaram, especialmente nos setores protegidos da influência marítima, como em Las Cabras. Nesse setor, o estilo delicado e elegante transforma-se em maior potência de álcool, maturidade e doçura. Isso explica por que, na região ocidental do vale, a Carménère alcance sua completa maturação sem dificuldades. Em Peumo, na margem setentrional do rio Cachapoal, são produzidos alguns dos mais interessantes Carménère do Chile.

As brisas frescas da costa que deslizam pela bacia do rio banham os vinhedos de frescor e, ao mesmo tempo, moderam as altas temperaturas do setor. Isso explica, por exemplo, que os tintos tenham essas notas de ervas e frutas vermelhas maduras proporcionadas pelas brisas frescas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça mostra um imponente vermelho rubi intenso com reflexos violáceos brilhantes com abundantes lágrimas grossas que mancham as paredes do copo.

No nariz revela aromas de frutas vermelhas maduras, algo de groselha e ameixas, com notas amadeiradas delicadas e de baunilha em um equilíbrio invejável, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, cerca de 40% do vinho.

Na boca é um vinho austero, maduro, de tipicidade, com alguma estrutura, mas muito macio e harmonioso, aparecendo, mais uma vez, as notas amadeiradas, de forma discreta, fazendo com que a fruta sobressaia, o toque herbáceo se faz presente também, com taninos firmes, mas domados, acidez correta e final prolongado e frutado.

O nome do vinho traz aquela palavra-chave: “Terroir”. E ela explica muita coisa que aqui foi textualizada. As características climáticas e geográficas que personificam os Merlots chilenos, a personificação do genuíno. Antes de saber ou pelo menos ter a mínima, a vaga noção do conceito de “Terroir” eu já tinha a plena noção da tipicidade dos Merlots chilenos e foi o que me cativou, o que me arrebatou por inteiro. Santa Ema Select Terroir surpreende por entregar um vinho maduro, de personalidade marcante, mas suave, elegante. Uma versatilidade que faz com que o vinho cative a todos os paladares, dos mais exigentes aos iniciantes do universo vasto e inexplorado do vinho que ainda tem a maravilhosa capacidade de nos surpreender. Que o Merlot chileno continue nos inspirando e provocando verdadeiras catarses em nossos sentidos. Tem 13,7% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Ema:

O começo da Santa Ema remonta ao início do século XX, quando o Sr. Pedro Pavone Voglino, imigrante italiano, vindo do Piemonte, atleta e empresário, descobriu na Ilha de Maipo um Terroir, onde até hoje, ainda é a sede da vinícola, isso em 1917. Em 1935 ele adquire a fazenda Santa Ema, com 35 hectares.

O fundador, juntamente com seu filho Félix Pavone Arbea, um grande empreendedor e visionário, fundou a empresa vinícola, Vinhos Santa Ema, em 1956, proporcionando uma avançada infraestrutura industrial para o desenvolvimento e gerenciamento de vinhos embalados de alta qualidade.

A primeira exportação de vinhos Santa Ema para o mercado exterior acontece em 1986 e, a partir de então, a Santa Ema se abriu para o Chile e para o mundo, iniciando suas exportações em um processo de crescimento sólido e ininterrupto, que hoje atinge a mais de 30 países de destino nas mãos da terceira e quarta geração da família.

Se existe algo que caracteriza o espírito, a missão e a visão dos Vinhos de Santa Ema, que continua pertencendo à Família Pavone, hoje em sua quarta geração, é uma adesão plena e sustentada aos seguintes valores fundamentais: Compromisso, Qualidade, Respeito, Honestidade e Responsabilidade.

Mais informações acesse:

https://www.santaema.cl/pt-br/?active=S

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=RAPELCACHAPOAL

“Blog Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-merlot-conheca-mais-sobre-os-vinhos-dessa-variedade/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uva-merlot-quando-a-popularidade-encontrou-a-elegancia/

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/11/09/o-vale-de-cachapoal/

 

 

 

 

 






sábado, 3 de julho de 2021

La Sogara Bardolino 2018

 

“Degustar” história e se deleitar com conhecimento é único. E nada melhor que fazê-lo da forma mais prazerosa possível, não forçosamente. O que eu quero dizer é que o vinho, o simples ato de abrir uma garrafa e servir a sua taça de vinho, simples para alguns, pode se tornar um transborde de aprendizado, de cultura, de um intenso processo cognitivo.

E seguindo para o simples, mas nobre caminho da degustação, ter acesso aos rótulos com aquele aspecto regionalista traz também todo o charme e o entusiasmo para que esse processo cultural, da busca pela história seja prazerosa e interessante também, afinal, um complementa o outro, são convergentes.

E a Itália, sem sombra de dúvida, te entrega tudo isso com maestria. Regiões e os seus mais diversos terroirs, peculiaridades de todo o tipo que faz de um país, embora pequeno, geograficamente falando, gigante e significativo na sua representatividade histórica na vitivinicultura mundial.

Um vinho, de uma pequena comuna ou município, como é chamado na Terra da Bota, na emblemática região do Vêneto, é muito importante e relativamente conhecida e reverenciada no mundo, mas que, no meu humilde “currículo” de enófilo, saiu poucas degustações, sempre me chamou a atenção e quando avistei em um famoso site especializado de compras, a um atrativo valor, me fez automaticamente comprar, principalmente pelo caráter frutado, simples, jovial e muito direto, quase informal, ao se degustar. Falo do Bardolino.

Fazemos tanta questão de degustar vinhos voluptuosos, carnudos e complexos que hoje decidi explorar na minha adega um vinho mais frutado, elegante e saboroso, descomplicado de degustar. E achei, achei um que completasse os meus anseios e, ao degusta-lo, abraçou todos os meus iniciais desejos. O vinho que degustei e gostei veio da pequena e significativa região de Bardolino, no Vêneto, Itália, e se chama La Sogara composto pelas tradicionais castas da região Corvina (70%), Rondinella (20%), e Molinara (10%) da safra 2018.

Bem já que falamos tão demasiadamente de história, conhecimento e cultura, para não perder o costume vamos seguir, antes de falar do vinho, com um pouco de, adivinhe, história! Do Vêneto, de Bardolino, das suas castas típicas e de tudo o mais que merecer.

Vêneto

O nordeste da Itália deve menos à tradição e mais ao desenvolvimento moderno que o restante do país. Mesmo assim as origens do vinho ali remontam à antiguidade, quando os etruscos dominavam a região e praticavam a agricultura e o cultivo da vinha, por volta de 600 anos a.C.

