segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Max Mann Riesling 2018

 

Há pouco tempo atrás eu dizia, ou melhor, textualizava em minhas resenhas neste humilde blog, que castas como a Riesling estaria muito distante das minhas pretensões de degustação. Sempre ouvi e li que ela ganhou popularidade e credibilidade em terras germânicas, o que reforçava o meu pessimista comentário acerca da degustação da Riesling. Afinal se fortalecia com os poucos rótulos ofertados aqui no Brasil de Riesling alemães com os valores estratosféricos! Demais para um pobre assalariado da classe operariada.

Mas eis que o dia chegou e da forma mais despretensiosa possível. Simplesmente não estava no roteiro degustar um Riesling alemão. E essa degustação fora na casa de um grande amigo, de longa data, mas cuja confraria é nova, embrionária. Ele comentara comigo, dias antes do encontro, que ganhara de um amigo, um rótulo de um Riesling alemão, mas que não estaria no rol de degustação daquele encontro.

Mas não me pergunte o motivo pelo qual o vinho entrou nas pretensões das nossas degustações, o fato é que o vinho já estava sendo aberto e inundando as nossas taças. Talvez a conversa, o momento, de pura celebração, estava no ápice, tão bom, que merecia aquela degustação, afinal vinho, como sempre costumo dizer, é celebração.

O vinho estava maravilhoso! Sempre me lembrarei dele, deste rótulo, o meu primeiro Riesling, o meu primeiro Riesling alemão! O Rebgarten Riesling 2018 definitivamente entrará para a minha história!

E um vinho de ótimo custo X benefício! E falando de um Riesling alemão de ótimo custo x benefício, pensaram que eu fosse ficar por aqui, apenas por um? Não poderia! A minha humilde e simplória adega estava abrilhantada com outro Riesling alemão! Sim! Atrevo a me dizer que eu tinha adquirido um Riesling alemão antes do meu grande amigo ter sido presenteado com o dele ou talvez a minha compra tenha sido quase ao mesmo tempo em que ele ganhara o seu rótulo.

O fato é que foi chegado o momento, quase um ano após a minha primeira degustação do Riesling germânico, de abrir o meu, de espantar a poeira que o envolvia e inundar o copo de alegria vínica! O vinho que degustei e gostei veio da famosa região alemã de Rheinhessen e se chama Max Mann da casta, claro, Riesling, da safra 2018. Antes de falar do vinho, vamos de história, vamos falar da região de maior produção de vinhos da Alemanha e que produz mais de 70% de vinhos brancos. Falemos de Rheinhessen e também da classificação dos vinhos alemães que é essencial para entender cada proposta de rótulo degustado.

Rheinhessen

A região vinícola de Rheinhessen, com 26.578 hectares de vinhedos, é considerada a maior região vinícola da Alemanha. Encontra-se totalmente na margem esquerda do Reno e, portanto, no estado federal da Renânia-Palatinado. Um quinto da região da Renânia-Palatinado de Rheinhessen, que também é a região menos arborizada da Alemanha, é plantado com videiras. Mais de 6.000 produtores de vinho produzem mais de 2,5 milhões de hectolitros de vinho por ano, com uma produção de cerca de 120 milhões de vinhas. Dos 136 municípios de Rheinhessen, apenas Budenheim, Hochborn, Eich, Hamm e Nieder-Wiesen não cultivam vinho em sua própria área.

Rheinhessen

Embora as vinhas sejam virtualmente uma monocultura no Rheingau ou ao longo do Mosel, elas são apenas uma das muitas culturas que compartilham os solos férteis das vastas fazendas desta região. O vinho é cultivado na margem esquerda do Reno, desde os romanos, e o documento mais antigo sobre a localização de um vinhedo alemão - o Niersteiner Glöck - diz respeito a uma vinícola em Rheinhessen.

E ainda falando em história, antes da Primeira Guerra Mundial, os vinhos de Rheinhessen vinham de Rheinhessen e alcançavam os melhores preços em leilões internacionais. Em um dos primeiros leilões após a Segunda Guerra Mundial em julho de 1949 em Londres (Beaver Hall), os primeiros sucessos com os melhores vinhos alemães foram alcançados, incluindo o Liebfrauenmilch Auslese de 1929 e o Liebfrauenmilch Superior de 1934. O Niersteiner Riesling z. B. gozava de uma reputação lendária. Em meados do século XX, porém, houve uma fase em que se deu demasiada atenção à quantidade, o que prejudicou para sempre a reputação do vinho de Rheinhessen. Neste contexto, o Liebfrauenmilch da grande área com o mesmo nome foi mencionado várias vezes.

No final do século 20, no entanto, um repensar começou. É graças a uma nova geração de enólogos que o vinho de Rheinhessen está novamente gozando de boa reputação. As vinícolas de Rheinhessen estão entre as mais bem decoradas, e renomados críticos de vinho e guias de vinhos também enfatizam a qualidade dos vinhos. Normalmente é Riesling ou Silvaner, mas alguns vinhos tintos também são elogiados.

E esse “boom” do vinho tinto, tem sido apoiado principalmente pela variedade de uva Dornfelder. A área de superfície para variedades vermelhas mais do que dobrou em uma década e agora um terço dos vinhedos de Rhinehessen são plantados com uvas tintas.

E falando em variedades de uvas em Rheinhessen 72% dos vinhedos de Rheinhessen são plantados com variedades de uvas brancas. O vinho tinto é cultivado extensivamente na área ao redor de Ingelheim e em Wonnegau.  Riesling (27,6%) e Müller-Thurgau (aprox. 11,3%) dominam a gama de vinhos brancos. Além disso, Dornfelder (10,8%), Silvaner (4,4%), Portugieser (3,8%), Pinot Noir ( 6,6%), Pinot Gris (6,7%), Pinot Blanc (5,4%) e Kerner (2,7%) são cultivados. O Scheurebe, que costumava ser popular devido à sua gama de aromas, está cada vez mais sendo substituído pelo Sauvignon Blanc. 

O cultivo de Riesling está concentrado no Reno ao redor das cidades de Nackenheim, Nierstein e Oppenheim. O cultivo é favorecido por temperaturas amenas, muito sol e pouca chuva.

