Existem alguns tabus no universo do vinho! Tabu, confesso, é
uma palavra branda diante de um cenário caótico de intolerância e
consequentemente de ódio instaurado em nossa combalida sociedade, doente e que
respira sob aparelhos.
Temos que aceitar que o prazeroso e aprazível universo do
vinho tem as suas questões a serem exorcizadas, tratadas, afinal, somos,
enquanto enófilos e pertencentes a esse grupo social, um recorte dessa
sociedade que carece de um pouco mais de amor e compreensão.
E essas questões são diversas ou pelo menos todas perpassam
pela questão social, comportamental. O vinho como status social, que
personifica a condição financeira de alguns, um grupo privilegiado que está em
uma constante luta para que a sua “classe” continue purificada, sempre
subjugando aqueles que, arduamente, tentam adentrar no mundo do vinho, sendo
esses da base da pirâmide social.
E um dos diversos discursos de defesa incansável da raça
ariana do vinho é de que vinhos produzidos em larga escala são incipientes em
sua qualidade, os famosos vinhos ruins. Para eles vinho bom é aquele de autor,
produzido em número limitado.
Claro e evidente que tais vinhos são dignos de reverência,
mas por que os de produção de volume não podem ser? Quais os argumentos? Não
sou um exímio na parte técnica, mas posso apresentar argumentos práticos, da
degustação nossa de cada dia. Falo da Concha Y Toro, a maior vinícola das
Américas e talvez uma das maiores do planeta.
A Concha Y Toro não atua em lojas boutiques, em alguns sites
especializados, mas o seu ponto de venda mais importante é o simples
supermercado! Aos olhos da “plebe”, de pessoas de todas as classes sociais. E
não se enganem que a vinícola chilena não tenha os seus, como dizem, vinhos
premium. Só para exemplos temos a linha “Marquês de Casa Concha” e a “Don
Melchior”.
O que dizer de tais vinhos? Vinhos ruins? Acho que não! Claro
que o paladar é particular, mas quem degustou, como eu alguns rótulos do
Marquês de Casa Concha, sabe o quão especial tal vinho pode ser.
Como exemplo degustei o Merlot, Cabernet Sauvignon e o
Carmènére e vos digo que são fantásticos! Basta ler as resenhas! E dessa vez
vou “desencavar” das profundezas da minha simplória adega um vinho especial,
que considero especial, pois já degustei em um passado razoavelmente distante,
da linha “Reserva Privada”.
Dessa vez é a linha varietal do “Reserva Privada” que antes
era um blend, e cuja variedade é especial quando cultivada nos terroirs
chilenos, que é a Cabernet Sauvignon. E, mesmo com as “rugas” e dobradiças do
rótulo, as expectativas estão altíssimas como sempre.
O vinho que degustei e gostei veio da emblemática região do
Maipo Valley, no Chile e se chama Casillero del Diablo Reserva Privada, um 100%
Cabernet Sauvignon, da safra 2015. E para não perder o costume, vamos as
histórias do Maipo. Mas antes de falar do Maipo vale dizer também que tive o
privilégio de degustar um vinho dessa linha, da safra 2008, um Reserva Privada,
mas na “versão” blend, com Cabernet Sauvignon (65%) e Syrah (35%) e a sua resenha pode ser lida aqui.
Vale do Maipo
O Vale de Maipo é a única região vinícola do mundo com
vinhedos nos limites urbanos de uma capital, Santiago, de 5,5 milhões de
habitantes. O vale abriga o maior número de vinícolas do Chile, muitas delas
com uma longa tradição vinícola que remonta ao início da produção chilena, e
caves do século 19. Os vinhedos se estendem pelo Andes, onde são produzidos os
melhores Cabernets, até o planalto central.
O Maipo está localizado no extremo norte do Valle Central,
onde a faixa costeira separa a costa do Oceano Pacífico e, no lado oriental a
Cordilheira dos Andes se divide, separando a região de Mendoza do Vale do
Maipo. As primeiras vinhas cultivadas na região chilena datam de 1540, contudo,
foi apenas em 1800 que a cultura vinícola começou a se expandir notoriamente,
tornando-se uma referência entre os vinhos sul-americanos.
A região pode ser dividida em três sub-regiões, Maipo Bajo,
Central Maipo e Alto Maipo. Os vinhedos cultivados em Alto Maipo, ou Maipo
Superior, percorrem a borda oriental da Cordilheira dos Andes, se beneficiando
de altitudes entre 400 e 760 metros. Nesta altura, os dias são quentes e as
noites frias, proporcionando uma lenta maturação das uvas, isto é, uvas com
maiores índices de acidez.
Central Maipo, conhecida também como Maipo Médio, é uma
sub-região de clima mais quente do que no Alto Maipo, bem como solos com
maiores composições de argila, dando origem a vinhos mais refinados e
elegantes.
A uva Cabernet Sauvignon continua sendo a variedade mais
cultivada na região, apesar de existirem pequenos cultivos da Carmenère, casta
beneficiada graças as temperaturas mais quentes, bem como Merlot, Syrah,
Cabernet Franc, Malbec, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Semillón.
Por fim, a sub-região do Bajo Maipo está situada em torno das
cidades de Talagante e Isla de Maipo, onde apesar de existir o cultivo das
vinhas, encontra-se com maior facilidade diversas vinícolas.
