Há um assunto recorrente e que, de alguma forma, gera certo
burburinho por conta de polêmicas eventuais que surgem com cada questão
levantada, que são os vinhos premiados ligados à qualidade.
Tem os prêmios de Suckling, de Parker, de grandes eventos e períodos
oriundos de centros de excelência da vitivinicultura mundial que enaltece e
coloca o vinho no pedestal, no apogeu de sua incontestável qualidade que faz
deste um grande rótulo.
E daí os preços sobem a ponto de chegar ao ápice da ganância
de cobrar verdadeiras fábulas monetárias para um vinho quando passa a ostentar
um prêmio de conceituados formadores de opinião.
É claro que vinhos laureados com prêmios dados por
especialistas merecem sim uma atenção e até mesmo um crédito pelos enófilos de
plantão, mas sempre pensei, sempre compartilhei da opinião de que vinho não é
medalha, tão pouco premiações e que a percepção tem de ser particular.
Degustamos vinhos e não prêmios e o vinho que não tem prêmio
não significa que não seja bom. Mas são perspectivas de mercado, muita das
vezes, e os prêmios são usados para catapultar as vendas, embora tenha o abuso
dos revendedores quando super precificam alguns rótulos.
Mas não podemos negligenciar os prêmios e usá-los como um
ponto, uma forma de fomento à escolha ou não em um momento de compra, por
exemplo, de um rótulo. E Quando falo em não negligenciar os prêmios, não
podemos fazer isso, de forma alguma, com os rótulos da Vinícola Cooperativa
Aurora, uma das maiores empresas de vinhos do Brasil e do mundo que, além de
fabricar, de produzir vinhos, produz dezenas, centenas de prêmios.
E os rótulos que ostentam os vinhos da Aurora não sofrem
acréscimos nos seus valores, àqueles abusivos dos gananciosos. Praticam preços
justos, entregando qualidade e tipicidade.
E quando eu falar de um vinho que degustei e gostei da
Aurora, do seu preço, inicialmente, ficarão de queixo caído: R$ 29,90! Sim! Um
valor de vinhos que, para muitos abastados aristocráticos, é valor de vinho
“vagabundo”, que não presta sequer para cozinhar.
Falo do Aurora Chardonnay Reserva, brasileiro da região de
Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, na emblemática Serra Gaúcha, da safra 2018.
Safra essa que serviu de ilustração do Guia 5StarWines – The Book, da Vinitaly,
o maior evento de vinhos da Itália e que neste ano foi cancelado devido a
pandemia. A avaliação dos vinhos, no entanto, foi reformulada e aconteceu
seguindo às novas diretrizes de saúde e segurança estabelecidas para combater a
propagação da covid-19.
As amostras foram enviadas aos juízes em seus respectivos
países. As provas foram realizadas às cegas, por videoconferência. Os críticos
pontuaram os vinhos e enviaram suas avaliações de forma remota, sob a
supervisão de uma equipe sediada em Verona. O vinho da Aurora conquistou 90
pontos. Leia mais em: “Aurora Reserva Chardonnay é destaque em importante guia de vinhos na Itália”.
Mas antes de falar desse vinho, desse Chardonnay maravilhoso
da Serra Gaúcha, falemos um pouco dessa região tradicional do Sul do Brasil que
merece sempre linhas gerais que vai da história aos elogios incansáveis.
Serra Gaúcha
Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra
Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo
volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao
Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento
Gonçalves.
A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das
condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas
as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita,
período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem
ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.
A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra
Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados
ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível
de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança
e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.
O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na
Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença
de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira.
Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina
voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada
ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e
o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da
vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do
Vale.
O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a
obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em
vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a
partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos
do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma
Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da
experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.
O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado
somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais
para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos
para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O
trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da
potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação
de Origem Controlada) na região.
O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos
imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma
agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do
Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto,
logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local.
Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos
vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de
vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.
Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou
em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores
passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo
diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.
Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da
Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a
Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não
produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de
produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos
Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e
processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.
Bento Gonçalves
Em 1875 inicia a imigração italiana na Encosta Superior do
Nordeste, originando as colônias de Dona Isabel, Conde D’Eu e Nova Palmira. A
colônia de Dona Isabel originou a cidade de Bento Gonçalves. Conde D’Eu
originou a cidade de Garibaldi. Nova Palmira se tornou a cidade de Caxias do
Sul.
A Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves), criada em 1870, já
era conhecida como “Região da Cruzinha” devido a uma cruz rústica cravada sobre
a sepultura de um possível tropeiro ou traçador de lotes coloniais. Era época
do escambo, da troca de mercadoria por mercadoria. A Colônia Dona Isabel
sediava um pequeno comércio, no qual os tropeiros faziam paradas para descanso.
