sexta-feira, 29 de julho de 2022

Dom Bernardino Marselan

 

Já que defendo, de forma consistente e insistente, que o universo do vinho é vasto e inexplorado, vamos enaltecer tal máxima, explorando, garimpando essa vastidão de rótulos personificados em regiões, castas e tudo o mais.

E o melhor de todas essas experiências sensoriais é o contato latente com a cultura e a história de regiões, dos países e dos terroirs com os seus comportamentos que diretamente influenciam nas variedades que degustamos e que também influenciam no modo de produção, de vinificação de todos os vinhos que degustamos diariamente.

Sempre ouvi dizer que São Paulo, por exemplo, foi uma região proeminente na produção de vinhos e mais, com certo protagonismo na história vitivinícola brasileira. Mas nunca parei para pensar na dimensão dessa informação, na relevância disso tudo e consequentemente nunca me atentei para a possibilidade de degustar quaisquer vinhos das regiões contempladas pela natureza nas terras paulistas.

E de uma forma quase que despretensiosa que a região de São Roque entrou em meu caminho enófilo e que, para a minha simples e humilde realidade de degustador de vinhos, está até mais intensa com algumas degustações surpreendentes, positivamente falando.

E o mais importante de tudo: a valorização dos pequenos e médios produtores! Dos produtores artesanais que, diante de sua importância para o cenário vitivinícola brasileiro, se tornam grandes, embora pouco valorizados e boicotados pela indústria do vinho. Mas isso é outra história...

Quando descobri um site chamado Pemarcano Vinhos os rótulos de São Roque, conhecida como a “terra do vinho”, vem se tornando, razoavelmente constante, em minha realidade e, depois das primeiras experiências, tenho sido agraciado por alguns vinhos especiais pelo amigo Luciano, dono da Pemarcano, com rótulos especiais.

E um desses produtores pequenos que vem me surpreendendo é a Bella Aurora. Alguns já foram, claro, degustados e que realmente gostei. Comecei pelo Dom Bernardino Touriga Nacional 2018! Um Touriga Nacional de São Roque! Jamais esperaria que isso fosse acontecer! Claro que as uvas são oriundas do Rio Grande do Sul, porém vinificadas nas dependências da Bella Aurora.

Depois veio outra surpresa inacreditável: Dom Bernardino Riesling 2020! Um vinho leve, frutado, uma acidez salivante. Resumindo: um vinho saboroso. Então, diante disso, nada mais do que natural buscar novos rótulos ou torcer para que o amigo Luciano, no ápice de sua gentileza, me trouxesse algo novo dessa vinícola. E não é que veio?!

E veio com mais uma surpresa! Aquela que veio de forma arrebatadora. Não demorei muito a degusta-lo diante da ansiedade que me tomava de assalto. Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio, claro, de São Roque, São Paulo, e se chama Dom Bernardino da casta Marselan não safrado.

E como nas resenhas dos rótulos degustados anteriormente deste produtor, devo, preciso exaltar a nobreza histórica dessa região tão importante para a cultura vitivinícola brasileira, claro, falo de São Roque e também da casta Marselan.

São Roque: “A terra do vinho”

A cidade de São Roque foi fundada no dia 16 de agosto de 1657, mas começou como uma grande fazenda do capitão paulista Pedro Vaz de Barros, que pertencia a uma família de bandeirantes e sertanistas. Vaz de Barros também participou de diversas Bandeiras. O fundador da cidade, também conhecido como Vaz Guaçú, contava com aproximadamente 1.200 índios que trabalhavam em suas terras, onde eram cultivados trigo e uva.

Alguns anos após a morte de Vaz de Barros, seu irmão, Fernão Paes de Barros, se estabeleceu na mesma região, onde construiu uma casa e uma capela, que foram restauradas em 1945 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido do escritor Mário de Andrade, dono da propriedade.

Na região de São Roque, podem-se identificar referências à vitivinicultura desde a sua fundação, por volta do final do século XVII. Conforme informações encontradas e divulgadas pelos moradores da cidade, através da tradição oral, ou mesmo citado pelo Professor Joaquim Silveira dos Santos em seu artigo para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXXVII, nessa época toda a região pertencia a apenas três grandes proprietários de terras: Pedro Vaz de Barros, seu irmão Fernão Paes de Barros e o padre Guilherme Pompeu de Almeida, sendo que Pedro Vaz (tido como o fundador da cidade) se estabeleceu próximo da atual igreja Matriz, seu irmão mais ao norte, onde até hoje ainda se encontra a casa grande e capela Santo Antônio, e por fim a fazenda do padre Guilherme Pompeu se encontrava na hoje atual cidade de Araçariguama que faz divisa com Santana do Parnaíba.

Portanto realmente não se podem esperar grandes referências desse período da história, afinal o Brasil era apenas uma colônia e que existiam restrições da fabricação de qualquer tipo de produto em nosso solo, ou seja, em tese tudo deveria vir de Portugal, inclusive o vinho.

Após um período difícil, o povoado originado por Pedro Vaz foi elevado à categoria de Freguesia no dia 15 de agosto de 1768, recebendo o nome de São Roque do Carambeí. No dia 10 de julho de 1832, a Freguesia foi elevada à categoria de vila, mas o progresso do local só começou em 1838, quando começaram as lavouras de milho, algodão, arroz, mandioca e farinha de mandioca, cana de açúcar e derivados, legumes e verduras.

Em março de 1846, seis anos após instalar-se na vila o destacamento da Guarda Nacional, Dom Pedro II e uma pequena comitiva permaneceram um dia na cidade de São Roque. Com a passagem de Dom Pedro II, Antonio Joaquim começou a se destacar no cenário político e, graças ao morador ilustre, São Roque foi elevada à categoria de cidade no dia 22 de abril de 1864.

