segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Conde de Cantanhede Rosé Baga

 

Nada melhor que degustar um rosé nos atuais dias de verão carioca. Aquele rosé despretensioso, baratinho, que não agride no bolso, frutado, leve, saboroso e descontraído à beira de uma piscina ou até mesmo em uma praia, por que não?

Uma vez falei que em dia de praia, com sol e calor, seria interessante, papos de “farofeiros” à parte, levar naquele isopor uma garrafa de rosé bem levinho para degustar. Como lamentavelmente não temos a cultura do vinho no cotidiano do brasileiro um comentário como esse soa, no mínimo, como uma piada para os outros.

E além de um rosé leve, fresco, frutado e muito despretensioso, aquele democrático que agrada a todos, tenho tido apreço à alguns produtores que, com maestria, com respeito aos terroirs e, claro, muito talento, vem produzindo vinhos excelentes que vai do básico, intermediário aos mais complexos e estruturados.

E a Adega de Cantanhede definitivamente me encantou com os seus rótulos e atualmente não pode faltar na minha adega. Bairrada, o Beira Atlântico sendo representada com dignidade e de forma veemente em minhas taças.

Bairrada e Beira Atlântico que, apesar de sua representatividade em Portugal, ainda não é popular em terras brasileiras, como o Alentejo, Lisboa, Douro, por exemplo. Contudo o vinho de hoje não tem região, não é oriunda de região alguma, embora, ao degusta-lo consegue-se perceber que é sim um vinho lusitano.

É o que se chama de “vinho de mesa”, mas não se engane, não confunda com os “vinhos de mesa” produzidos, em larga escala, no Brasil. Os vinhos de mesa brasileiros são aqueles que são feitos com as uvas americanas, não vitiviníferas. A concepção de “vinhos de mesa” em Portugal, em especial, são geralmente rótulos simples, também produzidos em larga escala, sem uma classificação como DOC ou “vinho regional”, e não vem de uma região específica, porém, não desmerece em absolutamente nada em termos de qualidade, afinal é tudo uma questão de proposta.

E essa proposta de um rosé leve, fresco e frutado o vinho que degustei e gostei de hoje superou as expectativas! O vinho se chama Conde Cantanhede e a casta é a emblemática da região da Bairrada e Beira Atlântico, a Baga. O vinho não é safrado, outra característica de um vinho de mesa português. A propósito eu já degustei um Baga dessa mesma proposta da Cantanhede e surpreendeu igualmente e que segue a resenha que pode ser lida aqui.

Ah e o que falar da Adega de Cantanhede? Acho que tudo o que falar desse grande produtor soará como redundância, mas é melhor ser redundante do que omisso e vamos falar de algumas histórias ao Conde de Cantanhede que dá nome a essa linha de vinhos. Vamos às curiosidades históricas.

A D. Pedro Meneses, 5º Senhor de Cantanhede, foi atribuído o título de 1º Conde de Cantanhede, como recompensa pela sua participação na Batalha do Toro em 1476, ao lado de D. Afonso V e o futuro D. João II.

A cidade de Cantanhede recebeu o foral de D. Manuel I, Rei de Portugal, em 1514. Naquela altura o Rei deu à família Meneses o total controle da região. Foi notório o contributo dos Meneses para o desenvolvimento da região, promovendo a agricultura, incluindo a viticultura, para o que, desde sempre foi reconhecido grande potencial nestas terras.

D. Pedro Meneses

Empenhada em prestar homenagem à digna linhagem dos Condes de Cantanhede e ao seu importante papel na região e na história de Portugal, a Adega de Cantanhede obteve a necessária autorização dos seus descendentes para lançar esta marca, que comporta um vasto portfólio com vinhos e espumantes de qualidade.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rosé de média intensidade, diria com uma cor “casca de cebola” com algumas discretas e breves formações de lágrimas.

No nariz é extremamente delicado, com notas florais e de frutas vermelhas que se destacam morango, framboesa e groselha.

Na boca traz a fruta como protagonista, elegante, fresco, leve, descompromissado, elegante e equilibrado, com um final médio e frutado.

Pois é um vinho que, dentro da sua proposta, entregou muito além de que valeu, um verdadeiro exemplo do excelente custo X benefício! A propósito esse rótulo da Cantanhede custou a bagatela de R$ 19,00! Incrível o valor! E, convenhamos, esse tem de ser a faixa de valor de um rosé com esses predicados em um país em que o rosé harmoniza plenamente com o clima quente, com o nosso verão. Degustei o mesmo geladinho e as notas frutadas, tanto no aroma quanto no paladar, super valorizou, com um delicado toque floral e um sabor que impactou pela refrescância e frescura. Que venham mais e mais rosés com essa qualidade e preço. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

 

 

  




sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Degustação Vinícola Hermann

 

Já estava com saudades! Desde 2020 eu não participava de nenhum evento de degustação de vinho, algo, evidentemente, que eu realmente adoro! Vinho é a minha vida! Costumo dizer que o que corre em minhas veias é vinho e não sangue, então não preciso, depois disso, tecer maiores comentários sobre a importância do vinho em minha vida.

Então eu já estava com saudades desse momento especial que é participar de um evento de vinhos e não é apenas o prazer em degustar vinhos, que é, claro, o ápice, mas de ver gente nova que compartilham do mesmo prazer que o seu, mas do escambo de conhecimento e experiências que não se mensura de tão especial.

