sábado, 12 de fevereiro de 2022

Socalco Reserva tinto 2016

 

Nossa! Há quanto tempo eu não degustava um vinho de uma das mais emblemáticas regiões demarcadas do planeta: o Douro! O Douro que nasce, em termos vitivinícolas, no Rio Douro e que entrega os vinhos mais importantes do mundo: os vinhos do Porto.

O Douro é a região demarcada mais antiga, talvez a mais importante de Portugal, a mais badalada (embora eu ame o Alentejo) hoje me trará a alegria e o privilégio da degustação de um vinho depois de muito, muito tempo mesmo.

E o nome do vinho traz um tipo de solo construído pelas mãos humanas, a perfeita harmonização entre a natureza que promove que entrega, com perfeição, as cepas, com as adaptações do solo pelo homem, em uma manifestação sinérgica e singular.

O vinho que degustei e gostei traz a elegância típica da região, a complexidade garantida pelos seus 6 anos de vida, bem como o seu estágio em barricas que também entregou toda a estrutura e o refinamento ao rótulo: Falo do Socalco Reserva composto pelas castas Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz e a safra é 2016.

E claro quando falamos em Douro, quando falamos em Portugal temos a tipicidade das castas, o tão famoso apelo regionalista e esse blend ou como costuma dizer os lusitanos, essa mistura é a personificação do Douro: a combinação da Touriga Franca e a Touriga Nacional corroboram a força do terroir Duriense, bem como as pedras, os solos pedregosos é a cara, o DNA do Douro.

Então é claro antes de falar do vinho, vamos de história, vamos de conhecimento e falar do Douro e dos seus tipos de vinhas, de solos, que se entrelaçam. Falando de socalcos é falar do Douro, dos seus vinhos, do seu terroir.

O Douro e os seus solos

Nas encostas escarpadas, um rio banhava margens secas e inóspitas. Nele rolavam, noutros tempos, brilhantes pedrinhas que se descobriu serem d´ouro. Daí o nome dado a este rio: Douro. Aqui nasce a vinha e se produz o vinho, desde que os romanos, continuando e ampliando a ação nativa (moldavam os declives em socalcos) aproveitavam as povoações castrejas e dinamizavam o cultivo de cereais e da vinha nos terrenos de xisto, imprestáveis para outras culturas. Foram encontrados na região vestígios de lagares e vasilhames para vinhos do século III, chegando mesmo a estimar-se que a presença da uva na região remonta há cerca de 4 mil anos.

Ao longo da história do Vinho do Porto, diversas crises surgiram entre produtores e comerciantes, opostos pela questão do que era o genuíno Vinho do Porto. Em 1756, o Primeiro-ministro Marquês de Pombal interveio, demarcando, no território duriense, os terrenos mais propícios e as quintas mais dotadas para o plantio das castas produtoras do vinho do Douro, tendo sido esta a primeira Região demarcada do mundo, através do alvará régio de instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, de 10 de Setembro de 1756.

Marco Pombalino

A designação “do Porto” provém da armazenagem e comercialização, a partir do porto existente no estuário do rio Douro, entre a cidade do Porto e Vila Nova de Gaia. O vinho era transportado ao longo do rio, pelos barcos rabelos, até aos armazéns de Vila Nova de Gaia, localização privilegiada pela proximidade do Atlântico e pelas suas reduzidas amplitudes térmicas, favorecendo o longo envelhecimento dos vinhos em cave.

Mas Muito antes de qualquer presidente, rei ou imperador, o Douro era uma terra sem governo, habitada por povos primitivos, os primeiros a deixar seus vestígios na região. As pinturas rupestres do Vale do Côa são do período Paleolítico, há cerca de 20 mil anos. A presença da uva no Douro remonta há 4 mil anos (século XX a.C.), tendo sido encontradas sementes de uvas carbonizadas em estações arqueológicas da região. Muitas das ruínas pré-romanas, como o Castro de Cidadelhe, em Mesão Frio, datam dessa época.

