sexta-feira, 10 de abril de 2020

Vinhos amadeirados: saiba a diferença no uso das barricas de carvalho


Responsáveis por adicionar complexidade e aromas aos vinhos, os barris de carvalho são ferramentas importantíssimas para os enólogos. Aprenda a diferença entre eles e as suas principais aplicações.

São muitos os fatores responsáveis pelo desenvolvimento de um rótulo memorável. A escolha correta das uvas, o blend (ou a ausência dele), o período de maturação, e claro, a decisão de maturar ou fermentar o vinho em barricas de carvalho.

Mas qual é a importância da madeira para o sabor da bebida? E por qual motivo alguns vinhos são maturados em barricas francesas, americanas ou até mesmo nas exóticas barricas do leste Europeu?

Para que servem as barricas de carvalho?

A resposta mais simples e direta a esta questão é: nos dias atuais, as barricas de carvalho servem para incrementar o vinho. Dando a eles complexidade, que vem através dos toques e aromas característicos de cada madeira.

Outra particularidade do carvalho está no fato dele possuir poros por onde o vinho pode trocar oxigênio com o ambiente externo. Esse fenômeno é denominado micro oxigenação, serve tanto para aliviar os taninos do vinho (suavizando o sabor), quanto para maturar o vinho e garantir que ele chegue ao estado perfeito de consumo.

A história da utilização dos barris de carvalho passa pela própria história da humanidade. Existem provas de que os vinhos eram guardados em ânforas de barro e porcelana em algumas partes da Ásia. Contudo, foi na Europa que a utilização do carvalho ganhou forma – no princípio por pura necessidade – e hoje por uma questão de gosto e padrão estético dos enólogos.

Quais são os tipos de barris?

A tanoaria – a construção dos barris – é uma arte específica em si mesma, portanto, seria leviano da nossa parte resumir a sua fabricação e a sua aplicação em apenas algumas palavras. De todo modo, para não sobrecarregar o leitor com informações em excesso, nós vamos dar uma breve resumida dos principais barris para a fabricação dos vinhos.

Vale ressaltar que entre as características do carvalho está a troca de tanino com o vinho. Isso significa que dependendo da intenção do enólogo, a barrica poderá deixar o vinho “mais seco” ou mais aveludado, é claro que aí estão inseridos o tempo da fermentação e a permanência do vinho dentro da barrica.

Uma barrica de carvalho possui 12 características distintas que vão influenciar diretamente o sabor da bebida. Estas doze características estão divididas em 5 categorias. Vamos explicar aqui para ficar tudo bem claro.

1ª categoria: local de cultivo do carvalho. Essa categoria está dividida em 3 itens:

França
Estados Unidos e Canadá
Leste Europeu

Detalhamento:

O carvalho francês é conhecido por ser uma peça de estrutura maleável, com grande capacidade de absorção e oxigenação. Muito utilizado em vinhos com sabor elegante e carácter estético relevante. Brancos e frutados são os preferidos para essas barricas.

Já a construção das barricas americanas e canadenses garante uma barrica mais robusta. O corte e o tratamento da madeira também fazem com que o vinho seja encorpado e muito influenciado pelo tanino. Tintos e rótulos de corpo forte são indicados para esse tipo de barrica.

Por fim, as barricas do leste Europeu possuem características variadas. Graças a grande quantidade de tanoeiros na Rússia, Rep. Tcheca, entre outros, é difícil resumir essa categoria em um perfil de paladar. Em geral, as barricas do leste europeu são utilizadas para acrescentar sabores exóticos ao vinho.

2ª categoria: processo de tosta da barrica. Na sua construção, a barrica de carvalho pode passar por 3 formas de tosta distintas. A tosta é a aproximação da madeira ao fogo para transformar as suas características físicas, aumentando a resistência e diminuindo a absorção.

Tosta leve
Tosta média
Tosta intensa ou agressiva

Na tosta leve o carvalho não perde as suas características principais, entrando em contato praticamente inalterado com a bebida.

A tosta média já aumenta a robustez da madeira e diminui a sua absorção. Muitos poros são fechados pelo calor, o que faz uma barrica com micro oxigenação reduzida. Aqui o vinho já começa a ganhar tons de tostado e gosto acentuado.

Tosta intensa ou agressiva é o nome utilizado para o processo onde o carvalho é completamente transformado pela fornalha. Sua oxigenação fica completamente comprometida e a natureza da tosta faz com que a madeira influencie diretamente o sabor do vinho com tons bem acentuados de tostado.

3ª categoria: número de utilizações da barrica de carvalho. Como o nome sugere, a quantidade de vezes que uma barrica de carvalho foi utilizada influência diretamente o resultado final do vinho.

Barris de primeira utilização
Barris de segunda utilização
Terceira utilização em diante.

Trata-se de uma categoria muito simples de ser explicada. Como você já deve ter imaginado, a quantidade de vezes que um barril é utilizado modifica as estruturas do carvalho.

A primeira utilização é perfeita, a madeira mantém-se com suas qualidades originais e os poros estão livres para que o vinho possa respirar. Na segunda utilização a madeira já está impregnada com os aromas e sabores do vinho, o que certamente influenciará a bebida.

A partir da terceira utilização é possível que os poros já estejam entupidos (o que dificulta a micro oxigenação) e o carvalho já estará completamente dominado pelos aromas das utilizações anteriores.

É bom ressaltar que essa categorização não é feita com base em juízo valor. Para um bom enólogo, as barricas de primeira utilização são tão importantes quanto as barricas antigas e já muito utilizadas.

Tudo depende da aplicação e da intenção do produtor.

4ª categoria: tamanho das barricas.

Outra categoria simples. Basta ter consciência de um fator, quanto menor a barrica, maior será o contato entre o vinho e a madeira, por consequência, maior será a influência da barrica no sabor e nos aromas da bebida.

É possível fazer um exercício de imaginação. Se você imaginar um grande barril de vinho, poderá ver como a quantidade de líquido em contato com a madeira é proporcionalmente menor do que se você imaginar um pequeno barrilzinho repleto da bebida.

