Têm castas que já estão inseridas em nossas vidas de enófilo desde sempre. Está tão inserida que nos traz a sensação de que a conhecemos profundamente, todas as suas nuances e características, cada detalhe. Nem tanto, nem tanto...
Claro que, dependendo da uva, da variedade, se adapta em
vários solos, em vários terroirs, ganhando uma personalidade única, com nuances
e peculiaridades inerentes a cada região.
A Cabernet Sauvignon, por exemplo, é tida, por muitos, como a
rainha das uvas tintas. Não é para menos, claro, se adapta em vários climas e
solos, é uma das cepas mais cultivadas do planeta, é a mais consumida também.
Tem a sua nobreza pela sua história e representatividade. É digna de sua
fidalguia.
Mas ainda há possibilidades de se surpreender com a Cabernet
Sauvignon, sobretudo quando se conhece algumas regiões onde ela reina, em
termos de qualidade. Falo da emblemática região chilena chamada Vale do Maipo.
E por que estou associando o Maipo com a Cabernet Sauvignon?
Exatamente pela qualidade, pela referência dessa região para o cultivo da
variedade, conhecida por ser a melhor região para a produção da cepa e de
rótulos de plena representatividade em todo o Cone Sul.
A degustação de Cabernets do Maipo felizmente para mim não é
novidade. Já havia tido uma experiência e tanto com um rótulo tradicional do
Chile, além da região em si, que é o Marquês de Casa Concha Cabernet Sauvignon
da safra 2014 e que experiência maiúscula, intensa, plena. De fato, não há o
que contestar em degustar um Cabernet Sauvignon do Maipo.
E a segunda oportunidade me veio com outro rótulo de um
produtor promissor, expoente em qualidade e tipicidade, que vem ganhando a
predileção do enófilo brasileiro, falo da Santa Ema. Eu já tive o prazer de
degustar o Merlot, de proposta intermediária da vinícola, o Santa Ema Select Terroir Merlot da safra 2018, e me surpreendeu pela personalidade e a representação do terroir
que se confirma, inclusive, no nome.
E este rótulo de hoje se apresenta como um Gran Reserva, um
Cabernet Sauvignon, do Vale do Maipo! Algumas combinações no mínimo instigante.
Eu o mantive na adega por um tempo desde a compra. A intenção inicial foi
deixa-lo por algum tempo na adega e degusta-lo com alguns anos de vida, mas a
ansiedade venceu a paciência e a decisão de desarrolhá-lo foi dada.
Mas acredito que esteja no seu auge, no ápice de sua
condição. E voilá! Um vinho estupendo, intenso, complexo, mas elegante,
redondo, envolvente. Não preciso dizer, mas direi, para não perder o costume. O
vinho que degustei e gostei veio do Vale do Maipo, Chile, e se chama Santa Ema
Gran Reserva Cabernet Sauvignon da safra 2017. Então antes da descrição
organoléptica do rótulo vamos às apresentações da tradicional Vale do Maipo.
Vale do Maipo
O Vale de Maipo é a única região vinícola do mundo com
vinhedos nos limites urbanos de uma capital, Santiago, de 5,5 milhões de
habitantes. O vale abriga o maior número de vinícolas do Chile, muitas delas
com uma longa tradição vinícola que remonta ao início da produção chilena, e
caves do século 19. Os vinhedos se estendem pelo Andes, onde são produzidos os
melhores Cabernets, até o planalto central.
Maipo está localizado no extremo norte do Valle Central, onde
a faixa costeira separa a costa do Oceano Pacífico e, no lado oriental a
Cordilheira dos Andes se divide, separando a região de Mendoza do Vale do
Maipo. As primeiras vinhas cultivadas na região chilena datam de 1540, contudo,
foi apenas em 1800 que a cultura vinícola começou a se expandir notoriamente,
tornando-se uma referência entre os vinhos sul-americanos.
A região pode ser dividida em três sub-regiões, Maipo Bajo,
Central Maipo e Alto Maipo. Os vinhedos cultivados em Alto Maipo, ou Maipo
Superior, percorrem a borda oriental da Cordilheira dos Andes, se beneficiando de
altitudes entre 400 e 760 metros. Nesta altura, os dias são quentes e as noites
frias, proporcionando uma lenta maturação das uvas, isto é, uvas com maiores
índices de acidez.
Central Maipo, conhecida também como Maipo Médio, é uma
sub-região de clima mais quente do que no Alto Maipo, bem como solos com
maiores composições de argila, dando origem a vinhos mais refinados e
elegantes.
A uva Cabernet Sauvignon continua sendo a variedade mais
cultivada na região, apesar de existirem pequenos cultivos da Carmenère, casta
beneficiada graças as temperaturas mais quentes, bem como Merlot, Syrah,
Cabernet Franc, Malbec, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Semillón.
Por fim, a sub-região do Bajo Maipo está situada em torno das
cidades de Talagante e Isla de Maipo, onde apesar de existir o cultivo das
vinhas, encontra-se com maior facilidade diversas vinícolas.
Alguns produtores estão localizados perto do rio, onde a
brisa fresca proporciona microclimas adequados para o cultivo, principalmente,
de uvas brancas, além da Cabernet Sauvignon. Valle del Maipo ganhou sua
denominação de origem controlada em 1994, decretada pelo governo chileno.
A região vinícola do Valle del Maipo possui 13 denominações:
Alhue (DO), Buin (DO), Calera de Tango (DO), Colina (DO), Isla de Maipo (DO),
Lampa (DO), Maria Pinto (DO), Melipilla (DO), Pirque (DO), Puente Alto (DO),
Santiago (DO), Talagante (DO) e Til Til (DO).
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um intenso e profundo vermelho rubi, mas com
reflexos violáceos que estimula um lindo brilho, com lágrimas finas lentas e em
profusão que desenham as bordas do copo.
No nariz explodem em aromas frutados, de frutas pretas bem
maduras, onde se destacam amora, ameixa e groselha. As notas amadeiradas estão
também em evidência e estabelecem uma bela sinergia com a fruta, com a presença
de baunilha, especiarias, como pimenta, pimentão, além do tabaco. Os dez meses
em barricas de carvalho aportam tais características.
Na boca é seco, de paladar arredondado, elegante,
sofisticado, sendo muito equilibrado. Tem média estrutura, bom volume de boca,
carnudo, cheio, alcoólico, mas bem integrado ao conjunto do vinho, com taninos
pronunciados, presentes, porém redondos com uma excelente acidez que corrobora
ou enfatiza o seu bom volume. A madeira traz também o aporte de tosta média, chocolate
meio amargo e torrefação. Final agradável e prolongado.
As descrições do produtor referente a safra de 2017 no Chile
e a Cabernet Sauvignon que abrilhantou esse rótulo especial pareceu ter ecoado
as minhas percepções sensoriais de uma forma avassaladora e brilhante. Diz:
“A safra de 2017 foi uma das primeiras safras da última
década, com pelo menos três semanas de antecedência devido a uma primavera seca
e um verão quente, com temperaturas muito quentes. Os rendimentos foram abaixo
do esperado, mas de excelente qualidade, com uvas muito saudáveis, aromáticas e
altamente concentradas. Vinhos desta safra serão lembrados por sua grande complexidade,
redondeza, volume e textura. ”
É o que se resume o Santa Ema Gran Reserva Cabernet
Sauvignon: elegância, sofisticação envoltos em uma textura de complexidade e
alguma estrutura, com as notas típica da passagem por carvalho.
É a personificação do Maipo, sintetiza a região, com o seu
apelo regionalista, explodindo na taça em tipicidade e qualidade. Mais uma vez
a Cabernet Sauvignon chilena muito bem representada! Teor alcoólico de 13,5%.
Sobre a Vinícola Santa Ema:
O começo da Santa Ema remonta ao início do século XX, mais
precisamente em 1917, quando Pedro Pavone Voglino, imigrante italiano, do
Piemonte atleta e empresário, descobriu na Ilha de Maipo um Terroir, onde até
hoje, é a sede da vinícola, adquirindo a Fazenda Santa Ema, de 35 ha.
O fundador, juntamente com seu filho Félix Pavone Arbea, um
grande empreendedor e visionário, fundou a empresa vinícola, Vinhos Santa Ema,
em 1956, proporcionando uma avançada infraestrutura industrial para o
desenvolvimento e gerenciamento de vinhos embalados de alta qualidade.
A partir de então, a Santa Ema se abriu para o Chile e para o
mundo, iniciando suas exportações, em 1986, com um processo de crescimento
sólido e ininterrupto, que hoje atinge a mais de 30 países de destino nas mãos
da terceira e quarta geração da família.
Se existe algo que caracteriza o espírito, a missão e a visão
dos Vinhos de Santa Ema, que continua pertencendo à Família Pavone, hoje em sua
quarta geração, é uma adesão plena e sustentada aos seguintes valores
fundamentais: compromisso, qualidade, respeito, honestidade e responsabilidade.
Mais informações acesse:
https://www.santaema.cl/pt-br/?active=S
Referências:
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-del-maipo
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MAIPO#:~:text=O%20vale%20abriga%20o%20maior,produzidos%2C%20at%C3%A9%20o%20planalto%20central.
“Blog
Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/colchagua-chile/
“Turistando
Chile”: https://www.turistandochile.com.br/tours_ver/valle-del-maipo
“Viagem e Turismo Chile”: https://viagemeturismo.abril.com.br/cidades/valle-del-maipo/
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