Após esse longo período de estagnação, o primeiro registro oficial de plantação de uvas na região de São Roque se dá por volta de 1865, quando o Doutor Eusébio Stevaux inicia uma pequena plantação na sua fazenda em Pantojo. Pela mesma época, um colono italiano adquire uma pequena propriedade no bairro de Setúbal, alguns anos mais tarde um português na terra do então Sítio Samambaia forma um razoável vinhedo e inicia o processo de fabricação do vinho.

Dr. Eusébio Stevaux

Já em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, que ligou a cidade de São Paulo a São Roque e Sorocaba. Após alguns anos, em 1884, começou a grande chegada de imigrantes à cidade, fazendo com que as vinícolas aparecessem novamente e ganhassem força nos anos seguintes. Em 1924, a cidade já contava com 17.300 habitantes e foram produzidos 10 mil litros de vinho a cada ano, tendo doze produtores de vinhos, sendo cinco deles italianos.

O que possibilitou o retorno da cultura da uva e fabricação do vinho foi a importação de videiras oriundas dos Estados Unidos, pois estas eram mais resistentes ao clima brasileiro. Dentre as principais videiras trazidas estão inicialmente a “Izabel”, a “Seibel 2” (importada da França), curiosamente trazida por imigrantes italianos que se instalaram na região e posteriormente a “Niágara Branca”, oriunda da região do Alabama, EUA.

Portanto, a divisão do período da cultura vinícola de São Roque, desde a fundação da cidade até a época atual em quatro fases distintas:

1ª fase: 1657 – 1880: importação de videiras portuguesas, plantações domiciliares, sem qualquer cunho comercial, ou seja, somente para consumo próprio.

2ª fase: 1880 – 1900: Retomada da viticultura são-roquense, ainda que amadora, quase que familiar, continua voltada basicamente para o consumo e pequeno varejo. Já apresenta uma tendência a profissionalização graças às técnicas trazidas pelos imigrantes italianos e portugueses. Já se utiliza da videira americana que melhor se adaptou ao clima tropical brasileiro (talvez seja este um dos principais fatores de sucesso do cultivo da uva na região de São Roque);

3ª fase 1900 – até aproximadamente final da década de 1950: processo de industrialização e profissionalização da produção do vinho com aplicações de técnicas mais modernas permitindo assim obter resultados e desempenho melhores.

Pode-se dividir esta fase primeiramente num período de início do processo de profissionalização e logo após (a partir da década de 1920), o período em que realmente a região investiu e desenvolveu as técnicas vinicultoras, durando até aproximadamente a década de 1950, onde após a massificação da produção entra num processo de decadência.

4ª fase década de 1960 – atual: esta fase engloba o processo de decadência da viticultura são-roquense. Por motivos econômicos e climáticos e até mesmo por falta de investimentos em pesquisas, que se reduziram sensivelmente tanto a qualidade como a quantidade de vinho produzido, levando ao fechamento de diversas adegas (isso principalmente a partir da década de 1980). São Roque permanecendo hoje somente com o título de “terra do vinho”, sendo que os poucos fabricantes que restaram (aproximadamente treze adegas) fabricam seu vinho não de uvas nativas de São Roque, mas sim oriundas de outras partes do Estado ou mesmo de outros estados (exemplo: Rio Grande do Sul).

Há atualmente um movimento para tentar a reversão dessa situação, porém continua bem modesto em relação a todo o histórico e números do passado no ápice do cultivo da videira em São Roque.

Marselan

A Marselan é uma uva tinta que vem aparecendo, cada vez mais, nos rótulos na versão varietal, ganhando em notoriedade. Ela faz parte do seleto grupo das 6 uvas já aprovadas pelo INAO (Institut National de L’Origine et de La Qualité) para compor a lista das uvas em Bordeaux e Bordeaux Superiéur. Juntam a esse time as tintas Castets, Arinarnoa, Touriga Nacional, bem como as brancas Alvarinho e Liliorila.

A Marselan não surgiu naturalmente. Nasceu pelas mãos do ampelógrafo parisiense Paul Truel, criador de mais de 12 outras variedades de uvas, em 1961, no sul da França. O nome da casta foi inspirado na cidade de Marseillan próxima a Montpellier. É lá onde fica localizado o INRA – centro de pesquisa agronômica, onde ele trabalhou até se aposentar em 1985.

Paul Truel

Quando Paul idealizou a Marselan ele tinha em mente potencializar, unir e melhorar as características de duas uvas conhecidas: a Cabernet Sauvignon e a Grenache. Da Cabernet Sauvignon, Truel queria preservar a potência, com rendimentos maiores, por outro lado, da Grenache – uva que se adaptou muito bem aos climas quentes – ele queria uma uva que tivesse resistência às altas temperaturas e, claro, uma nova casta resistente às doenças.

No início, ela não ganhou destaque e não foi o sucesso esperado, devido à baixa produtividade e aos pequeninos bagos. Com o aumento da demanda por uvas resistentes às moléstias – oídio, ácaros e podridão cinzenta, por exemplo -, ela foi incluída na listagem oficial de registros quase 30 anos depois, em 1990. Atualmente, é possível encontrá-la em terroirs com características distintas e ela deixa sua marca talentosa em diversos estilos, seja em um blend ou mesmo reinando sozinha em um varietal.

Muitos a utilizaram por anos apenas em pequenas porções em vinhos de corte, até que em 2002 surgiu o primeiro vinho 100% Marselan do mercado, o francês Domaine Devereux. De lá para cá, a Marselan começou a ser exportada para diferentes países, e vem ganhando espaço na Califórnia, Brasil e até na China, onde o Chateau Lafite Rotschild implantou vinhedos de Marselan mirando o mercado interno chinês.

Falando em países produtores, a Marselan vem sendo muito cultivada no Brasil, e a cada safra que passa novos produtores lançam seus rótulos. A Marselan é muito interessante para os produtores nacionais, especialmente os da Serra Gaucha, por sua boa resistência a doenças fúngicas, que aparecem ao menor sinal de umidade. Vinificada, a uva apresenta bebidas muito agradáveis e com grande potencial de guarda.

