quarta-feira, 6 de julho de 2022

Cave Antiga Marselan 2017

 

Mais um vinho da série “novidades”! Definitivamente me deixei seduzir pelas novidades, pelas novas e gratas experiências sensoriais, afinal, para que ficar na zona de conforto e se limitar, se permitir escravizar pelo famoso “mais do mesmo”?

E já começo com o produtor! A cada novidade, seja na região ou nas castas, nas uvas, a gente percebe e constata, consequentemente, que o Brasil está na rota da qualidade dos vinhos nacionais. Com rótulos com cara de Brasil, ufanismos à parte!

Vinhos com tipicidade, que enaltece o terroir e que entregam o Brasil! E a região desse vinho é simplesmente tida como a capital do Moscatel! A “família Moscato” traz o topo do cultivo no Brasil. As castas mais produzidas no Brasil, embora ainda tenha certo preconceito com tais cepas, pelo simples fato de serem uvas simples, leves. Somente por isso, penso! Um absurdo, não? Falo de Farroupilha, região dominada pela imigração e cultura italiana e, claro que também a cultura do vinho “sofreu” com o impacto dessa imigração.

Mas hoje não degustarei um vinho da “família Moscato”. Será um tinto, cuja casta entrega o oposto da leveza e frescor das moscateis e sim a força, a estrutura e também a personalidade muito apropriada para ao atuais dias de frio. Essa casta é a Marselan.

A Marselan vem crescendo a olhos vistos no Brasil. Seu cultivo vem ganhando certa representatividade e encontrou nos solos gaúchos, sobretudo na Serra Gaúcha, o clima ideal, pelo seu clima frio e úmido. Mas falaremos com requintes de detalhes da uva, bem como das regiões.

Eu lembro que conheci a Marselan quase que de forma ocasional, diria despretensiosa quando participei de um evento destinados a promoção dos vinhos brasileiros chamado Vinho na Vila, em 2017, quando o nome da cepa me chamou a atenção, fazendo com que me aproximasse do estande da famosa vinícola Perini, do Vale Trentino, em Farroupilha. O degustei e achei extremamente interessante! Era o Arbo Marselan!

Lembro-me também que prometi que iria degustar outro vinho da casta, pois uma das minhas primeiras impressões acerca da mesma foi de uma uva rústica, um tanto quanto selvagem, então claro, me chamou a atenção.

E a oportunidade do “repeteco” da degustação veio agora. Quando o escolhi eu pensei em guarda-lo por mais algum tempo, mas a curiosidade de tê-lo em minha taça foi maior! Agora degustar um Marselan com uma proposta distinta a do Arbo, um vinho mais básico, tornou-se mais do que necessário.

Quando o desarrolhei o aroma explodiu! As expectativas cresceram! O estímulo também! Realmente a complexidade e a personalidade adjetivam os vinhos da casta Marselan. Então sem mais delongas apresentemos o vinho: O vinho que degustei e gostei veio de Farroupilha, Serra Gaúcha, e se chama Cave Antiga Marselan da safra 2017. E antes de falar do vinho, contemos a história da Serra Gaúcha, a Farroupilha com o seu novo IP (Indicação de Procedência) e a Marselan.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Farroupilha

A cidade de Farroupilha, na Serra Gaúcha, é conhecida oficialmente como a Capital Nacional do Moscatel. O título é de 3 de janeiro de 2019, quando a lei foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro. Mas, por que esse título?  Isso porque Farroupilha detém a maior área de cultivo de uvas Moscato Branco no Rio Grande do Sul. Dos 540 hectares, o município responde por 40%, ou seja 213,15 hectares.

Farroupilha

Farroupilha, além de excelentes moscatos, tranquilos e espumantes, também ofertam vinhos tintos e rosés de excelente qualidade. A região possui vinícolas incríveis para os diversos perfis, ótimos restaurantes e é berço da história da imigração italiana no Brasil.

O enoturismo, a exemplo de outras cidades da Serra Gaúcha, tem se destacado. Novos projetos estão surgindo e as vinícolas organizam diferentes experiências para seus visitantes.

Indicação de Procedência (IP)

A região da Indicação de Procedência Farroupilha insere-se no contexto da Serra Gaúcha vitivinícola, cujo território apresenta características culturais relacionadas à colonização italiana ocorrida na região, a partir de 1875, com a chegada de imigrantes que se fixaram inicialmente em Nova Milano, atual município de Farroupilha.

As famílias produziam para subsistência, sendo a vitivinicultura expressão de sua cultura. A evolução da vitivinicultura impulsionou a economia de Farroupilha, que se qualifica, agora, com a Indicação Geográfica.

A viticultura na área delimitada de Farroupilha é a maior área de produção de uvas moscatéis do Brasil, autorizadas para a elaboração dos produtos da Indicação de Procedência Farroupilha, principalmente a cultivar Moscato Branco, cujo perfil genético foi identificado como único no mundo.

A produção das uvas moscatéis é realizada por centenas de pequenos produtores concentrados, sobretudo, na Região Delimitada de Produção de Uvas Moscatéis, enquanto os vinhos são elaborados por diversas vinícolas, que se encontram distribuídas em todo o território da Indicação de Procedência.

A organização da Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (AFAVIN), constituída por vinícolas familiares e cooperativas de pequenos viticultores, promove e estimula a vitivinicultura regional, cuja identidade é reconhecida na Indicação de Procedência Farroupilha, de fortes traços culturais, com foco na produção de vinhos finos moscatéis, incluindo os vinhos tranquilos, moscatel espumante, moscatel frisante, vinho licoroso, mistela e brandy.

Marselan

A Marselan é uma uva tinta que pode aparecer cada vez mais nos vinhos. Ela faz parte do seleto grupo das 6 uvas já aprovadas pelo INAO (Institut National de L’Origine et de La Qualité) para compor a lista das uvas em Bordeaux e Bordeaux Superiéur. Juntam a esse time as tintas Castets, Arinarnoa, Touriga Nacional, bem como as brancas Alvarinho e Liliorila.

A Marselan não surgiu naturalmente. Nasceu, contudo, pelas mãos do ampelógrafo parisiense Paul Truel, criador de mais de 12 outras variedades de uvas, em 1961, no sul da França. O nome da casta foi inspirado na cidade de Marseillan próxima a Montpellier. É lá onde fica localizado o INRA – centro de pesquisa agronômica, onde ele trabalhou até se aposentar em 1985.

Paul Truel

Quando Paul idealizou a Marselan ele tinha em mente potencializar, unir e melhorar as características de duas uvas conhecidas: a Cabernet Sauvignon e a Grenache. Da Cabernet Sauvignon, Truel queria preservar a potência, com rendimentos maiores, por outro lado, da Grenache – uva que se adaptou muito bem aos climas quentes – ele queria uma uva que tivesse resistência às altas temperaturas e, claro, uma nova casta resistente às doenças.