Sua história posterior é semelhante a muitas outras regiões italianas: grande desenvolvimento com a dominação romana, quase destruição da atividade vinícola com a invasão dos bárbaros e retomados na era medieval. No Vêneto, esse renascimento se deu ao redor do ano 1.000, sob a proteção da Sereníssima República di Venezia. Mais perto de nossos dias, a produção de vinhos na região sofreu grande influência austríaca.

A propósito, não se pode falar do vinho do Vêneto sem que se ressalte o importante papel desempenhado pela República de Veneza na atividade mercantil européia. Com enormes vantagens naturais, debruçada sobre o Adriático e voltada para o Oriente, desenvolveu um vibrante comércio de mercadorias – e dentre elas o vinho estava em primeiro lugar – por todo o Mediterrâneo, singrado por sua veloz frota de modernos barcos. Traziam para o Ocidente os vinhos da Grécia e também os bons vinhos que o Oriente Médio (Síria, Líbano, Palestina) produzia, sem se importar com o domínio militar muçulmano por esses mares.

Outra grande contribuição veneziana para a vinicultura aconteceu por volta do ano de 1300, quando resgataram a antiga arte romana de fabricar vidros transparentes, que os venezianos buscaram na Síria e implantaram na ilha de Murano. Assim, já no século XVI, apenas os vinhos de excelente qualidade eram guardados em garrafas, prática que toda a Europa imitou.

Verona, Veneza, Vicenza e Padova são as principais cidades do Vêneto. A região vinícola de Veneza faz fronteira ao norte com a Áustria, à nordeste com o Friuli-Venezia Giulia, à noroeste com o Trentino Alto-Ádige, à oeste com a Lombardia e ao sul com a Emilia- Romagna. As altitudes variam desde as bem elevadas, próximas aos Alpes, até as planícies que bordejam o mar Adriático, sendo o terreno normalmente ondulado. Muitos lagos, como o de Garda, são encontrados em sua área, além de rios, como o Pó e o Piave, propiciando grande desenvolvimento agrícola. O clima é continental, no interior, e de influência mediterrânea, nas regiões próximas ao mar e ao lago de Garda.

Vêneto e suas sub-regiões

Bardolino DOC

Bardolino está localizado na margem oriental do Lago de Garda, a 30 km de Verona, em uma área montanhosa espremida entre o lago a oeste e a colina moraina que separa o lago do vale de Adige a leste e o Vale do Pó. O território municipal tem uma área de 5.428 hectares dos quais cerca de 1.574 hectares de terras e 3.836 hectares de lago; administrativamente faz fronteira ao norte com Garda, a leste com Costermano, Affi Cavaion e Pastrengo; ao sul com Lazise; a oeste com a província de Brescia.

Bardolino

A origem da cidade é muito remota e certamente remonta à civilização itálica de moradias; vestígios de uma aldeia habitada por pilhas estão presentes em Cisano (bem como em outros municípios ao sul de Bardolino). O nome deriva do lombardo "bardus" ou "Lombard". Para Bardus, o sufixo olus é adicionado para Bardolus ao qual o segundo sufixo de relevância é adicionado, inus [divus + inus = divinus ou deus]. Esse é o "pequeno lugar dos lombardos".

Os vinhos de Bardolino são produzidos com as mesmas castas do Valpolicella (Corvina, Molinara e Rondinella) sendo, no entanto, mais leve. Simplicidade, frescor e boa fruta são suas principais características. A lei permite a adição de até 15% de outras uvas regionais como a Negrara, Sangiovese, Barbera, Rossignola e Garganega.

A região de plantio circunda a cidade de Bardolino, à beira do belo lago de Garda, e pode ser de dois tipos: Bardolino Classico, elaborado com uvas oriundas da zona clássica ou histórica, e o Bardolino Classico Superiore, feito também com uvas da zona histórica, mas com teor alcoólico superior a 12,5%.

Outro vinho da região é o Novello, uma versão italiana do Beaujolais Nouveau, elaborado também por maceração carbônica, é um vinho para ser bebido ainda mais jovem do que o Bardolino, assim como seu congênere francês.

As castas

Corvina

A Corvina é a principal uva usada no grandioso vinho tinto Amarone della Valpolicella e no vinho Valpolicella, combinada com parcelas de uva Rondinella e casta Mollinara. Uma uva autóctone da região de Verona é particularmente indicada à passificação – processo em que as uvas são secas para perderem água e aumentar a concentração de açúcar e proporção de matéria seca. Os bagos da uva Corvina são de tamanho médio, ovais e de cor azulado escuro, formando cachos na forma piramidal.

O seu nome, inclusive, foi conferido graças a sua cor escura. Corvina em italiano significa corvo, a uva é “escura como as penas de um corvo”. A uva Corvina confere aos vinhos produzidos com a casta aromas de cerejas e um toque amendoado, além do frescor conferido por sua ótima acidez. Quando os rendimentos são mais altos (maior produção por vinhedo), os vinhos tintos produzidos com a uva Corvina podem ser mais leves, frescos e frutados, como nos exemplos mais clássicos de Valpolicella e Bardolino.

Molinara

A uva Molinara é nativa da Itália e recebe esse nome por ter seus bagos envolvidos em uma fina camada branca, com uma aparência que sugere terem sido salpicados de farinha branca, tal como um indivíduo recém-saído de um moinho. Por isso, “molinara”, que significa “moinho” ou “moleiro”.

Acredita-se que essa variedade de uva tenha surgido em Verona, na região de Vêneto, e grande parte de seu cultivo ainda se dá na região norte da Itália. Mesmo no interior do país, mas sobretudo fora dele, a uva Molinara pode receber outros nomes, como Rossara, Mullinari, Salata, Vespone, Rossanella, Brepon Molinario, entre outros.

Com coloração roxa azulada, a uva Molinara é famosa pela qualidade e excelência com que elabora os vinhos de corte nas regiões de Valpolicella e Bardolino, levando mais acidez e frescor às variedades de rótulos locais. Com bagos médios e cachos em formato de pirâmides alongadas, esse tipo de uva tem caráter mineral, floral e frutado, que dá origem a vinhos pouco encorpados e muito aromáticos, com leves tons de cereja, tabaco, pimenta preta e amora.

Rondinella

A uva Rondinella é encontrada com maior facilidade na região italiana do Vêneto, e raramente é cultivada fora dali. Trata-se de uma variedade de uva tinta empregada na composição dos prestigiados vinhos italianos de Valpolicella e Bardolino.

