quarta-feira, 15 de abril de 2020

Guia definitivo dos vinhos de Bordeaux


Além de ser a maior, mais antiga e mais prestigiada região vitivinícola do país, Bordeaux tem um dos terroirs mais reconhecidos do mundo dos vinhos, principalmente para os clássicos cortes do Velho Mundo.

Um pouco de história

Não é de hoje que Bordeaux é referência no mundo do vinho. Desde a Idade Média, a região tem atraído olhares de outras partes do mundo, principalmente da Inglaterra, que a incorporou à rota mercantilista – isso num tempo em que a maioria das denominações francesas eram praticamente desconhecidas fora do país.

Vamos começar pensando na fama que Bordeaux tem: vinhos elegantes, estruturados, bem feitos. Talvez os mais “franceses” da França. Comprar um Bordeaux é, na maioria das vezes, a certeza de um vinho correto, de um vinho que vai evoluir na guarda, de um vinho complexo, a cara do Velho Mundo.

Isso não quer dizer que não dá para se decepcionar com um Bordeaux. Tampouco quer dizer que não existam rótulos mais simples e baratos. Como saber? Como escolher? Não se preocupe até o final deste guia você vai saber tudo isso de cor!

Onde está?

Posicionada no litoral sudoeste da França, Bordeaux é uma região entremeada pelos rios Dordogne e Garone, que, ao se encontrarem, dão origem ao Gironde (maior e mais influente que os demais). Seu próprio nome faz referência aos rios (Bordeaux deriva da expressão francesa “au bord de l’eau”, que significa “ao longo das águas”).

Talvez a abundância de águas, tanto dos rios quanto do mar adjacente, seja um dos maiores atributos de Bordeaux. Além de amenizar o clima da região, as águas provêm o melhor ambiente para o desenvolvimento das videiras.

De tão extensa que é Bordeaux, a denominação está mais para um conjunto de várias denominações e terroirs. Um antigo ditado de Bordeaux diz que os melhores vinhedos “podem ver o rio”, regiões onde o solo é formado por cascalho e pedras, perfeito para a drenagem da água. A maioria dos principais produtores bordaleses está exatamente nessas localidades.

É exatamente por isso que Bordeaux deu tão certo no mundo dos vinhos – ali, as uvas crescem no clima, no solo… No terroir ideal. Existem outras denominações até melhores? Claro que sim, mas Bordeaux ainda é vista como um modelo a ser seguido para que tudo dê certo no final.

Mas nem sempre é igual

Na verdade, é sempre diferente. Mesmo com os rios, o clima da localidade ainda é extremamente delicado, chegando a ponto de ser instável. É justamente por isso que cada safra se diferencia das demais, algo que não se vê na maior parte do Novo Mundo, onde os climas são estáveis.

Em Bordeaux, é possível saber se um vinho é bom única e exclusivamente pela safra. Para os críticos, os anos de 2001 e 2002, por exemplo, foram ruins – seus vinhos, então, mais baratos e menos complexos; Já 2005 e 2009 foram algumas das melhores deste milênio, o que resulta em vinhos que ficam na memória (seja pelos sabores gostosos e persistentes ou pelos altos preços).

Quando a safra é tão boa, fica até difícil encontrar os vinhos no mercado. Os grandes apreciadores compram garrafas e mais garrafas, pois são vinhos que podem evoluir na guarda por muitos anos (10, 20, 50!), característica de Bordeaux que nenhum outro canto do mundo consegue imitar.

Sabe onde estão esses vinhos tão “tops”? Eles estão em leilões, em adegas pouco acessíveis, nas mãos dos colecionadores ou na China…

Negócios da China

Como assim estão na China?! Desde 2011, o consumo dos chineses tem sido de cerca de 1,3 milhão de litros por ano. O país já se tornou o primeiro importador mundial de vinhos de Bordeaux. Além disso, cerca de 30 vinhedos de Bordeaux foram comprados por chineses, e mais dezenas estão sendo negociados.

Pois é, o dragão tem sede de vinho, e encontrou seu pote de ouro justamente em Bordeaux (e ao pé da letra!). Isso porque os vinhos bordaleses, com o passar dos anos, tem índices de rendimento bem maior que outros investimentos tradicionais, como ouro, ações, antiguidades e até diamantes. Dez anos de guarda e o vinho valerá 500% o valor pago na garrafa!

Além disso, para os chineses, toda reunião de negócios que se preze precisa ser finalizada com um brinde de um grande Bordeaux. Do contrário, os convidados levarão como ofensa. Os chineses estão a cada dia mais exigentes, querendo vinhos diferentes e mais especiais.

Por melhor que seja a situação (para os produtores e chineses, claro), ela traz algumas complicações. A começar pelas falsificações. Houve um ano que a China vendeu mais garrafas do Lafite Rothschild que foi produzido no próprio château, nada mais nada menos que o tinto avaliado como o mais caro de todo o mundo.

Corte bordalês

Apesar de vasta, Bordeaux cultiva poucas uvas. São elas Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Malbec, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, Sémillon, Muscadelle e Ugni Blanc. Houve um tempo em que a Carménère também brotava na região, porém foi extinta pela praga da filoxera que devastou parte de Bordeaux (e da Europa inteira).

Não existe uma regra específica quanto às proporções usadas no corte, e também nem todas as cepas precisam estar presentes. Cada uma delas desempenha um papel no corte e contribui de alguma maneira para deixar o vinho redondo, correto. Para se ter uma ideia, a maioria dos rótulos de Bordeaux nem mencionam as uvas que levam.

Como descobrir, então, o que estamos bebendo? Pela região de onde a garrafa vem…

As sub-regiões de Bordeaux

Quanto menor a denominação, melhor o vinho. É por isso que os melhores vinhos de Bordeaux não estampam seu nome no rótulo, mas o da sub-região. E por ser tão grande, a região francesa possui dezenas delas. Difícil seria conhecer todas…

Vamos falar das principais regiões e te ajudar a escolher as que mais gosta de acordo com o estilo de vinho, as uvas, os preços…

Tem a ver com o rio…

Extensa, Bordeaux é formada por diversas comunas. E adivinhe só? Cada uma se tornou uma denominação de origem (ou apelação, como chamam os franceses). Pode parecer frescura, mas não é. Para conseguirem estampar o nome da denominação de onde saíram, os vinhos passam por longas e rigorosas avaliações.

