sábado, 11 de abril de 2020

Señorio de los Llanos Airén


Um dos encantos que o mundo do vinho pode nos proporcionar, simples mortais enófilos, além da degustação em si, é claro, são as grandes novidades, novas experiências. Novos rótulos, novas vinícolas, novas cepas nos faz viajar a regiões diferentes, até então por nós desconhecidas, abrangendo o nosso leque de opções, nos faz fugir da sedutora, mas pouco salutar zona de conforto. E hoje o vinho suscitou uma boa aula de geografia e de tradição e cultura vitivinífera, personificado em doses generosas de degustação, com as taças cheias. Mas como todo bom apreciador de vinho, não me limito a deixar o vinho tomar o nosso tempo no momento em que o degustamos, nós respiramos essa bebida nobre o tempo inteiro, lemos, buscamos a informação, tornando-o tangível em conhecimento. E foi assim que descobri a curiosa história da casta branca, autóctone da Espanha: Airén. Ela se materializou em minhas leituras por acaso e fui a busca de vinhos com essa casta. Contudo antes de apresentar e falar sobre o rótulo que escolhi, vamos falar sobre a Airén.

Sobre a Airén:

Essa uva, dominante na região central da Espanha, mais precisamente nas áridas áreas de La mancha e Valdepeñas, região esta que veio meu vinho e que logo falarei também, tem grande resistência ao clima seco e quente e lida bem com os solos pobres da região. Trata-se de uma cepa bem antiga, que também é conhecida como Lairén, nome este usado até hoje na região de Córdoba. Ela aparece em uma obra intitulada Agricultura General, escrita em 1513 pelo agrônomo Gabriel Alonso de Herrera (1470-1539). A Airén não goza de muita credibilidade, mas foi a uva vinífera mais plantada no mundo, até 1990. Isso porque ela é muito utilizada na produção de destilados na Espanha, bem como na produção de vinhos, é claro. Então por que é tão difícil ouvir falar na Airén e por que também é difícil encontrar rótulos da mesma no Brasil, por exemplo? Porque, além dos destilados, os espanhóis a utilizam mais para a produção de baratos vinhos de mesa, que não se enquadram em nenhuma denominação de origem, e que visam o consumo local, não sendo objeto de exportação. E também porque a Airén era a mais cultivada em termos de área ocupada, e não em número de videiras. Ou seja, Airén era a variedade que ocupava mais espaço no mundo, mas nem por isso era a uva mais colhida do mundo! Mas lendo algumas descrições de vinícolas que produzem rótulos com a Airén, pude observar que as mesmas investem em tecnologia, sobretudo nos processos de vinificação entregando vinhos de qualidade e muitos deles ostentam a DO (Denominação de Origem) da região de Valdepeñas. Fonte: “Tintos & Tantos” (http://www.tintosetantos.com/index.php/escolhendo/cepas/1049-airen) e “Vinho Perfeito” (http://vinhoperfeito.com/2017/02/01/airen-branca-numero-1/).

Sobre a Denominação de Origem (DO) de Valdepeñas:


A região demarcada de Valdepeñas localiza-se no sul da comunidade autônoma de Castilla-La Mancha, que fica no centro da Espanha.Trata-se de uma região muito propícia para o cultivo da vinha, com um clima continental de baixo índice pluviométrico, e que registra temperaturas extremas, com máximas que superam os 40°C, e mínimas que podem ser inferiores a -10°C. Os solos, pobres em matéria orgânica e de baixa fertilidade, obrigam as raízes das videiras a se desenvolverem, a se aprofundarem e a se fortalecerem. Nesse cenário, cultivam-se uvas que alcançam boa maturação, e que são capazes de produzir vinhos muito estruturados, complexos, aromáticos e de coloração muito profunda. Anualmente, são produzidos cerca de 57 milhões de litros de vinho rotulados com a denominação Valdepeñas, sendo que quase 40% da produção é destinada à exportação da Espanha para outros países. A grande maioria dos vinhos de Valdepeñas, cerca de 77% deles, são tintos. Os brancos representam cerca de 18%, e os rosés de Valdepeñas, tradicionalmente famosos, representam apenas 5%. A variedade mais importante de Valdepeñas é sem dúvida, a Tempranillo, que também é conhecida nessa região como Cencibel. Outras uvas autorizadas para cultivo em Valdepeñas são as tintas Garnacha, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Petit Verdot, além das brancas Airén, Macabeo, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Moscatel de Grano Menudo e Verdejo. Fonte: Tintos & Tantos, em: http://www.tintosetantos.com/index.php/denominando/804-valdepenas.

Então finalmente vamos ao vinho que surpreendeu positivamente, que entregou bem a que se propôs: Señorio de los Llanos, da casta branca Airén, da tradicional espanhola Bodegas Los Llanos, da região de Valdepeñas, não safrado.

Na taça apresenta um amarelo palha, bem claro, diria translúcido, brilhante.

No nariz tem notas evidentes e agradáveis florais, de flores brancas, sendo também muito frutado, um prenúncio de muito frescor.

Na boca é seco, toques generosos de frutas brancas como melão e abacaxi, acidez moderada, com um retrogosto frutado, sendo muito delicado e equilibrado.

Um vinho fresco, jovem e despretensioso, que carrega a expressão de um terroir com todas as suas características, mesclada a cultura e tradição de vinificação e os recursos tecnológicos que faz desse vinho simples, mas honesto, correto entregando mais do que valeu. Um vinho de excepcional custo X benefício. Pasmem, custou R$ 24,90. Arrisquem, se permitam descobrir novas experiências. Tem 11% de teor alcoólico. Harmonizou muito bem com umas fatias de pizza bem gordurosa e depois um prato com bacalhau e batata.

Sobre a J García Carrión:

Na escuridão de um barril de vinho, começou a história de uma família burguesa que desde 1875 produzia vinho em suas adegas em Valdepeñas. A "Bodega Carabantes" conhecia todos os segredos e possibilidades oferecidas pelas uvas que cresciam nessa área. Esse conhecimento tornou-se propriedade da "Cosecheros Abastecedores" quando esta empresa moderna adquiriu a empresa familiar de Valdepeñas, denominada Bodega Los Llanos. A sabedoria de ambos, unida e anos depois, deram frutos com o lançamento de algumas marcas no mercado que agrupavam vinhos sofisticados, com potencial de envelhecimento, os reservas e gran reservas e que continuam a obter sucesso hoje: “Señorío de los Llanos” e” Pata Negra”. Hoje, a primitiva Bodega de 1875 é um dos museus de vinho mais prestigiados da Espanha. Em 2008, a Família García Carrión adquiriu a Bodega Los Llanos que detém hoje o posto de maior produtor europeu em volume (e quarto maior do mundo). Atualmente, Bodegas los Llanos tem uma capacidade de embalagem de 100 milhões de litros e uma capacidade de fabricação de 60 milhões de quilos. Está equipado com as mais avançadas técnicas enológicas para elaborar, produzir e engarrafar vinhos de alta qualidade. As vinícolas possuem uma das maiores cavernas subterrâneas do país, com capacidade para 30.000 barris, onde os vinhos atingem sua plenitude com doze metros de profundidade em carvalho, para garantir as melhores condições nesse processo delicado. A Bodega los Llanos, também chamada de Grupo de Bodegas Vinartis, mantém viva a tradição artesanal dos excelentes vinhos Valdepeñas em seus produtos, tais como: Señorío de los Llanos, Pata Negra, Armonioso, Torneo e Don Opas. Por muitos especialistas são sinônimo dos melhores padrões desta Denominação de Origem. Seus vinhos foram premiados em reconhecidas competições nacionais e internacionais de vinhos.

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