E dessa vez tive a sorte, o privilégio de participar de um evento desse tipo em minha querida cidade, Niterói, em fevereiro de 2022, organizado, de forma espetacular por uma nova loja que está apostando fortemente no mercado de Niterói, que carrega no seu nome o nome dela, da cidade de Niterói, tamanha é a confiança no potencial e interesse dos enófilos, a “Niterói Vinhos” que, apesar de estar a pouco tempo nessas terras, vem fazendo a diferença, sobretudo em minha simples e humilde vida de enófilo.

Já a conhecia antes do evento e já comprei, inclusive alguns rótulos especiais e agora participando de um evento de degustação e que degustação! A degustação foi de alguns rótulos da Vinícola Hermann que não conhecia até então e que me foi apresentada pela Niterói Vinhos e seu agradável evento.

Mas antes de falar do evento, falemos um pouco da Vinícola Hermann que tem sede em Blumenau, Santa Catarina, mas que produz vinhos em uma região do Rio Grande do Sul que está em franca expansão: a Serra do Sudeste.

A família Hermann trouxe todo o seu know-how de profundos conhecedores de diversas regiões vinícolas do mundo para a esfera da produção de vinhos, apostando no potencial dos melhores terroirs da região sul do Brasil. Proprietários de uma das maiores importadoras de vinhos de alta qualidade do país, a Decanter, compraram em 2009 um vinhedo de grande vocação em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul, plantado com mudas de alta qualidade por um dos viveiros líderes de Portugal.

A assessoria enológica de um dos mais brilhantes enólogos de Portugal, o renomado “rei do Alvarinho” Anselmo Mendes - “Enólogo do Ano” pela Revista de Vinhos de Portugal em 1997 - ao lado do talentoso enólogo Átila Zavarizze, garante a excelência na transformação das uvas promissoras em grandes vinhos brasileiros, com caráter e tipicidade. 

Serra do Sudeste

Localizada no Rio Grande do Sul, entre a Serra Gaúcha, ao norte, e a Campanha, ao sul, a região abrange cerca de trinta municípios, sendo Pinheiro Machado, Encruzilhada do Sul e Piratini são os mais expressivos.

A viticultura na Serra do Sudeste é recente, com as primeiras vinícolas sendo estabelecidas na década de noventa. O produtor Lídio Carraro é considerado um dos pioneiros na região.

O clima da Serra do Sudeste é subtropical, com temperaturas médias mais baixas e com menos chuvas que a Serra Gaúcha. Os solos são de origem granítica, com presença de calcário.

Entre as principais variedades de uvas cultivadas na região vale destacar as tintas Barbera, Alicante Bouschet, Pinot Noir e Merlot, e as brancas Gewurztraminer e Riesling.

O evento

Em uma noite extremamente agradável do dia 10 de fevereiro cheguei ao restaurante Misturaria Fina Mezcla, em Santa Rosa, conhecido bairro de Niterói e logo fui muito bem recepcionado por algumas funcionárias que pessoalmente me conduziu a um local muito bonito e recebido com um grande sorriso nos lábios pela Ane, que é a proprietária da “Niterói Vinhos” e organizadora do evento.

Muito atenciosa e simpática me indicou a mesa que já estava com as ampolas com os vinhos a serem degustados, que foram: Bossa Nº5, um Prosecco, Matiz Plural, Matiz Rosé, Matiz Cabernet Sauvignon e Syrah, o espumante Lírica Crua, o Matiz Alvarinho e o Matiz Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon.

Mas antes do inicio da degustação o Paulo, dono do local, do restaurante Misturaria Fina Mezcla recepcionou a cada participante do evento, desejando a todos uma boa estadia, um bom evento, sendo muito atencioso e acalentador.

Paulo na Misturaria Fina Mezcla

Os vinhos

Começamos a noite de degustação com o Bossa Nº5 um delicioso Prosecco ou Glera com um lindo amarelo palha com detalhes esverdeados e uma média concentração de perlages finos! No nariz aromas de frutas de polpa branca, como abacaxi, pera, maçã-verde e discretos e delicados toques cítricos. Na boca é saboroso, elegante, frutado e alguma cremosidade, diria até um toque de fermento, com acidez moderada, com final médio para prolongado.

Logo em seguida veio um dos protagonistas do evento, o Lírica Crua que foi vinificado com as leveduras! Imaginem a complexidade. Composto por 80% de Chardonnay e 20% de Pinot Noir na taça trouxe uma incrível turbidez graças a ação das leveduras, com discretas lágrimas bem finas, além de finos perlages obscurecidos pela turbidez. No nariz é intensa as notas frutadas, frutas brancas, toque de fermento, pão, graças as lias, dando-lhe exuberância. Na boca é complexo, estruturado, diria, mas delicado, ao mesmo tempo é muito cremoso, saboroso, com acidez discreta em sinergia com a sua elegância e excelente persistência.

Seguimos com surpresa do evento, um Alvarinho brasieiro, o Matiz Alvarinho da safra 2018. Na taça um amarelo palha brilhante, tendendo para o dourado, com aroma intenso e notas incríveis de pêssego maduro, de frutas brancas maduras e toques minerais. Na taça é estruturado, complexo e saboroso, mas que revela frescor, a refrescância típica da cepa. Tem uma tosta interessante, um amadeirado bem integrado com a frutas, graças aos 6 meses de barricas de carvalho com um final longo e de retrogosto intenso e frutado.

