sábado, 3 de julho de 2021

La Sogara Bardolino 2018

 

“Degustar” história e se deleitar com conhecimento é único. E nada melhor que fazê-lo da forma mais prazerosa possível, não forçosamente. O que eu quero dizer é que o vinho, o simples ato de abrir uma garrafa e servir a sua taça de vinho, simples para alguns, pode se tornar um transborde de aprendizado, de cultura, de um intenso processo cognitivo.

E seguindo para o simples, mas nobre caminho da degustação, ter acesso aos rótulos com aquele aspecto regionalista traz também todo o charme e o entusiasmo para que esse processo cultural, da busca pela história seja prazerosa e interessante também, afinal, um complementa o outro, são convergentes.

E a Itália, sem sombra de dúvida, te entrega tudo isso com maestria. Regiões e os seus mais diversos terroirs, peculiaridades de todo o tipo que faz de um país, embora pequeno, geograficamente falando, gigante e significativo na sua representatividade histórica na vitivinicultura mundial.

Um vinho, de uma pequena comuna ou município, como é chamado na Terra da Bota, na emblemática região do Vêneto, é muito importante e relativamente conhecida e reverenciada no mundo, mas que, no meu humilde “currículo” de enófilo, saiu poucas degustações, sempre me chamou a atenção e quando avistei em um famoso site especializado de compras, a um atrativo valor, me fez automaticamente comprar, principalmente pelo caráter frutado, simples, jovial e muito direto, quase informal, ao se degustar. Falo do Bardolino.

Fazemos tanta questão de degustar vinhos voluptuosos, carnudos e complexos que hoje decidi explorar na minha adega um vinho mais frutado, elegante e saboroso, descomplicado de degustar. E achei, achei um que completasse os meus anseios e, ao degusta-lo, abraçou todos os meus iniciais desejos. O vinho que degustei e gostei veio da pequena e significativa região de Bardolino, no Vêneto, Itália, e se chama La Sogara composto pelas tradicionais castas da região Corvina (70%), Rondinella (20%), e Molinara (10%) da safra 2018.

Bem já que falamos tão demasiadamente de história, conhecimento e cultura, para não perder o costume vamos seguir, antes de falar do vinho, com um pouco de, adivinhe, história! Do Vêneto, de Bardolino, das suas castas típicas e de tudo o mais que merecer.

Vêneto

O nordeste da Itália deve menos à tradição e mais ao desenvolvimento moderno que o restante do país. Mesmo assim as origens do vinho ali remontam à antiguidade, quando os etruscos dominavam a região e praticavam a agricultura e o cultivo da vinha, por volta de 600 anos a.C.

Sua história posterior é semelhante a muitas outras regiões italianas: grande desenvolvimento com a dominação romana, quase destruição da atividade vinícola com a invasão dos bárbaros e retomados na era medieval. No Vêneto, esse renascimento se deu ao redor do ano 1.000, sob a proteção da Sereníssima República di Venezia. Mais perto de nossos dias, a produção de vinhos na região sofreu grande influência austríaca.

A propósito, não se pode falar do vinho do Vêneto sem que se ressalte o importante papel desempenhado pela República de Veneza na atividade mercantil européia. Com enormes vantagens naturais, debruçada sobre o Adriático e voltada para o Oriente, desenvolveu um vibrante comércio de mercadorias – e dentre elas o vinho estava em primeiro lugar – por todo o Mediterrâneo, singrado por sua veloz frota de modernos barcos. Traziam para o Ocidente os vinhos da Grécia e também os bons vinhos que o Oriente Médio (Síria, Líbano, Palestina) produzia, sem se importar com o domínio militar muçulmano por esses mares.

Outra grande contribuição veneziana para a vinicultura aconteceu por volta do ano de 1300, quando resgataram a antiga arte romana de fabricar vidros transparentes, que os venezianos buscaram na Síria e implantaram na ilha de Murano. Assim, já no século XVI, apenas os vinhos de excelente qualidade eram guardados em garrafas, prática que toda a Europa imitou.

Verona, Veneza, Vicenza e Padova são as principais cidades do Vêneto. A região vinícola de Veneza faz fronteira ao norte com a Áustria, à nordeste com o Friuli-Venezia Giulia, à noroeste com o Trentino Alto-Ádige, à oeste com a Lombardia e ao sul com a Emilia- Romagna. As altitudes variam desde as bem elevadas, próximas aos Alpes, até as planícies que bordejam o mar Adriático, sendo o terreno normalmente ondulado. Muitos lagos, como o de Garda, são encontrados em sua área, além de rios, como o Pó e o Piave, propiciando grande desenvolvimento agrícola. O clima é continental, no interior, e de influência mediterrânea, nas regiões próximas ao mar e ao lago de Garda.

