sábado, 23 de julho de 2022

Marqués de Toledo Crianza Tempranillo 2016

 

No passado eu tinha certa rejeição, alguma controvérsia com os vinhos espanhóis. Talvez pela visão pré-concebida, preconceituosa acerca dos seus rótulos. Sempre tive a percepção de que os vinhos espanhóis ofertados em terras brasilis eram demasiados caros e pouco atrativos! Os valores altos são reais até os dias de hoje, mas pouco atrativos não, nunca! Estava anestesiado pela ignorância, pela incapacidade de discernimento, de entendimento da relevância histórica e de qualidade dos vinhos da Espanha.

E por que este tom de réu confesso? Porque a Espanha tem muito a oferecer! É de uma diversidade como poucos países podem proporcionar, no que a propostas e valores. Talvez essa visão pré-concebida que eu nutria fosse pelo fato de pouco conhecer os sites, lojas que ofertassem bons rótulos atraentes com bons e justos valores pelo menos para este reles enófilo trabalhador da classe operária.

Até que em um belo dia do ano de 2018 estava eu em mais uma de minhas incursões aos supermercados, em uma conhecida e grande rede de supermercados, inclusive, pois ficara sabendo que estavam fazendo promoções de alguns rótulos e observei um espanhol que me pareceu bem interessante, da safra 2013, sendo ofertado.

O valor, estampado, para que todos pudessem ver, era arrebatador, cerca de R$ 32,90! Bem o valor era ótimo, mas será que o vinho também era? Aquela dúvida martelava a minha cabeça, mas, diante desse meu histórico, diria, inóspito, com os vinhos da Espanha, decidi não hesitar tanto e comprei, afinal, caso não gostasse, eu não perderia tanto dinheiro.

O vinho era um “Crianza”, da gigante vinícola Pinord, chamado Clos de Torribas 2013. Foi por intermédio desse rótulo, que degustei e gostei, que o meu contato com os famosos vinhos amadeirados espanhóis se deu e que atualmente está em um nível quase que patológico de compras.

Depois de rótulo o meu interesse pelos rótulos espanhóis que ostentam os termos “crianza”, “reserva” e “gran reserva” se intensificaram nas compras e, consequentemente, no interesse. Tive, após o Clos de Torribas, outras experiências agradáveis o que, claro, ajudou a fomentar o meu interesse.

E gosto particularmente dos “crianzas” e diria que, dentre esses rótulos espanhóis, eles sejam os mais democráticos entre os paladares, pois entregam elegância, equilíbrio, sobretudo entre as notas frutadas e amadeiradas, trazendo leveza, mas complexidade pelo aporte das barricas, geralmente em curto estágio, de acordo com a legislação vigente que é extremamente rigorosa nesse sentido (Ver: Classificação dos vinhos espanhóis).

E depois de algum tempo, cerca de um ano, aproximadamente, decidi degustar mais um crianza e esse conheci por intermédio de um evento em minha cidade que privilegiou alguns rótulos do Velho Mundo, mais precisamente das regiões do Laguedoc-Roussillon e Castilla La Mancha, terroirs que tem me chamado atenção há algum tempo, sendo que o segundo a pouco menos tempo, graças a essa, digamos, redescoberta do vinho espanhol da minha parte.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei e digo, de cara, que degustei e gostei porque já o degustei no referido evento, motivando a minha compra, veio de Castilla La Mancha, mais precisamente do DO La Mancha, em Albacete, na Espanha, e se chama Marqués de Toledo Crianza, um 100% Tempranillo, da safra 2016. Antes de falar do vinho, contemos um pouco, para variar, a história da minha mais nova queridinha Castilla La Mancha.

Castilla La Mancha

Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes elevações.  É nessa macrorregião que se origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.

O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.

A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñenas.

Castilla La Mancha

Sub-regiões de Castilla

La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo.  O território abrange 182 municípios, distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.

Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com castas internacionais.

A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.

DOs Castilla La Mancha

A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que deram origem ao vinho.

A importância social e econômica do setor na região, bem como o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores, engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.

Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes; Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:

Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer, Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera, Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez, Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier.

Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc, Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano, Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah, Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.

As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.

Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:

• Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.

• Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais estrutura do que o Jóven.

• Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.

• Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.

• Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.

• Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.

• Espumante: Produzidos a partir do método tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, com halos atijolados, em tom granada com lágrimas finas e lentas em média intensidade que desenham as bordas do copo.

No nariz no início mostrou-se fechado, mas, respirando em taça se abriu, entregando notas frutadas, frutas pretas e vermelhas bem maduras, onde se destaca framboesa, amora, ameixa, tendo ainda aromas de especiarias (cravo e açúcar mascavo) e notas herbáceas e terrosas. A madeira, apesar de discreta, se faz notada trazendo baunilha, couro e tabaco.

Na boca é elegante, mas com bom volume de boca, mostrando corpo médio e complexidade. Equilibrado entrega uma sinergia entre a fruta que também protagoniza no paladar com as notas amadeiradas que, graças aos nove meses de passagem por barricas de carvalho, traz toque de torrefação, chocolate meio amargo, um defumado, caramelo, além de álcool bem integrado. Taninos presentes, mas aveludados, acidez média e um final médio com retorgosto da fruta e madeira.

Um vinho austero, como a sua essência sugere, mas que entrega equilíbrio, elegância e que, sem sombra de dúvida, pode agradar aos mais diferenciados paladares. Por mais que seja austero, trazendo a complexidade pelo aporte da madeira, é elegante e redondo, também pelo afinamento na barrica. Um vinho que, aos seis anos de vida, mostra-se em boa forma e com, arrisco dizer, longo potencial de guarda. Marqués de Toledo Crianza Tempranillo é a personificação de que podemos degustar ótimos vinhos espanhóis a preços surpreendentemente atrativos para todos os bolsos. E que venham novos rótulos com a incrível capacidade de nos arrebatar com gratas e arrojadas surpresas. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodegas Lozano:

Em 1853 começa a história da vinícola, quando a família Lozano planta as primeiras vinhas em Villarrobledo (município da Espanha na província de Albacete, comunidade autônoma de Castilla-La-Mancha) formada principalmente pela variedade Aíren, nativa da região. Desde então, foram quatro gerações na gestão da adega, sempre apostando no bom trabalho e no uso de técnicas tradicionais na elaboração.

Em 1985, as instalações existentes foram adquiridas. Desde então, houve muitas melhorias que foram desenvolvidas, proporcionando um aumento considerável na capacidade de vinificação.

Em 2005, a Lozano diversificou o negócio e começou a concentrar-se em sucos e concentrados de uva, formando a empresa CONUVA, usando o mesmo roteiro: para alcançar a mais alta qualidade em todos os seus produtos e para agregar valor diferenciado a todos os clientes, a confiança.

A adega passou por diferentes estágios que forjaram o que é hoje: uma empresa familiar e profissional que é referência no setor vitivinícola que aposta adaptação aos novos tempos através de novos produtos e formatos.

Mais informações acesse:

https://bodegas-lozano.com/es/

Referências:

“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote

“Blog “Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote#:~:text=Este%20livro%2C%20universalmente%20famoso%2C%20trata,no%20centro%2Fsudeste%20da%20Espanha.&text=Os%20primeiros%20escritos%20da%20cultura,vinhas%20foram%20introduzidas%20pelos%20romanos.

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html

“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/

 

 

 

 

 







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