Alguns produtores estão localizados perto do rio, onde a
brisa fresca proporciona microclimas adequados para o cultivo, principalmente,
de uvas brancas, além da Cabernet Sauvignon. Valle del Maipo ganhou sua
denominação de origem controlada em 1994, decretada pelo governo chileno.
A região vinícola do Valle del Maipo possui 13 denominações:
Alhue (DO), Buin (DO), Calera de Tango (DO), Colina (DO), Isla de Maipo (DO),
Lampa (DO), Maria Pinto (DO), Melipilla (DO), Pirque (DO), Puente Alto (DO),
Santiago (DO), Talagante (DO) e Til Til (DO).
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, com muita
profundidade, mas brilhante, vivo, além de lágrimas finas, em profusão e muito
lentas que desenham as bordas do copo.
No nariz entregam delicados, mas evidentes notas de frutas
pretas bem maduras, tais como ameixa e groselha negra em total sinergia com as
notas amadeiradas, que também estão bem presentes, trazendo complexidade,
destacando-se baunilha, cedro, especiarias e terra molhada.
Na boca é extremamente elegante, redondo e fácil de degustar,
mas que, ao mesmo tempo, mostra marcante personalidade, pela estrutura,
conferida pela casta, a fruta madura protagonizando, como no aspecto olfativo,
bem como a madeira, graças aos doze meses em barricas de carvalho, mas em pleno
equilíbrio, toques de chocolate meio amargo, caramelo e defumado, com taninos e
acidez harmônicos. Final longo e persistente.
Nem tudo que reluz é ouro, não julgar o livro pela capa....
Esses ditos populares, embora caia no senso comum tem um pouco da realidade e
podemos sim trazê-las para o universo do vinho! Vinhos de produção de larga
escala nem sempre é ruim, bem como os vinhos da “moda” ou aqueles de autor, de
pequena produção é o suprassumo do momento. Vinho é vinho e há sim os ruins e
bons, dada a percepção de cada um, afinal as descrições sensoriais é
particular. Não se deixe levar pelas opiniões de formadores de opinião que,
geralmente, estão ali, blindados pela obscuridade da rede social para falar de
um produtor “X” ou “Y” para difundir os seus rótulos, divulgar os seus rótulos.
Não que isso significa que o referido vinho seja ruim, mas, sim, constata-se um
processo perverso de alienação. O Casillero del Diablo Reserva Privada Cabernet
Sauvignon é sim especial e expressa o caráter do terroir chileno e a sua imensa
capacidade de entregar todos os predicados de uma cepa que definitivamente
ganhou a sua importância naquelas terras. Taninos firmes, elegantes, acidez
instigante, frutas em sinergia com a madeira. Um vinho maiúsculo. Tem 13,5% de
teor alcoólico.
Sobre a Concha Y Toro:
A Viña Concha Y Toro foi fundada no ano de 1833, pelo
empresário e político Don Melchor Concha y Toro. Quatro décadas mais tarde, em
1922, a companhia é constituída como uma corporação, ampliando seu estatuto
para a produção de vinhos em geral.
A primeira exportação da vinícola foi realizada em 1933, com as ações da empresa sendo negociadas na Bolsa de Comércio de Santiago. Don Eduardo Guilisasti Tagle assumiu a presidência do Conselho Administrativo da Viña Concha Y Toro em 1957, estabelecendo a base para o projeto de expansão da companhia.
Em 1966, é lançada a linha Casillero Del Diablo, que se
tornaria a gama de mais sucesso da Viña Concha y Toro. O ano de 1987 marca o
lançamento da primeira safra do Don Melchor, o primeiro vinho ultra-premium do
Chile.
O dia 14 de outubro de 1994 representa um marco para a Viña
Concha y Toro, sendo a primeira vinícola do mundo a ter suas ações negociadas
na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Em 2001 é criada a primeira subsidiária de
distribuição da companhia fora do Chile, a Concha Y Toro UK.
O ano de 2011 traz mais um grande reconhecimento para a
vinícola, sendo eleita como a Marca Mais Admirada do Mundo pela Drinks
International. Em 2013 a Concha y Toro obtém o Certificado de Sustentabilidade
pela organização Wines of Chile. Inaugurando, no ano seguinte, seu Centro de
Pesquisa e Inovação.
Outro grande marco para a Viña Concha y Toro é alcançado em
2015, com a companhia sendo reconhecida como a Marca de Vinhos Mais Importante
do Mundo, pelos especialistas da Intangible Business.
Mais recentemente, em 2017, Almaviva 2015, um projeto
conjunto da Viña Concha y Toro com Baron Philippe de Rothschild S.A., é eleito
como Vinho do Ano pelo crítico James Suckling, obtendo a pontuação perfeita,
incríveis 100 pontos!
Mais informações acesse:
Referências:
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-del-maipo
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MAIPO#:~:text=O%20vale%20abriga%20o%20maior,produzidos%2C%20at%C3%A9%20o%20planalto%20central.
“Turistando Chile”: https://www.turistandochile.com.br/tours_ver/valle-del-maipo
“Viagem e Turismo Chile”: https://viagemeturismo.abril.com.br/cidades/valle-del-maipo/