sábado, 29 de janeiro de 2022

Urries Nerello Mascalese 2020

 

Mais um rótulo da série: Vinho e suas novas castas. E esse vem da bela Sicília, um IGT Terre Siciliane, região esta que, a cada vinho degustado, vem me ganhando de forma incondicional.

E quando essa casta é popular e conhecida em suas terras torna-se tudo, tudo melhor, afinal aquele "tempero" do apelo regionalista potencializa, além do interesse em degustar, a cultura do terroir, do saber fazer aliado às questões da terra, da sua geografia, do seu clima etc. 

Ou como alguns podem dizer que é a força e a expressão do terroir que não traz apenas as questões relacionadas à terra, ao clima, aos aspectos naturais, mas a cultura daquele povo, o fazer daquela região, dos que nela habita, o dedo do enólogo, o trabalho daqueles que estão na vindima, do modo de produção, o respeito a terra. Tudo é terroir, tudo nos remete ao apelo regional.

Embora nunca tenha pisado na Sicília, o contato, as experiências sensoriais com os seus rótulos entregam um panorama de suas propostas e faz valer o conceito acima mencionado.

A degustação de hoje vem do Etna! Quando falamos de Etna o que vem à mente? O vulcão! Mas pelo que pude perceber a casta e o vinho de hoje mostra que não é só de vulcão que vive a região lá na Sicília.

Esse rótulo eu recebi de um clube de vinhos a qual sou assinante. Acredito ter dito, em algum momento, sobre a minha opinião acerca dos clubes dos vinhos. Para um iniciante talvez seja consistente e para quem já é um inveterado degustador, nem tanto, mas o fato é que esta seleção me surpreendeu positivamente pois me proporcionou degustar um vinho de uma casta pouquíssimo conhecida em terras brasileiras.

E não foi tão somente a casta e a história que a circunda, o vinho em si também surpreendeu positivamente e, por incrível que pareça, harmonizou bem com essa tradicional noite de degustação de sábado quente, de verão.

O vinho que degustei e gostei veio da região italiana da Sicília, do Monte Etna, e se chama Uries da casta Nerello Mascalese (100%) da safra 2020. Nerello Mascalese? Sim! O nome soa como um gongo repleto de novidades! Nunca tinha ouvido falar dela até receber esse rótulo do clube de vinhos a qual faço parte. Então para não perder mais tempo falemos um pouco da casta, da sua história e depois da Sicília, onde ele é popular e queridinha.

Nerello Mascalese: A casta do Etna!

É uma uva tinta, autóctone das encostas do Monte Etna, na região metropolitana de Catania, na Sicilia. Tem ainda um perfil bastante regional, com sua produção concentrada quase inteiramente na Sicilia, onde contribui com cerca de 80% a 100% das uvas da denominação Etna Rosso DOC e cerca de 45% a 60% da Faro DOC.

A Nerello Mascalese. A cepa é muito antiga, tendo sido citada por Sestini em escritos do século XVIII. Tradicionalmente plantada como um pequeno arbusto, a Nerello Mascalese é a variedade mais difundida na área do Monte Etna, local onde vem sendo cultivada desde tempos imemoriais. Acredita-se que ela tenha ligação com os antigos vinhos do Etna, tão celebrados por Homero e historiadores latinos.

A variedade recebeu esse nome devido a planície de Mascali, entre o Monte Etna e a costa onde acredita-se ser sua terra natal – uma pequena porção de vinhas que restou após o ataque da filoxera na década de 1880. O prefixo Nerello refere-se à coloração escura das uvas, compartilhado também pela casta Nerello Cappuccio, parceiro de mistura mais comum da variedade. Ambas são encontradas nos vinhos produzidos na denominação de origem de Etna, onde a uva Nerello Mascalese representa a maior parte da mistura e é cultivada em maiores quantidades do que a Cappuccio.

Os solos compostos por materiais vulcânicos de Etna combinados com altitudes que chegam a até 1.000 metros – alguns dos vinhedos mais altos da Europa – ajudam a produzir vinhos com caráter e complexidade imensa, sem o peso excessivo característico dos vinhos tintos da Sicília.

Os solos compostos por materiais vulcânicos de Etna combinados com altitudes que chegam a até 1.000 metros – alguns dos vinhedos mais altos da Europa – ajudam a produzir vinhos com caráter e complexidade imensa, sem o peso excessivo característico dos vinhos tintos da Sicília.

A Nerello Macalese é geralmente cultivada em altitudes entre 350 e 1.000 metros, sobretudo em terrenos de origem vulcânica. É uma uva de cachos médios, grãos pequenos, de coloração intensa e cascas grossas e colheita tardia. Tem boa resistência a pragas, embora mostre uma variação grande de suas características dependendo da safra.

As vinhas da Nerello Mascalese é uma variedade de maturação tardia e dominam também a DOC Faro, em torno da cidade de Messina. Situada nas colinas acima da cidade, as videiras cultivadas em Faro alcançam altitudes impressionantes, contribuindo para a elaboração de vinhos com características singulares.