Relação entre quantidade total x quantidade em contato com o carvalho é o que garante a influência da madeira no vinho.

5ª construção da barrica: Aqui nós temos basicamente duas maneiras de construir uma barrica de carvalho:

Construção por corte: utilizada, sobretudo nas barricas francesas. A madeira não passa por um processo de serragem e nem aplainamento por laser. Toda a construção é feita com características “não industriais”, quase artesanal.

Construção por serragem e industrial: diferente da construção anterior, essa é feita com a utilização de serras, processos a laser para o aplainamento da madeira e todo o aparato industrial possível. As barricas americanas e canadenses são conhecidas por fazerem parte dessa forma de construção.

Processo de produção, o que é feito nas barricas afinal?

Agora você já compreende como cada barrica é construída e quais são as suas principais características. Vamos falar sobre a produção do vinho e como a barrica é utilizada para esse processo.

Entre tantos outros fatores, é preciso salientar que cada produtor terá a suas maneiras e singularidades na fabricação de um rótulo. Até por que se houvesse uma maneira específica de elaborar um vinho, nós não teríamos uma variedade tão imensa de opções.

Vamos às principais utilizações:

Fermentação

É o processo onde o vinho é enriquecido com todos os elementos que constituirão a bebida. Para tentar trazer isso para o cotidiano, é como se o produtor estivesse fazendo um bolo. O processo de fermentação é quando o vinho recebe os ingredientes.

A barrica é utilizada para a mistura do vinho e dos seus ingredientes. Que variam bastante: baunilha, noz moscada, café, frutas, canela, entre outros.

É claro que o processo de fermentação é muito mais complexo do que apenas a adição dos ingredientes, de toda maneira seria loucura tentarmos explicar o passo a passo de um processo de fermentação.

Maturação e armazenamento

Esse é o processo de descanso do vinho e onde a barrica de carvalho é mais conhecida. Muitos rótulos famosos têm em sua descrição “armazenado em barricas de carvalho”.

O armazenamento varia muito conforme o tempo de vida de cada vinho. Nós temos um artigo que explica em detalhes esse tempo de vida e quais são as características que compõem um vinho de guarda.

Para resumir, o vinho é colocado dentro da barrica selecionada para adquirir sabores, tons e nuances. Essa transformação é gradativa, podendo levar de meses até alguns anos. Alguns vinhos de guarda especiais são armazenados por 24 anos em barricas de carvalho.

Por ser um processo demorado, os vinhos armazenados em barricas de carvalho estão entre as bebidas mais requintadas que existem atualmente. Deixando para trás até os famosos whiskys.

Blend e utilizações variadas

É claro que muitos produtores encontram suas próprias maneiras de utilizar uma barrica de carvalho. Alguns gostam de fermentar o vinho em um tipo específico para depois deixá-lo armazenado em outra barrica.

Já outros fazem verdadeiros blends entre diversas barricas, garantindo com que cada uma delas dê ao vinho o teor exato das suas principais qualidades. Começando uma produção em barricas de tostagem alta para dar ao vinho sabor encorpado e depois armazenando ele em madeira menos agressiva.

Existem ainda os enólogos pouco experientes que se fazem valer das barricas para “corrigir” erros no processo de fabricação de um vinho. Uma vez que uma barrica bem construída e de madeira bem tratada garantem que o sabor do vinho seja encorpado e receba teores agradáveis de tanino. A micro oxigenação também é responsável por suavizar o vinho, o que para um produtor inexperiente costuma ser o caminho certeiro.

Todos os vinhos amadeirados foram produzidos em barricas de carvalho?

Essa é a parte onde nós teremos que falar o português bem claro e talvez isso assuste um pouco o consumidor médio. Não, nem todos os vinhos ditos amadeirados foram produzidos ou armazenados em barricas de carvalho.

A tanoaria é um processo caro e complexo. Ou seja, barris de carvalho são produtos caros, muitos produtores não possuem o dinheiro para esse investimento. O que faz com que eles encontrem soluções.

Alguns produtores compram placas de carvalho (chamadas chips) e deixam elas em contato com o vinho. Já outros preferem a utilização de lascas que são misturadas à bebida e depois filtradas. Existe ainda um terceiro modo que é a mistura de pó de carvalho ao vinho, esse material também será filtrado depois.

Essas três maneiras de “amadeirar” um vinho são utilizadas no mercado. A parte negativa é que ainda não existe nenhuma legislação que obrigue o produtor a escrever no rótulo da bebida a forma como ele foi amadeirado. Se foi estocado em carvalho ou através dos métodos “menos naturais”.

Outra má notícia está no fato de que tais práticas não deixam traços marcantes na bebida. Apenas os especialistas mais experientes são capazes de distinguir quando um vinho foi feito em barrica.

A única solução para evitar esse problema e comprar um autêntico vinho em barrica é escolher um fornecedor de confiança e pesquisar sempre sobre os rótulos e os produtores.

Contudo, é sempre bom lembrar que os vinhos processados dessa maneira também têm o seu valor e todos eles passam por rigorosos controles de qualidade em relação a filtragem da bebida. Ninguém corre o risco de tomar vinho misturado com lascas de madeira.



segunda-feira, 6 de abril de 2020

Festival "Vinhos do Alentejo 2018"


A região do Alentejo, em Portugal, é a minha favorita. Parece ser leviano pontuar com tanta veemência uma região vitivinícola favorita em terras lusitanas, dada a infinidade de terrioirs, de regiões com suas peculiaridades e características tão marcantes, mas eu conheci Portugal e seus vinhos graças ao Alentejo, então, diria que, antes da minha preferência tem o aspecto sentimental.

