sábado, 27 de agosto de 2022

Vinha Longa Reserva 2016

 

Posso ser redundante, mas não sou omisso! Tenho um orgulho monumental em dizer que a minha porta de entrada para os vinhos lusitanos foi o bom e velho Alentejo! Para mim os rótulos alentejanos são os melhores até hoje, independentemente de suas propostas e nuances.

E já tem algum tempo, mas a chama nunca se apagou, muito pelo contrário, continua acessa e forte em meu coração e sempre inundando a minha taça de um magnífico prazer sensorial e, claro, de história.

Graças ao Alentejo pude explorar e venho explorando todas as regiões vinícolas de Portugal que, tão pequeno, geograficamente falando, mostra-se tão grande em seus terroirs tão particulares uns dos outros.

E falando em particularidade o Alentejo me cativou e cativa tanto pelo fato da personalidade de seus rótulos! Uma região quente, no clima, que entrega vinhos estruturados, volumosos, de caráter. Quer um vinho cheio de vida? Encorpado? Vá de Alentejo!

Lembro-me, com nostalgia, que um momento importante para mim foi ter participado de um evento, no Rio de Janeiro, dedicado aos vinhos Alentejanos, o “Vinhos do Alentejo”, em 2018, cuja resenha pode ser lida aqui. Foi um momento singular, ter degustado rótulos dos principais produtores, das principais microrregiões, com particulares muito peculiares, mostrando que a região ainda continua viva na produção de vinhos tradicionais, mas com arrojo contemporâneo.

E o contemporâneo, o tradicional, se mescla com o apelo regionalista que é respeitado sublimemente, mas que atinge, dado o seu caráter e tipicidade conquistado pelo regionalismo, um status global, exportando o nome de Portugal para o mundo.

E a garrafeira, como a adega é chamada em Portugal, com isso, está sempre bem representada pelo Alentejo e chegou a hora de degustar em especial que, intencionalmente deixei por algum tempo nela para degustar em seu ápice e provar também, para mim mesmo, da capacidade de longevidade que determinados rótulos dessa região pode alcançar e com qualidade. 

E o rótulo de hoje é de um produtor que, por aqui em terras brasileiras, não me parece ser conhecido chamado Ferreira Malaquias e que inclusive degustei uns rótulos, mas da região do Dão, chamado Cova do Frade da emblemática casta portuguesa Touriga Nacional, na versão básica e reserva. Ótimos e surpreendentes vinhos com uma ótima relação preço X qualidade.

O alentejano de hoje também tem uma ótima relação preço X qualidade e, quando foi finalmente desarrolhado mostrou-se vivo, pleno, elegante e de personalidade, como tem de ser quando é oriundo da região. O vinho que degustei e gostei chama-se Vinha Longa Reserva, composto pelo blend Aragonez (60%), Touriga Nacional (20%) e Touriga Franca (10%) da safra 2016. Seis anos de um vinho que tinha muito pela frente! Convém lembrar que, antes de reforçar a minha predileção pelo Alentejo, transcrevendo a sua história, já havia degustado a “versão” 2015 do Vinha Longa Reserva e, claro, a experiência foi ótima!


Alentejo

Situado na zona sul de Portugal, o Alentejo é uma região essencialmente plana, com alguns acidentes de relevo, não muito elevados, mas que o influenciam de forma marcante. Embora seja caracterizada por condições climáticas mediterrânicas, apresenta nessas elevações, microclimas que proporcionam condições ideais ao plantio da vinha e que conferem qualidade às massas vínicas. As temperaturas médias do ano variam de 15º a 17,5º, observando-se igualmente a existência de grandes amplitudes térmicas e a ocorrência de verões extremamente quentes e secos.

Alentejo

Mas, graças aos raios do sol, a maturação das uvas, principalmente nos meses que antecedem a vindima, sofre um acúmulo perfeito dos açúcares e materiais corantes na película dos bagos, resultando em vinhos equilibrados e com boa estrutura. Os solos caracterizam-se pela sua diversidade, variando entre os graníticos de "Portalegre", os derivados de calcários cristalinos de "Borba", os mediterrânicos pardos e vermelhos de "Évora", "Granja/Amarelega", "Moura", "Redondo", "Reguengos" e "Vidigueira". Todas estas constituem as 8 sub-regiões da DOC "Alentejo".

História (Passado, presente e futuro)

A história do vinho e da vinha no território que é hoje o Alentejo exige uma narrativa longa, com uma presença continuada no tempo e no espaço, uma gesta ininterrupta e profícua que poucos associam ao Alentejo. Uma história que decorreu imersa em enredos tumultuosos, dividida entre períodos de bonança e prosperidade, entrecortados por épocas de cataclismos e atribulações, numa flutuação permanente de vontades, com longos períodos de trevas seguidos por breves ciclos iluministas e vanguardistas.