Podemos dizer, de modo geral, que Bordeaux se divide em três partes ao longo do rio Gironde: margem esquerda, margem direita e Entre-Deux-Mers (“entre dois mares”, em francês). Daí, então, já dá para tirar algumas conclusões: à direita do rio, predomina a Merlot, enquanto que à esquerda, Cabernet Sauvignon; já Entre-Deux-Mers é conhecida por seus brancos. Ah, e é bom ter isso sempre em mente, afinal, os vinhos de Bordeaux não costumam estampar a uva no rótulo, mas pela denominação já dá para saber!

Obviamente é muito mais complicado do que parece! Mas vamos simplificando…

Margem esquerda

O que sabe sobre a margem esquerda, tirando o fato de nela predominar o cultivo da Cabernet Sauvignon? É onde estão alguns dos maiores nomes de Bordeaux. São grandes as chances de já ter ouvido falar em alguns dos rótulos e vinícolas de peso que de lá emergiram.

Médoc

Talvez seja essa a sub-região de Bordeaux de maior importância. Ao menos é a primeira a ser lembrada (e a mais cara também…). Formada por seis comunas, das quais quatro são extremamente famosas, Médoc começa na cidade de Bordeaux e se estende por 50 quilômetros ao longo do Gironde.

Saint-Estèphe, Pauillac, Saint-Julien e Margaux são tão prestigiadas justamente por terem o que muitos consideram o melhor terroir de Bordeaux (e estão todas em Médoc!). Não à toa, estão em peso na lista dos primeiros classificados de 1885.

Saint-Estèphe

O estilo mais rústico dos vinhos de Saint-Estèphe nasce junto à foz do Gironde. Para contrariar a maioria dos châteaux de Médoc, os daqui preferem Merlot à Cabernet Sauvignon. Mas não espere um Merlot macio, característica tão tradicional uva. Estes são densos e poderosos. É o Château Cos d’Estournel, com seus vinhos ricos e expressivos, que se destaca na região.

Pauillac

Château Latife-Rothschild, Château Mouton-Rothschield e Château Latour. Precisa de mais? É em Pauillac que estão 18 dos 61 maiores vinhos de Bordeaux (lembra da classificação de 1885 que mencionamos? Aguarde e descobrirás…). Encorpados e luxuosos, com distintos toques de groselhas negras e oxicoco (cramberry!).

De lá, saem vinhos com potencial de guarda incomparável – de 20, 30, 40, 50 anos! É exatamente por isso que esses vinhos fazem a base do mercado de vinho de investimento. Um leilão de vinhos pelo Sotheby’s? Pode ter certeza que Paulliac será a estrela. E, como já deve estar imaginando, se a escolha for um Pauillac, é bom preparar o bolso com muitos dígitos (mais do que está pensando)!

Saint-Julien

Precisos e refinados, certinho, corretos… É assim que são os principais vinhos de Saint-Julien. Destacam-se por lá o Château Ducru-Beaucaillou, Château Gruaud-Larose e Château Gloria (o Bordeaux perfeito para os amantes da região que procuram vinhos a preços um pouco mais acessíveis do que nas outras regiões).

Margaux

Além de, obviamente, o Château Margaux (um dos principais do mundo), a região abriga ao menos outras 20 propriedades bem conceituadas. Com um dos solos mais favoráveis de Médoc, composto principalmente de cascalho, é de lá que saem os melhores vinhos das melhores safras. A denominação é conhecida pela elegância, refinamento e generosos aromas de frutas vermelhas, tostado, café e até trufa. Procure vinhos do Château Margaux, Château Palmer, Château Rausan-Ségla e Château Angludet e não se arrependerá!

Graves

Assustado com os preços? Não se preocupe, seu lugar existe e é em Graves, lar dos vinhos mais em conta de Bordeaux.

É da mistura entre cascalho e quartzo que o solo dos melhores châteaux de Graves são compostos. O próprio nome da apelação deriva da palavra francesa “gravier”, que significa cascalho.

Além da Cabernet Sauvignon, variedade que domina a região, Merlot e Cabernet Franc são usadas com bastante frequência. E preste atenção, pois estamos falando de uma das únicas partes de Bordeaux que fazem tanto vinhos tintos como brancos. Em se tratando destes, a maioria resulta do corte de Sémillon e Sauvignon Blanc.

Vinhos de algumas das mais antigas vinícolas de Graves chegavam na Inglaterra antes mesmo do século 12. Sendo assim, no século 16, alguns châteaux já eram conhecidos e tinham sua boa reputação conhecida, como é o caso do Château Haut-Brion, um dos mais tradicionais da região. Tão grande era a fama da propriedade, que é a única representada nos classificados de 1885.
Acontece que, alguns daqueles considerados melhores vinhos de Graves, agora pertencem a uma importante denominação que a região congrega, Pessac-Leógnan. É especificamente de lá que saem os mais conceituados brancos e tintos de Graves.

Sauternes e Barsac

Ao sul de Graves, ainda ao longo das margens do Gironde, estão situadas as comunas mais doces de Bordeaux. É de Sauternes e Barsac que estamos falando, provavelmente as mais devotas aos vinhos de sobremesa. Mais do que simplesmente doces, com deliciosas notas de mel e damasco, equilibram como nenhum outro acidez e álcool. Além de Sémillon, cepa que reina na região, alguns vinhos também contém Sauvignon Blanc, ambas atingidas com a dita “podridão nobre”… “Podridão nobre?!” Isso mesmo, clique e saiba mais sobre ela (não se preocupe, ela é do bem!).

O clima é um fator tão determinante para que as uvas sejam naturalmente atingidas pelo fungo, que os melhores châteaux simplesmente se recusam a vinificá-las nos anos em que umidade e calor não foram ideais. Para se ter uma ideia, um dos mais renomados, o Château d’Yquem, não chega a produzir uma garrafa sequer ao menos duas vezes numa década. Parece loucura, mas preferem lidar com os prejuízos de um ano sem produção a abaixar o padrão de qualidade de seus vinhos.

Margem direita

Cruzar a margem do Gironde é como viajar para outra região. As comunas à direita em nada lembram as da margem esquerda, com luxuosos châteaux e vinhedos enormes. São mais modestas, menos conhecidas (com uma exceção) e, além disso, quem domina a região é a Merlot, e não a Cabernet.

Saint-Émilion

Quanto menor o vinhedo, menos mão de obra necessária, certo? É isso mesmo que acontece em Saint-Emilion, e justamente por essa razão que os vinhos são, em sua maioria, feitos pela própria família dona da propriedade. Um dado curioso sobre a região apenas confirma o fato: para cada três habitantes existe um château.

Diferente das outras, Saint-Emilion é toda distribuída em colinas de calcário, as chamadas côtes. Além disso, é a comuna mais medieval de Bordeaux, chegando até a lembrar uma fortaleza. Os melhores vinhos da denominação saem do Château Cheval Blanc, Château Magdelaine ou Château Ausone.

Pomerol

A menor das sub-regiões de Bordeaux é também uma das que mais atraem olhares dos apreciadores da região. O mais curioso é que, até o início do século vinte, passava despercebida. O motivo da reviravolta? Simplesmente por ser a casa de um dos mais prestigiados châteaux do mundo, o Pétrus. É lá, portanto, que estão os vinhos mais caros de toda Bordeaux.

Mais de 70% da região é coberta por Merlot e o restante é praticamente exclusivo de Cabernet Franc. Isso porque seu solo resulta da mistura entre argila e carvalho, perfeito para ambas.

Nas melhores regiões de Pomerol nascem vinhos aveludados e ricos em notas de ameixa, cacau e violetas. Vinhos que combinam intensidade e elegância. É por essas características que é mais fácil encontrar Bordeaux de Pomerol num restaurante a um vinho de outras sub-regiões. Eles são fáceis de beber e não precisam de tantas anos de guarda para chegarem ao auge.

Entre-Deux-Mers

Como o próprio nome já diz, a região se encontra entre os rios Dordogne e Garonne. Nunca ouviu falar nela? Pois é… É um tanto quanto marginalizada mesmo, principalmente quando comparada às demais denominações de Bordeaux. Nunca seus vinhos foram classificados e a maioria dos tintos, inclusive, não segue as regras da denominação Entre-Deux-Mers, se enquadrando apenas como Bordeaux ou Bordeaux Superiéur.

Lá, os brancos é que dominam. Feitos principalmente de blends de Semillón, mas também de Sauvignon Blanc e Muscadelle, são florais com um toque picante. E por não estagiarem em barrica, ganham leveza e frescor como nenhum outro.

Escrito em grego?

Afinal, como ler um rótulo de Bordeaux? Bordeaux Superiéur, Cru, Grand Cru… O que é tudo isso? Que classificações são essas? Não está entendendo nada? Calma, calma, vamos te ajudar!

Saber ler o rótulo de um Bordeaux não parece tarefa difícil. Basta conhecer as leis estabelecidas pelo conselho francês e “voilà”! Qual é a dificuldade, então?

Bom… Tudo começou em 1855 (antes mesmo da criação do conselho regulador), quando Napoleão III resolveu organizar o Julgamento de Paris, que classificou os melhores vinhos à época.

O problema disso? Esta classificação não considerou toda Bordeaux, então algumas denominações, sentindo-se inferiorizadas, criaram posteriormente as suas próprias classificações.

Premier Grand Cru, Grand Cru Classé, Grand Cru… E por aí vai! Acredite, são várias delas, todas com nomes muito parecidos. Mas três, as mais importantes, são usadas até hoje.

Classificação de 1855 (o tal Julgamento aí de cima)

Para o evento, os principais châteaux deveriam classificar seus vinhos do melhor para o pior e, então, seriam degustados, avaliados e distribuídos em cinco categorias.

Com apenas um vinho classificado, a vinícola já ganha um título vitalício! Funciona como um atestado garantia de qualidade, e até os vinhos mais simples que da propriedade saem têm preços astronômicos.

Ao todo, 61 produtores foram classificados… E adivinhe só? A maioria deles está justamente em Médoc – fora isso, os outros que entram estão em Sauternes, Barsac e Graves.

Voltando ao julgamento…

Na ocasião, as categorias foram estabelecidas por faixas de preços dos vinhos. As mais caras, cujos vinhos são considerados Premier Cru, são seguidas pelos Deuxièmes Cru, e assim em diante até a quinta categoria.

Os mais conhecidos são os Premier Cru – Château Margaux, Château Latour, Château Haut-Brion, Château Lafite-Rothschild e Château Mouton-Rothschield.

Classificação de Graves (1953)

Quase um século se passou e Graves conseguiu classificar seus vinhos. Apenas 21 vinhos receberam tal honra, dentre eles, 13 tintos e oito brancos. Diferentemente da classificação anterior, todos estes são chamados de Grand Cru Classé.

Classificação de Saint-Émilion (1954)

No ano seguinte, foi a vez de Saint-Émilion classificar seus vinhos mais “tops”. E esta é considerada a mais diferente das classificações, pois, além de dividir nas categorias Premier Grand Cru Classé, Grand Cru Classé e Grand Cru (em ordem diminutiva), ela passa por uma revisão a cada década.

Só isso?

Não! Não basta entender de Cru e Grand Cru para ler facilmente os rótulos. Tem outros nomes e termos que é preciso conhecer.

Bordeaux Superiéur

Eis o típico nome que induz ao erro… Há quem pense se tratar de um vinho superior (afinal, é isso o que sugere o rótulo, não?), porém esta é uma das categorias mais genéricas da região.

Assim como a denominação Bordeaux, ainda mais simples que Bordeaux Superiéur, as uvas podem ter sido cultivadas em qualquer sub-região. O resultado? Um vinho com características mais genéricas da região, mas ainda sim uma excelente aposta para vinhos mais simples.

Château-o-quê?

Difícil mesmo é encontrar sequer um rótulo de Bordeaux sem a palavra “château”. O que parece ser uma mania local, na verdade, tem uma explicação pra lá de plausível.

Como a maioria dos vinhedos estava localizada no entorno de castelos (châteaux, em francês), as vinícolas acabaram sendo batizadas com seus nomes. Hoje, nem todas as vinícolas tem castelos próprios, mas mesmo assim são denominadas châteaux!

Mis en Bouteille au Château

Procure pela frase num rótulo e tenha a certeza de que as uvas do vinho que vai beber foram cultivadas e vinificadas no próprio château. Ao pé da letra, “Mis en Bouteille au Château” significa “engarrafado no château”, ou seja, é quando todas as etapas de produção de um vinho passaram aos cuidados do próprio vinicultor.

Por que preferir estes? Para conhecer a tipicidade de um terroir específico (pode acreditar que cada um deles tem características completamente únicas!).

Cadê as uvas?!

Percebeu que não falamos em uvas? Mais do que isso: percebeu ao manusear uma ou outra garrafa que elas não dão as caras por ali? Isso porque cada região de Bordeaux usa suas combinações de uvas, e só conhecendo a região, dá para descobrir que uvas o vinho leva.

Como escolher seu vinho Bordeaux ideal?

São tantas as denominações, características e cortes que até ficamos confusos… Mas, depois que você já leu tudo o que precisava sobre Bordeaux, já sabe como comprar um Bordeaux?

Ainda é um pouco difícil, dá para entender. Bordeaux é mesmo grande e complexo. Vamos acabar logo com as dúvidas. Qual tipo de vinhos você quer?

Prefiro os encorpados

Pensou em Cabernet Sauvignon? Vá direto para a margem esquerda, onde o solo quente favorece o cultivo da casta (nem precisa dizer que é a mais plantada, né?). É em Médoc que se concentram os vinhos mais encorpados de Bordeaux. Outras boas regiões são Saint-Estèphe, Saint-Julien e Pauillac. Os famosos Margaux são de lá e seguem a mesma linha.

Nada disso, quero algo refrescante e fácil de beber (e que não pese no bolso!)

Quando cada gole mata a sede, mas não é suficiente, é seguido por outro e outro. Claro que Bordeaux também tem deles. Acidez e frescor têm a ver com tudo isso. São cheios de aromas que lembram pedras e o mar. Se prefere um tinto, opte por cortes com Petit Verdot.

Falando de brancos

Algo que não se encontra com facilidade em Bordeaux são bons vinhos brancos. Mas eles existem, e seu lugar é Entre-Deux-Mers, região abraçada pelos rios (os dois “mares”) Dordogne e Garone. Sauvignon Blanc, Sémillon e Muscadelle deixam seus vinhos frescos, vivos e frutados, com bom corpo. Só não se esqueça de beber quando ainda são jovens, pois como a maioria dos vinhos brancos, são feitos para beber até três anos após o engarrafamento.

Vinhos complexos para bons conhecedores

Já experimentou de tudo e não se contenta com pouco. É normal – quanto mais aprendemos sobre vinho, mais queremos aprender. Uma boa aposta é a região da Saint-Émillion. Os vinhos mais legais de lá são feitos pelas mãos das próprias famílias em produções pequenas (até por isso são mais caros). Os vinhos de Saint-Émilion são tão elegantes que o rei Luis XIV os descreveu como “néctar dos deuses” (não são pouca coisa, não!). São vinhos de guarda, que aguentam anos envelhecendo e evoluindo – eles vão perdendo a cor e ganhando aquilo que chamamos de buquê, uma enxurrada de aromas terciários, complexos.

Vinhos exóticos? Desconhecidos?

Para você, vinho bom é aquele que rende boas histórias para contar? Então aí vai: procure por um autêntico Saint-Macaire, cuja uva homônima está quase em extinção, mas ainda é resguardada por alguns produtores locais. Saint-Foy-Bordeaux também vale a pena conhecer, é uma região pouquíssimo falada de Entre-Deux-Mers (pode ser tinto seco ou de sobremesa!).

E vinho doce, tem?

Uau, e como! É nas regiões de Sauternes e Barsac que estão os mais apaixonados (e apaixonantes) vinhos de Bordeaux (ao menos para aqueles que não abrem mão de um docinho, não importa a hora do dia). Sauternes é considerada a melhor região do mundo para vinhos de sobremesa, igualada apenas pelos Tokajis, da Hungria. São vinhos dourados e doces, mas elegantes, bem estruturados e complexos. Vale muito a pena provar.

Além disso, Entre-Deux-Mers possui boas denominações para vinhos de sobremesa: Loupiac, Saint-Croix-du-Mont e Cadillac. Guarde esses nomes – apesar de mais simples e menos populares, são encantadores e mais em conta (muito mais!).

Bordeaux para o churrasco?

Carnes que saem amaciadas pela brasa pedem por vinhos mais encorpados. Como já falamos, a Cabernet Sauvignon e a margem esquerda são ideias. Mas busque também os vinhos que levam Merlot, cujos toques terrosos combinam muito bem com o assado da brasa. As regiões são as mesmas que mencionamos, vá pela ordem: Saint-Estèphe, Pauillac e Médoc.

E naquele jantar especial?

Das duas uma: ou escolhe um vinho jovem, mas no ponto para beber, ou tira aquele que está há anos na adega. Caso não tenha um vinho na guarda, vá para Pomerol. É a terra do Château Petrus (o mais caro e famoso da França), mas também de onde saem Merlots que já nascem prontos para beber – fáceis, aveludados e não precisam de décadas para evoluir. São também mais fáceis de encontrar em restaurantes. Mas lembre-se, é um jantar especial, e se a ideia é brindá-lo com Bordeaux, não será barato (mas, acredite, vale muito a pena!).

Presentear também é impressionar

Um presente para seu pai, ou alguém que realmente vai apreciar um incrível vinho de qualidade? O nome Margaux é famoso, não só pelo mundialmente conhecido Chatêau Margaux, mas também pelos outros vinhos da região (dá para encontrar boas opções na média dos R$ 100). Elegância, refinamento, frutas, tostado, café e às vezes até trufas! Procure por vinhos de 2000, 2002, 2005 e 2009 e veja você mesmo.

Quer impressionar, mas não pode investir tanto assim? Graves é uma bela opção para tintos e brancos. Os Bordeaux que levam a denominação “Bordeaux Superiéur” costumam ser mais baratos, pois suas uvas podem ter sido cultivadas em qualquer sub-região. São mais simples, mas ainda assim uma excelente aposta.

Para esquecer na adega por décadas

Não é novidade… Bordeaux é um dos referênciais no mundo dos vinhos quando o assunto é guarda. Os vinhos das melhores safras podem durar 10, 20, 30… 50 anos! É até difícil de acreditar, mas é verdade. Nesse caso, não dá para apostar em qualquer vinho, não.
Aliás, longe disso. Estes vinhos não estão à venda em mercados comuns… Os mais famosos, Châteaux Petrus, Margaux, Lafite-Rothschild, Latour estão em apenas leilões, e custam 8 mil, 12 mil, 20 mil reais.

Ainda não sei do que gosto

Como lidar? Experimentando! Claro, precisa ir aos poucos. Comece pelos frutados (tintos ou brancos) de Graves, pois são mais leves, e seus sabores agradam a qualquer um. Depois disso, passa para os que levam a uva Merlot, a mais macia de todas, fácil de beber. Depois, parta para os cortes com Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, os clássicos dos clássicos de Bordeaux.


Chateau Timberlay Bordeaux Supérieur 2012


Em certos momentos percebo certa redundância quando falo de tipicidade, de terroir. Mas nada mais prazeroso do que degustar um vinho que expressa a terra, a cultura daqueles que o produz. É claro que também é difícil, quando fazemos as nossas análises dos rótulos que degustamos, mencionarmos tais características, dada a sua complexidade, de um assunto vasto que demanda aprendizado e um amplo estudo para que possamos ao menos ter a ciência do que essas regiões representam para a vitivinicultura mundial e, claro, o exercício da degustação conta muito, com as suas contínuas experiências. Confesso que, com essa região, não sou um ávido degustador, talvez seja por falta de oportunidade, desleixo, mas, os poucos que degustei, em suas mais distintas e variadas propostas, me trouxeram momentos especiais, sensações maravilhosas.

A região a qual me refiro é a emblemática Bordeaux e o vinho que degustei e gostei foi o Chateau Timberlay do famoso produtor Robert Giraud, um Bordeaux Supérieur, da safra 2012, um blend típico das castas Merlot (85%), Cabernet Sauvignon (10%) e Cabernet Franc (5%). Porém antes de falar sobre as características organolépticas do vinho, acho interessante falar sobre a denominação “Bordeaux Supérieur” e do motivo pelo qual a maioria dos vinhos bordaleses tintos terem Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e alguns Malbec. Vamos aos conceitos.

Bordeaux Supérieur

Segundo o portal “The Wine Cellar Insider”, “Bordeaux Supérieur” os vinhos com Bordeaux Superieur no rótulo são vistos como um tipo de classificação, bem como uma denominação pelos consumidores hoje. Bordeaux Superieur é uma designação concedida aos castelos que produzem vinhos em denominações específicas que atendem a padrões de qualidade selecionados para que seus vinhos sejam classificados como Bordeaux Superieur. Embora um “chateaux” possa ter o direito de ser listada como parte de uma denominação específica, na maioria das vezes, mas nem sempre, a designação de Bordeaux Superieur é usada para significar vinhos de melhor qualidade do que muitos vinhos de denominações menos conhecidas de Bordeaux. Os vinhos com essa classificação têm de passar por um mínimo de 12 meses por barricas de carvalho.


As castas típicas

A grande maioria dos tintos e dos brancos de Bordeaux são produzidos a partir de um blend de cepas. Isso não se dá por acaso, já que historicamente, por conta da instabilidade do clima, em especial no tocante à umidade e ao regime de chuvas, sempre foi arriscado basear-se em uma única variedade de uva. A legislação bordalesa permite o cultivo e a utilização de uma série de cepas, que florescem e amadurecem em épocas distintas, o que faz com que uma eventual geada ou chuva mais pesada não arruíne toda uma safra. De fato, das 13 variedades permitidas na AOC, destacam-se três tintas e duas brancas: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, e Sémillon e Sauvignon Blanc, respectivamente. As proporções de cada uma delas nos blends variam de acordo com a sub-região.

Vamos ao vinho.

Na taça tem um vermelho rubi profundo, límpido, brilhante, com lágrimas finas e abundantes, desenhando as paredes do copo, se dissipando vagarosamente.

No nariz exala uma complexidade de frutas vermelhas como amora, groselha e morango, com notas de tabaco, especiarias e amadeiradas, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca tem estrutura, complexidade, mas se mostra muito delicado, redondo, harmonia e equilíbrio. Tem taninos presentes, mas delicados e sedosos, com acidez moderada, nuances de madeira, muito bem integrada, baunilha e diria um discreto e agradável toque de torrefação.

Um vinho que mostra toda a tipicidade de Bordeaux, toda a cultura do fazer vinho com identidade, privilegiando a cultura de um país milenar na produção dessa nobre bebida. Um vinho encorpado, estruturado, com vocação para uma boa evolução, bom potencial de guarda, mas, dado o seu equilíbrio e maciez, poderia ser degustado em qualquer momento. Um vinhaço! Com 12,5% de teor alcoólico e vinhas com idade média de 30 anos que corrobora as mencionadas características.

Sobre a propriedade Chateau Timberlay, onde foi produzido o vinho:


Destruído durante a Revolução e depois reconstruído, foi completamente restaurado após a Segunda Guerra Mundial. Regularmente premiado há mais de cem anos, o vinho Timberlay possui uma grande reputação internacional. As uvas são provenientes de um vinhedo de 110 hectares, com cerca de 30 anos.

Sobre a Robert Giraud:

O sucesso exemplar da Maison Giraud obviamente ultrapassa a estrutura da região de Cubzaguaise, onde se enraíza. Realizada em poucas décadas, dá a medida da personalidade excepcional de seu fundador. Nascido em 1925, Robert Giraud é o mais recente de uma longa linhagem de produtores de vinho de Cubzac que os arquivos da família hoje remontam até meados do século XVIII. O verdadeiro boom não ocorreu até depois da Segunda Guerra Mundial, com a aquisição do Chateau Timberlay por Raoul Giraud em 1945. Além da vinha inicial de Domaine de Perreau, os 35 hectares da propriedade trazem o patrimônio família administrada em 65 hectares de uma vinha homogênea, formando uma entidade econômica perfeitamente viável (a vinha Chateau Timberlay ocupa agora 115 hectares). Em 1953, Robert Giraud, cria sua própria casa de comércio e distribuição: Les Etablissements Viticoles Cubzaguais, a fim de vender a produção de propriedades familiares, gradualmente aumentada pela distribuição das propriedades vizinhas. No ano seguinte, ele atravessou o departamento, organizando incansavelmente reuniões e reuniões para obter a rotulagem de vinhos das denominações Bordeaux e Bordeaux Supérieur, dando ao mesmo tempo uma nova vida à união do vinho. Em 1960, Robert Giraud sucede seu pai à frente das propriedades da família. Ele agora dedicará a maior parte de sua força a isso. Sua principal preocupação será estabelecer a solidez da Casa por meio de uma política ambiciosa de aquisição de propriedades e pelo contínuo desenvolvimento da atividade de comerciante-criador. Em 1973, a necessidade de comercializar uma produção crescente e garantir a distribuição de muitos vinhos e marcas, decide Robert Giraud para reestruturar a Casa, que agora se torna ROBERT GIRAUD SAS. Essa reestruturação prevê o estabelecimento de uma nova equipe, a construção de adegas modernas e funcionais, bem como novos armazéns de armazenamento e embalagem. A partir de 1974, a empresa continuará rapidamente o desenvolvimento de sua linha e oferta, completando assim a produção de propriedades familiares, permitindo oferecer uma gama completa e qualitativa em todas as denominações dos grandes vinhos de Bordeaux. A orientação inicial de exportação desejada por Robert Giraud continuará e acelerará em 1976, com a chegada de seu filho Philippe, então de sua filha Florence. Sem negligenciar o mercado nacional, hoje é em mais de 60 países que os vinhos da Maison Giraud são estabelecidos e distribuídos.

Mais informações acesse:

http://www.robertgiraud.com/

Vinho degustado em 2017.



segunda-feira, 13 de abril de 2020

Torcello Tannat 2014


É inegável que a Tannat tem a sua credibilidade e a sua grande produção no Uruguai, embora a cepa seja oriunda de terras francesas. Para quem aprecia vinhos corpulentos, encorpados e de complexidade a Tannat é uma grande escolha. A propósito a palavra “Tannat” vem de taninos, uma das características marcante dessa casta: bem taninosa. Mas não só o Uruguai que vem se destacando, na América Latina, nesses últimos anos. O Brasil vem produzindo interessantes Tannats, mostrando tipicidade, sim, tipicidade! Não é uma cópia dos uruguaios, mas vinhos com a cara do Brasil, fáceis de degustar, harmoniosos, mas com a típica estrutura que confere reputação a Tannat. Vou contar uma história: Estive em um evento de degustação e li um ranking dos melhores rótulos degustados às cegas por especialistas e que estiveram presentes no evento. E o primeiro colocado foi um Tannat brasileiro do Vale dos Vinhedos. Claro que precisava conferir esse vinho!

E este vinho que degustei e gostei é o Torcello Tannat, da vinícola Torcello, que pertence a Casa Valduga, da safra 2014, da, como já disse emblemática região gaúcha do Vale dos Vinhedos.
Na taça já mostra as suas credenciais um vermelho rubi intenso, límpido e brilhante, com lágrimas finas e intensas que teimavam em sumir, tingindo de um vermelho profundo as paredes do copo.

No nariz uma explosão de frutas negras, como amora, com notas de especiarias, tabaco, couro e madeira graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho, cerca de 50% do vinho.

Na boca repetem-se as impressões olfativas, revelando-se estruturado, com certa complexidade, com taninos presentes, mas sedosos, acidez correta e um final prolongado e persistente.

Um vinhaço! Um vinho que me estimulou a viajar e conhecer ainda mais os Tannats brasileiros que, acreditem, são especiais. O Torcello entregou um vinho harmonioso, poderoso, opulento, mas fácil de degustar. Esse, da safra 2014, estava muito boa, pronta para degustar, mas que poderia, sem sombra de dúvida, ser guardado, pacientemente, pois apresenta um razoável potencial de guarda. Com 13% de teor alcoólico bem integrado.

Sobre a Vinícola Torcello:

A História da Torcello inicia com a chegada do primeiro imigrante italiano da Família Valduga ao Brasil (Marco Valduga), em 1875. Com muita fé, trabalho e perseverança, desbravaram matas virgens e construíram o que hoje conhecemos como Vale dos Vinhedos. A Vinícola Torcello foi fundada no ano de 2000 por Rogério Carlos Valduga, quarta geração da Família Valduga, e filho de Remy Valduga (viticultor, escritor e bisneto de Marco). A Torcello surgiu do fascínio de Rogério pela vitivinicultura e pelo seu desejo de resgatar a tradição da família, a qual elaborava vinho de maneira totalmente artesanal no próprio porão de casa para consumo próprio.

Curiosidade sobre a Torcello:

Uma das menores ilhas de Veneza chama-se Torcello, e dessa forma, por sermos uma das menores vinícolas instaladas no Vale dos Vinhedos, fizemos alusão a ilha. Já a escolha do símbolo da Vinícola, Leão Alado de São Marcos, deu-se pelo fato de o Leão representar proteção. Sendo assim, o símbolo remete a proteção do Leão Alado sobre os vinhos por nós elaborados. Os primeiros vinhos foram elaborados em 2005, e a abertura do varejo aconteceu em 2007. Hoje a Vinícola elabora vinhos, espumantes e sucos em pequena escala, buscando sempre a qualidade.

Mais informações acesse:

https://www.torcello.com.br/

Vinho degustado em 2017.




Luccarelli Negroamaro 2014


Sabe quando você acerta nas suas decisões, mesmo que ela demande algum tipo de “risco”? Pois é, acredito que as decisões vêm do coração, ele pede, te impulsiona a tomar a decisão. Não posso negligenciar o quesito racional da coisa que se manifesta da pesquisa, nas ponderações, nas informações que você apura para dar suporte a sua escolha, a sua decisão. É possível que, não só na escolha de seus rótulos de vinhos, mas como na sua vida, a boa dosagem da emoção (coração) e da razão, você consegue colher bons frutos. E foi o que aconteceu com este rótulo que falarei agora. Embora seja de uma região amplamente conhecida e de uma casta também popular nesta região, eu só a conheci quando degustei este vinho.

Falo do vinho Luccarelli da casta Negroamaro da região emblemática de Puglia ou Apuglia, da safra 2014. Mas antes de entrar nos pormenores do vinho, convém fazer uma breve dissertação sobre a casta Negroamaro, oriunda da região de Salento que fica em Puglia. A origem do nome “Negroamaro” não é nada mais do que a repetição da palavra "negro" em duas línguas: niger, em latim, e maru, em grego antigo. Antigamente, a Negroamaro era utilizada para dar cor aos vinhos produzidos no norte da Itália, hoje, essa uva origina vinhos tintos profundos, intensos e de coloração arroxeada. Bem já antecipei uma de suas características e que vos digo que é lindamente marcante.

Na taça, como já disse, entrega um vermelho rubi escuro, intenso e profundo, diria que tem reflexos arroxeados com lágrimas grossas de média intensidade que tingia com beleza as paredes da taça.

No nariz é frutado, notas evidentes de groselhas, cerejas, com toques agradáveis e na medida de especiarias.

Na boca é seco, com boa estrutura, frutado em destaque e evidência, mas sem ser enjoativo, com um agradável toque de madeira, graças a passagem por 4 a 5 meses por barricas de carvalho, com boa acidez e taninos elegantes e sedosos e um bom final de boca, sendo persistente.

Um bom início, uma apresentação digna de reverências a minha com a Negroamaro, um vinho de tipicidade, elegante, redondo, harmonioso, com 13% de teor alcoólico. Que venham mais Negroamaros e que possamos estabelecer uma sinergia calcada na celebração ao vinho, ao vinho italiano na sua mais profunda verdade, no âmago de seus terroirs.

Sobre a Luccarelli Vini del Sud:

Quando uma pequena cantina localizada na região de Apúlia, no sul da Itália, surgiu no caminho de Valentino Sciotti, um dos principais nomes da indústria do vinho naquele país, ele logo identificou o potencial para conquistar um mercado muito mais amplo que o local. Como a vinícola já contava com tradição, técnica e qualidade, o empresário precisou apenas promover umas poucas mudanças e fazer alguns investimentos, incluindo a contratação do renomado enólogo Mario Ercolino para comandar a produção. Não tardou para que os rótulos saídos da sede da empresa, na cidade de Manduria, ganhassem prêmios e passassem a ser distribuídos em cerca de 70 países.

Mais informações acesse:

http://luccarellivini.com/it/

Vinho degustado em 2015.






sábado, 11 de abril de 2020

Señorio de los Llanos Airén


Um dos encantos que o mundo do vinho pode nos proporcionar, simples mortais enófilos, além da degustação em si, é claro, são as grandes novidades, novas experiências. Novos rótulos, novas vinícolas, novas cepas nos faz viajar a regiões diferentes, até então por nós desconhecidas, abrangendo o nosso leque de opções, nos faz fugir da sedutora, mas pouco salutar zona de conforto. E hoje o vinho suscitou uma boa aula de geografia e de tradição e cultura vitivinífera, personificado em doses generosas de degustação, com as taças cheias. Mas como todo bom apreciador de vinho, não me limito a deixar o vinho tomar o nosso tempo no momento em que o degustamos, nós respiramos essa bebida nobre o tempo inteiro, lemos, buscamos a informação, tornando-o tangível em conhecimento. E foi assim que descobri a curiosa história da casta branca, autóctone da Espanha: Airén. Ela se materializou em minhas leituras por acaso e fui a busca de vinhos com essa casta. Contudo antes de apresentar e falar sobre o rótulo que escolhi, vamos falar sobre a Airén.

Sobre a Airén:

Essa uva, dominante na região central da Espanha, mais precisamente nas áridas áreas de La mancha e Valdepeñas, região esta que veio meu vinho e que logo falarei também, tem grande resistência ao clima seco e quente e lida bem com os solos pobres da região. Trata-se de uma cepa bem antiga, que também é conhecida como Lairén, nome este usado até hoje na região de Córdoba. Ela aparece em uma obra intitulada Agricultura General, escrita em 1513 pelo agrônomo Gabriel Alonso de Herrera (1470-1539). A Airén não goza de muita credibilidade, mas foi a uva vinífera mais plantada no mundo, até 1990. Isso porque ela é muito utilizada na produção de destilados na Espanha, bem como na produção de vinhos, é claro. Então por que é tão difícil ouvir falar na Airén e por que também é difícil encontrar rótulos da mesma no Brasil, por exemplo? Porque, além dos destilados, os espanhóis a utilizam mais para a produção de baratos vinhos de mesa, que não se enquadram em nenhuma denominação de origem, e que visam o consumo local, não sendo objeto de exportação. E também porque a Airén era a mais cultivada em termos de área ocupada, e não em número de videiras. Ou seja, Airén era a variedade que ocupava mais espaço no mundo, mas nem por isso era a uva mais colhida do mundo! Mas lendo algumas descrições de vinícolas que produzem rótulos com a Airén, pude observar que as mesmas investem em tecnologia, sobretudo nos processos de vinificação entregando vinhos de qualidade e muitos deles ostentam a DO (Denominação de Origem) da região de Valdepeñas. Fonte: “Tintos & Tantos” (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/1049-airen) e “Vinho Perfeito” (http://vinhoperfeito.com/2017/02/01/airen-branca-numero-1/).

Sobre a Denominação de Origem (DO) de Valdepeñas:


A região demarcada de Valdepeñas localiza-se no sul da comunidade autônoma de Castilla-La Mancha, que fica no centro da Espanha.Trata-se de uma região muito propícia para o cultivo da vinha, com um clima continental de baixo índice pluviométrico, e que registra temperaturas extremas, com máximas que superam os 40°C, e mínimas que podem ser inferiores a -10°C. Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade, obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de coloração muito profunda. Anualmente, são produzidos cerca de 57 milhões de litros de vinho rotulados com a denominação Valdepeñas, sendo que quase 40% da produção é destinada à exportação da Espanha para outros países. A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77% deles, são tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de Valdepeñas, tradicionalmente famosos, representam apenas 5%. A variedade mais importante de Valdepeñas é sem dúvida, a Tempranillo, que também é conhecida nessa região como Cencibel. Outras uvas autorizadas para cultivo em Valdepeñas são as tintas Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot, além das brancas Airén, Macabeo, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscatel de Grano Menudo e Verdejo. Fonte: Tintos & Tantos, em: http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/804-valdepenas.

Então finalmente vamos ao vinho que surpreendeu positivamente, que entregou bem a que se propôs: Señorio de los Llanos, da casta branca Airén, da tradicional espanhola Bodegas Los Llanos, da região de Valdepeñas, não safrado.

Na taça apresenta um amarelo palha, bem claro, diria translúcido, brilhante.

No nariz tem notas evidentes e agradáveis florais, de flores brancas, sendo também muito frutado, um prenúncio de muito frescor.

Na boca é seco, toques generosos de frutas brancas como melão e abacaxi, acidez moderada, com um retrogosto frutado, sendo muito delicado e equilibrado.

Um vinho fresco, jovem e despretensioso, que carrega a expressão de um terroir com todas as suas características, mesclada a cultura e tradição de vinificação e os recursos tecnológicos que faz desse vinho simples, mas honesto, correto entregando mais do que valeu. Um vinho de excepcional custo X benefício. Pasmem, custou R$ 24,90. Arrisquem, se permitam descobrir novas experiências. Tem 11% de teor alcoólico. Harmonizou muito bem com umas fatias de pizza bem gordurosa e depois um prato com bacalhau e batata.

Sobre a J García Carrión:

Na escuridão de um barril de vinho, começou a história de uma família burguesa que desde 1875 produzia vinho em suas adegas em Valdepeñas. A "Bodega Carabantes" conhecia todos os segredos e possibilidades oferecidas pelas uvas que cresciam nessa área. Esse conhecimento tornou-se propriedade da "Cosecheros Abastecedores" quando esta empresa moderna adquiriu a empresa familiar de Valdepeñas, denominada Bodega Los Llanos. A sabedoria de ambos, unida e anos depois, deram frutos com o lançamento de algumas marcas no mercado que agrupavam vinhos sofisticados, com potencial de envelhecimento, os reservas e gran reservas e que continuam a obter sucesso hoje: “Señorío de los Llanos” e” Pata Negra”. Hoje, a primitiva Bodega de 1875 é um dos museus de vinho mais prestigiados da Espanha. Em 2008, a Família García Carrión adquiriu a Bodega Los Llanos que detém hoje o posto de maior produtor europeu em volume (e quarto maior do mundo). Atualmente, Bodegas los Llanos tem uma capacidade de embalagem de 100 milhões de litros e uma capacidade de fabricação de 60 milhões de quilos. Está equipado com as mais avançadas técnicas enológicas para elaborar, produzir e engarrafar vinhos de alta qualidade. As vinícolas possuem uma das maiores cavernas subterrâneas do país, com capacidade para 30.000 barris, onde os vinhos atingem sua plenitude com doze metros de profundidade em carvalho, para garantir as melhores condições nesse processo delicado. A Bodega los Llanos, também chamada de Grupo de Bodegas Vinartis, mantém viva a tradição artesanal dos excelentes vinhos Valdepeñas em seus produtos, tais como: Señorío de los Llanos, Pata Negra, Armonioso, Torneo e Don Opas. Por muitos especialistas são sinônimo dos melhores padrões desta Denominação de Origem. Seus vinhos foram premiados em reconhecidas competições nacionais e internacionais de vinhos.

Mais informações acesse:







sexta-feira, 10 de abril de 2020

Vinho chora? Descubra o significado das “lágrimas”




Durante o processo de degustação de um vinho, os profissionais e enófilos de maneira geral, giram o líquido na taça por alguns instantes. Certamente, após essa ação você verá surgir alguns filetes escorrendo pelas paredes da taça que são chamados de lágrimas do vinho, ou de pernas, arcos, abóbadas, arcadas, entre outras inúmeras denominações existentes. Mas qual a importância dessas lágrimas? E o que elas significam?

A esse efeito dá-se o nome de “Marangoni”, em homenagem ao físico italiano Carlo Marangoni, que em meados do século dezenove, juntamente com o inglês James Thompson, esclareceram em definitivo a causa desse fenômeno. Após muitos estudos e vários testes, os dois comprovaram que esse efeito ocorre, pois há uma grande diferença entre a tensão superficial da água e do álcool e também devido ao fato do álcool evaporar com muita facilidade.

Ao girar o vinho, forma-se nas paredes internas da taça uma fina película de vinho. O álcool, por ser mais volátil, começa a evaporar com uma velocidade maior que a água e a alta tensão superficial que permanecerá na parede da taça fará com que surjam as famosas lágrimas, que retornam em forma de filete, devido à ação da força da gravidade.


Evidentemente, por esse motivo pode-se afirmar que o choro do vinho está diretamente ligado ao seu teor alcoólico. Quanto mais elevada for a concentração alcoólica, maior o número de lágrimas, mais juntas e mais lentas elas irão escorrer. Quanto menos alcoólico o vinho, menor o seu número de lágrimas, mais afastadas e mais rapidamente elas descerão pela taça.