E para dimensionar o tamanho do meu carinho por essa região que se traduz em seus rótulos e tipicidade tive a alegria e o prazer de participar de um evento de degustação, em outubro de 2018, mais precisamente no dia 11, no Hotel Sheraton, no Leblon, Rio de Janeiro, de nome “Vinhos do Alentejo”, organizado pela CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana) e, para quem não sabe, a CVRA A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) foi criada em 1989 e é um organismo de direito privado e utilidade pública que certifica, controla e protege os vinhos DOC Alentejo e os vinhos Regionais Alentejanos. É também responsável pela promoção dos Vinhos do Alentejo, no mercado português e em mercados-alvo internacionais. Sua atividade é financiada através da venda dos selos de garantia que integram os contrarrótulos dos Vinhos do Alentejo.

Os produtores que levaram seus rótulos ao evento foram: Adega de Borba; Adega de Redondo; Cartuxa – Fundação Eugênio de Almeida; Casa Agrícola HMR – Cave D’or; Casa Relvas (Herdade de São Miguel); Comenda Grande; Cortes de Cima; Esporão; Herdade da Malhadinha Nova; João Portugal Ramos; José Maria da Fonseca; Monte da Capela; Segur Estates (Roquevale); Sogrape Vinhos; Tapada do Fidalgo; Vinhos Folha do Meio.

Antes de falar sobre os rótulos que mais me chamaram a atenção (foram muitos, mas tive de fazer uma seleção), falarei, de forma breve, sobre a região do Alentejo para que possamos ter uma dimensão de sua importância para Portugal e milhares de apreciadores espalhados pelo mundo, a qual me incluo.

A região do Alentejo representa a maior província de Portugal, que se estende desde o Tejo ao norte até o Algarve no sul, assim cobrindo 1/3 do território Português. Os vinhos do Alentejo são controlados pela CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), que certifica, controla e protege os DOC e Regionais Alentejanos. A Comissão também é responsável pela promoção dos vinhos Mundo afora. O cultivo das vinhas na região vem desde o domínio do Império Romano, tanto que até hoje alguns vinhos permanecem sendo preparados em Talhas e Ânforas (as uvas são maceradas e fermentadas nos jarros de cerâmica). As ânforas são tampadas com cera de abelha e ficam enterradas por até 7 meses. O barro não interfere no sabor, apenas realça a qualidade do vinho. A composição dos solos do Alentejo é bastante variada em suas várias sub regiões: Granítico em Portalegre; Derivados de Calcários Cristalinos em Borba; Mediterrânicos pardos e vermelhos em Évora, Granja / Amareleja e Moura e Xistosos em Redondo, Reguengos de Monsaraz e Vidigueira. No continente, com altitudes que variam entre 50 a 200 metros apenas, o efeito moderador do Oceano diminui muito, principalmente numa região com pouca chuva (entre 500 e 800 mm) e onde os verões são intensos e os invernos são pouco rigorosos. Essas condições favorecem o cultivo de uvas autóctones como as tintas Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouchet, assim como as brancas Roupeiro, Antão Vaz e Arinto. Além destas castas, outras como Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah e Chardonnay são também utilizadas nos Vinhos Regionais Alentejanos. No geral, vinhos encorpados com aromas de frutos silvestres e vermelhos são algumas das características dos tintos e os brancos geralmente se apresentam ligeiramente ácidos com aromas de frutas tropicais. A utilização de ânforas geralmente provoca mineralidade, taninos mais redondos em vinhos mais cheios e equilibrados. O Brasil é o maior mercado dos vinhos do Alentejo representando quase 20% do total das exportações da região, na frente de EUA e China.


E finalmente a minha seleção dos melhores vinhos por mim degustados no “Vinhos do Alentejo” em 2018:

De cara já começo com os vinhos da Cortes de Cima, que conheci ao degustar o excelente rótulo “Chaminé” que, infelizmente não levaram para o evento, mas que foi compensado por outros tão quanto especiais.

O “Corte de Cima” é considerado por eles o vinho emblemático e passa por 12 meses por barricas de carvalho. Um blend com as castas 30% Aragonez, 30% Syrah, 15% Touriga Nacional, 10% Petit Verdot, 10% Alicante Boushet e 5% Cabernet Sauvignon se mostrou um vinho encorpado, frutos negros no aroma e no palato, com taninos presentes, boa acidez e muito equilibrado. Um vinhaço redondo e harmonioso, com álcool bem integrado.


O “Dois Terriors” me surpreendeu! Não o conhecia, mas o produtor havia me dito que era um novo rótulo. Com um inusitado blend das castas 55% Aragonez, 30% Pinot Noir, 15% Syrah revelou um vinho de personalidade, mas fresco e delicado, graças a Pinot Noir. Excelente vinho!


Outro que não conhecia e que me encheu de alegria ao degusta-lo, pois o vinho expressa essa proposta. O Courela tinto é um vinho fresco, jovem e despretensioso. Composto pelas castas 50% Aragonez, 40% Syrah e 10% Touriga Nacional.


Há a versão branca do Courela também um vinho fresco, com boa acidez e muito fácil de degustar. Com um blend interesse com as castas 55% Verdelho, 25% Sauvignon Blanc. 20% Viognier.


Outros vinhos maravilhosos por mim degustados no evento foram os da Adega Cooperativa de Borba.


E começo com um velho conhecido, um dos primeiros alentejanos que degustei e que reencontrei no evento, o Adega de Borba tinto reserva, com rótulo de cortiça. Das castas Aragonez, Trincadeira, Castelão e Alicante Bouschet, tem 12 meses de passagem por barrica de carvalho e mais 6 meses em garrafa e se mostra um vinho aromático, com frutas negras e especiarias, o que se repete no paladar, com taninos redondos, acidez na medida, um vinho amadeirado e delicioso.

E a versão branca me surpreendeu, afinal um branco com 9 meses de passagem por madeira (cerca de 30% do vinho) não é muito comum na realidade dos brasileiros. Composto pelas castas Arinto, Alvarinho e Verdelho é fresco, jovem, um pouco untuoso, com agradável cremosidade e uma ótima acidez.


O Adega de Borba branco também segue basicamente a mesma proposta, mas sem passagem por madeira. Um blend com as castas Roupeiro, Arinto e Antão Vaz é fresco, jovem, ótimo para o dia a dia, com uma acidez mais discreta, mas muito frutado.


