domingo, 6 de setembro de 2020

JP Azeitão tinto 2017


Esse vinho já não é nenhuma novidade para mim. Contudo por não ser novidade que o vinho é ruim ou coisa que valha muito pelo contrário! É um vinho estupendo, surpreendentemente ótimo! Um vinho básico da emblemática e tradicional vinícola Bacalhôa, mas que faz frente a qualquer medalhão por aí. Em 2018 ele me veio duplamente. Uma boa amiga, sabendo que sou um enófilo, mas advertiu sobre uma imperdível promoção de um vinho da região de Setúbal em um supermercado que estava sendo inaugurado. Quando ela me disse o valor não hesitei em pedi-la para comprar: R$ 18,90! Um eu fui gentilmente presenteado e o outro eu comprei. Na realidade era para comprar três rótulos da linha: rosé, tinto e o branco, mas veio, como disse, dois tintos e um rosé. Foi por acidente ter vindo dois tintos da mesma safra, mas, como um bom e honesto degustador de vinhos, não se pode rejeitar nenhum rótulo, independente das circunstâncias.

O vinho que degustei e gostei foi o JP Azeitão com um blend das castas Syrah (45%), Castelão (31%) e Aragonez (24%) da safra 2017, da fantástica região da Península de Setúbal. Mas antes de falar da segunda garrafa que degustei vou falar da primeira e da experiência que tive.

Quando o abri, em 5 de janeiro de 2019, já fui surpreendido pelo aroma delicado e agradável de fruta, frutas vermelhas em compota, lembrando morango e cerejas, por exemplo, o mesmo se reproduzindo no paladar, com uma estrutura tânica fresca, suave e com um final frutado e de alguma persistência.

JP Azeitão tinto degustado em Janeiro de 2019

Então, extasiado, decidi abrir a segunda garrafa em um momento especial, porque apesar, como disse, de ser um vinho básico da vinícola, se revela muito bom e honesto, dotado de uma personalidade marcante para a sua proposta, o que me surpreendeu positivamente, diria arrebatadora. Então o momento chegou. Um reencontro com um velho e bom amigo propiciou o momento deste belo JP Azeitão ser degustado, então, após o seu carinhoso convite a ir para sua casa, escolhi este vinho para compartilhar com ele. Mas antes de falar, com o devido prazer, de novo, desse belo vinho, preciso falar da história do Palácio da Bacalhôa, onde está a sede da Quinta da Bacalhôa.

A Quinta da Bacalhôa

é uma antiga propriedade da Casa Real Portuguesa. A quinta com o famoso Palácio da Bacalhoa - também conhecido como Palácio dos Albuquerques - situa-se na freguesia de Azeitão, Concelho de Setúbal, mais precisamente na pequena aldeia de Vila Fresca de Azeitão. É considerada a mais formosa quinta da primeira metade do século XVI, ainda existente em Portugal. 

Palácio dos Albuquerques

No século XV pertenceu, como quinta de recreio, a João, Infante de Portugal, filho do rei D. João I. Herdou-a sua filha D. Brites, casada com o segundo Duque de Viseu e mãe do Rei D. Manuel I. Ainda existentes os edifícios, os muros com torreões de cúpulas aos gomos e também o grande tanque foram beneficiações mandadas construir por D. Brites. Esta quinta viria a ser vendida em 1528 a Brás de Albuquerque, filho primogénito de Afonso de Albuquerque. O novo proprietário, além de ter enriquecido as construções com belos azulejos, mandou construir uma harmoniosa «casa de prazer», junto ao tanque, e dois robustos pavilhões, juntos aos muros laterais. Nos finais do século XVI, esta quinta fazia parte de morgadio pertencente a D. Jerónimo Teles Barreto — descendente de Afonso de Albuquerque. Este morgadio — em que estava incluída a Quinta da Bacalhoa — viria a ser herdado por sua irmã, D. Maria Mendonça de Albuquerque, casada com D. Jerónimo Manuel — da Casa da Atalaia — conhecido pela alcunha de “Bacalhau”. É muito provável que o nome de “Bacalhoa”, pelo qual veio a ficar conhecida a antiga Quinta de Vila Fresca, em Azeitão, tenha tido origem no facto de a mulher de D. Jerónimo Manuel também ser designada da mesma forma sarcástica. Esta quinta ficou consagrada entre os tesouros artísticos de Portugal. Após uma grande disputa judicial entre os descendentes, o morgado ficou para D. José Francisco da Costa de Sousa e Albuquerque (1740-1802), armeiro mor do Reino e armador mor do Rei, casado com Maria José de Sousa de Macedo, 2.ª viscondessa de Mesquitella, 5.ª baronesa de Mullingar (Reino Unido). O Morgado ficaria na família Mesquitella (posteriormente condes de Mesquitella e duques de Albuquerque), assim como os títulos palatinos de armeiro mor e armador mor do Reino e do Rei, até princípios do século XX. Tendo, naturalmente, sofrido algumas modificações, no decurso dos seus cinco séculos de existência, conserva ainda as abóbadas ogivais dos seus tempos mais remotos, o palácio com janelas ao estilo renascentista, os cubelos representativos da Via Sacra e elementos cerâmicos decorativos, do século XVI. Nos azulejos encontra-se a data de 1565 e a assinatura do ceramista Francisco de Matos. Medalhões de faiança de origem flamenga emolduram bustos de significação histórica. Em 1936, o Palácio da Bacalhoa foi comprado e restaurado por uma norte-americana, Orlena Scoville, cujo neto se incumbiu da missão de tornar a quinta num dos maiores produtores de vinho de Portugal. Mais tarde o Palácio e a Quinta da Bacalhôa pertenceram a José Antônio Borges. Atualmente a Quinta da Bacalhôa pertence à Fundação Berardo, liderada pela família Berardo, a nona mais rica de Portugal, cujo patriarca é o madeirense José Berardo.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com reflexos violáceos, muito límpido e brilhante com lágrimas em profusão desenhando as paredes do copo.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras, como ameixa, cereja, frutas em compotas, com notas de especiarias.