No início, ela não ganhou destaque e não foi o sucesso esperado, devido à baixa produtividade e aos pequeninos bagos. Com o aumento da demanda por uvas resistentes às moléstias – oídio, ácaros e podridão cinzenta, por exemplo -, ela foi incluída na listagem oficial de registros quase 30 anos depois, em 1990. Atualmente, é possível encontrá-la em terroirs com características distintas e ela deixa sua marca talentosa em diversos estilos, seja em um blend ou mesmo reinando sozinha em um varietal.

Muitos a utilizaram por anos apenas em pequenas porções em vinhos de corte, até que em 2002 surgiu o primeiro vinho 100% Marselan do mercado, o francês Domaine Devereux. De lá para cá, a Marselan começou a ser exportada para diferentes países, e vem ganhando espaço na California, Brasil e até na China, onde o Chateau Lafite Rotschild implantou vinhedos de Marselan mirando o mercado interno chinês.

Falando em países produtores, a Marselan vem sendo muito cultivada no Brasil, e a cada safra que passa novos produtores lançam seus rótulos. a Marselan é muito interessante para os produtores nacionais, especialmente os da Serra Gaucha, por sua boa resistência a doenças fúngicas, que aparecem ao menor sinal de umidade. Vinificada, a uva apresenta bebidas muito agradáveis e com grande potencial de guarda. Uma característica é o ótimo equilíbrio entre taninos e acidez, além do álcool sempre bem incorporado. Estas características fazem com que os vinhos sejam de fácil consumo tanto com um ano de garrafa quanto com 5 ou 6. O estágio em barris de carvalho deixa os vinhos de Marselan ainda mais interessantes, dando um aspecto de vinhos da Toscana – com estrutura, corpo, mas muita elegância.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo e intenso vermelho rubi, mas com entornos violáceos com brilhos de razoável intensidade, com lágrimas finas, lentas e em profusão.

No nariz traz aromas de frutas vermelhas maduras, como groselha e cereja, especiarias que lembram ervas, pimentas, notas amadeiradas que aportam baunilha e toques de tostado médio, graças aos seis meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca é seco, típico da variedade, as frutas não são tão evidentes, como no aspecto olfativo, não tem aquele volume de boca, mas tem média estrutura, caráter, porém elegante, álcool destacado, mas bem integrado. Amadeirado, chocolate, café. Taninos marcados, presentes, mas aveludados, com uma acidez equilibrada. Percebe-se algo de selvagem, indomado neste vinho, nesta variedade. Final de média intensidade.

Digo sem medo que se trata de um vinho nobre! Fantástico! Cave Antiga Marselan entrega personalidade, estrutura, complexidade, mas, ao mesmo tempo, é equilibrado, redondo, sendo, inclusive fácil de degustar! Uma casta, mesmo que criada nos laboratórios, entrega frutas vermelhas maduras, rusticidade, notas terrosas, traz o terroir da Serra Gaúcha na sua plenitude. Um grande vinho cuja casta merece ser explorada abundantemente. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Cave Antiga:

A Vinícola Cave Antiga nasceu de um sonho dos mais destacados enólogos da Serra Gaúcha e tem orgulho de estar entre as vinícolas que revolucionaram a vitivinicultura brasileira. Fundada em 1998, a Cave Antiga está situada no 3° Distrito de Farroupilha, ocupando um conjunto predial que foi concluído em 1948, localizado numa região belíssima, que tudo faz lembrar a história dos imigrantes italianos.

Em curto espaço de tempo, a Cave Antiga tem os seus produtos reconhecidos pela excelência de qualidade nos mais importantes concursos de vinhos e espumantes, no âmbito nacional e internacional.

A Cave Antiga tem focado o desenvolvimento de novos varietais, zelando por todo o processo produtivo, do plantio das uvas até a elaboração dos vinhos. Agregado ao pioneirismo produtivo, a Cave Antiga preocupa-se com a busca de forma que possibilitem a acessibilidade aos vinhos de qualidade, tendo sido pioneira na nova apresentação das embalagens bag-in-box, com varietais nobres.

Preservar a história viva que é o seu conjunto predial, interagir social e culturalmente, sempre com o zelo de preservação ecológica, levam a Cave Antiga à inserção na modernidade produtiva, resguardando a excelência da qualidade do que a natureza nos oferece.

Mais informações acesse:

https://www.caveantiga.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Blog Art de Caves”: https://blog.artdescaves.com.br/uva-marselan-cruzamento-cabernet-sauvignon-grenache-noir

“Tosin Consultoria”: https://tosinconsultoria.com.br/marselan-que-uva-e-essa/

“Enocultura”: https://www.enocultura.com.br/cruzamento-entre-uvas-marselan/

“Site de Farroupilha”: https://farroupilha.rs.gov.br/noticia/visualizar/id/3108/?farroupilha-e-a-nova-indicacao-de-procedencia-de-vinhos-finos-do-brasil.html

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1026870/indicacao-de-procedencia-farroupilha-vinhos-finos-moscateis

“Portal Bom Vivant”: https://www.portalbonvivant.com.br/post/uma-escapada-para-farroupilha-a-capital-do-moscatel

 

 

 

 




 




domingo, 3 de julho de 2022

Terras de Felgueiras Loureiro 2020

 

Meu reino por um vinho verde! Sempre costumo dizer essa frase e a digo sem medo da dependência, da subserviência. O amor pelo vinho verde é incondicional e antigo. Sou ainda da época do vinho verde leve, fresco, despretensioso, com aquela típica “agulha” e uma boa acidez!

Hoje tenho testemunhado uma proliferação de propostas de vinhos verdes com uma cara de “vinhos de boutique”, com estilo, com estrutura, com passagens por barricas de carvalho também. Estive inclusive em um evento que trazia essa multiplicidade dos vinhos verdes chamado Vinho Verde Wine Experience em duas edições.

Claro que não sou aquele tipo de gente que rejeita o novo, que vira os olhos para as novas propostas. Acho que oxigena o vinho verde e valoriza a região que já tem a sua importância e que traz, desde sempre, visibilidade aos vinhos portugueses no mundo, mas ainda me curvo para os frescos vinhos verdes e toda a sua nobre simplicidade.

Claro que a intenção da instituição que rege, regulamenta e dissemina a cultura dos vinhos verdes, bem como os seus produtores, querem trazer, com os vinhos mais complexos, a valorização de seus rótulos, pois, penso que, pelo fato de produzirem vinhos mais frescos, jovens e frutados, básicos e baratos, associa-se a produtos ruins, mas são apenas propostas, digo, apenas propostas.

E a degustação de hoje será de um produtor que aprendi a gostar pelos seus rótulos com excelente custo X benefício e que conheci por intermédio de um surpreendente Alvarinho que, quando chegam em terras brasileiras, sobretudo os varietais, vem com um alto valor que é o Terra de Felgueiras Alvarinho 2017.

Não preciso falar que é a linha de rótulos da “Terra de Felgueiras” do grupo Vercoope. Já degustei também alguns vinhos desse produtor, os ditos mais básicos, os de mesa não safrados e digo que também surpreenderam pela simplicidade, pela qualidade.