Indo agora ao tradicional Herdade do Esporão onde destaco três ótimos rótulos e o primeiro também é um velho conhecido, o Monte Velho branco. Um vinho para todas as ocasiões. Com perfil equilibrado e gastronómico, retrata os melhores aromas e sabores das uvas alentejanas. Blend: Antão Vaz, Perrum, Roupeiro.


O emblemático Esporão Reserva tinto não poderia ficar de fora. Um blend tipicamente alentejano das castas Aragonês, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet tem 12 meses de passagem por barricas de carvalho, tem no nariz intenso toque de frutos negros, especiarias e toque amadeirado e de chocolate, o que se repete na boca com taninos gulosos e acidez correta.


O 2 castas (Viosinho e Alvarinho) tem o destaque da acidez e mineralidade. Fresco, cremoso, e que cairia como uma luva ao clima brasileiro. Um vinho de excelente tipicidade e expressividade.


Há o destaque para os vinhos da Herdade de São Miguel e começo com o excelente “Escolha dos Enólogos”. Das castas Alicante Bouschet, Touriga Franca e Touriga Nacional e 9 meses de passagem por barricas de carvalho, tem aromas de ameixas e flores e especiarias. Na boca é estruturado, suculento e boa acidez, com boa textura dos taninos.


Mas o destaque ficou reservado para a versão reserva. Um vinho robusto, poderoso e com ótimo potencial de guarda. Das castas Alicante Bouschet, Aragonez, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional, passa por 18 meses em barricas de carvalho e se revelou complexo, amadeirado, com notas de baunilha no nariz, o que se confirma no palato, com taninos carnudos e boa acidez.


E agora um momento para não esquecer, afinal não é todo dia que degustamos o tradicional, emblemático e importante Cartuxa, de Évora, um colheita, que sintetiza a região alentejana. Das castas Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro e Alicante Bouschet, passou por 12 meses em barrica de carvalho e mais 8 meses em garrafa. Apresenta uma cor granada e um aroma de frutos silvestres, com notas de tabaco e especiarias. Na boca tem uma boa estrutura, com taninos maduros, boa concentração, fresco e equilibrado. Excelente!


Outro que foi muito especial, mas que não é muito badalado como o Cartuxa e que não conhecia até então: Fonte Seca, um reserva, pasmem, da safra 2007! São um fã e apreciador dos vinhos evoluídos e esse veio a calhar. Da Herdade do Carvalhal, esse vinho passou por 12 meses por barricas de carvalho e é um corte das castas Aragonês e Trincadeira e, quando o expositor o abriu, ainda está arredio, adstringente, mas que já mostrava seu potencial e vivacidade, mesmo com seus mais de 10 anos de vida, de safra! Mas apresentava aromas de frutas vermelhas maduras, torrefação e notas especiadas. Na boca é estruturado, acidez viva e final de boca persistente.



Outro momento especial para mim no evento foi a degustação de um símbolo de tradição no Alentejo que são os vinhos de Talha, que nunca, até o momento, havia degustado. Esse da Roquevale é composto pelas castas Trincadeira, Castelão e Aragonês. nos aromas com discretas notas balsâmicas, chocolate sobre discreto toque herbáceo. Na boca taninos firmes, alta acidez, álcool generoso, tudo entrelaçado formando um conjunto potente e concentrado. Termina com média persistência, sem amargor.



Em suma, foi um espetacular evento de degustação que, embora tenha sido temático, trazendo rótulos da região do Alentejo, não foi nem um pouco linear e enfadonho, pois mostrou a diversidade, a riqueza de sabores, experiências e sensações de uma terra rica, cheia de tipicidade e singularidade, porém complexa. Aprendizado, degustações, conhecimento foram as tônicas desse evento, além das excelentes instalações e estrutura que só realçaram a qualidade e importância dos vinhos do Alentejo.

Outros rótulos que degustei:







Vídeo institucional que divulgou o festival "Vinhos do Alentejo 2018":



Mais informações sobre o Alentejo acesse o site do CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana):












sábado, 4 de abril de 2020

Cantanhede Rosé Baga


Preciso reparar um erro absurdo da minha humilde trajetória como enófilo, como amante de vinhos: as minhas poucas degustações de vinhos rosés. Preciso degustar mais vinhos rosés! É inaceitável que nós, brasileiros e degustadores de vinhos, rejeitem tão veementemente os vinhos rosés que, na sua proposta mais jovem, fresca e descompromissada, harmoniza maravilhosamente com o nosso clima, majoritariamente quente, solar. Acredito que também falte, por parte dos produtores, uma política mais agressiva de marketing, educando e fazendo o mercado entender das vantagens e do prazer que é degustar tais vinhos, alheio também a questões inerentes como a falta de uma cultura estabelecida de consumo de vinhos, que está estacionado nos menos de dois litros, per capita, ao ano e, claro, o Custo Brasil, com seus altos impostos, por exemplo. Mas não quero entrar no mérito, pelo menos agora, e falar de um vinho surpreendente, um vinho de um excepcional custo X benefício, como deve ser os rosés, em minha opinião, que definitivamente ficará em minha memória.

O vinho que degustei e gostei é o Cantanhede Rosé 100% da casta Baga, sem região e sem safra. O vinho não é safrado, não tem nenhuma denominação de origem (DOC, como na Bairrada e Vinho Regional, como no Beira Atlântico) sendo, como os portugueses denominam, um “Vinho de Mesa”. Nesse caso vale um parêntese importante que aqui no Brasil se tem pouca referência ou informação a respeito: Vinho de Mesa em Portugal tem uma definição diferente daqui do Brasil. No Brasil “Vinho de Mesa” são aquelas bebidas produzidas por uvas americanas, não viníferas. Já o conceito de “Vinho de Mesa” em Portugal são rótulos de entrada, simples das vinícolas que não possuem “DOC” e “Vinho Regional” e são produzidos com castas regionais, locais, como é o caso da Baga, que compõe este rótulo. As castas também podem vir de outras regiões, por isso que não vem com safra definida. Não devem ser, em minha opinião, vinhos medíocres, ruins, mas apenas com uma proposta simples, direta e despretensiosa. Outra menção que convém ressaltar é que este rótulo foi feito pelo famoso enólogo Osvaldo Amado, angolano naturalizado português. Amado faz vinho em todo o país. Enólogo reconhecido e premiado (foi o enólogo do ano para a Revista de Vinhos) engarrafou já mais de 400 milhões de garrafas e tem a sua assinatura em mais de 200 rótulos diferentes. Se você quiser conhecer um pouco mais o enólogo segue link com uma entrevista que o mesmo concedeu ao portal “Life & Style Fugas”.