As vinhas da Rondinella são responsáveis por rendimentos prolíficos, embora a uva seja raramente utilizada na produção de vinhos varietais. A casta é empregada em blends ao lado da uva Corvina, adicionando sabor marcante aos vinhos tintos produzidos na região do Vêneto.

Com cachos de dimensões médias e formatos cilíndricos, a uva Rondinella é considerada uma variedade rústica e adapta-se facilmente a solos que contenham alta quantidade de argila. Além disso, essa variedade é perfeitamente adaptada para a secagem, especialmente, quando provém de vinhas cultivadas em colinas.

Os vinhos produzidos a partir da uva Rondinella apresentam coloração rubi intensa, e são marcados por aromas delicados e sabores frutados. Os vinhos Rondinella possuem poucos taninos, no entanto, são bem estruturados.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rubi com reflexos violáceos envoltos em um reluzente brilho com boa formação de lágrimas finas que logo se dissipam.

No nariz traz notas de frutas vermelhas frescas que entrega muita leveza e um floral que me remete a flores vermelhas, a violeta.

Na boca é elegante, macio, delicado e com muita fruta, frutas vermelhas, como morango e framboesa, com taninos finos e quase imperceptíveis com uma belíssima acidez que lhe confere frescor e jovialidade. Final de média persistência e frutado.

Simplicidade sempre foi para mim um ponto de alta nobreza, ser nobre é ser simples, e nobreza a meu ver é ter um vinho saboroso na taça e respirar um pouco de cultura e saber o motivo pelo qual o vinho que tanto apreciamos tem determinadas nuances, características ou especificidades. Essa é a melhor das harmonizações! O La Sogara Bardolino, diante da sua simplicidade, da sua concepção mais direta e descompromissada expressa, com extrema fidelidade, a região a qual foi concebida, expressa o caráter da terra que foi concebida, o conceito mais fiel e preciso de terroir, termo tão comumente mencionado entre os amantes dessa poesia líquida. Um vinho elegante, delicado, frutado, fresco, ideal para se degustar despretensiosamente, com a alegria de se celebrar o momento mais sublime que o vinho pode nos proporcionar: alegria e leveza de espírito, sem amarras, simplesmente o vinho por ele mesmo, você e o vinho e a história tão viva e latente quanto essa bebida. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a La Sogara:

A adega moderna e sustentável foi renovada em 1995 e está orientada para a redução do impacto ambiental. Ainda hoje é um dos mais ecológicos da Itália. Dos 20 hectares iniciais, hoje a família tem 140 hectares, aos quais se somam 240 hectares sob manejo direto. A gestão sempre fez com que os enólogos seguissem um protocolo qualitativo estabelecido pela família Cottini. A produção é acompanhada em todas as etapas pela família Cottini com a máxima atenção na proteção da qualidade e na fidelidade da tradição.

La Sogara redescobre e valoriza os vinhos mais clássicos da tradição veronesa. São vinhos ideais para partilhar com os amigos, pela sua frescura e simplicidade. Versáteis para cada ocasião tornam cada dia especial.

Dedicados a quem pretende qualidade, farão com que fique bem se os levar a um jantar com amigos ou família. Tão sincero quanto uma risada que vem do coração. São vinhos que respeitam o meio ambiente e a tradição.

Sobre a Vinícola Cottini:

Em 1925, Carlo Cottini fundou a primeira empresa familiar dedicada ao cultivo da vinha e da fruta, como se usava naquela época. Nos anos 50 seu filho Raffaello focou seus negócios exclusivamente na produção de vinhos.

Chega então a vez de Diego, filho de Raffaello, que demonstrou ambição e coragem para concretizar novos projetos de pesquisa e melhoria constante no cultivo de vinhas familiares juntamente com a aquisição de novas. Em seguida, ele criou vinhos inovadores, bem como definiu os históricos.

Hoje a empresa envolve toda a família: Diego, sua esposa Annalberta, seus filhos Michele e Mattia. Cada um tem seu próprio papel, personalidade e habilidades que renovam a cada dia a herança de seu bisavô Carlo e de seu avô Raffaello com um misto de compromisso, ambição e coragem.

Mais informações acesse:

http://www.lasogara.com/it/home/

https://www.cottinivini.com/en/intro-2/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/terra-de-vinheteiros-e-mercadores_8613.html

“Município de Bardolino”: https://comune.bardolino.vr.it/turismo/storia/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/corvina

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/molinara

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/rondinella

 

 






sábado, 26 de junho de 2021

Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon 2010

 

Um misto de grandes experiências sensoriais e culturais! É o que eu tenho vivido nesses últimos e gloriosos tempos enquanto um simples e humilde enófilo. A incessante busca, o garimpo pelas novidades se torna necessário e diria, sem soar dramático, urgente, quando mencionamos o vasto e inexplorado universo dos vinhos. Nunca pensei, quando comecei a me enamorar pelos vinhos há cerca de 20 e poucos anos o quanto aprendi e aprendo, simplesmente degustando uma garrafa de vinho. São culturas, comportamentos, história pitoresca além é claro, do prazer em ter a minha taça cheia de vinho e me regozijar de cada gota.

Tenho me interessado, de forma latente nos vinhos evoluídos, em tempos mais recentes, lendo sobre o assunto, buscando novos rótulos com essa característica e entendendo o que eles podem nos proporcionar. Como são especiais! E pensar que, revendo o que degustei no passado, as fotos que registrei como se fora um livro de fotos de família com registros do passado, observei, com uma alegria incontida que já degustava, de forma tímida, claro, alguns vinhos com alguma longevidade, sem saber de sua importância e a sua proposta. Era muito cru nas histórias dos vinhos que hoje valorizo grandemente.

E essas novidades requer trabalho, pesquisa, tempo e, sobretudo dinheiro, afinal, ser enófilo no Brasil é padecer com os altos valores dos rótulos em todas as suas escalas de propostas, mas, em prol do nosso amor, estamos dispostos a tudo, apesar de ser prudente ter retidão, em alguns momentos. E esse minha incessante busca chegou a terras brasileiras! Sim, em terras brasileiras! Quem disse que o Brasil não produz grandes vinhos longevos?

Nessa busca em cheguei na Serra Catarinense. Claro que já conhecia essa proeminente região produtora de vinho, mas nunca pensei no ápice de minha ignorância que os vinhos daquelas bandas tivessem um bom potencial de guarda. Sabia de seus altos valores para a realidade da maioria da população brasileira, alguma coisa sobre a sua relevância para o cenário vitivinícola nacional, mas não sabia de sua vocação para a longevidade. Mas é aí que entra o conceito histórico-cultural da coisa. As características climáticas, as propostas dos vinhos, tudo influencia para os vinhos longevos. É o famoso terroir que fala mais alto.

