Sabe aquele vinho que encontramos no fundo da gôndola,
empoeirado, sem destaque algum no supermercado que, por uma ordem do instinto,
um chamamento do coração, pegamos e, quando degustamos nos arrebata em uma
surpresa agradável? Pois é, uma das grandes alegrias de um humilde enófilo é
investir em vinhos subestimados, geralmente baratos, e ter um retorno
espetacular e improvável. Isso corrobora uma máxima, diria, de que vinho barato
não deve ser encarado como um vinho ruim, mas apenas uma proposta diante de
tantas que temos no universo infindável de vinhos.
O vinho que degustei e gostei veio do Chile, da região do
Valle Central, o 120, reserva especial, tradicional linha de rótulos da
igualmente tradicional Viña Santa Rita, da casta Sauvignon Blanc, ou melhor, segundo
o site do produtor, conta com um corte de 98% de Sauvignon Blanc e apenas 2% de
Semillón. Mas de acordo com uma legislação chilena, as castas que compõe um
baixo percentual na composição do blend ou corte do vinho, não é informada nos
seus rótulos. Para mais informações leia: Qual a diferença entre blend e varietal?
Na taça conta com um amarelo palha com reflexos esverdeados e
brilhantes.
No nariz aromas intensos de frutas brancas frescas como
abacaxi, melão, maçã verde e pêra, com um agradável toque floral que já
denuncia um frescor e leveza.
Na boca se confirma as impressões olfativas com uma acidez
agradável, e um agradável final frutado de média intensidade.
A linha 120, como diz no site da vinícola, entrega, com
maestria, a simplicidade, a nobreza de entregar o vinho na sua expressão mais
genuína, sobretudo no tocante as características da cepa, um vinho leve,
fresco, para ser degustado jovem, de forma despretensiosa, desfrutando com
amigos e harmonizando com comidas leves como frituras, carnes brancas e massas
leves, sem condimentos fortes. Um vinho sensacionalmente surpreendente. Não
posso dizer categoricamente isso, mas essa safra, 2016, deve ter sido muito
especial, o vinho estava soberbo, muito equilibrado e harmonioso, talvez a
sinergia entre o clima e a mão humana foi determinante para esse belo vinho.
Tem 12% de teor alcoólico.
A história do rótulo “120”:
Em 1814, um grupo de soldados do movimento de independência,
após a Batalha de Rancágua, procurou abrigo e refúgio na Hacienda de Paine que
era uma propriedade agrícola que remonta antes mesmo da efetiva fundação da
Viña Santa Rita, em 1880. Paula Jaraquemada, proprietária e defensora do
movimento e ciente da proximidade dos espanhóis, protegeu os 120 soldados no
porão da sede da fazenda, salvando suas vidas. Não à toa, uma das principais
linhas da Santa Rita é o rótulo 120, em alusão aos soldados. Na ilustração abaixo, do início do século XIX, mostra Paula
Jaraquemada sendo interrogada por soldados da Coroa Espanhola, em busca dos 120
soldados pró-independência.
A independência do Chile foi obtida em 1818, e a “Hacienda”
viveu dias tranquilos a partir de então. Os anos se passaram e, em paralelo, no
ano de 1880, o empresário chileno Domingos Fernández Concha fundara a Viña
Santa Rita.
Sobre a Viña Santa Rita:
A Vinícola Santa Rita foi fundada em 1880 por Domingo
Fernández Concha, destacado empresário e homem público da época. Dom Domingo
introduziu finas cepas francesas nos privilegiados solos do Vale do Maipo e
incorporou maquinaria especializada, o que somado à contratação de enólogos da
mesma nacionalidade lhe permitiu produzir vinhos com técnicas e resultados
muito superiores aos tradicionalmente obtidos no Chile, mudando a forma de
elaborar vinhos em nosso país. Desde o final do século XIX e até meados do decênio de 1970, a vinícola
funcionou sob o controle da família García Huidobro, iniciando com Dom Vicente
García Huidobro, genro de Dom Domingo Fernández Concha, quem continuou com o
legado e ideais do fundador. No ano de
1980 o Grupo Claro e a empresa Owens Illinois, principal produtora de
embalagens de vidro do mundo, adquirem parte do patrimônio da Vinícola Santa
Rita. A chegada do Grupo Claro significou um forte impulso para a empresa. Na
área produtiva foram introduzidos significativos avanços tecnológicos e
técnicas de elaboração de vinhos desconhecidos até então no Chile. Da mesma forma,
foi fortemente impulsionada a criação de novas linhas de vinhos; no ano de 1982
inicia-se a linha 120 e em 1985 começa a exportação de vinhos chilenos para
distintos mercados do mundo. O crescimento da Santa Rita ocorreu também a
partir da aquisição de marcas de prestígio no mercado como Carmen, em 1987. Em
1988, o Grupo Claro assume a propriedade total da Vinícola Santa Rita.
Inicia-se um período de grande expansão da vinícola, transformando-se em
sociedade anônima aberta em 1990. Seu crescimento se baseou no forte impulso às
exportações e na excelente reputação de seus vinhos, os quais obtiveram
importantes prêmios. Na década de 90 se iniciou investimentos significativos em
todos os processos. Em todos os processos, destacando-se a área enológica, na qual
foram incorporados novos equipamentos, tanques de aço inoxidável e barris de
carvalho francês e americano. Na área agrícola consolidou-se a aquisição e
plantação de mais de 1000 hectares nos mais importantes vales da
vitivinicultura chilena: Maipo, Colchagua e Casablanca. Os mais de 135 anos nos
quais a Vinícola Santa Rita tem trabalhado na elaboração de vinhos lhe
propiciaram acumular uma vasta experiência, que sem dúvida repercute na
qualidade de seus produtos, qualidade esta mantida inalterável com o passar do
tempo e que seguirá surpreendendo consumidores em cada canto do mundo.
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