Os viticultores de Rheinhessen produzem vinhos modernos e simples, bem como produtos de alta qualidade. A Selection Rheinhessen existe desde a década de 1990 - uma classe ambiciosa de vinhos finos e secos. Esta iniciativa visa promover vinhos autênticos ao mais alto nível. Os vinicultores de Rheinhessen também são especialistas em vinhos espumantes. Eles lançaram o primeiro vinho espumante do mercado há 25 anos e nos últimos anos uma notável cultura do vinho espumante se desenvolveu na região nos últimos anos.

Nomenclatura e definições dos vinhos alemães

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão. Devido aos conceitos, às expressões e ao idioma, o país possui um dos rótulos mais difíceis do mundo para compreender. Esse conteúdo vai além da safra, região de origem, teor alcoólico, uva e o nome do produtor, pois trazem dados como categoria de qualidade, número do teste de controle de qualidade, tipo e estilo do vinho. Aliás, existem alguns dados que são obrigatórios e outros que são apenas opcionais.

O vinho alemão passa por um rigoroso teste de controle de qualidade (A.P.NR.), desenvolvido pela Sociedade Alemã de Agricultura (DLG). Além disso, seus exemplares são divididos em categorias de qualidade. Essa categorização depende de dois fatores: maturidade e qualidade das uvas, e a especificidade e tipicidade da região. As categorias de qualidade podem ser consideradas um sinônimo das Denominações de Origem, por também conter regras e normas específicas como área delimitada, uvas autorizadas, entre outros.

Deutscher Wein

São os vinhos mais simples de todas as categorias. Os vinhos podem ser produzidos com uvas colhidas em vinhedos de todo o território alemão.

Landwein

Assim como a Deutscher Wein, também possui vinhos simples, quando relacionado aos de outras categorias. Pode ser comparado aos IGP’s de outros países europeus. 85% das uvas devem ser provenientes de vinhedos de regiões reconhecidas pela categoria.

Qualitätswein bestimmter Anbaugebiet (QbA)

É considerada a categoria dominante no país. As uvas precisam ser autorizadas e atingir um grau mínimo exigido de maturação. As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. Os rótulos podem conter termos que indicam o nível de doçura do vinho como:

Trocken: vinho seco.

Halbtrocken: vinho meio-seco ou ligeiramente doce.

Feinherb: um termo não oficial para descrever vinhos semelhantes ao Halbtrocken.

Liebliche: vinho doce.

Em setembro de 1994, foi permitida a criação de uma subcategoria QbA, a Qualitätswein garantierten Ursprungs (QGU). Comparada a uma Denominação de Origem Controlada e Garantida, a QGU abrange uma região, vinha ou aldeia específica, que expressa além de alta qualidade, tipicidade. Nessa categoria, os vinhos passam por rigorosas análises sensoriais e analíticas.

Qualitätswein mit Prädikat (QmP) ou Prädikatswein

As uvas devem ser permitidas pela categoria e provenientes de uma das treze regiões vitícolas específicas. Além disso, o nome da região precisa estar estampado no rótulo. As uvas devem atingir um grau específico de maturação, açúcar e teor alcoólico natural. Os rótulos precisam estampar alguns atributos específicos referentes ao nível de maturação das uvas e ao método de colheita:

Kabinett: colheita realizada com uvas completamente maduras. Gera vinhos mais leves e com baixo teor alcoólico.

Spätlese: colheita tardia, ou seja, as uvas são colhidas em um período posterior ao considerado ideal. Gera vinhos concentrados e com intenso aroma, mas não especificamente com o paladar adocicado.

Auslese: uvas colhidas muito maduras, mas apenas os cachos selecionados. Gera vinhos nobres, com intensidade tanto no aroma quanto no paladar. A doçura no paladar não é uma regra.

Eiswein: uvas sobreamadurecidas como a Beerenauslese, porém colhidas e prensadas congeladas. Gera vinhos nobres e singulares, com alta concentração.

Trockenbeerenauslese (TBA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, que secam por um determinado tempo adquirindo características próximas a de uvas passas. Gera vinhos doces, ricos e nobres.

Beerenauslese (BA): uvas sobreamadurecidas, infectadas por Botrytis cinerea, com seleção criteriosa dos bagos. Essas uvas são colhidas apenas em safras excepcionais. Gera vinhos longevos, ricos e doces.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um lindo e brilhante amarelo palha com alguns reflexos esverdeados, com discreta manifestação de finas lágrimas.

No nariz traz aromas de frutas brancas, frutas silvestres e amarelas, onde se destacam pêssego, damasco, pera, melão, maçã-verde, com delicadas notas florais, de flores brancas, um tom de mineralidade que o torna fresco e jovial.

Na boca é razoavelmente seco, mas traz um delicado adocicado que me remete a mel, mas sem soar enjoativo. É equilibrado, saboroso, elegante, porém com um belo volume de boca, com certa cremosidade, acidez equilibrada, que estimula à gastronomia e um final longo, prolongado.

O terroir alemão, a cultura alemã vai se chegando aos poucos à minha realidade enófila. Rótulo por rótulo, vou me familiarizando, cada sabor, cada aroma, cada característica vai se construindo de forma interessante, as experiências sensoriais traz o prazer, a alegria, a celebração de degustar um vinho alemão, personificando em sua milenar história, de produtores que amam o vinho e os sintetizam em sua cultura. Max Mann entrega todas as características, as mais marcantes dessa nova queridinha casta, a Riesling. Leve, mas marcante, delicado, mas que impacta positivamente ao paladar, ao olfato. Hoje posso dizer que decisivamente a Riesling está no meu rol das preferidas castas brancas. Que venham mais e mais Rieslings e que possamos, mais e mais, viajar, por intermédio dos vinhos, aos solos férteis da velha Alemanha. Tem 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Moselland eG:

Dificuldades econômicas como uma história de sucesso

Às vezes, é a necessidade que torna as pessoas criativas e, portanto, se torna a base de uma história de sucesso específica. Foram as dificuldades econômicas que levaram os viticultores de Moselle há mais de cem anos, inicialmente em associações menores e depois em cooperativas de viticultores.

Associação de cooperativas regionais

Em 1968, as cooperativas de viticultores regionais de Ernst e Wehlen e a vinícola principal de Koblenz se fundiram para se comprometerem conjuntamente com vinhos e vinicultores regionais no futuro e para combinar suas próprias tradições com as inovações necessárias. Em 1969, o Saar Winzerverein de Wiltingen seguiu a fusão e o Moselland eG foi criado, com sede em Bernkastel-Kues - uma garantia de alta qualidade consistente por décadas. Motivo suficiente para muitos vinicultores do Nahe aderirem ao conceito de sucesso em 2000.