Então com essa trajetória toda cheguei a um vinho com um ótimo custo X benefício em relação a muitos outros rótulos da Serra Catarinense e me senti na obrigação de tê-lo em minha adega. Talvez fosse a minha chance e eu precisava agarrá-la com esmero. Comprei e não levei muito tempo para degusta-lo. O vinho que degustei e gostei veio da região de São Joaquim, na Serra Catarinense, no Brasil, e se chama Sanjo Núbio da casta Cabernet Sauvignon e a safra: 2010! Um vinho com seus 11 anos de vida! Momento único e admito para poucos! Precisava usufrui-lo respeitosamente e da melhor maneira possível. Mas antes de falar do vinho e olha que estou ansioso para isso, falarei um pouco da história dessa região de São Joaquim e a sua importância para o cenário vinícola brasileiro.

São Joaquim, Serra Catarinense, Brasil

A vitivinicultura no Brasil ficaria restrita a pequenas áreas em distintos pontos do território nacional até 1875, quando se inicia, no Rio Grande do Sul a instalação de imigrantes italianos. Concebe-se então, como marco da indústria vitivinícola brasileira a chegada destes imigrantes italianos (século XIX) e sua instalação na Serra Gaúcha. Em Santa Catarina, as primeiras mudas de uva plantadas pelos imigrantes italianos que chegaram, em 1878, na região onde seria fundada a cidade de Urussanga, são as responsáveis pelo início da vitivinicultura catarinense que conhecida atualmente.

Os italianos trouxeram mudas e sementes de vitis viníferas, mas elas não se adaptaram à úmida região”. A cultura da uva e o hábito do consumo do vinho faziam parte do patrimônio cultural acumulado dos imigrantes italianos oriundos na sua maioria da região do Trento, acostumados a dispor do vinho em seu ritual à mesa. Diante das condições naturais adversas, foram buscar videiras que se adaptassem às características climáticas da região de Urussanga, mesmo que o vinho resultante se apresentasse diferente da bebida já consumida na Itália. Recorreram então às variedades americanas e híbridas, como a Isabel, mais resistentes a pragas e ao clima tropical.

Atualmente, a região Meio-Oeste é a maior produtora de vinhos do estado de Santa Catarina. Foi nela que, na primeira metade do século XX, italianos que haviam migrado do Rio Grande do Sul deram início à construção da mais expressiva cadeia vitivinícola de Santa Catarina. A produção da uva e do vinho no Meio-Oeste catarinense é constituída principalmente de uvas de origem americana e híbrida. Apenas na década de 70, com a criação em Santa Catarina do PROFIT (Projeto de Fruticultura de Clima Temperado) é que houve um grande incentivo para o plantio de castas europeias. Desde o final da década de 1990, entretanto, vem ocorrendo uma reversão das expectativas no plantio das variedades de castas europeias, representada por novos plantios, inclusive em áreas não tradicionais para o cultivo da videira, como é o caso das regiões de elevada altitude (acima de 950 metros). Assim como ocorreu com o setor macieiro, as condições geográficas da região do planalto catarinense favorecem a produção de uvas, especialmente as da variedade vitis viníferas.

A partir de estudos visando o desenvolvimento da vitivinicultura no planalto serrano, iniciados na década de 1990 pela EPAGRI e de investimentos de empresas de outras regiões identificados no mesmo período, a produção de vinhos finos vem crescendo. Além das características geoclimáticas adequadas para a produção das castas europeias, há que se considerar também o emprego de sofisticadas técnicas enológicas, bem como as modernas instalações produtivas. Pode-se também atribuir o início do cultivo de parreiras e da fabricação de vinhos na serra catarinense à fixação de descendentes de italianos oriundos da região sul do estado de Santa Catarina que migraram para o planalto.

O início dos experimentos da EPAGRI e o plantio de 50 plantas experimentais de uvas Cabernet Sauvignon realizado pela vinícola Monte Lemos que detém a marca Dal Pizzol foram o incentivo que faltava para que Acari Amorim, Francisco Brito, Nelson Essenburg e Robson Abdala adquirissem uma propriedade em São Joaquim, no ano de 1999, dando início a Quinta da Neve.

Em 2000, o empresário Dilor de Freitas adquiriu uma propriedade no município de Bom Retiro, onde em 2001 iniciou o cultivo de uvas finas. No ano de 2002, adquiriu sua propriedade de São Joaquim e lançou a construção de sua vinícola onde localiza-se a sede da Villa Francioni e o centro de visitações. O empresário Nazário Santos, a partir de uma sociedade com um grupo de profissionais liberais paulistas, idealizou a Quinta Santa Maria, sendo um dos pioneiros produtores de vinhos de uvas vitis viníferas em São Joaquim.

Os novos terroirs de Santa Catarina, localizados em altitudes que podem chegar a 1.400 metros no Estado que registra as temperaturas mais baixas do País, têm vantagens para quem planta uvas viníferas. Em regiões mais frias e altas, o ciclo da videira se desloca para mais tarde, e esse ciclo longo ajuda a concentrar açúcares e taninos, além de melhorar a sanidade dos grãos. Atualmente, na região vitivinícola de São Joaquim, já é possível destacar osmunicípios de São Joaquim, Urubici, Urupema e Bom Retiro.

Rota do Vinho - Serra Catarinense

Ao investigar a vitivinicultura de altitude de São Joaquim, observa-se a tendência e a existência de significativos acertos no processo de desenvolvimento do setor. A identificação de recursos naturais raros e diferenciados se apresenta como um fator capaz de gerar vantagens competitivas, estruturando a atividade produtiva com o foco na segmentação de mercado.

Através do suporte de instituições de pesquisa como mecanismo de desenvolvimento de todo o setor produtivo da uva e do vinho, da articulação entre os recursos disponíveis, dos maiores investimentos em publicidade e propaganda realizados pelas empresas do setor e dos projetos que visam o diferencial do produto afirmado pelas indicações geográficas identifica-se a importância das tipicidades que procedem dos vinhos finos de altitude, confirmando então, a criação de um produto diferenciado no país.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo rubi intenso, escuro, com a já manifestação de discretas tonalidades atijoladas denunciando os seus 11 anos de safra, com lágrimas em grande profusão finas e que mancham a parede do copo.

