Com a degustação de hoje alguns tabus que insistem em
circular no universo do vinho cairão! Falo com eloquência e convicção porque é
preciso e urgente. Visões pré-concebidas, equívocos históricos e até
comportamentos intolerantes e depreciativos precisam cair por terra, afinal,
vinho é sinônimo de prazer, alegria e celebração e não pode e nem deve estar
atrelado a questões e sentimentos tão mesquinhos e pequenos. Temos um, “menos
brando” e que está no campo dos equívocos é que Malbec bom tem de ser argentino
e pesadão, encorpado e amadeirado. É, de fato, indiscutível que o melhor Malbec
do planeta está localizado na emblemática região de Mendoza, na Argentina, é
sabido também que um Malbec encorpado, com passagem por barrica de carvalho
também é maravilhoso.
Mas por que não degustarmos um Malbec de outro país e que não seja tão barricado e que plenamente valorize as características mais genuínas da cepa, um vinho franco, frutado, sem muita complexidade. Já experimentou? Já tentou? Pode parecer difícil encontrar vinhos Malbec com essa proposta e é mesmo, afinal é mais prático e “seguro” encontrar aquele Malbecão potente e amadeirado, mas quando se tem dedicação em garimpar e conhecer as características de um Malbec mais direto e frutado, jovem e se essas se identificam com você, com o que você está procurando no momento, eu vos digo: Por que não?
Infelizmente o vinho no Brasil está ligado a status e poder e
um Malbec, sempre famoso, amadeirado é mais caro e aquele mais em conta sempre
são taxados de simplórios e inexpressivos, mas é uma pena que ainda o dito
apreciador de vinho não tenha a capacidade de discernir que são propostas,
simplesmente propostas. Mas o Malbec que degustei vem do Chile, sim, do Chile!
Confesso que, quando o comprei, eu não sabia que havia produção de rótulos
dessa casta em profusão no Chile e logo me interessou e é um vinho que, apesar
de ostentar em seu rótulo o “reserva”, este não passou por barrica de carvalho.
Arrisquei, sem medo algum, até porque também o valor estava muito convidativo,
em torno de R$ 32,00! Porém confesso também que o que mais me chamou a atenção
também foi um prêmio que esse vinho conquistou em Londres, na sua safra de 2015,
como um dos melhores vinhos mais baratos do mundo! Não ligo para medalhas e
prêmios, afinal degusto o vinho e não pontuações, mas não há como negligenciar
esse reconhecimento.
Então é chegada a hora de apresenta-lo! O vinho que degustei e gostei veio da essencial região chilena do Valle Central e se chama La Moneda Reserva da casta Malbec e a safra é 2018. E para coroar os seus predicados (e que qualidades, trata-se de um excelente vinho barato) pertence a um dos meus produtores preferidos a Viña Luis Felipe Edwards que, a cada ano, cresce vertiginosamente se tornando uma das mais importantes vinícolas do Chile e do mundo e o La Moneda Malbec sintetiza isso com extrema fidelidade.
E antes de falar propriamente do vinho falemos do importante
prêmio que este ganhou, a safra de 2015 que, quando descobri e fui a busca para
tentar adquirir a referida safra, infelizmente cheguei um pouco tarde tendo a
safra 2018 disponível para venda, mas que não me arrependi nem um pouco de
compra-lo. O La Moneda Reserva Malbec conquistou o título de título de Platinum
Best in Show no ano de 2015 no Decanter World Wine Awards, promovida pela
respeitada revista britânica Decanter, onde mais de 200 especialistas
experimentaram milhares de vinhos (sempre às cegas), despindo os preconceitos
de que valores de vinho nem sempre está ligado à qualidade.
Um vinho com a assinatura da Luis Felipe Edwards, com a tipicidade de uma das regiões chilenas mais emblemáticas, uma das minhas favoritas e que não me canso de falar; Valle Central! E já que não me canso de falar, que as linhas da história do Valle Central apareçam!
Valle Central: o centro vitivinícola do Chile
Valle Central, ou Central Valley como é conhecida, é uma
região vinícola do Chile, estando entre uma das mais importantes áreas
produtoras de vinho de toda a América do Sul, em termos de volume. Além disso, o
Central Valley é uma das regiões que mais se destaca com relação a extensão,
indo desde o Vale do Maipo até o final do Vale do Maule. Uma ampla variedade de
vinhos é produzida na região, elaborados a partir de uvas cultivadas em
diferentes terrenos. Tal exemplar vão desde vinhos finos e elegantes, como os
produzidos em Bordeaux, até os vinhedos mais velhos e estabelecidos em Maule. A
região do Valle Central é também lar de diversas variedades de uvas, porém, as
plantações são ocupadas pelas castas Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc,
Merlot, Chardonnay e Syrah. A uva ícone do Chile, a Carmenère, também é
importante na região, assim como a Malbec é referência em Mendoza, do outro
lado dos Andes. As áreas mais frias do Central Valley estão ganhando cada vez mais
destaque perante o mundo dos vinhos, onde são cultivadas as uvas Riesling,
Viognier e até mesmo a casta Gewürztraminer. O Central Valley é dividido em
quatro sub-regiões vinícolas, de norte a sul, cada qual com características e
diferenças marcantes. O Maipo é a sub-região mais histórica do país, onde as
vinhas são cultivadas desde o século XVI, abrigando as videiras mais antigas
existentes na região. O Rapel Valley é lar das tradicionais sub-regiões
Cachapoal e Colchagua, enquanto Maule Valley é uma das sub-regiões vinícolas
mais prolíferas de toda a América do Sul. Por fim, a última sub-região Curico
Valley foi a pioneira no cultivo vinícola na década de 1970, onde Miguel Torres
deu início a vinicultura moderna.