Segundo dados da OIV, em 2015 eram apenas 2.942 hectares de Nerello Mascalese plantados ao redor do mundo, todos eles na Itália, sobretudo na Sicilia nos entornos do Monte Etna.

Apesar da reduzida área plantada, a variedade também recebe outros nomes, boa parte deles sendo sua tradução para o dialeto siciliano. São eles: Mascalese Nera, Mascali, Mascalisi, Mascoli, Negrello, Negrello 39, Nerello, Nerello Carbunaru, Nerello di Mascali, Nerello Mostrale, Nerello Paesano, Niereddo, Niereddu, Niredda, Nireddu, Nirello, Nirello Mascalese, Niureddu, Niureddu Mascalese, Niureddu Mascalisi.

Fora de Etna e de Faro, a uva Nerello Mascalese é utilizada em misturas nos vinhos rotulados como Sicília IGT, ao lado da variedade dominante da ilha, a Nero d’Avola. Estes vinhos são produzidos nas versões tintas, mas exemplares rosés também são encontrados. Na Calábria, as denominações de Lamezia, Savuto e Sant’Anna di Isolia Capo Rizzuto também permitem o uso da Nerello Mascalese para o uso em vinhos de corte.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sicília e suas sub regiões

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi com reflexos violáceos tendendo para o granada, com um veemente brilhante e lágrimas finas e de média persistência.

No nariz com uma intensa explosão de frutas vermelhas que lembram framboesa, morango, cereja, bem como também frutas do bosque, além de notas de especiarias, algo de carpete, tabaco, um discreto terroso.

Na boca é leve para médio, seco, álcool destacado, mas equilibrado, com o toque frutado protagonizando como no aspecto olfativo, saboroso, informal, com taninos leves, quase imperceptíveis, com uma ótima acidez que saliva a boca e o torna volumoso na boca, com um final prolongado e retrogosto com muita fruta.

Um vinho frutado, mas de personalidade, por ter o caráter regional de um local improvável para cultivo, um vinho harmonioso, saboroso, descontraído, porém intenso. Um vinho gastronômico, versátil para quaisquer tipos de comida, das mais condimentadas às mais simples e direta. Mais uma vez me sinto privilegiado por degustar um vinho especial, simples, mas nobre, pois personifica uma região que a cada dia me surpreende, a cada rótulo degustado. A experiência sensorial mais do que agradece, se rende, de forma incondicional, aos caprichos de rótulos interessantes e marcantes. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Cantine La Vite:

Cantine La Vite foi fundada em 1970 pela vontade de 43 fundadores que decidiram se unir para dar vida ao que se tornou uma das vinícolas mais produtivas e florescentes da Sicília.

Os 1.300 sócio cultivadores cultivam cerca de 2.300 hectares nos territórios do centro e sul da Sicília, em particular entre as províncias de Caltanissetta, Agrigento e Ragusa. A produção está orientada para as castas de bagas pretas (cerca de 80%), as uvas brancas locais da Sicília e as uvas Nero d'Avola, das quais a empresa é a maior produtora na Sicília.

Graças ao uso das técnicas de produção mais inovadoras e, acima de tudo, operando com o máximo cuidado e respeito ao meio ambiente, a Cantine La Vite é conhecida mundialmente pela qualidade de seus produtos.

Desde 2020 Cantine La Vite SCA criou a marca Le Schette Fruit para promover um novo negócio de frutas e legumes inteiramente feito em nosso território e por nossos produtores, e nasceu graças à criação de uma infraestrutura moderna, tecnológica e eficiente.

Mais informações acesse:

https://www.cantinelavite.it/en/main-home-english/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-fruta-do-etna_4681.html

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/nerello-mascalese-raro-e-apaixonante/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nerello-mascalese

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

 

 










sábado, 22 de janeiro de 2022

Frank Tempranillo 2020

 

Nunca pensei, quando comecei a degustar vinhos, a quase 30 anos atrás, de que eu fosse desbravar, de forma tão intensa, os vinhos brasileiros. Desbravar regiões que jamais fosse chegar que nunca esperar encontrar vinhos que não nos polos de produção da bebida como o Rio Grande do Sul.

Por isso não me canso de dizer, sei que sou redundante, mas nunca omisso: o universo do vinho é vasto e inexplorado e ele nos propicia não apenas a degustação que claro é o ápice, mas descobrir, aprender e se banhar de cultura.

Como muitos, infelizmente, que adentra o mundo do vinho sempre, de forma pré concebida, acha que o mundo do vinho brasileiro é limitado e incipiente, os rótulos e a história dizem o contrário e é uma forma de resistência que grita aos quatro cantos que o vinho nacional é válido e tem sim história.

