sábado, 5 de fevereiro de 2022

Peruzzo Cabernet Sauvignon 2012

 

O que faz de um vinho especial? Nossa! Uma pergunta como essa, embora construída de uma forma simples e direta, requer uma reflexão muito apurada e detalhada em várias questões que passa por situações mercadológicas a sentimentais.

É tudo muito relativo! Um vinho pode ser especial da forma que lhe convém. O preço pode ser um peso, o momento pode ser um peso, um produtor que aprecia, uma casta que nunca degustou, uma região que não conhecia, a companhia, uma pessoa amada, especial. São tantas as expectativas que você imprime em um vinho que o torna especial.

A impressão que tenho é de que nada parece ser palpável, pois, apesar de valores, de rótulos emblemáticos que, em tese, pode fazer de um vinho especial, tudo é carregado de sentimentos e sentimento não se mensura, se sente, se vive.

E o que é especial, sobretudo no vasto universo dos vinhos, vai se adquirindo ao longo de sua trajetória nele. O que tem me proporcionado grandes e inesquecíveis momentos no vinho atualmente são os rótulos de guarda, os vinhos com vocação de guarda, os famosos vinhos velhos.

Já é um privilégio degusta-los pelo fato de ser certa “idade”. É tão raro degustar vinhos com essa proposta levando em conta de um cenário majoritariamente marcado por vinhos jovens, produzidos para serem degustados logo, os famosos “frutados”. E quando você degusta um vinho de idade brasileiro, o privilégio para aumentar, ganhar em representatividade.

E o vinho desta tradicional noite de sábado é, diria, especial, único. Um vinho que achei de forma totalmente inesperada e pouco planejada, talvez dessa forma seja melhor, sabe? Navegando pela internet, entre uma procura e outra, fui redirecionado para um link que mostrava um Cabernet Sauvignon da grande Campanha Gaúcha, que cresce e cresce a olhos e rótulos vistos, que neste ano completou 10 anos de idade, isso mesmo, uma década de garrafa!

Um Cabernet Sauvignon brasileiro que para alguns não tem caráter, não tem personalidade, que não expressa as características da cepa, as mais fiéis, entregou, não somente a fidelidade das características da casta, mas que passou incólume, vivo e pleno por 10 anos! Pois é, acho que precisamos rever os nossos conceitos de Cabernet Sauvignon do Brasil, sobretudo da Campanha Gaúcha.

E falando em conceito, já que mencionamos no sentimento, no estado de espírito que define o que é especial, não posso deixar de dizer, com todas as forças, de que o vinho que degustei e gostei veio, claro, da Campanha Gaúcha, no Brasil, e que se chama Peruzzo Cabernet Sauvignon da safra 2012.

E ainda no quesito “especial”, ainda tem a importância de se degustar um vinho de um pequeno/médio produtor que sim, precisamos valorizar e incentivar seu crescimento degustando seus vinhos. Há sim rótulos especiais e bem elaborados de pequenos e médios produtores. E a “corrente” que me levou a esse vinho foi a compra da mesma linha, só que o Cabernet Franc que também goza de certa idade, 2013, mas essa será alvo de uma nova história em breve. E por falar em história, antes de falar do Peruzzo Cabernet Sauvignon, vamos um pouco de história da Campanha Gaúcha.

Campanha Gaúcha

Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí, forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.

A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia que ganha novas utilidades.

Campanha Gaúcha

No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.

As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura brasileira.

Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura, a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos no Brasil.

A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.

E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto jornal Correio do Sul de Bagé.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, quase escuro, com bordas atijoladas denunciando seu tempo de vida, com lágrimas grossas, lentas e em grande intensidade.

No nariz explode os aromas terciários! Frutas pretas e secas são sentidas, tais como ameixa, amora, cereja negra e noz, com notas terrosas e de baunilha, talvez pela complexidade ou ainda pelos 3 meses de passagem por madeira (50% do lote).

Na boca é um vinho macio e elegante, o tempo foi generoso para com o vinho, porém entrega personalidade, sobretudo pela sua complexidade, enfim, revela-se equilibrado. A fruta preta madura se faz presente, notas ligeiramente amadeiradas, toques de chocolate, taninos maduros, mas polidos, acidez discreta e um final médio.

