sábado, 15 de janeiro de 2022

San Valentín Garnacha 2019

 

Sabe aquele conceito de tradição? Pode parecer meio antiquado e ortodoxo demais e claro, sempre fui simpático às novidades, sobretudo no universo do vinho, mas quando falamos de tradição é porque traz confiabilidade, qualidade, a certeza, pelo menos de acordo com as predileções de cada um, de que degustaremos um vinho que expresse absolutamente o terroir daquela região e eu tenho valorizado muito isso nos últimos tempos.

Embora seja pisar em terreno arriscado falar em terroir, um termo tão complexo ainda mais se tratando de um simplório enófilo como eu, é notório que, quando temos o mínimo de capacidade de observação e um pouquinho de “litragem”, conseguimos identificar as características mais marcantes, dada as especificidades de cada casta e vinho, claro, daquela região, daquele país, das suas castas emblemáticas, das suas cepas autóctones.

E falando em castas emblemáticas entramos no campo da tradição. Quando mencionamos a Tempranillo não há como deixar de associá-la a Espanha. De lá vem os grandes exemplares da casta que tem fácil adaptabilidade em outros cantos do mundo, como na Argentina, em Portugal, que é chamada de Tinta Roriz e Aragonez e até mesmo em nossas terras brasileiras.

Mas não podemos deixar da Garnacha! Casta essa capaz de nos entregar tanta versatilidade, complexidade, porém sendo, ao mesmo tempo, tão solar, tão divertida, tendo a fruta como protagonista, a fruta vermelha, a fruta madura.

E não há como não se render aos Garnachas espanhóis! Temos os exemplares franceses, mas os espanhóis são os melhores talvez pelo fato de ser tão versátil e gastronômica, ter tanta personalidade. E não se enganem de que apenas em uma ou outra região você tem ótimos rótulos de casta. Em todas as regiões a Garnacha reina soberanamente em termos de qualidade e rivaliza em iguais condições com a Tempranillo, em minha opinião.

Mais uma vez me ponho a sentir novas experiências com a Garnacha e a tradicional casta uniu-se a tradição de um produtor que ganhou o mundo em qualidade que é a Família Torres e essa junção foi arrebatadora.

Então sem mais delongas apresento o vinho que degustei e gostei vindo da região espanhola da Catalunha (DO) que se chama San Valentín Garnacha da safra 2019. Que vinho! Que vinho!! Tive, em um passado não muito distante, uma grata experiência com um rótulo dessa linha da Família Torres chamado San Valentín Tempranillo 2019 e foi igualmente arrebatadora, da região de Castilla La Mancha, outra área espanhola que tenho me divertido muito em degustar vinhos.

Contudo antes de falar do vinho contemos a história da região catalã para a produção de vinhos e um pouco da Garnacha, a artista do espetáculo, e também do Santo Valentim que dá nome ao vinho.

Catalunha

A região da Catalunha, no norte da Espanha, é a área vinícola com maior número de DOs (Denominação de Origem) do país e que foi formalmente reconhecida em 1999 e também salvaguardar a tradição de produção de vinho na Catalunha, tão importante há mais de 2.000 anos. Foi criada também com o propósito específico de fornecer suporte comercial para mais de 200 vinícolas (bodegas), mas que não foram incluídos em outros DOP's específicos na Catalunha.

Entre as mais importantes encontram-se Costers del Segre, Montsant e Penedès, além da reputada DOC Priorato, a segunda mais reconhecida na Espanha. Não tem uma localização geográfica específica, mas é formado por mais de 40 km² de vinhedos individuais que estão dispersos por toda a Catalunha e permite a mistura de uvas de outros DOPs, ou seja, cerca de 4.000 hectares de vinha distribuídos por toda a região. De um modo geral, um clima mediterrâneo domina com muitas horas de sol, mas sem calor excessivo.

Lar do famoso espumante espanhol Cava, a região da Catalunha possui solos chamados de 'licorella' e apresenta um baixo índice pluviométrico, fazendo com que as videiras apresentem baixa produtividade e as uvas tornem-se muito concentradas. Mais precisamente em Penedès Central, na região espanhola de Sant Saurndí d’Anoia, que ocorre a elaboração do Cava, produzido pelo método tradicional com, no mínimo, nove meses de contato com as leveduras. Diferentes uvas podem integrar a composição do vinho Cava, classificando os exemplares entre os estilos branco ou rosado, que também variam em nível de doçura.

Apesar de utilizarem-se métodos de produção similares, o sabor encontrado no Cava é diferente do Champagne, principalmente pela distinção das uvas utilizadas: enquanto um é produzido a partir das uvas Pinot Meunier, Chardonnay e Pinot Noir, o Cava é elaborado com as castas Parellada, Macabeo e Xarel-lo.