E hoje apresento um rótulo cuja casta é a minha preferida da região do Minho, da região dos Vinhos Verdes, que é a Loureiro. A Alvarinho é a rainha dos Vinhos Verdes, de toda aquela região, sobretudo das emblemáticas Monção e Melgaço, mas há de se reverenciar a Loureiro pela sua boa acidez, levez e mineralidade. Expressa com fidelidade os rótulos solares dessa região.

E esse vinho eu já havia degustado no evento mencionado antes, o “Vinho Verde Wine Experience” e dessa vez terei a garrafa toda a minha disposição. Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei vem da Região de Vinhos Verdes e se chama Terras de Felgueiras Loureiro da safra 2020. E antes de falar do vinho falemos da sub-região de Felgueiras, que estampa no rótulo do vinho e da minha queridinha Loureiro.

Felgueiras

Felgueiras é uma cidade portuguesa no Distrito do Porto, região Norte e sub-região Tâmega, com cerca de 15.525 habitantes, inserida na freguesia de Margaride. É sede de um município com 115,62 km² de área e 58.922 habitantes (2006), subdividido em 32 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Fafe, a nordeste por Celorico de Basto, a sueste por Amarante, a sudoeste por Lousada e a noroeste por Vizela e Guimarães. 

O município é constituído por quatro centros urbanos: a Cidade de Felgueiras, a Cidade da Lixa, a Vila de Barrosas e a Vila da Longra. Verdadeiro coração da NUT Tâmega, constitui hoje uma centralidade importante no mapa de auto-estradas e itinerários principais, uma garantia sólida de afirmação das inúmeras potencialidades reais concelhias. 

Felgueiras

Os bordados são uma das mais ricas tradições do concelho, que emprega cerca de dois terços das bordadeiras nacionais. O filé ou ponto de nó, o ponto de cruz, o bordado a cheio, o richelieu e o crivo são exemplos genuínos do produto artesanal de verdadeiras mãos de fada. Os sabores autênticos da gastronomia, a frescura e intensidade dos aromas dos vinhos e o ambiente de grande animação proporcionam momentos inesquecíveis.

Dando corpo a essa riqueza, foi já constituída a “Confraria do Vinho de Felgueiras”, destinada a divulgar e defender o vinho e a gastronomia felgueirenses. Felgueiras, com 58 000 habitantes é um dos concelhos com a população mais jovem do país e da Europa. Uma terra de exceção que aposta na valorização dos seus recursos humanos, na consolidação do campus politécnico, no desenvolvimento econômico (pleno emprego e centro de negócios) e na consolidação das suas infraestruturas.

Marcada pela invulgar capacidade empreendedora do seu povo é responsável por 50% da exportação nacional de calçado, por um terço do melhor Vinho Verde da Região e por um valioso patrimônio cultural. Felgueiras é um dos municípios com maior desenvolvimento do Norte do País.

A primeira referência histórica a Felgueiras data de 959, no testamento de Mumadona Dias, quando é citada para identificar a vila de Moure: "In Felgaria Rubeans villa de Mauri". Felgueiras deriva do termo felgaria, que significa terreno coberto de fetos que, quando secos, são avermelhados (rubeans).

Havendo quem afirme que o determinativo Rubeans se deve a que o local foi calcinado pelo fogo. Existem historiadores que afirmam que Felgueiras recebeu foral do conde D. Henrique. No entanto, apenas se conhece o foral de D. Manuel a 15 de outubro de 1514.

 No entanto, já em 1220, a terra de Felgueiras contava com 20 paróquias (conhecidas hoje em dia como freguesias) e vários mosteiros e igrejas. Em 1855, ao ser transformado em comarca, Felgueiras ganhou mais doze freguesias. Em 13 de Julho de 1990 Felgueiras foi elevada à categoria de cidade.

Loureiro

A uva Loureiro é uma variedade branca amplamente cultivada no norte de Portugal, famosa por fazer parte na composição do tradicional Vinho Verde, elaborado na região do Minho. Além disso, a Loureiro também é cultivada em pequenas quantidades na Galícia, comunidade autônoma espanhola, ao noroeste da península ibérica.

Originária do Vale do rio Lima, a uva Loureiro é uma variedade extremamente fértil e com rendimentos generosos e que, apenas recentemente, assumiu o papel de uma casta nobre. Em regiões espanholas, essa variedade é conhecida também como Loureira, dando origem a excelentes vinhos brancos em Rías Baijas e, muitas vezes, sendo misturada com a casta mais tradicional e emblemática do país, a uva Albariño.

O nome Loureiro vem de “louros” que, no dialeto espanhol, é como eram chamadas às folhas da vinha por causa do seu perfume muito característico. Além das folhas, a flor da uva Loureiro tem também qualidades aromáticas marcantes por conta da sua personalidade floral, com ênfase nos aromas de flor de acácia, tília e laranjeira.

Os vinhos produzidos a partir da uva Loureiro apresentam excelentes aromas, notável acidez e baixos índices alcoólicos, visto que os varietais estão se tornando cada vez mais populares entre consumidores e críticos. No entanto, os famosos Vinhos Verdes, sempre foram historicamente elaborados com as uvas Trajadura e Arinto – conhecida também como Perdenã na região do Minho.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um amarelo palha, límpido, brilhante e com reflexos esverdeados, com bolhas que mostram leveza e frescor.

No nariz explode em aromas de frutas tropicais, brancas e cítricas onde se destacam lima, abacaxi, pera, maçã-verde, que denotam um incrível frescor e leveza já denunciados no aspecto visual.

Na boca é seco, saboroso, com as notas frutadas e cítricas assumindo o protagonismo, como no aspecto olfativo, com aquela agulha típica da casta, com uma acidez evidente e agradável, que saliva. Tem um final longo, persistente e frutado.

Frescor, leveza, aquela “agulha”, simplicidade! Esses são os predicados dos vinhos verdes e sim, não devem ser taxados de ruins, de vinhos de baixa qualidade, mas uma proposta de vinho verde ideal para o nosso clima, o DNA, a identidade do brasileiro, do brasileiro enófilo, claro, que aprecia, em dias de sol e calor um bom vinho verde! Adotamos como o nosso vinho, adotamos porque ele sintetiza o estado de espírito solar e altivo do brasileiro, mesmo que em momentos difíceis em que um bom vinho na taça traz a harmonia necessária para os nossos males. E um viva ao vinho verde, um viva a Loureiro! Tem 11% de teor alcoólico.

Sobre a Vercoope:

A Vercoope é uma união de sete Cooperativas Vitivinícolas da Região dos Vinhos Verdes: Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra. Foi criada em 1964 com o objetivo de engarrafar, comercializar e distribuir o vinho produzido pelos viticultores destas cooperativas. A união permitiu juntar a produção de 4 000 viticultores e lança-la no mercado, nacional e internacional, conseguindo mais qualidade, dimensão e competitividade.