Em 24 de dezembro de 1875, os núcleos do Planalto começaram a
receber novos imigrantes. Em março de 1876, o Presidente do Estado José Antonio
de Azevedo Castro anunciava a existência de 348 lotes medidos e demarcados e
uma população de 790 pessoas, sendo 729 italianos. Os pioneiros, vindos do
Tirol Austríaco e Vêneto chegaram à esplanada onde hoje está situada a Igreja
Matriz Cristo Rei.
A troca, compra e venda de produtos era feita na sede da
colônia, após longas caminhadas por estreitas picadas (trilhas abertas no meio
da mata) demarcadas pelos próprios imigrantes. Entre os imigrantes havia
ferreiros, sapateiros, marceneiros, alfaiates, carpinteiros, entre outros
profissionais que estabeleceram seus negócios dentro de suas especialidades,
atendendo às necessidades locais.
O surgimento das construções das casas, os instrumentos de
trabalho e o mercado foram acompanhando o desenvolvimento de Colônia Dona
Isabel e também as exigências que se apresentavam. Frente ao desenvolvimento,
as condições das estradas foram melhorando e surgiram as primeiras carretas. Em
cinco anos, houve um acréscimo de quatro mil habitantes, entre nascimentos e
novos imigrantes.
Em 1881, inicia a abertura da primeira estrada de rodagem,
ligando a Colônia Dona Isabel a São João de Montenegro (hoje Montenegro). O
início do povoamento foi marcado por inúmeras dificuldades. Em 1877 a Colônia
Dona Isabel sediava três casas comerciais, duas padarias, uma fábrica de
chapéus e um total de 40 casas comerciais, que ofereciam serviços e produtos
diversos em todo o território da colônia.
O desmembramento da Colônia Dona Isabel do município de
Montenegro foi oficializado pelo ‘Acto’ 474, de 11 de outubro de 1890, assinado
por Cândido Costa, o que constituiu o município de Bento Gonçalves. O nome foi
dado em homenagem ao general Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução
Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul de 1835 a 1845.
Bento Gonçalves deu seu primeiro impulso de progresso com a
vinda da agência do Banco Nacional do Comércio e Banco de Pelotas. Entre os
anos de 1919 e 1927, foi feita a instalação da luz elétrica e da estação
transformadora e da rede de distribuição. Na foto a raça Walter Galassi em
1922, quando era chamada de Praça Centenário. O local foi inaugurado durante as
comemorações do centenário da independência do Brasil.
E 1924 foi fundado o Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini. Na
época o Dr. Barthomoleu Tacchini, médico vindo da Itália, era um dos principais
médicos do Estado, com enorme prestígio especialmente junto à população de
origem italiana. Em 1950, a população era de 22.600 habitantes. As principais
atividades econômicas eram as do setor agrícola. Contudo, começaram a surgir
várias indústrias, como de acordeões, laticínios, móveis, curtume, fábrica de
sulfato e vinícolas.
Em 1967 Bento Gonçalves passa por uma grande transformação,
considerada um marco histórico. Com a colaboração de dinâmicas lideranças e a
ajuda de toda a comunidade, surge a I Fenavinho, a Festa Nacional do Vinho. O
município foi visitado pela primeira vez por um Presidente da República, o
Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco visitou Bento Gonçalves e a I
Fenavinho no dia 25 de fevereiro de 1967. O principal produto e a força da
economia de Bento Gonçalves foram divulgados em todo o Brasil, tornando a
cidade conhecida nacional e internacionalmente. O município descobre a sua
vocação para o turismo de negócios e começa a sediar eventos de grande porte.
A cidade de Bento Gonçalves é conhecida como a ‘Capital
Brasileira da Uva e do Vinho’, é reconhecida pela força de sua economia e como
um importante pólo industrial e turístico do sul do Brasil.
Além de ser uma cidade com perfil empreendedor e povo trabalhador,
a cidade se destaca na área turístia. Atividades ligadas à área do enoturismo,
turismo de negócios e de eventos oferece cada vez mais opções ao visitante. A
cidade oferece uma diversidade de rotas turísticas . Os indicadores de
desenvolvimento e renda da cidade colocam Bento Gonçalves em destaque no Estado
e no país quanto à qualidade de vida.
A cidade de Bento Gonçalves é um polo moveleiro e
vitivinícola conhecido nacional e internacionalmente. Dentro do segmento
indústria, o setor moveleiro é a grande força da economia. No segmento
turístico são inúmeros os atrativos ligados à uva e ao vinho, o que torna Bento
Gonçalves uma cidade de visita obrigatória na conhecida Região Turística “Uva e
Vinho” situado na Serra Gaúcha.