Uma característica é o ótimo equilíbrio entre taninos e acidez, além do álcool sempre bem incorporado. Estas características fazem com que os vinhos sejam de fácil consumo tanto com um ano de garrafa quanto com 5 ou 6. O estágio em barris de carvalho deixa os vinhos de Marselan ainda mais interessantes, dando um aspecto de vinhos da Toscana – com estrutura, corpo, mas muita elegância.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi, com alguma intensidade e halos granada, com lágrimas finas e em média intensidade.

No nariz é o destaque, trazendo aromas de frutas vermelhas maduras, como groselha, cereja, morango, além de notas de especiarias que lembram ervas, com um toque de terra molhada e couro.

Na boca é seco, típico da variedade, leve para média estrutura, sedoso, aveludado, graças o equilíbrio entre acidez, média, taninos, domados e álcool, bem integrado, além do protagonismo da fruta, como no aspecto olfativo e final curto.

Degustar regiões pouco “corriqueiras” como São Roque, claro, pelo menos para esse reles enófilo que vos fala, é como se estabelecêssemos um contato com um Novo Mundo e, após esse contato, a necessidade se torna premente de garimpar, descobrir, conhecer e deleitar, como a universo inexplorado e vasto, como sempre costumo falar de forma, confesso, demasiada. Novas experiências são conquistadas! Essa é a nossa conquista! A mais especial e pacífica possível: o direito inalienável de um enófilo à degustação. Dom Bernardino Marselan é simples, mas especial, não apenas por ser de São Roque, não apenas por ser um pequeno produtor, mas pela sinceridade pela qual foi concebido. Um bom vinho! Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Bella Aurora:

Vinícola fundada na década de 1920 por Bernardino Pereira Leite imigrante português iniciou sua produção para consumo caseiro. A produção em escala comercial teve início em 1932.

Com mais de 85 anos, Vinhos Bella Aurora mantém sua tradição familiar na produção de saborosos vinhos, contando com uma excelente estrutura de atendimento aos visitantes e uma equipe de representantes comercial em todo estado de São Paulo.

A Vinícola proporciona um passeio turístico para quem busca contato com a natureza. Neste passeio poderá degustar bons vinhos e sucos, além de poder adquirir toda a linha de produtos típicos da Vinícola Bella Aurora. Para melhor atender os clientes, a cantina dos Vinhos Bella Aurora foi montada no interior de um autêntico tonel de madeira com capacidade para 120 mil litros.

Mais informações acesse:

https://www.bellaaurora.com.br/

Video institucional Bella Aurora – link:

https://www.youtube.com/watch?v=pihf88FDhUE

Referências:

“Assembleia Legislativa de São Paulo”: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=301135

“Blog do Lullão”: http://www.lullao.com/p/historia-do-vinho-em-sao-roque.html?m=1

“Sites Google”: https://sites.google.com/site/historiadovinhodesaoroque/home/historia-do-vinho-de-sao-roque

“Tosin Consultoria”: https://tosinconsultoria.com.br/marselan-que-uva-e-essa/

“Enocultura”: https://www.enocultura.com.br/cruzamento-entre-uvas-marselan/

 

 

 

 

 

  










terça-feira, 26 de julho de 2022

Fiuza Native Chardonnay e Arinto 2019

 

Nada melhor do que garimpar, buscar novas experiências sensoriais. Novas castas, novas regiões vitícolas. Tem sido maravilhoso viajar nessas novas percepções organolépticas, mas não podemos negligenciar os clássicos. Nunca!

Até porque os clássicos atingiram tal condição por serem exatamente especiais! A tradição e a credibilidade põem a mesa, na expressão literal da palavra. Os clássicos certamente construíram a minha predileção pela poesia líquida. Quem não começou a degustar um Merlot, Cabernet Sauvignon, Malbec e nunca se encantou?

E quando temos um blend das principais castas brancas dos mais emblemáticos países produtores de vinhos do planeta? Apesar de serem variedades extremamente conhecidas, a primeira muito conhecida em seu país, Portugal, a outra, oriunda da França, é mundialmente conhecida e de fácil adaptabilidade em vários terroirs, em vários climas, ganhando contornos em suas características.

Falo da Arinto, portuguesa, que se adaptou em várias regiões emblemáticas de Portugal e a rainha das uvas brancas, a Chardonnay. E de uma região que não degustava há mais de um ano e que também traz a assinatura da tradição de Portugal: o Tejo.

Apesar de serem castas amplamente conhecidas, o blend me traz grandes novidades! Mesmo que apresentem tradição e uma grande capacidade de cultivo, logo expansão de rótulos ofertados, ainda há brechas para o novo, o novo pelo menos para mim, humilde e reles enófilo.

Então sem mais delongas apresentarei o vinho que degustei e gostei que veio da região emblemática do Tejo, de Almerim, que se chama Fiuza composto pelas castas Arinto e Chardonnay da safra 2019. E para não perder o costume vamos às histórias do Tejo, a sua sub-região, Almerim, de onde veio esse rótulo e depois as descrições desse rótulo que, claro, tinha que me surpreender positivamente.

Tejo



A história da Região do Tejo se confunde com a das suas Terras. Sob o comando do rio Tejo, influenciando economia, paisagem e clima, trata-se de uma das mais antigas regiões produtoras de vinhos de Portugal, cujo patrimônio remonta à presença Romana na antiga Lusitana.

A Região Vitivinícola do Tejo está localizada no centro de Portugal, a pouca distância de Lisboa. O rio não é o que separa, mas o que liga um território vitivinícola com 12.500 hectares de vinhas distribuídos por 21 municípios. Largo e imponente, o Tejo é o maior rio de Portugal. Como elemento primordial da paisagem, moldou a história dos que lá vivem, criam e trabalham, influenciando o clima e o terroir.

