terça-feira, 21 de julho de 2020

Marquês de Marialva Colheita Seleccionada tinto 2014


Sempre ouvi maravilhas sobre a região portuguesa da Bairrada. Mas me parecia distante degustar um vinho dessa região. Não sabia dizer ao certo, talvez pela pouca oferta de rótulos aqui no Brasil ou talvez pelo valor elevado dos únicos que aqui tinham disponíveis para venda. Sempre li ou ouvi enófilos e especialistas falarem da Bairrada e sua casta emblemática de lá, a Baga. Pensei: Será que vou degustar um vinho dessa região? Que dificuldade encontrar um vinho de lá! Mas em uma de minhas incursões aos supermercados sem intenção alguma encontrei um rótulo com o nome “Bairrada” estampado em grande destaque. Parecia ser um orgulho daquele produtor em vinificar naquelas bandas. Então decidi examinar melhor o vinho e foi assim que começou a minha jornada, ainda apenas no começo, as minhas experiências com essa terra fantástica com vinhos de excelente tipicidade. Foi o meu primeiro vinho da Bairrada, um tinto da Adega Cooperativa de Cantanhede, uma das mais conhecidas e importantes vinícolas daquela região.

O vinho que degustei e gostei foi o Marquês de Marialva colheita selecionada tinto com um blend das castas Baga (50%), Tinta Roriz (30%) e Touriga Nacional (20%) da safra 2014. Cortes de castas tradicionais da região e de toda Portugal e foi com esse assemblage que o vinho ganhou em potencialidade, enaltecendo em tipicidade. Que vinho! Que rótulo! Mas já que a Bairrada ganhou destaque em meu humilde texto, claro que falarei um pouco sobre a região e também a sua casta mais popular, a Baga.

Bairrada e a Baga

Há registros que desde o século X e elaborado vinhos na região. Em 1867, cientista António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1867, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada. Destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho. O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante em 1890. E foi com os espumantes que a região conquistou o mundo. Frutados, com um toque mineral e boa estrutura esses vinhos tornaram-se referencias e, até hoje, fazem da Bairrada uma das maiores regiões produtoras de espumantes de Portugal. Com o passar do tempo, as criações tintas ganharam espaço. Muito por conta do que os produtores têm feito com a Baga, casta autóctone da região. A Baga possui enorme importância para a região da Bairrada e ocupa 50% de toda a extensão de vinhedos da área, seguida, em grau de importância pelas uvas tintas Touriga Nacional, Castelão e Aragonez.

Bairrada

Os vinhos brancos também são muito elegantes e com bom corpo, classificados entre os melhores exemplares de Portugal. Lá se encontram as castas autóctones Arinto, Rabo de Ovelha, Maria Gomes e Bical. Alguns produtores modernos têm utilizado outras castas portuguesas e internacionais com resultados excepcionais. A Bairrada é, sem dúvidas, uma das maiores fontes de grandes vinhos de Portugal, como os celebrados do produtor Manuel Campolargo e Luiz Pato, bem como os históricos vinhos brancos e tintos do Palácio do Buçaco. O clima da região é temperado e estável, tanto no inverno quanto no verão, contribuindo para a qualidade das vinhas cultivadas. Já os solos podem variar de um extremo a outro da região, sendo que os de maior representatividade na Bairrada são os que demonstram características arenosas, ainda que o tipo argiloso seja predominante na região portuguesa. O nome “Bairrada” deriva de “barrentos”, uma associação à quantidade de barro encontrada no solo onde as vinhas são cultivadas.

Agora vamos ao vinho!

Na taça tem um vermelho rubi escuro, intenso, límpido e brilhante, mas com bonitos entornos violáceos. Tem lágrimas em média intensidade que demora um pouco a se dissipar das paredes do copo, fazendo um bonito desenho.

No nariz tem uma predominância de frutas vermelhas maduras, com agradáveis notas de especiarias, de pimentão, com ligeiros toques de madeira graças aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é igualmente frutado, bem estruturado, de personalidade marcante, mas macio e fácil de degustar. Diria que a Touriga Nacional “abrandou” a Baga graças ao equilíbrio percentual das duas castas no blend tendo a Tinta Roriz trazendo o toque de frutas vermelhas. Apresenta taninos presentes, mas sedosos e acidez correta. Tem um discreto toque de baunilha com um fundo amadeirado. Tem persistente final, com um retrogosto frutado.

Um vinhaço! Uma proposta direta, diria até simples, mas que, como um Denominação de Origem Controlada (DOC) como todo vinho da região da Bairrada, mostrou personalidade, intensidade aromática e no paladar. Um bom começo em minha “viagem” na Bairrada e que já resultou em outras gratas experiências que espero em breve registrar por aqui. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Cooperativa de Cantanhede:

A constituição da Adega Cooperativa de Cantanhede acontece no ano de 1954, fruto da vontade de um grupo de viticultores empenhado em criar condições para valorizar e rentabilizar o elevado potencial que já então reconheciam aos vinhos produzidos no terroir de Cantanhede. Neste concelho, onde a viticultura remonta ao tempo dos romanos, encontramos a principal mancha vitícola da Região Demarcada da Bairrada. Atualmente com cerca de 1400 viticultores associados, representando uma área total de vinha de 2000 Ha, esta adega é o maior produtor da região, representado 25 a 30% da produção. A sua dimensão e consequente responsabilidade que assume no contexto da região demarcada onde se insere, desde cedo exigiu que o caminho a seguir fosse o de valorizar as castas características da região, apostando na produção de vinhos com maior qualidade. Inicialmente comercializados exclusivamente a granel, após apenas 9 anos depois da sua fundação e contra todas as correntes do sector cooperativo de então, esta adega inicia, pioneiramente, a venda dos seus vinhos engarrafados procurando uma alternativa para a diferenciação dos vinhos de Cantanhede. A estratégia adoptada não demorou a dar frutos. Hoje esta adega certifica mais de metade da sua produção com a Denominação de Origem Bairrada, assumindo uma destacada liderança neste segmento e, mais recentemente também nos Vinhos Regional Beiras. Hoje a sua política produtiva assenta num pressuposto basilar que passa por uma forte aposta nas castas portuguesas, particularmente da Bairrada, sua defesa, promoção e divulgação.

Mais informações acesse:
Quem quiser conhecer um pouco mais da cultura vitivinícola da Bairrada segue link do site “Rota da Bairrada”:


Fontes para a história da Bairrada e da casta Baga:



Degustado em: 2019






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