sábado, 15 de agosto de 2020

Ventisquero Reserva Carménère e Syrah 2015


Acredito fortemente que tradição e modernidade podem sim, se complementar, ter uma simbiose, um potencializando o outro. Claro que a tradição vem primeiro! Todo vinho se torna emblemático quando tem a personificação do seu terroir, a assinatura de sua tipicidade, da cultura da terra desenhando as características mais marcantes de um vinho, é como degustar uma região, um país, é como se tudo isso, embora seja de uma complexidade inimaginável de entender, estivesse em uma taça para nosso deleite em uma agradável degustação celebrando rituais. O contemporâneo traz o frescor, doses delicadas de novidade, de novos prazeres e experiências que torna o vinho arrojado e dinâmico, o tempero da novidade nos surpreende positivamente, sem soar datado e previsível. Foi o que aconteceu com a minha degustação de hoje. Uma casta, emblemática e importante de um país, considerado como o Novo Mundo entre os grandes produtores espalhados pelo mundo, mas que ostenta uma tradição ilibada, mas que, neste rótulo expressou todo frescor da novidade, todo o arrojo de que falei nas linhas desse texto. Afinal a Carménère no Chile é o DNA vitivinícola deste país.  É o que o projeta para o alto, para longe, fazendo do mesmo, um dos recantos da cultura do vinho.

Então parte do “mistério” do vinho que degustei e gostei já foi desvendado, e o desfecho vem com o seu nome, que traz o nome de uma das mais importantes vinícolas do Chile nos últimos 20 anos e que traz na sua filosofia a preocupação com o novo, sem desviar suas intenções da essência e do terroir. Falo da Viña Ventisquero com o seu Ventisquero Reserva com o corte de Carménère (85%) e Syrah (15%) da safra 2015, da região, também emblemática, do Vale do Colchagua, que ostenta uma DO (Denominação de Origem). Um vinho que definitivamente me surpreendeu pela austeridade, pelo corpo e estrutura, mas que traz um arrojado frescor e maciez, tornando-o moderno, equilibrado e muito, muito elegante. Mas antes de falar do vinho, vou falar, brevemente, sobre a importante Vale do Colchagua para a vitivinicultura chilena.

Vale do Colchagua

O Vale do Colchágua está localizado à aproximadamente 180 km de Santiago no centro do país, exatamente entre a Cordilheira dos Andes e o Pacífico. É cortado pelas águas do rio Tinguiririca, suas principais cidades são San Fernando e Santa Cruz, e possui algumas regiões de grande valor histórico e turístico como Chimbarongo, Lolol ou Pichilemu. Colchágua significa na língua indígena “lugar de pequenas lagunas”.

Vale do Colchagua

A fertilidade de suas terras, a pouca ocorrência de chuva e constante variação de temperatura possibilita o cultivo de mais de 27 vinhas, que, com o manejo certo nos grandes vinhedos da região e padrões elevados no processo de produção, faz com que os vinhos produzidos no vale sejam conhecidos internacionalmente, com alto conceito de qualidade. Clima estável e seco (que evita as pragas), no verão, muito sol e noites frias, solo alimentado pelo degelo dos Andes e pelos rios que desaguam no Pacífico, o Vale de Colchágua é de fato um paraíso para o cultivo de uvas tintas e produção de vinhos intensos. Em Colchágua, predomina o clima temperado mediterrâneo, com temperaturas entre 12ºC como mínima e 28ºC, máxima no verão e 12ºC e 4ºC, no inverno. Com este clima estável é quase nenhuma variação de uma safra para a outra; e a ausência de chuva possibilita um amadurecimento total dos vários tipos de uvas cultivadas na região. Entre as principais variedades de uvas presentes no Vale de Colchágua estão as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah e Malbec, que representam grande parte da produção chilena. O cultivo das variedades brancas, apesar de em plena ascensão, ainda se dá de forma bastante reduzida se comparada às tintas; as principais uvas brancas produzidas no vale são a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Ambas as variedades resultam vinhos premiados e cultuados por especialistas e amantes do vinho.

E agora o vinho!

Na taça apresenta um lindo vermelho rubi com reflexos violáceos brilhantes com lágrimas finas em profusão que desenham as paredes do copo por algum tempo até se dissipar.

No nariz trazem fantásticos aromas de frutas negras e maduras como ameixas e amoras, com toques florais e de baunilha e notas terrosas.

Na boca se reproduz, de forma maravilhosa, as notas frutadas, sendo estruturado, com alguma complexidade, taninos presentes, mas aveludados, com uma boa acidez que confere ao vinho muito frescor, apesar de ser encorpado, com discretas notas amadeiradas e de chocolate, graças aos 70% do vinho ter passado por 10 meses em barricas de carvalho, mais 3 meses em garrafa. Final persistente e frutado.

A linha reserva da Ventisquero, em especial esse corte fantástico da Carménère com a Syrah, castas que são verdadeiros ícones no Chile, trouxeram uma combinação especial para este vinho. Mostra um vinho frutado, fresco, saboroso, mas de grande personalidade, estruturado, carnudo, fácil de degustar, sendo ainda harmonioso, redondo e elegante. Harmoniza muito bem com massas, carnes, queijos semi duros e diria uma refeição. Um vinho versátil e com um teor alcoólico de 13% muito bem integrados.

Sobre a Viña Ventisquero:

Liderada por uma equipe jovem, criativa e empreendedora, em 1998 começou  produção da Viña Ventisquero, sob o slogan “um passo além”. A ideia foi elaborar vinhos de alta qualidade, vanguardistas e modernos, combinados com uma nova maneira de se comunicar com o público-alvo e os processos de marketing. Ela é apenas um dos ramos de poderosa holding chamada Agrosuper, que comercializa carne, frango, porco, peru, frutas, embutidos, além de vinho. Criada em 1998 por Gonzalo Vial, a vinícola tem hoje 1.500 hectares de vinhedos em diferentes regiões como os vales de Casablanca, do Maipo, de Rapel, de Colchagua e de Apalta. O nome Ventisquero deriva de um glaciar, massa de gelo que se concentra nas montanhas. Da mão do enólogo-chefe, Felipe Tosso, a vinícola surgiu em 2003 no Maipo Costa, área onde nasceram os primeiros vinhos. Depois de três anos, foram dados novos passos no Vale de Casablanca e no Vale de Colchágua, mais precisamente no Vale de Apalta, berço dos vinhos de alta gama da Ventisquero. Uma das características da vinícola é a preocupação com o meio ambiente, desde o plantio, que obedece à agricultura orgânica, até a redução de emissões de CO2 nos transportes de seus vinhos. Outra é a alta tecnologia que permite à equipe de enólogos acompanharem todo o processo do vinho. Outro fator que concorre para a qualidade dos vinhos é a disponibilidade de recursos. Só um açude construído no meio dos vinhedos para captar a água dos Andes custou dois milhões e meio de dólares. Buscando consolidar qualidade, se aventuraram a criar vinhos ícones com John Duval, um dos mais prestigiados enólogos da Austrália e do mundo. Com vinhedos nas melhores áreas vitivinícolas do Chile (Lolol é um exemplo), e um forte trabalho de pesquisa em terroir, o desafio foi oferecer a melhor qualidade e consistência nos vinhos Ventisquero. Com escritórios nos EUA, Espanha, Inglaterra e Japão e presença em mais de 55 países, é uma das cinco vinícolas mais importantes do Chile.

Mais informações acesse:


Fonte para pesquisa sobre o Vale do Colchagua:




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