Esse vinho já não é nenhuma novidade para mim. Contudo por
não ser novidade que o vinho é ruim ou coisa que valha muito pelo contrário! É
um vinho estupendo, surpreendentemente ótimo! Um vinho básico da emblemática e
tradicional vinícola Bacalhôa, mas que faz frente a qualquer medalhão por aí.
Em 2018 ele me veio duplamente. Uma boa amiga, sabendo que sou um enófilo, mas
advertiu sobre uma imperdível promoção de um vinho da região de Setúbal em um
supermercado que estava sendo inaugurado. Quando ela me disse o valor não
hesitei em pedi-la para comprar: R$ 18,90! Um eu fui gentilmente presenteado e
o outro eu comprei. Na realidade era para comprar três rótulos da linha: rosé,
tinto e o branco, mas veio, como disse, dois tintos e um rosé. Foi por acidente
ter vindo dois tintos da mesma safra, mas, como um bom e honesto degustador de
vinhos, não se pode rejeitar nenhum rótulo, independente das circunstâncias.
O vinho que degustei e gostei foi o JP Azeitão com um blend
das castas Syrah (45%), Castelão (31%) e Aragonez (24%) da safra 2017, da
fantástica região da Península de Setúbal. Mas antes de falar da segunda
garrafa que degustei vou falar da primeira e da experiência que tive.
Quando o abri, em 5 de janeiro de 2019, já fui surpreendido
pelo aroma delicado e agradável de fruta, frutas vermelhas em compota,
lembrando morango e cerejas, por exemplo, o mesmo se reproduzindo no paladar,
com uma estrutura tânica fresca, suave e com um final frutado e de alguma
persistência.
JP Azeitão tinto degustado em Janeiro de 2019
Então, extasiado, decidi abrir a segunda garrafa em um
momento especial, porque apesar, como disse, de ser um vinho básico da
vinícola, se revela muito bom e honesto, dotado de uma personalidade marcante
para a sua proposta, o que me surpreendeu positivamente, diria arrebatadora.
Então o momento chegou. Um reencontro com um velho e bom amigo propiciou o
momento deste belo JP Azeitão ser degustado, então, após o seu carinhoso
convite a ir para sua casa, escolhi este vinho para compartilhar com ele. Mas
antes de falar, com o devido prazer, de novo, desse belo vinho, preciso falar
da história do Palácio da Bacalhôa, onde está a sede da Quinta da Bacalhôa.
A Quinta da Bacalhôa
é uma antiga propriedade da Casa Real Portuguesa. A quinta
com o famoso Palácio da Bacalhoa - também conhecido como Palácio dos
Albuquerques - situa-se na freguesia de Azeitão, Concelho de Setúbal, mais
precisamente na pequena aldeia de Vila Fresca de Azeitão. É considerada a mais
formosa quinta da primeira metade do século XVI, ainda existente em Portugal.
Palácio dos Albuquerques
No século XV pertenceu, como quinta de recreio, a João,
Infante de Portugal, filho do rei D. João I. Herdou-a sua filha D. Brites,
casada com o segundo Duque de Viseu e mãe do Rei D. Manuel I. Ainda existentes
os edifícios, os muros com torreões de cúpulas aos gomos e também o grande
tanque foram beneficiações mandadas construir por D. Brites. Esta quinta viria
a ser vendida em 1528 a Brás de Albuquerque, filho primogénito de Afonso de
Albuquerque. O novo proprietário, além de ter enriquecido as construções com
belos azulejos, mandou construir uma harmoniosa «casa de prazer», junto ao
tanque, e dois robustos pavilhões, juntos aos muros laterais. Nos finais do
século XVI, esta quinta fazia parte de morgadio pertencente a D. Jerónimo Teles
Barreto — descendente de Afonso de Albuquerque. Este morgadio — em que estava
incluída a Quinta da Bacalhoa — viria a ser herdado por sua irmã, D. Maria
Mendonça de Albuquerque, casada com D. Jerónimo Manuel — da Casa da Atalaia —
conhecido pela alcunha de “Bacalhau”. É muito provável que o nome de “Bacalhoa”,
pelo qual veio a ficar conhecida a antiga Quinta de Vila Fresca, em Azeitão,
tenha tido origem no facto de a mulher de D. Jerónimo Manuel também ser
designada da mesma forma sarcástica. Esta quinta ficou consagrada entre os tesouros
artísticos de Portugal. Após uma grande disputa judicial entre os descendentes,
o morgado ficou para D. José Francisco da Costa de Sousa e Albuquerque
(1740-1802), armeiro mor do Reino e armador mor do Rei, casado com Maria José
de Sousa de Macedo, 2.ª viscondessa de Mesquitella, 5.ª baronesa de Mullingar
(Reino Unido). O Morgado ficaria na família Mesquitella (posteriormente condes
de Mesquitella e duques de Albuquerque), assim como os títulos palatinos de
armeiro mor e armador mor do Reino e do Rei, até princípios do século XX. Tendo,
naturalmente, sofrido algumas modificações, no decurso dos seus cinco séculos
de existência, conserva ainda as abóbadas ogivais dos seus tempos mais remotos,
o palácio com janelas ao estilo renascentista, os cubelos representativos da
Via Sacra e elementos cerâmicos decorativos, do século XVI. Nos azulejos
encontra-se a data de 1565 e a assinatura do ceramista Francisco de Matos.
Medalhões de faiança de origem flamenga emolduram bustos de significação histórica.
Em 1936, o Palácio da Bacalhoa foi comprado e restaurado por uma
norte-americana, Orlena Scoville, cujo neto se incumbiu da missão de tornar a
quinta num dos maiores produtores de vinho de Portugal. Mais tarde o Palácio e
a Quinta da Bacalhôa pertenceram a José Antônio Borges. Atualmente a Quinta da
Bacalhôa pertence à Fundação Berardo, liderada pela família Berardo, a nona
mais rica de Portugal, cujo patriarca é o madeirense José Berardo.
E agora o vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi com reflexos violáceos,
muito límpido e brilhante com lágrimas em profusão desenhando as paredes do
copo.
No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras, como
ameixa, cereja, frutas em compotas, com notas de especiarias.
Na boca é seco, frutado, leve, mas, ao mesmo tempo, tem uma
personalidade marcante, com taninos presentes, mas domados, uma boa acidez que
o torna vivaz e fresco, com um final frutado e persistente.
Pois é, um vinho que sempre te surpreende que te traz novas
percepções, que te traz celebrações e alegria a cada taça servida. Um vinho
fresco, leve, mas de presença marcante para a sua proposta e que harmoniza com
momentos descontraídos, com amigos em uma boa conversa, mas harmoniza também
com pratos leves e simples, uma refeição, uma comida caseira e gostosa ou
degusta-lo sozinho também. Tem teor alcoólico de 13% muito bem integrado ao
conjunto do vinho. Ah o meu amigo também gostou e muito do vinho! Missão cumprida!
Sobre a Quinta da Bacalhôa:
Bacalhôa Vinhos de Portugal foi fundada em 1922, sob a denominação João Pires
& Filhos, daí o nome do vinho “JP Azeitão”. Em 1998 o controle da empresa
foi comprado por José Berardo, que adquiriu novas propriedades e celebrou um
acordo de parceria com o grupo Lafitte Rothschild. No ano de 2008 o grupo
Lafitte Rothschild adquiriu uma participação na empresa, que adquiriu mais
propriedades e uma participação maioritária na vinícola Aliança. Sua sede está
localizada na histórica. O Comendador José Berardo, sendo o principal
acionista, prosseguiu com a missão da
empresa, investindo no plantio de novas vinhas, na modernização das adegas e na
aquisição de novas propriedades, junto com a imprescindível parceria com o
Grupo Lafitte Rothschild na Quinta do Carmo. Em 2007 a Bacalhôa tornou-se a
maior acionista na Aliança, um dos produtores mais prestigiados nas categorias
de espumantes de alta qualidade, aguardentes e vinhos de mesa. No ano seguinte,
a empresa comprou a Quinta do Carmo, aumentando assim para 1200ha de vinhas a
sua exploração agrícola. A Bacalhôa dispõe de adegas nas regiões mais
importantes de Portugal: Alentejo, Península de Setúbal (Azeitão), Lisboa,
Bairrada, Dão e Douro. O projeto implementado nas diversas quintas sob o tema “Arte,
Vinho, Paixão” visa surpreender as expectativas mais exigentes. Das vinhas ao
vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem
a tradição e modernidade, com exposições artísticas diversas, da pintura à
escultura, nunca esquecendo as magníficas obras naturais. Com uma capacidade
total de 20 milhões de litros, 15.000 barricas de carvalho e uma área de vinhas
em produção de cerca de 1.200 hectares, a Bacalhôa Vinhos de Portugal prossegue
a sua aposta na inovação no sector, tendo em vista a criação de vinhos que
proporcionem experiências únicas e surpreendentes, com uma elevada qualidade e
consistência. A Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A., uma das maiores e mais
inovadoras empresas vinícolas em Portugal, desenvolveu ao longo dos anos uma
vasta gama de vinhos que lhe granjeou uma sólida reputação e a preferência de
consumidores nacionais e internacionais. Presente em 7 regiões vitícolas
portuguesas, com um total de 1200ha de vinhas, 40 quintas, 40 castas diferentes
e 4 centros vínicos (adegas), a empresa distingue-se no mercado pela sua
dimensão e pela autonomia em 70% na produção própria. A cada uma das entidades
que constituem a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. - Aliança Vinhos de Portugal,
Quinta do Carmo e Quinta dos Loridos - corresponde um centro de produção com
características próprias e um património com intrínseco valor cultural. É à
dinâmica gerada pelo cruzamento destas várias identidades, explorada com
recurso à tecnologia mais atual e aos conhecimentos de uma equipa de renome,
que a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. deve a sua capacidade única no
competitivo mercado português de oferecer o vinho perfeito para qualquer
ocasião.
Mais informações acesse:
Fonte para pesquisa da história do Palácio da Bacalhôa:
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