O conceito de vinho especial pode gerar discussões e reflexões complexas e repletas de detalhe, mas se torna simples quando o líquido inunda a taça e arrebata as novas experiências sensoriais. Essa é a parte palpável, o sentimento de deleite e prazer que se materializa, o que a gente mais espera, porque torna-se fácil definir tais conceitos e ele é somente nosso, o que é especial. O Peruzzo Cabernet Sauvignon 2012, no auge dos seus 10 anos de vida, revelou as características da casta, mas também de um vinho nesse estágio da vida: taninos macios, elegantes, embora apresente uma acidez discreta, mas que não impede a sua plenitude, é complexo, com alguma estrutura. Um vinho de caráter, de expressividade, vivo e audacioso. Que possamos nos permitir viver e degustar rótulos como esse, que “provoque” todos os nossos sentidos e nos proporcione prazer e nos coloque em um estágio de privilégio. Isso é ser especial. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Peruzzo:

Motivados por um desejo antigo de produzir vinhos, associado com as oportunidades e perspectivas que a Região da Campanha oferece no mundo dos vinhos, a família Peruzzo, com muito entusiasmo decidiu investir no cultivo de uvas viníferas em sua propriedade localizada no município de Bagé/RS.

As primeiras videiras foram plantadas em 2003, provenientes de mudas importadas de renomados viveiristas da França, Itália e Portugal. A vinícola foi inaugurada em 2008, com um processo de elaboração que incorpora modernas tecnologias.

Sua cave, localizada no subsolo da cantina, garante que os espumantes e vinhos amadureçam sob temperaturas constantes próximas dos 18 a 20º C. Além da produção de Vinhos, a propriedade da família Peruzzo também se dedica a criação de Ovinos e Bovinos.

Com muito entusiasmo, alegria e dedicação, a Vinícola Peruzzo trabalha na arte de criar seus vinhos e espumantes para fazer parte de momentos alegres, descontraídos, únicos e marcantes na vida de seus clientes.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolaperuzzo.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA

“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/

 

 

 







sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Zanotto Gewürztraminer 2019

 

Algumas novidades giram em torno desse rótulo que degustarei hoje. É simplesmente uma maravilha quando a degustação, que já é um prazer à parte, vem recheada de novidades, afinal não podemos, diante de um universo tão vasto e ainda inexplorado como o do vinho, nos dar ao luxo de sustentar uma temível “zona de conforto”.

Primeiramente começa pelo produtor, pela vinícola. Eles são conhecidos por um vinho de mesa, talvez um dos mais vendidos atualmente chamado “Pérgola”. Jamais em pensei que seu produtor estava produzindo vinhos de castas vitis viníferas, e o que é melhor: despontando com alguns de seus rótulos ganhando credibilidade e prêmios.

Eu os conheci de forma totalmente despretensiosa em uma das minhas já famosas incursões aos supermercados, onde avistei um de seus rótulos, mas de início não os associei ao “dono do Pérgola”, para mim era mais um vinho que havia me interessado, afinal os valores também estavam competitivos, interessantes.

Estava observando os rótulos quando, mais detalhadamente, avistei o branco deste produtor e fiquei abismado com que vi: era um Gewürztraminer! Sim! Uma casta que não é muito difundida no Brasil apesar de ser relativamente conhecida por aqui e muito popular em países como Alemanha e Chile. E falando em Chile eu recomendo o da linha Adobe, dos vinhos orgânicos da Emiliana Vineyards, o Adobe Gewürztraminer!

Eu pensei já tomado pela animação mesclado à surpresa, nunca pensei encontrar um Gewürztraminer produzido no Brasil e melhor na região de Campos de Cima da Serra, que também vem despontando como uma das novas grandes vitrines da produção vitivinícola no Brasil com grandes vinhos.

Inclusive degustei alguns vinhos dessas bandas e recomendo o Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2019. Mas esse Gewürztraminer seria meu mais novo investimento e o valor, como disse, estava competitivo, em torno dos R$ 45,00!

Levei comigo o vinho! Tantas novidades e alguns motivos, mais do que fortes, para degusta-lo. Demorei um pouco para abri-lo, ficou um tempo na adega, mas agora não há como esperar e a ansiedade teria um fim, com o início de sua degustação. A rolha se desprendeu, o aroma do vinho tentando se manifestar, emanando e provocando os meus sentidos.

E...voilá! Que vinho delicioso! O aroma desbanca e arrebata, a cor é linda!  O vinho que degustei e gostei veio da região brasileira de Campos de Cima da Serra, do Rio Grande do Sul, e se chama Zanotto da casta Gewürztraminer (100%) da safra 2019. Antes de tecer maiores e detalhados comentários do vinho falemos da região e da casta ainda não muito consumida em nossas terras.

Campos de Cima da Serra

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.

A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde 2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs, sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua mesa!", um slogan bem conhecido localmente.

Campos de Cima da Serra ao norte

Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).

Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de 2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente, dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!

Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de 15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.

Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de melhor potencial de qualidade, a Viognier.

As videiras estão situadas principalmente em três municípios: Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do outono.

Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos consumidores.

Gewürztraminer, a casta aromática

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida, para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta, já para alguns degustadores, o nome foi dado a cepa por conta de suas características bastante marcantes, o aroma e perfume que denota aos vinhos brancos.

