domingo, 6 de setembro de 2020

JP Azeitão tinto 2017


Esse vinho já não é nenhuma novidade para mim. Contudo por não ser novidade que o vinho é ruim ou coisa que valha muito pelo contrário! É um vinho estupendo, surpreendentemente ótimo! Um vinho básico da emblemática e tradicional vinícola Bacalhôa, mas que faz frente a qualquer medalhão por aí. Em 2018 ele me veio duplamente. Uma boa amiga, sabendo que sou um enófilo, mas advertiu sobre uma imperdível promoção de um vinho da região de Setúbal em um supermercado que estava sendo inaugurado. Quando ela me disse o valor não hesitei em pedi-la para comprar: R$ 18,90! Um eu fui gentilmente presenteado e o outro eu comprei. Na realidade era para comprar três rótulos da linha: rosé, tinto e o branco, mas veio, como disse, dois tintos e um rosé. Foi por acidente ter vindo dois tintos da mesma safra, mas, como um bom e honesto degustador de vinhos, não se pode rejeitar nenhum rótulo, independente das circunstâncias.

O vinho que degustei e gostei foi o JP Azeitão com um blend das castas Syrah (45%), Castelão (31%) e Aragonez (24%) da safra 2017, da fantástica região da Península de Setúbal. Mas antes de falar da segunda garrafa que degustei vou falar da primeira e da experiência que tive.

Quando o abri, em 5 de janeiro de 2019, já fui surpreendido pelo aroma delicado e agradável de fruta, frutas vermelhas em compota, lembrando morango e cerejas, por exemplo, o mesmo se reproduzindo no paladar, com uma estrutura tânica fresca, suave e com um final frutado e de alguma persistência.

JP Azeitão tinto degustado em Janeiro de 2019

Então, extasiado, decidi abrir a segunda garrafa em um momento especial, porque apesar, como disse, de ser um vinho básico da vinícola, se revela muito bom e honesto, dotado de uma personalidade marcante para a sua proposta, o que me surpreendeu positivamente, diria arrebatadora. Então o momento chegou. Um reencontro com um velho e bom amigo propiciou o momento deste belo JP Azeitão ser degustado, então, após o seu carinhoso convite a ir para sua casa, escolhi este vinho para compartilhar com ele. Mas antes de falar, com o devido prazer, de novo, desse belo vinho, preciso falar da história do Palácio da Bacalhôa, onde está a sede da Quinta da Bacalhôa.

A Quinta da Bacalhôa

é uma antiga propriedade da Casa Real Portuguesa. A quinta com o famoso Palácio da Bacalhoa - também conhecido como Palácio dos Albuquerques - situa-se na freguesia de Azeitão, Concelho de Setúbal, mais precisamente na pequena aldeia de Vila Fresca de Azeitão. É considerada a mais formosa quinta da primeira metade do século XVI, ainda existente em Portugal. 

Palácio dos Albuquerques

No século XV pertenceu, como quinta de recreio, a João, Infante de Portugal, filho do rei D. João I. Herdou-a sua filha D. Brites, casada com o segundo Duque de Viseu e mãe do Rei D. Manuel I. Ainda existentes os edifícios, os muros com torreões de cúpulas aos gomos e também o grande tanque foram beneficiações mandadas construir por D. Brites. Esta quinta viria a ser vendida em 1528 a Brás de Albuquerque, filho primogénito de Afonso de Albuquerque. O novo proprietário, além de ter enriquecido as construções com belos azulejos, mandou construir uma harmoniosa «casa de prazer», junto ao tanque, e dois robustos pavilhões, juntos aos muros laterais. Nos finais do século XVI, esta quinta fazia parte de morgadio pertencente a D. Jerónimo Teles Barreto — descendente de Afonso de Albuquerque. Este morgadio — em que estava incluída a Quinta da Bacalhoa — viria a ser herdado por sua irmã, D. Maria Mendonça de Albuquerque, casada com D. Jerónimo Manuel — da Casa da Atalaia — conhecido pela alcunha de “Bacalhau”. É muito provável que o nome de “Bacalhoa”, pelo qual veio a ficar conhecida a antiga Quinta de Vila Fresca, em Azeitão, tenha tido origem no facto de a mulher de D. Jerónimo Manuel também ser designada da mesma forma sarcástica. Esta quinta ficou consagrada entre os tesouros artísticos de Portugal. Após uma grande disputa judicial entre os descendentes, o morgado ficou para D. José Francisco da Costa de Sousa e Albuquerque (1740-1802), armeiro mor do Reino e armador mor do Rei, casado com Maria José de Sousa de Macedo, 2.ª viscondessa de Mesquitella, 5.ª baronesa de Mullingar (Reino Unido). O Morgado ficaria na família Mesquitella (posteriormente condes de Mesquitella e duques de Albuquerque), assim como os títulos palatinos de armeiro mor e armador mor do Reino e do Rei, até princípios do século XX. Tendo, naturalmente, sofrido algumas modificações, no decurso dos seus cinco séculos de existência, conserva ainda as abóbadas ogivais dos seus tempos mais remotos, o palácio com janelas ao estilo renascentista, os cubelos representativos da Via Sacra e elementos cerâmicos decorativos, do século XVI. Nos azulejos encontra-se a data de 1565 e a assinatura do ceramista Francisco de Matos. Medalhões de faiança de origem flamenga emolduram bustos de significação histórica. Em 1936, o Palácio da Bacalhoa foi comprado e restaurado por uma norte-americana, Orlena Scoville, cujo neto se incumbiu da missão de tornar a quinta num dos maiores produtores de vinho de Portugal. Mais tarde o Palácio e a Quinta da Bacalhôa pertenceram a José Antônio Borges. Atualmente a Quinta da Bacalhôa pertence à Fundação Berardo, liderada pela família Berardo, a nona mais rica de Portugal, cujo patriarca é o madeirense José Berardo.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com reflexos violáceos, muito límpido e brilhante com lágrimas em profusão desenhando as paredes do copo.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras, como ameixa, cereja, frutas em compotas, com notas de especiarias.

