terça-feira, 9 de novembro de 2021

Pizzato Cabernet Sauvignon 2014

 

Eu costumo participar de eventos de degustação e festival de vinhos. E digo-lhes o quanto é proveitoso esses momentos. Uma oportunidade única de, não apenas degustar vinhos, o que já é excelente, diga-se de passagem, mas também de aprender mais sobre vinhos, conversar com os produtores e conhecer seus rótulos.

E foi dessa forma, nesse escambo de informações que só agrega em conhecimento e estimula o prazer, ainda mais, pela nossa poesia líquida, que conheci uma vinícola brasileira que, a cada ano vem crescendo em representatividade mercadológica, vem ganhando credibilidade: falo da Pizzato.

Mas não recordo de uma coisa: Se à época que estive no festival de degustação de vinhos eu levei algum rótulo. Pois é, as vezes somos traídos pela memória, o mais importante é que conhecemos o produtor e que a partir daí nos dá a possibilidade de buscar, de garimpar novos rótulos desse grande produtor e não foi difícil, diga-se de passagem, que localizei.

E o vinho que degustei e gostei veio da Serra Gaúcha, a gloriosa região vitivinícola brasileira, e se chama Fausto, um 100% Cabernet Sauvignon, da safra 2016. E o nome que esse rótulo ostenta traz muita história, história essa que hoje a indústria vitivinícola está colhendo, que é o incentivo à produção de uvas vitis viníferas. Esse é o Plínio Pizzato.

Plínio Pizzato, patriarca da Família, por influência de seu pai, Giovanni Pizzato, sempre foi entusiasta das uvas vitis vinifera (uvas finas, no Brasil), mesmo numa região vitícola dominada quantitativamente e economicamente por híbridas e vitis labrusca.

Ainda nos anos 60, quando se estabeleceu em Santa Lúcia – parte do que é hoje o Vale dos Vinhedos como Indicação Geográfica – passou a cultivar apenas vitis vinifera, com foco nas uvas italianas (barberas, trebbiano, malvasias etc).

Nos anos 70, com a chegada de várias multinacionais à Serra Gaúcha, e pelo fato de já ser um produtor de excelência para uvas finas, foi provocado por técnicos vitícolas de tais empresas para se tornar produtor de uvas francesas. Começa assim plantios de uvas francesas, com domínio para a Merlot, Cabernet Franc e Semillon, sem deixar de cultivar algumas italianas.

Ao final dos anos 1970, implanta vinhedos com algumas uvas ‘experimentais’ para a região à época, dentre elas o Sauvignon Blanc. A partir de nossa lembrança clara de que para determinadas situações o Sauvignon Blanc apresentava uvas com belos resultados de sabor e sanidade, e considerando que em plantio em espaldeiras (em contraste ao uso de latadas/pérgola da fase dos anos 70) os resultados poderiam ter ainda mais consistência, no início dos 2010 foi implantado vinhedo de Sauvignon Blanc que vem produzindo consistentemente desde 2015.

E continuando com a história, falemos um pouco da Serra Gaúcha, região que tem uma forte ligação, uma simbiose com a Família Pizatto.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geo-climáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um belíssimo vermelho rubi, com reflexos violáceos que dá um reluzente brilho com uma boa concentração de lábrimas, finas e lentas.

No nariz a predominância é das frutas vermelhas, ameixa, cerejas, framboesas que traz a agradável sensação de frescor, além de especiarias doces, um leve pimentão, com toques delicados de baunilha e tosta.

Na boca é frutado, intenso, complexo, estruturado, mas de uma textura macia, tornando-o fácil de degustar. Tem taninos gulosos e marcantes, porém domados, boa acidez, trazendo o aporte de 9 meses em barricas de carvalho, com o toque amadeirado, o toque de chocolate meio amargo, aparecendo também as especiarias. Tem um final prolongado e potente.

Um vinho de bom potencial de guarda, com robustez, mas versátil, fácil de degustar, extremamente gastronômico, que harmoniza com comidas gordurosas, churrasco, com carnes gordas a refeições mais simples e do dia a dia. Um vinho que traz a tipicidade da região a qual foi concebido e que faz frente a muitos Cabernets chilenos e de Bordeaux da vida, sem ufanismos. Um vinho que personifica a história desbravadora de um homem que acreditou em nossas terras, na sua vocação para produzir grandes e especiais vinhos. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Pizzato Vinhas e Vinhos:

Em 1999, a Família Plínio Pizzato constitui a Pizzato Vinhas e Vinhos para agregar a elaboração de vinhos ao já existente cultivo de videiras, ao qual se dedica desde a imigração de Antônio Pizzato para o Brasil, vindo do Vêneto na Itália ao final dos anos 1800. Ainda na itália, a família cultivava vinhas e elaborava vinho em pequenas quantidades. Da chegada ao Brasil em 1980, após o estabelecimento e a subsistência, o amor e dedicação em trabalhar com uvas e vinhos falaram mais alto.

Assim o cultivo de parreiras em maior extensão foi levado adiante. As atividades do imigrante Antônio Pizzato passaram para um de seus filhos, Giovanni Pizzato, que além da ocupação principal relacionada aos vinhedos continuou produzindo vinho, mas apenas para consumo da Família Pizzato.

A maior parte da produção de uvas passou a ser comercializada para vinícolas da região da serra gaúcha. A personalidade é fruto da interação entre o objeto/ser e as transformações decorrentes de vivência, educação e experiência; é dessa forma que sua estrutura se torna íntegra ao longo dos vários estágios da existência, do nascimento à lembrança.

Os integrantes da Família são os responsáveis por todo o processo que faz do vinho uma bebida de identidade única, da produção de uvas à elaboração e comercialização dos vinhos, gerando um diferencial de entusiasmo, dedicação, personalidade e exclusividade traduzidos em vinho.

Atualmente a Família Pizzato vê seus vinhos entre os mais destacados em degustações e painéis de vinhos Brasileiros e Internacionais, além de estarem presentes em restaurantes e lojas especializadas no Brasil e no exterior.

Mais informações acesse:

http://pizzato.net/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA


Degustado em: 2016

 

 

 

 

 




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