A qualidade dos vinhos é reconhecida e comprovada pelos consumidores, pelas vendas e pelas centenas de prémios conquistados em competições de vinhos e imprensa especializada. A Vercoope produz anualmente 8 milhões de garrafas de Vinho Verde, sendo 30% para exportação. A Vercoope – União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, U.C.R.L, está inserida na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, considerada a maior região demarcada de Portugal e uma das maiores do mundo, essencialmente devido à sua extensão e da área dos solos dedicados à cultura da vinha, a que acresce uma significativa percentagem de população diretamente dependente do sector vitivinícola e nomeadamente do Vinho Verde.

A Vercoope é uma entidade vocacionada para o engarrafamento, comercialização e distribuição de Vinho Verde e integra na sua estrutura as adegas cooperativas de Amarante, Braga, Guimarães, Famalicão, Felgueiras, Paredes e Vale de Cambra que representam no seu conjunto explorações vitícolas de cerca de 5000 viticultores. Situada em Agrela, Santo-Tirso, numa estrutura moderna e tecnologicamente avançada, quer com meios técnicos quer com meios humanos, tem potenciado, desde a sua fundação, em 1964, o desenvolvimento da cultura do Vinho Verde, promovendo a sua divulgação, o seu consumo e a valorização do produtor.

Com mais de meio século de atividade a defender uma política de qualidade e prestígio para os seus vinhos, espumantes e aguardentes, ocupa por direito próprio, um lugar de destaque no sector, sendo muito naturalmente considerada uma instituição de referência no panorama regional e nacional.

Mais informações acesse:

https://vercoope.pt/

Referências:

“Terras de Portugal” em: http://www.terrasdeportugal.pt/felgueiras

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/loureiro

 

 

 


 



 


sábado, 2 de julho de 2022

Urries Nerello Cappuccio 2020

 

Mais um rótulo da série: Vinho e suas novas castas. E esse vem da bela Sicília, um IGT Terre Siciliane, região esta que, a cada vinho degustado, vem me ganhando de forma incondicional.

E quando essa casta é popular e conhecida em suas terras torna-se tudo, tudo melhor. Traz aquele apelo regionalista, que evidencia todas as suas características, as nuances de seu terroir, isso quando o produtor reflete fielmente, desde a vindima, vinificação, até a mesa de nós, privilegiados enófilos.

Mas digo também que a cultura do povo pode ser determinante para todos esses processos de produção, influenciando diretamente às questões relacionadas à terra, aos aspectos naturais, somando ao dedo do enólogo, o trabalho daqueles que estão na terra. Tudo é terroir que, por sua vez nos remete ao apelo regional.

Sabe aquela sensação de que, embora nunca tenha pisado na região, o contato, as experiências sensoriais com os seus rótulos entregam um panorama de suas propostas e faz valer o conceito acima mencionado.

Esse rótulo da Sicília eu recebi de um clube de vinhos a qual fui assinante. Acredito ter dito, em algum momento, sobre a minha opinião acerca dos clubes dos vinhos. Para um iniciante talvez seja consistente e para quem já é um inveterado degustador, nem tanto, mas o fato é que esta seleção me surpreendeu positivamente pois me proporcionou degustar um vinho de uma casta pouquíssimo conhecida em terras brasileiras.

O vinho que degustei e gostei veio da região italiana da Sicília, do Monte Etna, e se chama Urries da casta Nerello Cappuccio (100%) da safra 2020. Nerello Cappuccio? Sim! O nome soa como um gongo repleto de novidades! Nunca tinha ouvido falar dela até receber esse rótulo do clube de vinhos a qual fazia parte. Então para não perder mais tempo falemos um pouco da casta, da sua história e depois da Sicília. Ah antes de falar sobre a Nerello Cappuccio e da Sicília, vale lembrar que já degustei e gostei o Urries Nerello Mascalese da safra 2020! Foi surpreendente!

Nerello Cappuccio

Nerello Cappuccio, também conhecido como Nerello Mantellato, Nerello di San Antonio, nerello Mantellato, nireddu Cappucciu ou niureddu Cappucciu (pequeno dialeto negro duplo siciliano), niureddu Mascali, niureddu minuteddu, nirello Cappuccio, Perricone, é uma variedade cultivada nas encostas do Etna, na província de Catania, e na província de Messina e Sicília e que contribui para a produção dos vinhos Etna DOC e Faro DOC.

A sua origem é desconhecida, mas tem sido cultivada localmente há várias centenas de anos. Sua produção vem diminuindo ano após ano e há um certo período teme-se sua extinção. Como o Nerello Mascalese, com o qual contribui para a produção do Etna tinto, é colhido muito tarde, em meados de outubro.

Em 1998, cobria 6.550 ha. É cultivada principalmente na Sicília e é a terceira uva atrás da Nero d'Avola e Nerello Mascalese na ilha.

A Nerello Capuccio é uma uva vigorosa, que resulta em vinhos frutados e com boa acidez. Também famosa na Sicília, é muito utilizada em cortes com a Nerello Mascalese, a comparação seria como a Capuccio sendo a Merlot e a Mascalese a uva Cabernet Sauvignon de um corte bordalês.

Sicília

A Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo. É uma ilha vulcânica repleta de praias lindas, paisagens espetaculares e uma arquitetura interessante. Fruto da mistura de civilizações que habitaram a ilha e da cálida hospitalidade de seu povo. A Passagem de diversos povos através durante séculos, a Sicília tornou-se um entreposto importante no Mediterrâneo. É um destino desejado para todo viajante. Mas a Sicília não é apenas conhecida pela exuberante natureza, mas também se destaca quando o assunto é vinho. E isso teve influências na sua cultura e, claro, no seu vinho.


Foram os fenícios que iniciaram o cultivo da videira e a elaboração do vinho na Sicilia, porém foram os gregos que introduziram as cepas de melhor qualidade. Alguns historiadores relatam que antigamente na região de Siracusa (província siciliana), havia um vinho chamado Pollios, em homenagem a Pollis de Agro (que foi um ditador nessa região), que se tornou famoso na Sicilia no século VIII-VII a.C..

Esse vinho era um varietal de Byblia, uva originária da área mais oriental do Mediterrâneo, dos montes de Biblini na Trácia (antiga região macedônica que hoje é dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária). O historiador Saverio Landolina Nava (1743-1814) relatou que o Moscato de Siracusa deriva desse vinho de Biblini, sendo classificado como o vinho mais antigo da Itália.

Já o vinho doce Malvasia delle Lipari (Denominação de Origem do norte da Sicilia) parece ter sua origem na época da colonização grega na Sicilia. Lipari é uma cidade que pertence ao arquipélago das ilhas Eólicas.

Durante o Império Romano, o também vinho doce Mamertino (outra Denominação de Origem) produzido no norte da Sicilia, era muito apreciado por muitos, inclusive por Júlio César e era exportado para Roma e África

A viticultura na região sofreu uma grande redução com a queda do Império Romano, porém durante a dominação árabe foi introduzida a variedade de uva Moscatel de Alexandria na ilha Pantelleria, que mantém ainda hoje ali o nome árabe Zibibbo. Os árabes introduziram na Sicília suas técnicas de viticultura e também o processo de passificação das uvas.