Vêneto e suas sub-regiões

Bardolino DOC

Bardolino está localizado na margem oriental do Lago de Garda, a 30 km de Verona, em uma área montanhosa espremida entre o lago a oeste e a colina moraina que separa o lago do vale de Adige a leste e o Vale do Pó. O território municipal tem uma área de 5.428 hectares dos quais cerca de 1.574 hectares de terras e 3.836 hectares de lago; administrativamente faz fronteira ao norte com Garda, a leste com Costermano, Affi Cavaion e Pastrengo; ao sul com Lazise; a oeste com a província de Brescia.

Bardolino

A origem da cidade é muito remota e certamente remonta à civilização itálica de moradias; vestígios de uma aldeia habitada por pilhas estão presentes em Cisano (bem como em outros municípios ao sul de Bardolino). O nome deriva do lombardo "bardus" ou "Lombard". Para Bardus, o sufixo olus é adicionado para Bardolus ao qual o segundo sufixo de relevância é adicionado, inus [divus + inus = divinus ou deus]. Esse é o "pequeno lugar dos lombardos".

Os vinhos de Bardolino são produzidos com as mesmas castas do Valpolicella (Corvina, Molinara e Rondinella) sendo, no entanto, mais leve. Simplicidade, frescor e boa fruta são suas principais características. A lei permite a adição de até 15% de outras uvas regionais como a Negrara, Sangiovese, Barbera, Rossignola e Garganega.

A região de plantio circunda a cidade de Bardolino, à beira do belo lago de Garda, e pode ser de dois tipos: Bardolino Classico, elaborado com uvas oriundas da zona clássica ou histórica, e o Bardolino Classico Superiore, feito também com uvas da zona histórica, mas com teor alcoólico superior a 12,5%.

Outro vinho da região é o Novello, uma versão italiana do Beaujolais Nouveau, elaborado também por maceração carbônica, é um vinho para ser bebido ainda mais jovem do que o Bardolino, assim como seu congênere francês.

As castas

Corvina

A Corvina é a principal uva usada no grandioso vinho tinto Amarone della Valpolicella e no vinho Valpolicella, combinada com parcelas de uva Rondinella e casta Mollinara. Uma uva autóctone da região de Verona é particularmente indicada à passificação – processo em que as uvas são secas para perderem água e aumentar a concentração de açúcar e proporção de matéria seca. Os bagos da uva Corvina são de tamanho médio, ovais e de cor azulado escuro, formando cachos na forma piramidal.

O seu nome, inclusive, foi conferido graças a sua cor escura. Corvina em italiano significa corvo, a uva é “escura como as penas de um corvo”. A uva Corvina confere aos vinhos produzidos com a casta aromas de cerejas e um toque amendoado, além do frescor conferido por sua ótima acidez. Quando os rendimentos são mais altos (maior produção por vinhedo), os vinhos tintos produzidos com a uva Corvina podem ser mais leves, frescos e frutados, como nos exemplos mais clássicos de Valpolicella e Bardolino.

Molinara

A uva Molinara é nativa da Itália e recebe esse nome por ter seus bagos envolvidos em uma fina camada branca, com uma aparência que sugere terem sido salpicados de farinha branca, tal como um indivíduo recém-saído de um moinho. Por isso, “molinara”, que significa “moinho” ou “moleiro”.

Acredita-se que essa variedade de uva tenha surgido em Verona, na região de Vêneto, e grande parte de seu cultivo ainda se dá na região norte da Itália. Mesmo no interior do país, mas sobretudo fora dele, a uva Molinara pode receber outros nomes, como Rossara, Mullinari, Salata, Vespone, Rossanella, Brepon Molinario, entre outros.

Com coloração roxa azulada, a uva Molinara é famosa pela qualidade e excelência com que elabora os vinhos de corte nas regiões de Valpolicella e Bardolino, levando mais acidez e frescor às variedades de rótulos locais. Com bagos médios e cachos em formato de pirâmides alongadas, esse tipo de uva tem caráter mineral, floral e frutado, que dá origem a vinhos pouco encorpados e muito aromáticos, com leves tons de cereja, tabaco, pimenta preta e amora.

Rondinella

A uva Rondinella é encontrada com maior facilidade na região italiana do Vêneto, e raramente é cultivada fora dali. Trata-se de uma variedade de uva tinta empregada na composição dos prestigiados vinhos italianos de Valpolicella e Bardolino.

As vinhas da Rondinella são responsáveis por rendimentos prolíficos, embora a uva seja raramente utilizada na produção de vinhos varietais. A casta é empregada em blends ao lado da uva Corvina, adicionando sabor marcante aos vinhos tintos produzidos na região do Vêneto.

Com cachos de dimensões médias e formatos cilíndricos, a uva Rondinella é considerada uma variedade rústica e adapta-se facilmente a solos que contenham alta quantidade de argila. Além disso, essa variedade é perfeitamente adaptada para a secagem, especialmente, quando provém de vinhas cultivadas em colinas.

Os vinhos produzidos a partir da uva Rondinella apresentam coloração rubi intensa, e são marcados por aromas delicados e sabores frutados. Os vinhos Rondinella possuem poucos taninos, no entanto, são bem estruturados.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rubi com reflexos violáceos envoltos em um reluzente brilho com boa formação de lágrimas finas que logo se dissipam.

No nariz traz notas de frutas vermelhas frescas que entrega muita leveza e um floral que me remete a flores vermelhas, a violeta.

Na boca é elegante, macio, delicado e com muita fruta, frutas vermelhas, como morango e framboesa, com taninos finos e quase imperceptíveis com uma belíssima acidez que lhe confere frescor e jovialidade. Final de média persistência e frutado.

Simplicidade sempre foi para mim um ponto de alta nobreza, ser nobre é ser simples, e nobreza a meu ver é ter um vinho saboroso na taça e respirar um pouco de cultura e saber o motivo pelo qual o vinho que tanto apreciamos tem determinadas nuances, características ou especificidades. Essa é a melhor das harmonizações! O La Sogara Bardolino, diante da sua simplicidade, da sua concepção mais direta e descompromissada expressa, com extrema fidelidade, a região a qual foi concebida, expressa o caráter da terra que foi concebida, o conceito mais fiel e preciso de terroir, termo tão comumente mencionado entre os amantes dessa poesia líquida. Um vinho elegante, delicado, frutado, fresco, ideal para se degustar despretensiosamente, com a alegria de se celebrar o momento mais sublime que o vinho pode nos proporcionar: alegria e leveza de espírito, sem amarras, simplesmente o vinho por ele mesmo, você e o vinho e a história tão viva e latente quanto essa bebida. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a La Sogara:

A adega moderna e sustentável foi renovada em 1995 e está orientada para a redução do impacto ambiental. Ainda hoje é um dos mais ecológicos da Itália. Dos 20 hectares iniciais, hoje a família tem 140 hectares, aos quais se somam 240 hectares sob manejo direto. A gestão sempre fez com que os enólogos seguissem um protocolo qualitativo estabelecido pela família Cottini. A produção é acompanhada em todas as etapas pela família Cottini com a máxima atenção na proteção da qualidade e na fidelidade da tradição.

La Sogara redescobre e valoriza os vinhos mais clássicos da tradição veronesa. São vinhos ideais para partilhar com os amigos, pela sua frescura e simplicidade. Versáteis para cada ocasião tornam cada dia especial.

Dedicados a quem pretende qualidade, farão com que fique bem se os levar a um jantar com amigos ou família. Tão sincero quanto uma risada que vem do coração. São vinhos que respeitam o meio ambiente e a tradição.

Sobre a Vinícola Cottini:

Em 1925, Carlo Cottini fundou a primeira empresa familiar dedicada ao cultivo da vinha e da fruta, como se usava naquela época. Nos anos 50 seu filho Raffaello focou seus negócios exclusivamente na produção de vinhos.

Chega então a vez de Diego, filho de Raffaello, que demonstrou ambição e coragem para concretizar novos projetos de pesquisa e melhoria constante no cultivo de vinhas familiares juntamente com a aquisição de novas. Em seguida, ele criou vinhos inovadores, bem como definiu os históricos.

Hoje a empresa envolve toda a família: Diego, sua esposa Annalberta, seus filhos Michele e Mattia. Cada um tem seu próprio papel, personalidade e habilidades que renovam a cada dia a herança de seu bisavô Carlo e de seu avô Raffaello com um misto de compromisso, ambição e coragem.

Mais informações acesse:

http://www.lasogara.com/it/home/

https://www.cottinivini.com/en/intro-2/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/terra-de-vinheteiros-e-mercadores_8613.html

“Município de Bardolino”: https://comune.bardolino.vr.it/turismo/storia/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/corvina

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/molinara

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/rondinella

 

 






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