A origem da uva Gewürztraminer ainda é passível de dúvidas. A teoria mais provável é que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, entretanto, há suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo com tons esverdeados, translúcido, límpido, mas brilhante, reluzente.

No nariz explodem aromas de frutas de polpas brancas como abacaxi, pera, maçã-verde, pêssego, maracujá e um discreto toque cítrico, com notas delicadas, mas evidentes de flores brancas.

Na boca tem estrutura leve para média, com as notas frutadas também em destaque como no aspecto olfativo. A acidez é equilibrada com um dulçor em pleno equilíbrio, que faz do vinho delicado e elegante. Tem um bom volume de boca, diria algo de untuosidade e um consequente final prolongado de retrogosto frutado.

Gratas novidades, novas experiências! A comprovação de que os vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, com tipicidade, respeitando o seu terroir. Ousando com castas que jamais vi produzir por aqui. A Gewürztraminer definitivamente me ganhou por completo. Preciso degustar mais dela. E o que dizer da linha Zanotto? Ótimo! Não se enganem não se limita, com o devido respeito, aos da linha “Pérgola”, é muito mais que isso! E não se enganem também que a tendência é mais do que positiva para o futuro deste produtor e seus rótulos e essa visibilidade inaugural é só o começo. Um vinho frutado, frutas brancas, uma explosão de aromas frutados, o destaque dessa casta, um toque cítrico mesclado a uma boa acidez que saliva. Um belo vinho que entregou além do que valeu e trouxe a refrescância tão necessária nos dias atuais de verão brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Campestre:

Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.

Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas, cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação, é uma declaração muito firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.

Mais informações acesse:

https://www.vinicolacampestre.com.br/

Referências:

“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/

“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

 






domingo, 30 de janeiro de 2022

Cooperativa Agrícola de Felgueiras Rosé

 

Será que a minha opinião, de um incondicional fã dos vinhos verdes, não tem validade nenhuma pelo simples fato de ser um apreciador da bebida? Talvez seja uma questão que requer alguma discussão, algo mais aprofundado, mas se buscarmos alternativas para explicar essa predileção de minha parte eu consiga fundamentar o sucesso de vinhos dessa região em minha adega, em minha vida.

Os vinhos portugueses têm a maior participação de mercado aqui no Brasil e os vinhos verdes ganharam uma fatia significativa, diria, brigando em iguais condições como o do Alentejo, por exemplo, mas só que mais baratos e que perfeitamente harmonizam com os atuais dias de verão.

E foi inspirado por esses dias quentes em nossas terras que decidi abrir mais um rótulo de um típico vinho verde: leve, despretensioso e saboroso. Bem é o que sempre espero por um vinho verde, o tradicional e fresco vinho verde.

E aquele vinho verde, hoje um rosé, com todo aquele apelo regionalista composto com castas típicas, oriundas da região dos Vinhos Verdes e que me motivou não apenas pelo fato de ser um vinho verde, mas porque, ao longo desses anos o produtor deste vem entregando satisfatoriamente a qualidade que o terroir pode oferecer.

A Vercoope tem me proporcionado grandes e consistentes surpresas e depois de Terras de Felgueiras Alvarinho 2017 e o mais surpreendente de todos, o Cooperativa Agrícola de Felgueiras branco, o vinho que degustei e gostei veio da região dos Vinhos Verdes, da sub região de Felgueira, é o Cooperativa Agrícola de Felgueiras, agora na versão rosé das safras Espadeiro (50%), Vinhão (20%), 15% Amaral e 15% Borraçal, não sendo safrado, apesar de ostentar um DOC (Denominação de origem Controlada).

Descobri que a região de Felgueiras é conhecida pelos vinhos verdes, principalmente, de baixíssimo teor alcoólico, jovens, leves, para degustação rápida, sendo uma ode ao bem estar e bom convívio com pessoas que gostamos. Então, mesmo simples, ele foi especial, pois estava com velhos e novos amigos compartilhando momentos de grande celebração. E você já começa com o brasão da região com dois cachos de uvas, mostrando a vocação de uma região de produção de vinhos de excelência, de tipicidade, de identidade com os grandes vinhos verdes. Então vamos falar um pouco mais de Felgueiras.

Então falemos da sub-região de Felgueiras e das autóctones castas da Região de Vinhos Verdes para termos uma noção do panorama do vinho que estamos degustamos.

Felgueiras

Felgueiras é uma cidade portuguesa no Distrito do Porto, região Norte e sub-região Tâmega, com cerca de 15.525 habitantes, inserida na freguesia de Margaride. É sede de um município com 115,62 km² de área e 58.922 habitantes (2006), subdividido em 32 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Fafe, a nordeste por Celorico de Basto, a sueste por Amarante, a sudoeste por Lousada e a noroeste por Vizela e Guimarães.