É uma história faustosa e duradoura, como o comprovam os indícios arqueológicos presentes por todo o Alentejo, testemunhas silenciosas de um passado já distante, evidências materiais da presença ininterrupta da cultura do vinho e da vinha na paisagem tranquila alentejana. Infelizmente, por ora ainda não foi possível determinar com acuidade histórica quando e quem introduziu a cultura da videira no Alentejo.

Mas ainda assim pode-se afirmar que a história do Alentejo anda de mãos dadas com a história de Portugal e da Península Ibérica, ex-hispânicos, assim como, pertencentes a época de civilizações romana, árabe e cristãs. Em muitos lugares no Alentejo encontrar provas da civilização fenícia existente há 3.000 anos atrás.

Fenícios, celtas, romanos, todos eles deixaram um importante legado da era antes de Cristo, na região que é hoje o Alentejo. Uma terra onde a cultura e tradição caminham lado a lado. Os romanos deixaram nesta região o legado mais importante, escritos, mosaicos, cidades em ruínas, monumentos, tudo deixado pelos romanos, mas não devemos esquecer as civilizações mais antigas que passaram pela zona deixando legados como os monumentos megalíticos, como Antas.


Após os romanos e os visigodos, os árabes, chegaram a esta terra com o cheiro a jasmim, antes da reconquista, que chegaram com a construção de inúmeros castelos, alguns deles construídos sobre mesquitas muçulmanas e a construção de muralhas para proteger a cidade e as cidades que foram crescendo. Desde essa altura até hoje, o Alentejo tem continuado o seu crescimento, um crescimento baseado na agricultura, pecuária, pesca, indústria, como a cortiça e desde o último século até aos nossos dias, com o turismo com uma ampla oferta de turismo rural.


Os gregos, cuja presença é denunciada pelas centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal, sucederam aos fenícios no comércio e exploração dos vinhos do Alentejo. Por esta época, a cultura da vinha no Alentejo, apesar de incipiente, contava já com quase dois séculos de história. A persistência de uma cultura da vinha e do vinho, desde os tempos da antiguidade clássica, permite presumir, com elevado grau de convicção, que as primeiras variedades introduzidas no território nacional terão arribado a Portugal pelo Alentejo, a partir das variedades mediterrânicas.

É mesmo provável, se atendermos os registros históricos existentes, que a produção alentejana tenha proporcionado a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma, a primeira aventura de internacionalização de vinhos portugueses! A influência romana foi tão peremptória para o desenvolvimento da viticultura alentejana que ainda hoje, dois mil anos após a anexação do território, as marcas da civilização romana continuam a estar patentes nas tarefas do dia-a-dia, visíveis através da utilização de ferramentas do quotidiano, como o Podão, instrumento utilizado intensivamente até há poucos anos. Mas foi no aproveitamento das talhas de barro, prática que os romanos divulgaram e vulgarizaram no Alentejo, que a influência romana deixou as suas marcas mais profundas e até hoje é difundida, dada a devida proporção, por alguns abnegados produtores, e claro, a sua população.

Com a emergência do cristianismo, credo disseminado quase instantaneamente por todo o império romano, e face à obrigatoriedade da presença do vinho na celebração eucarística da nova religião, abriram-se novos mercados e novas apetências para o vinho. A fé católica, ainda que indiretamente, afirmou-se como um fator de desenvolvimento e afirmação da vinha no Alentejo, estimulando o cultivo da videira na região.

Com tantas influências culturais o Alentejo sofreu com algumas crises e a primeira se deu exatamente entre os cristãos e muçulmanos. Embora os mulçumanos tenham se mostrando tolerante com os costumes dos povos conquistados, consentindo na manutenção da cultura da vinha e do vinho, sujeitando-a a duros impostos, mas autorizando a sua subsistência, logo nasceu uma intolerância crescente para com os cristãos e os seus hábitos, manifesta no cumprimento rigoroso e vigoroso das leis do Corão.

Inevitavelmente, a cultura do vinho foi sendo progressivamente negada e a vinha gradualmente abandonada, reprimida pelas autoridades zelosas das regiões ocupadas. Com a invasão muçulmana a vinha sofreu o primeiro revés sério no Alentejo. A longa reconquista cristã da península ibérica, riscada de Norte para Sul, geradora de incertezas e inseguranças, com escaramuças permanentes entre cristãos e muçulmanos, sem definição de fronteiras estáveis, maltratou ainda mais a cultura da vinha, uma espécie agrícola perene que, por forçar à fixação das populações, foi sendo progressivamente abandonada.