Vamos ao vinho:

Na taça tem um rosa “casca de cebola”, cristalino, límpido, brilhante, muito bonito.

No nariz é impressionante! Aromas intensos de frutas vermelhas frescas, como cereja, morango, groselha.

Na boca é igualmente frutado, onde a presença intensa da fruta me fez lembrar um cesto de frutas vermelhas frescas recém-colhidas da árvore. Uma boa acidez, equilibrada, que denuncia todo o seu frescor, leveza e refrescância. Um final também frutado e persistente. Um vinho super elegante!

Um vinho adorável, surpreendente, simples sim, mas correto, honesto, bem feito e custou apenas R$ 23,90, pasmem! Um vinho fresco, delicado, jovem que personifica o conceito de um bom rosé, como ele deve ser além de um valor justo e que cabe no bolso, sobretudo em dias bicudos de incerteza econômica. Por mais rosés, por mais rosés com preços acessíveis e que cada um de nós, brasileiros, a qual me incluo, possa degustar mais e mais desses vinhos frescos e alegres. Possui 11,5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Cantanhede:

A constituição da Adega Cooperativa de Cantanhede acontece no ano de 1954, fruto da vontade de um grupo de viticultores empenhado em criar condições para valorizar e rentabilizar o elevado potencial que já então reconheciam aos vinhos produzidos no terroir de Cantanhede. Neste concelho, onde a viticultura remonta ao tempo dos romanos, encontramos a principal mancha vitícola da Região Demarcada da Bairrada. Atualmente com cerca de 1400 viticultores associados, representando uma área total de vinha de 2000 Ha, esta adega é o maior produtor da região, representado 25 a 30% da produção. A sua dimensão e consequente responsabilidade que assume no contexto da região demarcada onde se insere, desde cedo exigiu que o caminho a seguir fosse o de valorizar as castas características da região, apostando na produção de vinhos com maior qualidade. Inicialmente comercializados exclusivamente a granel, após apenas 9 anos depois da sua fundação e contra todas as correntes do sector cooperativo de então, esta adega inicia, pioneiramente, a venda dos seus vinhos engarrafados procurando uma alternativa para a diferenciação dos vinhos de Cantanhede. A estratégia adoptada não demorou a dar frutos. Hoje esta adega certifica mais de metade da sua produção com a Denominação de Origem Bairrada, assumindo uma destacada liderança neste segmento e, mais recentemente também nos Vinhos Regional Beiras. Hoje a sua política produtiva assenta num pressuposto basilar que passa por uma forte aposta nas castas portuguesas, particularmente da Bairrada, sua defesa, promoção e divulgação.

Mais informações acesse:





sexta-feira, 3 de abril de 2020

Loios branco 2017


Cheguei a uma conclusão que confesso não saber se é uma unanimidade: os brancos alentejanos são os melhores de Portugal! Talvez esteja sendo leviano pelo fato de que Portugal goza de grandes e diversificados terroirs sendo difícil ser tão taxativo quanto aos brancos alentejanos. Mas acredito que, entre os enófilos, seja unanimidade que o Alentejo está entre as melhores e mais emblemáticas regiões lusitanas na produção de vinhos. Vejo que o Alentejo traduz em seus vinhos o que a sua terra pode oferecer, além, é claro, da sua cultura, de sua gente, no processo de colheita, vinificação e a sua entrega ao degustador. É a cultura personificada neste líquido, neste néctar.

E o vinho que degustei e gostei veio, como já disse, do Alentejo, sendo um vinho regional alentejano, chamado Loios, branco, das castas Arinto, Rabo de Ovelha e Roupeiro, uvas autóctones, da safra 2017.

Na taça tem um amarelo palha com tons esverdeados, diria tendendo para um amarelo dourado, talvez pelo reluzente brilho.

No nariz traz aromas agradáveis de frutas frescas, frutas brancas como melão, abacaxi, toque floral, mineral, com muito frescor e leveza.

Na boca se confirma as impressões olfativas com notas cítricas discretas, acidez correta, muito boa intensificando a proposta do vinho, jovem e fresco.

Um vinho direto, simples, mas com personalidade, graças a sua versatilidade, elegância, harmonia e equilíbrio. Muito gastronômico, harmoniza bem com frituras, carnes brancas e frios ou sozinho. O Loios, dessa safra, em especial, ganhou 86 pontos da Wine Advocate, do Robert Parker, 16 pontos da Revista de Vinhos e 15 pontos do Vinho Grandes Escolhas. Possui 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola João Portugal Ramos:

Nascido de uma longa linhagem de produtores, João Portugal Ramos licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos, após o que inicia, em 1980, no Alentejo, a sua atividade de enólogo. João Portugal Ramos planta os primeiros 5 hectares de vinha em Estremoz, onde vive desde 1988, dando início ao seu projeto pessoal. Estremoz é o primeiro local eleito por João Portugal Ramos para fazer os seus próprios vinhos, após a longa carreira como enólogo consultor na criação de vinhos nas principais regiões vitivinícolas de Portugal. A primeira vindima realiza-se em 1992 e nos anos que se seguem o vinho é elaborado em instalações arrendadas, sendo 1997 o primeiro ano em que é vinificado nas novas instalações. Desta primeira vindima, nasce o primeiro vinho próprio de João Portugal Ramos – Vila Santa. Inicia-se a construção da Adega Vila Santa, em Estremoz. Em 1997 é também a primeira colheita do Marquês de Borba Reserva e no ano seguinte nasce o Colheita, que até hoje se mantém como a marca mais forte do grupo revelando uma consistência inabalável ano após ano. Os vinhos do Grupo João Portugal Ramos estão presentes por todo o mundo, sendo líderes de vendas de vinhos portugueses em alguns países. Hoje, o enólogo tem a seu lado dois dos seus cinco filhos, João Maria no departamento de enologia e Filipa no departamento de marketing, dando continuidade ao negócio de família.

Sobre o rótulo “Loios”:

Loios é um vinho produzido no Alentejo e o seu nome deriva do título que no século XV foi atribuído aos membros da ancestral Congregação de Padres da Ordem de S. João Evangelista. Mais conhecidos por Loios, estes monges sempre estiveram profundamente ligados à história do Alentejo e em particular aos vinhos. E é em sua memória que nasce este vinho, produzido a partir de castas tradicionais da região.

Mais informações acesse:


Degustado em: 2019



Aurora Varietal Pinot Noir 2016


Já ouviu falar naquela frase: Menos é mais? Pois é, essa pode ter forte aplicabilidade no mundo dos vinhos, sim. Não quero pecar na redundância, mas sempre compartilhei da ideia de que há sim grandes e surpreendentes rótulos baratos. Sei também que é muito relativo o conceito de “barato”, afinal, isso envolve a condição social e econômica de cada um. Porém quando falamos em vinho barato, não podemos negligenciar a proposta que o vinho nos oferece. Em tempos bicudos, de incerteza econômica, um bom vinho e barato pode ser a solução para continuarmos a degustar nossos vinhos de cada dia, mas temos que entender que existe uma proposta por trás desse vinho. Geralmente são vinhos mais simples, de entrada de um produtor, mas não se engane de que sejam sinônimos de vinhos ruins, mas de uma proposta descompromissada, de vinhos jovens e frutados, para consumo rápido.

Por que estou falando tudo isso? É porque tive uma grande surpresa com um rótulo brasileiro, me vi, quando o degustei, que fui arrebatado de forma avassaladora corroborando cada palavra textualizada acima. É da famosa região de Bento Gonçalves, da histórica Vinícola Aurora e o vinho que degustei e gostei é o Aurora Varietal da casta Pinot Noir, da safra 2016. Antes de expor a análise deste rótulo eu gostaria de fazer uma breve explanação sobre a região de Bento Gonçalves. Segundo o site do Município, Bento Gonçalves é a Capital Brasileira da Uva e do Vinho e também a primeira região do Brasil a obter a Indicação de Procedência e Denominação de Origem, pelo Vale dos Vinhedos, certificado que qualifica a origem do produto em nível mundial. Caso queira conhecer um pouco mais sobre o potencial vitivinícola da região, acesse:


Vamos ao vinho?

Na taça apresenta um vermelho rubi vivo, com tons granada muito brilhantes, típicos da Pinot Noir, com lágrimas finas e rápidas.

No olfato traz aromas frutados, lembrando amora e cereja, com muito frescor, é o destaque positivo do vinho, é uma explosão aromática de frutas em compota.

No paladar é seco, delicado, como todo bom Pinot Noir, nuances evidentes da fruta, taninos sedosos, boa acidez, abrindo as portas da sua refrescância, com um final de média intensidade.

Um vinho jovem, sedoso na boca, elegante, simples, mas correto, bem feito, mostrando, provando que vinho barato pode ser sem dúvida alguma, muito boa, uma alternativa calcada no custo X benefício inteligente. Por ser um vinho versátil acompanha pratos leves, carnes e massas. Degustei esse com um macarrão ao alho e óleo! Tem 12% de teor alcoólico. Ah o vinho ostenta, acredite grandes reconhecimentos, com premiações internacionais, inclusive, tais como: Menção Honrosa no Decanter Wine Asia Awards em 2012 e Mundus Vini, na Alemanha, em 2005, medalha de bronze na Internacional Wine and Spirits Competition, na Inglaterra, no ano de 2001, medalha de prata no Concurso Mundial de Bruxelas, em 2013 e La Mujer Elige, na Argentina, em 2008.

Sobre a Vinícola Aurora:

A história da AURORA inicia em 1875, com a chegada de imigrantes oriundos do norte da Itália. Estabelecidos no Sul do Brasil, na Serra Gaúcha, onde encontraram paisagens e clima similares aos de seu país de origem. Assim, os hábitos e a cultura europeia não foram abandonados, e a antiga arte da vitivinicultura logo foi retomada. E no dia 14 de fevereiro de 1931, dezesseis famílias de produtores de uvas do município de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, reuniram-se para lançar a pedra fundamental do que viria a se transformar no maior empreendimento do gênero no Brasil: A COOPERATIVA VINÍCOLA AURORA. Um ano mais tarde, já contabilizava a produção coletiva de 317 mil quilos de uvas e fixava a base de um empreendimento destinado a ser não apenas o maior, mas também um dos mais qualificados tecnologicamente. Hoje, bem no coração de Bento Gonçalves, a Vinícola Aurora é a maior do Brasil. Mais de 1.100 famílias se associaram à cooperativa, sendo a produção orientada por técnicos que, diariamente, estão em contato com o produtor – fornecendo toda a assistência necessária. A equipe técnica se responsabiliza pelo acompanhamento permanente do processo industrial e pela qualidade final dos produtos, sempre com a atenção voltada para o desenvolvimento de uma tecnologia de ponta. A conquista da posição que ocupa há mais de duas décadas foi possível graças à constante modernização de seu parque industrial, à alta tecnologia de suas unidades e aos rigorosos padrões exigidos nos processos de produção. O cuidado extremo com a rotina produtiva, observado a partir da plantação das mudas ao engarrafamento do produto, faz parte da receita de crescimento constante do empreendimento durante todos esses anos.

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Degustado em: 2017


quarta-feira, 1 de abril de 2020

Angove Long Row Chardonnay 2008


Lembro-me que, quando cheguei a este rótulo, estava em busca de um vinho branco, mais especificamente da casta Chardonnay que, nos idos de 2014 era a minha cepa branca preferida. Que fique claro que ela não deixou de ser, mas que, naquela época, eram poucas as castas brancas que eu conhecia. Mas, voltando a minha saga em 2014 pela busca da Chardonnay, eu não queria um Chardonnay chileno, brasileiro, argentino, mas de um país pouco usual, a minha intenção era buscar novos terriors, rótulos diferentes, enfim, novas experiências. Entrei em uma loja especializada em vinhos e comecei a garimpar, a saciar a minha latente necessidade. Um vendedor, muito simpático e prestativo, que se dizia também um sommelier me auxiliava nas buscas, quando, encontrei um, escondido e até meio empoeirado, havia apenas uma garrafa que logo me deixou entusiasmado. Era um Chardonnay australiano que logo estava em minhas mãos e mostrei ao vendedor, perguntando por recomendações. Ele apenas disse que seria interessante degustar brancos com safras recentes e o referido australiano era da safra 2008, ou seja, 6 anos de safra até então. Mas resolvi arriscar! O preço estava atrativo, era um vinho branco cujo país era novo para mim... Segui em frente. Por que estou contando essa história? Logo irão saber...

O vinho que eu me refiro e que degustei e gostei demais, uma surpresa arrebatadora foi o Angove Long Row Chardonnay, como disse australiano, de uma região chamada McLaren Valley, no sul da Austrália, da safra 2008.

Na taça tem um amarelo palha com tons dourados muito brilhantes.

No nariz apresenta frutas brancas, como melão, frutas tropicais e toques herbáceos e um agradável floral que já indica seu frescor e elegância.

Na boca abundância frutada que enche a boca, diria um pouco de untuosidade, cremosidade que faz do vinho um tanto quanto estruturado e complexo, mas que graças a sua boa acidez o torna fresco, ainda com uma boa jovialidade, apesar dos seus 6 anos de safra à época. Com um final saboroso, longo e macio.

Um incrível Chardonnay elegante, harmonioso, suculento que surpreendeu pelos seus 6 anos de safra quando degustei mostrando impressionante frescor e vivacidade, com seus potentes 13,5% de teor alcoólico muito bem integrados. Claro que é sempre recomendável degustar brancos com safras recentes, mas, neste meu caso, fui surpreendido positivamente por um vinho vivo, pleno, jovem! Portanto, se o seu coração pedir, arrisque, invista que as vezes se torna interessante fugir às regras. Ah e para fechar, a safra de 2008 ganhou 4 prêmios, que segue: Internacional Wine Challenge, Decanter World Wine Awards, duas vezes a medalha de bronze e o Mundus Vini com a medalha de prata.

Sobre a Angove Family Winemakers:

A Angove Family Winemakers é uma empresa familiar de quinta geração dedicada à elaboração de vinhos super premium e de vinha única da McLaren Vale, juntamente com diversos vinhos de algumas das grandes regiões produtoras de vinho do Sul da Austrália. Em 1886 William Thomas Angove e sua família chegam à Austrália de Cornwall, Inglaterra, para estabelecer uma prática médica no Tea Tree Gully, no sopé do nordeste de Adelaide. A história da produção de vinho em Angove começa, no mesmo ano, com o Dr. Angove fazendo seus primeiros vinhos no agora histórico Brightlands Cellars como um tônico para seus pacientes. Em 1892 o negócio do vinho começa a crescer com 10 acres de vinhedos em produção e mais 20 acres plantados em 1893. Em 1903 as propriedades da vinha em Angove crescem para 100 acres, uma das maiores do estado e compõem um quinto da terra total plantada em videiras. Os primeiros vinhos são feitos a partir de uvas cultivadas nessas vinhas, bem como as da 'Warboys Vineyard', de propriedade de Henry Hall. Em 1907, a Destilaria e Vinícola St Agnes é estabelecida e as atividades de produção de vinho são transferidas das Caves Brightlands.Em 1910 o filho do Dr. Angove, Carl 'Skipper' Angove, se aventura em Renmark para estabelecer a primeira vinícola e destilaria de Riverland. Em 1927 Carl Angove e Ron Martin estabelecem a Dominion Wines Ltd na Inglaterra. Nos próximos 20 anos, a Angove & Son é uma das quatro principais vinícolas australianas a exportar para a Inglaterra sob a joint venture. Em 1946 Tom Angove é nomeado Diretor-Geral e inicia uma nova era de desenvolvimento, instalando instalações de britagem e britagem de última geração e construindo o 'Vintage House', que abriga 32 fermentadores abertos de concreto de 32 toneladas de cinco toneladas, considerados a principal tecnologia da época. Em 1962 Tom compra terras, agora chamadas Nanya Vineyard, em Paringa, do outro lado do rio, da Renmark. A vinha 480 Hectare é constantemente plantada em mais de 18 variedades diferentes de uvas que fornecem as marcas comerciais de vinhos da empresa. A quarta geração da família, John Carlyon Angove sucede a seu pai, em 1983, como diretor administrativo e promove desenvolvimento e investimento significativos em todos os aspectos do negócio. Em 2007 Nanya Vineyard inicia a conversão para produção orgânica de uva certificada para a produção no primeiro vinho orgânico certificado da família Angove. Atualmente a família Angove expande suas propriedades, adquirindo a premium Angels Rise, localizada a 280 m acima do nível do mar, em terras vitivinícolas privilegiadas nos arredores de Clarendon, em 2019, nos limites da região do McLaren Vale.

