Algumas novidades giram em torno desse rótulo que degustarei
hoje. É simplesmente uma maravilha quando a degustação, que já é um prazer à
parte, vem recheada de novidades, afinal não podemos, diante de um universo tão
vasto e ainda inexplorado como o do vinho, nos dar ao luxo de sustentar uma
temível “zona de conforto”.
Primeiramente começa pelo produtor, pela vinícola. Eles são
conhecidos por um vinho de mesa, talvez um dos mais vendidos atualmente chamado
“Pérgola”. Jamais em pensei que seu produtor estava produzindo vinhos de castas
vitis viníferas, e o que é melhor:
despontando com alguns de seus rótulos ganhando credibilidade e prêmios.
Eu os conheci de forma totalmente despretensiosa em uma das
minhas já famosas incursões aos supermercados, onde avistei um de seus rótulos,
mas de início não os associei ao “dono do Pérgola”, para mim era mais um vinho
que havia me interessado, afinal os valores também estavam competitivos,
interessantes.
Estava observando os rótulos quando, mais detalhadamente,
avistei o branco deste produtor e fiquei abismado com que vi: era um Gewürztraminer!
Sim! Uma casta que não é muito difundida no Brasil apesar de ser relativamente
conhecida por aqui e muito popular em países como Alemanha e Chile. E falando
em Chile eu recomendo o da linha Adobe, dos vinhos orgânicos da Emiliana
Vineyards, o Adobe Gewürztraminer!
Eu pensei já tomado pela animação mesclado à surpresa, nunca
pensei encontrar um Gewürztraminer produzido no Brasil e melhor na região de
Campos de Cima da Serra, que também vem despontando como uma das novas grandes
vitrines da produção vitivinícola no Brasil com grandes vinhos.
Inclusive degustei alguns vinhos dessas bandas e recomendo o
Fazenda Santa Rita Pinot Noir 2019. Mas esse Gewürztraminer seria meu mais novo
investimento e o valor, como disse, estava competitivo, em torno dos R$ 45,00!
Levei comigo o vinho! Tantas novidades e alguns motivos, mais
do que fortes, para degusta-lo. Demorei um pouco para abri-lo, ficou um tempo
na adega, mas agora não há como esperar e a ansiedade teria um fim, com o
início de sua degustação. A rolha se desprendeu, o aroma do vinho tentando se
manifestar, emanando e provocando os meus sentidos.
E...voilá! Que vinho delicioso! O aroma desbanca e arrebata,
a cor é linda! O vinho que degustei e
gostei veio da região brasileira de Campos de Cima da Serra, do Rio Grande do
Sul, e se chama Zanotto da casta Gewürztraminer (100%) da safra 2019. Antes de
tecer maiores e detalhados comentários do vinho falemos da região e da casta
ainda não muito consumida em nossas terras.
Campos de Cima da Serra
Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à
sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o
clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de
grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa
temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em
diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as
uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que
se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes
rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.
A Vitivinicultura na região dos Campos de Cima da Serra é
recente, iniciou com pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, que desde
2004 conduz experimentos nas áreas de viticultura e enologia na região, tem
indicado condições favoráveis devido ao solo e o clima. Ainda em fase de
crescimento, destacam-se municípios como Campestre da Serra, Monte Alegre dos
Campos, Ipê e Vacaria. Até então, o que víamos eram esplêndidas maçãs,
sobretudo plantadas em Vacaria: "maçãs da Serra Gaúcha para a sua
mesa!", um slogan bem conhecido localmente.
Naturalmente tem naquelas terras, devido ao fato de ser um
pouco mais frio, um terreno propício para ciclos vegetativos mais longos e aos
vinhos com menor teor alcoólico, acidez mais alta e boa estabilidade de cor e
bom perfil aromático (os dois últimos graças à boa amplitude térmica).
Recordando a teoria: a cada 100 metros de altitude a
temperatura média decresce em torno de 0,5 graus e corresponde a um retardo de
2-3 dias no período de crescimento da planta. Isso, comparativamente, coloca a
região de Campos de Cima mais próxima de um clima de Bordeaux, ao contrário da
Serra Gaúcha. Mas, há uma boa insolação sem dúvidas! Aliás, turisticamente,
dali pode-se iniciar, rumo ao litoral, a conhecida "Rota do Sol"!
Como os ciclos da planta são longos, há colheitas de uvas
tardias como a Cabernet Sauvignon no mês de abril, fato que traduz uma
maturação lenta e que associada à já citada amplitude térmica (com variações de
15 graus em média, entre dia-noite) propicia vinhos mais harmônicos, com bom
equilíbrio geral entre corpo-álcool-acidez.
Dentre as uvas principais temos as tintas Ancelotta, Cabernet
Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Pinot Noir. Esta última, tem tido
bom destaque, sobretudo no munícipio de Muitos Capões. As brancas mais
cultivadas são Chardonnay, Moscato Branco, Glera (Prosecco), Trebbiano e a de
melhor potencial de qualidade, a Viognier.
As videiras estão situadas principalmente em três municípios:
Vacaria, Muitos Capões e Monte Alegre dos Campos. As uvas Pinot Noir e
Chardonnay (uvas utilizadas na elaboração de espumantes) são muito cultivadas
na região que apresenta clima temperado, com boa amplitude térmica. Por conta
das baixas temperaturas, as videiras têm um ciclo vegetativo mais longo, brotam
mais tarde. Consequentemente, a colheita é mais tardia, quase no início do
outono.
Pode-se resumir que a região de Campos de Cima da Serra
aporta e acrescenta um toque a mais de sutilezas climáticas, permitindo a
diversificação de estilos de vinhos do Rio Grande do Sul como um todo e, por
sua bela paisagem natural, pode se tornar um novo polo turístico, a
contrapartida lúdica no trabalho de informação e educação sobre vinhos aos
consumidores.
Gewürztraminer, a casta aromática
A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma
peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A
origem do nome da casta é ainda muito discutida, para alguns estudiosos do
mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a
grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta,
já para alguns degustadores, o nome foi dado a cepa por conta de suas
características bastante marcantes, o aroma e perfume que denota aos vinhos
brancos.
A origem da uva Gewürztraminer ainda é passível de dúvidas. A
teoria mais provável é que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de
Traminer, entretanto, há suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa
Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser
cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova
Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da
região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.
Com características físicas e sabores bastante marcantes, a
uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes
entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados
até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui
difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta
possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com
presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a
maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos
elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os
vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.
Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos
brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam
excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos,
destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais
adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um
inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que
possuam frutas como base.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um amarelo com tons esverdeados, translúcido,
límpido, mas brilhante, reluzente.
No nariz explodem aromas de frutas de polpas brancas como
abacaxi, pera, maçã-verde, pêssego, maracujá e um discreto toque cítrico, com
notas delicadas, mas evidentes de flores brancas.
Na boca tem estrutura leve para média, com as notas frutadas
também em destaque como no aspecto olfativo. A acidez é equilibrada com um
dulçor em pleno equilíbrio, que faz do vinho delicado e elegante. Tem um bom
volume de boca, diria algo de untuosidade e um consequente final prolongado de
retrogosto frutado.
Gratas novidades, novas experiências! A comprovação de que os
vinhos brasileiros estão arrojados e expressivos, com tipicidade, respeitando o
seu terroir. Ousando com castas que jamais vi produzir por aqui. A Gewürztraminer
definitivamente me ganhou por completo. Preciso degustar mais dela. E o que
dizer da linha Zanotto? Ótimo! Não se enganem não se limita, com o devido
respeito, aos da linha “Pérgola”, é muito mais que isso! E não se enganem
também que a tendência é mais do que positiva para o futuro deste produtor e
seus rótulos e essa visibilidade inaugural é só o começo. Um vinho frutado,
frutas brancas, uma explosão de aromas frutados, o destaque dessa casta, um
toque cítrico mesclado a uma boa acidez que saliva. Um belo vinho que entregou
além do que valeu e trouxe a refrescância tão necessária nos dias atuais de
verão brasileiro. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Campestre:
Fundada há meio século, a Vinícola Campestre é uma empresa
familiar empenhada em elaborar vinhos, sucos, coolers e espumantes de qualidade
diferenciada. Esta constante meta é a pauta do aprendizado e do respeito a arte
milenar de transformar o fruto em vida, pois o vinho, para a vinícola, é
cultura, ciência e, é uma bebida que tem a magia de reunir pessoas, provocar
conversas inteligentes e acima de tudo, cultivar amigos.
Métodos enológicos e tecnologia são nossos aliados na
vinificação. Buscando cada vez mais satisfazer o consumidor com produtos
naturais e com sabor e características da serra gaúcha. Os vinhos da Campestre conduzem
a diferentes emoções; olfato e paladar, delicados toques de frutas vermelhas,
cassis, mel e flores. Toda esta arte de transformação, é uma declaração muito
firme, de amor e respeito ao produto e aos apreciadores.
Mais informações acesse:
https://www.vinicolacampestre.com.br/
Referências:
“Cafeviagem”: https://cafeviagem.com/vinhos-de-campos-de-cima-da-serra/
“ABS-SP”: https://www.abs-sp.com.br/noticias/n144/c/vinhos-do-brasil-parte-iv-campos-de-cima-da-serra
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer
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