domingo, 6 de junho de 2021

Grifone Sangiovese 2018

 

O que vem a cabeça quando falamos dos vinhos italianos, da cultura vitivinícola italiana? Na realidade muita coisa, muitas castas, muitos tradicionais rótulos e regiões vêm à mente, mas não há como não se lembrar da Sangiovese! Um enófilo que se preze não pode passar pela vida e degustar um rótulo que leve a Sangiovese, seja no clássico Brunello de Montalcino, nos grandes Chiantis ou aqueles vinhos mais jovens e diretos que traz um aroma frutado, perfumado.

Não há dúvida de que temos várias outras cepas importantes que faz da Itália um polo importante da história mundial do vinho, mas a Sangiovese é um “produto” de exportação do país para todo o planeta, não há como dissocia-los. Em todos os cantos da Itália a Sangiovese figura, mas é na Toscana que ela reina absoluta. Mas foi em outra emblemática região italiana, terra das castas Negroamaro e Primitivo, que eu decidi degustar o meu primeiro rótulo da Sangiovese: Puglia ou Apúlia.

E nada foi pensado, nada foi milimetricamente refletido para chegar a esse rótulo da tradicional e centenária família Castellani. Estava eu, mais uma vez, fazendo as minhas incursões pelos supermercados e, olhando despretensiosamente as gôndolas dos vinhos, sem muita expectativa de encontrar um rótulo atraente, sobretudo no quesito custo X benefício, quando avistei um rótulo vermelho, mas discreto e austero remetendo as tradições italianas e, quando tive a garrafa em minhas mãos, observei que era um Sangiovese italiano da região de Puglia.

Logo pensei: Deve ser caro, afinal um famoso Sangiovese da Velha Bota, deve doer ao bolso, mas, talvez com um pouco de esperança decidi averiguar o preço, que no primeiro olhar, tive dificuldades de encontrar. Localizei e quando olhei com mais detalhe percebi o excelente valor de R$ 29,90! Certamente estava na promoção e me senti na obrigação de fazer a aquisição. Sem contar que, ainda no local, descobri que se tratava de um rótulo da Castellani o que facilitou, ainda mais, pois já havia degustado um vinho do referido produtor da famosa linha Ziobaffa, o Ziobaffa Sangiovese e Syrah da safra 2015, entre outros rótulos que abrilhantam a minha humilde adega que, espero em breve, ter o prazer de degusta-los.

O vinho que degustei e gostei, como disse, veio da excelente região de Puglia e se chama Grifone, da casta Sangiovese (100%) da safra 2018. E para não perder o ritmo, já que mencionei Puglia e Sangiovese, região e casta que compõe esse surpreendente e belo vinho, falemos um pouco da história de ambos.

Sangiovese: a rainha italiana

Algumas teorias em torno da origem da casta datam seu cultivo desde a vinicultura romana, e parte disso se dá por conta do nome dela. Sangiovese vem do latim “Sanguis Jovis”, ou seja, sangue de Júpiter. Outros garantem que ela já existia desde a civilização Etrusca, que viveu onde hoje é a Toscana entre 1.200 e 700 a.C. De qualquer maneira, o primeiro documento encontrado a respeito da uva é de 1590, na própria Toscana. Seu reconhecimento, no entanto, só aconteceu depois do século XVIII, quando passou a ser uma das castas mais plantadas da região, onde encontra condições perfeitas de crescimento.

Foi na Toscana que, em meados do século XIX, o agricultor Clemente Santi isolou suas vinhas para uma prática pouco comum na época: fabricar vinhos varietais de Sangiovese, que envelheceriam por um período considerável. Em 1888, seu neto Ferruccio Biondi-Santi, um veterano soldado que lutou ao lado de Giuseppe Garibaldi, lançou a primeira versão moderna do Brunello di Montalcino, um vinho que descansou por mais de uma década em barris de madeira. O vinho agradou tanto os toscanos que, nas primeiras décadas do século XX, já era aguardado ansiosamente por críticos e consumidores locais. Ao redor de 1950, a fama do Brunello extrapolou os limites italianos e fez dele um fenômeno mundial. A guinada final da Sangiovese foi dada nos anos 1960 e 70, quando aconteceu uma revolução enológica que deu origem aos chamados Supertoscanos.

Nessa época, os vinhos mais importantes da região eram largamente conhecidos, mas não reconhecidos. Alguns vinicultores acreditavam que as regras de produção estabelecidas os impediam de fazer um vinho de maior qualidade, utilizando, além da Sangiovese, uma pequena porcentagem de castas internacionais e técnicas mais modernas. Eles então se “rebelaram” e passaram a produzir vinhos da maneira que achavam certo, sem se importar com as regras que lhes garantiam o selo DOC. O resultado foram vinhos de alta qualidade e preço, que mais tarde ficaram conhecidos como Supertoscanos.

A Sangiovese é cultivada em cerca de 100 mil hectares (o que corresponde a quase 10% de toda a área plantada dos páis) e contribui com 15% dos vinhedos que resultam em vinhos DOC. Ela é cultivada em 18 regiões, 70 províncias e dá origem a mais de 190 tipos de vinho diferentes. Os italianos gostam de pensar que a casta é o equivalente italiano à Cabernet Sauvignon, tanto por seu potencial de envelhecimento quanto pela versatilidade, uma vez que se dá bem tanto em vinhos varietais quanto em grandes blends. Em sua casa, na Toscana, em seu estilo mais tradicional, a uva – de cor rubi intensa e cachos bem carregados – dá origem a vinhos herbáceos e com sabores de cereja, além de ter acidez alta e taninos marcantes. Por isso, pode envelhecer por anos, como é o caso dos Brunello di Montalcino.

os vinhos produzidos com a Sangiovese são tintos, com estrutura tânica de média a forte e corpo médio.

A uva Sangiovese também é conhecida por proporcionar uma boa expressão de frutas (como morangos, mirtilo, ameixas e cerejas, por exemplo), especiarias e notas herbáceas e nos grandes vinhos envelhecidos a baunilha e o tabaco. Possuem acidez elevada, equilíbrio e os taninos firmes garantem um final elegante ao sabor.

Puglia: Uma das gigantes da Itália

O nome Puglia vem do povo Iapigi, que os romanos em latim chamaram de Apuli, e a região, consequentemente, Apulia.  Em português o nome se manteve como em latim, e em italiano passou a ser Puglia. Puglia fica no “calcanhar da bota” do mapa italiano. A região é cercada por praias consideradas as mais lindas da Itália, como Torre dell’Orso, um balneário italiano de pequenas falésias que moldam e encantam as areias de seu litoral. Outro destaque da região é a cidade de Otranto, a maior dessa parte do litoral, que possui sítios históricos, que nos remetem a era da Itália medieval e ainda mantém algumas ruínas greco-romanas.