Na boca é seco, frutado, leve, mas, ao mesmo tempo, tem uma personalidade marcante, com taninos presentes, mas domados, uma boa acidez que o torna vivaz e fresco, com um final frutado e persistente.

Pois é, um vinho que sempre te surpreende que te traz novas percepções, que te traz celebrações e alegria a cada taça servida. Um vinho fresco, leve, mas de presença marcante para a sua proposta e que harmoniza com momentos descontraídos, com amigos em uma boa conversa, mas harmoniza também com pratos leves e simples, uma refeição, uma comida caseira e gostosa ou degusta-lo sozinho também. Tem teor alcoólico de 13% muito bem integrado ao conjunto do vinho. Ah o meu amigo também gostou e muito do vinho! Missão cumprida!

Sobre a Quinta da Bacalhôa:

Bacalhôa Vinhos de Portugal foi  fundada em 1922, sob a denominação João Pires & Filhos, daí o nome do vinho “JP Azeitão”. Em 1998 o controle da empresa foi comprado por José Berardo, que adquiriu novas propriedades e celebrou um acordo de parceria com o grupo Lafitte Rothschild. No ano de 2008 o grupo Lafitte Rothschild adquiriu uma participação na empresa, que adquiriu mais propriedades e uma participação maioritária na vinícola Aliança. Sua sede está localizada na histórica. O Comendador José Berardo, sendo o principal acionista,  prosseguiu com a missão da empresa, investindo no plantio de novas vinhas, na modernização das adegas e na aquisição de novas propriedades, junto com a imprescindível parceria com o Grupo Lafitte Rothschild na Quinta do Carmo. Em 2007 a Bacalhôa tornou-se a maior acionista na Aliança, um dos produtores mais prestigiados nas categorias de espumantes de alta qualidade, aguardentes e vinhos de mesa. No ano seguinte, a empresa comprou a Quinta do Carmo, aumentando assim para 1200ha de vinhas a sua exploração agrícola. A Bacalhôa dispõe de adegas nas regiões mais importantes de Portugal: Alentejo, Península de Setúbal (Azeitão), Lisboa, Bairrada, Dão e Douro. O projeto implementado nas diversas quintas sob o tema “Arte, Vinho, Paixão” visa surpreender as expectativas mais exigentes. Das vinhas ao vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem a tradição e modernidade, com exposições artísticas diversas, da pintura à escultura, nunca esquecendo as magníficas obras naturais. Com uma capacidade total de 20 milhões de litros, 15.000 barricas de carvalho e uma área de vinhas em produção de cerca de 1.200 hectares, a Bacalhôa Vinhos de Portugal prossegue a sua aposta na inovação no sector, tendo em vista a criação de vinhos que proporcionem experiências únicas e surpreendentes, com uma elevada qualidade e consistência. A Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A., uma das maiores e mais inovadoras empresas vinícolas em Portugal, desenvolveu ao longo dos anos uma vasta gama de vinhos que lhe granjeou uma sólida reputação e a preferência de consumidores nacionais e internacionais. Presente em 7 regiões vitícolas portuguesas, com um total de 1200ha de vinhas, 40 quintas, 40 castas diferentes e 4 centros vínicos (adegas), a empresa distingue-se no mercado pela sua dimensão e pela autonomia em 70% na produção própria. A cada uma das entidades que constituem a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. - Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e Quinta dos Loridos - corresponde um centro de produção com características próprias e um património com intrínseco valor cultural. É à dinâmica gerada pelo cruzamento destas várias identidades, explorada com recurso à tecnologia mais atual e aos conhecimentos de uma equipa de renome, que a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. deve a sua capacidade única no competitivo mercado português de oferecer o vinho perfeito para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:


Fonte para pesquisa da história do Palácio da Bacalhôa:





sábado, 29 de agosto de 2020

Mula Velha tinto 2017


Tem certos vinhos que te cativam pela sua história, antes mesmo da grata experiência da degustação. Eu comecei a degustar os vinhos da região de Lisboa pela sua história, pelas características de sua região, pelas suas castas típicas. Eu, como ávido leitor sobre as coisas relacionadas ao vinho, decidi enveredar nas pitorescas histórias dos vinhos lisboetas e, claro, fui à busca de rótulos da referida região. Encontramos com relativa facilidade nos supermercados e sites de compras especializados, mas ainda não há uma diversidade de opções como o Alentejo, por exemplo. Mas com uma boa pesquisa, um bom garimpo, conseguimos encontrar vinhos com ótimo custo X benefício, outros nem tanto, afinal, em um país como o nosso, que tributa, de forma abusiva, os vinhos, lamentavelmente se tornou normal. Passei a degustar os rótulos que encontrava e, cada vez mais, passava a gostar desses belos lisboetas. E este vinho, em especial, consegue aliar, com maestria, os dois quesitos: qualidade e história. Um vinho tradicional e emblemático que personifica a história da região.

O vinho que degustei e gostei é claro, vem de Lisboa, Portugal, e se chama Mula Velha, tinto, com um blend tipicamente da região das castas Touriga Nacional (35%), Aragonez (35%) e Castelão (30%) e a safra é 2015. E já que falei de história, este vinho carrega um pouco dos primórdios da vitivinicultura lusitana que vale muito a pena conhecer.

Por que “Mula Velha”?

