sábado, 10 de abril de 2021

Autoritas Reserva Cabernet Sauvignon 2017

 

Sabe aquele Cabernet Sauvignon frutado, redondo, equilibrado, mas com personalidade, alguma expressividade e ainda ter um custo extremamente atrativo, o famoso “vinho baratinho”? Pois é estimados leitores, acreditem se quiserem, existe sim e que vem do Chile, a terra do Cabernet Sauvignon potente e robusto, aqueles “carnudos” que parece que comemos com garfo e faca de tão encorpados. Que fique bem claro que não tenho nenhuma objeção com relação a essa proposta de Cabernet Sauvignon, mas é possível, muito possível, encontrarmos vinhos dessa cepa com um valor acessível e, ao mesmo tempo entregar muito além do que se esperava. Ah esses vinhos que nos surpreendem...

E o vinho mencionado já foi degustado em outras oportunidades, em outra safra e, nesta ocasião, eu buscava uma proposta atraente de custo X qualidade, eu buscava preço baixo e o risco é alto, afinal, além do preconceito de que o vinho barato não presta, podemos, por outro lado, alimentar uma grande expectativa acerca de um rótulo cuja proposta é mais básica. Mas o vinho surpreendeu, um vinho que me arrebatou por inteiro, foi uma explosão sensorial!

Mas confesso que a procedência também ajudou bastante e diria que teve a preponderância e direi que foi a grande escolha, afinal um produtor de renome mundial e sendo do Chile, um Cabernet Sauvignon do Chile! Ah evidente que não poderia ter um erro completo! O vinho em questão era o belíssimo Autoritas Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2015

Então está revelado o vinho que degustei e gostei que veio, claro, do Chile, da região do Vale do Colchagua e é o Autoritas Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2017. Mas uma “rodada” dessa linha muito interessante da Autoritas da emblemática vinícola Luis Felipe Edwards. Não posso negligenciar a degustação do Autoritas Chardonnay também que foi outro vinho que me impressionou pela leveza e informalidade, bem diferente dos “pesadões” Chardonnays chilenos. E ainda teve a grata surpresa do valor pago. Essa linha de rótulos já tem um valor bem acessível ao bolso, mas no dia em que estive fazendo as minhas visitas ao supermercado, tive a sorte grande de encontra-lo a um incrível valor de R$ 22,90! Pasmem! Pasmem!! Antes de falarmos do tão esperado  vinho, falemos de uma tradicional região do Chile que vale a pena produzir algumas linhas: Vale do Colchagua.

Vale do Colchagua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale do Colchagua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade. Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos. Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena. O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, vivo e com reflexos violáceos, com lágrimas finas e abundantes.

No nariz explodem os aromas frutados, frutas vermelhas como cereja, framboesa, com notas agradáveis de madeira, bem integradas ao conjunto do vinho, devido a passagem de 6 meses por barricas de carvalho, baunilha e toques de especiarias e pimentão.

Na boca é seco, saboroso, macio, mas com alguma estrutura, as frutas vermelhas em destaque, como no aspecto olfativo. A madeira aparece, mas em perfeito equilíbrio com o vinho, deixando sobressair as características da cepa. Tem taninos finos, sedosos, boa acidez e um final de média persistência.

A palavra “Autoritas” vem do latim auctoritas, que significa prestígio, honra, respeito, autoridade. Esses valores foram o que inspirou a criação desta marca, desenvolvida por Luis Felipe Edwards Family Wines. A crista (brasão) da família, presente em cada garrafa, é o selo que reúne esses valores, passados ​​de geração em geração e expressos em cada copo da Autoritas. Esse prestígio é a assinatura desse produtor que, graças aos seus rótulos, independente de valores e propostas, foi conquistado ao longo desses anos. E é com autoridade que conquistou o meu coração definitivamente. A cada experiência sensorial com a linha “Autoritas” traz a certeza de que a tradição, qualidade e idoneidade personificam em tipicidade, o terroir dentro de uma garrafa que vai diretamente para a taça, para a nossa taça, a nossa degustação de cada dia. Um vinho redondo, honesto e, primordialmente, com um valor justo, que cabe no bolso em tempos bicudos! Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

Mais informações acesse:

https://www.lfewines.com/

Referências:

Site Clube dos Vinhos em: https://www.clubedosvinhos.com.br/um-passeio-pelo-vale-do-colchagua/

 




sábado, 3 de abril de 2021

Marquês de Marialva Colheita Seleccionada tinto 2015

 

Diz o ditado popular que “o raio não cai mais de uma vez em outro lugar”. Pois bem, no universo do vinho essa frase, a meu ver, não tem muita validade ou pelo menos não deveria ter, diria pelo menos em doses “homeopáticas” e seguras. Eu explico esse conjunto de charadas: por que não podemos repetir a degustação de um rótulo, de um rótulo que gostamos, que marcou a nossa vida? Podemos fazer melhor: Acompanhar a evolução de um vinho degustando safra por safra e exercitar a nossa capacidade de análise sensorial e reforçar, ou não, a nossa predileção, o nosso carinho por aquela linha de rótulos ou aquele produtor, nos estimulando a buscar novos vinhos, outras propostas dessa vinícola. Ah e quando falei das doses “homeopáticas” e seguras é não fazer dessa predileção uma temível zona de conforto, isto é, nos render aos mesmos vinhos, da mesma região, do mesmo produtor, das mesmas castas etc.

Mas vou falar de um vinho que degustei e gostei e que tive a oportunidade de degustar novamente, mas uma “nova safra”. Antes preciso contar uma história que me fez chegar a esse vinho, ou melhor, a região a qual ele faz parte. Estava eu assistindo a um dos raros programas de TV voltado para o mundo dos vinhos, no Canal Globosat, chamado “Um Brinde ao Vinho”, onde uma temporada fora Portugal e as suas mais importantes regiões vitícolas. Entusiasmado, a cada dia da exibição dos episódios, lá estava eu, diante da tela, mesmerizado, vendo tudo. E um desses dias foi sobre uma região que não conhecia chamada Bairrada. Me animei pelo simples fato de que iria conhecer uma nova região lusitana. Assisti ao programa e coloquei uma meta a ser traçada: buscar, procurar vinhos dessa região!

Confesso que pensei que seria muito difícil localizar, mas precisava esmero e dedicação para isso. Em uma das minhas necessárias incursões aos supermercados atrás de vinho atraente, de bom custo x benefício, comecei a procurar, não pelos vinhos da Bairrada, mas outro vinho, uma proposta que não conseguirei lembrar neste momento em que redijo essas linhas. Mas, o meu olhar, já descontente com o que eu não achei, já estava me preparando para sair de cena, quando me deparei com um rótulo que nunca tinha visto naquele supermercado que, regularmente visitava, e me aproximei para ter detalhes dele e o que encontrei: um vinho da Bairrada! Sem querer encontrei o que buscava desde aquele programa de TV quando conheci um pouco dessa região. O preço estava de acordo, mas fiquei temoroso quanto a safra, 2014. Mas precisava compra-lo e fui o que fiz. No dia da degustação tão esperada o vinho me surpreendeu de uma forma tamanha que eu precisava continuar comprando mais e mais vinhos da Bairrada e, em especial, da Adega de Cantanhede. Que produtor excepcional! 

Sem mais delongas o vinho que degustei e gostei no passado não muito distante e que continuo a gostar, veio, é claro, da Bairrada, e se chama Marquês de Marialva Colheita Seleccionada, um DOC tinto, da safra 2015, composto pelo blend das castas Baga (50%), a emblemática da região que também descobri, Tinta Roriz (30%) e Touriga Nacional (20%). Duas safras revelaram uma coisa óbvia e que evolui: a qualidade. E, claro que vale mais história. Falemos um pouco da Bairrada e sua emblemática casta, a Baga.

Bairrada e a sua casta Baga

Localizada na região central de Portugal e se estendendo até o Oceano Atlântico, especificamente entre as cidades de Coimbra e Águeda, a região vinícola da Bairrada – cujo nome é uma referência ao solo argiloso que a compõe – tem clima temperado bastante favorável às vinhas. A Bairrada é uma daquelas regiões portuguesas com grande personalidade. Apesar de sua longa história vínica, a certificação da região é recente. A Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos é de 1979 e para espumantes de 1991. A Região Demarcada da Bairrada possui também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.

Bairrada

Há registros que desde o século X é elaborado vinhos na região. Em 1867, o cientista António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho. O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço. Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o engenheiro Luís Pato. Conhecido como o Mr. Baga, Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa. A uva Baga, uma das principais uvas nativas de Portugal, é capaz de oferecer enorme complexidade aos rótulos que compõe. Demonstrando muita classe e estrutura, a variedade da casta de tintos é única no seu valor e possui um fantástico potencial de envelhecimento, que atua com o vinho na garrafa durante anos após sua fabricação. Além de refinados e inimitáveis, os vinhos produzidos com esta variedade de uva apresentam muita personalidade e distinção. No passado, a Baga era conhecida por ser empregada na produção de vinhos rústicos, excessivamente ácidos e tânicos e de pouca concentração. Porém, após a chegada do genial Luís Pato, conhecido como o “revolucionário da Bairrada” e maior expoente desta variedade, a casta da uva Baga foi “domesticada”.

A localização da DOC Bairrada e suas características de clima e solo fazem dela uma região única. Paralelamente, o plantio das vinhas é feito em lotes descontínuos de pequenas proporções e faz divisa com outras culturas e outros usos de solo. Com isso, seus vinhos são de terroir, ou seja, o local onde a uva é plantada influencia diretamente em suas particularidades. Delimitada a Sul, pelo rio Mondego, a Norte pelo rio Vouga, a Leste pelo oceano Atlântico e a Oeste pelas serras do Buçaco e Caramulo, a região é composta por planalto de baixa altitude. O solo é predominantemente argilo-calcário, mas há algumas poucas regiões com solos arenosos e de aluvião. O clima é mediterrânico moderado pelo Atlântico. A região recebe forte influência marítima do oceano Atlântico. Os invernos são frescos, longos e chuvosos e os verões são quentes, suavizados pela presença de ventos frequentes nas regiões junto ao mar. A área se beneficia de grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas. A variação que pode chegar aos 20ºC de diferença entre o dia e a noite.

O Decreto-Lei n.º 70/91 estabeleceu as castas castas autorizadas e recomendadas para produção de vinhos na DOC Bairrada. A lei descreve as diretrizes para elaboração dos vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes. Para a produção de tintos e rosés com o selo DOC Bairrada, as castas recomendadas são Baga (ou Tinta Poeirinha), Castelão, Moreto e Tinta-Pinheira. No conjunto ou separadamente, deverão representar 80% do vinhedo, não podendo a casta Baga representar menos de 50%. As castas autorizadas são Água-Santa, Alfrocheiro, Bastardo, Jaen, Preto-Mortágua e Trincadeira. Para os vinhos brancos as castas recomendadas são Maria-Gomes (também conhecida como Fernão Pires), Arinto, Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha, no conjunto ou separadamente com um mínimo de 80% do encepamento: e as autorizadas são Cercialinho e Chardonnay. O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas recomendadas Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha; ou das autorizadas Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira e Trincadeira. Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada.  Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca. Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com entornos violáceos, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz predomina as frutas vermelhas maduras, como groselha e cereja, além de toques de especiarias, um discreto pimentão, baunilha e amadeirado graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca traz também, como no aspecto olfativo, o toque frutado, um vinho “quente”, expressivo, mas macio e muito equilibrado, devido ao seu tempo de safra e pelo fato de ter passado dois meses na garrafa evoluindo antes de sair da adega. Tem taninos presentes, mas domados e finos, com baixa acidez, além de um amadeirado discreto muito bem integrado ao conjunto do vinho. Final de média intensidade.

Um raio cai sim e deve, no mundo dos vinhos, duas vezes ou mais nas nossas taças e fazer um reboliço nas nossas experiências sensoriais, iluminando os nossos dias com ótimas degustações, transformando-os em verdadeiras celebrações, uma verdadeira ode aos vinhos dessa região emblemática de Portugal que não faz tanto sucesso em terras brasileiras: a Bairrada! Espero acompanhar, seguir junto com a linha Marquês de Marialva Colheita Seleccionada, com seus rótulos tintos, safra após safra, desvendando nuances sensoriais que personificam na mais genuína qualidade que catapulta para o mundo a Bairrada e a sua casta emblemática, a Baga! Depois do Marquês de Marialva Colheita Seleccionada 2014, que venham mais e mais rótulos! Que os anos não passem em termos de qualidade e que retrate a tipicidade dessa região. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega de Cantanhede:

Fundada em 1954 por um conjunto de 100 viticultores, a Adega de Cantanhede conta hoje com 500 viticultores associados ativos e uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, constituindo-se como o principal produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região. Hoje certifica cerca de 80% da sua produção, sendo líder destacado nas vendas de vinhos DOC Bairrada DOC e Beira Atlântico IGP.

Reconhecendo a enorme competitividade existente no mercado nacional e internacional, a evolução qualitativa dos seus vinhos é o resultado da mais moderna tecnologia, com foco na qualidade e segurança alimentar (Adega Certificada pela norma ISO 9001:2015, e mais recentemente pela IFS Food 6.1.), mas também da promoção das castas Portuguesas, que sempre guiou a sua estratégia, particularmente das variedades tradicionais da Bairrada – Baga, Bical e Maria Gomes – mas também de outras castas Portuguesas que encontram na Bairrada um Terroir de eleição, como sejam a Touriga Nacional, Aragonez e Arinto, pois acredita que no inequívoco potencial de diferenciação e singularidade que este património confere aos seus vinhos.

O seu portfólio inclui uma ampla gama de produtos. Em tinto, branco e rose os seus vinhos vão desde os vinhos de mesa até vinhos Premium a que acresce uma vasta gama de Espumantes produzidos exclusivamente pelo Método Clássico, bem como Aguardentes e Vinhos Fortificados. É um portfólio que, graças à sua diversidade e versatilidade, é capaz de atender a diferentes segmentos de mercado, com diferentes graus de exigência em qualidade, que resulta na presença dos seus produtos em mais de 20 mercados.

A sua notoriedade enquanto produtor, bem como dos seus vinhos e das suas marcas, vem sendo confirmada e sustentadamente reforçada pelos prémios que vem acumulando no seu palmarés, o que resulta em mais de 750 distinções atribuídas nos mais prestigiados concursos nacionais e internacionais, com destaque para Mundus Vini – Alemanha, Concours Mondial de Bruxelles, Selections Mondiales du Vins - Canada, Effervescents du Monde – França, Berliner Wein Trophy – Alemanha e Japan Wine Challenge. sendo por diversas ocasiões o único produtor da Bairrada com vinhos premiados nesses concursos e, por isso, hoje um dos mais galardoados produtores da região. Em 2015 integrou o TOP 100 dos Melhores Produtores Mundiais, pela WAWWJ – Associação Mundial dos Jornalistas e Críticos de Vinho e Bebidas Espirituosas. Nos últimos 8 anos foi eleita “Melhor Adega Cooperativa” em Portugal por 3 vezes pela imprensa especializada.

Mais informações acesse:

https://www.cantanhede.com/

Referências:

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/bairrada/

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/baga

“Winepedia”: https://www.wine.com.br/winepedia/enoturismo/bairrada-uma-tradicao-de-seculos/

 

 

 






sexta-feira, 2 de abril de 2021

Vila de Frades branco 2018

 

Definitivamente degustar os vinhos com apelo regional é especial. Regional na verdadeira concepção da palavra, as castas locais, produtores locais, é uma ode à região e todas as suas nuances culturais, do que a terra e todas as suas propriedades geológicas e naturais podem oferecer. O terroir na sua expressão mais genuína e mais simples possível, pois, a partir do ato da degustação conseguimos entender as características mais marcantes dos vinhos produzidos em determinadas regiões.

Esse vinho sintetiza com fidelidade a rica e emblemática do Alentejo, em Portugal. Como que um lugar tão pequeno em termos geográficos, oferecer uma gama tão rica de vinhos nas suas mais diversas propostas, sejam eles vinhos brancos, tintos, complexos, jovens, encorpados, leves etc. E, devido a essa diversidade me tornei um grande fã dos vinhos alentejanos. Foram eles que abriram a janela para um mundo lusitano de vinhos diante dos meus olhos. Impossível não esquecer os meus primeiros rótulos portugueses oriundo dessa abençoada terra alentejana e, com as minhas experiências sensoriais com essa região, personificada com seus belos rótulos, descobri os brancos, confesso um pouco tardiamente, do Alentejo. E que vinhos maravilhosos e especiais!

E mais especial ainda que o rótulo por mim escolhido veio das mãos, cruzando o atlântico, direto de Portugal, por um bom amigo português. É um presente ter um amigo que aprecia bons vinhos e que se lembra de nós, pobres mortais enófilos aqui em terras brasileiras. A viagem foi garantida em todas as suas formas de interpretação: tanto no sentido literal da palavra quanto no sentido da experiência sensorial.

Ah amigos leitores, o vinho que degustei e gostei, como orgulhosamente disse, veio do Alentejo, na região da Vidigueira, é um branco, e se chama Vila de Frades, um blned composto pelas castas autóctones, tipicamente do Alentejo chamadas Antão Vaz (50%), Manteúdo (25%) e Roupeiro (25%) da safra 2018. E como não podemos negligenciar a história, falemos um pouco da região da Vidigueira e Vila de Frades e também dessas castas que, embora não sejam globais, se fazem significativas dentro de sua tradicional região do Alentejo.

Vidigueira e Vila de Frades

O topônimo “Vidigueira” é um derivado de “Vidigal” do latim “viticale”, cujo significado é “terreno onde cresce o vitex”, o mesmo que agnocasto, uma espécie de arbusto aromático. A existência desta povoação está documentada somente a partir do séc. XIII. No entanto, encontram-se registos de ocupação humana da região desde a pré-história. Para além do património megalítico, merecem referência as próximas villas romanas de São Cucufate e do Monte da Cegonha. Sem grande importância estratégica na defesa do território, o desenvolvimento desta vila foi essencialmente agrícola. Este facto é facilmente comprovado pela produção de vinho, uma vez que a Vidigueira é também o nome de uma Região de Origem Controlada. A sua fama vinícola já existia no séc. XV e no séc. XIX era a 7ª região produtora. O nome da Vidigueira está também ligado à figura histórica do Vasco da Gama, a quem D. Manuel I (1495-1521) concedeu o título de Conde da Vidigueira, em 1519. A Casa da Vidigueira, fundada então, permaneceu na mesma família até ao nosso século. Na torre do relógio da vila bate as horas um sino com a Cruz de Cristo e as armas dos Gamas gravadas, e a inscrição da data: 1520. Evoca-se ainda, a cerca de 2 km de Vidigueira outra memória de Vasco da Gama. Na capela-mor da igreja do convento de Nossa Senhora das Relíquias (já muito alterado nas suas linhas originais) estiveram depositados os restos mortais do descobridor do caminho marítimo para a Índia quando vieram de Cochim em 1539, até serem trasladados para o Mosteiro dos Jerónimos em 1898.

Vidigueira é uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Beja, região Alentejo e sub-região Baixo Alentejo, com cerca de 3 000 habitantes. É sede de um município com 314,20 km² de área e 5.963 habitantes (2006), subdividido em 4 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Portel, a leste por Moura, a sueste por Serpa, a sul por Beja e a oeste por Cuba. No coração do Alentejo, fica o concelho da Vidigueira, o quarto menor do Baixo Alentejo. Este pequeno concelho está delimitado pela Serra do Mendro a norte, o rio Guadiana a leste e a planície que se estende até perder de vista para sul. É nesta harmonia entre serra, planície e rio que assenta a riqueza das terras, onde proliferam as hortas, laranjais, vinhas, olivais e os campos de cereais.


Vidigueira, Vila de Frades e o Alentejo

A economia da freguesia assenta na agropecuária, sendo de salientar que as culturas predominantes são a da vinha e a da oliveira, cujo produto ao longo dos tempos adquiriu notoriedade a nível nacional. A caça é atualmente um fator económico importante; assim como a silvicultura e a indústria alimentar, destacando-se, ainda, o papel da Administração Local. No artesanato predominam os bonecos em barro, em madeira e de trapos, destinados a decoração. A região de Vila de Frades, que dá nome ao vinho, é uma vila portuguesa sede da freguesia homónima de Vila de Frades do município de Vidigueira, na região do Alentejo. Inserida na paróquia de São Cucufate, instituída em 1255, a povoação que surgiu nesse local pertencente aos frades de São Vicente de Fora tomou, logicamente, o nome de Vila de Frades (Detalhes sobre a região disponível no link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_de_Frades).

Até 1854 foi sede de concelho. Na sequência de uma Reforma Administrativa no século XIX, Vila de Frades foi integrada na Vidigueira, passando a ser uma freguesia deste Município.

As castas típicas do Alentejo

Antão Vaz

Pouco se sabe sobre as origens da casta Antão Vaz, mas curiosamente era este o nome do avô de Luís Vaz de Camões, poeta que celebrou em “Os Lusíadas” os descobrimentos e a viagem de Vasco da Gama de Portugal à Índia. Apesar da aura misteriosa que a rodeia, uma coisa se conhece: a sua filiação alentejana. E também que viajou pouco. Fora do seu Alentejo natal, apenas a Península de Setúbal a planta com alguma expressão, e não se encontram sinonímias para ela noutras regiões – como acontece com tantas outras castas –, comprovando-se assim a sua falta de apetência emigrante. Consensual, amada igualmente por viticultores e enólogos, a Antão Vaz é indiscutivelmente o “ex-libris” das castas brancas alentejanas, o orgulho e alma dos produtores locais. Particularmente bem adaptada ao clima soalheiro da grande planície, apresenta excelente resistência à seca e doença. Mais: é consistente, produtiva, e amadurece de forma homogénea. Tudo condições mais do que suficientes para a tornar incontornável no cenário dos vinhos brancos alentejanos. Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados, embora por vezes lhe falte acidez refrescante e revigorante. Daí a associação comum com as castas Roupeiro e Arinto, que contribuem com uma acidez mais viva. Se vindimada cedo, pode dar origem a vinhos vibrantes no aroma e a acidez firme; se deixada na vinha, pode atingir grau alcoólico elevado e aromas fragrantes, o que a torna boa candidata ao estágio em madeira. Os vinhos feitos com a Antão Vaz apresentam por regra aromas exuberantes, apresentando-se estruturados e densos no corpo.

Roupeiro

Roupeiro é uma das castas brancas mais utilizadas no Alentejo. Noutras regiões tem o nome de Síria ou Códega. Casta de uva branca muito utilizada em Portugal é recomendada nas regiões da Beira Interior com o nome de Codo ou Síria, no Douro com o nome de Códega e em todo o Alentejo com o nome de Roupeiro. Produz vinho com aromas primários muito interessantes a flor e a fruto, mas é sensível à oxidação e o seu vinho deve ser consumido nos anos imediatamente seguintes à colheita. Em geral, produz vinhos básicos para serem consumidos jovens, mostrando aromas de frutas cítricas e de caroço, além de notas florais. Quando bem feito, seu vinho apresenta aromas perfumados de frutas cítricas, pêssego, melão, loureiro e flores silvestres. Entretanto, perde rapidamente estes aromas, tornando-se bastante neutra após alguns meses em garrafa. Pode também oxidar rapidamente, sendo uma opção para vinhos jovens, de grande saída. Outros sinônimos: Síria, Malvasia Grossa, Dona Branca, Códega etc.

Manteúdo

Pouco se tem de informação sobre a casta Manteúdo, mas apenas se sabe, de acordo com sites e portais pela internet, é de que a mesma é produzida na região de Algarve.

E finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo amarelo ouro, com brilhantes reflexos esverdeados, com alguma concentração de lágrimas finas e que demora um pouco a se dissipar, mostrando a sua personalidade.

No nariz a explosão de aromas frutados sobressai, frutas brancas, frutas tropicais e cítricas, suscitando em uma boa complexidade aromática, corroborando a sua jovialidade e frescor.

Na boca é seco e com alguma estrutura e intensidade, revelando uma marcante personalidade, as notas frutadas são percebidas como no aspecto olfativo, com uma acidez equilibrada, um belo volume de boca, diria uma discreta untuosidade, fechando com grande persistência e um retrogosto frutado.

O apelo regional tem sido a base, o pilar de minhas novas experiências sensoriais e, por mais que teoricamente os vinhos regionais possam limitar-se, geograficamente falando, aos seus domínios, as suas cercas territoriais, se revelam grandiosos e significativos na sua relevância para um simples enófilo como eu, cujo garimpo não se limita ao agradável ato da degustação, mas ao processo cognitivo cultural em conhecer as identidades mais relevantes de uma cultura de um povo que construiu ao longo dos anos, dos séculos, sua história vinícola, com terroirs tão ricos e complexos. Um vinho de personalidade, expressivo, jovial, fresco, que entrega a versatilidade de uma rica região como o Alentejo. Que o regional globalize os seus mais intensos e gloriosos feitos para que todos, sem exceção, todos os enófilos, possam usufruir de toda essa experiência sensorial. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa Vidigueira, Cuba e Alvito

A Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito foi fundada em 1960, mas a sua cronologia vai muito para além dos seus 60 anos de existência. Foi criada para proteger a vinha, o vinho e o estilo de vida milenar desta sub-região de vinhos e aportar ainda mais renome e qualidade ao vinho aqui produzido.

Ao longo dos anos, um intenso esforço tem-se vindo a fazer para proteger as castas e as técnicas de produção, pelo que, no património vitícola da Adega descobrem-se castas autóctones, aperfeiçoadas de geração em geração, entre as quais sobressai a Antão Vaz. Esta casta legitimada como a casta da Vidigueira e musa inspiradora da Adega, dá origem a um vinho branco excecional cuja notoriedade lhe vale o título de “O Branco do Alentejo”.

Com uma produção aproximada de 8 milhões de garrafas de vinho por ano, resultado da exploração de cerca de 1500 hectares de vinha dos seus cerca de 300 sócios, é hoje uma moderna e proeminente adega. Nunca esquecendo as suas origens, projeta-se para o futuro apoiada nas gentes e na qualidade do terroir da sub-região de vinhos.

Mais informações acesse:

https://adegavidigueira.pt/

Referências:

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_de_Frades

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Vinhos do Algarve”: https://www.vinhosdoalgarve.pt/pt/regiao/castas

“Revista de Vinhos”: https://www.revistadevinhos.pt/beber/antao-vaz

“Terras de Portugal”: http://www.terrasdeportugal.pt/vidigueira

“Freguesia Vidigueira”: https://www.freguesiavidigueira.pt/index.php/freguesia/historia

“Visit Portugal”: https://www.visitportugal.com/pt-pt/content/vidigueira#:~:text=XIX%20era%20a%207%C2%AA%20regi%C3%A3o,fam%C3%ADlia%20at%C3%A9%20ao%20nosso%20s%C3%A9culo.

 

 

 

  


 


quarta-feira, 31 de março de 2021

120 Pinot Noir 2018

 

Já ouviu aquela série de discursos ou verdades absolutas fincadas, obviamente, em preconceitos “condimentados” com posturas intolerantes que vinho barato não presta, não entrega além de simplicidade e inexpressividade? Não podemos negligenciar as opiniões diversificadas, mas quando ela vem sem quaisquer fundamentos calcados na mais simples definição do que consideramos como plausível, fica difícil aceitar certos comentários, por mais diplomático e democrático que você seja. Eu sempre defenderei que todos os vinhos têm a sua proposta, tem bem definido o que entrega: há vinhos complexos, amadeirados, longevos, jovens, simples, caros, baratos etc. Há vinhos para todos os bolsos, interesses, momentos. O vinho é democrático, senhores leitores! Muito mais daqueles que o degusta, lamentavelmente.

Você pode seguir para uma proposta apenas, mas nunca em detrimento da outra, penso. E quando há aquela promoção irresistível em destaque avassalador com milhares de garrafas em destaque em um ponto do supermercado? O “aristocrático do vinho” sente seus ossos tremerem de repulsa e dizem que plena rejeição: “Esses vinhos não prestam, são horríveis, vejam o preço baixo dele, tão baixo quanta a sua qualidade”! Pois é, eles podem parecer irresistíveis, afinal, o preço baixo em um país como o nosso que o seu povo passa fome, degustar um vinho barato é um momento singular primeiramente pelo preço.

Mas vos digo de coração e mente aberta que já tive o prazer, a alegria e a surpresa de degustar muitos vinhos na faixa dos R$ 20 à R$ 30 que, diante da sua proposta, entregou maravilhosamente. Cabe a nós, enófilos, ouvir e sentir o nosso coração, mesclando com a capacidade de discernimento que, em tese, é inerente a raça humana e escolher bons vinhos com a famosa relação custo X qualidade ou custo X benefício.

Estava, para variar, em minhas incursões nos supermercados da vida e avistei, ao longe, uma linha de rótulos muito conhecidas e vendidas em várias redes de mercado e lojas, tida como uma linha mais básica de rótulos, porém de um produtor renomado no Chile. Bem, meio desinteressado, confesso, fui até o vinho que estava em destaque no meio da loja. Aproximei-me, toquei o vinho em minhas mãos e vi o valor: R$ 17,90! Uau! Não acreditei que o valor estava tão baixo, mesmo se tratando de um vinho que, rotineiramente, está em promoção, mas não naquele valor tão baixo. Era um Pinot Noir chileno! Farei um adendo: Adoro os Pinots chilenos e argentinos, dentre os vinhos dessa casta no Novo Mundo. São vinhos vibrantes, um pouco mais potentes, embora expresse as características mais marcante da delicada e frutada Pinot Noir. A comprei! Mas queria logo abri-lo! E eis que surge a deliciosa satisfação em degusta-lo. A taça e os meus sentidos regozijavam de alegria! O vinho que degustei e gostei veio da famosa região do Vale do Aconcágua, no Chile, e é o 120 da casta Pinot Noir, safra 2018.

Não é a primeira vez que eu me surpreendo com essa linha de rótulos mais básicos da Vinícola Santa Rita, tanto que já degustei o 120 Sauvignon Blanc e foi sensacional e isso pesou na minha escolha também. Então antes de dissecar o vinho degustado falemos um pouco da importante região vinícola do Chile: Vale Aconcágua. 

Vale Aconcágua: acalentada pelo frio dos Andes

Aconcágua é uma das 5 principais regiões produtores de vinhos no Chile. Sendo o Vale de Aconcágua, que fica a 65 km ao Norte de Santiago, uma denominação de origem, DO, definida pelo sistema de apelação Chileno. Cercado por montanhas, as capas de gelo dos Andes fornecem a água derretida, essencial para os vinhedos do vale. O nome não tem nada a ver com a maior montanha das Américas, o Aconcágua. Está relacionado com um pequeno rio que corre pelo vale e serve de referência para o local. Fica a 60 minutos a noroeste de Santiago, na direção da rodovia internacional que vai para Mendoza na Argentina. É uma região de pequenas cidades, vilarejos, com estradas vicinais, com pouco tráfego de veículos. Em todo o vale há vinícolas grandes, pequenas e familiares. A produção de vinho nesta região representa cerca de 3% do total produzido no Chile.

O Chile e o Vale Aconcágua

Pelo vale, além do rio, correm alguns riachos provenientes de águas do desgelo. No verão, o rio Aconcágua é mais caudaloso, mesmo assim, a região é muito seca. Chove muito pouco e a irrigação dos vinhedos é feita por gotejamento. São mangueiras de plásticos, com pequenos furos, que vão gotejando água diretamente no pé das cepas. O solo de todo o vale é de argila e pedras. A amplitude térmica é grande, pode chegar a 28 graus de dia e cair para 5 graus à noite. Como não há nuvens no céu para segurar o calor, à noite esfria bastante. A colheita começa no fim do mês de Fevereiro e vai até o fim de Abril. Produzem vinhos tintos monocasta e blends com várias uvas, mas as mais determinantes são a Syrah, Pinot Noir, Cabernet Franc, Merlot e Cabernet Sauvignon. Os vinhos brancos são produzidos principalmente com Chardonnay e Sauvignon Blanc. Aqui também, como o terroir não é tão determinante, estão sempre plantando e fazendo experiências de vinhos com várias castas.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho com tons violetas, típico da casta, com um reluzente brilho e boa formação de lágrimas.

No Nariz se abrem aromas de frutas vermelhas como morango e framboesa de uma forma delicada com notas de especiarias, diria ervas finas, um toque herbáceo, além de um toque floral. Aromas frescos de frutas frescas, muito atraentes e elegantes.

Na boca é suave, picante, elegante e sedoso, mas com alguma estrutura reforçada pela sua suculência, ou seja, pelo volume de boca, com taninos finos e acidez instigante, revelando seu frescor e jovialidade, com a discreta, porém evidente presença da baunilha, graças a passagem do vinho, parte dele, por barricas de carvalho por 2 meses, com um final frutado e persistente.

A linha 120, como diz no site da vinícola, entrega, com maestria, a simplicidade, a nobreza de entregar o vinho na sua expressão mais genuína, sobretudo no tocante as características da cepa, um vinho leve, fresco, para ser degustado jovem, de forma despretensiosa, desfrutando com amigos e harmonizando com comidas leves como frituras, carnes brancas e massas leves, sem condimentos fortes. Um vinho surpreendente! Um Pinot Noir, apesar de ser básico e jovem, traz uma marcante personalidade, um vinho expressivo, mas que não rejeição as mais essenciais fiéis características da Pinot Noir, tais como a elegância e as agradáveis notas frutadas. Mas não há como não se render a versatilidade dos “Pinots” chilenos: estrutura com delicadeza. Que a democracia que emana dos rótulos dos vinhos, na sua diversidade de propostas, inspirem a todos nós, humildes enófilos para que entendamos de uma vez por todas que vinho é especial em todas as suas nuances e momentos. E esse 120 Pinot Noir sintetizou tudo isso de uma forma veemente. Tem 13,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

A história do rótulo “120”:

Em 1814, um grupo de soldados do movimento de independência, após a Batalha de Rancágua, procurou abrigo e refúgio na Hacienda de Paine que era uma propriedade agrícola que remonta antes mesmo da efetiva fundação da Viña Santa Rita, em 1880. Paula Jaraquemada, proprietária e defensora do movimento e ciente da proximidade dos espanhóis, protegeu os 120 soldados no porão da sede da fazenda, salvando suas vidas. Não à toa, uma das principais linhas da Santa Rita é o rótulo 120, em alusão aos soldados. Na ilustração abaixo, do início do século XIX, mostra Paula Jaraquemada sendo interrogada por soldados da Coroa Espanhola, em busca dos 120 soldados pró-independência.

A independência do Chile foi obtida em 1818, e a “Hacienda” viveu dias tranquilos a partir de então. Os anos se passaram e, em paralelo, no ano de 1880, o empresário chileno Domingos Fernández Concha fundara a Viña Santa Rita.

Sobre a Viña Santa Rita:

A Vinícola Santa Rita foi fundada em 1880 por Domingo Fernández Concha, destacado empresário e homem público da época. Dom Domingo introduziu finas cepas francesas nos privilegiados solos do Vale do Maipo e incorporou maquinaria especializada, o que somado à contratação de enólogos da mesma nacionalidade lhe permitiu produzir vinhos com técnicas e resultados muito superiores aos tradicionalmente obtidos no Chile, mudando a forma de elaborar vinhos em nosso país. Desde o final do século XIX e até meados do decênio de 1970, a vinícola funcionou sob o controle da família García Huidobro, iniciando com Dom Vicente García Huidobro, genro de Dom Domingo Fernández Concha, quem continuou com o legado e ideais do fundador.  No ano de 1980 o Grupo Claro e a empresa Owens Illinois, principal produtora de embalagens de vidro do mundo, adquirem parte do patrimônio da Vinícola Santa Rita. A chegada do Grupo Claro significou um forte impulso para a empresa. Na área produtiva foram introduzidos significativos avanços tecnológicos e técnicas de elaboração de vinhos desconhecidos até então no Chile. Da mesma forma, foi fortemente impulsionada a criação de novas linhas de vinhos; no ano de 1982 inicia-se a linha 120 e em 1985 começa a exportação de vinhos chilenos para distintos mercados do mundo. O crescimento da Santa Rita ocorreu também a partir da aquisição de marcas de prestígio no mercado como Carmen, em 1987. Em 1988, o Grupo Claro assume a propriedade total da Vinícola Santa Rita. Inicia-se um período de grande expansão da vinícola, transformando-se em sociedade anônima aberta em 1990. Seu crescimento se baseou no forte impulso às exportações e na excelente reputação de seus vinhos, os quais obtiveram importantes prêmios. Na década de 90 se iniciou investimentos significativos em todos os processos. Em todos os processos, destacando-se a área enológica, na qual foram incorporados novos equipamentos, tanques de aço inoxidável e barris de carvalho francês e americano. Na área agrícola consolidou-se a aquisição e plantação de mais de 1000 hectares nos mais importantes vales da vitivinicultura chilena: Maipo, Colchagua e Casablanca. Os mais de 135 anos nos quais a Vinícola Santa Rita tem trabalhado na elaboração de vinhos lhe propiciaram acumular uma vasta experiência, que sem dúvida repercute na qualidade de seus produtos, qualidade esta mantida inalterável com o passar do tempo e que seguirá surpreendendo consumidores em cada canto do mundo.

Mais informações acesse:

https://www.santarita.com/pt/

Referências:

“Blog do Milton”: http://www.blogdomilton.com.br/posts/2018/04/vale-de-aconcagua-vale-de-casablanca-pablo-neruda-chile/

“Loco por Vino”: https://www.locoporvino.com/blog/aconcagua-valley-aos-pes-da-cordillera-dos-andes-uma-das-regioes-produtoras-de-vinhos-mais-bonitas-do-chile

 

 






sábado, 27 de março de 2021

San Valentín Tempranillo 2019

 

Os bons enófilos entenderão o que direi, o melhor, textualizarei, agora: é possível sim nos apaixonarmos por um vinho, digo mais, paixão é efêmero, é fugaz, mais criar um vínculo amoroso com um rótulo, com um produtor, com uma linha de rótulos a ponto de criarmos um vínculo safra por safra! Alguns poderão dizer que seria uma espécie de zona de conforto, se deixar escravizar pela conveniência da qualidade, não se permitindo degustar outros vinhos e se aventurar em outras experiências sensoriais. Ah talvez possamos, como bons versáteis que devemos ser, unir a conveniência do amor a um rótulo, a um produtor, a uma região, a uma casta e a aventura apaixonante das novas experiências, diversificando o nosso leque de opções.

Agora vem aquela pergunta que não quer calar: Por que falar tanto de amor, paixão e efemeridades? Bem tem tudo a ver com a nossa percepção para com essa poesia líquida que nos traz tanta inspiração quando falamos, conhecemos e, claro degustamos. Mas não é só isso, mas também um paralelo, muito do óbvio, do rótulo que degustarei e que terei um grande prazer em tecer algumas linhas, sobretudo pela sua casta, famosa na Espanha, como a mais emblemática: Tempranillo.

A Tempranillo, popularmente conhecida em Portugal como Aragonez e Tinta Roriz, sem sombra de dúvida é, com o perdão da analogia, uma casta apaixonante, que se ama facilmente e diria muito democrática: estruturada, complexo, sobretudo quando estagia por barricas de carvalho, básico, um vinho mais direto e de grande vocação gastronômica. Agrada a todos os níveis de paladar, do mais exigente e experiente aos iniciantes do mundo do vinho.

E nada mais autêntico como a Tempranillo. Retrata fielmente a tipicidade de cada região na Espanha, sendo de fácil cultivo, por isso é tão popular e se adequa a todos os terroirs, ganhando em singularidade. E quando falo de autenticidade, o rótulo que escolhi para degustar personifica, de forma exemplar, tal condição: Um Tempranillo como ele deve ser na sua essência, retratando as suas mais apaixonantes características. O vinho que degustei e gostei vem da região de Castilla La Mancha, um emblemático e fiel Tempranillo da emblemática e tradicional Vinícola Torres e se chama San Valentín da safra 2019. Ah já que falamos com tanto amor e aí está o motivo dessa palavra ser tão mencionada nesta resenha, por causa do santo que inspirou o dia dos namorados pelo mundo afora, mas também pelo apreço emocional que tenho, que todos têm pela Tempranillo, falemos então da casta.

Tempranillo

O nome Tempranillo é o diminutivo de “temprano”, que em espanhol significa cedo e, no contexto do mundo do vinho, quer dizer que essa variedade de uva amadurece antes que as demais. Na Espanha, que é um dos países onde essa uva é mais cultivada, ela amadurece algumas semanas antes que as outras uvas. É oriunda da Península Ibérica, mas devido sua fácil adaptação a diferentes climas e solos, no último século, tem sido muito cultivada em partes diversas do do mundo do vinho, do México à Austrália. Ela possui várias outras designações, dependendo do país de cultivo a Tempranillo pode ser conhecida como Aragonez ou Tinto Roriz (Portugal), Negretto (Itália), Valdepeñas (Estados Unidos) e, mesmo dentro do seu país originário, sua identificação muda substancialmente. Em geral, produz um vinho tinto com acidez e teor alcoólico de nível médio, textura macia e deliciosamente elegante.

Os povos fenícios foram provavelmente os introdutores dessa variedade de uva na Península Ibérica, através da cultura da vitis vinifera, trepadeira que deu origem a quase todas as castas de uvas existentes hoje. Segundo pesquisas científicas, a Tempranillo foi cultivada pela primeira vez há pelo menos 1.000 a.C, onde hoje é a província espanhola de Cádiz. Sua utilização na produção vinícola da Espanha, porém, permaneceu subdesenvolvida até o século XV, período pelo qual esteve o território espanhol sob o domínio mouro, cuja cultura religiosa não dá valor algum às bebidas alcoólicas. Portanto, durante muito tempo no país, a produção de vinho não ficou em primeiro plano, estagnando seu desenvolvimento. Após esse período, a Espanha teve seu florescimento no que diz respeito ao cultivo da uva e produção de diferentes tipos de vinhos, chegando hoje a corresponder ao terceiro maior mercado produtor. À frente dessa produção está a Tempranillo, que, devido sua influência e predominância, tornou-se símbolo dos melhores vinhos do país.

Curiosamente, apesar de o sabor do vinho elaborado com a Tempranillo ser comparado, algumas vezes, com o da Cabernet Sauvignon, elas diferem em relação à adaptabilidade, assim como em relação à resistência as pragas e as intempéries climáticas. Nesses três quesitos a Cabernet Sauvignon apresenta maior resistência. Em relação ao clima, por exemplo, apesar da Tempranillo atualmente ser cultivada em diversas regiões do mundo (não tantas quanto a Cabernet Sauvignon) e de tolerar climas quentes, especialistas afirmam que os melhores vinhos são aqueles produzidos com uvas cultivadas em regiões mais frias e com maior altitude. Por outro lado, os estudiosos também reconhecem que, para aumentar o teor de açúcar e “engrossar” a casca (o que faz com que o vinho tenha uma cor mais intensa), é preciso que o local de cultivo tenha temperaturas mais altas. A conclusão, portanto, é que o clima ideal para o cultivo dessa variedade é o continental.

De forma geral, pode-se dizer que o vinho Tempranillo tem taninos médios, acidez média para alta e cor vermelho escura. É considerado como um vinho de corpo leve a médio. Se jovem, seus aromas remetem a frutas vermelhas; se envelhecido, apresenta aromas de couro e de folhas frescas de tabaco. Quando o vinho é envelhecido, ele fica mais encorpado e com aromas de carvalho, mesmo que a aparência não mostre isso. Isso porque o bago dessa uva é grande e tem casca fina, razão pela qual, quando o vinho está no copo, pode parecer mais translucido do que outros vinhos de corpo médio.

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. 

São Valentim

Apesar do Brasil celebrar o Dia dos Namorados em junho, casais apaixonados da Europa e dos Estados Unidos comemoram o amor em 14 de fevereiro. Por quê? A data está diretamente ligada a São Valentim, o santo do amor. O bispo São Valentim viveu durante Império Romano, no século 3 – tempo em que muitas guerras estavam acontecendo. Naquela época, o Imperador Cláudio II proibiu o casamento porque achava que soldados solteiros eram combatentes melhores. Mas Valentim realizou muitas uniões clandestinamente. Até que um dia ele foi descoberto, preso e condenado à morte. Mesmo atrás das grades, o bispo recebeu cartas e flores de pessoas que acreditavam no amor e queriam agradecê-lo por realizar seus casamentos. Também foi na prisão que Valentim se apaixonou por uma mulher, mesmo sabendo que jamais ficariam juntos. A moça era cega e filha de um dos carcereiros. Reza a lenda que foi Valentim que, milagrosamente, a fez enxergar novamente. Antes de sua execução, no dia 14 de fevereiro de 269 d.C., o bispo escreveu uma carta de despedida à sua amada, terminando o texto com a frase: “De seu Valentim”. Mais de 200 anos depois, no ano de 496, o Papa Gelásio declarou Valentim santo, fazendo com que milhões de religiosos recordassem seus feitos. A data de sua morte foi escolhida pela Igreja como Dia dos Namorados para incentivar casais que pretendiam se unir em matrimônio.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, quase escuro, com alguns reflexos violáceos muito brilhantes com lágrimas finas e em abundância, que teimam em se dissipar das paredes do copo.

No nariz apresenta uma intensidade de aromas, muito frutado, que vai de frutas vermelhas como groselha, cereja e framboesa a frutas negras como amora, ameixa além de um toque floral muito agradável.

Na boca é estruturado, intenso, carnudo, logo com um ótimo volume de boca, mas por outro lado, macio e aveludado, apesar de o início se revelar alcoólico, pela sua impetuosidade, um jovem vinho, mas logo se equilibrou, com uma acidez equilibrada, de média intensidade corroborando a sua jovialidade, com taninos pronunciados e presentes, com final persistente.

Um autêntico e verdadeiro exemplar de Tempranillo está personificado neste belíssimo rótulo da Miguel Torres. Os aromas e o palato trazem a essência da Tempranillo expressando o terroir de La Mancha, mas com o caráter, a gênese da casta mais popular e emblemática da Espanha. Um exemplo de amor literal a terra, as verdadeiras características dessa cepa e que foi produzido por Miguel Torres Carbó como um presente de dia dos namorados para sua esposa, Margarita Riera, em fevereiro de 1956. A flecha do amor atingiu em cheio o meu humilde coração enófilo. Um vinho altivo, revigorante, jovem, intenso, as frutas no seu ápice, no seu auge, na plenitude de seu momento, mostrando taninos vivos e presentes, acidez equilibrada, revelando frescor. Um vinho de marcante personalidade, mas muito fácil de degustar. Que o amor pelo vinho transmita prazer e momentos de celebração que somente o vinho pode proporcionar! Tem 14,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Família Torres

Sobre a Vinícola Miguel Torres:

A Vinícola Miguel Torres, é uma empresa moderna que está em constante renovação e expansão e que possui vinícolas nas principais regiões produtoras da Espanha: Penedès, Priorato, Rioja, Ribera Del Duero, Rueda, Rías Baixas e Toro. Também possui vinícolas no Chile e nos Estados Unidos (Califórnia). No Chile, foi a primeira vinícola européia a se instalar no Vale de Curicó no fim da década de 1970 e por isso liderou a modernização vinícola daquele país. Miguel Torres possui hoje 1.700 hectares de vinhedos na Cataluña e é a maior vinícola do país, entregando ao mercado 35 milhões de litros de vinhos por ano, tendo rótulos como Coronas, Gran Coronas, Sangre de Toro, Viña Sol, um dos mais vendidos e conhecidos. Miguel Agustin Torres, pai de Miguel Torres Maczasseck, formado em enologia na França, começou a trabalhar na empresa em 1961 e assumiu definitivamente o lugar do pai, Miguel Torres Carbó, em 1991. Representando a quarta geração da família, foi ele quem comandou a ampliação dos negócios na Espanha, há alguns anos, com novas vinhas em Rioja, Ribera del Duero, Rueda e no Priorato, Toro e Jumilla. Além disso, em 1994 comprou a vinícola de Jean Leon, mais em homenagem ao amigo espanhol que fez sucesso com um restaurante em Los Angeles, nos Estados Unidos, com quem mantinha amistosa rivalidade. Jean Leon foi o primeiro a plantar Cabernet Sauvignon no Penedés, logo seguido por Miguel Torres. Atualmente, a Miguel Torres emprega milhares de trabalhadores, possui vinotecas em Shanghai, Barcelona e Santiago, tem firme atuação nas redes sociais e tem por lema “Cuanto más cuidamos la tierra, mejor vino conseguimos”. Exporta seus vinhos para mais de 150 países e tem um objetivo a ser atingido até 2020: reduzir as emissões de CO2 de cada garrafa produzida a partir de 2008, uma vez que o respeito ao meio ambiente, a ecologia faz parte da estratégia da vinícola Torres no mundo todo.

Mais informações acesse:

https://www.torres.es/es/inicio

Referências:

Blog “Vinhosite”: http://blog.vinhosite.com.br/tempranillo-a-uva-que-os-espanhois-mais-cultivam/

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/tempranillo-a-nobre-uva-da-espanha/

“Revista Galileu”: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/02/quem-foi-sao-valentim-o-bispo-inspirou-o-dia-dos-namorados-no-exterior.html

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2020/07/01/vinhos-de-julho-miguel-torres-san-valentin-parellada-tempranillo-e-garnacha-todos-2018/

 

 




quinta-feira, 25 de março de 2021

Delicato Zinfandel 2013

 

Sabe quando você olha vinhos de determinadas regiões ou castas e percebe ou chega a triste conclusão de que nunca irá degustar? Pois é, foi assim que eu sempre encarei os vinhos da emblemática região da Califórnia nos Estados Unidos. Quando tive os primeiros contatos, lendo sobre os vinhos californianos, primeiramente me surpreendeu. Sempre tive a percepção de que os grandes vinhos repousassem em terras europeias, tais como França, Espanha, Portugal, Itália etc. Uma visão pré-concebida caiu, afinal Estados Unidos tem sim grandes e tradicionais regiões produtoras de vinhos.

Mas com a descoberta surgiu uma desilusão: percebi quer nunca iria degustar um grande rótulo californiano! Os preços disponíveis no mercado eram astronômicos! Há pouco mais de 10 anos não eram muitos rótulos disponíveis, é bem verdade, logo deduzi que os valores altos eram, também, por conta desse panorama, além dos altos tributos impostos nos vinhos em terras brasileiras, mas atualmente, os valores continuam demasiadamente altos e arrisco dizer que mais alto do que há pouco mais de 10 anos atrás! Então a desilusão bateu de forma implacável! Conheço a região, um pouco das suas histórias, mas não terei acesso aos seus rótulos.

Porém sempre procurei um vinho que pudesse ter um ótimo custo X benefício, nunca desisti de procurar, apesar de não alimentar maiores expectativas acerca desse momento. Em mais uma de minhas incursões aos supermercados, como sempre, acabei encontrando um rótulo que me interessou pelo seu curioso nome, mas que, a priori, não sabia de que região era, país ou coisa parecida. Mas quando vi estampado no rótulo a sua casta, logo percebi que se tratava de um vinho norte americano: a Zinfandel. A casta mais emblemática e importante daquele país. Vi também que era californiano. Então me pus a procurar, com certa ansiedade, pois estava difícil de encontrar, mal sinalizado, e quando avistei o preço estava bastante convidativo, pelo menos à época, em torno dos R$ 45,00!

Mas diante da alta média dos valores que via R$ 45,00 era demasiadamente baixo e, confesso que fiquei um tanto quanto receoso quanto a qualidade, mais um preconceito de minha parte, afinal, valor não determina qualidade, mas decidi compra-lo mesmo assim. E decidi degusta-lo o quanto antes, tamanha era a animação de degustar um californiano. A rolha finalmente se desprendeu da sua garrafa, o momento ritualístico foi seguido, a taça foi finalmente inundada pelo Zinfandel e o vinho era maravilhoso! Incrivelmente bom, com excelente drincabilidade! O vinho que degustei e gostei veio da Califórnia, nos Estados Unidos, e se chama Delicato, da casta popular Zinfandel, safra 2013. Não posso, diante desse momento deixar de falar da Califórnia e dos seus grandes rebentos viníferos.

Califórnia, a tradicional região do Novo Mundo

A produção vinícola na Califórnia teve inicio há mais de 240 anos, com as missões da corte espanhola que tinha como objetivo a ocupação territorial. As missões eram formadas por uma capela, um anexo e os vinhedos para produção do vinho da missa. Vinte e uma missões foram fundadas entre San Diego, no sul, e Sonoma, no norte, durante os 60 anos seguintes, originando os nomes de diversas cidades da Califórnia: Santa Bárbara, Santa Lucia, San José, Santa Cruz. Com o tempo muitas missões tornaram-se ruínas, mas a costa californiana tinha sido transformada em um jardim de videiras. Com a chamada Corrida do Ouro, na segunda metade do século XIX, a costa oeste dos Estados Unidos teve um grande crescimento populacional e a demanda por vinho acompanhou esse crescimento. Consequentemente, a área para o plantio e cultivo das uvas aumentou exponencialmente, assim como os investimentos nos vinhedos, fazendo com que a produção de vinhos se estabelecesse definitivamente na região. Em 1870, as principais vinícolas da Califórnia hoje conhecidas mundialmente, já existiam, produzindo vinhos de qualidade.

Depois dos três países mais tradicionais na vitivinicultura internacional, França, Itália e Espanha, a Califórnia é o maior produtor de vinho no mundo, isto é, a quarta potência no que se refere ao cultivo, produção e comercialização da bebida em todo o planeta. Os números são impressionantes: o ensolarado estado da costa oeste norte-americana é responsável por mais de 90% da produção vinícola dos Estados Unidos, e, todo o ano, recebe a visita de cerca de 20 milhões de pessoas em suas principais regiões produtoras, que além de tudo oferecem ótimas alternativas de turismo para os apreciadores do vinho.

Mas nem sempre foi assim. Por volta de 1890, a praga conhecida como Phylloxera Vastatrix, que devastou grande parte dos vinhedos ao redor do mundo, chegou à Califórnia, e freou a indústria vinícola na região. Em 1920 veio a Lei Seca que proibiu as bebidas alcoólicas e interrompeu mais uma vez o processo de crescimento da produção de vinhos e o valor patrimonial das vinícolas pioneiras desabaram. A produção só foi retomada lentamente após a sua abolição, em 1933, com novos empreendedores surgindo e iniciando a uma nova fase da vitivinicultura californiana. Entretanto, só na década de 60 é que os exigentes consumidores de Los Angeles, San Francisco e outras cidades californianas começaram a buscar uma fonte local de vinhos finos, dando um verdadeiro impulso à essa indústria.

Napa Valley e Sonoma Valley são as duas principais regiões de produção vinícola na Califórnia, somente nelas existem mais de 800 vinícolas. A região da Napa concentra o maior numero de vinícola no mundo, e produz vinhos de categoria elevada; a região de Sonoma, por sua vez, é conhecida por fornecer uvas de grande qualidade para a produção de vinhos em outras regiões. Mendocino, Monterey, Paso Robles, Russian River Valley, Dry Creek Valley, Alexander Valley também são regiões vitivinicultoras bastante conhecidas na Califórnia.

Califórnia

O clima na Califórnia pode ser classificado como tipicamente mediterrâneo com dias ensolarados e noites frescas, mas grande parte dessas regiões tem seu micro clima específico, o que facilita o cultivo de uvas ou produção de tipo de vinhos também de forma muito específica e particular; cada região acaba se especializando em uma determinada variedade de uva ou vinho por causa disso. A região de Santa Barabara, por exemplo, é conhecida por suas tintas Pinot Noit e Syrah, apesar de cultivar a branca Chardonnay de forma bem sucedida. Uma das características que fazem da Califórnia um respeitado polo da vitivinicultura no mundo, é a sua grande variedade de uvas e vinhos. Há cerca de cem variedades de uvas plantadas no estado, cada uma com aroma e sabor próprios, que, associados ao tipo de clima e solo onde são cultivadas, produzem vinhos de ótima qualidade. As principais variedades cultivadas nas suas regiões vinícolas são: Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot, Pinot noir, Sauvignon blanc, Syrah e Zinfandel (típica da Califórnia). Os vinhos californianos, por sua vez, variam de características e preço, podendo de ir de sabor simples e frutado a intenso e concentrado, mas sempre com qualidade elevada.

E agora falemos do vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos violáceos muito brilhantes, límpidos, com uma razoável abundância de formação de lágrimas finas.

No nariz as frutas negras é a tônica, uma verdadeira explosão aromática, as frutas vermelhas também se fazem evidentes, com notas florais agradáveis, de especiarias picantes e destacados toques de chocolate, de baunilha, graças a sua passagem por barricas de carvalho, cujo tempo não foi informado pelo produtor.

Na boca é seco, aveludado e elegante, apesar de mostrar uma boa estrutura, com um ótimo volume de boca, corroborando a sua personalidade. Tem taninos macios, mas presentes, um toque amadeirado, com a presença de um discreto toque de torrefação, uma acidez equilibrada e correta, com um final persistente e retrogosto frutado.

Foi um momento de felicidade! Há quem diga que não somos felizes e que temos “surtos” ou momentos de alegria. Não quero agora entrar em pormenores quanto a essa frase, mas naquelas horas em que degustei o Delicato foi especial! Me senti feliz, alegre naquelas horas. Um vinho de ótimo custo X benefício que me mostrou que degustar um bom californiano, um bom Zinfandel, não precisa sacrificar o seu curto orçamento com valores tão altos. Um vinho versátil, saboroso, redondo, muito equilibrado, mas de marcante personalidade e ótima vocação gastronômica. Esse foi o californiano Delicato! Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Delicato Family Wines:

Delicato Family Wines é uma das empresas de vinho de crescimento mais rápido nos Estados Unidos e uma vinícola familiar com quase um século de história de cultivo de uvas na Califórnia e de elaboração de vinhos de qualidade superior. Ancorada por um foco de longo prazo, a família Indelicato infundiu sua cultura de integridade, trabalho árduo e altos padrões na estrutura da empresa de vinhos dinâmica que construíram.  Três gerações da família Indelicato conduziram a vinícola à posição que ocupa hoje, começando com Gaspare Indelicato. Emigrante da Sicília, Itália, Gaspare Indelicato plantou o primeiro vinhedo Delicato em Manteca, Califórnia, em 1924 - uma área que o lembrava de sua terra natal. Com os três filhos fundou uma adega, construindo uma sólida reputação na produção de vinhos de qualidade.

Hoje, a 3ª geração da família está envolvida na produção de vinho. Hoje, os vinhedos cobrem 100 hectares de videiras em Napa, Lodi, Monterey e Sonoma, Califórnia. Muitos vinhos brancos e tintos são produzidos sob o rótulo Delicato - Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Pinot Grigio, Shiraz, White Zinfandel e Merlot, que atendem à demanda dos consumidores por vinhos agradáveis ​​e modernos adequados para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:

https://www.delicato.com/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/california-o-paraiso-dos-vinhos-no-novo-mundo/#:~:text=Hist%C3%B3ria,serem%20utilizados%20em%20seus%20ritos.

“Buono Vino”: https://buonovino.com/historia-do-vinho/vinhos-californianos-o-coracao-da-viticultura-norteamericana/

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CALIFORNIA

Degustado em: 2017