Colaborações voltadas para o futuro

Desde 2004, Moselland eG tem cooperado com a cooperativa vinícola de Nierstein (Rheinhessen) e a cooperativa vinícola regional de Rietburg. Este último resultou na fusão com a cooperativa Palatinate em 2011.

Mais informações acesse:

https://www.moselland.de/

Referências:

“Vinho sem Segredo”: https://vinhosemsegredo.com/2011/05/02/nomenclatura-do-vinho-alemao-i/

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/dicas/como-ler-rotulos-alemanha/

“Wikipedia”: https://newmascotcostumessupply.com/ru-dept/wiki/Rheinhessen_%28Weinanbaugebiet%29#%C3%9Cberblick

“German Wines”: https://www.germanwines.de/tourism/wine-growing-regions/rheinhessen/ 


 





sábado, 13 de novembro de 2021

Pueblo del Sol Reserva Viognier 2017

 

Mais um vinho da série: “Castas novas que eu descobri”. E mais uma vez direi, mesmo que soe redundante: é um grande prazer descobri novas cepas, ter novas e inesquecíveis experiências sensoriais. E essa nova “descoberta” me trouxe algumas reflexões.

Ainda existe, o que é uma pena, alguma resistência com relação aos vinhos brancos no Brasil. Uma espécie de triste rejeição construída por uma edificação calcada no preconceito. Já ouvi e li muitos comentários acerca disso tudo, entre eles temos: Ah vinho branco não tem expressão ou ainda aquele: vinho branco é para iniciantes ou são bebidas direcionadas ao público feminino ou coisa que o valha.

Lembro-me que na minha iniciação no mundo do vinho eu também criei uma resistência, uma dificuldade em entender as propostas dos brancos, as harmonizações, uma rejeição construída com base na desinformação.

Mas ao longo do tempo o vinho branco foi adentrando, devagar, é verdade, a minha adega e as experiências sensoriais com eles foi se tornando uma constante. E descobri que, como os tintos, os brancos também tem um leque infindável de propostas, que vai dos leves, delicados, simples, aos mais elaborados, complexos e encorpados.

Infelizmente, talvez esteja equivocado, poucos são os brancos ofertados no Brasil com a proposta mais encorpada, de rótulos complexos, mas o vinho que escolhi traz um branco com a estrutura de um tinto, de uma casta que na década de 1960 esteve a beira da extinção, por conta da philloxera e hoje figura a minha taça, inundando de expectativa esse momento de degustação, de celebração do vinho. Falo da Viognier.

Ela é oriunda do norte do Côtes do Rhône, mas o rótulo de hoje veio da minha região favorita do Uruguai: Canelones. Quando o comprei, algum tempo atrás, eu perguntei a um especialista em vinhos, não sei quanto tempo, aproximadamente, talvez há um ou dois anos atrás, onde a Viognier era mais conhecida e ele me disse que era a França que hoje entendo que é por razões óbvias. E perguntei se o Uruguai tinha tradição na produção da cepa e ele me disse que não.

Bem o fato é que hoje a produção da casta no Cone Sul está crescendo e não estou baseando o meu comentário com base em números, mas apenas observando alguns rótulos da Viognier no próprio Uruguai e também na Argentina.

Sem mais delongas o vinho que degustei e gostei é deveras aromático, deveras encorpado, saboroso e cheio de frutas brancas tropicais, ele vem da região uruguaia de Canelones e se chama Pueblo del Sol um 100% Viognier da safra 2017. Um rótulo da tradicional Família Deicas, sinônimo de vitivinicultura. Mas já que estamos falando de história e tradição, falemos da Viognier e também da região de Canelones.

A hedonista Viognier

A Viognier é uma variedade de origem francesa, muito ligada ao Rhône, mas, graças às suas características aromáticas e estruturais, além de ser uma ótima “parceira” de outras castas brancas em blends, espalhou-se por diversas partes do mundo, gerando vinhos excepcionais.

As primeiras menções a ela são de 1781, ligando-a região de Condrieu e também Ampuis, no vale do Rhône, mas uma tese diz que a Viognier foi levada da costa da Dalmácia para a França pelo imperador Probus, e que a variedade veio de Smirnium na Croácia. No entanto, não há evidências históricas de que a casta seja mesmo croata.

Análises de DNA mostram uma relação pai-filho entre Viognier e a casta Mondeuse Blanche e isso a torna uma possível meio-irmão ou até mesmo avó da Syrah, já que elas fazem parte do mesmo grupo ampelográfico, mas especialistas ainda não descobriram a ordem exata dos fatores.

A origem do seu nome ainda é um mistério, mas teoricamente derivaria do francês viorne, do gênero botânico “viburnum”, que remete a flores brancas, possivelmente ligado às características aromáticas. 

Há cerca de 50 anos, a Viognier estava restrita a poucos lugares, encontrada em cerca de 10 hectares em Condrieu e no Château Grillet somente, e hoje é um fenômeno mundial. A casta é tradicionalmente cultivada em solos mais ácidos, mas também se adapta a regiões mais quentes, por isso tem sido plantada em vários locais do mundo, da Califórnia, ao Uruguai, passando por Austrália, Nova Zelândia, Chile, Alemanha etc.

A Viognier é para quem gosta de parar e sentir o cheiro das flores. Os vinhos variam de sabor, desde mais leves como frutas amarelas, em especial tangerina, manga e pêssegos até aromas mais cremosos de baunilha com especiarias de noz-moscada e cravo-da-índia. Dependendo do produtor e de como o vinho é feito, ele varia em intensidade, de leve e quente com um toque de amargor a ousado e cremoso.

No paladar, os vinhos são geralmente secos, embora alguns produtores façam um estilo levemente doce que embeleze os aromas de pêssego da Viognier. Os estilos mais secos aparecem menos frutados no palato e produzem amargura sutil, quase como se triturássemos uma pétala de rosa fresca.

No geral, os vinhos desta casta encontram seu melhor momento depois de 2 ou 3 anos, quando alcançam um estado mais opulento e exótico.

Canelones

Localizada bem ao sul, Canelones é a principal região produtora de uva e vinho no Uruguai e, por isso, concentra a maior parte dos vinhedos do país. A cidade de Canelones faz parte da região metropolitana de Montevidéu. Ela é cercada por um enorme complexo de pequenas fazendas e vinhedos, que são responsáveis por impressionantes 84% da produção de vinho do Uruguai.