O nome do vinho é uma homenagem ao que foi considerado como o braço direito do homem na agricultura no passado, a mula. Muito utilizada em tarefas que requeriam força e resistência, tanto como meio de transporte, como na agricultura para lavrar os campos. Descendente do cruzamento entre um burro e uma égua, combinando as melhores características das suas origens: a sobriedade, paciência e o passo seguro do burro, com o vigor e a força da égua. A histórica propriedade Quinta do Gradil absorveu, nos anos de 1990 os vinhedos da Parras Vinhos, e desde então passou a produzir seus tintos e brancos. O Mula Velha, um tinto que já foi bem popular nos anos de 1900-1920, mas que desde a Grande Guerra deixou de ser produzido. Quando a família Gomes Vieira adquiriu a quinta e todos os seus vinhedos, resolveu reeditar o Mula Velha, uma tradição lisboeta.

A região de Lisboa

A região vinícola de Lisboa, também era conhecida como Estremadura e tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião. Ainda sofre influencia direta da capital do país localizada em um extremo da região. O conflito entre a vida urbana e a rural foi intensificado a partir do século XIX com a industrialização e recentemente pelo sistema viário que liga Lisboa a Leiria. Toda a região mantém de forma relevante as unidades de espaço designadas ainda no período romano, as quintas (subunidades de uma vila). As quintas em sua quase totalidade estão voltadas para a produção do vinho. A história revela que Fenícios trouxeram mudas da Síria e as introduziram na Foz do Tejo e as vinhas se adaptaram bem. A região ficou sob o domínio dos mouros durante quatro séculos e depois de retomada foi reorganizada para recuperar a produção vinícola.

Região de Lisboa

A região dispõe de grande pluralidade de condições de cultivo. Desta variedade, zonas de maior vocação são encontradas e é onde as diversas castas de uvas são utilizadas na produção de vinhos com denominação, regionais, leves, de mesa e licorosos, além de aguardente bagaceira e vínica, espumantes e de uso na mesa. A região é dividida em nove sub-regiões sendo a maioria Denominações de Origem. Próximo a Lisboa, no sul estão Colares, Bucelas e Carcavelos. Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos ocupam a parte central e Encostas D’Aire ao norte.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos e muito brilhantes, com lágrimas finas e em média intensidade que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz traz a evidência de frutas vermelhas maduras com um toque de especiarias, que me remete a ervas.

Na boca também é frutado e com notas especiadas e de couro, com taninos presentes, mas muito sedosos, tendo médio corpo, mas fácil de degustar e uma boa acidez que faz do vinho fresco e jovial. Tem um final de média persistência.

Um belo vinho que alia muito frescor, caracterizado pela fruta, sem soar enjoativo e pela agradável acidez, aliado ao médio corpo com alguma personalidade, revelando harmonia e equilíbrio, envolto em um atrativo valor. Pena não ser muito fácil encontrá-lo nos supermercados e lojas especializadas apesar de ser um vinho tradicional e popular em Portugal. Um vinho também muito versátil nas harmonizações, mas que também pode ser degustado sozinho, sem acompanhamentos. Tem 13% de teor alcoólico muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Quinta do Gradil:

Não muito distante do sopé da vertente poente da Serra de Montejunto, entre Vilar e Martim Joanes, está instalada a Quinta do Gradil. Considerada uma das mais antigas, senão a mais antiga, herdade do concelho do Cadaval, a Quinta do Gradil tem uma forte tradição vitivinícola que se prolonga desde há séculos. A propriedade é composta por uma capela nobre ornamentada por um torreão artisticamente decorado, um núcleo habitacional, uma adega e uma área agrícola de 200 hectares ocupados com produções vinícolas e frutícolas. A Quinta do Gradil foi adquirida, nos finais dos anos 90, pelos netos de António Gomes Vieira, precursor da tradição de vinhos na família desde 1945. Os novos proprietários iniciaram, em 2000, o processo de reconversão de toda a área de vinha primando por castas de maior qualidade. A adega sofreu melhoramentos, estando projetada uma reformulação profunda nos próximos 2 anos, e as cocheiras recuperadas deram lugar a uma sala de tertúlias. O palacete e capela, em fase muito avançada de degradação aquando da aquisição da Quinta pelos novos proprietários, foram limpos e contam agora com um projecto ambicioso de recuperação, sendo que a herdade tem marcas históricas seculares e constitui um marco arquitetônico significativo. As mais antigas referências documentais encontradas sobre a Quinta do Gradil remontam ao final do século XV, num documento Régio. Em de 14 de Fevereiro de 1492, data do documento, D. Martinho de Noronha recebeu de D. João II a carta de doação da jurisdição e rendas do Concelho do Cadaval e da Quinta do Gradil. Por ocasião da ascensão de D. Manuel I ao trono português e a sua atuação a favor dos membros da Casa de Bragança, a Quinta do Gradil torna a ser referenciada na confirmação de doação concedida por D. Manuel I a D. Álvaro de Bragança, irmão mais novo do 3º Duque de Bragança, D. Fernando II, que acusado de traição foi mandado degolar por D. João II, em 1483. A Quinta terá sido adquirida pelo Marquês de Pombal por ocasião do movimento que a partir de 1760 levou à ocupação de terras municipais, admitindo-se que já na altura contasse com o cultivo de vinha, fator que terá sido decisivo para o estadista que criou a Companhia das Vinhas do Alto Douro. Manteve-se na pretensa da família até meados do século XX, quando foi comparada por Sampaio de Oliveira. Já nos finais dos anos 90 que os atuais proprietários, a família Vieira, adquirem a herdade.



Sobre a Parras Wines:

A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010, atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo os que estão além-fronteiras. Descendente de um pai e de um avô que sempre trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada. Na mesma região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro, Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.