Com a chegada dos romanos, no século I d.C., a agricultura intensificou-se, algo possibilitado pela rede de estradas e pelas numerosas pontes que o Império construiu. A uva começou a adquirir maior importância, existindo vilas agrárias dedicadas exclusivamente à produção de vinho, como foi comprovado na estação arqueológica do Alto da Fonte do Milho, no Peso da Régua.

A região continuou sendo ocupada continuamente. A partir do século V as terras do Douro foram os suevos e visigodos, que acabaram por se unir e cristianizar. Seguiram-se então os muçulmanos, depois do século VIII. Isso só deixou de acontecer após a implantação do reino português, a 5 de outubro de 1143 pelo Tratado de Zamora, quando iniciou-se a construção da Sé de Lamego, sob a proteção de D. Afonso Henriques (1109-1185), o primeiro rei português, responsável pela independência deste país.

No século XIII, com a prosperidade comercial e econômica e ao transporte para o Porto através do rio Douro, a produção destes néctares continuou a se desenvolver. Em seguida veio o período das descobertas marítimas (séculos XV e XVI) e houve um aumento da circulação no rio, uma vez que as viagens requeriam grandes quantidades de vinhos fortes para saciar os marinheiros.

Entre os séculos XVII e XIX, a Inglaterra passa a ser o principal consumidor dos vinhos produzidos no Douro, o que resultou na assinatura do Tratado de Methuen, em 1703. Nesse tratado, o Reino Unido concedia direitos preferenciais aos vinhos portugueses, com a contrapartida de Portugal permitir a entrada livre dos tecidos britânicos no mercado nacional.

Estimulada pela procura inglesa crescente e preços altíssimos, a produção do Douro tenta se adaptar às novas exigências do mercado. Mas, como acontece sempre que a demanda é muito grande, o negócio rivaliza interesses, suscita fraudes e abusos. A qualidade dos vinhos cai por conta de misturas inadequadas. Assim, a partir de meados do século XVIII as exportações estagnam, enquanto a produção continua a crescer. Os preços caem e os ingleses decidem não mais comprar vinhos, acusando os produtores de promover adulterações.

Esta crise comercial conduzirá, por pressão dos interesses dos grandes vinhateiros do Douro junto ao governo do futuro Marquês de Pombal, à instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 10 de Setembro de 1756. Com ela busca-se assegurar a qualidade do produto, evitando adulterações, equilibrar a produção e o comércio e estabilizar os preços. Também nesta época acontece a demarcação de terras, criando-se a primeira região vinícola regulamentada do mundo. O Douro Vinhateiro é demarcado por 335 marcos de granito com a designação de Feitoria, designação que referendava o vinho da melhor qualidade, único que podia ser exportado para Inglaterra.

O século XIX, no Douro, foi marcado pelas doenças que se abateram sobre as vinhas, como o oídio e a filoxera, contribuindo para o desenvolvimento da viticultura na região, devido a inovações biológicas e químicas, como forma de evitar essas doenças. Ainda no mesmo século, iniciou-se a construção das linhas ferroviárias, que facilitaram a ligação entre o Porto e a fronteira da Espanha.

A paisagem atual da região do Douro, caracterizada pelos socalcos (plataformas cortadas nos morros), foi construída durante a década de 70, com a aplicação de novas técnicas de plantio da vinha, em patamares, com muros de xisto delimitando cada nível. Esta alteração da paisagem pela atividade humana contribuiu para que o Alto Douro Vinhateiro fosse considerado Patrimônio Mundial da Humanidade, pela UNESCO, em 2001.

A Região Demarcada do Douro situa-se no nordeste de Portugal, na bacia hidrográfica do Douro e sua área é de 247.420 hectares, sendo que a vinha ocupa 43.608 hectares, sendo que somente 26.000 hectares estão autorizadas a produzir vinhos do Porto.

