Nada melhor do que garimpar, buscar novas experiências sensoriais.
Novas castas, novas regiões vitícolas. Tem sido maravilhoso viajar nessas novas
percepções organolépticas, mas não podemos negligenciar os clássicos. Nunca!
Até porque os clássicos atingiram tal condição por serem
exatamente especiais! A tradição e a credibilidade põem a mesa, na expressão
literal da palavra. Os clássicos certamente construíram a minha predileção pela
poesia líquida. Quem não começou a degustar um Merlot, Cabernet Sauvignon,
Malbec e nunca se encantou?
E quando temos um blend das principais castas brancas dos
mais emblemáticos países produtores de vinhos do planeta? Apesar de serem
variedades extremamente conhecidas, a primeira muito conhecida em seu país,
Portugal, a outra, oriunda da França, é mundialmente conhecida e de fácil
adaptabilidade em vários terroirs, em vários climas, ganhando contornos em suas
características.
Falo da Arinto, portuguesa, que se adaptou em várias regiões
emblemáticas de Portugal e a rainha das uvas brancas, a Chardonnay. E de uma
região que não degustava há mais de um ano e que também traz a assinatura da
tradição de Portugal: o Tejo.
Apesar de serem castas amplamente conhecidas, o blend me traz
grandes novidades! Mesmo que apresentem tradição e uma grande capacidade de
cultivo, logo expansão de rótulos ofertados, ainda há brechas para o novo, o
novo pelo menos para mim, humilde e reles enófilo.
Então sem mais delongas apresentarei o vinho que degustei e
gostei que veio da região emblemática do Tejo, de Almerim, que se chama Fiuza
composto pelas castas Arinto e Chardonnay da safra 2019. E para não perder o
costume vamos às histórias do Tejo, a sua sub-região, Almerim, de onde veio
esse rótulo e depois as descrições desse rótulo que, claro, tinha que me
surpreender positivamente.
Tejo
A história da Região do Tejo se confunde com a das suas
Terras. Sob o comando do rio Tejo, influenciando economia, paisagem e clima,
trata-se de uma das mais antigas regiões produtoras de vinhos de Portugal, cujo
patrimônio remonta à presença Romana na antiga Lusitana.
A Região Vitivinícola do Tejo está localizada no centro de Portugal, a pouca distância de Lisboa. O rio não é o que separa, mas o que liga um território vitivinícola com 12.500 hectares de vinhas distribuídos por 21 municípios. Largo e imponente, o Tejo é o maior rio de Portugal. Como elemento primordial da paisagem, moldou a história dos que lá vivem, criam e trabalham, influenciando o clima e o terroir.
A arte de produzir vinho, nesta região, remonta a 2000 a.C.,
quando os Tartessos iniciaram a plantação da vinha junto às margens do rio que
lhe dá o nome. Reza a História que já Afonso Henriques fez referência aos
vinhos da região no Foral de Santarém, datado de 1170, e que o Cartaxo teria
exportado 500 navios com tonéis de vinho que, em apenas um ano, atingira o
valor de 12.000 reis. As histórias continuam pela cronologia fora, com o ano de
1765 a destacar-se pelo desaparecimento da vinha nos campos do Tejo, como
consequência de uma ordem imposta por Marquês de Pombal.
Em 1989, são fundadas seis Indicações de Proveniência
Regulamentada para vinhos da região do Ribatejo e, em 1997, é criada a Comissão
Vitivinícola Regional do Ribatejo, à qual se sucede a constituição por lei da
Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em 2009, seguindo-se a Rota dos Vinhos
do Tejo.
Muitas das quintas produtoras pertencem às famílias
nobiliárquicas. Cada uma com a sua história, em comum têm o objetivo de
produzir vinhos de qualidade, que expressem as caraterísticas da região. Como
resultado, os vinhos incorporam tradições (o pisa pé, método de esmagar as uvas
com os pés), o entusiasmo e empenho das suas gentes, a natureza que predomina
nas terras ribatejanas e as mais modernas tecnologias.
