No passado eu tinha certa rejeição, alguma controvérsia com
os vinhos espanhóis. Talvez pela visão pré-concebida, preconceituosa acerca dos
seus rótulos. Sempre tive a percepção de que os vinhos espanhóis ofertados em
terras brasilis eram demasiados caros e pouco atrativos! Os valores altos são
reais até os dias de hoje, mas pouco atrativos não, nunca! Estava anestesiado
pela ignorância, pela incapacidade de discernimento, de entendimento da
relevância histórica e de qualidade dos vinhos da Espanha.
E por que este tom de réu confesso? Porque a Espanha tem
muito a oferecer! É de uma diversidade como poucos países podem proporcionar,
no que a propostas e valores. Talvez essa visão pré-concebida que eu nutria
fosse pelo fato de pouco conhecer os sites, lojas que ofertassem bons rótulos
atraentes com bons e justos valores pelo menos para este reles enófilo
trabalhador da classe operária.
Até que em um belo dia do ano de 2018 estava eu em mais uma
de minhas incursões aos supermercados, em uma conhecida e grande rede de
supermercados, inclusive, pois ficara sabendo que estavam fazendo promoções de
alguns rótulos e observei um espanhol que me pareceu bem interessante, da safra
2013, sendo ofertado.
O valor, estampado, para que todos pudessem ver, era
arrebatador, cerca de R$ 32,90! Bem o valor era ótimo, mas será que o vinho
também era? Aquela dúvida martelava a minha cabeça, mas, diante desse meu
histórico, diria, inóspito, com os vinhos da Espanha, decidi não hesitar tanto
e comprei, afinal, caso não gostasse, eu não perderia tanto dinheiro.
O vinho era um “Crianza”, da gigante vinícola Pinord, chamado Clos de Torribas 2013. Foi por intermédio desse rótulo, que degustei e gostei,
que o meu contato com os famosos vinhos amadeirados espanhóis se deu e que
atualmente está em um nível quase que patológico de compras.
Depois de rótulo o meu interesse pelos rótulos espanhóis que
ostentam os termos “crianza”, “reserva” e “gran reserva” se intensificaram nas
compras e, consequentemente, no interesse. Tive, após o Clos de Torribas,
outras experiências agradáveis o que, claro, ajudou a fomentar o meu interesse.
E gosto particularmente dos “crianzas” e diria que, dentre
esses rótulos espanhóis, eles sejam os mais democráticos entre os paladares,
pois entregam elegância, equilíbrio, sobretudo entre as notas frutadas e
amadeiradas, trazendo leveza, mas complexidade pelo aporte das barricas,
geralmente em curto estágio, de acordo com a legislação vigente que é
extremamente rigorosa nesse sentido (Ver: Classificação dos vinhos espanhóis).
E depois de algum tempo, cerca de um ano, aproximadamente, decidi
degustar mais um crianza e esse conheci por intermédio de um evento em minha
cidade que privilegiou alguns rótulos do Velho Mundo, mais precisamente das
regiões do Laguedoc-Roussillon e Castilla La Mancha, terroirs que tem me
chamado atenção há algum tempo, sendo que o segundo a pouco menos tempo, graças
a essa, digamos, redescoberta do vinho espanhol da minha parte.
Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei e digo, de cara, que degustei e gostei porque já o degustei
no referido evento, motivando a minha compra, veio de Castilla La Mancha, mais
precisamente do DO La Mancha, em Albacete, na Espanha, e se chama Marqués de
Toledo Crianza, um 100% Tempranillo, da safra 2016. Antes de falar do vinho,
contemos um pouco, para variar, a história da minha mais nova queridinha
Castilla La Mancha.
Castilla La Mancha
Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas
plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está
localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com
grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes
elevações. É nessa macrorregião que se
origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.
O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em
árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste
território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de
temperaturas entre verão e inverno. Nos dias quentes de verão os termômetros
podem alcançar os 45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do
inverno, as temperaturas negativas podem chegar a até -15°C.
A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo
índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o
local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada
de correntes marítimas úmidas. A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente
3.000 horas. Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo
sete “Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e
Valdepeñenas.
Sub-regiões de Castilla
La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo
considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo. O território abrange 182 municípios,
distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As
principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular
tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.
Valdepeñenas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas
condições climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de
vinhos de grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends
desta com castas internacionais.
A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos
plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área
vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro
províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.
A regulamentação comunitária permite a produção de vinhos com
indicação geográfica (IGP Vinos de la Tierra de Castilla), desde que tenham
sido obtidos a partir de determinadas castas e provenham de uma determinada
zona de produção. Na Espanha, esses vinhos são chamados de Vinos de la Tierra e
podem usar menções em sua rotulagem relacionadas às variedades, safras e nome
da vinícola, bem como às condições naturais ou técnicas da viticultura que
deram origem ao vinho.