O município é constituído por quatro centros urbanos: a Cidade de Felgueiras, a Cidade da Lixa, a Vila de Barrosas e a Vila da Longra. Verdadeiro coração da NUT Tâmega constitui hoje uma centralidade importante no mapa de autoestradas e itinerários principais, uma garantia sólida de afirmação das inúmeras potencialidades reais concelhias. Os bordados são uma das mais ricas tradições do concelho, que emprega cerca de dois terços das bordadeiras nacionais.

O filé ou ponto de nó, o ponto de cruz, o bordado a cheio, o richelieu e o crivo são exemplos genuínos do produto artesanal de verdadeiras mãos de fada. Os sabores autênticos da gastronomia, a frescura e intensidade dos aromas dos vinhos e o ambiente de grande animação proporcionam momentos inesquecíveis. Dando corpo a essa riqueza, foi já constituída a “Confraria do Vinho de Felgueiras”, destinada a divulgar e defender o vinho e a gastronomia felgueirenses. Felgueiras, com 58 000 habitantes é um dos concelhos com a população mais jovem do país e da Europa.

Uma terra de exceção que aposta na valorização dos seus recursos humanos, na consolidação do campus politécnico, no desenvolvimento econômico (pleno emprego e centro de negócios) e na consolidação das suas infraestruturas. Marcada pela invulgar capacidade empreendedora do seu povo é responsável por 50% da exportação nacional de calçado, por um terço do melhor Vinho Verde da Região e por um valioso patrimônio cultural. Felgueiras é um dos municípios com maior desenvolvimento do Norte do país.

Felgueiras

A primeira referência histórica a Felgueiras data de 959, no testamento de Mumadona Dias, quando é citada para identificar a vila de Moure: "In Felgaria Rubeans villa de Mauri". Felgueiras deriva do termo felgaria, que significa terreno coberto de fetos que, quando secos, são avermelhados (rubeans). Havendo quem afirme que o determinativo Rubeans se deve a que o local foi calcinado pelo fogo. Existem historiadores que afirmam que Felgueiras recebeu foral do conde D. Henrique.

No entanto, apenas se conhece o foral de D. Manuel a 15 de Outubro de 1514. No entanto, já em 1220, a terra de Felgueiras contava com 20 paróquias (conhecidas hoje em dia como freguesias) e vários mosteiros e igrejas. Em 1855, ao ser transformado em comarca, Felgueiras ganhou mais doze freguesias. Em 13 de Julho de 1990 Felgueiras foi elevada à categoria de cidade.

As castas

Espadeiro

A Espadeiro é uma uva autóctone portuguesa, conhecida por dar origem à ótimos vinhos tintos e vinhos rosés, na região dos Vinhos Verdes. Existem, também, duas sub-variedades da uva Espadeiro, Espadeiro Tinto e Espadeiro Mole. No sul de Portugal, o nome Espadeiro é utilizado para referir-se a uva Trincadeira (Tinta Amarela). É importante não confundi-las, pois são variedades completamente diferentes! Com cachos compactos e de formato cilíndrico, bagos arredondados e de coloração preta-azulada, a Espadeiro é um casta que apresenta boa resistência ao ataque de pragas e doenças.

A uva Espadeiro é originária do Minho, dentro da região vitivinícola dos Vinhos Verdes, em Portugal. Fora de sua terra natal, a uva tinta Espadeiro é cultivada na região de Rías Baixas, na Espanha. Entre os principais aromas da uva Espadeiro vale destacar notas de frutas cítricas, como toranja, e nuances de frutas vermelhas, como morango.

Vinhão

A Vinhão, também conhecida como Sousão ou ainda Sauson é uma uva de pele escura com origens que remontam a oeste da Península Ibérica. A variedade se estabeleceu na região do Douro, onde se estabeleceu e se chama apenas Sousão.

A Vinhão ou Sousão apresenta bagos com tamanho mediano e casca com coloração negro-azulada, com uma excelente capacidade de pigmentar os exemplares. Além disso, a polpa desta variedade tem coloração levemente rosa, onde acaba sendo confundida com outras cepas tintureiras, ou seja, uvas com polpa vermelha e pele escura.

Os vinhos elaborados a partir da uva Vinhão apresentam tons de violeta e conseguem ser muito opacos e escuros que, quando despejados em taças, podem quase ser impenetráveis à luz. Estes exemplares exibem um caráter único, excelentes níveis de acidez, taninos leves e alto teor alcoólico. Os vinhos Sauson, normalmente, possuem aromas mais frutados e amadeirados, podendo exibir também notas de passas.

Apesar de todas estas características, a Vinhão pode produzir também vinhos muito diferentes entre si, ou seja, o estilo dos exemplares dependerá quase que, exclusivamente, da região onde a uva é vinificada e cultivada. Na região portuguesa do Minho, é responsável pela elaboração da maior parte dos vinhos tintos Verdes – rústicos e com elevados níveis de acidez.