Puglia, Itália

O sul da Itália é considerado o berço do vinho italiano. Embora a região setentrional também possua seu prestígio, as regiões que compreendem a parte sul, Molise, Campânia, Basilicata, Calábria e Puglia, são destaque na produção e qualidade dos famosos vinhos italianos, sendo Puglia a região considerada principal, não somente pela grande produção de seus vinhedos, como também pela qualidade dos vinhos. Puglia possui uma extensão de aproximadamente 400 km através da costa do mar Adriático, com clima e solo considerado ideal para a produção de vinhos, além da topografia da região ser praticamente plana. Puglia possui uma área de vinhedos de 190.000 ha, a região é responsável por 17% da produção de vinho italiano. Em Puglia, 60% da produção se dão através do sistema de cooperativas.

A região tem ampla diversidade de uvas nativas, que conferem status quando o assunto é exportação. Ao norte da região as uvas mais abundantes são a Trebbiano e a Sangiovese e os vinhos gerados a partir dessas espécies respondem por até 30% dos vinhos DOC produzidos na região. Há ainda as uvas Bombino Bianco e Montepulciano, oriundas da província de Foggia, e a “Uva di Troia” ou Sumarello. As que possuem maior destaque na região são a Primitivo e a Negroamaro.

Puglia DO

A uva Primitivo é proveniente de Manduria, localizada ao sul da região, a 10km do mar Jônio. Normalmente, os vinhos dessa uva possuem corpo denso e médio, cor escura e acidez entre média e alta, de boa longevidade e excelentes companheiros na gastronomia da região. A uva Negroamaro é utilizada para a produção de vinhos bastante rústicos. Atualmente é trabalhado em conjunto com a Malvasia Negra, o que resulta na produção de vinhos muito fortes e bem encorpados, considerados ideais para o consumo com carne.

E agora o vinho!

Na taça tem um rubi intenso, quase escuro, com entornos violáceos. Uma cor muito brilhante, reluzente e vívido, com média concentração de lágrimas, mas que demora a se dissipar, desenhando as paredes do copo.

No nariz um “mix” de frutas vermelhas maduras e frutas pretas tais como framboesa, cereja, ameixa, além das especiarias, o toque da pimenta, algo picante, diria.

Na boca é seco, de leve para médio, a personalidade da Sangiovese, mesmo com uma proposta jovem se faz presente, graças aos toques de couro, ouso dizer até de tabaco, aquela participação rústica típica da cepa, com a reprodução das notas frutadas percebidas no aspecto olfativo, com taninos discretos, macios, com uma alta acidez. Um final de média persistência.

Na terra da Primitivo e Negroamaro a Sangiovese também se revelou neste belíssimo e surpreendente rótulo. Puglia ainda é capaz de me entregar grandes surpresas, grandes rótulos e eternas e doces novidades. Um terroir digno de reverências e que entrega a Sangiovese um mix muito interessante de frutas vermelhas, pretas e silvestres, com notáveis toques de especiarias, de pimenta, um discreto toque terroso, que faz deste exemplar de Sangiovese da região de Puglia, das minhas preferidas da Itália, um vinho de personalidade marcante, mas muito macio e fácil de degustar. Um clássico Sangiovese italiano, que traz toda a tipicidade de suas terras, mas que traz também um conceito bem contemporâneo de um vinho jovem, informal e despretensioso. Belo vinho com a cara e o DNA da Itália. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a vinícola Castellani:

O negócio de Castellani foi estabelecido em Montecalvoli no final do século 19 quando Alfred, um viticultor de longa data, decidiu começar a engarrafar e vender seu vinho. O filho de Alfredo, Duilio, junto com seu irmão Mario dá início ao período de expansão da empresa. Duilio, homem meticuloso e diligente, participa ativamente de todas as etapas do trabalho. A vinha mais importante é aquela situada em Santa Lúcia, no fértil vale do Arno, onde se produz um vinho tinto vivo e apto para envelhecer e engarrafado em típicos frascos com palha, conquistando o interesse dos mercados transalpinos. Nos anos seguintes, o filho primogênito de Duilio, Giorgio, homem determinado e ambicioso, inicia a exportação em grande escala. A enchente de 1966 causa grandes danos à vinícola Montecalvoli. Decide-se então transferir temporariamente o negócio para a Fazenda Burchino, nas colinas da vila de Terricciola. O irmão de Giorgio, Roberto, brilhante jornalista do jornal “Il Giornale del Mattino”, de Florença, corre para ajudar a retirar lama da vinícola da família. Ele então decide ficar e contribui para a evolução da empresa. Roberto, homem culto e cosmopolita, inicia uma atividade pioneira em mercados longínquos, tornando-se um dos defensores do sucesso internacional do Chianti. A aquisição da vinha Poggio al Casone coincide com a ampliação da adega da Quinta Travalda em Santa Lúcia. urante a noite do dia de Ano Novo em 1982, um incêndio queimou quase completamente as instalações da empresa. Parece ser o fim. Mas em poucos meses os irmãos Castellani adquirem a Fazenda Campomaggio e, graças à contribuição de Piergiorgio, filho de Roberto, o negócio ganha força. As pesquisas vitivinícolas e tecnológicas são promovidas por especialistas como o enólogo Sabino Russo e o agrônomo Carlo Burroni. Hoje esta empresa centenária persegue com grande entusiasmo o objetivo de produzir vinhos, que são a expressão de uma das maiores regiões enológicas do mundo: a Toscana. 

Mais informações acesse:

https://www.castelwine.com/

Referências:

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/sangiovese-uva-icone-da-toscana_11856.html

Blog “Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/regioes/puglia-uma-das-maiores-da-italia/

Blog “Diário de Bari”: http://diariodebari.blogspot.com/2011/12/puglia-um-pouco-de-historia.html

Portal “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/vinhos-de-puglia-o-berco-dos-vinhos-italianos/

“ViaVini”: https://www.viavini.com.br/blog-de-vinhos/uva-sangiovese-conheca-os-segredos-da-rainha-dos-vinhos-italianos/





 


sábado, 5 de junho de 2021

La Moneda Reserva Malbec 2018

 

Com a degustação de hoje alguns tabus que insistem em circular no universo do vinho cairão! Falo com eloquência e convicção porque é preciso e urgente. Visões pré-concebidas, equívocos históricos e até comportamentos intolerantes e depreciativos precisam cair por terra, afinal, vinho é sinônimo de prazer, alegria e celebração e não pode e nem deve estar atrelado a questões e sentimentos tão mesquinhos e pequenos. Temos um, “menos brando” e que está no campo dos equívocos é que Malbec bom tem de ser argentino e pesadão, encorpado e amadeirado. É, de fato, indiscutível que o melhor Malbec do planeta está localizado na emblemática região de Mendoza, na Argentina, é sabido também que um Malbec encorpado, com passagem por barrica de carvalho também é maravilhoso.