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Degustado em: 2014


Brancott Estate Pinot Noir 2012 e 2014




Ao longo da minha história de degustação tive a possibilidade de me presentear com algumas boas evoluções preponderantes para a qualidade das minhas experiências com os mais diversos rótulos, afinal cada garrafa de vinho guarda também boas e grandes histórias. Não é só degustação, não é só o prazer do líquido contido na garrafa, são as histórias dos produtores, das regiões, dos rótulos, do terrior, da terra e as suas mais essenciais particularidades que faz cada vinho único e especial. E uma região, na Nova Zelândia, me chamou muito a atenção que se chama Marlborough. E o que me fez chegar até ela foi, como sempre, a leitura, a curiosidade em conhecer os vinhos neozelandeses me fez viajar, com as asas do conhecimento, até a essa região. Instigou a minha curiosidade. No final deste texto tem um pouco da história da Marlborough que se combina com a história da vinícola Brancott State, mas vale saber, antecipadamente que apesar de algumas vinhas terem sido plantadas por colonos em 1870, a viticultura comercial de Marlborough teve início apenas em 1970, quando produtores de outras regiões compraram algumas áreas e plantaram suas vinhas. Os vinhos Marlborough começaram a ter maior prestígio e fama apenas no início dos anos 1980.

E o vinho, dessa região, que degustei e gostei, na realidade foram dois rótulos que, por serem os mesmos, porém, de safras distintas, decidi publicá-los juntos é o Brancott State da casta Pinot Noir, das safras 2012 e 2014. E por que decidi colocá-los juntos em uma única publicação? Porque foram vinhos especiais e que, independente das safras diferentes, revelaram características similares, inerentes a casta, porém com peculiaridades que me parecem ser oriundas da região que se fazem presentes nas descrições olfativas e gustativas. Então, lá vai:

No aspecto visual conta com um vermelho rubi, aquela típica cor granada brilhante da Pinot Noir, com lágrimas finas em média intensidade que se dissipavam não tão rapidamente.

No nariz é intenso, um ataque aromático de frutas vermelhas, como ameixas e cerejas, com toques herbáceos, de especiarias, como pimentão, diria.

Na boca é intenso, com certa estrutura para um Pinot Noir (me parece ser uma característica do Pinot Noir dessa região, pois foi perceptível nas duas safras), com bom volume de boca, graças a sua boa estrutura, mas com muito equilíbrio e elegância. Tem taninos macios, uma boa acidez, que corrobora o seu frescor, mesmo que o de 2014 eu tenha degustado somente em 2019, com 5 anos de safra!  Com um discreto toque amadeirado, de tosta, mas bem integrado, graças a passagem de 6 meses por barricas de carvalho, sendo uma parte, já a outra em tanques de aço inox pelo período de 6 meses também (o percentual de cada vinho não foi divulgada pelo produtor). Presença da fruta é evidente até o seu final, se mostrando persistente e agradável.

Um vinho atraente, elegante, delicado como todo Pinot Noir, mas com personalidade marcante, estrutura, complexidade que parece ser uma característica do terrior dessa região que preciso explorar mais e mais. O vinho conta com um robusto teor alcoólico de 14%, mas muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Sobre a Brancott Estate:

Até a década de 1970, Marlborough era apenas mais um bolso bonito da Nova Zelândia, considerado frio demais para qualquer coisa, exceto pastar ovelhas. Em 1973, as primeiras mudas foram plantadas no Brancott Estate Vineyard. Mas, após dois anos de sucesso misto, repensamos a tradição de levar nossas videiras para uma nova direção - literalmente. Graças aos dias ensolarados da região e às noites frescas, nossas uvas desenvolveram um perfil de sabor único e fresco - e em 1979 nasceu o primeiro Sauvignon Blanc de Marlborough. Os anos oitenta começaram bem, com o nosso primeiro lançamento, Marlborough Sauvignon Blanc, ganhando ouro no New Zealand Easter Show de 1980. Em 1982, nosso primeiro embarque de Marlborough Sauvignon Blanc foi compartilhado além de nossas fronteiras, enquanto se dirigia para o Reino Unido. No final da década, nosso Marlborough Sauvignon Blanc foi selecionado entre mais de 1100 concorrentes para ganhar o prestigioso troféu Marquês de Goulaine na 21ª Competição Internacional Wine & Spirit. Em 1990, a indústria do vinho em Marlborough havia se tornado suficientemente significativa para receber uma visita de Sua Majestade, a rainha Elizabeth II, que plantou uma videira no Festival Block, casa do Marlborough Food and Wine Festival desde 1987. Nesse mesmo ano, foi marcada a nomeação de um novo porão, Patrick Materman, que se tornaria chefe enólogo e lideraria a exploração de novas expressões de Marlborough Sauvignon Blanc. Nosso Marlborough Chardonnay de 1996 foi eleito Vinho Internacional do Ano e o enólogo Andy Frost foi nomeado Enólogo Branco do Ano no London International Wine Challenge. Em 2006, a Brancott Estate plantou as primeiras videiras Sauvignon Gris em Marlborough, uma antiga variedade que desapareceu na obscuridade até que algumas videiras foram encontradas e transplantadas para a Nova Zelândia. Provando ser tão adaptado a Marlborough quanto seu primo próximo, Sauvignon Blanc, o primeiro Sauvignon Gris foi lançado em 2009. No ano seguinte, a Brancott Estate lançou sua linha orgânica, Living Land, e em 2011, a Brancott Estate Cellar Door and Restaurant abriu suas portas. Depois de lançar a primeira safra de Marlborough Sauvignon Gris, lançamos a Brancott Estate Chosen Rows, a nossa melhor Marlborough Sauvignon Blanc digna de idade. Também lançamos a primeira vindima do Flight, uma nova versão do Sauvignon Blanc que é naturalmente mais leve em álcool. A nossa gama de vinhos Sauvignon Blanc agora inclui vinhos espumantes, orgânicos, com influência de carvalho, naturalmente com baixo teor de álcool, dignos de idade e de colheita tardia. Enquanto isso, nossa assinatura Marlborough Sauvignon Blanc continua valendo, com um fluxo constante de prêmios e elogios de todo o mundo.

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O Brancott State da safra 2012 degustado em: 2014

O Brancott State da safra 2014 degustado em: 2019