Tejo

A arte de produzir vinho, nesta região, remonta a 2000 a.C., quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto às margens do rio que lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques fez referência aos vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo teria exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano, atingira o valor de 12.000 reis. As histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de 1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.

Em 1989, são fundadas seis Indicações de Proveniência Regulamentada para vinhos da região do Ribatejo e, em 1997, é criada a Comissão Vitivinícola Regional do Ribatejo, à qual se sucede a constituição por lei da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em 2009, seguindo-se a Rota dos Vinhos do Tejo.

Muitas das quintas produtoras pertencem às famílias nobiliárquicas. Cada uma com a sua história, em comum têm o objetivo de produzir vinhos de qualidade, que expressem as caraterísticas da região. Como resultado, os vinhos incorporam tradições (o pisa pé, método de esmagar as uvas com os pés), o entusiasmo e empenho das suas gentes, a natureza que predomina nas terras ribatejanas e as mais modernas tecnologias.

O Tejo tem alguns dos mais vibrantes e acessíveis vinhos de Portugal, oferecendo uma gama diversificada e diferenciada de estilos, para todos os gostos, orçamentos e ocasiões. A produção anual, que cresce safra após safra, atingiu, no último ano, 2021, cerca de 23,3 milhões de litros.

Nos brancos, o perfil traduz-se em vinhos muito aromáticos, frescos e elegantes. Os tintos são muito equilibrados, frescos e com taninos distintos. No nariz, sobressai a fruta.  Já nos tintos de guarda a madeira revela-se de forma discreta. A região do Tejo produz também excelentes vinhos rosés, espumantes, frisantes, e ainda licorosos e colheitas tardias.

As castas tintas nativas do Tejo incluem a Touriga Nacional, a casta portuguesa por excelência, bem como a Trincadeira, Castelão e Aragonês. O aromático Fernão Pires e o Arinto produzem alguns dos vinhos brancos mais refrescantes da região. Estas castas autóctones prosperaram em climas quentes e solos complexos da Região do Tejo, mantendo a elevada acidez natural, para produzir vinhos equilibrados com características de frutas ricas.

Na Região do Tejo, a legislação permite a utilização de diversas castas, tanto nacionais como internacionais. As brancas mais comuns são Chardonnay e Sauvignon Blanc. Entre as tintas destacam-se as Cabernet Sauvignon e Merlot.

O terroir da região está profundamente ligado à influência que o rio Tejo inflige às margens, que muitas vezes inunda as vinhas em época de cheias. A sua força e amplitude influenciam o solo e o clima, gerando três áreas produtoras distintas:

Bairro: localizado a norte do rio Tejo, as suas terras altas são compostas por colinas e planícies, ricas em solos de calcário e argila e depósitos de xisto.

Charneca: na margem sul do Tejo, apresenta solos arenosos e temperaturas elevadas, o que leva a um amadurecimento mais rápido das uvas na região.

Campo: localizado nas margens do Tejo, a influência do rio faz-se sentir nas temperaturas mais amenas, resultando vinhos mais frutados, acidez e frescor.

A Região dos Vinhos do Tejo é composta por um total de 17 mil hectares de terreno vinícola, que produzem anualmente cerca de 650 mil hectolitros, o que representa cerca de 10% do total de vinho produzido em Portugal. Destes cerca de 110 mil hectolitros são certificados, dos quais 90% são vinhos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) e 10% são vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC).

Almerim

Almeirim é uma cidade que está localizada no Ribatejo e que pertence ao distrito de Santarém, tendo cerca de 11.700 habitantes. Desde 2002 está integrada na região do Alentejo e na sub-região da Lezíria do Tejo, continua, no entanto, a fazer parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo.

O município é limitado a norte pelo município de Alpiarça, a leste e nordeste pela Chamusca, a sul por Coruche e Salvaterra de Magos, a oeste pelo Cartaxo e a noroeste por Santarém.

A ocupação humana da atual área do concelho de Almeirim é muito antiga. Terão sido a proximidade do rio Tejo e a riqueza natural os fatores que terão contribuído para a instalação de homens nesta região.

Com as suas magníficas coutadas de caça, que se estendiam por uma grande extensão, a vizinhança de Santarém, as proximidades do Tejo e ainda de Lisboa, com fácil acesso, por via fluvial, Almeirim tornou-se, desde logo, no lugar preferido dos reis da II dinastia e a estância de Inverno frequentada por numerosos membros da Corte, de tal maneira que foi considerada a "Sintra de Inverno", no século XVI.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo e brilhante amarelo palha, límpido, diria, com alguma intensidade, com reflexos esverdeados.

No nariz explode em aromas de frutas brancas, frutas de caroço onde se destacam pera, melão, melancia, maçã-verde, abacaxi, com toques cítricos, sendo muito fresco, com um delicado floral.

Na boca é leve, saboroso, com o protagonismo, como no aspecto olfativo, das frutas brancas e cítricas, mas que traz alguma complexidade caracterizada por uma discreta untuosidade, com um acidez equilibrada e final cheio e persistente.

Novidades, garimpos, propostas arrojadas, moderno e clássico. Todos os quesitos são consistentes quando falamos em vinho! Tudo é válido para quem ama a poesia líquida! E o Fiuza Native Arinto e Chardonnay trouxe um pouco de cada um: Castas tradicionais, a classe de suas características, a representatividade histórica da região, o corte arrojado e moderno conspiraram a favor deste belo e surpreendente rótulo de uma vinícola que tem, como filosofia, a junção de variedades autóctones e castas emblemáticas francesas. Um vinho fresco, leve, solar, mas que traz personalidade, sobretudo pelo seu blend. O frescor da Arinto, dada pela sua acidez e a estrutura da Chardonnay entrega esse vinho especial e versátil. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinícola Fiuza & Bright:

A Família Mascarenhas Fiuza dedica-se à vitivinicultura há mais de um século. A empresa iniciou a sua atividade no início do Século XX. Joaquim Mascarenhas Fiuza, filho de D. Luísa Mascarenhas (irmã do 10º Marquês de Fronteira e 9º Marquês de Alorna) começou a produzir vinho com o seu tio nas propriedades da Família Mascarenhas Fiuza que há séculos que tem Quintas na região.