No nariz um buquê aromático que entrega frutas vermelhas como framboesa, ameixa e cereja, com notas amadeiradas, de chocolate, baunilha, couro e um toque terroso e pimentão. O conceito entre fruta, madeira e especiarias em pleno equilíbrio.

Na boca é austero, quente, complexo e estruturado, mas macio e elegante, as frutas dão o ar da graça em harmonia com as notas amadeiradas, com toques de chocolate e baunilha e as especiarias,  graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho (cerca de 50% do vinho) e também pelo tempo de safra, com taninos presentes, porém finos e domados com uma incrível acidez que certamente garantiria ao vinho mais tempo de vida, de uma evolução plena e decente. É o que representa o vinho: plenitude e vivacidade aos 11 de vida! Tem um final persistente e retrogosto frutado.

A busca por novas experiências sensoriais, o garimpo por novidades, uma nova vida de enófilo sendo descortinada diante de nossos olhos, a fuga da zona de conforto, tudo isso é sim possível. Como sempre costumo dizer: o universo dos vinhos é vasto e inexplorado, há muito a ser degustado e essa sensação de infinidade é que mais me estimular a buscar mais e mais, mesmo que tardiamente em muitos casos. Nunca é tarde quando se tem um propósito. E os vinhos da Serra Catarinense estavam em minha rota havia algum tempo. O Núbio Sanjo Cabernet Sauvignon, no auge dos seus 11 anos de vida, no ápice de sua longevidade, saciou a minha avidez por conhecer os vinhos de altitude e que abriu as portas para trilhar o caminho, a estrada dessa proeminente região brasileira que, a cada dia, vem se tornando o novo expoente da vitivinicultura de nossas terras. Toda a história dessa região converge com as características mais marcantes do Núbio Sanjo Cabernet Sauvignon, em todas as suas minúcias, o que corrobora a tipicidade deste vinho tão peculiar e particular. Um vinho longevo, intenso, complexo, mas delicado, elegante e austero e fácil de degustar, afinal o tempo lhe foi gentil e o deixou harmonioso e equilibrado. 1.250 metros de altitude faz desse vinho, ainda vivo e pleno, grandioso no topo mais alto de sua tipicidade. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.


Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/comecando-por-cima_8143.html

“O Turismo e a Produção de Vinhos Finos na Região de São Joaquim (SC): Notas Preliminares”: https://www.ucs.br/ucs/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_6/arquivos/13/O%20Turismo%20e%20a%20Producao%20de%20Vinhos%20Finos%20na%20Regiao%20de%20Sao%20Joaquim.pdf

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2010/02/21/nubio-2005-um-bom-cabernet-sauvignon-de-sao-joaquim-santa-catarina/

 






sexta-feira, 25 de junho de 2021

Rosé Day

 

Origem

Na Grécia Antiga, era considerado civilizado diluir o vinho. A crença era que só os bárbaros, bêbados e assassinos bebiam o vinho puro. O rei espartano Cleômene I afirmou que o consumo do vinho puro causou a decadência dele, que foi preso e se suicidou.

As uvas, naquela época, eram colhidas e prensadas juntas, brancas e tintas, e eram pisadas e colocadas em ânforas para a fermentação. Esse processo de ânfora, que fazia com que evaporasse um percentual do líquido por causa da porosidade, os deixava com a característica oxidativa e mais tânicos. Os originais vinhos naturais, eis a receita.

Com a evolução natural da curiosidade e tentativas, pois no mundo do vinho não se para, mas sim se continua criando, separaram as uvas brancas das tintas. Gregos e romanos conhecem os brancos e os tintos, mas, os tintos eram muito tânicos e robustos e a preferência ficou para o rosé. O rosé do momento era apenas tinto diluído em água! E beberam durante séculos.

Os Foceios trouxeram vinhas da Grécia para Marselha e utilizavam o mesmo processo, uvas tintas e brancas misturadas. Os rosés do sul da França, em Provença, ficaram conhecidos em todo o Mediterrâneo. Quando os romanos chegaram, eles já sabiam desta fama e, com suas habilidades comerciais, espalharam pelo resto do Mediterrâneo este vinho muito apreciado no verão, especificamente. Por isso que, ainda hoje, a Provença é considerada o epicentro do vinho rosé.

Na Idade Média circulava um boato que Bordeaux tinha feito um vinho violeta, o famoso clarete. Clarete é uma especialidade de Bordeaux que vem conquistando popularidade. Ele homenageia o vinho que era exportado ao Reino Unido na Idade Média e inspirou o termo inglês claret, usado para descrever o Bordeaux tinto. Como Bordeaux estava sobre o domínio inglês, entre os anos 1152 e 1453, o vinho logo foi exportado pra lá e virou a nova coqueluche. Até meados de 1900, os ingleses e o clarete eram inseparáveis. No século XIX os franceses começaram a viajar para o sul da França e, depois de um belo banho de mar, um dia na praia, tomavam um rosé refrescante, e o local virou símbolo de glamour, prazer e verão. Et voilà!

Curiosidade: O nome claret ainda é amplamente usado na Grã-Bretanha e aplica-se a todos Bordeaux tintos, enquanto clairet passou a ser o nome dos vinhos de estilo rosé dessa região.

Como nasce o vinho rosé?

A carne das uvas é basicamente da mesma cor: um verde claro translúcido. E isso independe de sua espécie, se escuras ou verdes. Porém também sabemos que há vinhos tintos e brancos. E, na enologia, é pecado mortal usar corantes ou qualquer tipo de pigmento estranho às uvas. E então? Por que há essa distinção de cores entre os tintos e brancos? E o que seria, nessa questão, o vinho rosé? A coloração e matização dos tintos dão-se pelo contato do mosto com as cascas da uva. Quanto maior as permanências, mais encorpadas e escuras serão.

Assim, por essa lógica, o vinho rosé tem um contato curto com as cascas. Não passa de algumas horas. A transferência de coloração ocorre de modo brando, e há leve mudança estrutural. Justamente por isso esse vinho recebe este nome: trata-se de uma bebida fina, fresca, mas com tanicidade ainda presente. Sua coloração varia do raso alaranjado até tons um tanto mais presentes. Salmão e, mesmo, tom de cereja são encontrados em versões mais tânicas.

Quais métodos para se fazer um vinho rosé?

Saignée: sangria, pela tradução. É quando se tira, logo após o inicio da fermentação, por volta de 10% do líquido em contato com as cascas das uvas tintas para que, este fique mais concentrado. E com mais antocianos e ácidos fenólicos, para quem tem interesse em vinhos com mais antioxidantes (sempre bom!). Todos os de apelação Côtes des Provence tem que ter no mínimo 20% de saignée, por lei.