Nos seus arredores, encontram-se ótimos bares que oferecem os melhores e mais procurados vinhos do país, já que naquela região concentram-se desde as mais tradicionais até as mais luxuosas, modernas e rústicas vinícolas da América Latina. Além disso, Canelones possui uma extensão de mais de 65 km de praia, repleta de entretenimentos e lugares para descansar, sem falar do Camping Marindia, que é um reduto de arte, cultura e atividades familiares, cercado por trilhas bem arborizadas e que proporciona uma linda visão de pôr do sol.

Canelones

Os primeiros moradores de Canelones se instalaram na cidade por volta de 1726; já a partir de 1774, chegaram imigrantes espanhóis e no final do século XIX, vieram os imigrantes italianos para cultivar uvas e fabricar vinhos. Dali em diante, a história da cidade com o vinho começou a se intensificar, uma vez que passo a passo ela conquistava popularidade em todo o país.

Mas foi nos anos de 1970, que videiras de clones importados chegaram à cidade e os vinhedos começaram a se concentrar na qualidade. E hoje a produção de vinho da região representa 14% no mercado internacional e é responsável por oferecer uma abundância de opções ao enoturismo uruguaio.

Essa região não poderia ter localização melhor. Por sua visão pioneira, o Uruguai foi eleito o país do ano, em 2013, pela revista inglesa The Economist. Entre as principais razões estão o fato de realizar reformas que não se limitam a melhorar apenas a própria nação, mas atitudes que podem beneficiar o mundo.

E Canelones está sendo conduzida sob essa visão. Em meio a um processo de desenvolvimento enoturístico, a região já possui até projeto de promoção do turismo e do vinho desenhado pelo Ministério do Turismo com a colaboração da Comarca de l’Alt Penedès, Espanha.

Há produtores que se juntaram para ajudar nesse incentivo e criaram a Associação “Los Caminos del Vino”, que reúne diversas vinícolas familiares abertas para visitantes, onde podem ver as vinhas de perto, acompanhar as diferentes etapas da vinificação e, finalmente, provar o vinho e a comida típica do lugar.

E agora o vinho!

Na taça entrega um lindíssimo amarelo com tendências douradas bem brilhantes com reflexos esverdeados, com uma boa profusão de lágrimas, finas, o que incrível por se tratar de um branco.

No nariz a explosão aromática, de frutas brancas e amarelas, dá o tom, onde se pode destacar a pera, pêssego, maçã-verde, abacaxi, melão, além das notas florais em evidência, que traz delicadeza e elegância ao vinho.

Na boca tem corpo médio, entrega personalidade marcante, expressividade, a começar pela sua untuosidade em boca, que estimula a salivação, sendo consequentemente muito gastronômico. Se atribui a esse volume em boca, essa untuosidade ao pequeno percentual do vinho passando 3 meses por barricas de carvalho Tem boa acidez, é frutado, tendo, entre esses fatores, muito equilibrado, com um final longo, prolongado.

Descobri que a Viognier é complexa, estruturada, é para quem gosta de analisar o vinho, de fazer um ótimo exercício de análise, que goste de se desdobrar nesse quesito. Um vinho de volume e corpo, de personalidade marcante. Uma casta que até pouco tempo era coadjuvante, para dar um toque aromático as outras castas e neste belíssimo rótulo alça um “voo solo”, e que aterrissa na minha humilde taça para o meu deleite. Pueblo del Sol, no auge dos seus 4 anos de safra, ainda mostra notas frutadas, mais uma austeridade, mostrando uma boa evolução, mostrando que ainda tem uma boa “pegada”. Sem dúvida um vinho muito especial, mostrando que os brancos podem deixar uma indelével marca na sua enófila história. E o rótulo da Família Deicas entrega exatamente isso, como eles dizem: “Nossos vinhos são uma homenagem ao sol”.

Palavras do produtor:

“À forma como nossos vinhedos se pintam de dourado. Ao seu calor, que ajuda a expressar o melhor de suas videiras. À sua luz, que guia nosso trabalho desde o amanhecer ao pôr-do-sol. Ele é o começo de tudo; a energia que nos guia para elaborar uma linha de vinhos de valor único”.

Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Família Deicas:

A Bodega foi fundada no século XIX e já teve vários donos, inclusive o próprio Estado. O primeiro deles foi Don Francisco Juanicó que fundou o estabelecimento em 1830. Apenas em 1979, quase um século e meio depois, a Familia Deicas comprou a propriedade e imprimiu nela uma grande mudança. Uma delas foi a de contratar especialistas internacionais para produzir vinhos de alta gama com variedades francesas.

De toda forma, ainda permanece no local muito do passado. Algo que pode ser apreciado em algumas construções da vinícola, que apesar de restauradas conseguem manter o conceito original de quem as idealizou.

Caso, principalmente, da cave subterrânea, construída com pedras por Don Francisco Juanicó. O local hoje abriga mais de 500 barricas de carvalho francesas e americanas, unindo tradição, tecnologia e muita beleza.

A Família Deicas é muito conhecida pelo Familia Deicas Preludio (1100 pesos), um dos ícones da vinícola, que, é sem sombra de dúvidas um vinho maravilhoso! Realmente, um dos melhores do Uruguai. Ele consiste em um corte de seis variedades (Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e Marselan). Além do Prelúdio, a Juanicó também elabora o Don Pascual, que é a marca de vinho fino mais importante do Uruguai. Também produz a linha Atlántico Sur. Ambas as linhas mais acessíveis que o Preludio Familia Deicas (que é produzido em lotes reduzidos e de forma mais artesanal). Afinal, a Juanicó possui estrutura de vinícola de ponta para produzir em larga escala.

Mais informações acesse:

http://www.pueblodelsol.com.uy/_po/?pg=inicio

https://familiadeicas.com/

Referências:

“Winepedia: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/roteiros-do-vinho-canelones/

“Dicas do Uruguai”: https://dicasdouruguai.com.br/dicas/canelones-no-uruguai/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/uvas/262-uva-viognier-a-uva-hedonista

“Blog do Vinho Tinto”: https://www.blogvinhotinto.com.br/enoturismo-viagens/juanico-familia-deicas-tecnologia-e-tradicao-na-arte-de-fazer-vinhos/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/branca-do-rhone-curiosidades-sobre-casta-viognier_13425.html

 

 

 

 





quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Cinco Tierras Sorbus Malbec 2019

 

Mais um Malbec da série: “Vinhos que descobri em eventos de degustação”. E mais um Malbec que desmistifica o conceito de que essa casta, para ser excelente, tem de ser amadeirado, passar por longos meses em barricas. Sim, já me antecipei e, desde já, reverencio esse belo rótulo da emblemática Mendoza onde repousa os grandes Malbecs em todas as suas propostas.