Continuando nos refrescantes degustei o Matiz Rosé Pinot Noir da safra 2020 que trouxe um rosado claro, translúcido e límpido. Tem uma explosão de frutas vermelhas e amarelas, tais como melão, morango e framboesa, com delicadas notas florais. No paladar é leve, mas com alguma personalidade, as frutas vermelhas e amarelas aparecem com algum protagonismo com uma plena sinergia com a acidez que em destaque faz salivar.

E aí começaram os encorpados, os tintos! E começou em grande estilo e que, para mim, foi um dos melhores rótulos que degustei, o Matiz Plural, que traz um inusitado blend que acredito ser o fornecedor de tanto destaque para o vinho, bem como a sua safra, um 2013 com 9 anos de safra e ainda vivo e pleno, cheio de vida e que poderia evoluir mais e mais. O corte traz Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Touriga Nacional e Cabernet Franc que taça revelou um vermelho rubi com reflexos violáceos e um tom mais atijolado no seu entorno denunciando seus 9 anos de vida, com muito brilho, com lágrimas grossas e abundantes. No nariz traz notas de frutas pretas maduras, como cereja preta, amora, especiarias são sentidas, um álcool proeminente, mas não é desequilibrado. Notas terrosas e da madeira, além da baunilha. Na boca é estruturado e complexo, mas macio e delicado conferido pelo tempo de safra. Toques de tostado, chocolate e de madeira é percebida graças aos 15 meses de barricas de carvalho, com taninos presentes, mas domados e acidez correta.

Na sequência degustei o Matiz Touriga Nacional (75%) e Cabernet Sauvignon (25%) da jovem safra de 2021. Na taça entregou um vermelho rubi intenso, com lágrimas finas e abundantes. No nariz as frutas pretas e vermelhas maduras sobressaem, com notas de pimentão, graças ao lote da Cabernet Sauvignon, de baunilha e um toque floral, crédito da Touriga Nacional. Na boca é macio, elegante, redondo e equilibrado. As frutas pretas e vermelhas continuam a protagonizar, com taninos finos, mas generosos, com acidez média e final de média persistência.

E, para fechar a noite, veio até nós, enófilos extasiados, o Matiz Cabernet Sauvignon e Syrah, aquele corte tipicamente chileno com a cara do Brasil, com a safra 2013! Na taça um vermelho rubi intenso, brilhante, quase escuro, com lágrimas grossas, no nariz as notas de frutas vermelhas e maduras dão o tom, com toque de pimentão e especiarias, referências da Cabernet Sauvignon e Syrah, respectivamente. Na boca é intenso, estruturado, complexo, mas macio e elegante, o tempo foi gentil e traz versatilidade ao vinho. Taninos gulosos e domados, com ótima acidez que entrega ainda um vinho pleno e vivo aos 9 anos de vida! Madeira bem integrada nota-se baunilha, café, torrefação, graças aos longos 24 meses por barricas de carvalho.

Foi um grande e agradável evento! Que a “Niterói Vinhos” continue a promover a cultura do vinho de que tanto precisamos e que nos brinde com grandes rótulos, com grandes experiências sensoriais. E contamos ainda com a descrição excelente dos rótulos expostos para degustação do sommelier Rafael Fernandes que, entre as degustações, expôs com maestria todas as características dos vinhos da Vinícola Hermann e para maiores informações sobre esse belíssimo produtor leia “Vinícola Hermann”.

















sábado, 12 de fevereiro de 2022

Socalco Reserva tinto 2016

 

Nossa! Há quanto tempo eu não degustava um vinho de uma das mais emblemáticas regiões demarcadas do planeta: o Douro! O Douro que nasce, em termos vitivinícolas, no Rio Douro e que entrega os vinhos mais importantes do mundo: os vinhos do Porto.

O Douro é a região demarcada mais antiga, talvez a mais importante de Portugal, a mais badalada (embora eu ame o Alentejo) hoje me trará a alegria e o privilégio da degustação de um vinho depois de muito, muito tempo mesmo.

E o nome do vinho traz um tipo de solo construído pelas mãos humanas, a perfeita harmonização entre a natureza que promove que entrega, com perfeição, as cepas, com as adaptações do solo pelo homem, em uma manifestação sinérgica e singular.

O vinho que degustei e gostei traz a elegância típica da região, a complexidade garantida pelos seus 6 anos de vida, bem como o seu estágio em barricas que também entregou toda a estrutura e o refinamento ao rótulo: Falo do Socalco Reserva composto pelas castas Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz e a safra é 2016.

E claro quando falamos em Douro, quando falamos em Portugal temos a tipicidade das castas, o tão famoso apelo regionalista e esse blend ou como costuma dizer os lusitanos, essa mistura é a personificação do Douro: a combinação da Touriga Franca e a Touriga Nacional corroboram a força do terroir Duriense, bem como as pedras, os solos pedregosos é a cara, o DNA do Douro.

Então é claro antes de falar do vinho, vamos de história, vamos de conhecimento e falar do Douro e dos seus tipos de vinhas, de solos, que se entrelaçam. Falando de socalcos é falar do Douro, dos seus vinhos, do seu terroir.