Foi só após a fundação do reino lusitano, concorrendo através do poder real e das novas ordens religiosas, que a cultura do vinho regressou com determinação ao Alentejo. Poucos séculos mais tarde, já em pleno século XVI, a vinha florescia como nunca no Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora, aos vinhos de Peramanca, bem como aos brancos de Beja e aos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.

Em meados do século XVII, eram os vinhos do Alentejo, a par da Beira e da Estremadura, que gozavam de maior fama e prestígio em Portugal. Desventuradamente, foi sol de pouca dura! A crise provocada pela guerra da independência, logo secundada por nova crise despertada pela criação da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída pelo Marquês de Pombal como justificação para a defesa dos vinhos do Douro em detrimento das restantes regiões, com arranques coercivos de vinhas em muitas regiões, deu matéria para a segunda grande crise do vinho alentejano, mergulhando as vinhas alentejanas no obscurantismo.

A crise foi prolongada. Foi preciso esperar até meados do século XIX para assistir à recuperação da vinha no Alentejo, com a campanha de desbravamento da charneca e a fixação à terra de novas gerações de agricultores. Nasceu então mais uma época dourada para os vinhos do Alentejo, período que infelizmente viria a revelar ser de curta duração. O entusiasmo despertou quando se soube que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, tendo sido igualmente apreciados e valorizados vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.

Pouco anos mais tarde, decorria o ano de 1895, edificou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, pelas mãos avisadas de António Isidoro de Sousa, pioneiro do movimento associativo em Portugal. Desafortunadamente, este período de glória viria a terminar abruptamente. Duas décadas passadas, já na primeira metade do século XX, sobreveio um conjunto de acontecimentos políticos, sociais e econômicos que contribuíram decidida e decisivamente para a degradação da viticultura alentejana.

Antônio Isidoro de Sousa

Ao embate da filoxera, somou-se a primeira das duas grandes guerras mundiais, as crises econômicas sucessivas, e, sobretudo, a campanha cerealífera do estado novo que suspendeu e reprimiu a vinha no Alentejo, apadrinhando a cultura de trigo na região que viria a apelidar como "celeiro de Portugal". A vinha foi sendo sucessivamente desterrada para as bordaduras dos campos, para os terrenos marginais em redor de montes, aldeias e vilas, para as pequenas courelas em redor das povoações, reduzindo o vinho à condição de produção doméstica para autoconsumo. Em poucos anos o vinho no Alentejo, salvo raras exceções, desapareceu enquanto empreendimento empresarial.

Foi sob o patrocínio solene da Junta Nacional do Vinho, já no final da década de 1940, que a viticultura alentejana ganhou a primeira oportunidade de recobro, ainda que de forma titubeante.

O movimento associativo foi preponderante para o ressurgimento da atividade vitícola no Alentejo. Em 1970, sob os auspícios da Comissão de Planeamento da Região Sul, foi anunciado o estudo "Potencialidades das sub-regiões alentejanas", coadjuvado dois anos mais tarde pelo estudo "Caracterização dos vinhos das cooperativas do Alentejo. Contribuição para o seu estudo", do professor Francisco Colaço do Rosário, ensaios acadêmicos determinantes para o reconhecimento regional e nacional do potencial do Alentejo. Associando várias instituições ligadas ao setor e tirando proveito das sinergias criadas, o Alentejo conseguiu estabelecer um espírito de cooperação e entreajuda entre os diversos agentes.

Com a criação do PROVA (Projeto de Viticultura do Alentejo), em 1977, foram criadas as condições técnicas para a implementação de um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi arquitetada para promover a cultura da vinha nos diferentes terroirs do Alentejo.

Em 1988 regulamentaram-se as primeiras denominações de origem alentejanas, fundamento para o estabelecimento, em 1989, da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana), garante da certificação e regulamentação dos vinhos do Alentejo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, escuro, quase profundo, exibindo discretos tons violáceos, sendo caudaloso, manchando as bordas do copo e com lágrimas finas, lentas e abundantes.

No nariz se mostra intenso para as frutas vermelhas bem maduras, como ameixas, cerejas, com as notas amadeiradas também predominando, graças aos 12 meses em barricas de carvalho, impondo um tostado médio, com nuances especiadas, além de tabaco, couro, estrebaria, terra molhada e baunilha.