Mas o faço, pois o conheço, ou melhor, conheci há pouco mais de um ano atrás quando estive em um evento de degustação bem longe de minha casa, na Barra da Tijuca. Pois é, precisei ir longe para descobrir esse vinho que logo apresentarei.

O evento acontecia e já estava finalizando para mim, olhei, meio sem direção definida, e vi alguns vinhos argentinos e uma pequena aglomeração quando avistei um uns vinhos dos Hermanos com um rótulo muito simples, mas elegante e delicado. Havia cerca, pelo que eu me lembre, de dois rótulos desse produtor: Um era um Malbec e o outro um Torrontés.

Claro comecei pelo Malbec e me surpreendi pela  tipicidade aliada a personalidade: como ele expressava o caráter do Malbec, todas as características estavam ali, desfilando, para meu deleite, em meus sentidos. Então decidi degustar o Torrontés, o Cinco Tierras “Sorbus” Torrontés da safra 2016. O evento acontecera em 2020 e o rótulo, com seus 4 anos de safra, para um branco, poderia não entregar as características marcantes da Torrontés, tais como o frescor, a acidez etc. Mas ainda assim decidi degustar e...Que vinho! Ainda fresco, pleno.

Mas olhando um pouco melhor o rótulo li que o vinho fora produzido em uma região chamada Salta, em Cafayate. Até então não conhecia essa região na Argentina, a não ser Mendoza, Patagônia etc. Então, por conta disso, decidi levar esse Torrontés. Mas o Malbec merecia ser levado, pensei que não fosse mais encontra-lo.

Quando um supermercado foi inaugurado aqui em minha cidade, Niterói, um ano depois desse evento de degustação na Barra da Tijuca, decidi conhece-lo e ver se eles possuíam uma adega legal. E qual vinho achei? Sim, o vinho que degustei e gostei em 2020, o Cinco Tierras “Sorbus” Malbec, da safra 2019 da região de Mendoza. Me animei e não foi só em encontrar o vinho, mas pelo preço incrivelmente baixo: R$ 26,90! Não hesitei muito e comprei, mas com a intenção de degusta-lo logo e não me arrependi em nenhum momento.

Mas antes de falar do vinho, cabe falar um pouco de como os rótulos do casal Rubén Banfi e Marie Geneviéve chegaram ao Brasil. Em 2009 Marcos Simonsen criou a importadora MS Import, com a seguinte missão: trazer vinhos mais prontos e de bom apelo comercial, ou seja, vinhos de preços acessíveis, para serem degustados no dia a dia de países como Portugal, Argentina e Portugal, por exemplo.

A Bodega Cinco Tierras foi uma das primeiras a serem trazidas por Simonsen, juntamente com a Sur de Los Andes, do economista Guillermo Banfi, filho de Rubem. Pois é filho de peixe...

Mas por conta dessa proposta de vinhos mais básicos, de valores acessíveis, acabou ganhando outros lugares para serem vendidos, como nesse mercado que eu tive o prazer de encontrar o Malbec. A prova de que podemos degustar bons vinhos argentinos da casta Malbec a preços acessíveis, baixos e qualidade superior, alta.

Outro detalhe que me chamou a atenção foi a seguinte informação: “IP Mendoza”. Eu nunca tive visto, até então, a Indicação de Procedência antes do Mendoza. Então falemos um pouco sobre a história da IP na Argentina.

Se em diversos países da Europa, como França, Itália, Alemanha e Espanha, o conceito de indicações geográficas ou denominações de origem para regiões produtoras de vinhos é antigo, na Argentina este é um conceito relativamente novo. Apesar de alguns esforços regionais anteriores, foi somente a partir de 1999 que os primeiros passos para a adoção de sistema nacional de classificação foram trilhados.

Mas como funciona este sistema? Qual é o órgão responsável pela sua regulamentação? Como são definidas as denominações de origens ou indicações geográficas atuais na Argentina? Para responder estas e outras questões vale a pena entender um pouco mais sobre estes conceitos e como foram introduzidos na Argentina.

Do ponto de vista internacional, três marcos foram importantes para a aceitação e regulamentação destes conceitos. Os dois primeiros são mais que centenários, a Convenção de Paris de 1883 e sua revisão em 1911, em Washington. Foi a partir destes acordos que se estabeleceu a proteção da propriedade industrial e a aceitação dos conceitos de Indicação de procedência (IP) ou Denominação de origem (DO). Já o conceito de Indicação geográfica (IG) é mais recente, dentro dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio (ADPIC), subscrito em Marrakesh, em 1994.

No caso da Argentina, porém, o conceito é mais recente. Um marco fundamental foi a Lei nº 25.163, de 1999, que instituiu o regime de indicações de origem geográfica para vinhos e outras bebidas alcóolicas elaboradas com uvas, como uma categoria sui generis. Foi inspirado no modelo europeu, mas com notas peculiares e algumas omissões em seu regulamento. Sua regulamentação, porém, só ocorreu em 2004, com o Decreto nº 57/2004.

Antes disso, existiram algumas iniciativas para regulamentar estas categorias, boa parte delas sob o aspecto regional. As primeiras Denominações de Origem Controladas (DOCs) na Argentina foram aprovadas a nível provincial.  A DOC Luján de Cuyo foi reconhecida em 1990 e DOC San Rafael em 1993, quando ainda não existia um marco jurídico nacional.

O funcionamento no sistema argentino, dentro do quadro legal atual, os vinhos podem ter ou não uma indicação de origem geográfica. Para aqueles que optarem por ter uma indicação de origem geográfica, existe três níveis distintos: Indicação de procedência (IP), Indicação geográfica (IG) ou Denominação de origem (DO).

A IP é o mais genérico deles, que identifica a origem geográfica, e podem coincidir as fronteiras políticas das províncias e municípios. Assim que o marco legal foi regulamentado, o Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV – órgão que controla e aprova este processo) reconheceu como IP o nome geográfico de todas as províncias vinícolas do país na época: Mendoza, San Juan, La Rioja, Catamarca, Salta, Jujuy, Tucumán, Córdoba e Neuquén. Os produtores de cada região podem usar sua IP correspondente sem necessidade de solicitar autorização administrativa.

Assim, um produtor baseado na província de Mendoza (que concentra cerca de 75% da área de vinhedos da Argentina), pode incluir em seu rótulo, se quiser, a expressão IP Mendoza. Deste modo, esta indicação é a menos específica entre elas. Ela serve exclusivamente para indicar que o vinho foi elaborado com uvas plantadas em uma unidade administrativa (no caso província) específica. Leia mais em: Vinhos na Argentina: com funcionam as denominações de origem e as indicações geográficas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um intenso vermelho, quase escuro, com discretos, mas bonitos reflexos violáceos, com lágrimas finas e em média intensidade, um pouco viscosas.

No nariz uma exuberância de frutas vermelhas maduras, frutas pretas também, uma compota de frutas, com o destaque para ameixa, cereja, framboesa e groselha. Notas terrosas, de especiarias e de flores, flores vermelhas.

Na boca é suculento, marcante, saboroso, no início o álcool sobressaiu, mas com algum tempo respirando logo se mostrou equilibrado, mas ainda bem alcoólico, as frutas, como no aspecto olfativo, em destaque, com taninos marcantes e gulosos, com uma incrível acidez, revelando um vinho extremamente gastronômico. Tem um final médio, com um discreto tostado. Segundo referências na internet o mesmo passou por 6 meses em barricas de carvalho e no contra rótulo do vinho há um sutil passagem.

Um Malbecão no conceito mais genuíno da casta, de tipicidade, de caráter, um vinho básico da família Banfi, sim, mas que entrega tanto de Mendoza, de seu terroir e que comprova a frase do grande Didu Russo, especialista de vinhos brasileiro que diz: “Que a melhor maneira de mensurar a qualidade, a idoneidade de um produtor, é pelos seus vinhos de entrada”. São aqueles sem o mínimo de intervenção humana. Frutado, floral, fácil de degustar, mas com alguma estrutura, intensidade e personalidade. Um vinho especial que reencontrei e degustei e gostei. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Ah e para curiosidade o nome da vinícola “Cinco Tierras” faz menção as cinco principais regiões, as cinco melhores regiões vitivinícolas da Argentina em que a Bodega produz seus vinhos e que passa por toda a Cordilheira dos Andes.

Sobre a Bodega e Viñedos Cinco Tierras:

A Bodega Cinco Tierras nasceu como um projeto pessoal de Rúben Banfi, sua esposa e seus filhos Marie Geneviève, Carlos, Guillermo e Diego, em Vistalba, na província de Luján de Cuyo.

Integrante da família Banfi, proprietária do Castello Banfi, na Toscana, famosa e respeitada pela elaboração de vinhos de excepcional qualidade e que teve um papel fundamental na projeção internacional do Brunello di Montalcino. Por coincidir com Banfi Vintners, Rúben não pode utilizar seu nome no mercado norte-americano, justificando a escolha por outro nome para sua vinícola em terras mendocinas.

Em 2000, Cinco Tierras elaborou os primeiros Reserva Malbec, Cabernet, Reserva Familia e Malbec Cinco Tierras. Cinco anos depois, concretizou a compra de 25 hectares de vinhedos em Agrelo. No mesmo ano, os rótulos Cinco Tierras e Sorbus são selecionados em um concurso para a carta de vinhos das Aerolíneas Argentinas.

Durante essa etapa contou com a consultoria técnica do prestigiado enólogo Héctor Durigutti, que também auxilia a prestigiada vinícola Altos Las Hormigas. Sinônimo de tradição elabora artesanalmente vinhos orgânicos, com colheita manual e sem nenhum tipo de agrotóxico ou agente químico.

A vinícola conta com os últimos avanços tecnológicos e uma capacidade de produção de 250.000 litros divididos em piscinas de cimento revestidas com epóxi (7.000 a 25.000 litros) e tanques de aço inoxidável (5.000, 7.500, 15.000 e 25.000 litros). Ele também tem 300 barris de carvalho francês no subsolo. Possui 3 linhas de vinhos: Cinco Tierras Reserva; Cinco Terras Clássicas e Sorbus. Em todos eles destacam-se a fruta e o equilíbrio, bem como uma excelente expressão varietal com um toque de carvalho.

Os itens são limitados, a Reserva varia entre 4.000 e 10.000 garrafas e a linha Classic cerca de 40.000. A produção anual é de 160.000 garrafas. Desde a primeira vindima, os vinhos Cinco Tierras tiveram uma aceitação muito boa tanto local como internacionalmente e foram premiados em importantes concursos. Atualmente exportam 70% da produção para França, Brasil, EUA e China.

Mais informações acesse:

www.bodegacincotierras.com.ar

Referências:

“Wine Fun”: https://winefun.com.br/vinhos-na-argentina-com-funcionam-as-denominacoes-de-origem-e-as-indicacoes-geograficas/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=AR

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/07/06/cinco-tierras-na-figueira-rubayat/

 

 

 

 




terça-feira, 9 de novembro de 2021

Pizzato Cabernet Sauvignon 2014

 

Eu costumo participar de eventos de degustação e festival de vinhos. E digo-lhes o quanto é proveitoso esses momentos. Uma oportunidade única de, não apenas degustar vinhos, o que já é excelente, diga-se de passagem, mas também de aprender mais sobre vinhos, conversar com os produtores e conhecer seus rótulos.

E foi dessa forma, nesse escambo de informações que só agrega em conhecimento e estimula o prazer, ainda mais, pela nossa poesia líquida, que conheci uma vinícola brasileira que, a cada ano vem crescendo em representatividade mercadológica, vem ganhando credibilidade: falo da Pizzato.

Mas não recordo de uma coisa: Se à época que estive no festival de degustação de vinhos eu levei algum rótulo. Pois é, as vezes somos traídos pela memória, o mais importante é que conhecemos o produtor e que a partir daí nos dá a possibilidade de buscar, de garimpar novos rótulos desse grande produtor e não foi difícil, diga-se de passagem, que localizei.