No século XVIII a indústria enológica na Sicilia teve um grande avanço e começou a produzir o vinho de Marsala que conta atualmente com uma Denominação de Origem Protegida. Esse vinho se tornou conhecidíssimo no resto da Europa graças a um navegante e comerciante inglês chamado John Woodhouse, que ancorou sua embarcação no porto de Marsala para se proteger de uma tempestade. Foi quando provou o vinho local e se apaixonou, resolvendo levar alguns barris para a Inglaterra. O vinho de Marsala fez tanto sucesso por lá que Woodhouse começou a investir na Sicilia comprando vinhedos e construindo vinícolas para produzir vinho de Marsala, se tornando um empresário do setor vitivinícola de grande êxito.

Como na maioria dos vinhedos da Europa, a Phylloxera também atingiu a ilha Salinas, no norte da Sicilia, provocando uma devastação dos vinhedos que foram se recuperando gradativamente com a plantação de novos vinhedos e a criação em 1973 da Denominação de Origem Malvasia delle Lipari.

A região possui um clima e um solo que favorecem muito a viticultura e a elaboração de vinhos, sendo uma das principais atividades econômicas da ilha italiana. A topografia é variada, formada por colinas, montanhas, planícies e o majestoso vulcão Etna. Encontramos vinhedos por toda parte, que vão das colinas até a parte costeira.

Nas colinas os vinhedos são cultivados em terrazas que chegam inclusive a uma altitude de 1.300 metros, o que as videiras adoram, pois proporciona muita luminosidade e uma ótima drenagem. Encontramos vinhedos também na parte costeira da ilha.

O clima na Sicília é mediterrâneo, mais quente na área mais costeira e no interior da ilha é temperado e úmido, podendo ás vezes apresentar temperaturas bem elevadas por influência de ventos procedentes da África. Também possui uma quantidade grande de microclimas por causa da influência do mar. As chuvas são mais comuns durante o inverno com cerca de 600mm anuais. Os vinhedos sicilianos necessitam, portanto, serem regados.

O solo na ilha é muito variado e rico em nutrientes em razão das erupções vulcânicas do Etna. Encontramos solos arenosos, argilosos e de composição calcária. Em uma parte da ilha o solo é constituído de gneiss, que é um tipo de rocha metamórfica composta de granito. Em quase todas as localidades da Sicília se elaboram vinhos, e essas regiões vitivinícolas contam com várias DOC.

Sicília e suas sub-regiões

As principais castas tintas produzidas na Sicília são: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah, Nerello Mascalese, Nerello Capuccio, Frappato, Sangiovese, Nero d’Avola e Pinot Nero. Já as brancas destacam-se: Grillo, Catarrato, Carricante, Inzolia, Moscato di Panteleria, Grecanico, Trebbiano Toscano, Malvasia, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi, com alguma intensidade, mas com reflexos violáceos que o torna brilhante e envolvente, com lágrimas finas e rápidas.

No nariz se revela o destaque. É extremamente aromático, graças às suas notas frutadas, de frutas vermelhas bem frescas, tais como morango, framboesa e cereja, com um toque de especiarias e de flores vermelhas, fazendo do vinho delicado.

Na boca é leve, fresco, potencializado pela fruta, como no aspecto olfativo. É um vinho saboroso, devido a sua jovialidade e a acidez proeminente. Os taninos, no início, se mostrou um pouco adstringente, mas, ao respirar na taça, ficou bem domado, fino e elegante. Percebe-se, no final, um discreto dulçor que não compromete, pelo contrário, o torna persistente e longo.

Mais uma vez a novidade trouxe prazer! O regozijo de uma degustação surpreendente nos ensina que o universo do vinho é vasto e ainda inexplorado, então temos de nos permitir diversificar as nossas experiências, abrir a mente para as novas possibilidades e não cair na temível zona de conforto. Degustar o Urries Nerello Cappuccio foi perceber que a Sicília é um continente dentro de um país, pois traz uma diversidade incrível de castas, propostas e micro terroirs que faz com que viajemos intensamente por intermédio de seus rótulos. Um vinho de personalidade, por ter o caráter regional de um local improvável para cultivo, um vinho harmonioso, saboroso, descontraído, porém intenso. Mais uma vez me sinto privilegiado por degustar um vinho especial, simples, mas nobre, pois personifica uma região que a cada dia me surpreende, a cada rótulo degustado. A experiência sensorial mais do que agradece, se rende, de forma incondicional, aos caprichos de rótulos interessantes e marcantes. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Cantine La Vite:

Cantine La Vite foi fundada em 1970 pela vontade de 43 fundadores que decidiram se unir para dar vida ao que se tornou uma das vinícolas mais produtivas e florescentes da Sicília.

Os 1.300 sócios cultivadores cultivam cerca de 2.300 hectares nos territórios do centro e sul da Sicília, em particular entre as províncias de Caltanissetta, Agrigento e Ragusa. A produção está orientada para as castas de bagas pretas (cerca de 80%), as uvas brancas locais da Sicília e as uvas Nero d'Avola, das quais a empresa é a maior produtora na Sicília.

Graças ao uso das técnicas de produção mais inovadoras e, acima de tudo, operando com o máximo cuidado e respeito ao meio ambiente, a Cantine La Vite é conhecida mundialmente pela qualidade de seus produtos.

Desde 2020 Cantine La Vite SCA criou a marca Le Schette Fruit para promover um novo negócio de frutas e legumes inteiramente feito em nosso território e por nossos produtores, e nasceu graças à criação de uma infraestrutura moderna, tecnológica e eficiente.

Mais informações acesse:

https://www.cantinelavite.it/en/main-home-english/

Referências:

“Wine”: https://www.wine.com.br/vinhos/urries-i-g-t-terre-siciliane-nerello-cappuccio-2020/prod27166.html

“Wikipedia”: https://pt.frwiki.wiki/wiki/Nerello_Cappuccio

“Revista Sociedade de Mesa”: https://revista.sociedadedamesa.com.br/2016/04/sicilia/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/290-sicilia-o-continente-do-vinho

“Vinhos e Castelos”: https://vinhosecastelos.com/vinhos-da-sicilia-italia/

 

 

 

 

 

 








quinta-feira, 30 de junho de 2022

Cavas do Vale Reserva Merlot 2008

 

Vou contar uma história recente com uma das minhas castas preferidas, a Merlot, para enfatizar um antigo apreço por esta variedade. E, contando essa história, vou enaltecer esse carinho, esse apego sentimental por ela, responsável por me introduzir no universo dos vinhos finos, vitis vinífera.

Estava eu participando de uma live, um recurso tecnológico de comunicação que ganhou certa receptividade pelas pessoas atualmente, muito em decorrência dos períodos sombrios pandêmicos em que não podíamos socializar, mantendo um distanciamento físico, com um desses emergentes críticos e especialistas de vinhos, acredito que era um sommelier, mas que escrevia também sobre vinhos e que também lecionava sobre.