Sempre ouvi dizer que São Paulo sempre foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo para a história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E o meu primeiro contato com os vinhos de São Paulo se deu de uma forma totalmente ocasional e despretensiosa. Estava eu acessando as minhas redes sociais e me deparei com uma publicação um tanto quanto atípica para mim e estava relacionado aos vinhos artesanais ou a vinhos produzidos por pequenas e médias vinícolas com baixa produção. Aquilo fora como se amor à primeira vista, dado o tamanho do interesse que me tomou como um arrebatamento.

Diante do tamanho do interesse decidi procurar detalhes sobre o vinho mencionado e como qualquer coisa que colocamos na grande rede para pesquisar, uma coisa vai puxando a outra, porém dentro do contexto. Até que cheguei a um site que vende vinhos de uma região famosa do interior de são Paulo conhecida como “a terra do vinho”, chamada São Roque!

Além do interesse instigante de novos terroirs, a degustação de vinhos artesanais e produzidos por pequenas vinícolas me atraía de uma forma visceral e implacável. Decidi comprar três rótulos e dois já degustei: Um que veio, pasmem, de uma cidade chamada Serra Negra, o Família Silloto Merlot 2019 e o vinho de São Roque o Dom Bernardino Touriga Nacional 2018.

E faltava o terceiro rótulo! Então o momento chegou e a animação virou ansiedade, estava tomado por uma exaltação salutar, degustar o meu terceiro rótulo da “terra do vinho”, São Roque é como degustar a história do Brasil vitícola! A rolha se desprende da garrafa, o barulhinho típico anuncia o momento de a taça ser inundada pelo líquido sagrado e santificar as experiências sensoriais era questão de tempo. E ele é surpreendentemente maravilhoso! Incrível! O vinho que degustei e gostei veio de são Roque, São Paulo, e se chama Frank da casta Tempranillo, da safra das safras, 2020. As uvas vieram do Sul do Brasil, São Roque ainda não tem clima para produzir propício castas vitis vinífera, mas foi vinificado sobre os preceitos, sob a filosofia da tradicional vinícola Frank que, apesar de pequena goza de uma tradição de mais de 50 anos nas terras de São Roque, região esta que falaremos agora.

São Roque: a “terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva. Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Outro fator que pode ter influenciado e não ter feito prosperar o cultivo da videira seria a prioridade da época de então, que era a descoberta de ouro, principalmente na região das Minas Gerais. Sabemos que São Paulo até então era somente um vilarejo sem grande importância econômica para a metrópole portuguesa, e se bem analisarmos a história da agricultura brasileira a uva e o vinho nunca foram tidos como principal interesse por parte de nossos colonizadores.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras. Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antônio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Podemos dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho intenso quase escuro, com reflexos violáceos que dá um tom brilhante e reluzente, com lágrimas grossas e que marcam o bojo.

No nariz explode em frutas vermelhas maduras, onde se destacam cereja, groselha e morango. Um toque floral muito delicado que lembra flores vermelhas, além de um toque terroso, de floresta.

Na boca é de leve para médio, com as notas frutadas percebida no aspecto olfativo, com um bom volume de boca, taninos macios, polidos, com boa acidez mostrando ainda jovialidade, além de frescor. É equilibrado, harmonioso, elegante e tem um final de boca de média persistência com retrogosto frutado.

Vinho não é só poesia engarrafada como dizia aquele poeta, mas história engarrafada também. Degustamos história, degustamos cultura! É muito gratificante e especial degustarmos vinhos com essa carga histórica atrelada de forma tão veemente, tão latente. A história é viva e plena, não é algo estático. Degustar o Frank da casta Tempranillo é como se estabelecêssemos contato com um novo mundo, uma nova percepção, que enaltece as nossas experiências sensoriais. A Tempranillo definitivamente está definitivamente se adaptando em nossas terras apesar de ainda não ter tantos rótulos disponíveis, mas os poucos ofertados são ótimos e não fica atrás dos espanhóis, por exemplo. E este da Vinícola Frank honra a força propulsora dos vinhos brasileiros que, a cada dia, vem crescendo, devagar sim, a duras penas, também, mas com dignidade e respeitando todos os componentes de seus terroirs. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Frank:

Tudo começou há 97 anos com seu pai o Sr. Roque de Oliveira Santos que passou todas as suas experiências e habilidades para o Sr. Frank Vicente dos Santos.

No sitio da sua família deu continuidade no parreiral e no cultivo de uvas e se especializou na vitivinicultura que hoje conta com uma experiência de mais de 60 anos.

Casou-se com a Sra. Ferdinanda, uma imigrante italiana que veio para o Brasil na segunda guerra mundial e teve duas filhas onde tocam seus negócios até hoje.

Em 1965 fundou a marca que levaria seu nome, conhecida por VINHOS FRANK, que com muito trabalho, dedicação e amor tornou-se uma marca muito conhecida em todo Brasil por manter suas qualidades desde o primeiro litro de vinho até hoje.

Hoje a marca conta com 07 linhas de produtos, são elas: Tradicional, Bordô, varietais, frisante, espumante, cooler e suco de uva.

Toda sua produção continua sendo supervisionada e orientada pelo Sr. Frank que hoje tem 95 anos de vida e toma seu vinho todos os dias.