Mais informações acesse:


Fonte de pesquisa sobre a região de Lisboa:





terça-feira, 25 de agosto de 2020

Miolo Reserva Tannat 2015


Tem vinícolas que fazem parte da nossa vida, da nossa caminhada de enófilo. As histórias parecem se completar, se complementar. Sabe aquela simbiose em que falamos que o vinho de um produtor não pode faltar na nossa adega? Pois é, é exatamente dessa forma que a Miolo faz parte da minha vida há pelo menos 20 anos! Os seus rótulos foram os primeiros que degustei na transição dos vinhos de mesa, aqueles famosos vinhos de garrafão, para os vinhos finos, produzidos por uvas vitiviníferas. Como todo enófilo brasileiro, esses períodos fazem parte de nossa história de degustador. E lá esteva a Miolo nos momentos mais emblemáticos: Miolo Seleção, os vinhos da Terranova, os espumantes, os brancos, os tintos...Todos eles foram imprescindíveis! E quando decidi enveredar nos Tannats brasileiros, não se enganem que só há bons Tannats uruguaios, um dos primeiros que degustei, adivinhem: foi da Miolo.

Então o vinho que degustei e gostei veio da Campanha Gaúcha, um dos mais importantes terroirs do Brasil, da casta Tannat e é o Miolo Reserva da safra 2015. Um dos primeiros contatos com o Tannat brasileiro mais impactante e avassalador dos que eu degustei até agora.

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e escuro, mas com um reluzente e belo brilho. Lágrimas finas e em abundância que insistia em desenhar as paredes do copo.

No nariz traz a lembrança de aromas de frutas vermelhas bem maduras, como cereja, por exemplo, com notas inusitadas, mas agradáveis de menta, que traz um frescor, uma leveza.

Na boca é seco, intenso, encorpado, com a repetição das notas frutadas, com taninos gulosos, presentes, mas sedosos, com uma boa acidez e um final frutado e persistente.

Esse vinho definitivamente para a minha história e descortinou a evidência de que os Tannats brasileiros estão na crista da onda, sendo muito bem feitos, com a cara do Brasil, com a nossa tipicidade, sem soar ou plagiar os icônicos vinhos uruguaios. E por falar em Uruguai, o Miolo Reserva Tannat tem participado anualmente de um concurso dos melhores rótulos da casta realizado nas terras uruguaias e sempre vem abocanhando medalhas, atestando que sim, os brasileiros estão fazendo ótimos Tannats. O Miolo Reserva Tannat é poderoso, de personalidade forte, mas fácil de degustar, mostrando equilíbrio sendo eclético nas harmonizações que vai de uma simples refeição a um bom churrasco. Teor alcoólico de 13,5% e sem passagem por barricas de carvalho. Vinhaço!

Sobre a Vinícola Miolo:

A história da família Miolo no Brasil começa em 1897. Entre os milhares de imigrantes italianos que vieram ao país em busca de oportunidades, estava Giuseppe Miolo, um jovem que já tinha nas veias a paixão pela uva e pelo vinho, vindo da localidade de Piombino Dese, no Vêneto. Ao chegar ao Brasil, Giuseppe foi para Bento Gonçalves, de um pedaço de terra no vale dos vinhedos, chamado Lote 43. Já em 1897, o imigrante começou a plantar uvas, dando início a tradição vitícola da família no Brasil. Na década de 70, a família foi pioneira no plantio de uvas finas, fazendo com que os netos de Giuseppe Miolo, Darcy, Antônio e Paulo, ficassem muito conhecidos na região pela qualidade de suas uvas. No final da década de 80, uma crise atingiu as cantinas dificultando a comercialização de uvas finas e forçando a família Miolo, a partir de 1989, a produzir o seu próprio vinho para a venda a granel para outras vinícolas. Surge a Vinícola Miolo, com apenas 30 hectares de vinhedos. Em 1992 a primeira garrafa assinada pela família foi um Merlot safra 1990, que na partida inicial teve 8 mil garrafas produzidas. Em 1994 é lançado o Miolo Seleção, que logo se torna o vinho mais distribuído da Miolo. Inicia-se em 1998 o Projeto Qualidade. Desde então o crescimento da empresa foi significativo: com investimentos constantes na terra, tecnologia, recursos humanos e no próprio consumidor, iniciou-se também o Projeto de Expressão do Terroir Brasileiro.

Aquisições da Miolo

Instalado na Estância Fortaleza do Seival, localizada no Sul do Brasil, no município de Candiota, próximo à divisa com o Uruguai. A Família Miolo juntamente com a família Benedetti (Lovara) iniciam o projeto Terranova no Vale do São Francisco, adquirindo a antiga propriedade do Sr. Mamoro Yamamoto chamada Fazenda Ouro Verde. A família Miolo, juntamente com a familia Benedetti e a familia Randon adquirem a Vinicola Almadén pertencente a Pernod Ricard. A Vinícola Almadén, uma das mais importantes do segmento de vinhos no mercado nacional, introduziu a colheita mecânica.

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Degustado em: 2017



sábado, 22 de agosto de 2020

Traversa Chardonnay 2018


Atualmente tenho investido fortemente em degustações de rótulos de castas pouco populares e difíceis de encontrar em terras brasileiras. Regiões também estão no meu rol de prioridades, bem como castas sendo produzidas e vinificadas em regiões que jamais você esperaria encontrar. Pois bem esse vinho se enquadra em todos os quesitos que mencionei e digo mais: se puxarmos pela memória elencaria esse vinho em vários outros quesitos pouco usuais em minha história de enófilo, de um simples apreciador da nobre bebida. Talvez esteja com um portfólio aquém do que espera para achar que o rótulo que degusto hoje, mas o fato é que estou radiante com o rótulo de hoje e mais feliz ainda pelo valor atrativo que paguei por ele. Pasmem: R$ 22,00! Já adianto que é um Chardonnay! Agora vem a pergunta: a rainha das castas brancas, pouco popular? Claro que não! Uma das mais cultivadas do planeta e uma das mais famosas, como popular! Mas esse veio do Uruguai, da região de Montevidéu, de sua capital. Já digo de antemão: Um Chardonnay uruguaio é um achado, pelo menos para mim! Um chileno, um argentino, um brasileiro, a gente encontra com facilidade, mas um uruguaio? Ah esse, com orgulho, irei falar e, claro, degustar!