O rio que lhe deu o nome nasce no alto da Sierra de Urbion, no interior da Espanha e se estende por 640 quilómetros até o seu encontro com o oceano Atlântico, cruzando a Região do Douro de leste a oeste. As vinhas são plantadas nas encostas em declive de 35° a 70° de inclinação, erguendo-se sobre o rio Douro e seus afluentes Corgo,Tavora, Pinhão, Tua, Torto, Côa e Sabor.


Douro e seus afluentes

A serra do Marão, que se eleva a 1500 metros no extremo oeste da região, assinala a mudança dos planaltos saturados pelo ar úmido e frio do Atlântico para um clima mediterrâneo montanhoso, quente e seco.

Originando sempre produções muito pequenas, o solo também permite uma maior longevidade da vinha e uma qualidade muito elevada dos mostos devido à conservação de umidade, adquirindo as uvas um maior teor de açucares e cor.

A imensidão do xisto duriense é completada na sub-região do Douro Superior com aflorações graníticas e no Baixo Corgo, com alguns solos de aluvião, mais produtivos nesta sub-região.

Cerca de 95% de todo o Vinho do Porto é cultivado neste xisto. Como existe apenas uma camada muito fina de terra argilosa, as vinhas são plantadas partindo a pedra até uma profundidade de um metro, onde as fissuras no xisto permitem que as raízes cheguem até 21 metros em busca de água. O solo é muito ácido, devido a um nível alto de potássio, tem baixo nível de cálcio e magnésio, apresenta excesso de alumínio, o que é tóxico para as raízes.

O Terreno irregular, com altitudes, junto ao rio Douro que podem atingir entre os 60 e os 140 m, e noutras zonas atingindo mais de 1000 m e inclinações com mais de 30%, só podem ser preparadas para plantação através do nivelamento de socalcos ou terraços, com ferramentas de ferro pontiagudas ou dinamite e, mais recentemente, bulldozers e tratores.

Essas excepcionais adversidades tornam a Região Demarcada do Douro numa das regiões mais caras e difíceis de trabalhar do mundo, mas é nessa mesma adversidade que nasce um grande vinho.

O papel desempenhado pelo Homem foi fundamental na criação dos socalcos, que são uma característica de toda a região. Antes da crise filoxérica, praga que surgiu na região pela primeira vez em 1862, as plantações eram feitas em pequenos terraços irregulares (geios), com 1-2 filas de videiras, suportados por paredes de pedra. Os socalcos eram ‘ rasgados ‘ nas encostas, de baixo para cima, as paredes eram construídas com as pedras tiradas do terreno, a sua altura dependia da inclinação da parcela e a movimentação da terra para preparar o solo para a plantação era pequena. A densidade de plantação rondava as 3 000 – 3 500 plantas/ha. Estes pequenos terraços foram posteriormente abandonados e constituem hoje os designados ‘mortórios’.

Mortórios

Após a filoxera, foram feitos novos terraços, mais largos e inclinados, com ou sem paredes de suporte, permitindo maiores densidades de plantação (cerca de 6 000 plantas/ha). Surge também nesta altura a vinha plantada em declives naturais, segundo a inclinação do terreno. Nestes sistemas a mecanização é impossível pois não existem ou são escassas as estradas de acesso às vinhas e a inclinação lateral está associada a uma forte densidade de plantação. Este facto, traduzido pelos custos elevados que implica em termos de mão-de-obra, tem conduzido ao abandono gradual deste tipo de vinhas.

Socalcos

No fim dos anos 60 e início dos anos 70, um novo sistema surgiu na região. Trata-se dos patamares horizontais com taludes em terra, com 1-2 linhas de videiras e com densidades de plantação baixas, na ordem de 3 000 – 3 500 plantas/ha. Dado que necessita de parcelas de grande dimensão para a sua instalação, é um sistema que não está adequado a zonas de minifúndio.