Em 1986, surge a parceria entre o produtor de vinhos Joaquim Mascarenhas Fiuza e o prestigiado enólogo australiano Peter Bright donde nasce a empresa Fiuza & Bright. Pioneira na produção das castas francesas em Portugal, a Fiuza & Bright produz nas suas duas quintas (Quinta da Requeixada e Quinta da Granja) as principais castas portuguesas como a Touriga Nacional, Aragonez, Arinto, Vital, Fernão Pires ou o Alvarinho e também algumas das principais castas francesas como o Alicante Bouschet, o Cabernet Sauvignon, o Merlot, Syrah, o Chardonnay ou o Sauvignon Blanc.

As suas vinhas situam-se na região do Tejo, na região demarcada de Santarém e de lá têm saído alguns dos melhores vinhos portugueses, que são produzidos exclusivamente na sua Adega em Almeirim. Como consequência de todo esse trabalho e cuidado, a Fiuza têm recebido vários prémios e medalhas ao longo dos últimos anos.

Mas não só nos vinhos, Joaquim Mascarenhas Fiuza conquistou medalhas. De fato, o seu dia a dia dividia-se entre a atividade vitivinícola e o famoso desporto náutico, a Vela, na categoria "Star".

Enquanto atleta, protagonizando participações vitoriosas nas mais variadas provas e países, destacou-se sobretudo nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, de Londres em 1948 e em 1952, em Helsinque, tendo neste último ganho a merecida Medalha de Bronze. Nesse mesmo ano de 1952, em dupla com Rebelo Carvalho, conseguiu o quarto lugar no Campeonato do Mundo. Em 1957 e 1958, concretizou um sonho de ser Campeão da Europa. Por nove vezes foi ainda Campeão Nacional.

Mais informações acesse:

https://www.fiuzabrightpt.com/

Referências:

“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/regiao-do-tejo-terra-de-vinhos-e-tradicao/

“Comissão Vitivinícola Regional do Tejo”: https://www.cvrtejo.pt/historia-do-vinho-e-da-regiao

“Conceito Português”: https://www.conceitoportugues.com.br/artigo/regiao-do-tejo

“Wines of Portugal”: https://winesofportugal.com/pt/descobrir/regioes-vitivinicolas/tejo/

 

 

 

 

 



 


sábado, 23 de julho de 2022

Marqués de Toledo Crianza Tempranillo 2016

 

No passado eu tinha certa rejeição, alguma controvérsia com os vinhos espanhóis. Talvez pela visão pré-concebida, preconceituosa acerca dos seus rótulos. Sempre tive a percepção de que os vinhos espanhóis ofertados em terras brasilis eram demasiados caros e pouco atrativos! Os valores altos são reais até os dias de hoje, mas pouco atrativos não, nunca! Estava anestesiado pela ignorância, pela incapacidade de discernimento, de entendimento da relevância histórica e de qualidade dos vinhos da Espanha.

E por que este tom de réu confesso? Porque a Espanha tem muito a oferecer! É de uma diversidade como poucos países podem proporcionar, no que a propostas e valores. Talvez essa visão pré-concebida que eu nutria fosse pelo fato de pouco conhecer os sites, lojas que ofertassem bons rótulos atraentes com bons e justos valores pelo menos para este reles enófilo trabalhador da classe operária.

Até que em um belo dia do ano de 2018 estava eu em mais uma de minhas incursões aos supermercados, em uma conhecida e grande rede de supermercados, inclusive, pois ficara sabendo que estavam fazendo promoções de alguns rótulos e observei um espanhol que me pareceu bem interessante, da safra 2013, sendo ofertado.

O valor, estampado, para que todos pudessem ver, era arrebatador, cerca de R$ 32,90! Bem o valor era ótimo, mas será que o vinho também era? Aquela dúvida martelava a minha cabeça, mas, diante desse meu histórico, diria, inóspito, com os vinhos da Espanha, decidi não hesitar tanto e comprei, afinal, caso não gostasse, eu não perderia tanto dinheiro.

O vinho era um “Crianza”, da gigante vinícola Pinord, chamado Clos de Torribas 2013. Foi por intermédio desse rótulo, que degustei e gostei, que o meu contato com os famosos vinhos amadeirados espanhóis se deu e que atualmente está em um nível quase que patológico de compras.

Depois de rótulo o meu interesse pelos rótulos espanhóis que ostentam os termos “crianza”, “reserva” e “gran reserva” se intensificaram nas compras e, consequentemente, no interesse. Tive, após o Clos de Torribas, outras experiências agradáveis o que, claro, ajudou a fomentar o meu interesse.

E gosto particularmente dos “crianzas” e diria que, dentre esses rótulos espanhóis, eles sejam os mais democráticos entre os paladares, pois entregam elegância, equilíbrio, sobretudo entre as notas frutadas e amadeiradas, trazendo leveza, mas complexidade pelo aporte das barricas, geralmente em curto estágio, de acordo com a legislação vigente que é extremamente rigorosa nesse sentido (Ver: Classificação dos vinhos espanhóis).