Então o vinho que degustei e gostei veio, como disse do Uruguai, da região de Montevidéu, e se chama Traversa, da casta Chardonnay (100%), da safra 2018. E sem parecer sugestionável ou envolvido por um êxtase que cega aos olhos, digo sem medo de ser feliz que o vinho é maravilhoso! Surpreendentemente positivo aos meus sentidos! O meu primeiro vinho branco uruguaio veio arrasando quarteirão! E como não me contento com a degustação, que já é fantástico, busquei mais informações sobre o cenário dos vinhos brancos no Uruguai e encontrei algumas gratas novidades.

Os brancos uruguaios

Boa variedade de estilos, tipos de vinificação, e boa diversidade de cepas permitem levar à mesa rótulos que antes não existiam acompanhados de pratos ligeiramente a medianamente encorpados.Desde o fresco, herbáceo e cítrico Sauvignon Blanc – um vinho que no Uruguai promete e que já conta com muitos seguidores – até os mais clássicos Chardonnays – às vezes fermentados em barricas, a elegância e finesse são de nominadores comuns nesses brancos saborosos e muitas vezes versáteis nas harmonizações. Porém não apenas tipos clássicos dão o que falar atualmente. Também exclusividades como o Torrontés e o Albariño agradam consumidores locais e do mundo todo, que ávidos por provarem novos sabores, uma vez os aprovem, acabam maravilhados com esses brancos diferentes e intrigantes, incorporando esses vinhos a seus rótulos do dia-a-dia. Condições geoclimáticas, especialmente no sul do Uruguai, fazem com que a região reúna fatores imprescindíveis para se obtiver bons brancos. Outro capítulo merecem os espumantes, ainda escassos se considerarmos apenas os que conseguiram alcançar um nível de qualidade que os coloque entre os melhores do mundo. Mesmo assim, o país conta com alguns poucos excelentemente bem elaborados e que demonstram que no Uruguai também se pode alcançar um verdadeiro champenoise quando assim se propõe. Agora, se há algo que realmente chama a atenção, é que nem sempre um vinho expressa o seu melhor quando jovem. Depende, claro, do estilo, da forma como é elaborado, e da forma como é conservado. Aspectos que todo bom enófilo leva em conta. Já sobre a gastronomia que acompanha esses líquidos, ainda que aquela regra que diz que “vinho branco acompanha carne branca, peixes e frutos do mar” deva ser respeitada, nem sempre são essas as melhores opções para esses vinhos modernos, que acompanham uma variedade maior de pratos, permitindo um prazeroso desfrute durante a refeição. Qual é o motivo pelo qual o Uruguai apresenta tanta aptidão para a produção de vinhos brancos? Uma simples resposta explica esta questão: as condições geoclimáticas contribuem para que o terroir – especialmente no sul do Uruguai – reúna os fatores imprescindíveis para se obter vinhos brancos elegantes. Temperaturas moderadas que são influenciadas diretamente por grandes massas de água – como é o caso do Rio da Prata – com influência marítima e grande amplitude térmica, somadas ao fato de que na temporada de colheita é comum que nesta região do país chova mais do que o necessário. Todas essas características fazem com que variedades com ciclo de maturação curto (como é o caso da Sauvignon Blanc, por exemplo) se beneficiem e acabem oferecendo o frescor, a acidez e as notas cítricas tão buscadas nesse estilo de vinho. Vinhos brancos que, diferentemente dos produzidos pela Argentina e Chile – dois países onde a vitivinicultura é praticada em clima semi-desértico –, se expressam com grande potencial de fruta fresca, sem dar lugar a notas de fruta cozida e sobrematuração que, às vezes, conspiram contra a tipicidade varietal.

E finalmente falemos do vinho!

Na taça apresenta um amarelo palha com reflexos esverdeados.

No nariz uma explosão aromática de frutas brancas, tropicais como abacaxi, pera, maçã verde, com notas de flores brancas, um vinho que, apesar de muito aromático, é delicado ao nariz.

Na boca é fresco, mas de personalidade marcante, com certo corpo, um bom volume de boca que nos faz salivar de tão saboroso, um toque muito agradável de cremosidade, apesar de discreta, com boa acidez e um curioso e discreto toque amadeirado. No site oficial do produtor, em sua descrição, não menciona passagem por madeira, mas traz essa impressão.

A experiência com o Traversa Chardonnay foi catártica! Um vinho com excelente custo X benefício, um belo exemplar de Chardonnay sul americano, moderno, com belíssima drincabilidade, com tipicidade, com identidade própria e que não segue preceitos do Velho Mundo ou coisa que valha. Um vinho fresco, leve, jovem, mas com personalidade, ousado, com uma cremosidade corroborando suas características encorpadas. Um vinho versátil, eclético, que harmoniza sim com queijos leves, carnes brancas, mas arrisco que “aguente” uma carne mais encorpada, uma massa como um macarrão, uma pizza ou algo do tipo. 

Traversa Chardonnay com um queijo minas

Um vinho que, apesar de barato, nos faz dedicar um bom tempo para analisa-lo, falando, escrevendo sobre ele, ostentando como um troféu esse belo vinho. Teor alcoólico de incríveis 14%, mas muito bem integrados ao conjunto do vinho.