Mas por que não degustarmos um Malbec de outro país e que não seja tão barricado e que plenamente valorize as características mais genuínas da cepa, um vinho franco, frutado, sem muita complexidade. Já experimentou? Já tentou? Pode parecer difícil encontrar vinhos Malbec com essa proposta e é mesmo, afinal é mais prático e “seguro” encontrar aquele Malbecão potente e amadeirado, mas quando se tem dedicação em garimpar e conhecer as características de um Malbec mais direto e frutado, jovem e se essas se identificam com você, com o que você está procurando no momento, eu vos digo: Por que não?

Infelizmente o vinho no Brasil está ligado a status e poder e um Malbec, sempre famoso, amadeirado é mais caro e aquele mais em conta sempre são taxados de simplórios e inexpressivos, mas é uma pena que ainda o dito apreciador de vinho não tenha a capacidade de discernir que são propostas, simplesmente propostas. Mas o Malbec que degustei vem do Chile, sim, do Chile! Confesso que, quando o comprei, eu não sabia que havia produção de rótulos dessa casta em profusão no Chile e logo me interessou e é um vinho que, apesar de ostentar em seu rótulo o “reserva”, este não passou por barrica de carvalho. Arrisquei, sem medo algum, até porque também o valor estava muito convidativo, em torno de R$ 32,00! Porém confesso também que o que mais me chamou a atenção também foi um prêmio que esse vinho conquistou em Londres, na sua safra de 2015, como um dos melhores vinhos mais baratos do mundo! Não ligo para medalhas e prêmios, afinal degusto o vinho e não pontuações, mas não há como negligenciar esse reconhecimento.

Então é chegada a hora de apresenta-lo! O vinho que degustei e gostei veio da essencial região chilena do Valle Central e se chama La Moneda Reserva da casta Malbec e a safra é 2018. E para coroar os seus predicados (e que qualidades, trata-se de um excelente vinho barato) pertence a um dos meus produtores preferidos a Viña Luis Felipe Edwards que, a cada ano, cresce vertiginosamente se tornando uma das mais importantes vinícolas do Chile e do mundo e o La Moneda Malbec sintetiza isso com extrema fidelidade.

E antes de falar propriamente do vinho falemos do importante prêmio que este ganhou, a safra de 2015 que, quando descobri e fui a busca para tentar adquirir a referida safra, infelizmente cheguei um pouco tarde tendo a safra 2018 disponível para venda, mas que não me arrependi nem um pouco de compra-lo. O La Moneda Reserva Malbec conquistou o título de título de Platinum Best in Show no ano de 2015 no Decanter World Wine Awards, promovida pela respeitada revista britânica Decanter, onde mais de 200 especialistas experimentaram milhares de vinhos (sempre às cegas), despindo os preconceitos de que valores de vinho nem sempre está ligado à qualidade.

Um vinho com a assinatura da Luis Felipe Edwards, com a tipicidade de uma das regiões chilenas mais emblemáticas, uma das minhas favoritas e que não me canso de falar; Valle Central! E já que não me canso de falar, que as linhas da história do Valle Central apareçam!

Valle Central: o centro vitivinícola do Chile

Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso, o Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão, indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling, Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e diferenças marcantes. O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres deu início a vinicultura moderna.

Valle Central

A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale, portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de passar pela barreira natural da montanha. Quem se beneficia com isso é a produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central é uma área plana, localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.

E agora o artista do espetáculo: o vinho!

Na taça entrega um rubi intenso, profundo, mas tem entornos violáceos que brilha reluzente, com lágrimas grossas e abundantes que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz traz a exuberância de frutas negras como ameixa, amora e cereja negra e especiarias, diria com um toque herbáceo, talvez pimentão, que é o destaque nesse aspecto do vinho.

Na boca é seco, saboroso, um bom volume em boca, que traz a sensação de alguma estrutura, mas muito fácil de degustar, sendo equilibrado, harmonioso, com taninos polidos, macios e uma acidez equilibrada que garante ao vinho um frescor e vivacidade. Tem um final curto.

Vamos nos despir de preconceitos, de visões pré-concebidas que nos impede de descobrir novos rótulos, novas experiências sensoriais. Não mensure a qualidade de vinho por preço, não o utilize como status econômico e social, se permita degustar novas propostas, novas regiões, novas castas, leia, se informe, busque as informações que, além do ganho cognitivo, trará novas opções de rótulos, de vinhos, de prazer! É isso: prazer! Vinho é saúde, prazer e celebração! O La Moneda Reserva proporciona tudo isso: prazer, estímulo a celebração e derruba alguns dos grandes tabus que ainda insistem em assombrar o universo do vinho: um vinho barato, frutado no aroma, saboroso no paladar, com alguma estrutura, créditos da Malbec, mas fácil de degustar, fazendo do mesmo um vinho versátil e ideal para degustar de forma despretensiosa, rodeada de amigos, mas imponente como todo o Malbec é e tem de ser. Imponente por ser expressivo, pelo fato de fidelizar as características essenciais da cepa. Teor alcoólico de 12,5%.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central

“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/

“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente





sexta-feira, 4 de junho de 2021

Moura Basto Vinho Verde Rosé

 

Os vinhos verdes, na sua concepção mais tradicional, mais difundida, ou seja, na sua proposta mais leve, com aquele típico frescor e a famosa “agulha” e a informalidade, definitivamente caiu no gosto dos brasileiros. São vinhos que tem tudo a ver com as características tropicais e o nosso verão, está inserido em nossa cultura, em nosso DNA. Juntamente com os alentejanos, os vinhos da emblemática e famosa região dos Vinhos Verdes são os que mais vendem no Brasil, não há como questionar a sua popularidade em terras tupiniquins. Atualmente, para trazer diversidade e até sofisticação aos vinhos verdes, encontramos rótulos mais complexos, com passagens por barricas de carvalho e tudo o mais. Há quem diga que existe uma preocupação da instituição que rege, cuida e certifica os vinhos verdes quanto a má associação dos frescos vinhos verdes e os seus preços atrativos com má qualidade o que é um verdadeiro absurdo, afinal propostas precisam ser respeitadas e os tais vinhos verdes mais complexos também precisam ser entendidos e recebidos com mais uma proposta.

Melhor do que a proposta, do que o frescor ou ainda da complexidade dos mais diversos rótulos que abrilhantam esse rico terroir lusitano é o forte apelo regionalista que acompanham seus vinhos. É inacreditável que, mesmo não ter colocado os pés na região dos Vinhos Verdes, quando você inunda desses líquidos a sua taça, você tem a nítida sensação de que está degustando um típico vinho verde, claro, primeiramente por suas características marcantes o que, claro, define seu terroir, sua tipicidade, mas pelas suas sub-regiões, suas castas autóctones e pouco conhecidas, na maioria dos casos.

As expressões sensoriais parecem te transportar a região, te faz trafegar por cada viela, cada canto de toda a região, se sente familiar a cultura, a região, ao seu povo, o vinho é muito mais do que a degustação, é apreciar a cultura, a história, viva e pulsante, de um povo ávido pelo vinho, o vinho como identidade, como referência. Falo com tanto fervor e entusiasmo porque vinho verde faz parte de minha história enófila há pelo menos 20 anos! E apesar do Brasil ser um consumidor de vinhos verdes, tais rótulos chegam caros em nossas gôndolas de supermercado. Altos impostos, custo Brasil, tudo implica, mas ainda há esperanças, pois encontramos alguns bons vinhos verdes com preços bem convidativos por aí.

Eu tive a sorte de encontrar um e, como sempre sem querer, da forma mais inesperada possível! Estava eu fazendo a minha costumeira compra de vinhos e me dirigindo para o local de pagamento quando avistei, em um lugar de destaque um vinho verde rosé, que também não é sempre, com o surpreendente valor de R$ 19,00! Não tive dúvidas em tomar uma garrafa em minhas mãos e, apesar de não constar nenhuma informação relevante como safra e castas, decidi arriscar e levar um rótulo. Mas, para não ficar no escuro, encontrei o site do produtor e pedi informações do vinho. O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região dos Vinhos Verdes e se chama Moura Basto, um vinho verde rosé, DOC, não safrado com um inusitado blend das castas Espadeiro (50%), Borraçal (30%) e Padeiro (20%). A vinícola, Caves Moura Basto, está situada na sub-região de Amarante o que deduz que esse rótulo é oriundo dessa região interiorana. Falemos de Vinhos Verdes, Amarante e dessas regionais castas pouco conhecidas do grande público.

Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho

Originariamente demarcada a 18 de Setembro de 1908, a Região Demarcada dos Vinhos Verdes estende-se por todo o noroeste de Portugal, na zona tradicionalmente conhecida como Entre-Douro-e-Minho. Tem como limites a Norte o rio Minho, que estabelece parte da fronteira com a Espanha, a Sul o rio Douro e as serras da Freita, Arada e Montemuro, a este as serras da Peneda, Gerês, Cabreira e Marão e a Oeste o Oceano Atlântico. Em termos de área geográfica é a maior Região Demarcada Portuguesa, e uma das maiores da Europa.

Região dos Vinhos Verdes

As condições naturais desta Região são as ideais para a produção de excelentes vinhos brancos, assim como espumantes e aguardentes. Os espumantes de Vinho Verde têm revelado uma qualidade surpreendente, ao que não será alheio o fato da Região produzir grandes vinhos que, pela sua frescura natural e baixo teor alcoólico, mostram enorme potencial para produção de bons espumantes. Já o teor em acidez natural dos bagaços e vinhos da Região, bem como as suas características organolépticas, mostram condições técnicas excelentes para a produção de grandes aguardentes bagaceiras, a partir da destilação dos bagaços, e de excelentes aguardentes de vinho, fruto da destilação dos vinhos.

Orograficamente, a região apresenta-se como "um vasto anfiteatro que, da orla marítima, se eleva gradualmente para o interior" (Amorim Girão), expondo toda a área à influência do oceano Atlântico, fenômeno reforçado pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. Esta influência atlântica, os solos na sua maioria de origem granítica, o clima ameno e elevada precipitação, traduzem-se na frescura, leveza e elegância dos vinhos desta região.

Sub-região de Amarante

Integra os concelhos de Amarante e Marco de Canaveses. Localizada no interior da Região, a sub-região de Amarante encontra-se protegida da influência do Atlântico e a uma altitude média elevada, pelo que as amplitudes térmicas são superiores à média da Região e o Verão mais quente. Estas condições favorecem o desenvolvimento de algumas castas de maturação mais tardia: Azal e Avesso (brancas), Amaral e Espadeiro (tintas). O solo é granítico, tal como na maior parte da Região. Os vinhos brancos apresentam habitualmente aromas frutados e um título alcoométrico superior à média da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região de Amarante, uma vez que as condições edafo-climáticas referidas favorecem uma boa maturação das uvas, sobretudo da casta Vinhão, o que permite obter vinhos com cor carregada e muito viva, apreciada pelo consumidor regional.

As castas

Espadeiro

A Espadeiro é uma uva autóctone portuguesa, conhecida por dar origem à ótimos vinhos tintos e vinhos rosés, na região dos Vinhos Verdes. Existem, também, duas sub-variedades da uva Espadeiro, Espadeiro Tinto e Espadeiro Mole. No sul de Portugal, o nome Espadeiro é utilizado para referir-se a uva Trincadeira (Tinta Amarela). É importante não confundi-las, pois são variedades completamente diferentes! Com cachos compactos e de formato cilíndrico, bagos arredondados e de coloração preta-azulada, a Espadeiro é um casta que apresenta boa resistência ao ataque de pragas e doenças.

A uva Espadeiro é originária do Minho, dentro da região vitivinícola dos Vinhos Verdes, em Portugal. Fora de sua terra natal, a uva tinta Espadeiro é cultivada na região de Rías Baixas, na Espanha. Entre os principais aromas da uva Espadeiro vale destacar notas de frutas cítricas, como toranja, e nuances de frutas vermelhas, como morango.

Borraçal

Borraçal é uma casta de uva tinta, cultivada na região dos vinhos verdes, exceto na zona de Monção. Tem um grande interesse regional, pois é antiga e tradicional. As gentes do campo apreciam muito o seu vinho, pois tem muita qualidade, mas também o viajante já pede vinhos com casta Borraçal. Além da sua rusticidade, os seus vinhos são de cor rubi, com uma elevada acidez fixa, com bagos pequenos a médios, e os cachos são pequenos de forma cónica. É uma casta rústica, recomendada em toda a região vinícola dos vinhos verdes. Também lhe chamam, Esfarrapa e Morraça, em Viana do Castelo, Cainho Grande, Cainho Grosso ou Espadeiro Redondo, em Monção, e na zona de Basto é conhecida por Azevedo, Bogalhal ou Olho de Sapo.

Padeiro

Casta de pouca expansão na região dos Vinhos Verdes, sendo cultivada particularmente na sub-região de Basto, aparecendo também nas sub-regiões do Ave e do Cávado, tendo aqui como sinónimos “Tinto Matias”, “Tinta Cão” ou ainda “D. Pedro”. Casta de vigor médio e pouco rústica. Com um índice de fertilidade médio, com uma a duas inflorescências por ramo, dá cachos grandes e frouxos, o que torna esta casta muito produtiva. Pouco sensível à podridão dos cachos, mas sensível ao stress hídrico. Produzem mostos naturalmente ricos em açúcares e pouco ácidos, dando vinhos de cor vermelha rubi a granada, de aroma e sabor à casta que lembram frutos vermelhos (morango e framboesa) e na boca revelam-se harmoniosos e saborosos. Utilizada em vinhos tintos de lote e em rosados estremes.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um lindo rosado claro, límpido, transparente, um rosé salmão, mas muito brilhante.

No nariz é uma explosão aromática de frutas frescas, frutas vermelhas como melancia, framboesa e morango, nota-se também maçã, um toque floral que entrega delicadeza, entrega frescor e jovialidade.

Na boca é leve, elegante, extremamente saboroso, um vinho muito frutado também no paladar, reproduzindo as impressões olfativas, enche a boca com seu frescor, bem marcante, com um discreto adocicado, sem ser enjoativo, uma boa acidez e um final longo e persistente.

A cada rótulo que degustamos de um vinho verde é uma nova e grata surpresa, independente de seus valores monetários e de suas propostas. E apesar dessa diversidade de castas, de propostas e peculiaridades, algo parece ser consensual: o apelo regionalista. É muito forte, é muito intenso e mesmo diante da pretensa simplicidade dos vinhos verdes, de seu frescor, de sua leveza e delicadeza torna-se, por outro lado muito expressivo pela sua tipicidade, por entregar o que há de melhor do seu terroir. Moura Basto Rosé é expressivo, tem marcante personalidade por conta disso, mesmo sendo fresco, leve, informal e despretensioso, afinal, da simplicidade vem a nobreza, a nobreza de uma terra fértil e que entrega o melhor de sua história, de sua cultura. E falando em entrega esse rótulo o faz muito além do seu baixo valor. Que vinho verde! Teor alcoólico de 10,5%.

Sobre as Caves Moura Basto:

Moura Basto é o nome de uma nobre e tradicional família Portuguesa, originária do Norte de Portugal, região onde Portugal deu os seus primeiros passos como nação. Por essa altura, e num trabalho árduo de expansão de território para as atuais fronteiras de Portugal, muitas batalhas foram travadas e muitos cavaleiros foram chamados em auxílio dos Reis para ajudar nessa dura e nobre tarefa.

A família Moura Basto tem ligações a esse período, representadas no seu brasão, presente nos rótulos dos vinhos Moura Basto, cujos elementos remetem para a união e as vitórias alcançadas na conquista das terras portuguesas, bem como o amor e fidelidade juradas à Família e ao País. Uma imagem forte que transmite valores como tradição e prestígio patentes na utilização dos acabamentos (ouro e papel especial) e, ao mesmo, tempo moderna, sofisticada e elegante.

Mais informações acesse:

https://enoport.pt/marcas/moura-basto/

https://enoport.pt/

Referências:

“Vinho Verde”: https://www.vinhoverde.pt/pt/regiao-demarcada

https://viticultura.vinhoverde.pt/pt/casta-padeiro

“CIPVV”: https://www.cipvv.pt/pt/mapa-regiao/amarante/

https://www.cipvv.pt/pt/castas/padeiro-padeiro-de-basto/

“Jornal da Golpilheira”: https://jgolpilheira.wordpress.com/2010/10/28/casta-de-uva-borracal/

“DiVinho”: https://www.divinho.com.br/uva/espadeiro/

 

 



 


terça-feira, 1 de junho de 2021

Adobe Gewürztraminer 2015

 

Nos dias atuais eu tenho garimpado novas experiências sensoriais, saindo da temível zona de conforto, com novas castas e novas regiões pelo menos para mim. Mas esse meu desejo, essa minha avidez pelo novo no universo do vinho já vem de algum tempo, já vinha atingindo contornos há pelo menos uns 3 ou 4 anos, aproximadamente. Embora algumas cepas sejam populares em seus países de origem ou na maioria dos países consumidores e produtores de vinho, no Brasil ainda são carentes de oferta de rótulos.

E o exemplo é a casta chamada “Gewürztraminer”. O nome é grande e até, as vezes, para muitos, é impronunciável, mas quando a conheci, quando a descobri sem querer (sempre é assim, já reparou?) nunca havia degustado uma casta tão delicada, tão aromática, mas de marcante personalidade em minha vida. Que primor! Que maravilha! Parece que você está cheirando um buquê de flores brancas, parece que você está em um campo com flores brancas e você, no meio, a correr, como se estivesse levitando com tamanho aroma.

A minha primeira experiência com a Gewürztraminer foi, como sempre, em um evento de degustação em minha cidade, Niterói, um evento, anualmente, produzido por uma grande rede de supermercados local. Isso foi há pouco tempo, em 2017. Quando me aproximei do estande de uma vinícola chilena importante chamada Emiliana, conhecida mundialmente por produzir vinhos orgânicos e biodinâmicos e que pertence a gigante Concha Y Toro, percebi alguns vinhos de rótulos simples, mas elegantes e a minha curiosidade foi o imã para tê-los em minhas mãos e em minha taça.

E foi aí que vi o nome da casta: enorme, difícil de falar, pedi ajuda para o demonstrador que, muito atencioso, falou pelo menos umas duas vezes ou mais, não me recordo, para eu aprender a falar: Gewürztraminer! E degustei o Adobe dessa casta e adorei! Que vinho interessante e saboroso! O paladar sucumbiu deliciosamente a cepa de nome complicado! O que importa! E decidi compra-lo, ir, onde quer que eu fosse para tê-lo em minha adega, até que, um belo dia, o encontrei.

Não demorei muito para degusta-lo e logo o tirei da adega para deleite das minhas experiências sensoriais. Então o vinho que degustei e gostei veio de uma região chilena chamada Valle del Rapel, que possui uma denominação de origem, e, claro, se chama Adobe Gewürztraminer da safra 2015.

Um pouco de curiosidade sobre o nome “Adobe”: O Adobe é um material natural milenar utilizado nas construções chilenas e que inclusive faz parte da estrutura da vinícola. Considerada uma linha Reserva, são feitos com uvas orgânicas e refletem a qualidade de seus vinhedos, tendo sempre um profundo respeito pelo meio ambiente e seus trabalhadores.

Adobe

Valle del Rapel DO

Para quem adora apreciar vinhos não apenas pela bebida em si, mas também pela História que está por trás de sua produção e, principalmente, por conta da região onde ele foi produzido, uma boa opção é começar a procurar por destinos interessantes onde é possível fazer turismo e degustar bons vinhos aqui por perto. Neste sentido, países como Uruguai, Argentina e Chile, são pródigos em oferecer boas opções para quem deseja viajar e se aprofundar mais dentro da História da produção vinícola destas regiões. Um bom exemplo disto é a região conhecida como Vale do Rapel, no Chile.

De todas as regiões vinícolas do Chile, o Vale do Rapel é sem sombra de dúvidas uma das mais interessantes para quem deseja unir turismo e vinhos de qualidade numa única viagem. A região responde por alguns dos melhores vinhos do Chile, e tem em suas origens ligadas ao início da produção vinícola no chamado Vale Central, que é uma das regiões mais importantes em matéria de vinhos do país, e que fica ao sul da capital, Santiago.

Vale del Rapel

O Vale do Rapel segue aquela velha lógica que indica que sempre que há um vale, também há um rio próximo, e neste caso, este rio atende pelo nome de Rio Rapel, que é o principal rio que corta e abastece toda a região. A agricultura de um modo geral é muito beneficiada pela presença do Rio Rapel, mas a produção vinícola é a que mais se favoreceu de sua presença, conseguindo traduzir isto em vinhos de altíssima qualidade. Boa parte da produção vinícola Vale Central do Chile tem sua origem no Vale do Rapel, que consegue entregar variedades das mais interessantes.

O Vale do Rapel se notabiliza pela produção de alguns dos vinhos mais importantes do Chile, sendo que dentre as variedades de vinhas mais cultivadas na região estão as seguintes: Cabernet Sauvignon e Carmenère. Portanto, se você procura por vinhos bons originários do Vale do Rapel, provavelmente terá de procurar entre as opções destas variedades de vinhas. Mas a região também produz vinhos Merlot, Cabernet Franc e Syrah, especialmente mais ao norte do Vale do Rapel.

Gewürztraminer, a casta aromática

A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A origem do nome da casta é ainda muito discutida, para alguns estudiosos do mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta, já para alguns degustadores, o nome foi dado a cepa por conta de suas características bastante marcantes, o aroma e perfume que denota aos vinhos brancos.

A origem da uva Gewürztraminer ainda é passível de dúvidas. A teoria mais provável é que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de Traminer, entretanto, há suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.

Com características físicas e sabores bastante marcantes, a uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem degustados com maior tempo de envelhecimento.

Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.

E agora finalmente o vinho!

Na taça possui um amarelo claro, palha com reflexos esverdeados que traz um brilho lindo e envolvente.

No nariz traz a explosão aromática, o principal destaque desta casta, o seu predicado, e entrega notas frutadas, de frutas brancas como abacaxi, pera, damasco, um toque herbáceo, de ervas que outro destaque maravilhoso da casta, sem contar com os aromas florais, de flores brancas que traz frescor e elegância ao vinho.

Na boca é saboroso, fresco, jovial e de marcante personalidade, por ser persistente, deixando uma grata sensação de doçura no paladar sem ser enjoativo, com uma acidez refrescante e equilibrada com um final prolongado e frutado. Passou 4 meses em tanques de aço inoxidável.

Um vinho orgânico como nunca havia degustado, meu primeiro branco orgânico que degustei e que estará definitivamente nos anais da minha humilde história de degustador neste vasto e inexplorado universo dos vinhos, da poesia líquida. Um vinho que consegue ser, ao mesmo tempo, delicado, elegante, mas poderoso, intenso, de personalidade. Uma drincabilidade, uma versatilidade que pode atingir em cheio vários paladares, dos mais exigentes e experientes aos mais joviais daqueles que estão começando a seguir no caminho do vinho. Versátil também na gastronomia, harmonizando com comidas leves e também sozinho, sem refeições, mas apenas com um bate papo informal com bons amigos para celebrar a vida e a este vinho que sintetiza como poucos o terroir diversificado do Chile. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Emiliana Organic & Vineyards:

No final da década de 1990, os visionários Rafael e José Guilisasti, perceberem que o mercado estava começando a mudar e que o consumidor global estava começando a se tornar mais consciente dos produtos que estava consumindo, não só por uma questão de saúde, mas também por seu efeito ambiental e social.

Foi assim que eles, juntamente com a visão enológica de Álvaro Espinoza, iniciaram o processo de conversão de uma vinícola chilena convencional em uma vinícola 100% orgânica e biodinâmica, com o firme propósito de criar vinhos da mais alta qualidade com respeito pela natureza e pelas pessoas.

Depois de mais de duas décadas o que começou como um sonho, hoje está corporizado em um portfólio completo, com grande reconhecimento nacional e internacional, e que se adequa as novas necessidades de nossos consumidores.

Mais informações acesse:

http://www.emiliana.cl/pt/


Referências:

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-encantos-do-vale-do-rapel-no-chile/#:~:text=A%20regi%C3%A3o%20responde%20por%20alguns,ao%20sul%20da%20capital%2C%20Santiago.

Degustado em: 2017






sábado, 29 de maio de 2021

Amandla! Red Fusion 2019

 

Tão prazeroso quanto degustar um vinho e seus rituais é a mensagem que o mesmo pode nos proporcionar de edificante. As vezes elas se conduzem de forma discreta, quase que imperceptível ao olho humano ou a sutileza ou se mostra de forma veemente e contundente diante de nossas retinas, mas está lá, seja no rótulo ou qualquer formato de comunicação.

Sempre defendi, de forma intensa e filosófica de que vinho e cultura andam de mãos dadas e mantém uma relação sinérgica, estreita e um complementa o outro, uma perfeita convergência a serviço de nós, pobres mortais enófilos. Além do apelo visual, do rótulo, austero ou descontraído, das regiões e suas tipicidades, com as suas castas, a história literalmente conta.

Quando recebi esse vinho de um clube de vinhos que não escolhemos, o que pode parecer um fator complicador, eu gostei, mas, confesso que, a priori, por desconhecer as informações contidas no seu rótulo, não significa muito para mim. Mas quando decidi que iria degusta-lo resolvi buscar maiores detalhes sobre o seu nome, que me chamou alguma atenção.

Quando as informações começaram a aflorar em uma explosão de conhecimento, algumas percepções acerca do vinho corroboraram claras como água cristalina. E não se enganem com algo do tipo “autoajuda” que, em vez de ajudar, diminui ainda mais o seu autoestima, muito pelo contrário, que adiciona valor a sua degustação.

O vinho que degustei e gostei veio da África do Sul da emblemática e poderosa região do Western Cape e se chama Amandla! Red Fusion com um avassalador e interessante blend das castas Shiraz (41%), Cabernet Sauvignon (34%), Merlot (16%) e Pinotage (9%) da safra 2019.

E antes de falar sobre o significado de “Amandla!” e das suas relevâncias culturais e históricas falemos um pouco da história de sua importante região: Western Cape, importante polo de produção vitivinícola da África do Sul.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso com tons violáceos muito brilhantes com uma boa concentração de lágrimas finas e persistentes que desenham as bordas do copo.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas negras, onde se destacam ameixa, amora, groselha preta com o toque de especiarias, de pimenta, típica da Syrah, maior percentual no blend.

Na boca é aveludado, mas que goza de uma marcante personalidade fazendo deste vinho versátil e de ótima drincabilidade, sendo muito saboroso corroborando com um bom volume de boca. As especiarias, as notas picantes se fazem presente, a Syrah domina as atenções, com as frutas negras se reproduzindo, crédito da Cabernet Sauvignon, com taninos presentes, mas domados e uma boa acidez que confere ao vinho jovialidade. Final persistente.

“Amandla!” significa poder nas línguas locais da África Sulista. É normalmente usado para criar um sentimento de unidade e união. O produtor afirma que o vinho traz a lembrança de que a força e a unidade são criadas quando se trabalha junto, simbolizando todas as mãos envolvidas na produção desta garrafa de vinho. Quando falamos, até de forma demasiada, em tipicidade, em terroir, traz a luz quando as mãos que criaram, que conceberam esse vinho, que vem com a cultura de um povo, o amor e o respeito a terra de onde se faz a vindima, todo o detalhe constrói o conceito e a proposta do vinho. Amandla! Red Fusion traz uma textura macia, uma elegância, um equilíbrio com personalidade, mas muito fácil de degustar. Um vinho ainda na plenitude de sua jovialidade, sintetizando o caráter expressivo e frutado dos típicos vinhos sul africanos. E os 10 meses que passou em tanques de aço inoxidável trouxeram à tona as características genuínas de todas as castas que compuseram esse interessante blend. As mãos, o trabalho, a dedicação e o esmero a serviço do enófilo, para seu deleite. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O nosso sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

 

 





sábado, 22 de maio de 2021

Torcello Cabernet Sauvignon 2015

 

Eu sempre defendi e defendo que a degustação de um vinho não se restringe ao consumo meramente, a degustação propriamente dita, embora seja o ápice, o momento épico, único, singular. Porém degustamos também a informação que absorvemos o conhecimento decantado, o banho de cultura, um escambo cultural é necessário sem nenhuma sombra de dúvida e não é mero preciosismo, mas também a certeza de que podemos ter acesso aos mais diversos rótulos, castas, regiões, países e o principal: novas experiências sensoriais que nos propicie a melhor, adivinhe, degustação, o célebre momento da degustação.

O caso desse rótulo retrata fielmente o que registrei acima. Em meados dos anos 2000, não sei dizer ao certo o ano, talvez 2013, eu participei de um evento de degustação no Rio de Janeiro, no Centro da cidade. Esse evento de degustação, tornou-se, por cerca de duas horas, o centro de minha atenções, o deleite das minhas experiências sensoriais. Eram muitos rótulos, estava difícil escolher por onde começar: vinhos brasileiros, italianos, portugueses...que dúvida ótima essa, não é?

Mas comecei as degustações e de estande por estande, produtor por produtor, observei, ainda ao longe, distante até, mas aproximei, interessado e, como que atraído, como um imã, cheguei em um estande que não tinha tantos rótulos disponíveis, mas que me interessou e confesso que não sabia o motivo pelo qual tinha sido atraído para aquele estande, para aquele produtor, talvez pelo fato de ser um rótulo novo, pouco conhecido à época.

Era um vinho brasileiro, de uma vinícola nova, mas que pertencia a gigante, tradicional e importante Família Valduga da região de Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos. E isso eu fui descobrindo pelo fundador, Rogério Carlos Valduga, isso mesmo, o criador da vinícola em pessoa estava diante de mim, muito atencioso e simpático, que passava, sem hesitar, todas as informações dos rótulos disponíveis e da sua vinícola. Fiquei tão entusiasmo quando degustei cada um deles, Merlot, Tannat etc, que diante da opção sensorial, os meus sentidos apontou para o Torcello, esse também é o nome da vinícola e que dá nome aos vinhos também, da casta Tannat da safra 2014.


Eu estava experimentando os Tannats nacionais e estava gostando e muito dos rótulos escolhidos, então esse veio a calhar e como veio! Então aqui seguem as minhas impressões, mais do que entusiasmadas, desse ótimo vinho: Torcello Tannat 2014. Mas o tempo foi passando, descobertas foram sendo feitas, novas experiências sendo empreendidas e no ano de 2017, em mais um evento de degustação conhecido como “Vinho na Vila”, direcionado apenas aos vinhos nacionais, lá estava eu passeando pelos estandes e conhecendo um pouco mais os rótulos brasileiros. Esse evento foi emblemático, um verdadeiro divisor de águas para mim, no que tange ao contato mais intenso com os vinhos tupiniquins.

E por uma grata surpresa lá estava o estande da Torcello! Agora com uma bela diversidade de rótulos, novos rótulos para mim e os que eu já conhecia daquela época de 3 ou 4 anos atrás. E neste evento o Rogério Carlos Valduga de novo, juntamente com a sua simpática, empatia e atenção tão característica que tive a oportunidade de ver há algum tempo atrás. Claro que fui até o estande, não hesitei desta vez e degustei um a um e cheguei ao Cabernet Sauvignon (não me recordo se tinha degustado este na primeira vez, no primeiro contato com os vinhos da Torcello), fui servido, a minha taça cheia de novidades! O degustei e gostei! Que vinhaço! Então não hesitei em levá-lo.

Ficou em minha adega por longos 4 anos! E com 6 anos de safra, um vinho mais austero, poderoso, mas afinado pelo tempo. A ansiedade palpitava! É chegada a hora de degusta-lo. Então o vinho que degustei e gostei veio do Brasil, da região do Vale dos Vinhedos e se chama claro, Torcello da casta Cabernet Sauvignon (100%) da safra 2015. Mas antes de falar do vinho não podemos deixar de enaltecer a região de onde é oriunda: Vale dos Vinhedos!

O Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos localiza-se no centro do triângulo formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul (noroeste) e Garibaldi (sul). O Vale dos Vinhedos compreende a parte da bacia hidrográfica do Rio Pedrinho, situada a montante da foz de um córrego afluente deste e situado a sudeste da comunidade de Vale Aurora, no município de Bento Gonçalves. A parte do vale a jusante é denominada de Vale Aurora. A maior parte da área do Vale dos Vinhedos fica localizada em território do município de Bento Gonçalves, com 55 por cento do total, e a menor parte fica localizada em território de Monte Belo do Sul, com 8 por cento na porção noroeste. A parte sul do Vale pertence ao município de Garibaldi, com 37 por cento da área total. Parte da zona urbana de Bento Gonçalves situa-se dentro do perímetro do Vale, haja vista que a linha divisória de águas entre as bacias do Rio Pedrinho e do Rio Buratti passa pela parte oeste da cidade. Localizam-se ao longo desta linha, ou próximo desta, a pista do Aeroclube de Bento Gonçalves, a Estação Rodoviária de Bento Gonçalves, o Estádio da Montanha e a Estação Ferroviária de Bento Gonçalves.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região com classificação de Denominação de Origem (DO) de vinhos no país. Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO, outorgado pelo INPI.

Vale dos Vinhedos DO

Detalhes da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos

1 - A produção de uvas e a elaboração dos vinhos ocorrem exclusivamente na região delimitada do Vale dos Vinhedos, uma área de 72,45 km2 localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.

2 - Existem requisitos específicos para de cultivo dos vinhedos, produtividade e qualidade das uvas para vinificação;

3 - Os espumantes finos são elaborados exclusivamente pelo “Método Tradicional” (segunda fermentação na garrafa), nas classificações Nature, Extra-brut ou Brut; para este produto as uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório; 

4 - Nos vinhos finos brancos, a uva Chardonnay é de uso obrigatório, podendo ter corte com a Riesling Itálico;

5 - O uso da uva Merlot é obrigatória para os vinhos finos tintos da DO, os quais podem ter cortes com vinhos elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat;

6 - Os produtos que passam por madeira envelhecem exclusivamente em barris de carvalho;

7 - Para chegar ao mercado, os vinhos brancos passam por um período mínimo de envelhecimento de 6 meses; no caso dos vinhos tintos são 12 meses; os espumantes finos passam por um período mínimo de 9 meses em contato com as leveduras, na fase de tomada de espuma;

8 - Os vinhos apresentam características analíticas e sensoriais específicas da região e somente são autorizados para comercialização os produtos que obtenham do Conselho Regulador da DO o atestado de conformidade em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro, com reflexos acastanhados em seu entorno demonstrando a maturidade do vinho, com lágrimas grossas e abundantes que desenham, mancham as paredes do copo.

No nariz as notas de frutas vermelhas maduras se revelam de forma intensa, mas em perfeito equilíbrio com a madeira, com toques discretos de baunilha e tostado, além de um pimentão.

Na boca é estruturado, encorpado, mas muito redondo e harmonioso, o tempo lhe foi gentil, os taninos se mostram vivazes, mas aveludados, com a madeira e o tostado aparecendo de novo, devido a passagem de 6 a 8 meses por barricas de carvalho, com uma boa acidez que entrega um vinho pleno aos 6 anos de idade. Final persistente e frutado.

Um belíssimo Cabernet Sauvignon, equilibrado e austero, o tempo foi muito gentil com esse vinho, mas revelou-se ainda complexo, estruturado, poderoso. Uma curiosidade que recebi do produtor: “Trabalhamos com apenas 3 Kg de uva por planta, dessa forma a uva ganhou muito em estrutura e nutrientes.” Um exemplo de que temos sim grandes vinhos da casta Cabernet Sauvignon que, para muitos, existe o receio de vinhos brasileiros inexpressivos dessa cepa. O Torcello é o exemplo de que essa informação é totalmente improcedente. Um vinho oriundo das informações, da decantação do conhecimento. Vinho e conhecimento andam juntos, devem andar juntos, de mãos dadas a serviço do enófilo, para deleite e prazer do enófilo, sempre. Novas experiências, novas percepções, todas são formas de celebração ao vinho e Torcello Cabernet Sauvignon é uma ode às gratas novidades! Que venham mais e mais vinhos com esse emblema de qualidade e tipicidade. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Torcello:

A História da Torcello inicia com a chegada do primeiro imigrante italiano da Família Valduga ao Brasil (Marco Valduga), em 1875. Com muita fé, trabalho e perseverança, desbravaram matas virgens e construíram o que hoje conhecemos como Vale dos Vinhedos. A Vinícola Torcello foi fundada no ano de 2000 por Rogério Carlos Valduga, quarta geração da Família Valduga, e filho de Remy Valduga (viticultor, escritor e bisneto de Marco). A Torcello surgiu do fascínio de Rogério pela vitivinicultura e pelo seu desejo de resgatar a tradição da família, a qual elaborava vinho de maneira totalmente artesanal no próprio porão de casa para consumo próprio.

Curiosidades sobre a Torcello:

Uma das menores ilhas de Veneza chama-se Torcello, e dessa forma, por sermos uma das menores vinícolas instaladas no Vale dos Vinhedos, fizemos alusão a ilha. Já a escolha do símbolo da Vinícola, Leão Alado de São Marcos, deu-se pelo fato de o Leão representar proteção. Sendo assim, o símbolo remete a proteção do Leão Alado sobre os vinhos por nós elaborados. Os primeiros vinhos foram elaborados em 2005, e a abertura do varejo aconteceu em 2007. Hoje a Vinícola elabora vinhos, espumantes e sucos em pequena escala, buscando sempre a qualidade.

Mais informações acesse:

https://www.torcello.com.br/

Referências:

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Vinhedos#Denomina%C3%A7%C3%A3o_de_Origem_Vale_dos_Vinhedos

“Viajali”: https://www.viajali.com.br/vale-dos-vinhedos/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/do-vale-dos-vinhedos