Há pouco tempo atrás eu dizia, ou melhor, textualizava em
minhas resenhas neste humilde blog, que castas como a Riesling estaria muito
distante das minhas pretensões de degustação. Sempre ouvi e li que ela ganhou
popularidade e credibilidade em terras germânicas, o que reforçava o meu
pessimista comentário acerca da degustação da Riesling. Afinal se fortalecia
com os poucos rótulos ofertados aqui no Brasil de Riesling alemães com os
valores estratosféricos! Demais para um pobre assalariado da classe operariada.
Mas eis que o dia chegou e da forma mais despretensiosa
possível. Simplesmente não estava no roteiro degustar um Riesling alemão. E
essa degustação fora na casa de um grande amigo, de longa data, mas cuja
confraria é nova, embrionária. Ele comentara comigo, dias antes do encontro,
que ganhara de um amigo, um rótulo de um Riesling alemão, mas que não estaria
no rol de degustação daquele encontro.
Mas não me pergunte o motivo pelo qual o vinho entrou nas
pretensões das nossas degustações, o fato é que o vinho já estava sendo aberto
e inundando as nossas taças. Talvez a conversa, o momento, de pura celebração,
estava no ápice, tão bom, que merecia aquela degustação, afinal vinho, como
sempre costumo dizer, é celebração.
O vinho estava maravilhoso! Sempre me lembrarei dele, deste
rótulo, o meu primeiro Riesling, o meu primeiro Riesling alemão! O Rebgarten Riesling 2018 definitivamente entrará para a minha história!
E um vinho de ótimo custo X benefício! E falando de um
Riesling alemão de ótimo custo x benefício, pensaram que eu fosse ficar por
aqui, apenas por um? Não poderia! A minha humilde e simplória adega estava abrilhantada
com outro Riesling alemão! Sim! Atrevo a me dizer que eu tinha adquirido um
Riesling alemão antes do meu grande amigo ter sido presenteado com o dele ou
talvez a minha compra tenha sido quase ao mesmo tempo em que ele ganhara o seu
rótulo.
O fato é que foi chegado o momento, quase um ano após a minha
primeira degustação do Riesling germânico, de abrir o meu, de espantar a poeira
que o envolvia e inundar o copo de alegria vínica! O vinho que degustei e
gostei veio da famosa região alemã de Rheinhessen e se chama Max Mann da casta,
claro, Riesling, da safra 2018. Antes de falar do vinho, vamos de história,
vamos falar da região de maior produção de vinhos da Alemanha e que produz mais
de 70% de vinhos brancos. Falemos de Rheinhessen e também da classificação dos
vinhos alemães que é essencial para entender cada proposta de rótulo degustado.
Rheinhessen
A região vinícola de Rheinhessen, com 26.578 hectares de
vinhedos, é considerada a maior região vinícola da Alemanha. Encontra-se
totalmente na margem esquerda do Reno e, portanto, no estado federal da Renânia-Palatinado.
Um quinto da região da Renânia-Palatinado de Rheinhessen, que também é a região
menos arborizada da Alemanha, é plantado com videiras. Mais de 6.000 produtores
de vinho produzem mais de 2,5 milhões de hectolitros de vinho por ano, com uma
produção de cerca de 120 milhões de vinhas. Dos 136 municípios de Rheinhessen,
apenas Budenheim, Hochborn, Eich, Hamm e Nieder-Wiesen não cultivam vinho em
sua própria área.
Embora as vinhas sejam virtualmente uma monocultura no
Rheingau ou ao longo do Mosel, elas são apenas uma das muitas culturas que
compartilham os solos férteis das vastas fazendas desta região. O vinho é
cultivado na margem esquerda do Reno, desde os romanos, e o documento mais antigo
sobre a localização de um vinhedo alemão - o Niersteiner Glöck - diz respeito a
uma vinícola em Rheinhessen.
E ainda falando em história, antes da Primeira Guerra
Mundial, os vinhos de Rheinhessen vinham de Rheinhessen e alcançavam os
melhores preços em leilões internacionais. Em um dos primeiros leilões após a
Segunda Guerra Mundial em julho de 1949 em Londres (Beaver Hall), os primeiros
sucessos com os melhores vinhos alemães foram alcançados, incluindo o
Liebfrauenmilch Auslese de 1929 e o Liebfrauenmilch Superior de 1934. O
Niersteiner Riesling z. B. gozava de uma reputação lendária. Em meados do
século XX, porém, houve uma fase em que se deu demasiada atenção à quantidade,
o que prejudicou para sempre a reputação do vinho de Rheinhessen. Neste contexto,
o Liebfrauenmilch da grande área com o mesmo nome foi mencionado várias vezes.
No final do século 20, no entanto, um repensar começou. É graças a uma nova geração de enólogos que o vinho de Rheinhessen está novamente gozando de boa reputação. As vinícolas de Rheinhessen estão entre as mais bem decoradas, e renomados críticos de vinho e guias de vinhos também enfatizam a qualidade dos vinhos. Normalmente é Riesling ou Silvaner, mas alguns vinhos tintos também são elogiados.
E esse “boom” do vinho tinto, tem sido apoiado principalmente
pela variedade de uva Dornfelder. A área de superfície para variedades
vermelhas mais do que dobrou em uma década e agora um terço dos vinhedos de
Rhinehessen são plantados com uvas tintas.