Sobre a Família Traversa:

Esta empresa, com as suas vastas vinhas e fábricas de processamento de vinho, conta com a presença constante da Família Traversa. Sessenta anos de muito trabalho e três gerações que sustentam a qualidade dos seus vinhos. Cada novo plantio e manutenção, processamento, embalagem e distribuição de vinho, marketing e atendimento ao cliente são sempre supervisionados por um membro da família. Assim são e ambicionam qualidade, e este é o resultado do trabalho da Família Traversa. A história desta família é o legado de bondade e esperança que estão unidos nas vinhas e há três gerações. Em 1904, Carlos Domingo Traversa veio para o Uruguai com seus pais. Filho de imigrantes italianos, foi em sua juventude peão rural em fazendas de vinhedos, e em 1937 com sua esposa, Maria Josefa Salort, conseguiu comprar cinco hectares de terras em Montevidéu. Suas primeiras plantações de uvas de morango e moscatel foram em pequena escala. Em 1956 fundou a adega com os seus filhos, Dante, Luis e Armando, que hoje com os seus netos têm muito orgulho de continuar o seu sonho. A atitude constante de crescimento contínuo, com dedicação e desenvolvimento levou a vinícola a ser um exemplo de moagem em todo o país e os seus vinhedos um exemplo do vinho uruguaio. Em mais de 240 hectares próprios, as variedades plantadas são: Tannat, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Mais informações acesse:


Fonte de pesquisa para o cenário dos vinhos brancos no Uruguai:





quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Jacob's Creek Classic Syrah 2015


Decidi surpreender um amigo que estava enveredando para o mundo do vinho. O convidei para vir à minha casa e queria ajuda-lo a adentrar, com algum estilo, ao universo do vinho. A ideia era fazer com um rótulo pouco usual, fugir um pouco do óbvio de determinados países ou regiões produtoras. Lembro-me que na época, há cerca de 3 anos atrás, aproximadamente, quando fiz esse convite ao meu estimado amigo, a Austrália ainda era uma novidade para mim, embora, nessa época, eu já tinha alguma “rodagem” como enófilo. A Austrália sempre foi difícil encontrar em terras brasileiras. Não havia tantas opções de rótulos e propostas e as poucas que tinham os valores eram demasiadamente altos. Bem, ainda o é nos dias atuais, mas a gente consegue, garimpando com um pouco mais de dedicação, encontrar alguns rótulos legais a preços mais acessíveis para bolsos desprovidos de capital. E, quando estava escolhendo o vinho, lembrei-me de um vinho que tinha visto em um supermercado grande e conhecido na minha cidade, de um australiano que me recomendaram, principalmente pela ótima relação custo X benefício  e corri para o local para compra-lo e o encontrei!

O vinho que degustei e gostei, como disse, vem da Austrália, cuja região é Barossa Valley, no sul da Austrália e é o Jacob’s Creek, um 100% Syrah, da safra 2015. Antes de falar do vinho, convém lembrar que, logo após a degustação deste vinho, eu repeti a dose, degustando a mesma linha de rótulos, mas foi o corte das castas Cabernet Sauvignon e Syrah, típico blend australiano, da safra 2014 e pode ser lido aqui: Jacob's Creek Classic Cabernet/Syrah 2014. Falemos também da região de Barossa Valley.

Barossa Valley.

O Barossa Valley é a região produtora de vinhos mais antiga do sul da Austrália. Ao contrário de outras regiões vinícolas, influenciadas pelos ingleses, a produção de vinhos no Barossa Valley foi iniciada por imigrantes alemães, fugidos da região prussiana da Silésia (hoje, Polônia). Embora a Austrália seja famosa por seu Cabernet Sauvignon, em Barossa Valley o destaque fica para a produção de intensos e longevos exemplares de Shiraz.

Barossa Valley

Em sua história, o Barossa Valley começou sua produção de vinhos com o Riesling, devido à influência alemã, chegando a produzir o estilo porto por um certo tempo, até que começou a ganhar fama com a elaboração de um Shiraz encorpado, com notas intensas de chocolate e especiarias. A acidez das uvas produzidas no Barossa Valley precisa ser equilibrada através de diversos processos, como a inversão osmótica ou a adição de água ao mosto. Por outro lado, a separação da casca em fases iniciais da fermentação ajuda a dar ao vinho de Barossa Valley um paladar suave.

E agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi intenso, escuro, mas, por outro lado com um reluzente brilhante, com lágrimas em boa quantidade tingindo as paredes do copo, da taça.

No nariz traz aromas agradáveis de frutas vermelhas maduras, como amora, com notas de chocolate amargo e um discreto tostado. No site do produtor não tem informação sobre passagem por barricas de carvalho e tão pouco nos rótulos, mas tais características apresentadas no aroma, tudo indica que tenha tido uma breve passagem por madeira.

Na boca é seco, típico da Syrah, bem como aquele atraente picante, com corpo médio, mas muito elegante e macio, com taninos presentes, porém sedosos, com uma boa acidez que entrega um vinho fresco, jovem e saboroso. Tem um final longo, agradável e com muita fruta.

Pois é, meu amigo gostou muito do vinho, eu me apaixonei, ainda mais, pelos vinhos australianos e pelo Syrah que lá é produzido. E esse Jacob’s Creek Classic é redondo, equilibrado, de personalidade marcante, mas fresco, fácil de degustar. Harmoniza muito bem com carnes, massas, pizza e arriscaria em dizer que, caso queira ser um pouco mais ousado, um bom hambúrguer de carne bem passada. Um vinho super versátil. Tem 13,9% de teor alcóolico muito bem integrados.

Sobre a Orlando Wines:

A história remonta à chegada de um imigrante visionário da Baviera, o alemão Johann Gramp. Gramp, impulsionado pela saudade dos vinhos de sua terra natal, a Baviera (hoje parte da Alemanha), que o levou a plantar, em 1847, algumas vinhas em seu novo lar, às margens de um riacho em Rowland Flat, na região de Barossa Valley, sul da Austrália.  Sua intenção inicial era a de produzir vinhos que revelassem a identidade da área, agregando em seus sabores e aromas, o melhor do clima e das condições físicas da região. Da pequena vinícola saíram as primeiras garrafas, que ganharam fama e logo alavancaram um negócio, levado adiante por seus filhos e expandido pelas gerações seguintes.