Contato com a casca: neste, as uvas ficam em contato com o suco por horas ou dias. Esse é o método clássico.

Blending: misturar vinho branco e tinto. Não gera vinhos muito interessantes e era proibido fazer em Champanhe, na Provença, até 2009.

Provence: A terra dos rosés

Embora a Provence seja o berço do vinho rosé no mundo e sua história remonte há muitos anos antes de Cristo, foi apenas no século XIV que ganhou prestígio mundial, quando se tornou residência papal e mais do que nunca o vinho rosé passou a ser sinônimo de elegância.

No sudeste da França, ao redor do que os franceses chamam de Côte d’Azur, não muito distante do principal balneário do país, quase que de Montpellier até Nice, passando por cidades como Marselha, e praias como Saint-Tropez, fica essa região espetacular.

Provence

A Provence produz cerca de 150 milhões de garrafas de rosés por ano, 42% da produção nacional da Franca e 6% dos vinhos rosés do mundo. Cerca de 90% da produção local é de rosés. Seus rosados são feitos não por blend de vinhos tintos com brancos, mas por maceração, ou seja, o contato das cascas das uvas tintas com o mosto durante o processo de produção.

A Provence é dividida em três grandes denominações com sub-regiões: Côtes de Provence (que responde por mais de 70% do vinho local), Coteaux d’Aix em Provence (16%) e Coteaux Varois em Provence (10%). Dentro de Côtes de Provence, algumas das regiões mais famosas são: Sainte Victoire, Fréjus, La Londe e Pierrefeu. Há outras seis denominações: Les Baux-de-Provence, Pierrevert, Bandol, Cassis, Bellet and Palette.

Existe uma lista de propriedades “Cru Classés” de Provence de 1955, quando 23 produtores foram condecorados como sendo “Crus” entre os cerca de 300 que havia na região na época. No entanto, atualmente, cinco dessas propriedades já não produzem mais vinho, então sobraram apenas 18 da “classificação original”. Mais recentemente, alguns produtores criaram o “Club des Crus Classés de Côtes de Provence” com alguns dos membros “originais” e também outros.

Existem duas áreas principais. A oeste e norte, encontramos colinas e socalcos de calcário esculpidos pela erosão, em um ambiente de matagal (montanha de Sainte-Victoire, maciço Sainte-Beaume). A leste, de frente para o Mediterrâneo, os maciços cristalinos Maures e Tanneron tem um relevo mais suave com mais maquis. Os solos são geralmente pobres, bem drenados e rasos, sem excesso de umidade. Quanto ao clima, o vento Mistral traz um ar refrescante a uma das regiões mais quentes da França, com poucas chuvas, mas intensas.

Mais de uma dúzia de variedades de uvas são utilizadas na fabricação de vinhos da Provence. Entre as brancas, encontramos: Rolle, Ugni Blanc, Clairette, Sémillon, Grenache Blanc, Bourboulenc etc. Entre as tintas: Grenache, Cinsault, Syrah, Mourvèdre, Tibouren, Carignan, Cabernet Sauvignon etc.

Curiosidade: os vinhos rosés da Provence também são famosos por suas garrafas lindas. Aliás, a região é precursora na inovação do uso de garrafas, o que também reflete um estilo mais alegre e moderno de produzir vinhos. As garrafas são, de fato, um chamariz e diferencial do vinho provençal.

O rosé pelo mundo

Não é só na Provence que esses vinhos têm espaço; em países europeus como Itália, Portugal e Espanha, os rosados ou rosatos também têm importância.

Na França mesmo se pode encontrar ótimos rosés produzidos da apelação controlada (AOC) em Cotes de Rhône, principalmente de Tavel, uma apelação controlada dedicada aos rosés. Na Provence, temos, além dos mais cobiçados Rosés da Côtes de Provence, os deliciosos Bandol nas cercanias da belíssima Toulon. Ainda na França, o Languedoc-Roussillon vem despontando na produção de deliciosos rosés a excelentes preços. De todo o Languedoc, Minervois é a região que mais coloca no mercado rosés de qualidade. Em todas essas regiões ao sul da França, as uvas que têm destaque são a Grenache (a mais importante de todas), a Cinsault e a Mourvedre. Podemos encontrar bons vinhos rosés em Bordeaux e no vale do Loire. Nessas regiões, as uvas mais utilizadas são os Cabernets (Sauvignon e Franc) e a Merlot. Mais raros e de excelente qualidade são os pouquíssimos rosés da Borgonha, produzidos a partir da Pinot Noir.

Na Itália, o vinho rosé está consagrado e tem seu lugar garantido na tavola. A produção de rosés é forte no sul da bota, mas quando falamos de qualidade três regiões devem ser destacadas na produção de rosés de qualidade. A Toscana vem produzindo a cada dia melhores vinhos rosados a partir Sangiovese. A região do Lago de Garda tem na uva Gropello um ícone para produção de rosés especiais. Por último, no norte da Itália, mais especificamente no Alto Ádige, há excelentes rosés à base das uvas locais Moscato Rosa e Lagrein.

Em Portugal, os rosés deliciosos estão por toda a parte. Os destaques são os rosados do Douro, Estremadura e Ribatejo. Normalmente os rosés apresentam pouca intensidade aromática, o que, aliás, faz com que seja mais fácil apreciá-los gelados e sem muito compromisso. Em relação à variedade de uvas utilizadas nos vinhos rosados portugueses encontram-se muitos à base de blends, bem como varietais de Touriga Nacional, por exemplo.

Na Espanha, os rosados são quase uma religião. Talvez o país tenha sido o que menos sofreu com o preconceito do rosé. O consumo deste vinho sempre esteve em alta. As regiões de destaque são Rioja, Navarra e Penèdes. Assim como na França, quem comanda por aqui é a Garnacha (nome da Grenache na Espanha), seguida das Tempranillo e Merlot.

Os nossos vizinhos, Chile e Argentina, produzem cada vez mais rosés à base de vários tipos de uvas, tais como Cabernet Sauvignon e Malbec. Normalmente, esses vinhos são de cor e corpo mais intensos se compararmos aos delicados vinhos da França.

No Brasil apesar dos vinhos rosés representarem a categoria de vinhos que tem crescido mais rapidamente ao redor do mundo nos últimos anos. E os números não mentem, entre 2002 e 2018, o consumo mundial de rosés cresceu um acumulado de cerca de 40%. Porém, ao mesmo tempo em que ganham maior espaço, estes vinhos ainda sofrem com certo preconceito.