Na boca é seco, frutado, leve, mas, ao mesmo tempo, tem uma personalidade marcante, com taninos presentes, mas domados, uma boa acidez que o torna vivaz e fresco, com um final frutado e persistente.

Pois é, um vinho que sempre te surpreende que te traz novas percepções, que te traz celebrações e alegria a cada taça servida. Um vinho fresco, leve, mas de presença marcante para a sua proposta e que harmoniza com momentos descontraídos, com amigos em uma boa conversa, mas harmoniza também com pratos leves e simples, uma refeição, uma comida caseira e gostosa ou degusta-lo sozinho também. Tem teor alcoólico de 13% muito bem integrado ao conjunto do vinho. Ah o meu amigo também gostou e muito do vinho! Missão cumprida!

Sobre a Quinta da Bacalhôa:

Bacalhôa Vinhos de Portugal foi  fundada em 1922, sob a denominação João Pires & Filhos, daí o nome do vinho “JP Azeitão”. Em 1998 o controle da empresa foi comprado por José Berardo, que adquiriu novas propriedades e celebrou um acordo de parceria com o grupo Lafitte Rothschild. No ano de 2008 o grupo Lafitte Rothschild adquiriu uma participação na empresa, que adquiriu mais propriedades e uma participação maioritária na vinícola Aliança. Sua sede está localizada na histórica. O Comendador José Berardo, sendo o principal acionista,  prosseguiu com a missão da empresa, investindo no plantio de novas vinhas, na modernização das adegas e na aquisição de novas propriedades, junto com a imprescindível parceria com o Grupo Lafitte Rothschild na Quinta do Carmo. Em 2007 a Bacalhôa tornou-se a maior acionista na Aliança, um dos produtores mais prestigiados nas categorias de espumantes de alta qualidade, aguardentes e vinhos de mesa. No ano seguinte, a empresa comprou a Quinta do Carmo, aumentando assim para 1200ha de vinhas a sua exploração agrícola. A Bacalhôa dispõe de adegas nas regiões mais importantes de Portugal: Alentejo, Península de Setúbal (Azeitão), Lisboa, Bairrada, Dão e Douro. O projeto implementado nas diversas quintas sob o tema “Arte, Vinho, Paixão” visa surpreender as expectativas mais exigentes. Das vinhas ao vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem a tradição e modernidade, com exposições artísticas diversas, da pintura à escultura, nunca esquecendo as magníficas obras naturais. Com uma capacidade total de 20 milhões de litros, 15.000 barricas de carvalho e uma área de vinhas em produção de cerca de 1.200 hectares, a Bacalhôa Vinhos de Portugal prossegue a sua aposta na inovação no sector, tendo em vista a criação de vinhos que proporcionem experiências únicas e surpreendentes, com uma elevada qualidade e consistência. A Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A., uma das maiores e mais inovadoras empresas vinícolas em Portugal, desenvolveu ao longo dos anos uma vasta gama de vinhos que lhe granjeou uma sólida reputação e a preferência de consumidores nacionais e internacionais. Presente em 7 regiões vitícolas portuguesas, com um total de 1200ha de vinhas, 40 quintas, 40 castas diferentes e 4 centros vínicos (adegas), a empresa distingue-se no mercado pela sua dimensão e pela autonomia em 70% na produção própria. A cada uma das entidades que constituem a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. - Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e Quinta dos Loridos - corresponde um centro de produção com características próprias e um património com intrínseco valor cultural. É à dinâmica gerada pelo cruzamento destas várias identidades, explorada com recurso à tecnologia mais atual e aos conhecimentos de uma equipa de renome, que a Bacalhôa Vinhos de Portugal, S.A. deve a sua capacidade única no competitivo mercado português de oferecer o vinho perfeito para qualquer ocasião.

Mais informações acesse:


Fonte para pesquisa da história do Palácio da Bacalhôa:





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