Nos dias atuais eu tenho garimpado novas experiências
sensoriais, saindo da temível zona de conforto, com novas castas e novas
regiões pelo menos para mim. Mas esse meu desejo, essa minha avidez pelo novo
no universo do vinho já vem de algum tempo, já vinha atingindo contornos há
pelo menos uns 3 ou 4 anos, aproximadamente. Embora algumas cepas sejam
populares em seus países de origem ou na maioria dos países consumidores e
produtores de vinho, no Brasil ainda são carentes de oferta de rótulos.
E o exemplo é a casta chamada “Gewürztraminer”. O nome é
grande e até, as vezes, para muitos, é impronunciável, mas quando a conheci,
quando a descobri sem querer (sempre é assim, já reparou?) nunca havia
degustado uma casta tão delicada, tão aromática, mas de marcante personalidade
em minha vida. Que primor! Que maravilha! Parece que você está cheirando um
buquê de flores brancas, parece que você está em um campo com flores brancas e
você, no meio, a correr, como se estivesse levitando com tamanho aroma.
A minha primeira experiência com a Gewürztraminer foi, como
sempre, em um evento de degustação em minha cidade, Niterói, um evento,
anualmente, produzido por uma grande rede de supermercados local. Isso foi há
pouco tempo, em 2017. Quando me aproximei do estande de uma vinícola chilena
importante chamada Emiliana, conhecida mundialmente por produzir vinhos
orgânicos e biodinâmicos e que pertence a gigante Concha Y Toro, percebi alguns
vinhos de rótulos simples, mas elegantes e a minha curiosidade foi o imã para
tê-los em minhas mãos e em minha taça.
E foi aí que vi o nome da casta: enorme, difícil de falar,
pedi ajuda para o demonstrador que, muito atencioso, falou pelo menos umas duas
vezes ou mais, não me recordo, para eu aprender a falar: Gewürztraminer! E
degustei o Adobe dessa casta e adorei! Que vinho interessante e saboroso! O
paladar sucumbiu deliciosamente a cepa de nome complicado! O que importa! E
decidi compra-lo, ir, onde quer que eu fosse para tê-lo em minha adega, até
que, um belo dia, o encontrei.
Não demorei muito para degusta-lo e logo o tirei da adega
para deleite das minhas experiências sensoriais. Então o vinho que degustei e
gostei veio de uma região chilena chamada Valle del Rapel, que possui uma
denominação de origem, e, claro, se chama Adobe Gewürztraminer da safra 2015.
Um pouco de curiosidade sobre o nome “Adobe”: O Adobe é um
material natural milenar utilizado nas construções chilenas e que inclusive faz
parte da estrutura da vinícola. Considerada uma linha Reserva, são feitos com
uvas orgânicas e refletem a qualidade de seus vinhedos, tendo sempre um
profundo respeito pelo meio ambiente e seus trabalhadores.
Valle del Rapel DO
Para quem adora apreciar vinhos não apenas pela bebida em si,
mas também pela História que está por trás de sua produção e, principalmente,
por conta da região onde ele foi produzido, uma boa opção é começar a procurar
por destinos interessantes onde é possível fazer turismo e degustar bons vinhos
aqui por perto. Neste sentido, países como Uruguai, Argentina e Chile, são
pródigos em oferecer boas opções para quem deseja viajar e se aprofundar mais
dentro da História da produção vinícola destas regiões. Um bom exemplo disto é
a região conhecida como Vale do Rapel, no Chile.
De todas as regiões vinícolas do Chile, o Vale do Rapel é sem
sombra de dúvidas uma das mais interessantes para quem deseja unir turismo e
vinhos de qualidade numa única viagem. A região responde por alguns dos
melhores vinhos do Chile, e tem em suas origens ligadas ao início da produção
vinícola no chamado Vale Central, que é uma das regiões mais importantes em
matéria de vinhos do país, e que fica ao sul da capital, Santiago.
O Vale do Rapel segue aquela velha lógica que indica que
sempre que há um vale, também há um rio próximo, e neste caso, este rio atende
pelo nome de Rio Rapel, que é o principal rio que corta e abastece toda a
região. A agricultura de um modo geral é muito beneficiada pela presença do Rio
Rapel, mas a produção vinícola é a que mais se favoreceu de sua presença,
conseguindo traduzir isto em vinhos de altíssima qualidade. Boa parte da
produção vinícola Vale Central do Chile tem sua origem no Vale do Rapel, que
consegue entregar variedades das mais interessantes.
O Vale do Rapel se notabiliza pela produção de alguns dos
vinhos mais importantes do Chile, sendo que dentre as variedades de vinhas mais
cultivadas na região estão as seguintes: Cabernet Sauvignon e Carmenère. Portanto,
se você procura por vinhos bons originários do Vale do Rapel, provavelmente
terá de procurar entre as opções destas variedades de vinhas. Mas a região
também produz vinhos Merlot, Cabernet Franc e Syrah, especialmente mais ao
norte do Vale do Rapel.
Gewürztraminer, a casta aromática
A inconfundível casta Gewürztraminer é uma uva de aroma
peculiar, que lembra lichia, rosas, manga e pode ser bastante apimentada. A
origem do nome da casta é ainda muito discutida, para alguns estudiosos do
mundo do vinho, o prefixo “gewürz” (especiaria em alemão), faz referência a
grande variedade de aromas encontrados nos vinhos elaborados a partir da casta,
já para alguns degustadores, o nome foi dado a cepa por conta de suas
características bastante marcantes, o aroma e perfume que denota aos vinhos
brancos.
A origem da uva Gewürztraminer ainda é passível de dúvidas. A
teoria mais provável é que a cepa tenha se originado na Itália, no vilarejo de
Traminer, entretanto, há suposições de que a casta tenha parentesco com a cepa
Amineada Thessalia e tenha se originado ao norte da Grécia. Apesar de ser
cultivada em países do Novo Mundo, Chile, Austrália, Estados Unidos e Nova
Zelândia, a cepa obtém bastante sucesso nos vinhedos da Europa, sendo as da
região da Alsácia (França) e de Pfalz (Alemanha) as melhores uvas da casta.
Com características físicas e sabores bastante marcantes, a
uva Gewürztraminer é utilizada na elaboração de vinhos bastante diferentes
entre si, a cepa pode originar vinhos que vão de brancos secos e bem encorpados
até maravilhosos e doces vinhos de sobremesa. A uva Gewürztraminer possui difícil
cultivo e por isso baixos rendimentos. Os vinhos elaborados com a casta possuem
coloração intensa que varia entre um amarelo bem escuro e dourado com presença
de acidez bastante delicada, característica que contribui para que a maioria
dos exemplarem seja apreciada enquanto jovens. Muito dos rótulos elaborados na
Alsácia Francesa possui maior taxa de acidez, podendo assim, os vinhos serem
degustados com maior tempo de envelhecimento.
Possuindo aspecto aromático bastante elevado, os vinhos brancos secos elaborados com a cepa Gewürztraminer acompanham e harmonizam excelentemente bem com pratos que possuam bastante presença de condimentos, destacando-se a gastronomia tailandesa, chinesa e indiana. Já as versões mais adocicadas de vinhos brancos originários da casta, contrastam e criam um inesquecível sabor no paladar quando degustados juntamente com sobremesas que possuam frutas como base.
E agora finalmente o vinho!
Na taça possui um amarelo claro, palha com reflexos
esverdeados que traz um brilho lindo e envolvente.
No nariz traz a explosão aromática, o principal destaque
desta casta, o seu predicado, e entrega notas frutadas, de frutas brancas como
abacaxi, pera, damasco, um toque herbáceo, de ervas que outro destaque
maravilhoso da casta, sem contar com os aromas florais, de flores brancas que
traz frescor e elegância ao vinho.
Na boca é saboroso, fresco, jovial e de marcante
personalidade, por ser persistente, deixando uma grata sensação de doçura no
paladar sem ser enjoativo, com uma acidez refrescante e equilibrada com um
final prolongado e frutado. Passou 4 meses em tanques de aço inoxidável.
Um vinho orgânico como nunca havia degustado, meu primeiro
branco orgânico que degustei e que estará definitivamente nos anais da minha
humilde história de degustador neste vasto e inexplorado universo dos vinhos,
da poesia líquida. Um vinho que consegue ser, ao mesmo tempo, delicado,
elegante, mas poderoso, intenso, de personalidade. Uma drincabilidade, uma
versatilidade que pode atingir em cheio vários paladares, dos mais exigentes e
experientes aos mais joviais daqueles que estão começando a seguir no caminho
do vinho. Versátil também na gastronomia, harmonizando com comidas leves e
também sozinho, sem refeições, mas apenas com um bate papo informal com bons
amigos para celebrar a vida e a este vinho que sintetiza como poucos o terroir
diversificado do Chile. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a Emiliana Organic & Vineyards:
No final da década de 1990, os visionários Rafael e José
Guilisasti, perceberem que o mercado estava começando a mudar e que o
consumidor global estava começando a se tornar mais consciente dos produtos que
estava consumindo, não só por uma questão de saúde, mas também por seu efeito
ambiental e social.
Foi assim que eles, juntamente com a visão enológica de
Álvaro Espinoza, iniciaram o processo de conversão de uma vinícola chilena convencional
em uma vinícola 100% orgânica e biodinâmica, com o firme propósito de criar
vinhos da mais alta qualidade com respeito pela natureza e pelas pessoas.
Depois de mais de duas décadas o que começou como um sonho,
hoje está corporizado em um portfólio completo, com grande reconhecimento
nacional e internacional, e que se adequa as novas necessidades de nossos
consumidores.
Mais informações acesse:
Referências:
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/gewurztraminer
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-encantos-do-vale-do-rapel-no-chile/#:~:text=A%20regi%C3%A3o%20responde%20por%20alguns,ao%20sul%20da%20capital%2C%20Santiago.
Degustado em: 2017
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