Já a região do Priorato é conhecida por ter recebido o título máximo de denominação espanhola, elaborando vinhos com castas autóctones cultivadas na Catalunha. Outra região vinícola importante é Montsant, lar de alguns dos melhores e mais renomados produtores da Espanha e a denominação de origem mais nova da Catalunha, regulamentada somente em 2001.

Catalunha

Porém também abrange vinhos brancos, rosés e tintos, bem como licorosos tradicionais, mistela, vinhos maduros e doces naturais. Em geral, os vinhos são modernos e inovadores, com uma cor atraente, intensidade aromática média e acidez moderada. Os brancos são leves e frutados e os tintos são encorpados e equilibrados. Todos estes vinhos podem ser descobertos e experimentados durante a “Mostra de Vinhos i Caves de Cataluña” que acontece em Barcelona em meados de setembro.

Muitos dos vinhos com a Denominação de Origem da Catalunha são encontrados perto de mosteiros que remontam à Idade Média, como os de Montserrat, Santes Creus, Poblet ou Sant Pere de Rodes. Isso se deve ao fato de que em muitos casos os monges eram aqueles que tinham autorizações régias para produzir vinho. Da mesma forma, os vinhos com esta designação podem ser descobertos visitando as caves onde foram produzidos.

Garnacha

Garnacha, como é conhecida na Espanha, ou Grenache, na França, é ainda a Cannonau – típica na ilha da Sardenha, na Itália. Aliás, em solo italiano, ela ainda recebe outro nome: Tocai Rosso, no Vêneto. Na França, a Garnacha também pode levar o nome da região que primeiro a recebeu quando veio da Espanha, Roussillon.

Há quem acredite que o nome Cannonau tenha sido o primeiro usado para se dirigir à Garnacha, denotando uma possível origem italiana e não espanhola como se supunha até então. No entanto, as referências tanto a uma quanto à outra são muito próximas. Além disso, como a Sardenha foi colônia espanhola de 1479 a 1720 e a primeira menção ao nome Garnacha é de 1513, é de se supor que haja uma relação próxima.

É uma das mais plantadas em todo o mundo, ocupando cerca de 200.000 hectares, sendo 80% deles localizados na França e Espanha, regiões que possuem o maior cultivo da cepa. Se adaptando extremamente bem a regiões que possuam clima quente e seco, a uva Garnacha é utilizada na elaboração de diferentes tipos de vinhos, sendo encontrada em maravilhosos exemplares de vinhos tintos, vinhos roses e até mesmo vinhos de sobremesa.

Por possuir altas taxas de açúcar, os vinhos originados a partir da casta são, na maioria das vezes, exemplares com graduação alcóolica elevada, motivo pelo qual muitas vezes a uva Garnacha é utilizada em vinhos de corte.

Apesar da maior parte das vinhas da uva serem encontradas na França e Espanha, a casta Garnacha é também cultivada nos vinhedos da Itália, México, Estados Unidos, Austrália e Brasil. Com estrutura bem específica, a coloração da uva Garnacha é mais clara do que a habitual encontrada em cepas tintas, além de possuir frutos com pele bem fina.

Os exemplares de vinhos elaborados com a casta Garnacha são excelentes opções para acompanhar momentos gastronômicos, graças a sua riqueza de estilo e versatilidade. Os rótulos roses são perfeitos na companhia de pescados, já os vinhos tintos exaltam a complexidade da uva Garnacha quando acompanhados de frutos do mar ou legumes grelhados.

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo.

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. Naquela época, o Imperador Cláudio II proibiu o casamento porque achava que soldados solteiros eram combatentes melhores.

Mas Valentim realizou muitas uniões clandestinamente. Até que um dia ele foi descoberto, preso e condenado à morte. Mesmo atrás das grades, o bispo recebeu cartas e flores de pessoas que acreditavam no amor e queriam agradecê-lo por realizar seus casamentos. Também foi na prisão que Valentim se apaixonou por uma mulher, mesmo sabendo que jamais ficariam juntos. A moça era cega e filha de um dos carcereiros. Reza a lenda que foi Valentim que, milagrosamente, a fez enxergar novamente.

Antes de sua execução, no dia 14 de fevereiro de 269 d.C., o bispo escreveu uma carta de despedida à sua amada, terminando o texto com a frase: “De seu Valentim”. Mais de 200 anos depois, no ano de 496, o Papa Gelásio declarou Valentim santo, fazendo com que milhões de religiosos recordassem seus feitos. A data de sua morte foi escolhida pela Igreja como Dia dos Namorados para incentivar casais que pretendiam se unir em matrimônio.

Na taça revela um vermelho rubi vivo, intenso, mas com reflexos violáceos reluzentes, brilhantes, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz explodem os aromas de frutas vermelhas e negras e se destacam amora preta, framboesas, cerejas, com notas florais, toques de especiarias, algo talvez como pimenta e um discreto tostado, embora não passe por barricas de carvalho.

Na boca é cheio, saboroso, com bom volume de boca, graças aos 4 meses de maturação sobre as suas borras finas entregando personalidade e média estrutura, porém fácil de degustar, graças ao frutado tão característico da Garnacha. Tem taninos presentes, mas polidos, baixa acidez e um final prolongado de retrogosto frutado.

Um autêntico e verdadeiro exemplar da Garnacha e está personificado neste belíssimo rótulo da Miguel Torres. Os aromas e o palato trazem a sua essência o que há de mais genuíno na cepa produzida em toda a Espanha, trazendo o caráter, a gênese de uma das mais populares e emblemáticas da Espanha. Um exemplo de amor literal a terra, as verdadeiras características dessa cepa e que foi produzido por Miguel Torres Carbó como um presente de dia dos namorados para sua esposa, Margarita Riera, em fevereiro de 1956. A flecha do amor atingiu em cheio o meu humilde coração enófilo. Um vinho altivo, revigorante, jovem, intenso, as frutas no seu ápice, na plenitude de seu momento, mostrando taninos vivos e presentes, acidez equilibrada, revelando frescor. Um vinho de marcante personalidade, mas muito fácil de degustar. Que o amor pelo vinho transmita prazer e momentos de celebração que somente o vinho pode proporcionar! Tem 14,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Família Torres

Sobre a Vinícola Miguel Torres:

A Vinícola Miguel Torres, é uma empresa moderna que está em constante renovação e expansão e que possui vinícolas nas principais regiões produtoras da Espanha: Penedès, Priorato, Rioja, Ribera Del Duero, Rueda, Rías Baixas e Toro. Também possui vinícolas no Chile e nos Estados Unidos (Califórnia).

No Chile, foi a primeira vinícola europeia a se instalar no Vale de Curicó no fim da década de 1970 e por isso liderou a modernização vinícola daquele país. Miguel Torres possui hoje 1.700 hectares de vinhedos na Cataluña e é a maior vinícola do país, entregando ao mercado 35 milhões de litros de vinhos por ano, tendo rótulos como Coronas, Gran Coronas, Sangre de Toro, Viña Sol, um dos mais vendidos e conhecidos. Miguel Agustin Torres, pai de Miguel Torres Maczasseck, formado em enologia na França, começou a trabalhar na empresa em 1961 e assumiu definitivamente o lugar do pai, Miguel Torres Carbó, em 1991.

Representando a quarta geração da família, foi ele quem comandou a ampliação dos negócios na Espanha, há alguns anos, com novas vinhas em Rioja, Ribera del Duero, Rueda e no Priorato, Toro e Jumilla. Além disso, em 1994 comprou a vinícola de Jean Leon, mais em homenagem ao amigo espanhol que fez sucesso com um restaurante em Los Angeles, nos Estados Unidos, com quem mantinha amistosa rivalidade.

Jean Leon foi o primeiro a plantar Cabernet Sauvignon no Penedés, logo seguido por Miguel Torres. Atualmente, a Miguel Torres emprega milhares de trabalhadores, possui vinotecas em Shanghai, Barcelona e Santiago, tem firme atuação nas redes sociais e tem por lema “Cuanto más cuidamos la tierra, mejor vino conseguimos”. Exporta seus vinhos para mais de 150 países e tem um objetivo a ser atingido até 2020: reduzir as emissões de CO2 de cada garrafa produzida a partir de 2008, uma vez que o respeito ao meio ambiente, a ecologia faz parte da estratégia da vinícola Torres no mundo todo.

Mais informações acesse:

https://www.torres.es/es/inicio

Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/regiao/catalunha

https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/grenache-garnacha

“Catalunya.com”: https://www.catalunya.com/do-catalunya-23-1-43?language=en

“Wikipedia”: https://en.wikipedia.org/wiki/Catalunya_(DO)

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/grenache-garnacha-ou-cannonau-conheca-os-diferentes-nomes-dessa-casta_12604.html

“Revista Galileu”: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/02/quem-foi-sao-valentim-o-bispo-inspirou-o-dia-dos-namorados-no-exterior.html

 

 

 




 


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