O Douro e os seus solos

Nas encostas escarpadas, um rio banhava margens secas e inóspitas. Nele rolavam, noutros tempos, brilhantes pedrinhas que se descobriu serem d´ouro. Daí o nome dado a este rio: Douro. Aqui nasce a vinha e se produz o vinho, desde que os romanos, continuando e ampliando a ação nativa (moldavam os declives em socalcos) aproveitavam as povoações castrejas e dinamizavam o cultivo de cereais e da vinha nos terrenos de xisto, imprestáveis para outras culturas. Foram encontrados na região vestígios de lagares e vasilhames para vinhos do século III, chegando mesmo a estimar-se que a presença da uva na região remonta há cerca de 4 mil anos.

Ao longo da história do Vinho do Porto, diversas crises surgiram entre produtores e comerciantes, opostos pela questão do que era o genuíno Vinho do Porto. Em 1756, o Primeiro-ministro Marquês de Pombal interveio, demarcando, no território duriense, os terrenos mais propícios e as quintas mais dotadas para o plantio das castas produtoras do vinho do Douro, tendo sido esta a primeira Região demarcada do mundo, através do alvará régio de instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, de 10 de Setembro de 1756.

Marco Pombalino

A designação “do Porto” provém da armazenagem e comercialização, a partir do porto existente no estuário do rio Douro, entre a cidade do Porto e Vila Nova de Gaia. O vinho era transportado ao longo do rio, pelos barcos rabelos, até aos armazéns de Vila Nova de Gaia, localização privilegiada pela proximidade do Atlântico e pelas suas reduzidas amplitudes térmicas, favorecendo o longo envelhecimento dos vinhos em cave.

Mas Muito antes de qualquer presidente, rei ou imperador, o Douro era uma terra sem governo, habitada por povos primitivos, os primeiros a deixar seus vestígios na região. As pinturas rupestres do Vale do Côa são do período Paleolítico, há cerca de 20 mil anos. A presença da uva no Douro remonta há 4 mil anos (século XX a.C.), tendo sido encontradas sementes de uvas carbonizadas em estações arqueológicas da região. Muitas das ruínas pré-romanas, como o Castro de Cidadelhe, em Mesão Frio, datam dessa época.

Com a chegada dos romanos, no século I d.C., a agricultura intensificou-se, algo possibilitado pela rede de estradas e pelas numerosas pontes que o Império construiu. A uva começou a adquirir maior importância, existindo vilas agrárias dedicadas exclusivamente à produção de vinho, como foi comprovado na estação arqueológica do Alto da Fonte do Milho, no Peso da Régua.

A região continuou sendo ocupada continuamente. A partir do século V as terras do Douro foram os suevos e visigodos, que acabaram por se unir e cristianizar. Seguiram-se então os muçulmanos, depois do século VIII. Isso só deixou de acontecer após a implantação do reino português, a 5 de outubro de 1143 pelo Tratado de Zamora, quando iniciou-se a construção da Sé de Lamego, sob a proteção de D. Afonso Henriques (1109-1185), o primeiro rei português, responsável pela independência deste país.

No século XIII, com a prosperidade comercial e econômica e ao transporte para o Porto através do rio Douro, a produção destes néctares continuou a se desenvolver. Em seguida veio o período das descobertas marítimas (séculos XV e XVI) e houve um aumento da circulação no rio, uma vez que as viagens requeriam grandes quantidades de vinhos fortes para saciar os marinheiros.

Entre os séculos XVII e XIX, a Inglaterra passa a ser o principal consumidor dos vinhos produzidos no Douro, o que resultou na assinatura do Tratado de Methuen, em 1703. Nesse tratado, o Reino Unido concedia direitos preferenciais aos vinhos portugueses, com a contrapartida de Portugal permitir a entrada livre dos tecidos britânicos no mercado nacional.

Estimulada pela procura inglesa crescente e preços altíssimos, a produção do Douro tenta se adaptar às novas exigências do mercado. Mas, como acontece sempre que a demanda é muito grande, o negócio rivaliza interesses, suscita fraudes e abusos. A qualidade dos vinhos cai por conta de misturas inadequadas. Assim, a partir de meados do século XVIII as exportações estagnam, enquanto a produção continua a crescer. Os preços caem e os ingleses decidem não mais comprar vinhos, acusando os produtores de promover adulterações.

Esta crise comercial conduzirá, por pressão dos interesses dos grandes vinhateiros do Douro junto ao governo do futuro Marquês de Pombal, à instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 10 de Setembro de 1756. Com ela busca-se assegurar a qualidade do produto, evitando adulterações, equilibrar a produção e o comércio e estabilizar os preços. Também nesta época acontece a demarcação de terras, criando-se a primeira região vinícola regulamentada do mundo. O Douro Vinhateiro é demarcado por 335 marcos de granito com a designação de Feitoria, designação que referendava o vinho da melhor qualidade, único que podia ser exportado para Inglaterra.

O século XIX, no Douro, foi marcado pelas doenças que se abateram sobre as vinhas, como o oídio e a filoxera, contribuindo para o desenvolvimento da viticultura na região, devido a inovações biológicas e químicas, como forma de evitar essas doenças. Ainda no mesmo século, iniciou-se a construção das linhas ferroviárias, que facilitaram a ligação entre o Porto e a fronteira da Espanha.

