sábado, 29 de maio de 2021

Amandla! Red Fusion 2019

 

Tão prazeroso quanto degustar um vinho e seus rituais é a mensagem que o mesmo pode nos proporcionar de edificante. As vezes elas se conduzem de forma discreta, quase que imperceptível ao olho humano ou a sutileza ou se mostra de forma veemente e contundente diante de nossas retinas, mas está lá, seja no rótulo ou qualquer formato de comunicação.

Sempre defendi, de forma intensa e filosófica de que vinho e cultura andam de mãos dadas e mantém uma relação sinérgica, estreita e um complementa o outro, uma perfeita convergência a serviço de nós, pobres mortais enófilos. Além do apelo visual, do rótulo, austero ou descontraído, das regiões e suas tipicidades, com as suas castas, a história literalmente conta.

Quando recebi esse vinho de um clube de vinhos que não escolhemos, o que pode parecer um fator complicador, eu gostei, mas, confesso que, a priori, por desconhecer as informações contidas no seu rótulo, não significa muito para mim. Mas quando decidi que iria degusta-lo resolvi buscar maiores detalhes sobre o seu nome, que me chamou alguma atenção.

Quando as informações começaram a aflorar em uma explosão de conhecimento, algumas percepções acerca do vinho corroboraram claras como água cristalina. E não se enganem com algo do tipo “autoajuda” que, em vez de ajudar, diminui ainda mais o seu autoestima, muito pelo contrário, que adiciona valor a sua degustação.

O vinho que degustei e gostei veio da África do Sul da emblemática e poderosa região do Western Cape e se chama Amandla! Red Fusion com um avassalador e interessante blend das castas Shiraz (41%), Cabernet Sauvignon (34%), Merlot (16%) e Pinotage (9%) da safra 2019.

E antes de falar sobre o significado de “Amandla!” e das suas relevâncias culturais e históricas falemos um pouco da história de sua importante região: Western Cape, importante polo de produção vitivinícola da África do Sul.

Western Cape: a toda poderosa região vinícola sul africana

Localizada a sudoeste da África do Sul, tendo a Cidade do Cabo como ponto central, Western Cape é a principal região vitivinícola do país, responsável por cerca de 90% da produção vinícola do país. Boa parte da indústria do vinho sul-africana se concentra nessa área e microrregiões como Stellenbosch e Paarl são alguns de seus principais destaques. Com terroir bastante diversificado, a combinação do clima mediterrâneo, da geografia montanhosa, das correntes de ar fresco vindas do Oceano Atlântico e da variedade de uvas permite que Western Cape seja considerada uma verdadeira potência da produção de vinhos no país. Suas regiões vinícolas estendem-se por impressionantes 300 quilômetros a partir da Cidade do Cabo até a foz do rio Olifants ao norte, e cerca de 360 quilômetros até a Baía Mossel, a leste – para entender essa grandiosidade, vale saber que regiões vinícolas raramente se estendem por mais de 150 quilômetros.

Western Cape

O clima fresco e chuvoso também favorece o plantio e a colheita por toda a região. Entre os grandes destaques de Western Cape estão as uvas Pinotage, Cabernet Sauvignon e Shiraz, que dão origem a excelentes varietais e blends. Entre os brancos – que, por si só, têm grande reconhecimento mundial –, brilham a Chenin Blanc, uva mais cultivada do país, a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. As primeiras vinhas plantadas na região remetem ao século XVII, trazidas por exploradores europeus que se fixaram por lá. Durante vários séculos, fatores como o estilo rudimentar de produção, o Apartheid e a falta de investimentos mantiveram a cultura vitivinícola sul-africana limitada ao próprio país. Somente no início do século XX, com a formação da cooperativa KWV, que a África do Sul começou a responder por todo o controle de qualidade do vinho que se produzia por lá, e seus rótulos passaram a chamar a atenção do mercado internacional, dando início a um processo de exportação que conta, inclusive, com selos de qualidade específicos para a atividade. A proximidade da Cidade do Cabo facilita o acesso dos visitantes às inúmeras rotas vinícolas e turísticas de Western Cape, que incluem experiências como caminhadas, degustações por suas muitas bodegas, além de ótimos restaurantes e hospedagens em suas pequenas e aconchegantes cidades, a maioria em estilo europeu.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um rubi intenso com tons violáceos muito brilhantes com uma boa concentração de lágrimas finas e persistentes que desenham as bordas do copo.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas negras, onde se destacam ameixa, amora, groselha preta com o toque de especiarias, de pimenta, típica da Syrah, maior percentual no blend.

Na boca é aveludado, mas que goza de uma marcante personalidade fazendo deste vinho versátil e de ótima drincabilidade, sendo muito saboroso corroborando com um bom volume de boca. As especiarias, as notas picantes se fazem presente, a Syrah domina as atenções, com as frutas negras se reproduzindo, crédito da Cabernet Sauvignon, com taninos presentes, mas domados e uma boa acidez que confere ao vinho jovialidade. Final persistente.

“Amandla!” significa poder nas línguas locais da África Sulista. É normalmente usado para criar um sentimento de unidade e união. O produtor afirma que o vinho traz a lembrança de que a força e a unidade são criadas quando se trabalha junto, simbolizando todas as mãos envolvidas na produção desta garrafa de vinho. Quando falamos, até de forma demasiada, em tipicidade, em terroir, traz a luz quando as mãos que criaram, que conceberam esse vinho, que vem com a cultura de um povo, o amor e o respeito a terra de onde se faz a vindima, todo o detalhe constrói o conceito e a proposta do vinho. Amandla! Red Fusion traz uma textura macia, uma elegância, um equilíbrio com personalidade, mas muito fácil de degustar. Um vinho ainda na plenitude de sua jovialidade, sintetizando o caráter expressivo e frutado dos típicos vinhos sul africanos. E os 10 meses que passou em tanques de aço inoxidável trouxeram à tona as características genuínas de todas as castas que compuseram esse interessante blend. As mãos, o trabalho, a dedicação e o esmero a serviço do enófilo, para seu deleite. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Marianne Wine Estate & Guesthouse:

Originário de Bordeaux, a família possui 3 propriedades vinícolas, se aproximando da África do Sul graças as suas várias viagens pelo mundo, aportando no sul da África.

O nosso sonho era combinar o Velho e o Novo Mundo para fazer vinhos próximos da da visão de perfeição dos produtores. Portanto, decidiram comprar a Marianne Wine Estate & Guesthouse, uma vinícola boutique de 32 hectares (incluindo 24 em vinhas) localizada no vale Simonsberg em 2004.

A colheita manual, a seleção das melhores uvas, o envelhecimento em carvalho francês e acácia, combinados com um "savoir-faire" francês do enólogo sul-africano Jos Van Wyk, irão levá-lo a explorar alguns dos melhores vinhos produzidos na região.

Mais informações acesse:

http://www.mariannewines.com/

Referências:

“Vinho Capital”: https://vinhocapital.com/tag/wine/page/3/

“Wine”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/western-cape-a-gigante-sul-africana/?doing_wp_cron=1611015613.7245669364929199218750#:~:text=Localizada%20a%20sudoeste%20da%20%C3%81frica,alguns%20de%20seus%20principais%20destaques.

 

 





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