O Tejo tem alguns dos mais vibrantes e acessíveis vinhos de
Portugal, oferecendo uma gama diversificada e diferenciada de estilos, para
todos os gostos, orçamentos e ocasiões. A produção anual, que cresce safra após
safra, atingiu, no último ano, 2021, cerca de 23,3 milhões de litros.
Nos brancos, o perfil traduz-se em vinhos muito aromáticos,
frescos e elegantes. Os tintos são muito equilibrados, frescos e com taninos
distintos. No nariz, sobressai a fruta.
Já nos tintos de guarda a madeira revela-se de forma discreta. A região
do Tejo produz também excelentes vinhos rosés, espumantes, frisantes, e ainda
licorosos e colheitas tardias.
As castas tintas nativas do Tejo incluem a Touriga Nacional,
a casta portuguesa por excelência, bem como a Trincadeira, Castelão e Aragonês.
O aromático Fernão Pires e o Arinto produzem alguns dos vinhos brancos mais
refrescantes da região. Estas castas autóctones prosperaram em climas quentes e
solos complexos da Região do Tejo, mantendo a elevada acidez natural, para
produzir vinhos equilibrados com características de frutas ricas.
Na Região do Tejo, a legislação permite a utilização de
diversas castas, tanto nacionais como internacionais. As brancas mais comuns
são Chardonnay e Sauvignon Blanc. Entre as tintas destacam-se as Cabernet
Sauvignon e Merlot.
O terroir da região está profundamente ligado à influência
que o rio Tejo inflige às margens, que muitas vezes inunda as vinhas em época
de cheias. A sua força e amplitude influenciam o solo e o clima, gerando três áreas
produtoras distintas:
Bairro: localizado a norte do rio Tejo, as suas terras altas
são compostas por colinas e planícies, ricas em solos de calcário e argila e
depósitos de xisto.
Charneca: na margem sul do Tejo, apresenta solos arenosos e
temperaturas elevadas, o que leva a um amadurecimento mais rápido das uvas na
região.
Campo: localizado nas margens do Tejo, a influência do rio
faz-se sentir nas temperaturas mais amenas, resultando vinhos mais frutados,
acidez e frescor.
A Região dos Vinhos do Tejo é composta por um total de 17 mil
hectares de terreno vinícola, que produzem anualmente cerca de 650 mil
hectolitros, o que representa cerca de 10% do total de vinho produzido em
Portugal. Destes cerca de 110 mil hectolitros são certificados, dos quais 90%
são vinhos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) e 10% são vinhos com
Denominação de Origem Controlada (DOC).
Almerim
Almeirim é uma cidade que está localizada no Ribatejo e que
pertence ao distrito de Santarém, tendo cerca de 11.700 habitantes. Desde 2002 está
integrada na região do Alentejo e na sub-região da Lezíria do Tejo, continua,
no entanto, a fazer parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
de Lisboa e Vale do Tejo.
O município é limitado a norte pelo município de Alpiarça, a leste
e nordeste pela Chamusca, a sul por Coruche e Salvaterra de Magos, a oeste pelo
Cartaxo e a noroeste por Santarém.
A ocupação humana da atual área do concelho de Almeirim é
muito antiga. Terão sido a proximidade do rio Tejo e a riqueza natural os fatores
que terão contribuído para a instalação de homens nesta região.
Com as suas magníficas coutadas de caça, que se estendiam por
uma grande extensão, a vizinhança de Santarém, as proximidades do Tejo e ainda
de Lisboa, com fácil acesso, por via fluvial, Almeirim tornou-se, desde logo,
no lugar preferido dos reis da II dinastia e a estância de Inverno frequentada
por numerosos membros da Corte, de tal maneira que foi considerada a
"Sintra de Inverno", no século XVI.
E agora finalmente o vinho!
Na taça tem um lindo e brilhante amarelo palha, límpido,
diria, com alguma intensidade, com reflexos esverdeados.
No nariz explode em aromas de frutas brancas, frutas de
caroço onde se destacam pera, melão, melancia, maçã-verde, abacaxi, com toques
cítricos, sendo muito fresco, com um delicado floral.