A Cabernet Sauvignon pode ser cultivada com sucesso tanto no
Vale do Maipo quanto no Vale de Rapel, cada um por um motivo diferente. No Vale
de Rapel, a presença de um solo rochoso e com baixa atividade freática (pouca
disponibilidade hídrica) aliado à alta taxa de amplitude térmica (diferença
entre a maior e a menor temperatura nessa área em um dia) vai favorecer o grau
de maturação da Cabernet Sauvignon, aprofundando seu sabor. Essa parte do vale,
portanto, produz uvas com um sabor mais profundo e maduro. Já a Cabernet Sauvignon
que é cultivada no vale do Maipo (de onde provém mais da metade da produção
dessa cepa) conta com a influência direta do Rio Maipo. Onde as águas do rio
servem para regular a temperatura e fornecer a irrigação dos vinhedos. E para
não deixar de destacar a área a sotavento da Cordilheira da Costa, o Vale do
Curicó possui um clima quente e úmido, já que todo o ar frio é impedido de
passar pela barreira natural da montanha. Quem se beneficia com isso é a
produção de Carménère, que por tamanha perfeição em seu desabrochamento são
conhecidos por todo o mundo, não sendo surpresa o fato de que somente desse
Vale derivem vinhos para mais de 70 países ao redor do mundo. Em outras
palavras, o Vale Central se constitui como uma mina de ouro de cepas premiadas
e irrigadas com tradição centenária. O Valle Central é uma área plana,
localizada na Cordilheira Litoral e Los Andes, caracterizada por seus
interessantes solos de argila, marga, silte e areia, que oferece ao produtor
uma extraordinária variedade de terroirs. Excepcionalmente adequada para a
viticultura, o clima da região é mediterrâneo e se traduz em dias de sol, sem
nuvens, em um ambiente seco. A coluna de 1400 km de vinhas é resfriada devido à
influência gelada da corrente de Humboldt, que se origina na Antártida e
penetra no interior de muito mais frio do que em águas da Califórnia. Outra
importante influência refrescante é a descida noturna do ar frio dos Andes.
E agora o artista do espetáculo: o vinho!
Na taça entrega um rubi intenso, profundo, mas tem entornos
violáceos que brilha reluzente, com lágrimas grossas e abundantes que logo se
dissipam das paredes do copo.
No nariz traz a exuberância de frutas negras como ameixa,
amora e cereja negra e especiarias, diria com um toque herbáceo, talvez
pimentão, que é o destaque nesse aspecto do vinho.
Na boca é seco, saboroso, um bom volume em boca, que traz a
sensação de alguma estrutura, mas muito fácil de degustar, sendo equilibrado,
harmonioso, com taninos polidos, macios e uma acidez equilibrada que garante ao
vinho um frescor e vivacidade. Tem um final curto.
Vamos nos despir de preconceitos, de visões pré-concebidas
que nos impede de descobrir novos rótulos, novas experiências sensoriais. Não
mensure a qualidade de vinho por preço, não o utilize como status econômico e
social, se permita degustar novas propostas, novas regiões, novas castas, leia,
se informe, busque as informações que, além do ganho cognitivo, trará novas
opções de rótulos, de vinhos, de prazer! É isso: prazer! Vinho é saúde, prazer
e celebração! O La Moneda Reserva proporciona tudo isso: prazer, estímulo a
celebração e derruba alguns dos grandes tabus que ainda insistem em assombrar o
universo do vinho: um vinho barato, frutado no aroma, saboroso no paladar, com
alguma estrutura, créditos da Malbec, mas fácil de degustar, fazendo do mesmo
um vinho versátil e ideal para degustar de forma despretensiosa, rodeada de
amigos, mas imponente como todo o Malbec é e tem de ser. Imponente por ser
expressivo, pelo fato de fidelizar as características essenciais da cepa. Teor
alcoólico de 12,5%.
Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:
A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo
empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na
Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua,
um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas
andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma
pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do
início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que
viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a
expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do
Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo
seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para
exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na
década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre
os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o
fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como
atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização,
especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se
tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A
partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras
regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele
encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de
videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do
mar.
Mais informações acesse:
Referências:
“Portal Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-central
“Portal Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/valle-central-chile/
“Portal Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/186-o-vale-central-no-chile-ponto-de-encontro-de-vinhos-reconhecidos-mundialmente
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