É flagrante a minha predileção e diria amor pelos rótulos da
região de Lisboa em Portugal. Confesso que me torno, as vezes, redundante com
os meus comentários que são textualizados em minhas resenhas sobre os vinhos
dessa região que degustei e gostei, mas, convenhamos é melhor ser redundante do
que omisso! Nada melhor do que expressar em palavras o que sente quando tem vinhos
de Lisboa disponível em nossa taça, para o nosso deleite.
E, mais uma vez, é chegado o momento de degustar mais um
vinho dessa região e um rótulo que aguardei por muito tempo para tê-lo em
minhas mãos. Foi um vinho particularmente difícil de encontrar e os poucos
sites especializados que o ofertam, claro, estão em um valor demasiadamente
alto, claro, estamos em um país que não privilegia a cultura do vinho em todos os
seus aspectos.
Mas enfim consegui encontrar em um site um valor minimamente atraente para compra-lo e o fiz. E como sou ávido por conhecimento, busquei alguma informação, na página oficial do produtor, Quinta do Gradil (Parras Wines), e li algo muito importante e que reflete a importância da vinícola preocupada em entregar rótulos para enófilos que expresse o terroir, com tipicidade, a busca da melhor relação qualidade X preço. E fala algo que considero de suma importância e que faz com que apreciadores de vinhos da região, como eu, a tenha no coração, consolidando o tal vínculo afetivo que mencionei no início: “A afirmação dos vinhos de Lisboa” ou ainda “Lisboa em garrafa”.
E é com esse intuito, com essa filosofia que os vinhos
lisboetas atravessam os tempos e se reafirma, a cada dia, como uma das mais
proeminentes, arrojadas e modernas regiões vitivinícolas de Portugal, pois
retratam a cultura de sua terra, do seu povo e que expressa, lá vem ele de
novo, o seu terroir. Mas apesar dessa introdução com um caráter meio conclusivo
eu falo do vinho que degustei e gostei que veio, claro, de Lisboa, Portugal e
que se chama Castelo do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos em um blend composto
pelas castas Touriga Nacional (50%), Syrah (30%) e Tinta Roriz ou Tempranillo
na Espanha (20%) da safra 2016.
E para ser, com todo o prazer, redundante, ou melhor,
amoroso, enamorado por Lisboa, falarei sobre a região expondo, de forma
retumbante, a sua gloriosa história e contribuição para a vitivinicultura
lusitana e que o mundo agradece.
Lisboa
A região vinícola de Lisboa, também era conhecida como
Estremadura e tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à
produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem
Controlada. Os vinhos feitos em Lisboa, em grande parte, pertencem a
cooperativas, com uma grande variedade de estilos e qualidade. Esta região,
onde o "vinho regional Lisboa" é predominante, tem nove DOC´s
(Denominações de Origem). O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a
diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.
Suas características geográficas proporcionam certa
complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição
dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e
maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre
influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. O
conflito entre a vida urbana e a rural foi intensificado a partir do século XIX
com a industrialização e recentemente pelo sistema viário que liga Lisboa a
Leiria. Toda a região mantém de forma relevante as unidades de espaço
designadas ainda no período romano, as quintas (subunidades de uma vila). As
quintas em sua quase totalidade estão voltadas para a produção do vinho.
A história revela que Fenícios trouxeram mudas da Síria e as
introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região ficou sob o
domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi reorganizada
para recuperar a produção vinícola.
A região dispõe de grande pluralidade de condições de
cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as
diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação,
regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica,
espumantes e de uso na mesa.
A região é dividida em nove sub-regiões sendo a maioria
Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas e
Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte
central e Encostas D’Aire ao norte.
É surpreendente que duas históricas denominações da região de
Lisboa estejam diminuindo com o tempo, Na região denominada Carcavelos, muito
famosa por seus vinhos doces, a maioria das vinhas deram lugar a edifícios. Na
denominação Colares, que fica próxima a Cascais, e produz praticamente sobre
dunas de areia protegidas por quebra-ventos, encontram-se cada vez menos
vinhedos, embora produza vinhos cuja alta acidez lhe permite uma guarda muito
longa. Sua uva principal é a Ramisco tânico, dificilmente encontrada hoje em
outra região.
A DOC Bucelas é a terceira menor e possui uma longa história
na produção de vinhos. A região tem crescido nos últimos anos e ficado mais em
evidência pela melhoria de qualidade de seus produtos, especialmente os
brancos, considerados dos melhores de Portugal.
Ao norte de Bucelas, ainda no interior, encontra-se a pequena
região de Arruda. É como se fosse um delicioso país de conto de fadas:
montanhas, um antigo castelo em ruínas, antigas estradas romanas, moinhos
históricos (hoje em dia equipados com modernas turbinas eólicas), e vinhedos,
principalmente de uvas tintas. Desde 2002, os vinhos DOC Arruda podem incluir
uvas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, assim como
algumas uvas de classe de outras regiões de Portugal como a Touriga Nacional e
Touriga Franca. O mesmo vale para as outras regiões DOC na parte central da
área do Vinho Regional Lisboa: Alenquer, Torres Vedras e Óbidos. Neste clima
ameno, as uvas podem amadurecer com tranquilidade e produzir muito bons vinhos
com boa concentração e acidez.
Ao norte de Arruda, a DOC Alenquer está protegida dos ventos
atlânticos pelos montes calcários da Serra de Montejunto. Os produtores
altamente motivados, conscientes da qualidade do micro clima único de Alenquer.
Na DOC Torres Vedras, é mais frio para o lado do mar da Serra de Montejunto,
especialmente no flanco ocidental da região, onde a brisa do mar é mais forte.
Esta é uma fonte de vinhos brancos secos, incluindo o de baixo teor alcoólico
conhecido como Vinho Leve. Ao norte de Alenquer a área DOC Óbidos, possui uma
bela cidade medieval ainda murada na sua face norte. A região produz vinhos
brancos e alguns dos melhores espumantes em Portugal, alem de alguns tintos
leves e elegantes.
A oeste de Óbidos e tocada pela brisa atlântica, a DOC
Lourinhã é uma região montanhosa, onde peras, maçãs , pêssegos e figos disputam
espaço com os vinhedos. A região envolve a bela cidade de Leiria, o famoso
centro de peregrinação de Fátima e os mosteiros fabulosos da Batalha e Alcobaça,
ambos eleitos como Patrimônio Mundial da UNESCO. Seus vinhos brancos e tintos
são leves, frescos e pouco alcoólicos.
O clima é temperado em virtude da influência atlântica e não
apresenta grandes amplitudes térmicas. Os verões são frescos e os invernos
suaves, apesar das zonas mais afastadas do mar serem um pouco mais frias. As
vinhas localizadas junto à linha da costa sofrem uma forte e decisiva
influência do Atlântico, enquanto as vinhas plantadas no interior, protegidas
da influência marítima pelos diversos sistemas montanhosos, beneficiam de um
clima mediterrânico. O relevo não é muito elevado, exceto o sul, onde aparecem
alguns estratos de basalto e de granito, assentando a região, quase na sua
totalidade, em formações argilo-calcárias e argilo‑arenosas.
E agora finalmente o vinho!
Na taça um rubi intenso, quase escuro e com entornos
violáceos, com uma boa formação de lágrimas, finas e que mancham as bordas do
copo.
No nariz protagonizam as frutas vermelhas tais como groselha,
cereja e framboesas, trazendo um aroma jovial e pleno, além das notas de
madeira, couro e baunilha bem discretas, graças aos 3 meses que passou por
madeira.
Na boca é intenso, saboroso, redondo, untuoso, preenche bem a
boca, com as notas amadeiradas na dosagem certa, para que a fruta ganhe
destaque como no aspecto olfativo. Taninos presentes, mas domados, acidez vivaz
que garante frescor ao vinho e um agradável picante. Um final persistente e
frutado.
“Castelo do Sulco surge
como resposta a uma tendência cada vez maior para o consumo de vinhos de
qualidade por consumidores cada vez mais informados e em busca de propostas com
a melhor relação qualidade-preço. A marca aposta na afirmação dos vinhos de Lisboa,
tendo mesmo assumido a assinatura “Lisboa em Garrafa”, como selo de qualidade e
reforçando um hype que a capital tem vindo a registrar internacionalmente. É
uma marca democrática, uma oferta para jovens, turistas, amantes de boa
gastronomia, da movida Lisboeta, de convívios entre amigos. É um pouco de
Lisboa dentro de uma garrafa”.
E com essas palavras sobre a proposta do vinho delineado pela
vinícola não podemos dizer muita coisa apenas da personificação do amor que
temos por Lisboa e seus vinhos, os seus rótulos que cada vez mais expressam com
fidelidade a tipicidade às características dessas terras em todas as suas
nuances, entregando as mais diversas propostas para o nosso deleite. O Castelo
do Sulco Reserva Seleção dos Enólogos personifica muito da versatilidade dos
vinhos lisboetas: personalidade e a marcante austeridade dos vinhos portugueses
com a fruta que traz o frescor e a maciez que atende aos mais diversos anseios
e paladares. Um belo vinho que nos faz persistir e trilhar o caminho de novas experiências,
com novos rótulos dessa tão importante região. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a Parras Wines:
A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010,
atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de
engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada
para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um
reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que
no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa
linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo
os que estão além-fronteiras.
Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com
vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num
depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na
altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse
episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A
empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de
Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares
de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.
Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de
Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de
vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas
antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área
de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de
sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010,
constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na
Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras
regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue
assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado,
produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de
Setúbal e Alentejo.
Mais informações acesse:
Referências:
“Portugal by Wine”: https://www.portugalbywine.com/pt/regioes/info/lisboa_80/
“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/
“Wines of
Portugal”: https://www.winesofportugal.com/br/vinhos-e-turismo/wine-regions/lisboa/overview/
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