sábado, 10 de julho de 2021

Santa Ema Select Terroir Reserva Merlot 2018

 

A Merlot definitivamente tem uma importância ímpar na minha trajetória de enófilo. Diria, sem medo ou exagero, que a Merlot ajudou a moldar o que sou como um apreciador incondicional da poesia líquida. Foi uma casta essencial para a minha transição dos vinhos de mesa para os vinhos finos, de uvas vitis vinífera. Mas o mais importante disso tudo é o impacto que ela causou em minha vida e que, a cada degustação, a cada experiência sensorial vem impactando.

Lembro-me com nitidez que os primeiros rótulos da casta Merlot que degustei logo me rendi de forma incondicional, me curvei perante a ela e de imediato se tornou a minha casta preferida, mesmo que naquela época eu ainda estava apenas no início da minha trajetória no universo do vinho.

Degustei alguns rótulos nacionais e chilenos, mas o segundo, de cara, me impressionou: tinham personalidade, eram marcantes, alguns encorpados, mas macios, equilibrados e fáceis de degustar. Embora naquela época, como disse, estava apenas no início da minha caminhada no mundo dos vinhos, eu conseguia ter essa percepção do vinho, o que fez curvar diante da cobiçada Merlot.

E degustei de forma ávida e dedicada alguns rótulos chilenos da casta Merlot e que maravilha era explorar cada um deles, de várias regiões, cada um com a seu terroir, as suas características, fazendo com que eu mergulhasse profundamente nos rótulos chilenos da casta. Tive momentos em que a minha simples adega se tinha Merlot chileno, como foi intenso, uma espécie de paixão avassaladora em que, determinadas situações, temia que razão tomasse conta de meus sentidos e fizesse trazer à tona alguma ingrata realidade.

Mas não permiti que a temível e silenciosa zona de conforto, tomasse conta de mim e o Chile se desbravou diante dos meus olhos e sentidos de outras formas, ou melhor, de outras castas e rótulos nas suas mais diversas propostas, mas não posso negar que o Chile e os seus grandiosos vinhos chegou a mim graças a Merlot, bem como a casta propriamente dia.

E a minha mais nova degustação de um Merlot chileno veio de uma forma inusitada e surpreendentemente incrível. Avistei, em uma das minhas novas incursões aos supermercados, um Merlot do Chile com um atraente valor na faixa dos R$ 23,00! Receoso, me aproximei para conferir com cuidado. Como costumo fazer, acessei a página do produtor para colher mais informações acerca do vinho e o que lá li me chamou muito atenção, sobretudo pelo fato do valor tão baixo.

Não tinha nada a perder, afinal, um valor baixo, caso o vinho não me agradasse eu perderia pouco dinheiro. E eis que o dia, o momento, chegou! No barulho da rolha se desprendendo da garrafa, por um instante eu voltei no tempo e relembrei de agradáveis degustações de bons Merlots chilenos. Que vinho! Então apresento o vinho que degustei e gostei que veio do Vale del Cachapoal, no Chile, e se chama Santa Ema Select Terroir Reserva, da safra 2018.

Então já que fiz comentários elogiosos a Merlot, falemos um pouco da casta e também da região a qual o vinho foi concebido, já que o nome do vinho traz a palavra-chave: “Terroir”.

Merlot: popular sim, mas elegante.

Por um longo período na história dos vinhos, a Merlot ficou conhecida pejorativamente como a “outra tinta de Bordeaux”, região de sua origem e cuja estrela principal era a Cabernet Sauvignon. Esse panorama começou a mudar no final do século XX – atualmente ela é uma das castas de maior sucesso no mundo, sendo cultivada em diversos países vitivinicultores.

Pesquisas revelam que a Merlot descende da casta Cabernet Franc, também francesa, sendo meia-irmã das não menos famosas Carmenère e da Cabernet Sauvignon. Apesar de seu prestígio ter se espalhado pelo mundo apenas na década de 1980, a Merlot tem cultivo documentado há séculos atrás. A primeira referência à uva que se tem notícia data de 1784, no seu país de origem: a França.