A importância social e econômica do setor na região, bem como
o esforço de modernização feito pelos produtores, transformadores,
engarrafadores e comerciantes nos últimos anos, exige um instrumento que lhes
permita oferecer os seus vinhos de qualidade dignamente rotulados ao mercado.
Os tipos de vinhos que podem ser elaborados no IGP Vinos de
la Tierra de Castilla são: vinhos brancos, rosés e tintos; Vinhos espumantes;
Vinhos espumantes; vinhos licorosos; e vinhos de uvas maduras. São eles:
Brancas: Airén, Albillo Real, Chardonnay, Gewürztraminer,
Macabeo oViura, Malvar, Malvasía Aromática, Marisancho o Pardillo, Merseguera,
Moscatel de grano menudo, Moscatel de Alejandría, Parellada, Pedro Ximénez,
Riesling, Sauvignon blanc, Torrontés, Verdejo, Verdoncho e Viognier.
Tintas: Bobal, Cabernet-sauvignon, Cabernet-franc,
Coloraillo, Forcallat tinta, Garnacha tinta, Garnacha tintorera, Graciano,
Malbec, Mazuela, Mencia, Merlot, Monastrell, Moravia agria, Moravia dulce o
Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir, Prieto picudo, Rojal tinta, Syrah,
Tempranillo o Cencibel, Tinto de la pámpana blanca e Tinto Velasco o Frasco.
As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha, sejam DO
ou IGP, são: Airén, Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as
tintas são: Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.
Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:
• Jóven: Categoria mais básica, sem passagem por madeira, para
ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.
• Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com mais
estrutura do que o Jóven.
• Envelhecimento em barris de carvalho: Envelhecimento mínimo
de 90 dias em barris de carvalho.
• Crianza: Envelhecimento natural de dois anos, sendo, pelo
menos, seis meses em barris de carvalho.
• Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12 meses em barris
de carvalho e 24 meses em garrafa.
• Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18 meses em
barris de carvalho e 42 meses em garrafa.
• Espumante: Produzidos a partir do método tradicional
(segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de autólise.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, com halos
atijolados, em tom granada com lágrimas finas e lentas em média intensidade que
desenham as bordas do copo.
No nariz no início mostrou-se fechado, mas, respirando em
taça se abriu, entregando notas frutadas, frutas pretas e vermelhas bem
maduras, onde se destaca framboesa, amora, ameixa, tendo ainda aromas de
especiarias (cravo e açúcar mascavo) e notas herbáceas e terrosas. A madeira,
apesar de discreta, se faz notada trazendo baunilha, couro e tabaco.
Na boca é elegante, mas com bom volume de boca, mostrando
corpo médio e complexidade. Equilibrado entrega uma sinergia entre a fruta que
também protagoniza no paladar com as notas amadeiradas que, graças aos nove
meses de passagem por barricas de carvalho, traz toque de torrefação, chocolate
meio amargo, um defumado, caramelo, além de álcool bem integrado. Taninos
presentes, mas aveludados, acidez média e um final médio com retorgosto da
fruta e madeira.
Um vinho austero, como a sua essência sugere, mas que entrega
equilíbrio, elegância e que, sem sombra de dúvida, pode agradar aos mais
diferenciados paladares. Por mais que seja austero, trazendo a complexidade
pelo aporte da madeira, é elegante e redondo, também pelo afinamento na
barrica. Um vinho que, aos seis anos de vida, mostra-se em boa forma e com,
arrisco dizer, longo potencial de guarda. Marqués de Toledo Crianza Tempranillo
é a personificação de que podemos degustar ótimos vinhos espanhóis a preços
surpreendentemente atrativos para todos os bolsos. E que venham novos rótulos com
a incrível capacidade de nos arrebatar com gratas e arrojadas surpresas. Tem
13% de teor alcoólico.
Sobre a Bodegas Lozano:
Em 1853 começa a história da vinícola, quando a família
Lozano planta as primeiras vinhas em Villarrobledo (município da Espanha na
província de Albacete, comunidade autônoma de Castilla-La-Mancha) formada
principalmente pela variedade Aíren, nativa da região. Desde então, foram
quatro gerações na gestão da adega, sempre apostando no bom trabalho e no uso
de técnicas tradicionais na elaboração.
Em 1985, as instalações existentes foram adquiridas. Desde
então, houve muitas melhorias que foram desenvolvidas, proporcionando um
aumento considerável na capacidade de vinificação.
Em 2005, a Lozano diversificou o negócio e começou a
concentrar-se em sucos e concentrados de uva, formando a empresa CONUVA, usando
o mesmo roteiro: para alcançar a mais alta qualidade em todos os seus produtos
e para agregar valor diferenciado a todos os clientes, a confiança.
A adega passou por diferentes estágios que forjaram o que é
hoje: uma empresa familiar e profissional que é referência no setor
vitivinícola que aposta adaptação aos novos tempos através de novos produtos e
formatos.
Mais informações acesse:
https://bodegas-lozano.com/es/
Referências:
“Vinho Blog”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html
“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
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