Na boca é leve, saboroso, com o protagonismo, como no aspecto
olfativo, das frutas brancas e cítricas, mas que traz alguma complexidade
caracterizada por uma discreta untuosidade, com um acidez equilibrada e final
cheio e persistente.
Novidades, garimpos, propostas arrojadas, moderno e clássico.
Todos os quesitos são consistentes quando falamos em vinho! Tudo é válido para
quem ama a poesia líquida! E o Fiuza Native Arinto e Chardonnay trouxe um pouco
de cada um: Castas tradicionais, a classe de suas características, a
representatividade histórica da região, o corte arrojado e moderno conspiraram
a favor deste belo e surpreendente rótulo de uma vinícola que tem, como
filosofia, a junção de variedades autóctones e castas emblemáticas francesas.
Um vinho fresco, leve, solar, mas que traz personalidade, sobretudo pelo seu
blend. O frescor da Arinto, dada pela sua acidez e a estrutura da Chardonnay
entrega esse vinho especial e versátil. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a Vinícola Fiuza & Bright:
A Família Mascarenhas Fiuza dedica-se à vitivinicultura há
mais de um século. A empresa iniciou a sua atividade no início do Século XX. Joaquim
Mascarenhas Fiuza, filho de D. Luísa Mascarenhas (irmã do 10º Marquês de
Fronteira e 9º Marquês de Alorna) começou a produzir vinho com o seu tio nas
propriedades da Família Mascarenhas Fiuza que há séculos que tem Quintas na
região.
Em 1986, surge a parceria entre o produtor de vinhos Joaquim
Mascarenhas Fiuza e o prestigiado enólogo australiano Peter Bright donde nasce
a empresa Fiuza & Bright. Pioneira na produção das castas francesas em
Portugal, a Fiuza & Bright produz nas suas duas quintas (Quinta da
Requeixada e Quinta da Granja) as principais castas portuguesas como a Touriga
Nacional, Aragonez, Arinto, Vital, Fernão Pires ou o Alvarinho e também algumas
das principais castas francesas como o Alicante Bouschet, o Cabernet Sauvignon,
o Merlot, Syrah, o Chardonnay ou o Sauvignon Blanc.
As suas vinhas situam-se na região do Tejo, na região
demarcada de Santarém e de lá têm saído alguns dos melhores vinhos portugueses,
que são produzidos exclusivamente na sua Adega em Almeirim. Como consequência
de todo esse trabalho e cuidado, a Fiuza têm recebido vários prémios e medalhas
ao longo dos últimos anos.
Mas não só nos vinhos, Joaquim Mascarenhas Fiuza conquistou
medalhas. De fato, o seu dia a dia dividia-se entre a atividade vitivinícola e
o famoso desporto náutico, a Vela, na categoria "Star".
Enquanto atleta, protagonizando participações vitoriosas nas
mais variadas provas e países, destacou-se sobretudo nos Jogos Olímpicos de
Berlim, em 1936, de Londres em 1948 e em 1952, em Helsinque, tendo neste último
ganho a merecida Medalha de Bronze. Nesse mesmo ano de 1952, em dupla com
Rebelo Carvalho, conseguiu o quarto lugar no Campeonato do Mundo. Em 1957 e
1958, concretizou um sonho de ser Campeão da Europa. Por nove vezes foi ainda
Campeão Nacional.
Mais informações acesse:
https://www.fiuzabrightpt.com/
Referências:
“Viva o Vinho”: https://www.vivaovinho.com.br/mundo-do-vinho/regioes-vinicolas/regiao-do-tejo-terra-de-vinhos-e-tradicao/
“Comissão Vitivinícola Regional do Tejo”: https://www.cvrtejo.pt/historia-do-vinho-e-da-regiao
“Conceito Português”: https://www.conceitoportugues.com.br/artigo/regiao-do-tejo
“Wines of
Portugal”: https://winesofportugal.com/pt/descobrir/regioes-vitivinicolas/tejo/
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