A sua designação, Merlot, deriva de Merle – nome dado a um pássaro na França que, assim como a uva, ostenta uma coloração escura e profunda. 

Melre

No século XIX foi muito cultivada na região de Médoc, que fica à margem esquerda do rio Gironde. Tem seu nome mencionado em diversas ocasiões na Itália e Suíça já na virada para o século XX, mas ganha notoriedade mesmo quando entra no Novo Mundo em 1990, tornando-se a uva mais popular nos Estados Unidos.

A França continua sendo o maior cultivador desta casta, com aproximadamente dois terços da sua produção mundial. Bordeaux, com 56% de seus vinhedos cobertos de Merlot, é a principal produtora; sobretudo na sua margem direita, onde a uva domina as plantações das regiões de St. Émilion e Pomerol. Outros países como Itália (onde a Merlot é a quinta casta mais plantada), Estados Unidos (na Califórnia, principalmente), Argentina, Chile, Austrália, Brasil, Canadá e África do Sul cultivam a Merlot de forma significativa. Denotando seu prestígio, popularidade e fácil adaptação em diversas partes do globo.

Assim como a Cabernet Sauvignon, a Merlot tem boa adaptabilidade a diversos solos e terroirs. Suas cepas se desenvolvem muito bem em solos rochosos e áridos, mas também são bem cultivadas em solos argilosos. Quanto ao clima, a adaptabilidade também reina, pois consegue produzir boas safras tanto em climas mais quentes quanto em mais frios e úmidos.

Apesar do seu fácil cultivo e da sua flexibilidade, os especialistas divergem a respeito do tempo de maturação dessa uva, não existindo consenso. Isso porque, outra característica dessa uva é sua propensão para passar do ponto do amadurecimento, o que pode acontecer em questão de dias (um dia está boa e dias depois já amadureceu muito).

Os que defendem a colheita tardia entendem que isso conserva os açúcares e a maturação fenólica de forma mais concentrada. A outra corrente, ao contrário, acredita que a colheita tardia prejudica a acidez e destaca excessivamente os aromas frutados, tornando o vinho mais pesado, com menos frescor e elegância, razão pela qual defendem a colheita precoce.

Por causa dessa divergência que atualmente existem dois tipos de vinhos Merlot: (i) o estilo internacional, elaborado no novo mundo, no qual a uva é colhida mais tarde (no momento em que está mais madura), com teor alcoólico mais alto e que resulta em um vinho mais encorpado. E (ii) o tradicional estilo de Bordeaux, que usa uva colhida mais cedo para manter a acidez e produzir vinhos de corpo médio, com teor alcoólico moderado.

Como se não bastassem essas diferenças, especialistas ainda afirmam que há diferença de entre os vinhos em razão da região onde a uva é cultivada, especificamente se é em local mais quente ou mais frio. De fato, vinhos de regiões mais frias, como França, Itália e Chile, são mais estruturados, com maior presença de taninos e aromas de tabaco. Já os vinhos de regiões mais quentes, como da Califórnia, da Austrália e da Argentina, são mais frutados e com taninos menos predominantes.

Vale de Cachapoal

O Valle del Cachapoal – Valle del Rapel, é uma sub-região da região de Valle Central. Ocupa a parte sententrional do vale de Rapel, enquanto o vizinho meridional é Colchágua. Embora por muito tempo se tenha falado só de Rapel, pouco a pouco ambos foram se desligando dessa vizinhança a ponto de já muitos poucos rótulos falarem em um Rapel genérico.

Valle Central e o Valle del Cachapoal

Existe lógica por trás dessa divisão, porque as diferenças são importantes, tanto em clima quanto em topografia. Boa parte dos produtores mais importantes de Cachapoal tem seus vinhedos aos pés dos Andes, local chamado de Alto Cachapoal. Nessa região a Cabernet Sauvignon brilha com seu frescor e elegância, mas, também, aproveitando a influência fria da cordilheira e dos pedregosos solos aluviais de média fertilidade, conseguiram-se interessantes resultados com a Viognier em brancos  e  Cabernet Franc em tintos.