A paisagem atual da região do Douro, caracterizada pelos socalcos (plataformas cortadas nos morros), foi construída durante a década de 70, com a aplicação de novas técnicas de plantio da vinha, em patamares, com muros de xisto delimitando cada nível. Esta alteração da paisagem pela atividade humana contribuiu para que o Alto Douro Vinhateiro fosse considerado Patrimônio Mundial da Humanidade, pela UNESCO, em 2001.

A Região Demarcada do Douro situa-se no nordeste de Portugal, na bacia hidrográfica do Douro e sua área é de 247.420 hectares, sendo que a vinha ocupa 43.608 hectares, sendo que somente 26.000 hectares estão autorizadas a produzir vinhos do Porto.

O rio que lhe deu o nome nasce no alto da Sierra de Urbion, no interior da Espanha e se estende por 640 quilómetros até o seu encontro com o oceano Atlântico, cruzando a Região do Douro de leste a oeste. As vinhas são plantadas nas encostas em declive de 35° a 70° de inclinação, erguendo-se sobre o rio Douro e seus afluentes Corgo,Tavora, Pinhão, Tua, Torto, Côa e Sabor.


Douro e seus afluentes

A serra do Marão, que se eleva a 1500 metros no extremo oeste da região, assinala a mudança dos planaltos saturados pelo ar úmido e frio do Atlântico para um clima mediterrâneo montanhoso, quente e seco.

Originando sempre produções muito pequenas, o solo também permite uma maior longevidade da vinha e uma qualidade muito elevada dos mostos devido à conservação de umidade, adquirindo as uvas um maior teor de açucares e cor.

A imensidão do xisto duriense é completada na sub-região do Douro Superior com aflorações graníticas e no Baixo Corgo, com alguns solos de aluvião, mais produtivos nesta sub-região.

Cerca de 95% de todo o Vinho do Porto é cultivado neste xisto. Como existe apenas uma camada muito fina de terra argilosa, as vinhas são plantadas partindo a pedra até uma profundidade de um metro, onde as fissuras no xisto permitem que as raízes cheguem até 21 metros em busca de água. O solo é muito ácido, devido a um nível alto de potássio, tem baixo nível de cálcio e magnésio, apresenta excesso de alumínio, o que é tóxico para as raízes.

O Terreno irregular, com altitudes, junto ao rio Douro que podem atingir entre os 60 e os 140 m, e noutras zonas atingindo mais de 1000 m e inclinações com mais de 30%, só podem ser preparadas para plantação através do nivelamento de socalcos ou terraços, com ferramentas de ferro pontiagudas ou dinamite e, mais recentemente, bulldozers e tratores.

Essas excepcionais adversidades tornam a Região Demarcada do Douro numa das regiões mais caras e difíceis de trabalhar do mundo, mas é nessa mesma adversidade que nasce um grande vinho.

O papel desempenhado pelo Homem foi fundamental na criação dos socalcos, que são uma característica de toda a região. Antes da crise filoxérica, praga que surgiu na região pela primeira vez em 1862, as plantações eram feitas em pequenos terraços irregulares (geios), com 1-2 filas de videiras, suportados por paredes de pedra. Os socalcos eram ‘ rasgados ‘ nas encostas, de baixo para cima, as paredes eram construídas com as pedras tiradas do terreno, a sua altura dependia da inclinação da parcela e a movimentação da terra para preparar o solo para a plantação era pequena. A densidade de plantação rondava as 3 000 – 3 500 plantas/ha. Estes pequenos terraços foram posteriormente abandonados e constituem hoje os designados ‘mortórios’.

Mortórios

Após a filoxera, foram feitos novos terraços, mais largos e inclinados, com ou sem paredes de suporte, permitindo maiores densidades de plantação (cerca de 6 000 plantas/ha). Surge também nesta altura a vinha plantada em declives naturais, segundo a inclinação do terreno. Nestes sistemas a mecanização é impossível pois não existem ou são escassas as estradas de acesso às vinhas e a inclinação lateral está associada a uma forte densidade de plantação. Este facto, traduzido pelos custos elevados que implica em termos de mão-de-obra, tem conduzido ao abandono gradual deste tipo de vinhas.

Socalcos

No fim dos anos 60 e início dos anos 70, um novo sistema surgiu na região. Trata-se dos patamares horizontais com taludes em terra, com 1-2 linhas de videiras e com densidades de plantação baixas, na ordem de 3 000 – 3 500 plantas/ha. Dado que necessita de parcelas de grande dimensão para a sua instalação, é um sistema que não está adequado a zonas de minifúndio.

Patamares

Mais recentemente, e como alternativa aos patamares, aparecem as vinhas plantadas segundo as linhas de maior declive do terreno (‘ Vinha ao Alto ‘). Com uma densidade de plantação semelhante à das vinhas tradicionais, na ordem das 4 500 – 5 000 plantas/ha, este sistema apresenta uma boa adaptação para pequenas parcelas, podendo ser o trabalho mecanizado pela utilização de guinchos ou, até declives na ordem dos 40%, por tracção direta, com tratores de rastos.

O micro-clima da Região Demarcada do Douro deve-se ao seu natural enquadramento, a norte com a serra do Alvão e a sul com a Serra de Montemuro, formando-se um anel com uma altitude média de 1000 m, que protegem os vinhedos dos ventos úmidos do Atlântico e frios do norte.

