segunda-feira, 6 de abril de 2020

Festival "Vinhos do Alentejo 2018"


A região do Alentejo, em Portugal, é a minha favorita. Parece ser leviano pontuar com tanta veemência uma região vitivinícola favorita em terras lusitanas, dada a infinidade de terrioirs, de regiões com suas peculiaridades e características tão marcantes, mas eu conheci Portugal e seus vinhos graças ao Alentejo, então, diria que, antes da minha preferência tem o aspecto sentimental.

E para dimensionar o tamanho do meu carinho por essa região que se traduz em seus rótulos e tipicidade tive a alegria e o prazer de participar de um evento de degustação, em outubro de 2018, mais precisamente no dia 11, no Hotel Sheraton, no Leblon, Rio de Janeiro, de nome “Vinhos do Alentejo”, organizado pela CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana) e, para quem não sabe, a CVRA A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) foi criada em 1989 e é um organismo de direito privado e utilidade pública que certifica, controla e protege os vinhos DOC Alentejo e os vinhos Regionais Alentejanos. É também responsável pela promoção dos Vinhos do Alentejo, no mercado português e em mercados-alvo internacionais. Sua atividade é financiada através da venda dos selos de garantia que integram os contrarrótulos dos Vinhos do Alentejo.

Os produtores que levaram seus rótulos ao evento foram: Adega de Borba; Adega de Redondo; Cartuxa – Fundação Eugênio de Almeida; Casa Agrícola HMR – Cave D’or; Casa Relvas (Herdade de São Miguel); Comenda Grande; Cortes de Cima; Esporão; Herdade da Malhadinha Nova; João Portugal Ramos; José Maria da Fonseca; Monte da Capela; Segur Estates (Roquevale); Sogrape Vinhos; Tapada do Fidalgo; Vinhos Folha do Meio.

Antes de falar sobre os rótulos que mais me chamaram a atenção (foram muitos, mas tive de fazer uma seleção), falarei, de forma breve, sobre a região do Alentejo para que possamos ter uma dimensão de sua importância para Portugal e milhares de apreciadores espalhados pelo mundo, a qual me incluo.

A região do Alentejo representa a maior província de Portugal, que se estende desde o Tejo ao norte até o Algarve no sul, assim cobrindo 1/3 do território Português. Os vinhos do Alentejo são controlados pela CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), que certifica, controla e protege os DOC e Regionais Alentejanos. A Comissão também é responsável pela promoção dos vinhos Mundo afora. O cultivo das vinhas na região vem desde o domínio do Império Romano, tanto que até hoje alguns vinhos permanecem sendo preparados em Talhas e Ânforas (as uvas são maceradas e fermentadas nos jarros de cerâmica). As ânforas são tampadas com cera de abelha e ficam enterradas por até 7 meses. O barro não interfere no sabor, apenas realça a qualidade do vinho. A composição dos solos do Alentejo é bastante variada em suas várias sub regiões: Granítico em Portalegre; Derivados de Calcários Cristalinos em Borba; Mediterrânicos pardos e vermelhos em Évora, Granja / Amareleja e Moura e Xistosos em Redondo, Reguengos de Monsaraz e Vidigueira. No continente, com altitudes que variam entre 50 a 200 metros apenas, o efeito moderador do Oceano diminui muito, principalmente numa região com pouca chuva (entre 500 e 800 mm) e onde os verões são intensos e os invernos são pouco rigorosos. Essas condições favorecem o cultivo de uvas autóctones como as tintas Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouchet, assim como as brancas Roupeiro, Antão Vaz e Arinto. Além destas castas, outras como Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah e Chardonnay são também utilizadas nos Vinhos Regionais Alentejanos. No geral, vinhos encorpados com aromas de frutos silvestres e vermelhos são algumas das características dos tintos e os brancos geralmente se apresentam ligeiramente ácidos com aromas de frutas tropicais. A utilização de ânforas geralmente provoca mineralidade, taninos mais redondos em vinhos mais cheios e equilibrados. O Brasil é o maior mercado dos vinhos do Alentejo representando quase 20% do total das exportações da região, na frente de EUA e China.


E finalmente a minha seleção dos melhores vinhos por mim degustados no “Vinhos do Alentejo” em 2018:

De cara já começo com os vinhos da Cortes de Cima, que conheci ao degustar o excelente rótulo “Chaminé” que, infelizmente não levaram para o evento, mas que foi compensado por outros tão quanto especiais.

O “Corte de Cima” é considerado por eles o vinho emblemático e passa por 12 meses por barricas de carvalho. Um blend com as castas 30% Aragonez, 30% Syrah, 15% Touriga Nacional, 10% Petit Verdot, 10% Alicante Boushet e 5% Cabernet Sauvignon se mostrou um vinho encorpado, frutos negros no aroma e no palato, com taninos presentes, boa acidez e muito equilibrado. Um vinhaço redondo e harmonioso, com álcool bem integrado.


O “Dois Terriors” me surpreendeu! Não o conhecia, mas o produtor havia me dito que era um novo rótulo. Com um inusitado blend das castas 55% Aragonez, 30% Pinot Noir, 15% Syrah revelou um vinho de personalidade, mas fresco e delicado, graças a Pinot Noir. Excelente vinho!


Outro que não conhecia e que me encheu de alegria ao degusta-lo, pois o vinho expressa essa proposta. O Courela tinto é um vinho fresco, jovem e despretensioso. Composto pelas castas 50% Aragonez, 40% Syrah e 10% Touriga Nacional.


Há a versão branca do Courela também um vinho fresco, com boa acidez e muito fácil de degustar. Com um blend interesse com as castas 55% Verdelho, 25% Sauvignon Blanc. 20% Viognier.


Outros vinhos maravilhosos por mim degustados no evento foram os da Adega Cooperativa de Borba.


E começo com um velho conhecido, um dos primeiros alentejanos que degustei e que reencontrei no evento, o Adega de Borba tinto reserva, com rótulo de cortiça. Das castas Aragonez, Trincadeira, Castelão e Alicante Bouschet, tem 12 meses de passagem por barrica de carvalho e mais 6 meses em garrafa e se mostra um vinho aromático, com frutas negras e especiarias, o que se repete no paladar, com taninos redondos, acidez na medida, um vinho amadeirado e delicioso.

E a versão branca me surpreendeu, afinal um branco com 9 meses de passagem por madeira (cerca de 30% do vinho) não é muito comum na realidade dos brasileiros. Composto pelas castas Arinto, Alvarinho e Verdelho é fresco, jovem, um pouco untuoso, com agradável cremosidade e uma ótima acidez.


O Adega de Borba branco também segue basicamente a mesma proposta, mas sem passagem por madeira. Um blend com as castas Roupeiro, Arinto e Antão Vaz é fresco, jovem, ótimo para o dia a dia, com uma acidez mais discreta, mas muito frutado.


Indo agora ao tradicional Herdade do Esporão onde destaco três ótimos rótulos e o primeiro também é um velho conhecido, o Monte Velho branco. Um vinho para todas as ocasiões. Com perfil equilibrado e gastronómico, retrata os melhores aromas e sabores das uvas alentejanas. Blend: Antão Vaz, Perrum, Roupeiro.


O emblemático Esporão Reserva tinto não poderia ficar de fora. Um blend tipicamente alentejano das castas Aragonês, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet tem 12 meses de passagem por barricas de carvalho, tem no nariz intenso toque de frutos negros, especiarias e toque amadeirado e de chocolate, o que se repete na boca com taninos gulosos e acidez correta.


O 2 castas (Viosinho e Alvarinho) tem o destaque da acidez e mineralidade. Fresco, cremoso, e que cairia como uma luva ao clima brasileiro. Um vinho de excelente tipicidade e expressividade.


Há o destaque para os vinhos da Herdade de São Miguel e começo com o excelente “Escolha dos Enólogos”. Das castas Alicante Bouschet, Touriga Franca e Touriga Nacional e 9 meses de passagem por barricas de carvalho, tem aromas de ameixas e flores e especiarias. Na boca é estruturado, suculento e boa acidez, com boa textura dos taninos.


Mas o destaque ficou reservado para a versão reserva. Um vinho robusto, poderoso e com ótimo potencial de guarda. Das castas Alicante Bouschet, Aragonez, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional, passa por 18 meses em barricas de carvalho e se revelou complexo, amadeirado, com notas de baunilha no nariz, o que se confirma no palato, com taninos carnudos e boa acidez.


E agora um momento para não esquecer, afinal não é todo dia que degustamos o tradicional, emblemático e importante Cartuxa, de Évora, um colheita, que sintetiza a região alentejana. Das castas Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro e Alicante Bouschet, passou por 12 meses em barrica de carvalho e mais 8 meses em garrafa. Apresenta uma cor granada e um aroma de frutos silvestres, com notas de tabaco e especiarias. Na boca tem uma boa estrutura, com taninos maduros, boa concentração, fresco e equilibrado. Excelente!


Outro que foi muito especial, mas que não é muito badalado como o Cartuxa e que não conhecia até então: Fonte Seca, um reserva, pasmem, da safra 2007! São um fã e apreciador dos vinhos evoluídos e esse veio a calhar. Da Herdade do Carvalhal, esse vinho passou por 12 meses por barricas de carvalho e é um corte das castas Aragonês e Trincadeira e, quando o expositor o abriu, ainda está arredio, adstringente, mas que já mostrava seu potencial e vivacidade, mesmo com seus mais de 10 anos de vida, de safra! Mas apresentava aromas de frutas vermelhas maduras, torrefação e notas especiadas. Na boca é estruturado, acidez viva e final de boca persistente.



Outro momento especial para mim no evento foi a degustação de um símbolo de tradição no Alentejo que são os vinhos de Talha, que nunca, até o momento, havia degustado. Esse da Roquevale é composto pelas castas Trincadeira, Castelão e Aragonês. nos aromas com discretas notas balsâmicas, chocolate sobre discreto toque herbáceo. Na boca taninos firmes, alta acidez, álcool generoso, tudo entrelaçado formando um conjunto potente e concentrado. Termina com média persistência, sem amargor.



Em suma, foi um espetacular evento de degustação que, embora tenha sido temático, trazendo rótulos da região do Alentejo, não foi nem um pouco linear e enfadonho, pois mostrou a diversidade, a riqueza de sabores, experiências e sensações de uma terra rica, cheia de tipicidade e singularidade, porém complexa. Aprendizado, degustações, conhecimento foram as tônicas desse evento, além das excelentes instalações e estrutura que só realçaram a qualidade e importância dos vinhos do Alentejo.

Outros rótulos que degustei:







Vídeo institucional que divulgou o festival "Vinhos do Alentejo 2018":



Mais informações sobre o Alentejo acesse o site do CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana):












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