E depois de algum tempo, cerca de um ano, aproximadamente, decidi degustar mais um crianza e esse conheci por intermédio de um evento em minha cidade que privilegiou alguns rótulos do Velho Mundo, mais precisamente das regiões do Laguedoc-Roussillon e Castilla La Mancha, terroirs que tem me chamado atenção há algum tempo, sendo que o segundo a pouco menos tempo, graças a essa, digamos, redescoberta do vinho espanhol da minha parte.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei e digo, de cara, que degustei e gostei porque já o degustei no referido evento, motivando a minha compra, veio de Castilla La Mancha, mais precisamente do DO La Mancha, em Albacete, na Espanha, e se chama Marqués de Toledo Crianza, um 100% Tempranillo, da safra 2016. Antes de falar do vinho, contemos um pouco, para variar, a história da minha mais nova queridinha Castilla La Mancha.

Castilla La Mancha

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha

Sub-regiões de Castilla

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

DOs Castilla La Mancha

A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram origem ao vinho.

A importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.

Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:

Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier.

Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

• Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

• Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

• Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

• Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

• Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

• Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

• Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, com halos atijolados, em tom granada com lágrimas finas e lentas em média intensidade que desenham as bordas do copo.

No nariz no início mostrou-se fechado, mas, respirando em taça se abriu, entregando notas frutadas, frutas pretas e vermelhas bem maduras, onde se destaca framboesa, amora, ameixa, tendo ainda aromas de especiarias (cravo e açúcar mascavo) e notas herbáceas e terrosas. A madeira, apesar de discreta, se faz notada trazendo baunilha, couro e tabaco.

Na boca é elegante, mas com bom volume de boca, mostrando corpo médio e complexidade. Equilibrado entrega uma sinergia entre a fruta que também protagoniza no paladar com as notas amadeiradas que, graças aos nove meses de passagem por barricas de carvalho, traz toque de torrefação, chocolate meio amargo, um defumado, caramelo, além de álcool bem integrado. Taninos presentes, mas aveludados, acidez média e um final médio com retorgosto da fruta e madeira.

Um vinho austero, como a sua essência sugere, mas que entrega equilíbrio, elegância e que, sem sombra de dúvida, pode agradar aos mais diferenciados paladares. Por mais que seja austero, trazendo a complexidade pelo aporte da madeira, é elegante e redondo, também pelo afinamento na barrica. Um vinho que, aos seis anos de vida, mostra-se em boa forma e com, arrisco dizer, longo potencial de guarda. Marqués de Toledo Crianza Tempranillo é a personificação de que podemos degustar ótimos vinhos espanhóis a preços surpreendentemente atrativos para todos os bolsos. E que venham novos rótulos com a incrível capacidade de nos arrebatar com gratas e arrojadas surpresas. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Lozano:

Em 1853 começa a história da vinícola, quando a família Lozano planta as primeiras vinhas em Villarrobledo (município da Espanha na província de Albacete, comunidade autônoma de Castilla-La-Mancha) formada principalmente pela variedade Aíren, nativa da região. Desde então, foram quatro gerações na gestão da adega, sempre apostando no bom trabalho e no uso de técnicas tradicionais na elaboração.

Em 1985, as instalações existentes foram adquiridas. Desde então, houve muitas melhorias que foram desenvolvidas, proporcionando um aumento considerável na capacidade de vinificação.

Em 2005, a Lozano diversificou o negócio e começou a concentrar-se em sucos e concentrados de uva, formando a empresa CONUVA, usando o mesmo roteiro: para alcançar a mais alta qualidade em todos os seus produtos e para agregar valor diferenciado a todos os clientes, a confiança.

A adega passou por diferentes estágios que forjaram o que é hoje: uma empresa familiar e profissional que é referência no setor vitivinícola que aposta adaptação aos novos tempos através de novos produtos e formatos.

Mais informações acesse:

https://bodegas-lozano.com/es/

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

“Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

 

 

 

 

 







domingo, 17 de julho de 2022

Pó das Areias Grande Escolha Castelão 2017

 

Tem certas coisas ou situações vividas que ficam na nossa mente e que teimam, insiste em vir à tona, como que nos lembrando de vivenciá-la ou pelo menos nos colocar em reflexão, simplesmente.

Quando tive os meus primeiros contatos com os vinhos portugueses, uma casta teimava em me “acompanhar” nas degustações dos rótulos lusitanos: Castelão! Mas nos primeiros rótulos não me atentei imediatamente com a variedade.

Contudo a constância fez com que eu olhasse, eu percebesse com mais carinho para ela. A minha primeira e inevitável pergunta foi: A cada degustação a Castelão aparece nos blends! Será ela tão importante para Portugal? O que ela tem de especial?

Não importava a região portuguesa, não importava o produtor, não importava a proposta do vinho, lá estava, seja predominando percentualmente falando ou não, a Castelão.

Claro que, estimulado pela curiosidade que me é peculiar neste vasto e atraente universo do vinho, me coloquei a pesquisar sobre a casta, profundamente. E realmente a sua história personifica a história recente e gigantesca da Portugal vitivinícola.

Logo dissecarei, com requintes de detalhes, a magnífica história da Castelão, mas antes seguirei contando a minha história, de forma mais breve possível, com esta especial variedade, autóctone portuguesa.

E quando me vi envolto em curiosidade em degustar um rótulo 100% Castelão me coloquei em uma saga no garimpo de um vinho que entregasse o que eu queria, o que eu necessitava de momento. À época tive a impressão da dificuldade de encontrar um nos sites especializados em venda de vinhos e os pouquíssimos ofertados estavam com um valor muito alto para o meu humilde bolso.

Mas continuei a procurar e estava cada vez mais decidido a procurar até encontrar e quando estive em um site de vendas de vinhos muito popular no Brasil encontrei, quase que despretensiosamente, um que, claro, me chamou a atenção, mas lendo as nuances de sua proposta, percebi se tratar de um vinho mais básico, mas isso não importa! O comprei, degustei e gostei! Ele era o Vinhas do Silvado 2016. Que vinho saboroso! Para a sua proposta entregou até além!