A marca "Vinhos Frank” nos meados de 1990 inaugurou seu restaurante que está sendo um dos principais atrativos, contando com um ótimo cardápio, com muitas variedades de pratos, sendo harmonizados com a linha de vinhos FRANK.

Mais informações acesse:

https://www.vinhosfrank.com/

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque







sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Moinho de Sula Reserva Arinto 2017

 

Algumas experiências sensoriais arrebatadoras vem me tomando de assalto nesses últimos tempos. A avalanche de novos rótulos, novas regiões, novas composições de blends e vinhos me levam em uma enxurrada sem deixar precedentes.

E pensar que tudo começa local, um núcleo, um pedaço que se expande e explode em nossas taças. O apelo regionalista que globaliza! Globaliza celebração, a doce degustação que nos faz mais felizes, mais vivos e plenos.

Sempre degustei a casta emblemática, autóctone de Portugal chamada Arinto em blends, cortes, com algum protagonismo, mas nunca a degustei reinando sozinha, um varietal.

Eu estava em uma dessas minhas incursões nos supermercados, a observar alguns achados nas gôndolas e avistei um vinho com nome curioso e até engraçado que me chamou a atenção e a Arinto entoava com seu nome imperioso e altivo. Claro que os meus olhos ávidos de curiosidade conduziu as minhas mãos até aquele rótulo.

Era um vinho da minha “nova região” queridinha chamada Beira Atlântico, onde a Bairrada reina o que já aguçou, ainda mais, a minha curiosidade e analisando com requintes de detalhes constatei que o vinho pertence ao portfólio da gigante Adega de Cantanhede, gigante não apenas pelo fato de ter uma grande participação de mercado pelos seus produtos, mas pela sua representatividade na Bairrada e no Beira Atlântico.

Levei o vinho comigo e até esse presente dia ele descansou na adega aguardando fazer este humilde enófilo um pouco mais feliz. Confesso que me coloquei em estado de preocupação e receio com o seu tempo de vida, com 5 anos de safra e me coloquei a pensar: Será que ainda terá vida nesse vinho?

O dia chegou e a ansiedade também. Será que esse Arinto terá vida após a garrafa? O rompimento da rolha e a garrafa se fizeram, o líquido inundou a taça e dotado de muita importância deste momento eis que o vinho estava maravilhoso.

E no ápice de sua plenitude não posso deixar de dizer que o vinho que degustei e gostei veio, como disse, da região lusitana do Beira Atlântico e se chama Moinho de Sula Reserva e a casta, é claro, é a Arinto (100%) da safra 2017. E já que teci comentários elogiosos da Arinto, falemos com honras dela antes de descrever em todas as suas nuances o vinho e também da região que ela escolheu para brilhar, juntamente com a Bairrada: o Beira Atlântico.

Arinto

Uma das mais clássicas castas brancas portuguesas, a Arinto é originária da região de Bucelas, mas seu cultivo se expandiu para diversas áreas, como a Bairrada e Vinho Verde. Dona de ótima acidez, a uva branca Arinto produz vinhos muito frescos, com atraentes aromas de frutas cítricas.

Os melhores exemplos de vinhos elaborados com a casta ostentam mineralidade e possui fermentação realizada em baixas temperaturas, o que garante a alta qualidade dos vinhos da uva.

Última moda em Portugal, a uva Arinto é combinada com outra cepa, a Sauvignon Blanc, originando excelentes vinhos. Sendo considerada uma das melhores variedades portuguesas, a uva Arinto é utilizada na elaboração de rótulos nobres, inclusive os com maior grau de envelhecimento.

Possuindo maturação tardia, a uva é facilmente reconhecida no vinhedo por suas características estruturais. Com bagos pequenos e cor verde amarelada, a uva Arinto possui difícil vinificação, além de possuir sensibilidade a falta de umidade em solos de cultivo. Seus vinhos possuem ótima acidez e podem ser achados vinificados no estilo varietal e em corte, com as uvas Chardonnay e a casta Verdelho.

Com complexidade e elegância, acredita-se que a uva Arinto foi levada para a região de Bucelas na época das cruzadas, após o retorno de alguns cavalheiros para a região próxima de Lisboa.

Com folhas grandes e cachos bem compactos, as videiras da casta Arinto não suportam temperaturas muito elevadas, sendo cultivada em áreas onde o calor predomina na parte da tarde, com noites bem frescas e manhãs com leve presença de nevoeiros.

Com excelentes rótulos elaborados e produzidos a partir da sua casta, a uva Arinto possui grande popularidade no mundo do vinho, sendo bastante cultuada e apreciada por admiradores.

Uma das principais características da Arinto é sua acidez natural, tanto que os aromas mais associados a variedade são os de maçã verde e limão. Tais vinhos costumam apresentar aromas marcantes, apesar de discretos, e excelente frescor.

Graças a excelente estrutura da uva Arinto, os vinhos adquirem boa capacidade de envelhecimento e, normalmente, apresentam uma personalidade vibrante, ótimo equilíbrio entre a acidez e o teor alcoólico, bem como notável caráter mineral e toque aveludado.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo tendendo para o dourado com um lindo e reluzente brilho envolto em reflexos esverdeados.

No nariz predomina frutas brancas maduras onde se destacam pera, abacaxi, trazendo o discreto toque cítrico, bem como o limão e maçã verde, além de aromas adocicados, talvez mel, com notas tostadas, algo de panificação.

Na boca é harmonioso, fresco, mas estruturado, frutado, mas untuoso, cremoso, com bom volume de boca, elegante e delicado, mas com álcool em evidência mostrando sua potência, mas muito integrado com o conjunto do vinho, com discretos toques dea madeira, devido aos 25% do lote do vinho passar por seis meses em barricas de carvalho e excelente acidez que faz do vinho saboroso. Final persistente e prolongado.

Um vinho pleno, altivo, que mostra toda a sua potência, todas as características de uma casta que é a personificação de Portugal: a Arinto. O apelo regionalista desenha os contornos de uma Portugal que tem no vinho o espelho da sua história e identidade cultural. Um vinho que, apesar dos seus cinco anos de vida ainda mostram vivacidade e personalidade com as frutas brancas maduras, uma boa acidez. Estrutura e frescor flertam juntos e protagonizam as suas mais fiéis características, entregando um vinho versátil, fresco e poderoso. Que venham mais rótulos da rainha branca de Portugal. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/arinto

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/arinto

 

 

 




sábado, 15 de janeiro de 2022

San Valentín Garnacha 2019

 

Sabe aquele conceito de tradição? Pode parecer meio antiquado e ortodoxo demais e claro, sempre fui simpático às novidades, sobretudo no universo do vinho, mas quando falamos de tradição é porque traz confiabilidade, qualidade, a certeza, pelo menos de acordo com as predileções de cada um, de que degustaremos um vinho que expresse absolutamente o terroir daquela região e eu tenho valorizado muito isso nos últimos tempos.

Embora seja pisar em terreno arriscado falar em terroir, um termo tão complexo ainda mais se tratando de um simplório enófilo como eu, é notório que, quando temos o mínimo de capacidade de observação e um pouquinho de “litragem”, conseguimos identificar as características mais marcantes, dada as especificidades de cada casta e vinho, claro, daquela região, daquele país, das suas castas emblemáticas, das suas cepas autóctones.

E falando em castas emblemáticas entramos no campo da tradição. Quando mencionamos a Tempranillo não há como deixar de associá-la a Espanha. De lá vem os grandes exemplares da casta que tem fácil adaptabilidade em outros cantos do mundo, como na Argentina, em Portugal, que é chamada de Tinta Roriz e Aragonez e até mesmo em nossas terras brasileiras.

Mas não podemos deixar da Garnacha! Casta essa capaz de nos entregar tanta versatilidade, complexidade, porém sendo, ao mesmo tempo, tão solar, tão divertida, tendo a fruta como protagonista, a fruta vermelha, a fruta madura.

E não há como não se render aos Garnachas espanhóis! Temos os exemplares franceses, mas os espanhóis são os melhores talvez pelo fato de ser tão versátil e gastronômica, ter tanta personalidade. E não se enganem de que apenas em uma ou outra região você tem ótimos rótulos de casta. Em todas as regiões a Garnacha reina soberanamente em termos de qualidade e rivaliza em iguais condições com a Tempranillo, em minha opinião.

Mais uma vez me ponho a sentir novas experiências com a Garnacha e a tradicional casta uniu-se a tradição de um produtor que ganhou o mundo em qualidade que é a Família Torres e essa junção foi arrebatadora.

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei vindo da região espanhola da Catalunha (DO) que se chama San Valentín Garnacha da safra 2019. Que vinho! Que vinho!! Tive, em um passado não muito distante, uma grata experiência com um rótulo dessa linha da Família Torres chamado San Valentín Tempranillo 2019 e foi igualmente arrebatadora, da região de Castilla La Mancha, outra área espanhola que tenho me divertido muito em degustar vinhos.

Contudo antes de falar do vinho contemos a história da região catalã para a produção de vinhos e um pouco da Garnacha, a artista do espetáculo, e também do Santo Valentim que dá nome ao vinho.

Catalunha

A região da Catalunha, no norte da Espanha, é a área vinícola com maior número de DOs (Denominação de Origem) do país e que foi formalmente reconhecida em 1999 e também salvaguardar a tradição de produção de vinho na Catalunha, tão importante há mais de 2.000 anos. Foi criada também com o propósito específico de fornecer suporte comercial para mais de 200 vinícolas (bodegas), mas que não foram incluídos em outros DOP's específicos na Catalunha.

