A França sempre foi conhecida pela sua vinicultura, sobretudo
em regiões como Bordeaux, por exemplo. Sempre foi considerada pelos seus vinhos
austeros, sisudos e caros, muito caros! O valor alto era a certeza, embora essa
questão seja subjetiva, de que o vinho tinha qualidade. Pelo menos aqueles com
“três dígitos”. Ao longo do tempo, talvez por conta desses absurdos quesitos,
tive dificuldade de escolher e degustar os vinhos franceses, afinal não tinha
condições de me adequar a preços com três dígitos, a valores altos. E por muito
tempo minha expectativa de degustar os franceses ficava cada vez mais distante
e isso perdurou por um longo tempo. Mas quando passei a ler um pouco mais sobre
vinhos, pesquisando novas ou desconhecidas regiões, aquelas ditas “alternativas”
e principalmente diversifiquei meus pontos de compra de vinhos comecei a
perceber que há sim vinhos franceses mais acessíveis, monetariamente falando,
bem como regiões, embora pouco mencionadas, que pudessem entregar
surpreendentes vinhos. Foi mais ou menos assim que descobri a região de
Languedoc-Roussillon. E quando degustei o meu primeiro rótulo dessa região, o
Le Petit Cochonet da casta Sauvignon Blanc eu não o escolhi por ser
necessariamente desta região, embora eu soubesse de onde este vinho tenha
vindo. Lembro-me o que me chamou a atenção neste vinho foram alguns comentários
elogiosos acerca do mesmo e o consequente valor bem atrativo. Quando o degustei
foi como um mundo novo surgindo diante dos meus olhos. É possível degustar
vinhos franceses a um preço baixo! E assim o foi também com este rótulo, agora
um tinto. Eu precisava degustar outro novo vinho do Languedoc-Roussillon.
O vinho que degustei e gostei, como já não é novidade, vem do
Languedoc-Rousillon e se chama Roche Mazet da casta Cabernet Sauvignon (100%),
da safra 2017. Trata-se de um IGP (Indication Géographique Protégée que em
tradução literal significa: Indicação Geográfica Protegida) e também um “Pays
D’Oc”. Mas, antes de falar sobre o vinho, seria interessante falar sobre esses
termos: “IGP” e “Pays D’Oc”. O que significam e o que isso influencia no vinho
que nós degustamos?
IGP (Indication Géographique Protégée), o antigo “Vin de
Pays”
O Vin de Pays significa “Vinho Regional”. Para nós
brasileiros seria algo como “vinho do interior” ou “country wine” para os
americanos. O Vin de Pays tem uma liberdade maior na hora da produção, ainda
que submetidos a rigorosas regras. Esses vinhos não foram produzidas conforme a
classificação AOC, que veremos adiante. Nessa categoria, podemos ter vinhos com
nome do tipo de uva, como acontece no Brasil, Argentina e Chile. O Vin de Pays
pode ter no rótulo “Cabernet Sauvignon”, já um AOC, não. É uma chance de o
mercado francês competir melhor com os vinhos do “Novo Mundo”. É importante
frisar que nem sempre o Vin de Pays indica qualidade inferior ao AOC. Muitas
vezes o Vin de Pays é caro e de qualidade extrema, inclusive, pode ser
produzido com o resto da produção de uvas que irão para o AOC. O Vin de Pays, a
partir de 2009, foi substituído pelo IGP – Indication Géographique Protégée. O
mesmo acontece aqui. Por motivos estratégicos, as vinícolas não usarão o IGP
por um bom tempo. Essa mudança será introduzida aos poucos. Mas se você
encontrar um IGP saiba que significa o mesmo que Vin de Pays.
“Pays D’Oc” ou simplesmente os vinhos do Languedoc-Roussillon
Com vinhedos cultivados desde o ano 125 a.C.,
Languedoc-Roussillon é uma das regiões vinícolas mais importantes da França,
responsável por ¼ de todo o vinho produzido no país. Na opinião de vários
autores, como a inglesa Jancis Robinson, a região origina algumas das melhores
relações qualidade e preço de toda a França. Boa parte da produção é dedicada
aos famosos e saborosos “Vin de Pays d’Oc”, contando ainda com importantes AOC
(Apelação de Origem Controlada) como Minervois, Fitou, Corbières e Coteaux du
Langedoc. Quando elaborados pelos melhores produtores, são vinhos cheios de
fruta e sabor, com boa complexidade, corpo e um delicioso acento regional,
perfeitos para acompanhar as refeições. Languedoc-Roussillon é uma vasta área
vitivinícola, que traz um acentuado toque mediterrâneo e um rico histórico de
cultivo de vinhas e produção de vinhos, um ciclo que teve início há mais de
2.000 anos com as colônias gregas e romanas.