Bento Gonçalves é pioneira no Brasil no desenvolvimento do
Enoturismo. A cada ano Bento Gonçalves vem se consolidando como destino
turístico nacional. O Vale dos Vinhedos é o principal destino enoturístico do
Brasil, sendo o roteiro mais visitado desde 2008. Foi a primeira região do país
reconhecida como Indicação Geográfica, obtendo para seus produtos a Indicação
de Procedência, e a seguir a Denominação de Origem ‘Vale dos Vinhedos’ para os
vinhos e espumantes ali produzidos. O Vale dos Vinhedos integra oficialmente o
patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio Grande do Sul desde 29 de
junho de 2012 (Projeto de Lei 44/2012).
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um lindo tom amarelo brilhante tendendo para o
dourado e reflexos esverdeados, além de algumas finas lágrimas em pequena
intensidade.
No nariz explode em aromas frutados, com frutas de polpa
branca e cítricas, tais como maçã-verde, pera, maracujá e abacaxi.
Na boca tem média estrutura, graças ao seu sabor amanteigado,
um toque untuoso que traz um bom volume de boca e com discretas notas tostadas,
de baunilha, graças aos 3 meses de passagem por barricas de carvalho em pleno
equilíbrio com o frutado com uma acidez correta que atenua seu frescor. Final
longo!
Prêmios, reconhecimento, qualidade, preços justos! Todos
esses predicados são inerentes ao Aurora Reserva Chardonnay 2018, mas, mais
importante ainda é o deleite sensorial que esse vinho me provocou! Foi de fato
um arrebatamento aos meus sentidos esse Chardonnay brasileiro. Aos Chardonnays
brasileiros que vêm entregando, de forma indelével, maravilhas. Mas esse
Chardonnay da Aurora traz uma intensidade de aromas e sabores frutados, de
amanteigado, de untuosidade, de tosta graças ao curto tempo de passagem por
barricas de carvalho, dando-lhe arrojo, certa complexidade e versatilidade. Um
grande vinho, antes de qualquer prêmio! Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Cooperativa Aurora:
A Vinícola Aurora é um sonho compartilhado por imigrantes que
enfrentaram os mais diversos problemas quando chegaram ao Rio Grande do Sul.
Com a veia colaborativa, a empresa cresceu e se tornou um dos expoentes do
vinho gaúcho. A história da cooperativa começou em 1931, quando famílias de
produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com pouco
dinheiro, mas com muita vontade de prosperar, reuniram-se para lançar a pedra
fundamental da empresa.
Na primeira colheita, foram contabilizados 317 mil quilos de
uva. Hoje, quase 85 anos depois, a empresa processa mais 60 toneladas da fruta
e tem 1.100 famílias associadas. A biografia da Aurora, desde as suas raízes, é
permeada por números de sucesso. No cerne da vinícola há solidariedade entre os
pares, se no início do século os imigrantes italianos se uniram para produzir
com maior força e formar uma rede de ajuda mútua, hoje, não é diferente. É
nesse universo, da produção em sociedade, que a Revista Sabores adentra para
desmitificar as oito décadas da empresa.
No Centro de Bento Gonçalves, local que abriga a histórica
Cantina da empresa. De longe é possível ver a grande movimentação, não só de
trabalhadores de vinícola, mas, principalmente, de turistas. Pioneira em abrir
as portas aos visitantes, a cada ano, a Aurora recebe 150 mil pessoas em suas
instalações. É uma multidão de curiosos querendo saber como são produzidos os
232 rótulos da empresa.
Ao percorrer os corredores da vinícola, o visitante conhece em detalhes todas as etapas para a elaboração de um vinho. Desde as esteiras que recebem as uvas na época de colheita, até as pipas gigantes com mais de 50 anos de uso. Não só os produtos alcoólicos que movimentam a cooperativa. A linha de produção ainda tem coolers e suco de uvas. O suco da marca Casa de Bento, produzido pela vinícola, é um dos mais vendidos da empresa. Do total de uvas processadas, 60% viram suco.
Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é
a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a
produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o
produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza
pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final
dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma
tecnologia de ponta.
A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi
possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta
tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de
produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da
plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de
crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.
Mais informações acesse:
http://www.vinicolaaurora.com.br/br
Referências:
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/os-segredos-da-merlot-cepa-mais-consistente-da-serra-gaucha_10653.html
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA
“Bento Tur”: https://bento.tur.br/nossa-historia-bento-goncalves/
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