Talvez o principal fator seja o histórico dos vinhos rosé. Por muito tempo vinho rosé no Brasil era quase sinônimo de vinho simples, barato e, ainda pior, um vinho mal elaborado. Para muita gente, vinho rosé virou sinônimo de vinho de piscina, aquele que só presta para ficar no baldinho de gelo, para matar a sede. Ou ainda pior, para receber uns cubinhos de gelo, para ficar ainda mais refrescante.

Em um certo sentido, esta experiência pode ser comparada com a do vinho alemão no Brasil, que por muito tempo foi quase sinônimo de vinho branco doce e enjoativo. Por conta de anos de importação dos vinhos Liebfraumilch, em sua esmagadora maioria doces e de qualidade discutível, todos os vinhos alemães acabaram sendo penalizados. Felizmente, hoje em dia, porém, a qualidade dos vinhos alemães já é de conhecimento da maioria.

Ajudar o consumidor a compreender melhor os vinhos e mostrar alternativas diferentes resolveu esta questão. Da mesma forma, isso precisa ser feito com os vinhos rosé. Assim como qualquer vinho, a qualidade do vinho rosé varia bastante. Há rosés ótimos e rosés muito ruins, da mesma forma como acontece com brancos ou tintos.

O que harmoniza com vinho rosé?

Para pensar na harmonização do vinho rosé, se pode seguir dois caminhos:

1 - Observar a tradição de seus criadores;

2 - Analisar friamente suas características.

E, claro, seguir os dois caminhos. Porque, por mais que enologia seja ciência, a sabedoria popular tem sempre seu papel de importância. Quanto à tradição, a regra é clara: o vinho rosé é perfeito para frutos do mar. Seu frescor e vitalidade harmonizam perfeitamente com esses alimentos.

E sequer há debate: em todo restaurante costeiro europeu, o vinho rosé ocupa a esmagadora maioria das mesas. Há, inclusive, quem o nomeie “vinho de laranja”, embora seja puramente de uvas. Verdade seja dita: o gosto popular, muitas vezes, nos entrega maravilhas. E este é o aporte comum, com relação ao vinho rosé.

Já na enologia, o esse vinho brilha por sua versatilidade. Combina com pratos leves, como saladas e carnes brancas e magras. Mas, por sua vez, também merece espaço em outros ambientes. Isso ocorre por conta da leve adstringência que promove. É como dissemos: nem branco nem tinto. Ele possui o melhor de dois mundos.

Dessa forma, o ressecamento tânico do vinho rosé o torna único. Ele consegue ocupar espaços que o vinho branco não poderia. E, apesar disso, não perde seu lugar, nas refeições leves. De petiscos a carnes mais pesadas; das saladas tropicais ao churrasco; do mexilhão ao porco, o vinho rosé pode e deve ser provado.

Essa qualidade versátil, que o torna coringa, dá, a ele, o sobrenome de “vinho do verão”. Encorpado ao ponto de agradar os fãs do tinto; leve e frutado na medida certa.

Dia internacional do rosé: Rosé Day

Os rosés ganharam uma data para comemoração própria: toda quarta sexta-feira do mês de junho. Neste ano de 2021, portanto, o Dia Internacional do Rosé é celebrado no dia 25. A data teria sido idealizada pela proprietária dos Châteaux Roubine e Sainte Béatrice, ambos localizados na região de Provence, na França, o berço do vinho rosé.

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/rose-o-vinho-tipico-do-verao_6679.html

“Forbes”: https://forbes.com.br/colunas/2021/03/carolina-schoof-centola-a-origem-dos-vinhos-roses/

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2012/02/15/voce-sabe-e-um-vinho-clarete/

“Master Vinho”: https://mastervinho.com.br/vinho-rose/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=vinho-rose

“O Globo”: https://gq.globo.com/Shopping/noticia/2021/06/dia-internacional-do-rose-7-rotulos-para-brindar-data.html

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/provence-um-guia-rapido-sobre-regiao-dos-roses_12975.html

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vinho-rose-consumo-cresce-mas-preconceito-continua-no-brasil/

 

 

 

 


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos 2016

 

É flagrante a minha predileção e diria amor pelos rótulos da região de Lisboa em Portugal. Confesso que me torno, as vezes, redundante com os meus comentários que são textualizados em minhas resenhas sobre os vinhos dessa região que degustei e gostei, mas, convenhamos é melhor ser redundante do que omisso! Nada melhor do que expressar em palavras o que sente quando tem vinhos de Lisboa disponível em nossa taça, para o nosso deleite.

E, mais uma vez, é chegado o momento de degustar mais um vinho dessa região e um rótulo que aguardei por muito tempo para tê-lo em minhas mãos. Foi um vinho particularmente difícil de encontrar e os poucos sites especializados que o ofertam, claro, estão em um valor demasiadamente alto, claro, estamos em um país que não privilegia a cultura do vinho em todos os seus aspectos.

Mas enfim consegui encontrar em um site um valor minimamente atraente para compra-lo e o fiz. E como sou ávido por conhecimento, busquei alguma informação, na página oficial do produtor, Quinta do Gradil (Parras Wines), e li algo muito importante e que reflete a importância da vinícola preocupada em entregar rótulos para enófilos que expresse o terroir, com tipicidade, a busca da melhor relação qualidade X preço. E fala algo que considero de suma importância e que faz com que apreciadores de vinhos da região, como eu, a tenha no coração, consolidando o tal vínculo afetivo que mencionei no início: “A afirmação dos vinhos de Lisboa” ou ainda “Lisboa em garrafa”.

E é com esse intuito, com essa filosofia que os vinhos lisboetas atravessam os tempos e se reafirma, a cada dia, como uma das mais proeminentes, arrojadas e modernas regiões vitivinícolas de Portugal, pois retratam a cultura de sua terra, do seu povo e que expressa, lá vem ele de novo, o seu terroir. Mas apesar dessa introdução com um caráter meio conclusivo eu falo do vinho que degustei e gostei que veio, claro, de Lisboa, Portugal e que se chama Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos em um blend composto pelas castas Touriga Nacional (50%), Syrah (30%) e Tinta Roriz ou Tempranillo na Espanha (20%) da safra 2016. 

E para ser, com todo o prazer, redundante, ou melhor, amoroso, enamorado por Lisboa, falarei sobre a região expondo, de forma retumbante, a sua gloriosa história e contribuição para a vitivinicultura lusitana e que o mundo agradece.