A alta qualidade dos vinhos da região está diretamente relacionada com as elevadas temperaturas do ar, moderada precipitação e substancial percentagem de insolação direta no solo, graças à exposição a sul das encostas: as videiras criadas junto à encosta do rio e afluentes sofrem uma incidência de raios solares propícia à boa maturação das uvas; os solos conservam menor umidade que em terrenos planos, adquirindo as uvas uma maior concentração de açucares e de cor.

A Região demarcada do Douro estende-se desde Barqueiros até Barca D Alva, quase na fronteira com Espanha, estando dividida em três sub-regiões naturalmente distintas, não só por fatores climáticos como também sócio – econômicos: a oeste o Baixo Corgo, no centro o Cima Corgo, coração da região demarcada do Douro, e a leste o Douro Superior.

O total das vinhas implantadas na Região demarcada do Douro é de 43.608 hectares, com a produção anual de 1,69 milhões de hectolitros, que corresponde a 26% da totalidade dos vinhos produzidos em Portugal.

Sub-regiões do Douro

A grande diversidade de castas existentes no Douro, adaptáveis a diferentes situações de clima, demonstra as excelentes condições para a cultura da vinha existentes na região. Portugal é um dos países do mundo com maior quantidade de castas autóctones (nativas) e, dentro de Portugal, o Douro é a região com maior diversidade.

São uvas que só se encontram em território português – pelo menos com os nomes que ali recebem. Entre as tintas, destacam-se Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional (a uva emblemática de Portugal) e Tinto Cão. As castas brancas predominantes são Malvasia Fina, Viosinho, Donzelinho e Gouveio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, brilhante, com entornos violáceos, com lágrimas finas e de média persistência.

No nariz logo se percebe as notas de frutas vermelhas maduras como groselha e cereja, uma leve tosta, baunilha e um toque herbáceo, vegetal, de especiarias, diria também um discreto floral trazido pela Touriga Nacional.

Na boca traz certo protagonismo das frutas vermelhas maduras, como no aspecto olfativo, algo de adocicado, talvez especiarias doces, que faz dele suculento e até saboroso. Notas amadeiradas bem integradas, torrefação, café, graças aos 8 meses de passagem por barricas de carvalho, algo de pimenta, talvez. Taninos aveludados pelo tempo e acidez correta que ainda entrega algum frescor ao vinho. Final médio.

Um típico vinho do Douro, um reserva especial, um vinho que traz a marcante personalidade aliada a elegância, o refinamento conquistado devido aos seus seis anos de vida, bem como as suas mais fiéis características regionais, sim, é um típico vinho do Douro graças, sobretudo as suas castas, ao seu famoso blend, ao seu famoso corte com as “Tourigas” e a Tempranillo portuguesa, a Tinta Roriz. Um vinho redondo, versátil, gastronômico, saboroso, volumoso, mas equilibrado e intenso. A história escrita, assinada em seu rótulo entrega a tipicidade e o terroir do velho e eterno Douro. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Enopira”: https://enopira.com.br/douro-2/

“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/douro-produzindo-vinhos-ha-mais-de-2-mil-anos/

 





















sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Aurora Chardonnay Reserva 2018

 

Há um assunto recorrente e que, de alguma forma, gera certo burburinho por conta de polêmicas eventuais que surgem com cada questão levantada, que são os vinhos premiados ligados à qualidade.

Tem os prêmios de Suckling, de Parker, de grandes eventos e períodos oriundos de centros de excelência da vitivinicultura mundial que enaltece e coloca o vinho no pedestal, no apogeu de sua incontestável qualidade que faz deste um grande rótulo.

E daí os preços sobem a ponto de chegar ao ápice da ganância de cobrar verdadeiras fábulas monetárias para um vinho quando passa a ostentar um prêmio de conceituados formadores de opinião.

É claro que vinhos laureados com prêmios dados por especialistas merecem sim uma atenção e até mesmo um crédito pelos enófilos de plantão, mas sempre pensei, sempre compartilhei da opinião de que vinho não é medalha, tão pouco premiações e que a percepção tem de ser particular.

Degustamos vinhos e não prêmios e o vinho que não tem prêmio não significa que não seja bom. Mas são perspectivas de mercado, muita das vezes, e os prêmios são usados para catapultar as vendas, embora tenha o abuso dos revendedores quando super precificam alguns rótulos.

Mas não podemos negligenciar os prêmios e usá-los como um ponto, uma forma de fomento à escolha ou não em um momento de compra, por exemplo, de um rótulo. E Quando falo em não negligenciar os prêmios, não podemos fazer isso, de forma alguma, com os rótulos da Vinícola Cooperativa Aurora, uma das maiores empresas de vinhos do Brasil e do mundo que, além de fabricar, de produzir vinhos, produz dezenas, centenas de prêmios.

E os rótulos que ostentam os vinhos da Aurora não sofrem acréscimos nos seus valores, àqueles abusivos dos gananciosos. Praticam preços justos, entregando qualidade e tipicidade.

E quando eu falar de um vinho que degustei e gostei da Aurora, do seu preço, inicialmente, ficarão de queixo caído: R$ 29,90! Sim! Um valor de vinhos que, para muitos abastados aristocráticos, é valor de vinho “vagabundo”, que não presta sequer para cozinhar.

