quarta-feira, 15 de abril de 2020

Chateau Timberlay Bordeaux Supérieur 2012


Em certos momentos percebo certa redundância quando falo de tipicidade, de terroir. Mas nada mais prazeroso do que degustar um vinho que expressa a terra, a cultura daqueles que o produz. É claro que também é difícil, quando fazemos as nossas análises dos rótulos que degustamos, mencionarmos tais características, dada a sua complexidade, de um assunto vasto que demanda aprendizado e um amplo estudo para que possamos ao menos ter a ciência do que essas regiões representam para a vitivinicultura mundial e, claro, o exercício da degustação conta muito, com as suas contínuas experiências. Confesso que, com essa região, não sou um ávido degustador, talvez seja por falta de oportunidade, desleixo, mas, os poucos que degustei, em suas mais distintas e variadas propostas, me trouxeram momentos especiais, sensações maravilhosas.

A região a qual me refiro é a emblemática Bordeaux e o vinho que degustei e gostei foi o Chateau Timberlay do famoso produtor Robert Giraud, um Bordeaux Supérieur, da safra 2012, um blend típico das castas Merlot (85%), Cabernet Sauvignon (10%) e Cabernet Franc (5%). Porém antes de falar sobre as características organolépticas do vinho, acho interessante falar sobre a denominação “Bordeaux Supérieur” e do motivo pelo qual a maioria dos vinhos bordaleses tintos terem Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e alguns Malbec. Vamos aos conceitos.

Bordeaux Supérieur

Segundo o portal “The Wine Cellar Insider”, “Bordeaux Supérieur” os vinhos com Bordeaux Superieur no rótulo são vistos como um tipo de classificação, bem como uma denominação pelos consumidores hoje. Bordeaux Superieur é uma designação concedida aos castelos que produzem vinhos em denominações específicas que atendem a padrões de qualidade selecionados para que seus vinhos sejam classificados como Bordeaux Superieur. Embora um “chateaux” possa ter o direito de ser listada como parte de uma denominação específica, na maioria das vezes, mas nem sempre, a designação de Bordeaux Superieur é usada para significar vinhos de melhor qualidade do que muitos vinhos de denominações menos conhecidas de Bordeaux. Os vinhos com essa classificação têm de passar por um mínimo de 12 meses por barricas de carvalho.


As castas típicas

A grande maioria dos tintos e dos brancos de Bordeaux são produzidos a partir de um blend de cepas. Isso não se dá por acaso, já que historicamente, por conta da instabilidade do clima, em especial no tocante à umidade e ao regime de chuvas, sempre foi arriscado basear-se em uma única variedade de uva. A legislação bordalesa permite o cultivo e a utilização de uma série de cepas, que florescem e amadurecem em épocas distintas, o que faz com que uma eventual geada ou chuva mais pesada não arruíne toda uma safra. De fato, das 13 variedades permitidas na AOC, destacam-se três tintas e duas brancas: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, e Sémillon e Sauvignon Blanc, respectivamente. As proporções de cada uma delas nos blends variam de acordo com a sub-região.

Vamos ao vinho.

Na taça tem um vermelho rubi profundo, límpido, brilhante, com lágrimas finas e abundantes, desenhando as paredes do copo, se dissipando vagarosamente.

No nariz exala uma complexidade de frutas vermelhas como amora, groselha e morango, com notas de tabaco, especiarias e amadeiradas, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca tem estrutura, complexidade, mas se mostra muito delicado, redondo, harmonia e equilíbrio. Tem taninos presentes, mas delicados e sedosos, com acidez moderada, nuances de madeira, muito bem integrada, baunilha e diria um discreto e agradável toque de torrefação.

Um vinho que mostra toda a tipicidade de Bordeaux, toda a cultura do fazer vinho com identidade, privilegiando a cultura de um país milenar na produção dessa nobre bebida. Um vinho encorpado, estruturado, com vocação para uma boa evolução, bom potencial de guarda, mas, dado o seu equilíbrio e maciez, poderia ser degustado em qualquer momento. Um vinhaço! Com 12,5% de teor alcoólico e vinhas com idade média de 30 anos que corrobora as mencionadas características.

Sobre a propriedade Chateau Timberlay, onde foi produzido o vinho:


Destruído durante a Revolução e depois reconstruído, foi completamente restaurado após a Segunda Guerra Mundial. Regularmente premiado há mais de cem anos, o vinho Timberlay possui uma grande reputação internacional. As uvas são provenientes de um vinhedo de 110 hectares, com cerca de 30 anos.

Sobre a Robert Giraud:

O sucesso exemplar da Maison Giraud obviamente ultrapassa a estrutura da região de Cubzaguaise, onde se enraíza. Realizada em poucas décadas, dá a medida da personalidade excepcional de seu fundador. Nascido em 1925, Robert Giraud é o mais recente de uma longa linhagem de produtores de vinho de Cubzac que os arquivos da família hoje remontam até meados do século XVIII. O verdadeiro boom não ocorreu até depois da Segunda Guerra Mundial, com a aquisição do Chateau Timberlay por Raoul Giraud em 1945. Além da vinha inicial de Domaine de Perreau, os 35 hectares da propriedade trazem o patrimônio família administrada em 65 hectares de uma vinha homogênea, formando uma entidade econômica perfeitamente viável (a vinha Chateau Timberlay ocupa agora 115 hectares). Em 1953, Robert Giraud, cria sua própria casa de comércio e distribuição: Les Etablissements Viticoles Cubzaguais, a fim de vender a produção de propriedades familiares, gradualmente aumentada pela distribuição das propriedades vizinhas. No ano seguinte, ele atravessou o departamento, organizando incansavelmente reuniões e reuniões para obter a rotulagem de vinhos das denominações Bordeaux e Bordeaux Supérieur, dando ao mesmo tempo uma nova vida à união do vinho. Em 1960, Robert Giraud sucede seu pai à frente das propriedades da família. Ele agora dedicará a maior parte de sua força a isso. Sua principal preocupação será estabelecer a solidez da Casa por meio de uma política ambiciosa de aquisição de propriedades e pelo contínuo desenvolvimento da atividade de comerciante-criador. Em 1973, a necessidade de comercializar uma produção crescente e garantir a distribuição de muitos vinhos e marcas, decide Robert Giraud para reestruturar a Casa, que agora se torna ROBERT GIRAUD SAS. Essa reestruturação prevê o estabelecimento de uma nova equipe, a construção de adegas modernas e funcionais, bem como novos armazéns de armazenamento e embalagem. A partir de 1974, a empresa continuará rapidamente o desenvolvimento de sua linha e oferta, completando assim a produção de propriedades familiares, permitindo oferecer uma gama completa e qualitativa em todas as denominações dos grandes vinhos de Bordeaux. A orientação inicial de exportação desejada por Robert Giraud continuará e acelerará em 1976, com a chegada de seu filho Philippe, então de sua filha Florence. Sem negligenciar o mercado nacional, hoje é em mais de 60 países que os vinhos da Maison Giraud são estabelecidos e distribuídos.

Mais informações acesse:

http://www.robertgiraud.com/

Vinho degustado em 2017.



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