Lisboa

A região vinícola de Lisboa, também era conhecida como Estremadura e tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. Os vinhos feitos em Lisboa, em grande parte, pertencem a cooperativas, com uma grande variedade de estilos e qualidade. Esta região, onde o "vinho regional Lisboa" é predominante, tem nove DOC´s (Denominações de Origem). O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. O conflito entre a vida urbana e a rural foi intensificado a partir do século XIX com a industrialização e recentemente pelo sistema viário que liga Lisboa a Leiria. Toda a região mantém de forma relevante as unidades de espaço designadas ainda no período romano, as quintas (subunidades de uma vila). As quintas em sua quase totalidade estão voltadas para a produção do vinho.

A história revela que Fenícios trouxeram mudas da Síria e as introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região ficou sob o domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi reorganizada para recuperar a produção vinícola.

Lisboa

A região dispõe de grande pluralidade de condições de cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação, regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica, espumantes e de uso na mesa.

A região é dividida em nove sub-regiões sendo a maioria Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas e Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte central e Encostas D’Aire ao norte.

É surpreendente que duas históricas denominações da região de Lisboa estejam diminuindo com o tempo, Na região denominada Carcavelos, muito famosa por seus vinhos doces, a maioria das vinhas deram lugar a edifícios. Na denominação Colares, que fica próxima a Cascais, e produz praticamente sobre dunas de areia protegidas por quebra-ventos, encontram-se cada vez menos vinhedos, embora produza vinhos cuja alta acidez lhe permite uma guarda muito longa. Sua uva principal é a Ramisco tânico, dificilmente encontrada hoje em outra região.

A DOC Bucelas é a terceira menor e possui uma longa história na produção de vinhos. A região tem crescido nos últimos anos e ficado mais em evidência pela melhoria de qualidade de seus produtos, especialmente os brancos, considerados dos melhores de Portugal.

Ao norte de Bucelas, ainda no interior, encontra-se a pequena região de Arruda. É como se fosse um delicioso país de conto de fadas: montanhas, um antigo castelo em ruínas, antigas estradas romanas, moinhos históricos (hoje em dia equipados com modernas turbinas eólicas), e vinhedos, principalmente de uvas tintas. Desde 2002, os vinhos DOC Arruda podem incluir uvas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, assim como algumas uvas de classe de outras regiões de Portugal como a Touriga Nacional e Touriga Franca. O mesmo vale para as outras regiões DOC na parte central da área do Vinho Regional Lisboa: Alenquer, Torres Vedras e Óbidos. Neste clima ameno, as uvas podem amadurecer com tranquilidade e produzir muito bons vinhos com boa concentração e acidez.

Ao norte de Arruda, a DOC Alenquer está protegida dos ventos atlânticos pelos montes calcários da Serra de Montejunto. Os produtores altamente motivados, conscientes da qualidade do micro clima único de Alenquer. Na DOC Torres Vedras, é mais frio para o lado do mar da Serra de Montejunto, especialmente no flanco ocidental da região, onde a brisa do mar é mais forte. Esta é uma fonte de vinhos brancos secos, incluindo o de baixo teor alcoólico conhecido como Vinho Leve. Ao norte de Alenquer a área DOC Óbidos, possui uma bela cidade medieval ainda murada na sua face norte. A região produz vinhos brancos e alguns dos melhores espumantes em Portugal, alem de alguns tintos leves e elegantes.

A oeste de Óbidos e tocada pela brisa atlântica, a DOC Lourinhã é uma região montanhosa, onde peras, maçãs , pêssegos e figos disputam espaço com os vinhedos. A região envolve a bela cidade de Leiria, o famoso centro de peregrinação de Fátima e os mosteiros fabulosos da Batalha e Alcobaça, ambos eleitos como Patrimônio Mundial da UNESCO. Seus vinhos brancos e tintos são leves, frescos e pouco alcoólicos.

Lisboa e suas sub-regiões

O clima é temperado em virtude da influência atlântica e não apresenta grandes amplitudes térmicas. Os verões são frescos e os invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. As vinhas localizadas junto à linha da costa sofrem uma forte e decisiva influência do Atlântico, enquanto as vinhas plantadas no interior, protegidas da influência marítima pelos diversos sistemas montanhosos, beneficiam de um clima mediterrânico. O relevo não é muito elevado, exceto o sul, onde aparecem alguns estratos de basalto e de granito, assentando a região, quase na sua totalidade, em formações argilo-calcárias e argiloarenosas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rubi intenso, quase escuro e com entornos violáceos, com uma boa formação de lágrimas, finas e que mancham as bordas do copo.

No nariz protagonizam as frutas vermelhas tais como groselha, cereja e framboesas, trazendo um aroma jovial e pleno, além das notas de madeira, couro e baunilha bem discretas, graças aos 3 meses que passou por madeira.

Na boca é intenso, saboroso, redondo, untuoso, preenche bem a boca, com as notas amadeiradas na dosagem certa, para que a fruta ganhe destaque como no aspecto olfativo. Taninos presentes, mas domados, acidez vivaz que garante frescor ao vinho e um agradável picante. Um final persistente e frutado.

“Castelo do Sulco surge como resposta a uma tendência cada vez maior para o consumo de vinhos de qualidade por consumidores cada vez mais informados e em busca de propostas com a melhor relação qualidade-preço. A marca aposta na afirmação dos vinhos de Lisboa, tendo mesmo assumido a assinatura “Lisboa em Garrafa”, como selo de qualidade e reforçando um hype que a capital tem vindo a registrar internacionalmente. É uma marca democrática, uma oferta para jovens, turistas, amantes de boa gastronomia, da movida Lisboeta, de convívios entre amigos. É um pouco de Lisboa dentro de uma garrafa”.

E com essas palavras sobre a proposta do vinho delineado pela vinícola não podemos dizer muita coisa apenas da personificação do amor que temos por Lisboa e seus vinhos, os seus rótulos que cada vez mais expressam com fidelidade a tipicidade às características dessas terras em todas as suas nuances, entregando as mais diversas propostas para o nosso deleite. O Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos personifica muito da versatilidade dos vinhos lisboetas: personalidade e a marcante austeridade dos vinhos portugueses com a fruta que traz o frescor e a maciez que atende aos mais diversos anseios e paladares. Um belo vinho que nos faz persistir e trilhar o caminho de novas experiências, com novos rótulos dessa tão importante região. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Parras Wines:

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Portugal by Wine”: https://www.portugalbywine.com/pt/regioes/info/lisboa_80/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Wines of Portugal”: https://www.winesofportugal.com/br/vinhos-e-turismo/wine-regions/lisboa/overview/