Falo do Aurora Chardonnay Reserva, brasileiro da região de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, na emblemática Serra Gaúcha, da safra 2018. Safra essa que serviu de ilustração do Guia 5StarWines – The Book, da Vinitaly, o maior evento de vinhos da Itália e que neste ano foi cancelado devido a pandemia. A avaliação dos vinhos, no entanto, foi reformulada e aconteceu seguindo às novas diretrizes de saúde e segurança estabelecidas para combater a propagação da covid-19.

As amostras foram enviadas aos juízes em seus respectivos países. As provas foram realizadas às cegas, por videoconferência. Os críticos pontuaram os vinhos e enviaram suas avaliações de forma remota, sob a supervisão de uma equipe sediada em Verona. O vinho da Aurora conquistou 90 pontos. Leia mais em: “Aurora Reserva Chardonnay é destaque em importante guia de vinhos na Itália”.

Mas antes de falar desse vinho, desse Chardonnay maravilhoso da Serra Gaúcha, falemos um pouco dessa região tradicional do Sul do Brasil que merece sempre linhas gerais que vai da história aos elogios incansáveis.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Bento Gonçalves

Em 1875 inicia a imigração italiana na Encosta Superior do Nordeste, originando as colônias de Dona Isabel, Conde D’Eu e Nova Palmira. A colônia de Dona Isabel originou a cidade de Bento Gonçalves. Conde D’Eu originou a cidade de Garibaldi. Nova Palmira se tornou a cidade de Caxias do Sul.

A Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves), criada em 1870, já era conhecida como “Região da Cruzinha” devido a uma cruz rústica cravada sobre a sepultura de um possível tropeiro ou traçador de lotes coloniais. Era época do escambo, da troca de mercadoria por mercadoria. A Colônia Dona Isabel sediava um pequeno comércio, no qual os tropeiros faziam paradas para descanso.

Bento Gonçalves antigo

Em 24 de dezembro de 1875, os núcleos do Planalto começaram a receber novos imigrantes. Em março de 1876, o Presidente do Estado José Antonio de Azevedo Castro anunciava a existência de 348 lotes medidos e demarcados e uma população de 790 pessoas, sendo 729 italianos. Os pioneiros, vindos do Tirol Austríaco e Vêneto chegaram à esplanada onde hoje está situada a Igreja Matriz Cristo Rei.

A troca, compra e venda de produtos era feita na sede da colônia, após longas caminhadas por estreitas picadas (trilhas abertas no meio da mata) demarcadas pelos próprios imigrantes. Entre os imigrantes havia ferreiros, sapateiros, marceneiros, alfaiates, carpinteiros, entre outros profissionais que estabeleceram seus negócios dentro de suas especialidades, atendendo às necessidades locais.

O surgimento das construções das casas, os instrumentos de trabalho e o mercado foram acompanhando o desenvolvimento de Colônia Dona Isabel e também as exigências que se apresentavam. Frente ao desenvolvimento, as condições das estradas foram melhorando e surgiram as primeiras carretas. Em cinco anos, houve um acréscimo de quatro mil habitantes, entre nascimentos e novos imigrantes.

Em 1881, inicia a abertura da primeira estrada de rodagem, ligando a Colônia Dona Isabel a São João de Montenegro (hoje Montenegro). O início do povoamento foi marcado por inúmeras dificuldades. Em 1877 a Colônia Dona Isabel sediava três casas comerciais, duas padarias, uma fábrica de chapéus e um total de 40 casas comerciais, que ofereciam serviços e produtos diversos em todo o território da colônia.

O desmembramento da Colônia Dona Isabel do município de Montenegro foi oficializado pelo ‘Acto’ 474, de 11 de outubro de 1890, assinado por Cândido Costa, o que constituiu o município de Bento Gonçalves. O nome foi dado em homenagem ao general Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul de 1835 a 1845.

Bento Gonçalves deu seu primeiro impulso de progresso com a vinda da agência do Banco Nacional do Comércio e Banco de Pelotas. Entre os anos de 1919 e 1927, foi feita a instalação da luz elétrica e da estação transformadora e da rede de distribuição. Na foto a raça Walter Galassi em 1922, quando era chamada de Praça Centenário. O local foi inaugurado durante as comemorações do centenário da independência do Brasil.

E 1924 foi fundado o Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini. Na época o Dr. Barthomoleu Tacchini, médico vindo da Itália, era um dos principais médicos do Estado, com enorme prestígio especialmente junto à população de origem italiana. Em 1950, a população era de 22.600 habitantes. As principais atividades econômicas eram as do setor agrícola. Contudo, começaram a surgir várias indústrias, como de acordeões, laticínios, móveis, curtume, fábrica de sulfato e vinícolas.

Em 1967 Bento Gonçalves passa por uma grande transformação, considerada um marco histórico. Com a colaboração de dinâmicas lideranças e a ajuda de toda a comunidade, surge a I Fenavinho, a Festa Nacional do Vinho. O município foi visitado pela primeira vez por um Presidente da República, o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco visitou Bento Gonçalves e a I Fenavinho no dia 25 de fevereiro de 1967. O principal produto e a força da economia de Bento Gonçalves foram divulgados em todo o Brasil, tornando a cidade conhecida nacional e internacionalmente. O município descobre a sua vocação para o turismo de negócios e começa a sediar eventos de grande porte.