Ainda em Portugal, no Douro, a variedade é utilizada na produção dos tradicionais e fortificados vinhos do Porto, onde a mesma é responsável por adicionar excelente coloração e acidez aos exemplares – características essenciais para que os vinhos exibam uma boa capacidade para envelhecer. Também é utilizada na elaboração de vinhos de corte ao lado de outras castas portuguesas, dando origem a vinhos tintos de alta qualidade, que também podem envelhecer muito bem durante anos. Atingem o ápice qualitativo em áreas vinícolas com temperaturas mais quentes, enquanto fora de Portugal, encontra-se o cultivo da Vinhão na Espanha, Austrália, África do Sul e Califórnia.

Borraçal

Borraçal é uma casta de uva tinta, cultivada na região dos vinhos verdes, exceto na zona de Monção. Tem um grande interesse regional, pois é antiga e tradicional. As gentes do campo apreciam muito o seu vinho, pois tem muita qualidade, mas também o viajante já pede vinhos com casta Borraçal. Além da sua rusticidade, os seus vinhos são de cor rubi, com uma elevada acidez fixa, com bagos pequenos a médios, e os cachos são pequenos de forma cónica.

É uma casta rústica, recomendada em toda a região vinícola dos vinhos verdes. Também lhe chamam, Esfarrapa e Morraça, em Viana do Castelo, Cainho Grande, Cainho Grosso ou Espadeiro Redondo, em Monção, e na zona de Basto é conhecida por Azevedo, Bogalhal ou Olho de Sapo.

Amaral

Azal Tinto ou Azar. Também conhecida como Cainho Bravo ou Cainho Miúdo em Monção, por Cainzinho nos Arcos de Valdevez e por Sousão Galego na zona de Basto.

Casta tinta de qualidade é mais intensamente cultivada; pouco produtiva e rústica; dá origem a vinhos de cor vermelha rubi, com aroma sem destaque a casta, ligeiramente acídulos e encorpados.

E agora o vinho!

Na taça entrega um lindo rosado intenso e muito brilhante com algumas bolhas que salpicava no copo, mostrando um frisante interessante e anunciando um frescor e leveza ao vinho.

No nariz é muito aromático, uma exuberância em frutas vermelhas frescas onde se destacam morango, framboesa e cereja. É refrescante e delicado.

Na boca é muito frutado, leve, saboroso, tem aquela típica “agulha” que faz cócegas na língua e uma ótima acidez que faz com que salivemos, sendo bem gastronômico, mas podendo ser degustado sozinho. Tem um final com muito frescor e prolongado.

A cada rótulo que degustamos de um vinho verde é uma nova e grata surpresa, independente de seus valores monetários e de suas propostas. E apesar dessa diversidade de castas, de propostas e peculiaridades, algo parece ser consensual: o apelo regionalista. É muito forte, é muito intenso e mesmo diante da pretensa simplicidade dos vinhos verdes, de seu frescor, de sua leveza e delicadeza torna-se, por outro lado muito expressivo pela sua tipicidade, por entregar o que há de melhor do seu terroir. O Cooperativa Agrícola de Felgueiras de Rosé, apesar de simples, básico traz todas as características que esperamos de um vinho verde: leve, fresco, com boa acidez, informal. Um vinho simples, mas nobre que personifica o que de melhor da sua tradicional região e o melhor: um valor que cabe no bolso de cada um. Excelente custo X benefício. Tem 10% de teor alcoólico.

Sobre a Vercoope:

A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar, comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas cooperativas.

A união permitiu juntar a produção de 4 000 viticultores e lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade, dimensão e competitividade. A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em competições de vinhos e imprensa especializada.

A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população diretamente dependente do setor vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.

A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento, comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas de cerca de 5000 viticultores.

Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor.

Com mais de meio século de atividade a defender uma política de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa por direito próprio, um lugar de destaque no sector, sendo muito naturalmente considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.

Mais informações acesse:

https://vercoope.pt/

Referências:

Fonte pesquisada sobre a região de Felgueiras: “Terras de Portugal” em: http://www.terrasdeportugal.pt/felgueiras

“Jornal da Golpilheira”: https://jgolpilheira.wordpress.com/2010/10/28/casta-de-uva-borracal/

“DiVinho”: https://www.divinho.com.br/uva/espadeiro/

“Vinho Virtual”: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-483-Amaral

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/sauson

 

 

 

 

 




sábado, 29 de janeiro de 2022

Urries Nerello Mascalese 2020

 

Mais um rótulo da série: Vinho e suas novas castas. E esse vem da bela Sicília, um IGT Terre Siciliane, região esta que, a cada vinho degustado, vem me ganhando de forma incondicional.

E quando essa casta é popular e conhecida em suas terras torna-se tudo, tudo melhor, afinal aquele "tempero" do apelo regionalista potencializa, além do interesse em degustar, a cultura do terroir, do saber fazer aliado às questões da terra, da sua geografia, do seu clima etc. 

Ou como alguns podem dizer que é a força e a expressão do terroir que não traz apenas as questões relacionadas à terra, ao clima, aos aspectos naturais, mas a cultura daquele povo, o fazer daquela região, dos que nela habita, o dedo do enólogo, o trabalho daqueles que estão na vindima, do modo de produção, o respeito a terra. Tudo é terroir, tudo nos remete ao apelo regional.

Embora nunca tenha pisado na Sicília, o contato, as experiências sensoriais com os seus rótulos entregam um panorama de suas propostas e faz valer o conceito acima mencionado.

A degustação de hoje vem do Etna! Quando falamos de Etna o que vem à mente? O vulcão! Mas pelo que pude perceber a casta e o vinho de hoje mostra que não é só de vulcão que vive a região lá na Sicília.

Esse rótulo eu recebi de um clube de vinhos a qual sou assinante. Acredito ter dito, em algum momento, sobre a minha opinião acerca dos clubes dos vinhos. Para um iniciante talvez seja consistente e para quem já é um inveterado degustador, nem tanto, mas o fato é que esta seleção me surpreendeu positivamente pois me proporcionou degustar um vinho de uma casta pouquíssimo conhecida em terras brasileiras.

E não foi tão somente a casta e a história que a circunda, o vinho em si também surpreendeu positivamente e, por incrível que pareça, harmonizou bem com essa tradicional noite de degustação de sábado quente, de verão.

O vinho que degustei e gostei veio da região italiana da Sicília, do Monte Etna, e se chama Uries da casta Nerello Mascalese (100%) da safra 2020. Nerello Mascalese? Sim! O nome soa como um gongo repleto de novidades! Nunca tinha ouvido falar dela até receber esse rótulo do clube de vinhos a qual faço parte. Então para não perder mais tempo falemos um pouco da casta, da sua história e depois da Sicília, onde ele é popular e queridinha.

Nerello Mascalese: A casta do Etna!

É uma uva tinta, autóctone das encostas do Monte Etna, na região metropolitana de Catania, na Sicilia. Tem ainda um perfil bastante regional, com sua produção concentrada quase inteiramente na Sicilia, onde contribui com cerca de 80% a 100% das uvas da denominação Etna Rosso DOC e cerca de 45% a 60% da Faro DOC.

A Nerello Mascalese. A cepa é muito antiga, tendo sido citada por Sestini em escritos do século XVIII. Tradicionalmente plantada como um pequeno arbusto, a Nerello Mascalese é a variedade mais difundida na área do Monte Etna, local onde vem sendo cultivada desde tempos imemoriais. Acredita-se que ela tenha ligação com os antigos vinhos do Etna, tão celebrados por Homero e historiadores latinos.

A variedade recebeu esse nome devido a planície de Mascali, entre o Monte Etna e a costa onde acredita-se ser sua terra natal – uma pequena porção de vinhas que restou após o ataque da filoxera na década de 1880. O prefixo Nerello refere-se à coloração escura das uvas, compartilhado também pela casta Nerello Cappuccio, parceiro de mistura mais comum da variedade. Ambas são encontradas nos vinhos produzidos na denominação de origem de Etna, onde a uva Nerello Mascalese representa a maior parte da mistura e é cultivada em maiores quantidades do que a Cappuccio.

Os solos compostos por materiais vulcânicos de Etna combinados com altitudes que chegam a até 1.000 metros – alguns dos vinhedos mais altos da Europa – ajudam a produzir vinhos com caráter e complexidade imensa, sem o peso excessivo característico dos vinhos tintos da Sicília.

Os solos compostos por materiais vulcânicos de Etna combinados com altitudes que chegam a até 1.000 metros – alguns dos vinhedos mais altos da Europa – ajudam a produzir vinhos com caráter e complexidade imensa, sem o peso excessivo característico dos vinhos tintos da Sicília.

A Nerello Macalese é geralmente cultivada em altitudes entre 350 e 1.000 metros, sobretudo em terrenos de origem vulcânica. É uma uva de cachos médios, grãos pequenos, de coloração intensa e cascas grossas e colheita tardia. Tem boa resistência a pragas, embora mostre uma variação grande de suas características dependendo da safra.

As vinhas da Nerello Mascalese é uma variedade de maturação tardia e dominam também a DOC Faro, em torno da cidade de Messina. Situada nas colinas acima da cidade, as videiras cultivadas em Faro alcançam altitudes impressionantes, contribuindo para a elaboração de vinhos com características singulares.

Segundo dados da OIV, em 2015 eram apenas 2.942 hectares de Nerello Mascalese plantados ao redor do mundo, todos eles na Itália, sobretudo na Sicilia nos entornos do Monte Etna.

Apesar da reduzida área plantada, a variedade também recebe outros nomes, boa parte deles sendo sua tradução para o dialeto siciliano. São eles: Mascalese Nera, Mascali, Mascalisi, Mascoli, Negrello, Negrello 39, Nerello, Nerello Carbunaru, Nerello di Mascali, Nerello Mostrale, Nerello Paesano, Niereddo, Niereddu, Niredda, Nireddu, Nirello, Nirello Mascalese, Niureddu, Niureddu Mascalese, Niureddu Mascalisi.

Fora de Etna e de Faro, a uva Nerello Mascalese é utilizada em misturas nos vinhos rotulados como Sicília IGT, ao lado da variedade dominante da ilha, a Nero d’Avola. Estes vinhos são produzidos nas versões tintas, mas exemplares rosés também são encontrados. Na Calábria, as denominações de Lamezia, Savuto e Sant’Anna di Isolia Capo Rizzuto também permitem o uso da Nerello Mascalese para o uso em vinhos de corte.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sicília e suas sub regiões

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi com reflexos violáceos tendendo para o granada, com um veemente brilhante e lágrimas finas e de média persistência.

No nariz com uma intensa explosão de frutas vermelhas que lembram framboesa, morango, cereja, bem como também frutas do bosque, além de notas de especiarias, algo de carpete, tabaco, um discreto terroso.

Na boca é leve para médio, seco, álcool destacado, mas equilibrado, com o toque frutado protagonizando como no aspecto olfativo, saboroso, informal, com taninos leves, quase imperceptíveis, com uma ótima acidez que saliva a boca e o torna volumoso na boca, com um final prolongado e retrogosto com muita fruta.

Um vinho frutado, mas de personalidade, por ter o caráter regional de um local improvável para cultivo, um vinho harmonioso, saboroso, descontraído, porém intenso. Um vinho gastronômico, versátil para quaisquer tipos de comida, das mais condimentadas às mais simples e direta. Mais uma vez me sinto privilegiado por degustar um vinho especial, simples, mas nobre, pois personifica uma região que a cada dia me surpreende, a cada rótulo degustado. A experiência sensorial mais do que agradece, se rende, de forma incondicional, aos caprichos de rótulos interessantes e marcantes. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Cantine La Vite:

Cantine La Vite foi fundada em 1970 pela vontade de 43 fundadores que decidiram se unir para dar vida ao que se tornou uma das vinícolas mais produtivas e florescentes da Sicília.

Os 1.300 sócio cultivadores cultivam cerca de 2.300 hectares nos territórios do centro e sul da Sicília, em particular entre as províncias de Caltanissetta, Agrigento e Ragusa. A produção está orientada para as castas de bagas pretas (cerca de 80%), as uvas brancas locais da Sicília e as uvas Nero d'Avola, das quais a empresa é a maior produtora na Sicília.

Graças ao uso das técnicas de produção mais inovadoras e, acima de tudo, operando com o máximo cuidado e respeito ao meio ambiente, a Cantine La Vite é conhecida mundialmente pela qualidade de seus produtos.

Desde 2020 Cantine La Vite SCA criou a marca Le Schette Fruit para promover um novo negócio de frutas e legumes inteiramente feito em nosso território e por nossos produtores, e nasceu graças à criação de uma infraestrutura moderna, tecnológica e eficiente.

Mais informações acesse:

https://www.cantinelavite.it/en/main-home-english/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-fruta-do-etna_4681.html

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/nerello-mascalese-raro-e-apaixonante/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nerello-mascalese

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

 

 










sábado, 22 de janeiro de 2022

Frank Tempranillo 2020

 

Nunca pensei, quando comecei a degustar vinhos, a quase 30 anos atrás, de que eu fosse desbravar, de forma tão intensa, os vinhos brasileiros. Desbravar regiões que jamais fosse chegar que nunca esperar encontrar vinhos que não nos polos de produção da bebida como o Rio Grande do Sul.

Por isso não me canso de dizer, sei que sou redundante, mas nunca omisso: o universo do vinho é vasto e inexplorado e ele nos propicia não apenas a degustação que claro é o ápice, mas descobrir, aprender e se banhar de cultura.

Como muitos, infelizmente, que adentra o mundo do vinho sempre, de forma pré concebida, acha que o mundo do vinho brasileiro é limitado e incipiente, os rótulos e a história dizem o contrário e é uma forma de resistência que grita aos quatro cantos que o vinho nacional é válido e tem sim história.

Sempre ouvi dizer que São Paulo sempre foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo para a história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E o meu primeiro contato com os vinhos de São Paulo se deu de uma forma totalmente ocasional e despretensiosa. Estava eu acessando as minhas redes sociais e me deparei com uma publicação um tanto quanto atípica para mim e estava relacionado aos vinhos artesanais ou a vinhos produzidos por pequenas e médias vinícolas com baixa produção. Aquilo fora como se amor à primeira vista, dado o tamanho do interesse que me tomou como um arrebatamento.

Diante do tamanho do interesse decidi procurar detalhes sobre o vinho mencionado e como qualquer coisa que colocamos na grande rede para pesquisar, uma coisa vai puxando a outra, porém dentro do contexto. Até que cheguei a um site que vende vinhos de uma região famosa do interior de são Paulo conhecida como “a terra do vinho”, chamada São Roque!

Além do interesse instigante de novos terroirs, a degustação de vinhos artesanais e produzidos por pequenas vinícolas me atraía de uma forma visceral e implacável. Decidi comprar três rótulos e dois já degustei: Um que veio, pasmem, de uma cidade chamada Serra Negra, o Família Silloto Merlot 2019 e o vinho de São Roque o Dom Bernardino Touriga Nacional 2018.

E faltava o terceiro rótulo! Então o momento chegou e a animação virou ansiedade, estava tomado por uma exaltação salutar, degustar o meu terceiro rótulo da “terra do vinho”, São Roque é como degustar a história do Brasil vitícola! A rolha se desprende da garrafa, o barulhinho típico anuncia o momento de a taça ser inundada pelo líquido sagrado e santificar as experiências sensoriais era questão de tempo. E ele é surpreendentemente maravilhoso! Incrível! O vinho que degustei e gostei veio de são Roque, São Paulo, e se chama Frank da casta Tempranillo, da safra das safras, 2020. As uvas vieram do Sul do Brasil, São Roque ainda não tem clima para produzir propício castas vitis vinífera, mas foi vinificado sobre os preceitos, sob a filosofia da tradicional vinícola Frank que, apesar de pequena goza de uma tradição de mais de 50 anos nas terras de São Roque, região esta que falaremos agora.

São Roque: a “terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho intenso quase escuro, com reflexos violáceos que dá um tom brilhante e reluzente, com lágrimas grossas e que marcam o bojo.

No nariz explode em frutas vermelhas maduras, onde se destacam cereja, groselha e morango. Um toque floral muito delicado que lembra flores vermelhas, além de um toque terroso, de floresta.

Na boca é de leve para médio, com as notas frutadas percebida no aspecto olfativo, com um bom volume de boca, taninos macios, polidos, com boa acidez mostrando ainda jovialidade, além de frescor. É equilibrado, harmonioso, elegante e tem um final de boca de média persistência com retrogosto frutado.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Frank da casta Tempranillo é como se estabelecêssemos contato com um novo mundo, uma nova percepção, que enaltece as nossas experiências sensoriais. A Tempranillo definitivamente está definitivamente se adaptando em nossas terras apesar de ainda não ter tantos rótulos disponíveis, mas os poucos ofertados são ótimos e não fica atrás dos espanhóis, por exemplo. E este da Vinícola Frank honra a força propulsora dos vinhos brasileiros que, a cada dia, vem crescendo, devagar sim, a duras penas, também, mas com dignidade e respeitando todos os componentes de seus terroirs. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Frank:

Tudo começou há 97 anos com seu pai o Sr. Roque de Oliveira Santos que passou todas as suas experiências e habilidades para o Sr. Frank Vicente dos Santos.

No sitio da sua família deu continuidade no parreiral e no cultivo de uvas e se especializou na vitivinicultura que hoje conta com uma experiência de mais de 60 anos.

Casou-se com a Sra. Ferdinanda, uma imigrante italiana que veio para o Brasil na segunda guerra mundial e teve duas filhas onde tocam seus negócios até hoje.

Em 1965 fundou a marca que levaria seu nome, conhecida por VINHOS FRANK, que com muito trabalho, dedicação e amor tornou-se uma marca muito conhecida em todo Brasil por manter suas qualidades desde o primeiro litro de vinho até hoje.

Hoje a marca conta com 07 linhas de produtos, são elas: Tradicional, Bordô, varietais, frisante, espumante, cooler e suco de uva.

Toda sua produção continua sendo supervisionada e orientada pelo Sr. Frank que hoje tem 95 anos de vida e toma seu vinho todos os dias.

A marca "Vinhos Frank” nos meados de 1990 inaugurou seu restaurante que está sendo um dos principais atrativos, contando com um ótimo cardápio, com muitas variedades de pratos, sendo harmonizados com a linha de vinhos FRANK.

Mais informações acesse:

https://www.vinhosfrank.com/

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque