Tão prazeroso quanto degustar um vinho e seus rituais é a
mensagem que o mesmo pode nos proporcionar de edificante. As vezes elas se
conduzem de forma discreta, quase que imperceptível ao olho humano ou a
sutileza ou se mostra de forma veemente e contundente diante de nossas retinas,
mas está lá, seja no rótulo ou qualquer formato de comunicação.
Sempre defendi, de forma intensa e filosófica de que vinho e
cultura andam de mãos dadas e mantém uma relação sinérgica, estreita e um
complementa o outro, uma perfeita convergência a serviço de nós, pobres mortais
enófilos. Além do apelo visual, do rótulo, austero ou descontraído, das regiões
e suas tipicidades, com as suas castas, a história literalmente conta.
Quando recebi esse vinho de um clube de vinhos que não
escolhemos, o que pode parecer um fator complicador, eu gostei, mas, confesso
que, a priori, por desconhecer as informações contidas no seu rótulo, não
significa muito para mim. Mas quando decidi que iria degusta-lo resolvi buscar
maiores detalhes sobre o seu nome, que me chamou alguma atenção.
Quando as informações começaram a aflorar em uma explosão de
conhecimento, algumas percepções acerca do vinho corroboraram claras como água
cristalina. E não se enganem com algo do tipo “autoajuda” que, em vez de
ajudar, diminui ainda mais o seu autoestima, muito pelo contrário, que adiciona
valor a sua degustação.
O vinho que degustei e gostei veio da África do Sul da
emblemática e poderosa região do Western Cape e se chama Amandla! Red Fusion com
um avassalador e interessante blend das castas Shiraz (41%), Cabernet Sauvignon
(34%), Merlot (16%) e Pinotage (9%) da safra 2019.
E antes de falar sobre o significado de “Amandla!” e das suas
relevâncias culturais e históricas falemos um pouco da história de sua
importante região: Western Cape, importante polo de produção vitivinícola da
África do Sul.
Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana
Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do
Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do
país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da
indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como
Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir
bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia
montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da
variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira
potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por
impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio
Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para
entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se
estendem por mais de 150 quilômetros.
O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a
colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as
uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes
varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande
reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a
Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem
ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá.
Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o
Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola
sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a
formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o
controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram
a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de
exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a
atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às
inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências
como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos
restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria
em estilo europeu.
E agora finalmente o vinho!
Na taça apresenta um rubi intenso com tons violáceos muito
brilhantes com uma boa concentração de lágrimas finas e persistentes que
desenham as bordas do copo.
No nariz traz uma explosão aromática de frutas negras, onde
se destacam ameixa, amora, groselha preta com o toque de especiarias, de
pimenta, típica da Syrah, maior percentual no blend.
Na boca é aveludado, mas que goza de uma marcante
personalidade fazendo deste vinho versátil e de ótima drincabilidade, sendo
muito saboroso corroborando com um bom volume de boca. As especiarias, as notas
picantes se fazem presente, a Syrah domina as atenções, com as frutas negras se
reproduzindo, crédito da Cabernet Sauvignon, com taninos presentes, mas domados
e uma boa acidez que confere ao vinho jovialidade. Final persistente.
“Amandla!” significa poder nas línguas locais da África
Sulista. É normalmente usado para criar um sentimento de unidade e união. O
produtor afirma que o vinho traz a lembrança de que a força e a unidade são
criadas quando se trabalha junto, simbolizando todas as mãos envolvidas na
produção desta garrafa de vinho. Quando falamos, até de forma demasiada, em
tipicidade, em terroir, traz a luz quando as mãos que criaram, que conceberam
esse vinho, que vem com a cultura de um povo, o amor e o respeito a terra de
onde se faz a vindima, todo o detalhe constrói o conceito e a proposta do
vinho. Amandla! Red Fusion traz uma textura macia, uma elegância, um equilíbrio
com personalidade, mas muito fácil de degustar. Um vinho ainda na plenitude de
sua jovialidade, sintetizando o caráter expressivo e frutado dos típicos vinhos
sul africanos. E os 10 meses que passou em tanques de aço inoxidável trouxeram
à tona as características genuínas de todas as castas que compuseram esse
interessante blend. As mãos, o trabalho, a dedicação e o esmero a serviço do
enófilo, para seu deleite. Tem 13,5% de teor alcoólico.
Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:
Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades
vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo
mundo, aportando no sul da África.
O nosso sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer
vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram
comprar a Marianne Wine
Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em
vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.
A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o
envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire"
francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos
melhores vinhos produzidos na região.
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/
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