A saga continuaria! Claro que não iria parar por aí e encontrei outro, da região do Tejo, de nome Adega Grande Reserva Castelão 2017, esse, com uma proposta diferenciada, em relação ao primeiro rótulo, com passagem por madeira e a experiência foi ótima também! Estava com sorte! Os vinhos 100% Castelão estavam me entregando qualidade, tipicidade.

E com esse panorama favorável não poderia parar! Afinal o universo é vasto e temos a obrigação de explorá-lo. E no mesmo site que havia comprado o meu primeiro rótulo 100% Castelão achei outro da região de Setúbal, que tem uma relação histórica forte com a Castelão, mais precisamente da sub-região de Palmela, terra dos moscatéis de Setúbal, com uma proposta no mínimo arrojada: passagem por 12 meses em depósitos de cimento! Não me lembro de ter degustado um vinho com passagem por cimento! Então foi chegada a hora de degusta-lo! Depois de dois anos na adega desde a sua compra, o desarrolhei! E voilá!

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei veio da região portuguesa de Setúbal, de Palmela, e se chama Pó das Areias Grande Escolha 100% Castelão da safra 2017. Então antes de falar do vinho, falemos um pouco da região de Setúbal e Palmela, bem como a artista do momento: Castelão!

Setúbal


A história vitivinícola da região da Península de Setúbal perde-se no tempo. Na região foram plantadas as primeiras vinhas da Península Ibérica, em cerca de 2.000 a.C., dando início a uma tradição que foi renovada em 1907, com a demarcação da Região do Moscatel de Setúbal, e que sobrevive até hoje, sendo a segunda mais antiga região demarcada de Portugal.

De Setúbal saem alguns dos melhores vinhos portugueses, cuja qualidade se firmou a partir de uma biodiversidade riquíssima. Nenhuma outra região de Portugal tem tantas diferenças geográficas, com a existência de planícies, serras e encostas, além dos Rios Sado e Tejo e a proximidade com o Oceano Atlântico.

Situada no litoral oeste, a sul de Lisboa, esta região vitivinícola tem um terroir específico para a produção do famoso e tão apreciado vinho licoroso. “Esta região pode dividir-se em duas zonas orográficas completamente distintas: uma a sul e sudoeste, montanhosa, formada pelas serras da Arrábida, Rosca e S. Luís, e pelos montes de Palmela, S. Francisco e Azeitão, estes recortados por vales e colinas, com altitudes entre os 100 e os 500 m. A outra, pelo contrário, é plana, prolongando-se em extensa planície junto ao rio Sado.

Península de Setúbal

A área delimitada abrange no total uma superfície de 9.210 hectares de vinha, admitindo-se que, dessa área, cerca de 2075 hectares estão afeto à produção de vinhos com Denominação de Origem. Uma grande parte dos vinhos é exportada. Existem grandes empresas vitivinícolas na região utilizando tecnologias avançadas de transformação, da uva ao vinho. O Vinho Regional “Península de Setúbal” produz-se em todo o distrito de Setúbal. Já no que respeita aos vinhos com Denominação de Origem, temos duas regiões distintas: Setúbal, para a produção do vinho generoso, e Palmela, onde se produzem vinhos brancos, tintos e rosados, vinhos frisantes e espumantes rosados e vinhos licorosos.

O clima é misto, subtropical e mediterrânico. Influenciado pela proximidade do mar, pelas bacias hidrográficas do Tejo e do Sado e pelas serras e montes da região, tem fracas amplitudes térmicas e um índice pluviométrico entre os 400 a 500 mm. Extensa em território e com clima mediterrânico – tempo quente e seco no verão e relativamente frio e chuvoso no inverno –, a Península de Setúbal é uma região que permite a obtenção de vinhos carismáticos, com personalidade forte e traços de caráter únicos, com uma singular relação entre qualidade e preço. A presença de vinhas em terras planas compostas por solos de areia perfeitamente adaptados à produção de uvas de qualidade, bem como de um relevo mais acentuado, com vinhas plantadas em solo argilo-calcários, protegidos do Oceano Atlântico pela Serra da Arrábida, resulta numa produção de vinhos reconhecida nacional e internacionalmente.

As designações de Denominação de Origem (DO) e Indicação Geográfica (IG)

As designações de Denominação de Origem (D.O.) e Indicação Geográfica (I.G) indicam os vinhos de acordo com a sua origem, características e castas. É esta certificação que garante a qualidade dos vinhos que irá consumir. Desde o plantio até o engarrafamento, os vinhos da Península de Setúbal são avaliados e controlados pela CVRPS, chegando à sua mesa com 3 possíveis classificações: D.O. Palmela, D.O. Setúbal e I.G. Península de Setúbal (Vinho Regional).

DO Palmela

Abrangendo os concelhos de Setúbal, Palmela, Montijo e, ainda, a freguesia do Castelo, no concelho de Sesimbra, a D.O. Palmela cobre a mesma área que a D.O. Setúbal, mas exclui a produção de Moscatel de Setúbal. Aqui, tanto nos tintos como nos brancos, há uma utilização predominante de certas castas que permitem produzir vinhos carismáticos, com personalidades fortes.

Setúbal e Palmela mais ao norte

Os vinhos tintos D.O. Palmela devem conter a casta Castelão, conhecida tradicionalmente por Periquita, em pelo menos 67% da sua produção. São, na sua maioria, vinhos tranquilos, ou seja, não são gaseificados. São caracteristicamente bastante aromáticos, com grande capacidade de envelhecimento e estruturados. Os jovens e os mais velhos distinguem-se pelo perfil e aromas. Enquanto que os primeiros são caraterizados por aromas como a cereja, a groselha e a framboesa, os mais velhos abarcam outros aromas mais secos, como a bolota e o pinhão.

Castelão: O DNA de Portugal

A uva Castelão é uma variedade de uva de casca escura que é usada no processo de fabricação de vinho tinto e encontrada mais exclusivamente em Portugal. Ela é utilizada para a produção não só de vinhos varietais, mas também vinhos mistos.