O poente, nos arredores de Peumo, as temperaturas aumentaram, especialmente nos setores protegidos da influência marítima, como em Las Cabras. Nesse setor, o estilo delicado e elegante transforma-se em maior potência de álcool, maturidade e doçura. Isso explica por que, na região ocidental do vale, a Carménère alcance sua completa maturação sem dificuldades. Em Peumo, na margem setentrional do rio Cachapoal, são produzidos alguns dos mais interessantes Carménère do Chile.

As brisas frescas da costa que deslizam pela bacia do rio banham os vinhedos de frescor e, ao mesmo tempo, moderam as altas temperaturas do setor. Isso explica, por exemplo, que os tintos tenham essas notas de ervas e frutas vermelhas maduras proporcionadas pelas brisas frescas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça mostra um imponente vermelho rubi intenso com reflexos violáceos brilhantes com abundantes lágrimas grossas que mancham as paredes do copo.

No nariz revela aromas de frutas vermelhas maduras, algo de groselha e ameixas, com notas amadeiradas delicadas e de baunilha em um equilíbrio invejável, graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, cerca de 40% do vinho.

Na boca é um vinho austero, maduro, de tipicidade, com alguma estrutura, mas muito macio e harmonioso, aparecendo, mais uma vez, as notas amadeiradas, de forma discreta, fazendo com que a fruta sobressaia, o toque herbáceo se faz presente também, com taninos firmes, mas domados, acidez correta e final prolongado e frutado.

O nome do vinho traz aquela palavra-chave: “Terroir”. E ela explica muita coisa que aqui foi textualizada. As características climáticas e geográficas que personificam os Merlots chilenos, a personificação do genuíno. Antes de saber ou pelo menos ter a mínima, a vaga noção do conceito de “Terroir” eu já tinha a plena noção da tipicidade dos Merlots chilenos e foi o que me cativou, o que me arrebatou por inteiro. Santa Ema Select Terroir surpreende por entregar um vinho maduro, de personalidade marcante, mas suave, elegante. Uma versatilidade que faz com que o vinho cative a todos os paladares, dos mais exigentes aos iniciantes do universo vasto e inexplorado do vinho que ainda tem a maravilhosa capacidade de nos surpreender. Que o Merlot chileno continue nos inspirando e provocando verdadeiras catarses em nossos sentidos. Tem 13,7% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Santa Ema:

O começo da Santa Ema remonta ao início do século XX, quando o Sr. Pedro Pavone Voglino, imigrante italiano, vindo do Piemonte, atleta e empresário, descobriu na Ilha de Maipo um Terroir, onde até hoje, ainda é a sede da vinícola, isso em 1917. Em 1935 ele adquire a fazenda Santa Ema, com 35 hectares.

O fundador, juntamente com seu filho Félix Pavone Arbea, um grande empreendedor e visionário, fundou a empresa vinícola, Vinhos Santa Ema, em 1956, proporcionando uma avançada infraestrutura industrial para o desenvolvimento e gerenciamento de vinhos embalados de alta qualidade.

A primeira exportação de vinhos Santa Ema para o mercado exterior acontece em 1986 e, a partir de então, a Santa Ema se abriu para o Chile e para o mundo, iniciando suas exportações em um processo de crescimento sólido e ininterrupto, que hoje atinge a mais de 30 países de destino nas mãos da terceira e quarta geração da família.

Se existe algo que caracteriza o espírito, a missão e a visão dos Vinhos de Santa Ema, que continua pertencendo à Família Pavone, hoje em sua quarta geração, é uma adesão plena e sustentada aos seguintes valores fundamentais: Compromisso, Qualidade, Respeito, Honestidade e Responsabilidade.

Mais informações acesse:

https://www.santaema.cl/pt-br/?active=S

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=RAPELCACHAPOAL

“Blog Vinho Site”: http://blog.vinhosite.com.br/uva-merlot-conheca-mais-sobre-os-vinhos-dessa-variedade/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uva-merlot-quando-a-popularidade-encontrou-a-elegancia/

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/11/09/o-vale-de-cachapoal/

 

 

 

 

 






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