E falando em variedades de uvas em Rheinhessen 72% dos
vinhedos de Rheinhessen são plantados com variedades de uvas brancas. O vinho
tinto é cultivado extensivamente na área ao redor de Ingelheim e em
Wonnegau. Riesling (27,6%) e
Müller-Thurgau (aprox. 11,3%) dominam a gama de vinhos brancos. Além disso,
Dornfelder (10,8%), Silvaner (4,4%), Portugieser (3,8%), Pinot Noir ( 6,6%),
Pinot Gris (6,7%), Pinot Blanc (5,4%) e Kerner (2,7%) são cultivados. O
Scheurebe, que costumava ser popular devido à sua gama de aromas, está cada vez
mais sendo substituído pelo Sauvignon Blanc.
O cultivo de Riesling está concentrado no Reno ao redor das
cidades de Nackenheim, Nierstein e Oppenheim. O cultivo é favorecido por
temperaturas amenas, muito sol e pouca chuva.
Os viticultores de Rheinhessen produzem vinhos modernos e
simples, bem como produtos de alta qualidade. A Selection Rheinhessen existe
desde a década de 1990 - uma classe ambiciosa de vinhos finos e secos. Esta
iniciativa visa promover vinhos autênticos ao mais alto nível. Os vinicultores
de Rheinhessen também são especialistas em vinhos espumantes. Eles lançaram o
primeiro vinho espumante do mercado há 25 anos e nos últimos anos uma notável
cultura do vinho espumante se desenvolveu na região nos últimos anos.
Nomenclatura e definições dos vinhos alemães
O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais.
O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.
Deutscher Wein
São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos
podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.
Landwein
Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples,
quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de
outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de
regiões reconhecidas pela categoria.
Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA)
É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam
ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem
ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas
específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os
rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:
Trocken: vinho seco.
Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.
Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes
ao Halbtrocken.
Liebliche: vinho doce.
Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma
subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma
Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou
aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa
categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.
Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein
As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de
uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região
precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de
maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns
atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de
colheita:
Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras.
Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.
Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em
um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com
intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.
Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos
selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no
paladar. A doçura no paladar não é uma regra.
Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém
colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta
concentração.
Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas
por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo
características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.
Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por
Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas
apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um lindo e brilhante amarelo palha com alguns
reflexos esverdeados, com discreta manifestação de finas lágrimas.
No nariz traz aromas de frutas brancas, frutas silvestres e
amarelas, onde se destacam pêssego, damasco, pera, melão, maçã-verde, com
delicadas notas florais, de flores brancas, um tom de mineralidade que o torna
fresco e jovial.
Na boca é razoavelmente seco, mas traz um delicado adocicado
que me remete a mel, mas sem soar enjoativo. É equilibrado, saboroso, elegante,
porém com um belo volume de boca, com certa cremosidade, acidez equilibrada,
que estimula à gastronomia e um final longo, prolongado.
O terroir alemão, a cultura alemã vai se chegando aos poucos à minha realidade enófila. Rótulo por rótulo, vou me familiarizando, cada sabor, cada aroma, cada característica vai se construindo de forma interessante, as experiências sensoriais traz o prazer, a alegria, a celebração de degustar um vinho alemão, personificando em sua milenar história, de produtores que amam o vinho e os sintetizam em sua cultura. Max Mann entrega todas as características, as mais marcantes dessa nova queridinha casta, a Riesling. Leve, mas marcante, delicado, mas que impacta positivamente ao paladar, ao olfato. Hoje posso dizer que decisivamente a Riesling está no meu rol das preferidas castas brancas. Que venham mais e mais Rieslings e que possamos, mais e mais, viajar, por intermédio dos vinhos, aos solos férteis da velha Alemanha. Tem 11,5% de teor alcoólico.
Sobre a Moselland eG:
Dificuldades econômicas como uma história de sucesso
Às vezes, é a necessidade que torna as pessoas criativas e,
portanto, se torna a base de uma história de sucesso específica. Foram as
dificuldades econômicas que levaram os viticultores de Moselle há mais de cem
anos, inicialmente em associações menores e depois em cooperativas de
viticultores.
Associação de cooperativas regionais
Em 1968, as cooperativas de viticultores regionais de Ernst e
Wehlen e a vinícola principal de Koblenz se fundiram para se comprometerem
conjuntamente com vinhos e vinicultores regionais no futuro e para combinar
suas próprias tradições com as inovações necessárias. Em 1969, o Saar
Winzerverein de Wiltingen seguiu a fusão e o Moselland eG foi criado, com sede
em Bernkastel-Kues - uma garantia de alta qualidade consistente por décadas.
Motivo suficiente para muitos vinicultores do Nahe aderirem ao conceito de
sucesso em 2000.
Colaborações voltadas para o futuro
Desde 2004, Moselland eG tem cooperado com a cooperativa
vinícola de Nierstein (Rheinhessen) e a cooperativa vinícola regional de
Rietburg. Este último resultou na fusão com a cooperativa Palatinate em 2011.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinho sem Segredo”: https://vinhosemsegredo.com/2011/05/02/nomenclatura-do-vinho-alemao-i/
“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/dicas/como-ler-rotulos-alemanha/
“Wikipedia”: https://newmascotcostumessupply.com/ru-dept/wiki/Rheinhessen_%28Weinanbaugebiet%29#%C3%9Cberblick
“German
Wines”: https://www.germanwines.de/tourism/wine-growing-regions/rheinhessen/