A Castelão é extremamente popular graças à sua robustez. Essa uva tende a crescer bem em solos arenosos e inférteis e resiste à maioria das doenças. Embora essa uva prefira os climas mais quentes, ela produz qualidade decente de vinho, mesmo a partir de uvas cultivadas em partes mais frias e úmidas de Portugal.

A Castelão é conhecida, na região de Setúbal, como “Periquita”, também chamada João de Santarém ou Castelão Francês. Embora seja cultivada por todo o país, destaca-se, sobretudo nas regiões costeiras a sul e por vezes entra na constituição do Vinho do Porto.

O Termo “Periquita” está associado ao emblemático vinho, de mesmo nome, criado por José Maria da Fonseca, da vinícola de mesmo nome lá na região de Setúbal. A vinícola, fundada em 1834, tinha a alcunha de “Periquita” por causa do local onde estava instalado, conhecido como “Cova da Periquita”, nome dado pelos moradores da região.

José Maria da Fonseca

Na costa sul de Portugal, onde os solos são arenosos, as vinhas de Castelão produzem vinhos que não são apenas tânicos, mas também encorpados e extremamente rústicos, com um toque de sabor frutado que parece o sabor de uma fruta silvestre. Estes vinhos são frequentemente envelhecidos no carvalho por um período de cinco a dez anos e uma vez feito, o vinho produzido é de qualidade extremamente premium.

No caso dos vinhos produzidos a partir de uvas cultivadas na parte central de Portugal, devido à natureza calcária do solo, produz vinhos mais leves e frutados, que não precisam ser envelhecidos devido ao sabor equilibrado e podem ser consumidos precocemente. Este vinho é frequentemente misturado com variedades como Tinta Roriz e Touriga Nacional.

Quando misturado com outros vinhos, as bordas ásperas do Castelão tendem a amolecer um pouco, tornando o vinho muito mais acessível, principalmente quando não passa pelo processo de envelhecimento.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um lindo e intenso vermelho rubi com reflexos violáceos muito brilhantes, com lágrimas finas e em média intensidade que logo se dissipam do copo.

No nariz entrega um rico aroma de frutas vermelhas frescas com destaque para groselha, cereja e morango, com notas florais, de flores vermelhas, além de especiarias, como pimenta e toques herbáceos e de couro.

Na boca é redondo, elegante, fácil de degustar, muita fruta protagonizando também no palato. Muito equilibrado, graças aos seus taninos aveludados, mas envolventes, com uma acidez muito boa, apesar dos cinco anos de safra, e álcool bem integrado, revela todas as características da variedade Castelão, se devendo também aos 12 meses que estagiou em tanques de cimento que valoriza a essência da casta. Tem final médio.

Mais uma experiência excepcional com a Castelão! Muitas novidades foram impostas a mim com a degustação deste especial rótulo. Os depósitos de cimento, onde o vinho estagiou por doze meses, trouxe um vinho mais puro, enfatizando a essência da cepa, potencializando o seu terroir, com muita tipicidade. Tem taninos redondos, macios e faz do vinho algo suculento, fresco, vivo, mas com personalidade marcante por exatamente expor todas as suas nuances e características desta cepa que, a cada dia, me ganha.

E ainda tem uma curiosidade estampada no rótulo: Grande Escolha! O que significa? “Grande Escolha” é uma denominação de qualidade, mas que não é uma denominação de origem, mas se assemelha a um reserva ou grande reserva, por exemplo. Significa que obteve uma qualificação, uns pontos acima do “normal”, dos vinhos regionais, por exemplo, pelo organismo ou instituição que certifica o vinho.

E mais uma curiosidade, agora sobre o nome que ostenta em seu rótulo: “Pó das Areias”! Pó das Areias faz alusão aos solos arenosos e ao clima mediterrâneo no qual a uva Castelão foi cultivada.

O que corrobora, definitivamente, a sua qualidade, personificando o seu terroir. Enfim, um vinho repleto de tipicidade. Tem 13.5% de teor alcoólico.

Sobre a Adega Fernão Pó:

A Adega Fernão Pó é uma empresa familiar de Fernando Pó, concelho de Palmela, como resultado da junção das famílias Freitas & Palhoça. Ligadas à viticultura e produção de vinho há gerações, reúnem assim dois ramos da história vinícola de Fernando Pó.

Os Freitas são antigos proprietários da região e, por outro lado, os Palhoças, descendentes da cultura “caramela”, vindos do norte de Portugal, se estabeleceram em “Foros” na região. Anteriormente, nos anos 50, Aníbal da Silva Freitas fundou a Adega. Só posteriormente, em 1990, foi lançado o primeiro vinho de marca própria. Hoje, produz cerca de 660 mil litros de vinhos de vinhas próprias.

A planície de Fernão Pó é conhecida pela qualidade das suas uvas. Dividida em pequenas quintas desde a chegada do caminho-de-ferro em 1861, distingue-se pela camada de areias macias, a cobrir o solo de barro. O microclima temperado pelos rios Tejo e Sado protege e facilita a maturação perfeita das uvas. O resultado são vinhos conhecidos pela boa estrutura, corpo, cor e principalmente aromas.

Mais informações acesse:

https://fernaopo.pt/

Referências:

“Vinhos da Península de Setúbal”, em: https://vinhosdapeninsuladesetubal.org/

“Wikipedia”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Castel%C3%A3o_(uva)

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/castelao

“House of Wine”: http://houseofwine.com.br/por-dentro-vinho/castelao/

 “Correio Braziliense”: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/turismo/2016/01/06/interna_turismo,513036/conheca-a-historia-do-rotulo-periquita-vinho-pioneiro-do-norte-de-por.shtml

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/vinhos/regioes/peninsula-de-setubal/regioes-vitivinicolas-portuguesas-peninsula-de-setubal-2/