quarta-feira, 15 de abril de 2020

120 Reserva Especial Sauvignon Blanc 2016


Sabe aquele vinho que encontramos no fundo da gôndola, empoeirado, sem destaque algum no supermercado que, por uma ordem do instinto, um chamamento do coração, pegamos e, quando degustamos nos arrebata em uma surpresa agradável? Pois é, uma das grandes alegrias de um humilde enófilo é investir em vinhos subestimados, geralmente baratos, e ter um retorno espetacular e improvável. Isso corrobora uma máxima, diria, de que vinho barato não deve ser encarado como um vinho ruim, mas apenas uma proposta diante de tantas que temos no universo infindável de vinhos.

O vinho que degustei e gostei veio do Chile, da região do Valle Central, o 120, reserva especial, tradicional linha de rótulos da igualmente tradicional Viña Santa Rita, da casta Sauvignon Blanc, ou melhor, segundo o site do produtor, conta com um corte de 98% de Sauvignon Blanc e apenas 2% de Semillón. Mas de acordo com uma legislação chilena, as castas que compõe um baixo percentual na composição do blend ou corte do vinho, não é informada nos seus rótulos. Para mais informações leia: Qual a diferença entre blend e varietal?

Na taça conta com um amarelo palha com reflexos esverdeados e brilhantes.

No nariz aromas intensos de frutas brancas frescas como abacaxi, melão, maçã verde e pêra, com um agradável toque floral que já denuncia um frescor e leveza.

Na boca se confirma as impressões olfativas com uma acidez agradável, e um agradável final frutado de média intensidade.

A linha 120, como diz no site da vinícola, entrega, com maestria, a simplicidade, a nobreza de entregar o vinho na sua expressão mais genuína, sobretudo no tocante as características da cepa, um vinho leve, fresco, para ser degustado jovem, de forma despretensiosa, desfrutando com amigos e harmonizando com comidas leves como frituras, carnes brancas e massas leves, sem condimentos fortes. Um vinho sensacionalmente surpreendente. Não posso dizer categoricamente isso, mas essa safra, 2016, deve ter sido muito especial, o vinho estava soberbo, muito equilibrado e harmonioso, talvez a sinergia entre o clima e a mão humana foi determinante para esse belo vinho. Tem 12% de teor alcoólico.

A história do rótulo “120”:

Em 1814, um grupo de soldados do movimento de independência, após a Batalha de Rancágua, procurou abrigo e refúgio na Hacienda de Paine que era uma propriedade agrícola que remonta antes mesmo da efetiva fundação da Viña Santa Rita, em 1880. Paula Jaraquemada, proprietária e defensora do movimento e ciente da proximidade dos espanhóis, protegeu os 120 soldados no porão da sede da fazenda, salvando suas vidas. Não à toa, uma das principais linhas da Santa Rita é o rótulo 120, em alusão aos soldados. Na ilustração abaixo, do início do século XIX, mostra Paula Jaraquemada sendo interrogada por soldados da Coroa Espanhola, em busca dos 120 soldados pró-independência.



A independência do Chile foi obtida em 1818, e a “Hacienda” viveu dias tranquilos a partir de então. Os anos se passaram e, em paralelo, no ano de 1880, o empresário chileno Domingos Fernández Concha fundara a Viña Santa Rita.

Sobre a Viña Santa Rita:

A Vinícola Santa Rita foi fundada em 1880 por Domingo Fernández Concha, destacado empresário e homem público da época. Dom Domingo introduziu finas cepas francesas nos privilegiados solos do Vale do Maipo e incorporou maquinaria especializada, o que somado à contratação de enólogos da mesma nacionalidade lhe permitiu produzir vinhos com técnicas e resultados muito superiores aos tradicionalmente obtidos no Chile, mudando a forma de elaborar vinhos em nosso país. Desde o final do século XIX e até meados do decênio de 1970, a vinícola funcionou sob o controle da família García Huidobro, iniciando com Dom Vicente García Huidobro, genro de Dom Domingo Fernández Concha, quem continuou com o legado e ideais do fundador.  No ano de 1980 o Grupo Claro e a empresa Owens Illinois, principal produtora de embalagens de vidro do mundo, adquirem parte do patrimônio da Vinícola Santa Rita. A chegada do Grupo Claro significou um forte impulso para a empresa. Na área produtiva foram introduzidos significativos avanços tecnológicos e técnicas de elaboração de vinhos desconhecidos até então no Chile. Da mesma forma, foi fortemente impulsionada a criação de novas linhas de vinhos; no ano de 1982 inicia-se a linha 120 e em 1985 começa a exportação de vinhos chilenos para distintos mercados do mundo. O crescimento da Santa Rita ocorreu também a partir da aquisição de marcas de prestígio no mercado como Carmen, em 1987. Em 1988, o Grupo Claro assume a propriedade total da Vinícola Santa Rita. Inicia-se um período de grande expansão da vinícola, transformando-se em sociedade anônima aberta em 1990. Seu crescimento se baseou no forte impulso às exportações e na excelente reputação de seus vinhos, os quais obtiveram importantes prêmios. Na década de 90 se iniciou investimentos significativos em todos os processos. Em todos os processos, destacando-se a área enológica, na qual foram incorporados novos equipamentos, tanques de aço inoxidável e barris de carvalho francês e americano. Na área agrícola consolidou-se a aquisição e plantação de mais de 1000 hectares nos mais importantes vales da vitivinicultura chilena: Maipo, Colchagua e Casablanca. Os mais de 135 anos nos quais a Vinícola Santa Rita tem trabalhado na elaboração de vinhos lhe propiciaram acumular uma vasta experiência, que sem dúvida repercute na qualidade de seus produtos, qualidade esta mantida inalterável com o passar do tempo e que seguirá surpreendendo consumidores em cada canto do mundo.

Mais informações acesse:

https://www.santarita.com/pt/

Vinho degustado em 2017.


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