Patamares

Mais recentemente, e como alternativa aos patamares, aparecem as vinhas plantadas segundo as linhas de maior declive do terreno (‘ Vinha ao Alto ‘). Com uma densidade de plantação semelhante à das vinhas tradicionais, na ordem das 4 500 – 5 000 plantas/ha, este sistema apresenta uma boa adaptação para pequenas parcelas, podendo ser o trabalho mecanizado pela utilização de guinchos ou, até declives na ordem dos 40%, por tracção direta, com tratores de rastos.

O micro-clima da Região Demarcada do Douro deve-se ao seu natural enquadramento, a norte com a serra do Alvão e a sul com a Serra de Montemuro, formando-se um anel com uma altitude média de 1000 m, que protegem os vinhedos dos ventos úmidos do Atlântico e frios do norte.

A alta qualidade dos vinhos da região está diretamente relacionada com as elevadas temperaturas do ar, moderada precipitação e substancial percentagem de insolação direta no solo, graças à exposição a sul das encostas: as videiras criadas junto à encosta do rio e afluentes sofrem uma incidência de raios solares propícia à boa maturação das uvas; os solos conservam menor umidade que em terrenos planos, adquirindo as uvas uma maior concentração de açucares e de cor.

A Região demarcada do Douro estende-se desde Barqueiros até Barca D Alva, quase na fronteira com Espanha, estando dividida em três sub-regiões naturalmente distintas, não só por fatores climáticos como também sócio – econômicos: a oeste o Baixo Corgo, no centro o Cima Corgo, coração da região demarcada do Douro, e a leste o Douro Superior.

O total das vinhas implantadas na Região demarcada do Douro é de 43.608 hectares, com a produção anual de 1,69 milhões de hectolitros, que corresponde a 26% da totalidade dos vinhos produzidos em Portugal.

Sub-regiões do Douro

A grande diversidade de castas existentes no Douro, adaptáveis a diferentes situações de clima, demonstra as excelentes condições para a cultura da vinha existentes na região. Portugal é um dos países do mundo com maior quantidade de castas autóctones (nativas) e, dentro de Portugal, o Douro é a região com maior diversidade.

São uvas que só se encontram em território português – pelo menos com os nomes que ali recebem. Entre as tintas, destacam-se Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional (a uva emblemática de Portugal) e Tinto Cão. As castas brancas predominantes são Malvasia Fina, Viosinho, Donzelinho e Gouveio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, brilhante, com entornos violáceos, com lágrimas finas e de média persistência.

No nariz logo se percebe as notas de frutas vermelhas maduras como groselha e cereja, uma leve tosta, baunilha e um toque herbáceo, vegetal, de especiarias, diria também um discreto floral trazido pela Touriga Nacional.

Na boca traz certo protagonismo das frutas vermelhas maduras, como no aspecto olfativo, algo de adocicado, talvez especiarias doces, que faz dele suculento e até saboroso. Notas amadeiradas bem integradas, torrefação, café, graças aos 8 meses de passagem por barricas de carvalho, algo de pimenta, talvez. Taninos aveludados pelo tempo e acidez correta que ainda entrega algum frescor ao vinho. Final médio.

Um típico vinho do Douro, um reserva especial, um vinho que traz a marcante personalidade aliada a elegância, o refinamento conquistado devido aos seus seis anos de vida, bem como as suas mais fiéis características regionais, sim, é um típico vinho do Douro graças, sobretudo as suas castas, ao seu famoso blend, ao seu famoso corte com as “Tourigas” e a Tempranillo portuguesa, a Tinta Roriz. Um vinho redondo, versátil, gastronômico, saboroso, volumoso, mas equilibrado e intenso. A história escrita, assinada em seu rótulo entrega a tipicidade e o terroir do velho e eterno Douro. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta do Gradil (Parras Wines):

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras.

Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada.

Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:

https://www.parras.wine/pt/

Referências:

“Enopira”: https://enopira.com.br/douro-2/

“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/douro-produzindo-vinhos-ha-mais-de-2-mil-anos/

 





















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