E o vinho que degustei e gostei veio da Serra Gaúcha, a gloriosa região vitivinícola brasileira, e se chama Fausto, um 100% Cabernet Sauvignon, da safra 2016. E o nome que esse rótulo ostenta traz muita história, história essa que hoje a indústria vitivinícola está colhendo, que é o incentivo à produção de uvas vitis viníferas. Esse é o Plínio Pizzato.

Plínio Pizzato, patriarca da Família, por influência de seu pai, Giovanni Pizzato, sempre foi entusiasta das uvas vitis vinifera (uvas finas, no Brasil), mesmo numa região vitícola dominada quantitativamente e economicamente por híbridas e vitis labrusca.

Ainda nos anos 60, quando se estabeleceu em Santa Lúcia – parte do que é hoje o Vale dos Vinhedos como Indicação Geográfica – passou a cultivar apenas vitis vinifera, com foco nas uvas italianas (barberas, trebbiano, malvasias etc).

Nos anos 70, com a chegada de várias multinacionais à Serra Gaúcha, e pelo fato de já ser um produtor de excelência para uvas finas, foi provocado por técnicos vitícolas de tais empresas para se tornar produtor de uvas francesas. Começa assim plantios de uvas francesas, com domínio para a Merlot, Cabernet Franc e Semillon, sem deixar de cultivar algumas italianas.

Ao final dos anos 1970, implanta vinhedos com algumas uvas ‘experimentais’ para a região à época, dentre elas o Sauvignon Blanc. A partir de nossa lembrança clara de que para determinadas situações o Sauvignon Blanc apresentava uvas com belos resultados de sabor e sanidade, e considerando que em plantio em espaldeiras (em contraste ao uso de latadas/pérgola da fase dos anos 70) os resultados poderiam ter ainda mais consistência, no início dos 2010 foi implantado vinhedo de Sauvignon Blanc que vem produzindo consistentemente desde 2015.

E continuando com a história, falemos um pouco da Serra Gaúcha, região que tem uma forte ligação, uma simbiose com a Família Pizatto.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um belíssimo vermelho rubi, com reflexos violáceos que dá um reluzente brilho com uma boa concentração de lábrimas, finas e lentas.

No nariz a predominância é das frutas vermelhas, ameixa, cerejas, framboesas que traz a agradável sensação de frescor, além de especiarias doces, um leve pimentão, com toques delicados de baunilha e tosta.

Na boca é frutado, intenso, complexo, estruturado, mas de uma textura macia, tornando-o fácil de degustar. Tem taninos gulosos e marcantes, porém domados, boa acidez, trazendo o aporte de 9 meses em barricas de carvalho, com o toque amadeirado, o toque de chocolate meio amargo, aparecendo também as especiarias. Tem um final prolongado e potente.

Um vinho de bom potencial de guarda, com robustez, mas versátil, fácil de degustar, extremamente gastronômico, que harmoniza com comidas gordurosas, churrasco, com carnes gordas a refeições mais simples e do dia a dia. Um vinho que traz a tipicidade da região a qual foi concebido e que faz frente a muitos Cabernets chilenos e de Bordeaux da vida, sem ufanismos. Um vinho que personifica a história desbravadora de um homem que acreditou em nossas terras, na sua vocação para produzir grandes e especiais vinhos. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Pizzato Vinhas e Vinhos:

Em 1999, a Família Plínio Pizzato constitui a Pizzato Vinhas e Vinhos para agregar a elaboração de vinhos ao já existente cultivo de videiras, ao qual se dedica desde a imigração de Antônio Pizzato para o Brasil, vindo do Vêneto na Itália ao final dos anos 1800. Ainda na itália, a família cultivava vinhas e elaborava vinho em pequenas quantidades. Da chegada ao Brasil em 1980, após o estabelecimento e a subsistência, o amor e dedicação em trabalhar com uvas e vinhos falaram mais alto.

Assim o cultivo de parreiras em maior extensão foi levado adiante. As atividades do imigrante Antônio Pizzato passaram para um de seus filhos, Giovanni Pizzato, que além da ocupação principal relacionada aos vinhedos continuou produzindo vinho, mas apenas para consumo da Família Pizzato.

A maior parte da produção de uvas passou a ser comercializada para vinícolas da região da serra gaúcha. A personalidade é fruto da interação entre o objeto/ser e as transformações decorrentes de vivência, educação e experiência; é dessa forma que sua estrutura se torna íntegra ao longo dos vários estágios da existência, do nascimento à lembrança.

Os integrantes da Família são os responsáveis por todo o processo que faz do vinho uma bebida de identidade única, da produção de uvas à elaboração e comercialização dos vinhos, gerando um diferencial de entusiasmo, dedicação, personalidade e exclusividade traduzidos em vinho.

Atualmente a Família Pizzato vê seus vinhos entre os mais destacados em degustações e painéis de vinhos Brasileiros e Internacionais, além de estarem presentes em restaurantes e lojas especializadas no Brasil e no exterior.

Mais informações acesse:

http://pizzato.net/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA


Degustado em: 2016

 

 

 

 

 




sábado, 6 de novembro de 2021

Trisole Nero d'Avola e Syrah 2019

 

É possível aliar em um vinho estrutura e maciez? Pode parecer difícil um ser aveludado e estruturado ao mesmo tempo, mas não com os vinhos oriundos da região italiana da Sicília. Não sou um profundo conhecedor do terroir siciliano, contudo lendo um pouco da história da região, que é demasiadamente ensolarada, percebe-se que as uvas amadurecem bem, entregando vinhos voluptuosos e frutados em uma simbiose invejável.

E parece que um blend produzido por lá entrega essa proposta tão arrojada e especial: Nero d’Avola, casta autóctone daquele país e a francesa Syrah que, de tão importante, se adapta, dada, claro, as devidas particularidades de cada terroir, se adapta com facilidade em qualquer lugar no mundo.

A Syrah traz à intensidade, o corpo, as especiarias tão típicas da cepa, mas sem ofuscar as características marcantes do aroma da Nero d’Avola, além, é claro das notas frutadas desta casta, tão popular e tradicional da Itália, mas que não é tão conhecida globalmente.

Mas mesmo com essa sinergia, desse típico blend da região da Sicília, você ainda consegue identificar aquele contraste em aromas e sabores fazendo com que os rótulos com esse corte ganhem em complexidade e versatilidade, pois são frutados e macios, fáceis de degustar mesmo.

Falo desse blend, pois já o degustei em alguns eventos de degustação e pude testemunhar ou melhor sentir em seu aroma e paladar o que textualizei aqui e agora. E, mais uma vez, poderei ser impactado por essa experiência novamente, agora com um novo produtor, muito importante na região da Sicília e de toda a Itália: Cantine Birgi. Um grande produtor, um belo rótulo, um belo blend, casamentos perfeitos, harmonizações perfeitas para um dia de feriado e descanso.

E convenhamos essa simbiose, essa proximidade do brasileiro com os vinhos sicilianos tem muito ver devido ao clima dessa região. Banhada pelo mar, uma ilha mediterrânea, ensolarada, repleta de praias, um povo hospitaleiro e altivo, enfim, a relação não é apenas com o vinho, mas a cultura e a natureza também trazem relações com o povo brasileiro e essa natureza influencia nos rótulos que chegam à mesa de todos nós, brasileiros.

Bem sem mais delongas vamos ao vinho que degustei e gostei que veio evidentemente da Sicília, na Itália e se chama Trisole com o típico corte Nero d’Avola e Syrah da safra 2019. E já que falamos algo sobre as castas que protagonizam esse vinho, vamos tecer mais comentários detalhados da Nero d’Avola ainda um pouco distante de nossas terras e mesas, bem como da ensolarada Sicília que merece aqui algumas linhas.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África.

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sub-regiões da Sicília

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Nero d’Avola: “A uva negra de Avola”

A uva tinta Nero d’Avola é a “uva negra da cidade de Avola”, região italiana localizada na costa sudeste da Sicília, mais precisamente na Província de Siracusa. Os vinhos aos qual essa variedade de uva dá origem são encorpados e possuem coloração escura. A Nero D’Avola é utilizada com grande frequência em blend com as uvas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Frappata e Merlot, garantindo maior complexidade de aromas e paladar aos vinhos.

Avola

Porém há quem diga que exista uma incerteza quanto a origem desta casta, apenas a existe a certeza de que essa tinta é uma uva indígena, ou seja, autóctone da Itália. Por também ser chamada de Calabrese, alguns estudiosos acreditam que ela tenha nascido na Calábria, bem na ponta da bota.

Outros defendem que a Nero d’Avola é realmente siciliana. Além de sua terra natal, essa casta tem sido cultivada com sucesso em outros países produtores, como os Estados Unidos, a Austrália, a Turquia e a África do Sul, mas a região de maior expressão dessa casta é, sem dúvidas, na região da Sicília, província responsável pela produção de premiados e elogiados vinhos com estilo intenso e frutado, que resguardam o caráter de vinhos tipicamente italianos.

Na produção siciliana, a uva Nero d’Avola costuma aparecer em dois estilos vitivinícolas diferentes. No primeiro, os vinhos apresentam caráter rico e sabores que referenciam café e chocolate, provenientes do envelhecimento prolongado em barris de carvalho. Já o segundo estilo, mais elegante, sugere sabores como frutas vermelhas e ervas, uma vez que têm curto período de envelhecimento.

Conhecida também como uva Calabrese, a fruta apresenta elevados níveis de taninos e acentuada acidez, acompanhados de aromas intensos que fazem da casta uma variedade interessante e intrigante. Os vinhos Nero d’Avola têm teor alcoólico que varia entre 13,5 e 14,5%.

Esse tipo de uva dá origem a vinhos que acompanham muito bem pratos com o uso de especiarias, como cascas de laranja, folhas de louro e sálvia. Os exemplares que possuem a Nero d’Avola em sua composição podem apresentar algumas características semelhantes aos vinhos produzidos com a uva Syrah, tanto pela tonalidade escura quanto pelo excelente equilíbrio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi com reflexos violáceos que protagoniza um reluzente brilho, com lágrimas finas, abundantes e rápidas.

No nariz um ataque de aromas frutados, aromas de frutas vermelhas em compota, onde se destacam a framboesa, a cereja e a groselha, com um agradável toque de especiarias.

Na boca é razoavelmente seco, frutado graças a Nero d’Avola, com uma instigante picância, toque da pimenta típica da Syrah, sendo ainda redondo, fresco, jovial, saboroso e harmonioso. Os taninos são presentes, mas aveludados, domados, acidez equilibrada, álcool sobressai, mas não demostra desequilíbrio e um final curto.

Mesmo que o vinho ganhe contornos globais ele sempre deve levar consigo a tipicidade de sua terra, o apelo regionalista, o tão propagado e cultuado terroir. E esse exemplar da Sicília entregue, com fidelidade, de forma genuína, as características dessa ilha ao sul da Itália. Um vinho versátil, que traz as notas frutadas, frescas, mas que entrega também a estrutura, a personalidade. A casta autóctone combinando, em um casamento explosivo, com uma casta francesa expressando o máximo da Itália. Um vinho solar, literalmente falando, vivaz, marcante e saboroso. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Cantine Birgi:

A Cantina Sociale Birgi está localizada no coração de um cenário natural de beleza opressora. Este terreno possui uma tradição vitivinícola milenar que foi retomada, valorizada, renovada e reapresentada pela Cooperativa Vitivinícola Birgi, nascida em 1960 pela vontade de produtores apaixonados pela sua terra e orgulhosos das suas origens.

O ano de 1970 foi importante para Cantine Birgi: vendeu os primeiros vinhos a granel para consumo direto, sendo que em 1975 a produção da primeira garrafa, os primeiros vinhos brancos estagiando, pela primeira vez, nas barricas de carvalho.

Em 1990 novos processos e novas produções fizeram com que começassem as primeiras fermentações de mostos limpos. Nos primeiros anos do novo milênio, em 2004, as garantias que as vinícolas Birgi devem oferecer aos seus clientes aumentaram, os processos de controle de qualidade para todas as vinhas foram iniciados.

Em 2013, novos horizontes para a fase de produção surgiram, com o início da viticultura de precisão e novos processos de controlo da qualidade das vinhas e das uvas. A tecnologia a serviço da vinificação adentravam na realidade da Cantina Birgi.

Hoje em dia a adega produz diferentes tipos de vinho para ir ao encontro das necessidades do consumidor: desde vinhos espumantes, a vinhos tranquilos, aos vinhos de sobremesa e meditação, à produção biológica.

Mais informações acesse:

https://www.cantinebirgi.it/en/marsala-wine/

Referências:

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

“Revista Sociedade da Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2021/01/conheca-a-uva-italiana-nero-davola/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/nero-d-avola