O rótulo Jacob’s Creek:

O famoso riacho que encabeçou a marca fica a uma distância de 80 quilômetros ao Norte da cidade de Adelaide. Após a fundação da vinícola, com o nome de Orlando Wines, Gramp resolveu adotar o nome do riacho para seus rótulos, ficando por isso conhecida como Vinícola Jacob’s Creek, isso em 1976. “Creek” em inglês significa “riacho”. Reconhecida como um verdadeiro ícone da indústria australiana, os vinhos de Jacob’s Creek são intensos e de uma elegância implacável.

Atualmente parte do grupo Pernod Ricard, é uma das principais vinícolas não apenas em seu país, mas também no mundo. Com tintos e brancos com expressões distintas, a vinícola vem produzindo, de maneira muito consistente, ótimos exemplares ao longo dos anos. Seus vinhos são fruto de verdadeira excelência na produção, o que já lhes rendeu premiações importantes como em 2008, quando ganhou o título de vinícola mais premiada do mundo. Ao todo, já são mais de 7 mil prêmios conquistados (vale repetir: são sete mil prêmios), pela alta qualidade dos vinhos produzidos pela vinícola. Esse panorama de sucesso foi o responsável por elevar a Austrália a um ótimo nível de reputação internacional, no tocante a excelência de seus vinhos.

Mais informações acesse:


Fonte para a pesquisa sobre Barossa Valley:


Degustado em: 2017








sábado, 15 de agosto de 2020

Ventisquero Reserva Carménère e Syrah 2015


Acredito fortemente que tradição e modernidade podem sim, se complementar, ter uma simbiose, um potencializando o outro. Claro que a tradição vem primeiro! Todo vinho se torna emblemático quando tem a personificação do seu terroir, a assinatura de sua tipicidade, da cultura da terra desenhando as características mais marcantes de um vinho, é como degustar uma região, um país, é como se tudo isso, embora seja de uma complexidade inimaginável de entender, estivesse em uma taça para nosso deleite em uma agradável degustação celebrando rituais. O contemporâneo traz o frescor, doses delicadas de novidade, de novos prazeres e experiências que torna o vinho arrojado e dinâmico, o tempero da novidade nos surpreende positivamente, sem soar datado e previsível. Foi o que aconteceu com a minha degustação de hoje. Uma casta, emblemática e importante de um país, considerado como o Novo Mundo entre os grandes produtores espalhados pelo mundo, mas que ostenta uma tradição ilibada, mas que, neste rótulo expressou todo frescor da novidade, todo o arrojo de que falei nas linhas desse texto. Afinal a Carménère no Chile é o DNA vitivinícola deste país.  É o que o projeta para o alto, para longe, fazendo do mesmo, um dos recantos da cultura do vinho.

Então parte do “mistério” do vinho que degustei e gostei já foi desvendado, e o desfecho vem com o seu nome, que traz o nome de uma das mais importantes vinícolas do Chile nos últimos 20 anos e que traz na sua filosofia a preocupação com o novo, sem desviar suas intenções da essência e do terroir. Falo da Viña Ventisquero com o seu Ventisquero Reserva com o corte de Carménère (85%) e Syrah (15%) da safra 2015, da região, também emblemática, do Vale do Colchagua, que ostenta uma DO (Denominação de Origem). Um vinho que definitivamente me surpreendeu pela austeridade, pelo corpo e estrutura, mas que traz um arrojado frescor e maciez, tornando-o moderno, equilibrado e muito, muito elegante. Mas antes de falar do vinho, vou falar, brevemente, sobre a importante Vale do Colchagua para a vitivinicultura chilena.

Vale do Colchagua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale do Colchagua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade. Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos. Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena. O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi com reflexos violáceos brilhantes com lágrimas finas em profusão que desenham as paredes do copo por algum tempo até se dissipar.

No nariz trazem fantásticos aromas de frutas negras e maduras como ameixas e amoras, com toques florais e de baunilha e notas terrosas.

Na boca se reproduz, de forma maravilhosa, as notas frutadas, sendo estruturado, com alguma complexidade, taninos presentes, mas aveludados, com uma boa acidez que confere ao vinho muito frescor, apesar de ser encorpado, com discretas notas amadeiradas e de chocolate, graças aos 70% do vinho ter passado por 10 meses em barricas de carvalho, mais 3 meses em garrafa. Final persistente e frutado.

A linha reserva da Ventisquero, em especial esse corte fantástico da Carménère com a Syrah, castas que são verdadeiros ícones no Chile, trouxeram uma combinação especial para este vinho. Mostra um vinho frutado, fresco, saboroso, mas de grande personalidade, estruturado, carnudo, fácil de degustar, sendo ainda harmonioso, redondo e elegante. Harmoniza muito bem com massas, carnes, queijos semi duros e diria uma refeição. Um vinho versátil e com um teor alcoólico de 13% muito bem integrados.