Hoje estamos também testemunhando, muito graças, penso, a proliferação de alguns formadores de opinião do vinho e não falo com rejeição, mas, em alguns momentos com preocupação, pois, com o advento das redes sociais, o filtro de competência e qualidade nas informações disseminadas não são tão, digamos, apuradas, mas precisamos, mesmo em momentos como esse, respeitar essas movimentações democráticas e saber separar o que cada um de nós julga ser bom ou ruim para a gente, no que tange aos conteúdos.

O tema da “live” era as principais castas tintas, as mais famosas. Quando a pauta passou a ser o Merlot, eu decidi participar e fiz uma pergunta que julgava ser importante discutida sobre o atual cenário de cultivo desta no Brasil: Perguntei se podemos considerar a Merlot brasileiro, os rótulos dessas castas produzidos no nosso país, as melhores do mundo.

Não sei se eu não me fiz entender direito ou ele que não compreendeu, mas disse que era para ter cautela nessa observação e que poderia ser um comentário ufanista. Nunca! Cautela? Talvez! Ufanista? Nunca! É fato que, apesar dos tributos, da miopia dos nossos produtores sob o aspecto corporativo da coisa, o custo Brasil alto, os rótulos brasileiros melhoraram, ganhou em tipicidade e, ao longo do tempo e sou testemunha disso, que os Merlots nacionais é o que vem tendo destaque, não tanto quanto os nossos espumantes, mas vem sim, tendo visibilidade.

E depois dessa live decidi me debruçar nas pesquisas e buscar algumas respostas para as minhas dúvidas e perguntas, bem como eventuais equívocos de minha parte em relação a esse tema e li algumas matérias, alguns comentários de outros especialistas acerca da Merlot brasileiro e achei uma que me chamou a sua atenção do Dirceu Vianna Júnior, Master of Wine do Brasil e radicado há muitos anos em Londres.

Ele reuniu, em 2010, um grupo de 40 profissionais internacionais, entre eles 15 Masters of Wine, para uma degustação às cegas de vinhos com a variedade Merlot produzidos em 11 países diferentes. O resultado foi impressionante: entre os 10 melhores classificados pelos especialistas, oito eram brasileiros (ler matéria completa em: Sucesso da Merlot no Brasil). Acredito que esse dado corrobora a questão por mim levantada na live, que expressa o promissor cenário dos grandes rótulos produzidos em nossas terras, com o nosso terroir que vem se destacando e não podemos negligenciar isso. Claro que não podemos negar os centros tradicionais, como Bordeaux, por exemplo, a questão não é uma corrida para ser o melhor, mas colocar o Brasil no rol dos melhores pode ser uma realidade. 

E falando em terroir, a Serra Gaúcha, a mais importante e tradicional região vinícola do Brasil, vem se tornando o centro dos grandes Merlots. E por que estou dizendo tudo isso e contando toda essa história? Para enfatizar o meu carinho e a minha gratidão por essa casta e que a meu caminho para descobri-la, em todas as suas nuances e características, de acordo com o seu terroir, continua e prezo pelas novidades. Então hoje, nesta fria, mas agradável noite, decidi abrir um “debutante”, um quase debutante de quatorze anos de vida, de safra!

E um Merlot dos Vale dos Vinhedos, da Serra Gaúcha! É sempre muito gratificante degustar um Merlot da Serra Gaúcha, mas mais gratificante ainda é degustar um vinho com certa idade, com mais de uma década de garrafa. Certos caminhos eu jamais pensei em percorrer e esse, de experimentar vinhos com esse tempo de safra, sempre me pareceu impossível. Mas cá estou relatando, registrando nesse texto esse momento único, importante para mim e melhor: Um vinho nacional! Quem disse que os brasileiros não podem, não conseguem fazer rótulos com longevidade?

O vinho que degustei e gostei, com todas as honras, privilégios e reverências possíveis, veio do Vale dos Vinhedos, da Serra Gaúcha, do Brasil e se chama Cavas do Vale Merlot Reserva da safra 2008. E o mais prazeroso de ser submetido a essas experiências sensoriais é de degustar vinhos de pequenos e desconhecidos produtores que sim, merecem respeito e respaldo do poder público e de toda a cadeia do vinho neste Brasil. Então sem mais delongas falemos um pouco da Serra Gaúcha e do Vale dos Vinhedos que hoje, vem ganhando notoriedade no universo do vinho brasileiro.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves.

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

Vale dos Vinhedos e a sua Indicação de Procedência

O Vale dos Vinhedos localiza-se no centro do triângulo formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul (noroeste) e Garibaldi (sul). O Vale dos Vinhedos compreende a parte da bacia hidrográfica do Rio Pedrinho, situada a montante da foz de um córrego afluente deste e situado a sudeste da comunidade de Vale Aurora, no município de Bento Gonçalves.

A parte do vale a jusante é denominada de Vale Aurora. A maior parte da área do Vale dos Vinhedos fica localizada em território do município de Bento Gonçalves, com 55% do total, e a menor parte fica localizada em território de Monte Belo do Sul, com 8% na porção noroeste. A parte sul do Vale pertence ao município de Garibaldi, com 37% da área total. Parte da zona urbana de Bento Gonçalves situa-se dentro do perímetro do Vale, haja vista que a linha divisória de águas entre as bacias do Rio Pedrinho e do Rio Buratti passa pela parte oeste da cidade. Localizam-se ao longo desta linha, ou próximo desta, a pista do Aeroclube de Bento Gonçalves, a Estação Rodoviária de Bento Gonçalves, o Estádio da Montanha e a Estação Ferroviária de Bento Gonçalves.

Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO, outorgado pelo INPI.

Vale dos Vinhedos DO

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Veneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Detalhes da Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos

1 - A produção de uvas e a elaboração dos vinhos ocorrem exclusivamente na região delimitada do Vale dos Vinhedos, uma área de 72,45 km2 localizada nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.

2 - Existem requisitos específicos para de cultivo dos vinhedos, produtividade e qualidade das uvas para vinificação;

3 - Os espumantes finos são elaborados exclusivamente pelo “Método Tradicional” (segunda fermentação na garrafa), nas classificações Nature, Extra-brut ou Brut; para este produto as uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório;

4 - Nos vinhos finos brancos, a uva Chardonnay é de uso obrigatório, podendo ter corte com a Riesling Itálico;

5 - O uso da uva Merlot é obrigatória para os vinhos finos tintos da DO, os quais podem ter cortes com vinhos elaborados com as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat;

6 - Os produtos que passam por madeira envelhecem exclusivamente em barris de carvalho;

7 - Para chegar ao mercado, os vinhos brancos passam por um período mínimo de envelhecimento de 6 meses; no caso dos vinhos tintos são 12 meses; os espumantes finos passam por um período mínimo de 9 meses em contato com as leveduras, na fase de tomada de espuma;

8 - Os vinhos apresentam características analíticas e sensoriais específicas da região e somente são autorizados para comercialização os produtos que obtenham do Conselho Regulador da DO o atestado de conformidade em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.

E agora falando do vinho:

Na taça revela um vermelho granada, atijolado, com halos evolutivos, denunciando seus 14 anos de safra, límpido e muito brilhante. Com lágrimas em profusão, finas e lentas, desenham as bordas do copo.

No nariz o destaque fica para os aromas terciários e as notas frutadas, frutas vermelhas maduras, frutas secas e em compota, como: avelã, groselha e cereja. As pipas de madeira, onde o vinho ficou armazenado, pronunciou as frutas. Percebem-se também terra molhada, fumaça, um defumado, as especiarias, representadas pela pimenta e ervas secas. Sente-se também, discretamente, um floral, flores vermelhas.

Na boca traz austeridade e não é por uma eventual estrutura, pois o vinho é leve, mas por ser equilibrado, elegante, sofisticado, garantido pelos seus anos de safra. É leve, porém de marcante personalidade, principalmente pela sua complexidade e um bom volume de boca, graças também as notas frutadas. Tem uma acidez correta, o que surpreende pelo tempo de vida, taninos domados, finos e um final cheio, longo e de retrogosto frutado.

Há um longo caminho a se percorrer para o Brasil se tornar um polo de referência na produção vitivinícola? Sim! Somos muitos jovens na produção de vinhos finos no Brasil, sobretudo diante de uma longa e secular história de vinhos coloniais, por exemplo, os famosas uvas de mesa, dos garrafões, mas vejo, por intermédio de rótulos que, cada vez mais expressam a tipicidade e os terroirs das principais regiões do Brasil na produção de vinhos, um futuro promissor e brilhante pela frente, mesmo com algumas adversidades de quem deveria fomentar o apoio. Mas sigamos aprendendo com os erros.

O fato é de que, além de fatos, estudos, depoimentos e história, a maior prova, a prova mais contundente e cabal é aquela que está na nossa taça, nas nossas adegas, nas nossas mesas, de rótulos como o Cavas do Vale Merlot Reserva que, mesmo com quatorze longos anos, se mostra vivo, pleno e com algum tempo pela frente, caso optasse pela continuidade de seu repouso, de sua evolução. E como evoluiu bem esse vinho, revelando às notas terciárias, as especiarias, as notas de frutas secas, a terra molhada. Como é prazeroso ser submetido à essas experiências e como nos tornamos pequenos perante a natureza e a sua gigante capacidade de nos proporcionar o que de melhor dela vem. Que possamos ter saúde para testemunhar as redenções do Brasil vitivinícola e dos seus rótulos. Tem 12,3% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Cavas do Vale:

A Cavas do Vale é uma vinícola pequena, familiar, artesanal, que elabora vinhos a partir de uvas próprias cultivadas no coração do Vale dos Vinhedos, pelo método tradicional e pipas de madeiras, com a menor intervenção possível de maquinários e produtos enológicos.

A sua história começa em 1954 quando Lucindo Brandelli inicia uma pequena produção de vinhos no porão de casa para consumo próprio, logo a paixão pela vitivinicultura cresceu e o cultivo de uva e produção de vinho tornou-se o negócio da família.

Em 2005, dando continuidade ao projeto do patriarca, um de seus filhos, Irineu Brandelli, enólogo com mais de 30 anos de experiência, funda a Cavas do Vale, elaborando vinhos das uvas Merlot, Cabernet e Tannat e já na primeira safra é brindado pela natureza com a histórica safra de 2005, que originou o vinho Gran Reserva Lucindo Brandelli.

Hoje a vinícola Cavas do Vale se destaca pelos seus vinhos de guarda, o Cavas do Vale Reserva Safra 2008 e o Gran Reserva Lucindo Safra 2005, vinhos vivos, ricos, complexos e com muitos anos de vida pela frente e que refletem ao máximo o terroir do Vale dos Vinhedos.

Mais informações acesse:

https://loja.cavasdovale.com.br/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=SERRAGAUCHA

“Blog Sonoma”: https://blog.sonoma.com.br/o-sucesso-da-merlot-no-brasil/amp/

“Vinho IG”: https://vinho.ig.com.br/2010/08/17/merlot-brasileiro-e-melhor-do-mund.html

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_dos_Vinhedos#Denomina%C3%A7%C3%A3o_de_Origem_Vale_dos_Vinhedos

“Viajali”: https://www.viajali.com.br/vale-dos-vinhedos/

“Embrapa”: https://www.embrapa.br/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil/ig-registrada/do-vale-dos-vinhedos

 

 

 

 

 









sábado, 25 de junho de 2022

Santa Ema Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2017

 

Têm castas que já estão inseridas em nossas vidas de enófilo desde sempre. Está tão inserida que nos traz a sensação de que a conhecemos profundamente, todas as suas nuances e características, cada detalhe. Nem tanto, nem tanto...

Claro que, dependendo da uva, da variedade, se adapta em vários solos, em vários terroirs, ganhando uma personalidade única, com nuances e peculiaridades inerentes a cada região.

A Cabernet Sauvignon, por exemplo, é tida, por muitos, como a rainha das uvas tintas. Não é para menos, claro, se adapta em vários climas e solos, é uma das cepas mais cultivadas do planeta, é a mais consumida também. Tem a sua nobreza pela sua história e representatividade. É digna de sua fidalguia.

Mas ainda há possibilidades de se surpreender com a Cabernet Sauvignon, sobretudo quando se conhece algumas regiões onde ela reina, em termos de qualidade. Falo da emblemática região chilena chamada Vale do Maipo.

E por que estou associando o Maipo com a Cabernet Sauvignon? Exatamente pela qualidade, pela referência dessa região para o cultivo da variedade, conhecida por ser a melhor região para a produção da cepa e de rótulos de plena representatividade em todo o Cone Sul.

A degustação de Cabernets do Maipo felizmente para mim não é novidade. Já havia tido uma experiência e tanto com um rótulo tradicional do Chile, além da região em si, que é o Marquês de Casa Concha Cabernet Sauvignon da safra 2014 e que experiência maiúscula, intensa, plena. De fato, não há o que contestar em degustar um Cabernet Sauvignon do Maipo.

E a segunda oportunidade me veio com outro rótulo de um produtor promissor, expoente em qualidade e tipicidade, que vem ganhando a predileção do enófilo brasileiro, falo da Santa Ema. Eu já tive o prazer de degustar o Merlot, de proposta intermediária da vinícola, o Santa Ema Select Terroir Merlot da safra 2018, e me surpreendeu pela personalidade e a representação do terroir que se confirma, inclusive, no nome.

E este rótulo de hoje se apresenta como um Gran Reserva, um Cabernet Sauvignon, do Vale do Maipo! Algumas combinações no mínimo instigante. Eu o mantive na adega por um tempo desde a compra. A intenção inicial foi deixa-lo por algum tempo na adega e degusta-lo com alguns anos de vida, mas a ansiedade venceu a paciência e a decisão de desarrolhá-lo foi dada.

