quinta-feira, 24 de junho de 2021

Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos 2016

 

É flagrante a minha predileção e diria amor pelos rótulos da região de Lisboa em Portugal. Confesso que me torno, as vezes, redundante com os meus comentários que são textualizados em minhas resenhas sobre os vinhos dessa região que degustei e gostei, mas, convenhamos é melhor ser redundante do que omisso! Nada melhor do que expressar em palavras o que sente quando tem vinhos de Lisboa disponível em nossa taça, para o nosso deleite.

E, mais uma vez, é chegado o momento de degustar mais um vinho dessa região e um rótulo que aguardei por muito tempo para tê-lo em minhas mãos. Foi um vinho particularmente difícil de encontrar e os poucos sites especializados que o ofertam, claro, estão em um valor demasiadamente alto, claro, estamos em um país que não privilegia a cultura do vinho em todos os seus aspectos.

Mas enfim consegui encontrar em um site um valor minimamente atraente para compra-lo e o fiz. E como sou ávido por conhecimento, busquei alguma informação, na página oficial do produtor, Quinta do Gradil (Parras Wines), e li algo muito importante e que reflete a importância da vinícola preocupada em entregar rótulos para enófilos que expresse o terroir, com tipicidade, a busca da melhor relação qualidade X preço. E fala algo que considero de suma importância e que faz com que apreciadores de vinhos da região, como eu, a tenha no coração, consolidando o tal vínculo afetivo que mencionei no início: “A afirmação dos vinhos de Lisboa” ou ainda “Lisboa em garrafa”.

E é com esse intuito, com essa filosofia que os vinhos lisboetas atravessam os tempos e se reafirma, a cada dia, como uma das mais proeminentes, arrojadas e modernas regiões vitivinícolas de Portugal, pois retratam a cultura de sua terra, do seu povo e que expressa, lá vem ele de novo, o seu terroir. Mas apesar dessa introdução com um caráter meio conclusivo eu falo do vinho que degustei e gostei que veio, claro, de Lisboa, Portugal e que se chama Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos em um blend composto pelas castas Touriga Nacional (50%), Syrah (30%) e Tinta Roriz ou Tempranillo na Espanha (20%) da safra 2016. 

E para ser, com todo o prazer, redundante, ou melhor, amoroso, enamorado por Lisboa, falarei sobre a região expondo, de forma retumbante, a sua gloriosa história e contribuição para a vitivinicultura lusitana e que o mundo agradece.

Lisboa

A região vinícola de Lisboa, também era conhecida como Estremadura e tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. Os vinhos feitos em Lisboa, em grande parte, pertencem a cooperativas, com uma grande variedade de estilos e qualidade. Esta região, onde o "vinho regional Lisboa" é predominante, tem nove DOC´s (Denominações de Origem). O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. O conflito entre a vida urbana e a rural foi intensificado a partir do século XIX com a industrialização e recentemente pelo sistema viário que liga Lisboa a Leiria. Toda a região mantém de forma relevante as unidades de espaço designadas ainda no período romano, as quintas (subunidades de uma vila). As quintas em sua quase totalidade estão voltadas para a produção do vinho.

A história revela que Fenícios trouxeram mudas da Síria e as introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região ficou sob o domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi reorganizada para recuperar a produção vinícola.

Lisboa

A região dispõe de grande pluralidade de condições de cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação, regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica, espumantes e de uso na mesa.

A região é dividida em nove sub-regiões sendo a maioria Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas e Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte central e Encostas D’Aire ao norte.

É surpreendente que duas históricas denominações da região de Lisboa estejam diminuindo com o tempo, Na região denominada Carcavelos, muito famosa por seus vinhos doces, a maioria das vinhas deram lugar a edifícios. Na denominação Colares, que fica próxima a Cascais, e produz praticamente sobre dunas de areia protegidas por quebra-ventos, encontram-se cada vez menos vinhedos, embora produza vinhos cuja alta acidez lhe permite uma guarda muito longa. Sua uva principal é a Ramisco tânico, dificilmente encontrada hoje em outra região.

A DOC Bucelas é a terceira menor e possui uma longa história na produção de vinhos. A região tem crescido nos últimos anos e ficado mais em evidência pela melhoria de qualidade de seus produtos, especialmente os brancos, considerados dos melhores de Portugal.

Ao norte de Bucelas, ainda no interior, encontra-se a pequena região de Arruda. É como se fosse um delicioso país de conto de fadas: montanhas, um antigo castelo em ruínas, antigas estradas romanas, moinhos históricos (hoje em dia equipados com modernas turbinas eólicas), e vinhedos, principalmente de uvas tintas. Desde 2002, os vinhos DOC Arruda podem incluir uvas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, assim como algumas uvas de classe de outras regiões de Portugal como a Touriga Nacional e Touriga Franca. O mesmo vale para as outras regiões DOC na parte central da área do Vinho Regional Lisboa: Alenquer, Torres Vedras e Óbidos. Neste clima ameno, as uvas podem amadurecer com tranquilidade e produzir muito bons vinhos com boa concentração e acidez.

Ao norte de Arruda, a DOC Alenquer está protegida dos ventos atlânticos pelos montes calcários da Serra de Montejunto. Os produtores altamente motivados, conscientes da qualidade do micro clima único de Alenquer. Na DOC Torres Vedras, é mais frio para o lado do mar da Serra de Montejunto, especialmente no flanco ocidental da região, onde a brisa do mar é mais forte. Esta é uma fonte de vinhos brancos secos, incluindo o de baixo teor alcoólico conhecido como Vinho Leve. Ao norte de Alenquer a área DOC Óbidos, possui uma bela cidade medieval ainda murada na sua face norte. A região produz vinhos brancos e alguns dos melhores espumantes em Portugal, alem de alguns tintos leves e elegantes.

A oeste de Óbidos e tocada pela brisa atlântica, a DOC Lourinhã é uma região montanhosa, onde peras, maçãs , pêssegos e figos disputam espaço com os vinhedos. A região envolve a bela cidade de Leiria, o famoso centro de peregrinação de Fátima e os mosteiros fabulosos da Batalha e Alcobaça, ambos eleitos como Patrimônio Mundial da UNESCO. Seus vinhos brancos e tintos são leves, frescos e pouco alcoólicos.

Lisboa e suas sub-regiões

O clima é temperado em virtude da influência atlântica e não apresenta grandes amplitudes térmicas. Os verões são frescos e os invernos suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. As vinhas localizadas junto à linha da costa sofrem uma forte e decisiva influência do Atlântico, enquanto as vinhas plantadas no interior, protegidas da influência marítima pelos diversos sistemas montanhosos, beneficiam de um clima mediterrânico. O relevo não é muito elevado, exceto o sul, onde aparecem alguns estratos de basalto e de granito, assentando a região, quase na sua totalidade, em formações argilo-calcárias e argiloarenosas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rubi intenso, quase escuro e com entornos violáceos, com uma boa formação de lágrimas, finas e que mancham as bordas do copo.

No nariz protagonizam as frutas vermelhas tais como groselha, cereja e framboesas, trazendo um aroma jovial e pleno, além das notas de madeira, couro e baunilha bem discretas, graças aos 3 meses que passou por madeira.

Na boca é intenso, saboroso, redondo, untuoso, preenche bem a boca, com as notas amadeiradas na dosagem certa, para que a fruta ganhe destaque como no aspecto olfativo. Taninos presentes, mas domados, acidez vivaz que garante frescor ao vinho e um agradável picante. Um final persistente e frutado.

“Castelo do Sulco surge como resposta a uma tendência cada vez maior para o consumo de vinhos de qualidade por consumidores cada vez mais informados e em busca de propostas com a melhor relação qualidade-preço. A marca aposta na afirmação dos vinhos de Lisboa, tendo mesmo assumido a assinatura “Lisboa em Garrafa”, como selo de qualidade e reforçando um hype que a capital tem vindo a registrar internacionalmente. É uma marca democrática, uma oferta para jovens, turistas, amantes de boa gastronomia, da movida Lisboeta, de convívios entre amigos. É um pouco de Lisboa dentro de uma garrafa”.

E com essas palavras sobre a proposta do vinho delineado pela vinícola não podemos dizer muita coisa apenas da personificação do amor que temos por Lisboa e seus vinhos, os seus rótulos que cada vez mais expressam com fidelidade a tipicidade às características dessas terras em todas as suas nuances, entregando as mais diversas propostas para o nosso deleite. O Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos personifica muito da versatilidade dos vinhos lisboetas: personalidade e a marcante austeridade dos vinhos portugueses com a fruta que traz o frescor e a maciez que atende aos mais diversos anseios e paladares. Um belo vinho que nos faz persistir e trilhar o caminho de novas experiências, com novos rótulos dessa tão importante região. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Parras Wines:

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Portugal by Wine”: https://www.portugalbywine.com/pt/regioes/info/lisboa_80/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Wines of Portugal”: https://www.winesofportugal.com/br/vinhos-e-turismo/wine-regions/lisboa/overview/

 

 

 

 

 

 

 

 

 






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