Languedoc-Roussillon
Um cauteloso processo de subdivisão de Languedoc-Roussillon
em terroirs reconhecidamente distintos está em andamento há alguns anos,
originando as apelações Clairette du Languedoc, La Clape, Picpoul de Pinet,
entre outras. Algumas encontram-se bem estabelecidas, com anos de certificação,
outras estão conquistando aos poucos seu espaço perante o mundo do vinho. Com
um solo bastante fértil, as uvas tintas encontradas com maior facilidade na
região francesa são a Syrah, Grenache, Cinsault, Carignan, Merlot e Cabernet
Sauvignon. Entre as variedades brancas, encontram-se Rolle, Clairette, Terret,
Boubolenc, Muscat, Maccabéo, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Picpoul, Marsanne e
Viognier. A diversidade de vinhos encontrada na região francesa é imensa. Os
exemplares tintos vãos desde os frutados até os encorpados, e estão sendo cada
vez mais produzidos com sucesso. Os vinhos brancos podem ser mais complexos ou
nítidos, variando entre os doces e oxidados até leves e secos.
Languedoc-Roussillon produz também magníficos vinhos de sobremesa e espumantes
de muito prestígio; seus rosés são intensos, pálidos e muito perfumados. A
tradição de Languedoc-Roussillon estende-se por anos, e a região é dona de
constante evolução e muita variedade. A região tornou-se uma respeitada
produtora, dando origem a vinhos de qualidade e prestígio perante todo o mundo.
Atualmente o Languedoc vem se tornando tão excitantes para vinhos tintos
robustos e frutados a preços convidativos. De trinta anos para cá vinicultores
pioneiros ajudaram a elevar a qualidade para novos níveis. As uvas Syrah,
Grenache e Mourvèdre ocuparam o lugar da Carignan e a procura pela qualidade
reduziu a primazia dos vinhos populares. No período de 1982 a 1993, sub-regiões
como Faugères, Minervois e Limoux enquadram-se como Denominação de Origem
Controlada. Corbières, o vinhedo mais amplo da França Meridional, corre atrás
com tintos apimentados da Grenache.
E agora o vinho!
Na taça tem um vermelho rubi intenso, com bordas violáceas e
lágrimas finas e em profusão, que teimam em desenhar as paredes do copo.
No nariz traz notas de frutas vermelhas que explodem nas
narinas de forma exuberante, como amora, cereja, além de um discreto e
agradável toque de baunilha e especiarias, algo como pimentão.
Na boca é sedoso, elegante, de corpo leve para médio, fácil
de degustar, mas complexo, ao mesmo tempo, com a presença marcante das frutas
vermelhas e especiarias, com o toque da madeira na medida ideal privilegiando
as características da cepa. O produtor não informa o tempo de passagem por
barrica de carvalho, mas acredito que tenha em torno de 4 a 6 meses de passagem
por madeira. Tem taninos domados e acidez correta, na medida e um final frutado e levemente amadeirado.
Um vinho moderno, com uma nova cara, sem virar as costas para
a essência dos vinhos franceses. É assim que defino o Roche Mazet Cabernet
Sauvignon. Termos como elegância, equilíbrio e harmonia sintetizam esse vinho,
aliada a personalidade marcante típica da Cabernet Sauvignon. Maciez, elegância
e personalidade, se entrelaçam em uma sinergia maravilhosa que se traduz nesse
belíssimo Cabernet Sauvignon. Notas de frutas trazem o frescor e a descontração
e a passagem por madeira te convida para viajar em uma grata complexidade deste
vinho que expressa o que há de melhor no Languedoc-Roussillon. A propósito o
nome “Roche Mazet” é uma homenagem às características e a tipicidade da região:
“Roche” é a palavra francesa para “rocha” em referência aos solos calcários argilosos
da região de Pays d'Oc. “Mazet” é um abrigo de pedra para agricultores,
viticultores e criadores, simbolizando uma pessoa no meio das vinhas. O vinho
tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Roche Mazet:
Fundada em 1998 dentro da Société des Vins de France, a única
ambição da Roche Mazet é comercializar um vinho Pays d'Oc bem feito e
acessível. A marca foi lançada em 1998 com uma pequena gama de duas variedades:
Cabernet Sauvignon e Sauvignon. A gama cresceu, acrescentando novas castas e
diferentes formatos. Hoje, a Roche Mazet oferece 7 variedades de vinhos
tranquilos e 3 espumantes.
Sobre a Maison Castel:
O Grupo Castel, que é proprietário da vinícola Roche Mazet,
foi fundado no ano de 1949 pela família que sempre teve o objetivo de
satisfazer os seus clientes e consumidores, oferecendo qualidade a preços bons.
Com entusiasmo, paixão, vontade e pragmatismo, a propriedade desde o início
aprecia os valores histórico, geográfico e cultural que estão relacionados ao
vinho. Com algumas dezenas de hectares repletos de vinhedos de castas
autóctones, como Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, a vinícola sempre
escolheu o caminho da aliança entre a tradição e a modernidade. Atualmente o
Grupo Castel é um dos mais importantes produtores de vinhos franceses e exporta
seus exemplares para diversos países de todo o mundo.
Mais informações acesse:
Fontes de pesquisa sobre a região do Languedoc-Roussillon e
IGP (Indication Géographique Protégée):