A cidade de Bento Gonçalves é conhecida como a ‘Capital Brasileira da Uva e do Vinho’, é reconhecida pela força de sua economia e como um importante pólo industrial e turístico do sul do Brasil.

Além de ser uma cidade com perfil empreendedor e povo trabalhador, a cidade se destaca na área turístia. Atividades ligadas à área do enoturismo, turismo de negócios e de eventos oferece cada vez mais opções ao visitante. A cidade oferece uma diversidade de rotas turísticas . Os indicadores de desenvolvimento e renda da cidade colocam Bento Gonçalves em destaque no Estado e no país quanto à qualidade de vida.

A cidade de Bento Gonçalves é um polo moveleiro e vitivinícola conhecido nacional e internacionalmente. Dentro do segmento indústria, o setor moveleiro é a grande força da economia. No segmento turístico são inúmeros os atrativos ligados à uva e ao vinho, o que torna Bento Gonçalves uma cidade de visita obrigatória na conhecida Região Turística “Uva e Vinho” situado na Serra Gaúcha.

Bento Gonçalves é pioneira no Brasil no desenvolvimento do Enoturismo. A cada ano Bento Gonçalves vem se consolidando como destino turístico nacional. O Vale dos Vinhedos é o principal destino enoturístico do Brasil, sendo o roteiro mais visitado desde 2008. Foi a primeira região do país reconhecida como Indicação Geográfica, obtendo para seus produtos a Indicação de Procedência, e a seguir a Denominação de Origem ‘Vale dos Vinhedos’ para os vinhos e espumantes ali produzidos. O Vale dos Vinhedos integra oficialmente o patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio Grande do Sul desde 29 de junho de 2012 (Projeto de Lei 44/2012).

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo tom amarelo brilhante tendendo para o dourado e reflexos esverdeados, além de algumas finas lágrimas em pequena intensidade.

No nariz explode em aromas frutados, com frutas de polpa branca e cítricas, tais como maçã-verde, pera, maracujá e abacaxi.

Na boca tem média estrutura, graças ao seu sabor amanteigado, um toque untuoso que traz um bom volume de boca e com discretas notas tostadas, de baunilha, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho em pleno equilíbrio com o frutado com uma acidez correta que atenua seu frescor. Final longo!

Prêmios, reconhecimento, qualidade, preços justos! Todos esses predicados são inerentes ao Aurora Reserva Chardonnay 2018, mas, mais importante ainda é o deleite sensorial que esse vinho me provocou! Foi de fato um arrebatamento aos meus sentidos esse Chardonnay brasileiro. Aos Chardonnays brasileiros que vêm entregando, de forma indelével, maravilhas. Mas esse Chardonnay da Aurora traz uma intensidade de aromas e sabores frutados, de amanteigado, de untuosidade, de tosta graças ao curto tempo de passagem por barricas de carvalho, dando-lhe arrojo, certa complexidade e versatilidade. Um grande vinho, antes de qualquer prêmio! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cooperativa Aurora:

A Vinícola Aurora é um sonho compartilhado por imigrantes que enfrentaram os mais diversos problemas quando chegaram ao Rio Grande do Sul. Com a veia colaborativa, a empresa cresceu e se tornou um dos expoentes do vinho gaúcho. A história da cooperativa começou em 1931, quando famílias de produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com pouco dinheiro, mas com muita vontade de prosperar, reuniram-se para lançar a pedra fundamental da empresa.

Na primeira colheita, foram contabilizados 317 mil quilos de uva. Hoje, quase 85 anos depois, a empresa processa mais 60 toneladas da fruta e tem 1.100 famílias associadas. A biografia da Aurora, desde as suas raízes, é permeada por números de sucesso. No cerne da vinícola há solidariedade entre os pares, se no início do século os imigrantes italianos se uniram para produzir com maior força e formar uma rede de ajuda mútua, hoje, não é diferente. É nesse universo, da produção em sociedade, que a Revista Sabores adentra para desmitificar as oito décadas da empresa.

No Centro de Bento Gonçalves, local que abriga a histórica Cantina da empresa. De longe é possível ver a grande movimentação, não só de trabalhadores de vinícola, mas, principalmente, de turistas. Pioneira em abrir as portas aos visitantes, a cada ano, a Aurora recebe 150 mil pessoas em suas instalações. É uma multidão de curiosos querendo saber como são produzidos os 232 rótulos da empresa.

Ao percorrer os corredores da vinícola, o visitante conhece em detalhes todas as etapas para a elaboração de um vinho. Desde as esteiras que recebem as uvas na época de colheita, até as pipas gigantes com mais de 50 anos de uso. Não só os produtos alcoólicos que movimentam a cooperativa. A linha de produção ainda tem coolers e suco de uvas. O suco da marca Casa de Bento, produzido pela vinícola, é um dos mais vendidos da empresa. Do total de uvas processadas, 60% viram suco.

Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta.

A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.

Mais informações acesse:

http://www.vinicolaaurora.com.br/br

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-segredos-da-merlot-cepa-mais-consistente-da-serra-gaucha_10653.html

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Bento Tur”: https://bento.tur.br/nossa-historia-bento-goncalves/