Mas acredito que esteja no seu auge, no ápice de sua condição. E voilá! Um vinho estupendo, intenso, complexo, mas elegante, redondo, envolvente. Não preciso dizer, mas direi, para não perder o costume. O vinho que degustei e gostei veio do Vale do Maipo, Chile, e se chama Santa Ema Gran Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2017. Então antes da descrição organoléptica do rótulo vamos às apresentações da tradicional Vale do Maipo.

Vale do Maipo

O Vale de Maipo é a única região vinícola do mundo com vinhedos nos limites urbanos de uma capital, Santiago, de 5,5 milhões de habitantes. O vale abriga o maior número de vinícolas do Chile, muitas delas com uma longa tradição vinícola que remonta ao início da produção chilena, e caves do século 19. Os vinhedos se estendem pelo Andes, onde são produzidos os melhores Cabernets, até o planalto central.

Maipo está localizado no extremo norte do Valle Central, onde a faixa costeira separa a costa do Oceano Pacífico e, no lado oriental a Cordilheira dos Andes se divide, separando a região de Mendoza do Vale do Maipo. As primeiras vinhas cultivadas na região chilena datam de 1540, contudo, foi apenas em 1800 que a cultura vinícola começou a se expandir notoriamente, tornando-se uma referência entre os vinhos sul-americanos.

Maipo Valley

A região pode ser dividida em três sub-regiões, Maipo Bajo, Central Maipo e Alto Maipo. Os vinhedos cultivados em Alto Maipo, ou Maipo Superior, percorrem a borda oriental da Cordilheira dos Andes, se beneficiando de altitudes entre 400 e 760 metros. Nesta altura, os dias são quentes e as noites frias, proporcionando uma lenta maturação das uvas, isto é, uvas com maiores índices de acidez.

Central Maipo, conhecida também como Maipo Médio, é uma sub-região de clima mais quente do que no Alto Maipo, bem como solos com maiores composições de argila, dando origem a vinhos mais refinados e elegantes.

A uva Cabernet Sauvignon continua sendo a variedade mais cultivada na região, apesar de existirem pequenos cultivos da Carmenère, casta beneficiada graças as temperaturas mais quentes, bem como Merlot, Syrah, Cabernet Franc, Malbec, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Semillón.

Por fim, a sub-região do Bajo Maipo está situada em torno das cidades de Talagante e Isla de Maipo, onde apesar de existir o cultivo das vinhas, encontra-se com maior facilidade diversas vinícolas.

Alguns produtores estão localizados perto do rio, onde a brisa fresca proporciona microclimas adequados para o cultivo, principalmente, de uvas brancas, além da Cabernet Sauvignon. Valle del Maipo ganhou sua denominação de origem controlada em 1994, decretada pelo governo chileno.

A região vinícola do Valle del Maipo possui 13 denominações: Alhue (DO), Buin (DO), Calera de Tango (DO), Colina (DO), Isla de Maipo (DO), Lampa (DO), Maria Pinto (DO), Melipilla (DO), Pirque (DO), Puente Alto (DO), Santiago (DO), Talagante (DO) e Til Til (DO).

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um intenso e profundo vermelho rubi, mas com reflexos violáceos que estimula um lindo brilho, com lágrimas finas lentas e em profusão que desenham as bordas do copo.

No nariz explodem em aromas frutados, de frutas pretas bem maduras, onde se destacam amora, ameixa e groselha. As notas amadeiradas estão também em evidência e estabelecem uma bela sinergia com a fruta, com a presença de baunilha, especiarias, como pimenta, pimentão, além do tabaco. Os dez meses em barricas de carvalho aportam tais características.

Na boca é seco, de paladar arredondado, elegante, sofisticado, sendo muito equilibrado. Tem média estrutura, bom volume de boca, carnudo, cheio, alcoólico, mas bem integrado ao conjunto do vinho, com taninos pronunciados, presentes, porém redondos com uma excelente acidez que corrobora ou enfatiza o seu bom volume. A madeira traz também o aporte de tosta média, chocolate meio amargo e torrefação. Final agradável e prolongado.

As descrições do produtor referente a safra de 2017 no Chile e a Cabernet Sauvignon que abrilhantou esse rótulo especial pareceu ter ecoado as minhas percepções sensoriais de uma forma avassaladora e brilhante. Diz:

“A safra de 2017 foi uma das primeiras safras da última década, com pelo menos três semanas de antecedência devido a uma primavera seca e um verão quente, com temperaturas muito quentes. Os rendimentos foram abaixo do esperado, mas de excelente qualidade, com uvas muito saudáveis, aromáticas e altamente concentradas. Vinhos desta safra serão lembrados por sua grande complexidade, redondeza, volume e textura. ”

É o que se resume o Santa Ema Gran Reserva Cabernet Sauvignon: elegância, sofisticação envoltos em uma textura de complexidade e alguma estrutura, com as notas típica da passagem por carvalho.

É a personificação do Maipo, sintetiza a região, com o seu apelo regionalista, explodindo na taça em tipicidade e qualidade. Mais uma vez a Cabernet Sauvignon chilena muito bem representada! Teor alcoólico de 13,5%.

Sobre a Vinícola Santa Ema:

O começo da Santa Ema remonta ao início do século XX, mais precisamente em 1917, quando Pedro Pavone Voglino, imigrante italiano, do Piemonte atleta e empresário, descobriu na Ilha de Maipo um Terroir, onde até hoje, é a sede da vinícola, adquirindo a Fazenda Santa Ema, de 35 ha.

O fundador, juntamente com seu filho Félix Pavone Arbea, um grande empreendedor e visionário, fundou a empresa vinícola, Vinhos Santa Ema, em 1956, proporcionando uma avançada infraestrutura industrial para o desenvolvimento e gerenciamento de vinhos embalados de alta qualidade.

A partir de então, a Santa Ema se abriu para o Chile e para o mundo, iniciando suas exportações, em 1986, com um processo de crescimento sólido e ininterrupto, que hoje atinge a mais de 30 países de destino nas mãos da terceira e quarta geração da família.

Se existe algo que caracteriza o espírito, a missão e a visão dos Vinhos de Santa Ema, que continua pertencendo à Família Pavone, hoje em sua quarta geração, é uma adesão plena e sustentada aos seguintes valores fundamentais: compromisso, qualidade, respeito, honestidade e responsabilidade.

Mais informações acesse:

https://www.santaema.cl/pt-br/?active=S

Referências:

“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-del-maipo

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MAIPO#:~:text=O%20vale%20abriga%20o%20maior,produzidos%2C%20at%C3%A9%20o%20planalto%20central.

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/colchagua-chile/

“Turistando Chile”: https://www.turistandochile.com.br/tours_ver/valle-del-maipo

“Viagem e Turismo Chile”: https://viagemeturismo.abril.com.br/cidades/valle-del-maipo/