O que faz de um vinho especial? Nossa! Uma pergunta como
essa, embora construída de uma forma simples e direta, requer uma reflexão
muito apurada e detalhada em várias questões que passa por situações
mercadológicas a sentimentais.
É tudo muito relativo! Um vinho pode ser especial da forma
que lhe convém. O preço pode ser um peso, o momento pode ser um peso, um
produtor que aprecia, uma casta que nunca degustou, uma região que não
conhecia, a companhia, uma pessoa amada, especial. São tantas as expectativas
que você imprime em um vinho que o torna especial.
A impressão que tenho é de que nada parece ser palpável,
pois, apesar de valores, de rótulos emblemáticos que, em tese, pode fazer de um
vinho especial, tudo é carregado de sentimentos e sentimento não se mensura, se
sente, se vive.
E o que é especial, sobretudo no vasto universo dos vinhos,
vai se adquirindo ao longo de sua trajetória nele. O que tem me proporcionado
grandes e inesquecíveis momentos no vinho atualmente são os rótulos de guarda,
os vinhos com vocação de guarda, os famosos vinhos velhos.
Já é um privilégio degusta-los pelo fato de ser certa
“idade”. É tão raro degustar vinhos com essa proposta levando em conta de um
cenário majoritariamente marcado por vinhos jovens, produzidos para serem degustados
logo, os famosos “frutados”. E quando você degusta um vinho de idade
brasileiro, o privilégio para aumentar, ganhar em representatividade.
E o vinho desta tradicional noite de sábado é, diria,
especial, único. Um vinho que achei de forma totalmente inesperada e pouco
planejada, talvez dessa forma seja melhor, sabe? Navegando pela internet, entre
uma procura e outra, fui redirecionado para um link que mostrava um Cabernet
Sauvignon da grande Campanha Gaúcha, que cresce e cresce a olhos e rótulos vistos,
que neste ano completou 10 anos de idade, isso mesmo, uma década de garrafa!
Um Cabernet Sauvignon brasileiro que para alguns não tem
caráter, não tem personalidade, que não expressa as características da cepa, as
mais fiéis, entregou, não somente a fidelidade das características da casta,
mas que passou incólume, vivo e pleno por 10 anos! Pois é, acho que precisamos
rever os nossos conceitos de Cabernet Sauvignon do Brasil, sobretudo da
Campanha Gaúcha.
E falando em conceito, já que mencionamos no sentimento, no
estado de espírito que define o que é especial, não posso deixar de dizer, com
todas as forças, de que o vinho que degustei e gostei veio, claro, da Campanha
Gaúcha, no Brasil, e que se chama Peruzzo Cabernet Sauvignon da safra 2012.
E ainda no quesito “especial”, ainda tem a importância de se
degustar um vinho de um pequeno/médio produtor que sim, precisamos valorizar e
incentivar seu crescimento degustando seus vinhos. Há sim rótulos especiais e
bem elaborados de pequenos e médios produtores. E a “corrente” que me levou a
esse vinho foi a compra da mesma linha, só que o Cabernet Franc que também goza
de certa idade, 2013, mas essa será alvo de uma nova história em breve. E por
falar em história, antes de falar do Peruzzo Cabernet Sauvignon, vamos um pouco
de história da Campanha Gaúcha.
Campanha Gaúcha
Entre o encontro de rios como Rio Ibicuí e o Rio Quaraí,
forma-se o do Rio Uruguai, divisa entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Parte da
Campanha Gaúcha também recebe corpo hídrico subterrâneo, o Aquífero Guarani
representa a segunda maior fonte de água doce subterrânea do planeta, dele
estando 157.600 km2 no Rio grande do Sul.
A Campanha Gaúcha se espalha também pelo Uruguai e pela
Argentina garante uma cumplicidade com os hermanos do outro lado do Rio
Uruguai. Os costumes se assemelham e os elementos locais emprestam rusticidade
original: o cabo de osso das facas, o couro nos tapetes, a tesoura de tosquia
que ganha novas utilidades.
No verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, os dias ficam
com iluminação solar extensa, contendo praticamente 15 horas diárias de
insolação, o que colabora para a rápida maturação das uvas e também ajuda a
garantir uma elevada concentração de açúcar, fundamental para a produção de
vinhos finos de alta qualidade, complexos e intensos.
As condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha e
tem-se avançado na produção de uvas europeias e vinhos de qualidade. Com o bom
clima local, o investimento em tecnologia e a vontade das empresas, a região
hoje já produz vinhos de grande qualidade que vêm surpreendendo a vinicultura
brasileira.
Há mais de 150 anos, antes mesmo da abolição da escravatura,
a fronteira Oeste do Rio Grande do Sul já produzia vinhos de mesa que eram
exportados para os países do Prata (Uruguai, Argentina e Paraguai) e vendidos
no Brasil.
A primeira vinícola registrada do Brasil ficava na Campanha
Gaúcha. Com paredes de barro e telhado de palha, fundada por José Marimon, a
vinícola J. Marimon & Filhos iniciou o plantio de seus vinhedos em 1882, na
Quinta do Seival, onde hoje fica o município de Candiota.
E o mais interessante é que, desde o início da elaboração de
vinhos na região, os vinhos da Campanha Gaúcha comprovam sua qualidade
recebendo medalha de ouro, conforme um artigo de fevereiro de 1923, do extinto
jornal Correio do Sul de Bagé.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi intenso, quase escuro, com
bordas atijoladas denunciando seu tempo de vida, com lágrimas grossas, lentas e
em grande intensidade.
No nariz explode os aromas terciários! Frutas pretas e secas
são sentidas, tais como ameixa, amora, cereja negra e noz, com notas terrosas e
de baunilha, talvez pela complexidade ou ainda pelos 3 meses de passagem por
madeira (50% do lote).
Na boca é um vinho macio e elegante, o tempo foi generoso
para com o vinho, porém entrega personalidade, sobretudo pela sua complexidade,
enfim, revela-se equilibrado. A fruta preta madura se faz presente, notas
ligeiramente amadeiradas, toques de chocolate, taninos maduros, mas polidos, acidez
discreta e um final médio.
O conceito de vinho especial pode gerar discussões e
reflexões complexas e repletas de detalhe, mas se torna simples quando o
líquido inunda a taça e arrebata as novas experiências sensoriais. Essa é a
parte palpável, o sentimento de deleite e prazer que se materializa, o que a
gente mais espera, porque torna-se fácil definir tais conceitos e ele é somente
nosso, o que é especial. O Peruzzo Cabernet Sauvignon 2012, no auge dos seus 10
anos de vida, revelou as características da casta, mas também de um vinho nesse
estágio da vida: taninos macios, elegantes, embora apresente uma acidez
discreta, mas que não impede a sua plenitude, é complexo, com alguma estrutura.
Um vinho de caráter, de expressividade, vivo e audacioso. Que possamos nos
permitir viver e degustar rótulos como esse, que “provoque” todos os nossos
sentidos e nos proporcione prazer e nos coloque em um estágio de privilégio.
Isso é ser especial. Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Peruzzo:
Motivados por um desejo antigo de produzir vinhos, associado
com as oportunidades e perspectivas que a Região da Campanha oferece no mundo
dos vinhos, a família Peruzzo, com muito entusiasmo decidiu investir no cultivo
de uvas viníferas em sua propriedade localizada no município de Bagé/RS.
As primeiras videiras foram plantadas em 2003, provenientes
de mudas importadas de renomados viveiristas da França, Itália e Portugal. A
vinícola foi inaugurada em 2008, com um processo de elaboração que incorpora
modernas tecnologias.
Sua cave, localizada no subsolo da cantina, garante que os
espumantes e vinhos amadureçam sob temperaturas constantes próximas dos 18 a
20º C. Além da produção de Vinhos, a propriedade da família Peruzzo também se
dedica a criação de Ovinos e Bovinos.
Com muito entusiasmo, alegria e dedicação, a Vinícola Peruzzo
trabalha na arte de criar seus vinhos e espumantes para fazer parte de momentos
alegres, descontraídos, únicos e marcantes na vida de seus clientes.
Mais informações acesse:
https://www.vinicolaperuzzo.com.br/
Referências:
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CAMPANHA
“Vinhos da Campanha”: https://www.vinhosdacampanha.com.br/campanha-gaucha/
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