Entre as mais importantes encontram-se Costers del Segre, Montsant e Penedès, além da reputada DOC Priorato, a segunda mais reconhecida na Espanha. Não tem uma localização geográfica específica, mas é formado por mais de 40 km² de vinhedos individuais que estão dispersos por toda a Catalunha e permite a mistura de uvas de outros DOPs, ou seja, cerca de 4.000 hectares de vinha distribuídos por toda a região. De um modo geral, um clima mediterrâneo domina com muitas horas de sol, mas sem calor excessivo.

Lar do famoso espumante espanhol Cava, a região da Catalunha possui solos chamados de 'licorella' e apresenta um baixo índice pluviométrico, fazendo com que as videiras apresentem baixa produtividade e as uvas tornem-se muito concentradas. Mais precisamente em Penedès Central, na região espanhola de Sant Saurndí d’Anoia, que ocorre a elaboração do Cava, produzido pelo método tradicional com, no mínimo, nove meses de contato com as leveduras. Diferentes uvas podem integrar a composição do vinho Cava, classificando os exemplares entre os estilos branco ou rosado, que também variam em nível de doçura.

Apesar de utilizarem-se métodos de produção similares, o sabor encontrado no Cava é diferente do Champagne, principalmente pela distinção das uvas utilizadas: enquanto um é produzido a partir das uvas Pinot Meunier, Chardonnay e Pinot Noir, o Cava é elaborado com as castas Parellada, Macabeo e Xarel-lo.

Já a região do Priorato é conhecida por ter recebido o título máximo de denominação espanhola, elaborando vinhos com castas autóctones cultivadas na Catalunha. Outra região vinícola importante é Montsant, lar de alguns dos melhores e mais renomados produtores da Espanha e a denominação de origem mais nova da Catalunha, regulamentada somente em 2001.

Catalunha

Porém também abrange vinhos brancos, rosés e tintos, bem como licorosos tradicionais, mistela, vinhos maduros e doces naturais. Em geral, os vinhos são modernos e inovadores, com uma cor atraente, intensidade aromática média e acidez moderada. Os brancos são leves e frutados e os tintos são encorpados e equilibrados. Todos estes vinhos podem ser descobertos e experimentados durante a “Mostra de Vinhos i Caves de Cataluña” que acontece em Barcelona em meados de setembro.

Muitos dos vinhos com a Denominação de Origem da Catalunha são encontrados perto de mosteiros que remontam à Idade Média, como os de Montserrat, Santes Creus, Poblet ou Sant Pere de Rodes. Isso se deve ao fato de que em muitos casos os monges eram aqueles que tinham autorizações régias para produzir vinho. Da mesma forma, os vinhos com esta designação podem ser descobertos visitando as caves onde foram produzidos.

Garnacha

Garnacha, como é conhecida na Espanha, ou Grenache, na França, é ainda a Cannonau – típica na ilha da Sardenha, na Itália. Aliás, em solo italiano, ela ainda recebe outro nome: Tocai Rosso, no Vêneto. Na França, a Garnacha também pode levar o nome da região que primeiro a recebeu quando veio da Espanha, Roussillon.

Há quem acredite que o nome Cannonau tenha sido o primeiro usado para se dirigir à Garnacha, denotando uma possível origem italiana e não espanhola como se supunha até então. No entanto, as referências tanto a uma quanto à outra são muito próximas. Além disso, como a Sardenha foi colônia espanhola de 1479 a 1720 e a primeira menção ao nome Garnacha é de 1513, é de se supor que haja uma relação próxima.

É uma das mais plantadas em todo o mundo, ocupando cerca de 200.000 hectares, sendo 80% deles localizados na França e Espanha, regiões que possuem o maior cultivo da cepa. Se adaptando extremamente bem a regiões que possuam clima quente e seco, a uva Garnacha é utilizada na elaboração de diferentes tipos de vinhos, sendo encontrada em maravilhosos exemplares de vinhos tintos, vinhos roses e até mesmo vinhos de sobremesa.

Por possuir altas taxas de açúcar, os vinhos originados a partir da casta são, na maioria das vezes, exemplares com graduação alcóolica elevada, motivo pelo qual muitas vezes a uva Garnacha é utilizada em vinhos de corte.

Apesar da maior parte das vinhas da uva serem encontradas na França e Espanha, a casta Garnacha é também cultivada nos vinhedos da Itália, México, Estados Unidos, Austrália e Brasil. Com estrutura bem específica, a coloração da uva Garnacha é mais clara do que a habitual encontrada em cepas tintas, além de possuir frutos com pele bem fina.

Os exemplares de vinhos elaborados com a casta Garnacha são excelentes opções para acompanhar momentos gastronômicos, graças a sua riqueza de estilo e versatilidade. Os rótulos roses são perfeitos na companhia de pescados, já os vinhos tintos exaltam a complexidade da uva Garnacha quando acompanhados de frutos do mar ou legumes grelhados.

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo.

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. Naquela época, o Imperador Cláudio II proibiu o casamento porque achava que soldados solteiros eram combatentes melhores.

Mas Valentim realizou muitas uniões clandestinamente. Até que um dia ele foi descoberto, preso e condenado à morte. Mesmo atrás das grades, o bispo recebeu cartas e flores de pessoas que acreditavam no amor e queriam agradecê-lo por realizar seus casamentos. Também foi na prisão que Valentim se apaixonou por uma mulher, mesmo sabendo que jamais ficariam juntos. A moça era cega e filha de um dos carcereiros. Reza a lenda que foi Valentim que, milagrosamente, a fez enxergar novamente.

Antes de sua execução, no dia 14 de fevereiro de 269 d.C., o bispo escreveu uma carta de despedida à sua amada, terminando o texto com a frase: “De seu Valentim”. Mais de 200 anos depois, no ano de 496, o Papa Gelásio declarou Valentim santo, fazendo com que milhões de religiosos recordassem seus feitos. A data de sua morte foi escolhida pela Igreja como Dia dos Namorados para incentivar casais que pretendiam se unir em matrimônio.

Na taça revela um vermelho rubi vivo, intenso, mas com reflexos violáceos reluzentes, brilhantes, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz explodem os aromas de frutas vermelhas e negras e se destacam amora preta, framboesas, cerejas, com notas florais, toques de especiarias, algo talvez como pimenta e um discreto tostado, embora não passe por barricas de carvalho.

Na boca é cheio, saboroso, com bom volume de boca, graças aos 4 meses de maturação sobre as suas borras finas entregando personalidade e média estrutura, porém fácil de degustar, graças ao frutado tão característico da Garnacha. Tem taninos presentes, mas polidos, baixa acidez e um final prolongado de retrogosto frutado.

Um autêntico e verdadeiro exemplar da Garnacha e está personificado neste belíssimo rótulo da Miguel Torres. Os aromas e o palato trazem a sua essência o que há de mais genuíno na cepa produzida em toda a Espanha, trazendo o caráter, a gênese de uma das mais populares e emblemáticas da Espanha. Um exemplo de amor literal a terra, as verdadeiras características dessa cepa e que foi produzido por Miguel Torres Carbó como um presente de dia dos namorados para sua esposa, Margarita Riera, em fevereiro de 1956. A flecha do amor atingiu em cheio o meu humilde coração enófilo. Um vinho altivo, revigorante, jovem, intenso, as frutas no seu ápice, na plenitude de seu momento, mostrando taninos vivos e presentes, acidez equilibrada, revelando frescor. Um vinho de marcante personalidade, mas muito fácil de degustar. Que o amor pelo vinho transmita prazer e momentos de celebração que somente o vinho pode proporcionar! Tem 14,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Família Torres

Sobre a Vinícola Miguel Torres:

A Vinícola Miguel Torres, é uma empresa moderna que está em constante renovação e expansão e que possui vinícolas nas principais regiões produtoras da Espanha: Penedès, Priorato, Rioja, Ribera Del Duero, Rueda, Rías Baixas e Toro. Também possui vinícolas no Chile e nos Estados Unidos (Califórnia).

No Chile, foi a primeira vinícola europeia a se instalar no Vale de Curicó no fim da década de 1970 e por isso liderou a modernização vinícola daquele país. Miguel Torres possui hoje 1.700 hectares de vinhedos na Cataluña e é a maior vinícola do país, entregando ao mercado 35 milhões de litros de vinhos por ano, tendo rótulos como Coronas, Gran Coronas, Sangre de Toro, Viña Sol, um dos mais vendidos e conhecidos. Miguel Agustin Torres, pai de Miguel Torres Maczasseck, formado em enologia na França, começou a trabalhar na empresa em 1961 e assumiu definitivamente o lugar do pai, Miguel Torres Carbó, em 1991.

Representando a quarta geração da família, foi ele quem comandou a ampliação dos negócios na Espanha, há alguns anos, com novas vinhas em Rioja, Ribera del Duero, Rueda e no Priorato, Toro e Jumilla. Além disso, em 1994 comprou a vinícola de Jean Leon, mais em homenagem ao amigo espanhol que fez sucesso com um restaurante em Los Angeles, nos Estados Unidos, com quem mantinha amistosa rivalidade.

Jean Leon foi o primeiro a plantar Cabernet Sauvignon no Penedés, logo seguido por Miguel Torres. Atualmente, a Miguel Torres emprega milhares de trabalhadores, possui vinotecas em Shanghai, Barcelona e Santiago, tem firme atuação nas redes sociais e tem por lema “Cuanto más cuidamos la tierra, mejor vino conseguimos”. Exporta seus vinhos para mais de 150 países e tem um objetivo a ser atingido até 2020: reduzir as emissões de CO2 de cada garrafa produzida a partir de 2008, uma vez que o respeito ao meio ambiente, a ecologia faz parte da estratégia da vinícola Torres no mundo todo.

Mais informações acesse:

https://www.torres.es/es/inicio

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/catalunha

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/grenache-garnacha

“Catalunya.com”: https://www.catalunya.com/do-catalunya-23-1-43?language=en

“Wikipedia”: https://en.wikipedia.org/wiki/Catalunya_(DO)

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/grenache-garnacha-ou-cannonau-conheca-os-diferentes-nomes-dessa-casta_12604.html

“Revista Galileu”: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/02/quem-foi-sao-valentim-o-bispo-inspirou-o-dia-dos-namorados-no-exterior.html

 

 

 




 


sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Viña Albali Garnacha Rosé 2019

 

Mais uma noite de degustação regada a novidades, pelo menos pra mim, é claro. Será a minha primeira degustando um Garnacha Rosé. Degustar uma das castas icônicas da Espanha é sempre um momento sublime, mas agora a degustação será na versão rosé.

Hoje a noite está particularmente agradável, um pouco calorosa para uma noite, mas é verão em terras brasileiras e nada como um rosé, que tem a cara dos trópicos, para harmonizar com esse período do ano.

E também teremos outra novidade: além de ser o meu primeiro rosé da casta Garnacha, será também o primeiro rosé da região de Castilla La Mancha, a terra de Dom Quixote de La Mancha.

Embora seja uma região conhecida na Espanha para a produção de vinhos, considerada a região com a maior vinha do mundo, muitos e muitos litros da bebida sagrada para nós enófilos saem de lá. Há quem diga que essa produção em larga escala impacta negativamente na qualidade do vinho. Olha os poucos rótulos que degustei eu gostei.

Os meus primeiros contatos tem sido satisfatórios, especiais e espero que esse não fuja à regra. E o meu primeiro contato com esse rótulo já foi especial: o preço. Ótimo e atraente valor que justifica e muito o investimento: Abaixo dos R$ 40 para um rosé com a sua proposta descontraída e jovial sempre é válido.

Bem sem mais delongas façamos as devidas apresentações! O vinho que degustei e gostei, como disse, vem da região espanhola de Castilla La Mancha e se chama Viña Albali da casta Garnacha, um rosé da safra 2019. E antes de tecer os comentários que algo posso adiantar, um espetáculo de vinho na sua concepção mais genuína, com muita fruta vermelha, falemos um pouco da região de Castilla La Mancha.

Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos de Vento

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

“Em um lugar em La Mancha, cujo nome eu não quero lembrar, existiu há não muito tempo um cavaleiro, do tipo que mantinha uma lança nunca usada, um escudo velho, um galgo para corridas e um cavalo velho e magro”.

“Dom Quixote de La Mancha ou o Cavaleiro da triste figura” de Miguel de Cervantes.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C. A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça um rosado de média intensidade, com uma cor de casca de cebola, com um reluzente brilhante.

No nariz aromas delicados de frutas vermelhas tais como framboesa, morango e cerejas, com um discreto toque floral.

Na boca é leve, fresco, com as notas de frutas vermelhas como no aspecto olfativo, com uma boa acidez mostrando equilíbrio entre esta e a fruta. Apresenta um teor alcoólico com alguma veemência, atípico para um rosé, tendo um final longo e refrescante.

Dizem que comemos e bebemos com os olhos e é verdade! O Viña Albali Garnacha Rosé já encanta com a sua cor rosada vibrante, quase intensa, com traços brilhantes e envolventes que é um atrativo, um chamariz a degustação. E a confirmação desemboca nos seus aspectos olfativos e gustativos onde a fruta vermelha impera, traz, como carro chefe, o frescor, a leveza e a jovialidade que todo bom rosé deve proporcionar. Mas com tudo isso entrega personalidade, uma expressividade que o toque generoso da fruta traz, entregando ao enófilo toda a forma genuína da Garnacha, frutada e marcante. Mais uma vez a região de Castilla La Mancha me surpreende de forma arrebatadora e singular. Que possamos continuar plenamente na viagem enófila a Castilla La Mancha e que ela seja agradável e de preferência eterna enquanto dure como diz aquela música tupiniquim. Tem teor alcoólico de 12,5%.

Ah e vale como curiosidade: A palavra “Albali” refere-se a uma das mais brilhantes estrelas da constelação de aquário.

Sobre a Bodega Felix Solis:

A Félix Solís Avantis é uma grande empresa espanhola que produz vinhos e espumantes, sangria e suco de uva. Assim sendo, suas principais marcas incluem Vina Albali e Los Molinos.

A princípio, a primeira vinícola da empresa foi aberta em 1975 em Valdepeñas. De fato, continua sendo uma das maiores instalações de vinho de propriedade familiar do mundo, capaz de receber 7,5 milhões de quilos de uvas por dia durante a colheita.

Possui dessa forma uma grande adega de barris de carvalho americano para os vinhos Crianza, Reserva e Gran Reserva. Posteriormente, uma segunda vinícola foi aberta em 2011 em La Puebla de Almoradiel, na região de La Mancha.

Ademais, a empresa expandiu seus interesses para a região de Marlborough, na Nova Zelândia, aonde produz o Sauvignon Blanc do Oceano Antártico. Os vinhos chilenos são produzidos sob as bandeiras Pico Andino e La Piqueta.

Mais informações acesse:

https://www.felixsolis.com/

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/