Sabe quando você olha vinhos de determinadas regiões ou
castas e percebe ou chega a triste conclusão de que nunca irá degustar? Pois é,
foi assim que eu sempre encarei os vinhos da emblemática região da Califórnia
nos Estados Unidos. Quando tive os primeiros contatos, lendo sobre os vinhos
californianos, primeiramente me surpreendeu. Sempre tive a percepção de que os
grandes vinhos repousassem em terras europeias, tais como França, Espanha,
Portugal, Itália etc. Uma visão pré-concebida caiu, afinal Estados Unidos tem
sim grandes e tradicionais regiões produtoras de vinhos.
Mas com a descoberta surgiu uma desilusão: percebi quer nunca
iria degustar um grande rótulo californiano! Os preços disponíveis no mercado
eram astronômicos! Há pouco mais de 10 anos não eram muitos rótulos
disponíveis, é bem verdade, logo deduzi que os valores altos eram, também, por
conta desse panorama, além dos altos tributos impostos nos vinhos em terras
brasileiras, mas atualmente, os valores continuam demasiadamente altos e arrisco
dizer que mais alto do que há pouco mais de 10 anos atrás! Então a desilusão
bateu de forma implacável! Conheço a região, um pouco das suas histórias, mas
não terei acesso aos seus rótulos.
Porém sempre procurei um vinho que pudesse ter um ótimo custo
X benefício, nunca desisti de procurar, apesar de não alimentar maiores
expectativas acerca desse momento. Em mais uma de minhas incursões aos
supermercados, como sempre, acabei encontrando um rótulo que me interessou pelo
seu curioso nome, mas que, a priori, não sabia de que região era, país ou coisa
parecida. Mas quando vi estampado no rótulo a sua casta, logo percebi que se
tratava de um vinho norte americano: a Zinfandel. A casta mais emblemática e
importante daquele país. Vi também que era californiano. Então me pus a
procurar, com certa ansiedade, pois estava difícil de encontrar, mal
sinalizado, e quando avistei o preço estava bastante convidativo, pelo menos à
época, em torno dos R$ 45,00!
Mas diante da alta média dos valores que via R$ 45,00 era
demasiadamente baixo e, confesso que fiquei um tanto quanto receoso quanto a
qualidade, mais um preconceito de minha parte, afinal, valor não determina
qualidade, mas decidi compra-lo mesmo assim. E decidi degusta-lo o quanto
antes, tamanha era a animação de degustar um californiano. A rolha finalmente
se desprendeu da sua garrafa, o momento ritualístico foi seguido, a taça foi
finalmente inundada pelo Zinfandel e o vinho era maravilhoso! Incrivelmente
bom, com excelente drincabilidade! O vinho que degustei e gostei veio da
Califórnia, nos Estados Unidos, e se chama Delicato, da casta popular
Zinfandel, safra 2013. Não posso, diante desse momento deixar de falar da
Califórnia e dos seus grandes rebentos viníferos.
Califórnia, a tradicional região do Novo Mundo
A produção vinícola na Califórnia teve inicio há mais de 240
anos, com as missões da corte espanhola que tinha como objetivo a ocupação
territorial. As missões eram formadas por uma capela, um anexo e os vinhedos
para produção do vinho da missa. Vinte e uma missões foram fundadas entre San
Diego, no sul, e Sonoma, no norte, durante os 60 anos seguintes, originando os
nomes de diversas cidades da Califórnia: Santa Bárbara, Santa Lucia, San José,
Santa Cruz. Com o tempo muitas missões tornaram-se ruínas, mas a costa
californiana tinha sido transformada em um jardim de videiras. Com a chamada
Corrida do Ouro, na segunda metade do século XIX, a costa oeste dos Estados
Unidos teve um grande crescimento populacional e a demanda por vinho acompanhou
esse crescimento. Consequentemente, a área para o plantio e cultivo das uvas
aumentou exponencialmente, assim como os investimentos nos vinhedos, fazendo
com que a produção de vinhos se estabelecesse definitivamente na região. Em
1870, as principais vinícolas da Califórnia hoje conhecidas mundialmente, já
existiam, produzindo vinhos de qualidade.
Depois dos três países mais tradicionais na vitivinicultura
internacional, França, Itália e Espanha, a Califórnia é o maior produtor de
vinho no mundo, isto é, a quarta potência no que se refere ao cultivo, produção
e comercialização da bebida em todo o planeta. Os números são impressionantes:
o ensolarado estado da costa oeste norte-americana é responsável por mais de
90% da produção vinícola dos Estados Unidos, e, todo o ano, recebe a visita de
cerca de 20 milhões de pessoas em suas principais regiões produtoras, que além
de tudo oferecem ótimas alternativas de turismo para os apreciadores do vinho.
Mas nem sempre foi assim. Por volta de 1890, a praga
conhecida como Phylloxera Vastatrix,
que devastou grande parte dos vinhedos ao redor do mundo, chegou à Califórnia,
e freou a indústria vinícola na região. Em 1920 veio a Lei Seca que proibiu as
bebidas alcoólicas e interrompeu mais uma vez o processo de crescimento da
produção de vinhos e o valor patrimonial das vinícolas pioneiras desabaram. A
produção só foi retomada lentamente após a sua abolição, em 1933, com novos
empreendedores surgindo e iniciando a uma nova fase da vitivinicultura
californiana. Entretanto, só na década de 60 é que os exigentes consumidores de
Los Angeles, San Francisco e outras cidades californianas começaram a buscar
uma fonte local de vinhos finos, dando um verdadeiro impulso à essa indústria.
Napa Valley e Sonoma Valley são as duas principais regiões de
produção vinícola na Califórnia, somente nelas existem mais de 800 vinícolas. A
região da Napa concentra o maior numero de vinícola no mundo, e produz vinhos
de categoria elevada; a região de Sonoma, por sua vez, é conhecida por fornecer
uvas de grande qualidade para a produção de vinhos em outras regiões.
Mendocino, Monterey, Paso Robles, Russian River Valley, Dry Creek Valley,
Alexander Valley também são regiões vitivinicultoras bastante conhecidas na
Califórnia.
O clima na Califórnia pode ser classificado como tipicamente
mediterrâneo com dias ensolarados e noites frescas, mas grande parte dessas
regiões tem seu micro clima específico, o que facilita o cultivo de uvas ou
produção de tipo de vinhos também de forma muito específica e particular; cada
região acaba se especializando em uma determinada variedade de uva ou vinho por
causa disso. A região de Santa Barabara, por exemplo, é conhecida por suas
tintas Pinot Noit e Syrah, apesar de cultivar a branca Chardonnay de forma bem
sucedida. Uma das características que fazem da Califórnia um respeitado polo da
vitivinicultura no mundo, é a sua grande variedade de uvas e vinhos. Há cerca
de cem variedades de uvas plantadas no estado, cada uma com aroma e sabor
próprios, que, associados ao tipo de clima e solo onde são cultivadas, produzem
vinhos de ótima qualidade. As principais variedades cultivadas nas suas regiões
vinícolas são: Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot, Pinot noir, Sauvignon
blanc, Syrah e Zinfandel (típica da Califórnia). Os vinhos californianos, por
sua vez, variam de características e preço, podendo de ir de sabor simples e
frutado a intenso e concentrado, mas sempre com qualidade elevada.
E agora falemos do vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso com reflexos
violáceos muito brilhantes, límpidos, com uma razoável abundância de formação
de lágrimas finas.
No nariz as frutas negras é a tônica, uma verdadeira explosão
aromática, as frutas vermelhas também se fazem evidentes, com notas florais
agradáveis, de especiarias picantes e destacados toques de chocolate, de
baunilha, graças a sua passagem por barricas de carvalho, cujo tempo não foi
informado pelo produtor.
Na boca é seco, aveludado e elegante, apesar de mostrar uma
boa estrutura, com um ótimo volume de boca, corroborando a sua personalidade.
Tem taninos macios, mas presentes, um toque amadeirado, com a presença de um
discreto toque de torrefação, uma acidez equilibrada e correta, com um final
persistente e retrogosto frutado.
Foi um momento de felicidade! Há quem diga que não somos
felizes e que temos “surtos” ou momentos de alegria. Não quero agora entrar em
pormenores quanto a essa frase, mas naquelas horas em que degustei o Delicato
foi especial! Me senti feliz, alegre naquelas horas. Um vinho de ótimo custo X
benefício que me mostrou que degustar um bom californiano, um bom Zinfandel,
não precisa sacrificar o seu curto orçamento com valores tão altos. Um vinho
versátil, saboroso, redondo, muito equilibrado, mas de marcante personalidade e
ótima vocação gastronômica. Esse foi o californiano Delicato! Tem 13,5% de teor
alcoólico.
Sobre a Delicato Family Wines:
Delicato Family Wines é uma das empresas de vinho de
crescimento mais rápido nos Estados Unidos e uma vinícola familiar com quase um
século de história de cultivo de uvas na Califórnia e de elaboração de vinhos
de qualidade superior. Ancorada por um foco de longo prazo, a família
Indelicato infundiu sua cultura de integridade, trabalho árduo e altos padrões
na estrutura da empresa de vinhos dinâmica que construíram. Três gerações da família Indelicato conduziram
a vinícola à posição que ocupa hoje, começando com Gaspare Indelicato.
Emigrante da Sicília, Itália, Gaspare Indelicato plantou o primeiro vinhedo
Delicato em Manteca, Califórnia, em 1924 - uma área que o lembrava de sua terra
natal. Com os três filhos fundou uma adega, construindo uma sólida reputação na
produção de vinhos de qualidade.
Hoje, a 3ª geração da família está envolvida na produção de
vinho. Hoje, os vinhedos cobrem 100 hectares de videiras em Napa, Lodi,
Monterey e Sonoma, Califórnia. Muitos vinhos brancos e tintos são produzidos
sob o rótulo Delicato - Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Pinot Grigio, Shiraz,
White Zinfandel e Merlot, que atendem à demanda dos consumidores por vinhos
agradáveis e modernos adequados para qualquer ocasião.
Mais informações acesse:
Referências:
“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/california-o-paraiso-dos-vinhos-no-novo-mundo/#:~:text=Hist%C3%B3ria,serem%20utilizados%20em%20seus%20ritos.
“Buono Vino”: https://buonovino.com/historia-do-vinho/vinhos-californianos-o-coracao-da-viticultura-norteamericana/
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=CALIFORNIA
Degustado em: 2017
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