Sobre a Viña Ventisquero:

Liderada por uma equipe jovem, criativa e empreendedora, em 1998 começou  produção da Viña Ventisquero, sob o slogan “um passo além”. A ideia foi elaborar vinhos de alta qualidade, vanguardistas e modernos, combinados com uma nova maneira de se comunicar com o público-alvo e os processos de marketing. Ela é apenas um dos ramos de poderosa holding chamada Agrosuper, que comercializa carne, frango, porco, peru, frutas, embutidos, além de vinho. Criada em 1998 por Gonzalo Vial, a vinícola tem hoje 1.500 hectares de vinhedos em diferentes regiões como os vales de Casablanca, do Maipo, de Rapel, de Colchagua e de Apalta. O nome Ventisquero deriva de um glaciar, massa de gelo que se concentra nas montanhas. Da mão do enólogo-chefe, Felipe Tosso, a vinícola surgiu em 2003 no Maipo Costa, área onde nasceram os primeiros vinhos. Depois de três anos, foram dados novos passos no Vale de Casablanca e no Vale de Colchágua, mais precisamente no Vale de Apalta, berço dos vinhos de alta gama da Ventisquero. Uma das características da vinícola é a preocupação com o meio ambiente, desde o plantio, que obedece à agricultura orgânica, até a redução de emissões de CO2 nos transportes de seus vinhos. Outra é a alta tecnologia que permite à equipe de enólogos acompanharem todo o processo do vinho. Outro fator que concorre para a qualidade dos vinhos é a disponibilidade de recursos. Só um açude construído no meio dos vinhedos para captar a água dos Andes custou dois milhões e meio de dólares. Buscando consolidar qualidade, se aventuraram a criar vinhos ícones com John Duval, um dos mais prestigiados enólogos da Austrália e do mundo. Com vinhedos nas melhores áreas vitivinícolas do Chile (Lolol é um exemplo), e um forte trabalho de pesquisa em terroir, o desafio foi oferecer a melhor qualidade e consistência nos vinhos Ventisquero. Com escritórios nos EUA, Espanha, Inglaterra e Japão e presença em mais de 55 países, é uma das cinco vinícolas mais importantes do Chile.

Mais informações acesse:


Fonte para pesquisa sobre o Vale do Colchagua:




quarta-feira, 12 de agosto de 2020

O gosto amargo do vinho


Quando decidimos abrir uma garrafa de vinho, normalmente o fazemos através de um ritual agradável e sistemático. Deve ser um momento prazeroso, pelo menos para quem se dedica um pouco mais sobre o mundo cultural do vinho. Sistemático, pela escolha, porque nem sempre estamos no clima de bebermos algo mais complexo, por aquele varietal mais ácido ou mesmo um vinho excessivamente equilibrado… enfim, decidimos pelo momento, companhia, meditação ou algo que iremos harmonizar. Esse momento agradável deveria ser perfeito, entretanto, não rara às vezes, temos surpresas desagradáveis, como é o caso de vinhos com forte sensação de amargor.

Para alguns especialistas, o gosto amargo no vinho não é bem vindo, nem para os que o produzem e muito menos para aqueles que o consomem. É tarefa do enólogo (quem produz o vinho) tentar evitar o amargor no vinho.

A sensação do sabor amargo no vinho deve ser imperceptível para vinhos brancos e tintos jovens e frutados. No entanto, em determinados tintos envelhecidos pode aparecer ao paladar um discreto fundo "amargo". Isso ocorre devido a oxidação dos taninos ao longo do tempo.

Nesses casos o que acaba disfarçando essa sensação de amargor é o álcool. É por isso que geralmente vinhos com teor alcoólico acima de 12,5% envelhecem bem.


Mas em outros casos, o gosto amargo pode ser um "defeito do vinho". Vamos para alguns exemplos:

1 - Defeito de elaboração: onde acaba ocorrendo um inicio precoce da fermentação por ferimento das uvas no transporte entre o vinhedo e a cantina;

2 - Outro caso, é quando por questões econômicas, acaba-se aproveitando (ainda que parcialmente) os cachos de uvas que apodreceram. Nesse caso, há formação de fungos e bolores, os quais acabam destruindo as substâncias aromáticas e transmitindo ao vinho o sabor amargo.

Amargor é normal?

Há quem diga que o amargor não é um defeito do vinho, pelo menos em determinados vinhos e propostas. Como é o caso do afamado Amarone italiano, um vinho estiloso e caro, elaborado na maioria das vezes com três castas especiais: corvina, rondinella e molinara, negrara às vezes. Essa sensação de amargor é, principalmente sentida, durante o retrogosto e considerada normal. Tudo é cabível, desde que não haja exageros. Também poderá acontecer da adstringência de um vinho muito jovem ou mal elaborado se confundir com o amargor, e isso é igualmente comum. Já os vinhos envelhecidos, do mesmo modo, poderão exibir leve amargor diante dos taninos oxidados, conforme já mencionado no texto.

Amargor e adstringência

Ao degustarmos um vinho, o sabor amargo e a sensação de adstringência se misturam. E, em linhas gerais, ambos são produzidos pelos polifenóis da uva, os taninos. Um vinho tânico tem consistência, estrutura e continuidade. Porém, taninos demais o vinho fica duro e grosseiro.

Vinhos brancos, por exemplo, com menos taninos, são menos amargos. Mas, mesmo sem amargor, podem ser também adstringentes, pois a adstringência vem mais dos taninos dos cabos e das sementes do que das cascas das uvas, que costumam ser descartadas rapidamente durante o processo de vinificação.

A impressão de secura na boca, causada pelos taninos, acontece porque eles têm a capacidade precipitar as proteínas, e nossa saliva é rica em compostos proteicos. Precipitando as proteínas da saliva, ficamos com a adstringente sensação de rugosidade na língua.

Questão de equilíbrio?

Além dos taninos, que têm sabor amargo, o vinho também é composto de ácidos, açúcares e sais, cada um com seu gosto específico. O sabor do vinho é uma espécie de soma desses sabores individuais. Os ácidos ajudam a equilibrar o amargor do vinho. Quanto menor a acidez de um vinho, mais os taninos se destaca. Os açúcares mascaram o amargor e adstringência, retardando a nossa impressão sobre eles. E os sais atenuam os sabores amargos.

Pois é, há algumas divergências quanto ao quesito “amargor” no vinho, se é um “defeito” ou um processo natural das uvas. O fato é que temos de ter essa percepção, exercitando a nossa capacidade de análise dos vinhos e principalmente escolher os vinhos que a gente mais se identifica. Saúde!

Fontes: