sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Moinho de Sula Reserva Arinto 2017

 

Algumas experiências sensoriais arrebatadoras vem me tomando de assalto nesses últimos tempos. A avalanche de novos rótulos, novas regiões, novas composições de blends e vinhos me levam em uma enxurrada sem deixar precedentes.

E pensar que tudo começa local, um núcleo, um pedaço que se expande e explode em nossas taças. O apelo regionalista que globaliza! Globaliza celebração, a doce degustação que nos faz mais felizes, mais vivos e plenos.

Sempre degustei a casta emblemática, autóctone de Portugal chamada Arinto em blends, cortes, com algum protagonismo, mas nunca a degustei reinando sozinha, um varietal.

Eu estava em uma dessas minhas incursões nos supermercados, a observar alguns achados nas gôndolas e avistei um vinho com nome curioso e até engraçado que me chamou a atenção e a Arinto entoava com seu nome imperioso e altivo. Claro que os meus olhos ávidos de curiosidade conduziu as minhas mãos até aquele rótulo.

Era um vinho da minha “nova região” queridinha chamada Beira Atlântico, onde a Bairrada reina o que já aguçou, ainda mais, a minha curiosidade e analisando com requintes de detalhes constatei que o vinho pertence ao portfólio da gigante Adega de Cantanhede, gigante não apenas pelo fato de ter uma grande participação de mercado pelos seus produtos, mas pela sua representatividade na Bairrada e no Beira Atlântico.

Levei o vinho comigo e até esse presente dia ele descansou na adega aguardando fazer este humilde enófilo um pouco mais feliz. Confesso que me coloquei em estado de preocupação e receio com o seu tempo de vida, com 5 anos de safra e me coloquei a pensar: Será que ainda terá vida nesse vinho?

O dia chegou e a ansiedade também. Será que esse Arinto terá vida após a garrafa? O rompimento da rolha e a garrafa se fizeram, o líquido inundou a taça e dotado de muita importância deste momento eis que o vinho estava maravilhoso.

E no ápice de sua plenitude não posso deixar de dizer que o vinho que degustei e gostei veio, como disse, da região lusitana do Beira Atlântico e se chama Moinho de Sula Reserva e a casta, é claro, é a Arinto (100%) da safra 2017. E já que teci comentários elogiosos da Arinto, falemos com honras dela antes de descrever em todas as suas nuances o vinho e também da região que ela escolheu para brilhar, juntamente com a Bairrada: o Beira Atlântico.

Arinto

Uma das mais clássicas castas brancas portuguesas, a Arinto é originária da região de Bucelas, mas seu cultivo se expandiu para diversas áreas, como a Bairrada e Vinho Verde. Dona de ótima acidez, a uva branca Arinto produz vinhos muito frescos, com atraentes aromas de frutas cítricas.

Os melhores exemplos de vinhos elaborados com a casta ostentam mineralidade e possui fermentação realizada em baixas temperaturas, o que garante a alta qualidade dos vinhos da uva.

Última moda em Portugal, a uva Arinto é combinada com outra cepa, a Sauvignon Blanc, originando excelentes vinhos. Sendo considerada uma das melhores variedades portuguesas, a uva Arinto é utilizada na elaboração de rótulos nobres, inclusive os com maior grau de envelhecimento.

Possuindo maturação tardia, a uva é facilmente reconhecida no vinhedo por suas características estruturais. Com bagos pequenos e cor verde amarelada, a uva Arinto possui difícil vinificação, além de possuir sensibilidade a falta de umidade em solos de cultivo. Seus vinhos possuem ótima acidez e podem ser achados vinificados no estilo varietal e em corte, com as uvas Chardonnay e a casta Verdelho.

Com complexidade e elegância, acredita-se que a uva Arinto foi levada para a região de Bucelas na época das cruzadas, após o retorno de alguns cavalheiros para a região próxima de Lisboa.

Com folhas grandes e cachos bem compactos, as videiras da casta Arinto não suportam temperaturas muito elevadas, sendo cultivada em áreas onde o calor predomina na parte da tarde, com noites bem frescas e manhãs com leve presença de nevoeiros.

Com excelentes rótulos elaborados e produzidos a partir da sua casta, a uva Arinto possui grande popularidade no mundo do vinho, sendo bastante cultuada e apreciada por admiradores.

Uma das principais características da Arinto é sua acidez natural, tanto que os aromas mais associados a variedade são os de maçã verde e limão. Tais vinhos costumam apresentar aromas marcantes, apesar de discretos, e excelente frescor.

Graças a excelente estrutura da uva Arinto, os vinhos adquirem boa capacidade de envelhecimento e, normalmente, apresentam uma personalidade vibrante, ótimo equilíbrio entre a acidez e o teor alcoólico, bem como notável caráter mineral e toque aveludado.

Beira Atlântico

A produção de vinho na região remonta ao tempo dos romanos, fazendo disso prova os diversos lagares talhados nas rochas graníticas (lagares antropomórficos), onde na época o vinho era produzido. Já nos reinados de D. João I e de D. João III, respectivamente, foram tomadas medidas de proteção para os vinhos desta área do país, dadas a sua qualidade e importância social e econômica.

A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques, que autorizou a plantação das vinhas na região, com a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Estendendo-se desde o Minho ate a Alta Estremadura, e uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural, de pequena propriedade, aonde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos seus vinhos justifica o reconhecimento da DOC "Bairrada".

Beira Atlântico

Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres que variam de arenosos a argilosos, encontrando-se também, com frequência, franco-arenosos. A vinha e cultivada predominantemente em solos de natureza argilosa e argilo-calcaria. Os Invernos são longos e frescos e os Verões quentes, amenizados por ventos de Oeste e de Noroeste, que com maior frequenta e intensidade se faz sentir nas regiões mais próximas do mar.

A região da Bairrada situa-se entre Agueda e Coimbra, delimitada a Norte pelo rio Vouga, a Sul pelo rio Mondego, a Leste pelas serras do Caramulo e Bucaco e a Oeste pelo oceano Atlântico. E uma região de orografia maioritariamente plana, com vinhas que raramente ultrapassam os 120 metros de altitude, que, devido a sua planura e a proximidade do oceano, goza de um clima temperado por uma fortíssima influencia atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias comedidas. Os solos dividem-se preponderantemente entre os terrenos argilo-calcários e as longas faixas arenosas, consagrando estilos bem diversos consoantes à predominância de cada elemento.

Integrada numa faixa litoral submetida a uma fortíssima densidade populacional, a propriedade rural encontra-se dividida em milhares de pequenas parcelas, com dimensões medias de exploração que raramente ultrapassam um hectare de vinha, favorecendo a presença de grandes adegas cooperativas e de grandes empresas vinificadoras, a par de um conjunto de produtores engarrafadores que muito dignificam a região.

As fronteiras oficiais da Bairrada foram estabelecidas em 1867, por Antônio Augusto de Aguiar, tendo sido das primeiras regiões nacionais a adoptar e a explorar os vinhos espumantes, uma vez que na região, o clima fresco, úmido e de forte ascendência marítima favorece a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a elaboração dos vinhos espumantes.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um amarelo tendendo para o dourado com um lindo e reluzente brilho envolto em reflexos esverdeados.

No nariz predomina frutas brancas maduras onde se destacam pera, abacaxi, trazendo o discreto toque cítrico, bem como o limão e maçã verde, além de aromas adocicados, talvez mel, com notas tostadas, algo de panificação.

Na boca é harmonioso, fresco, mas estruturado, frutado, mas untuoso, cremoso, com bom volume de boca, elegante e delicado, mas com álcool em evidência mostrando sua potência, mas muito integrado com o conjunto do vinho, com discretos toques dea madeira, devido aos 25% do lote do vinho passar por seis meses em barricas de carvalho e excelente acidez que faz do vinho saboroso. Final persistente e prolongado.

Um vinho pleno, altivo, que mostra toda a sua potência, todas as características de uma casta que é a personificação de Portugal: a Arinto. O apelo regionalista desenha os contornos de uma Portugal que tem no vinho o espelho da sua história e identidade cultural. Um vinho que, apesar dos seus cinco anos de vida ainda mostram vivacidade e personalidade com as frutas brancas maduras, uma boa acidez. Estrutura e frescor flertam juntos e protagonizam as suas mais fiéis características, entregando um vinho versátil, fresco e poderoso. Que venham mais rótulos da rainha branca de Portugal. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. Sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/tipo-de-uva/arinto

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/arinto

 

 

 




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