Na boca é seco, estruturado, com alguma robustez mesmo com seus 6 anos de safra, volumoso, cheio, untuoso, alcoólico, mas saboroso, elegante e equilibrado, pois entrega uma sinergia maravilhosa entre as frutas vermelhas maduras e a madeira, conferindo este último toques de caramelo, defumado, chocolate. Taninos marcados e presentes, com acidez correta e um final persistente e frutado.

Tão complexa e envolvente como a história do Alentejo, que se confunde com a história rica do Portugal vitivinícola, é igualmente complexo e especial o Vinha Longa Reserva! Um vinho que expressa, em seu caráter e tipicidade, a história do Alentejo. Vivo e pleno entrega frutas vermelhas maduras e o aporte da madeira traz a tal complexidade de que esperamos de um alentejano com notas defumadas, de tosta média, caramelo, chocolate e aquele toque terroso extremamente envolvente. Que venham mais e mais rótulos do Alentejo para que se mantenha viva em nossas taças. Tem 14,5% de teor alcoólico.

Ah e aqui cabe um pouquinho de curiosidade sobre o nome do vinho, “Vinha Longa”: O nome da gama de vinhos da Ferreira Malaquias, Vinha Longa, é inspirado nas grandes expansões típicas do Alentejo. Carrega Alentejo até no nome!

Sobre a Vinícola Ferreira Malaquias:

A Ferreira Malaquias, foi fundada em 1896, é uma empresa familiar, e está presente no negócio do vinho a quatro gerações, e sempre soube ao longo da sua história renovar o seu compromisso e dedicação, através de uma visão de longo prazo.

Fundada por José Ferreira Malaquias em 1896, já no final do século XIX se afirmava como um comerciante e exportador de vinhos de sucesso, com a sua atividade de comercialização de vinhos de lote da região do Dão.

Num passado recente a Ferreira Malaquias, cumpriu um vasto plano de investimento, com a visão de apresentar ao mercado, nacional e exportação, vinhos de qualidade e caráter, com diferentes estilos e absoluto respeito pelo “terroir” de origem.

Hoje têm no seu portfólio, as mais reconhecidas regiões vitivinícolas de Portugal - Vinhos Verdes (Minho), Douro, Alentejo e Tejo, e continuando a sua histórica ligação, que vem desde a sua fundação, aos vinhos da região do Dão.

O ano de 2013, fica marcado pelo reforço de investimento na enologia, com a entrada de um prestigiado grupo de enólogos, que veio revolucionar com conhecimento, detalhe e tecnologia, todos os vinhos da Ferreira Malaquias, expressão maior de toda a arte de construir os melhores blends e revelar a personalidade de cada região.

Acrescentar diferencial na qualidade em todas as suas marcas, tem sido confirmado, de forma sistemática, pelo reconhecimento do mercado interno e exportação, e atribuição de múltiplos prémios a nível internacional.

Mais informações acesse:

https://ferreiramalaquias.pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/roteiros/vinhos-da-sub-regiao-da-vidigueira-denominacao-de-origem-alentejo/

“Rota dos Vinhos de Portugal”: http://rotadosvinhosdeportugal.pt/enoturismo/alentejo-2/borba/

“Vinhos do Alentejo”: https://www.vinhosdoalentejo.pt/pt/vinhos/historia-dos-vinhos/

“Visita Alentejo”: https://www.visitalentejo.pt/pt/o-alentejo/cultura/historia/

 







 












quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Encosta do Forte Special Selection 2019

 

Com o vinho nos permitimos viajar para quaisquer lugares sem se quer sair do lugar! Embora seja uma frase meio clichê, piegas mesmo, a realidade se materializa quando nos colocamos a pesquisar o vinho que degustamos! Detalhes vão surgindo, que se complementam e a cada passo que damos uma teia de temas explodem diante dos seus olhos.

E já que estou falando de frases clichês, preciso completar com outra frase que, a cada resenha que construo, também está se adequando a pieguice: O universo do vinho é vasto e inexplorado. A cada rótulo degustado essa sensação se torna evidente!

E já que estou falando em viagens eu não posso negligenciar Portugal e suas regiões tão particulares e singulares apesar de tão pequeno, geograficamente falando e uma região, em especial, vem me acalentando a cada dia ou melhor, a cada rótulo degustado: Lisboa.

A capital do país também abriga uma gama de modernidade, não só sob o aspecto cosmopolita, mas também na concepção de seus vinhos. Arrojados, contemporâneos, mas que respeita o seu terroir, a identidade cultural de um povo e as mais íntimas características da sua terra. Poucos fazem isso como Portugal: aliar tradição e modernidade com equilíbrio.

E Lisboa sintetiza isso! Traz a história do terroir, mas absorve o novo e o novo vem da terra. O que quero dizer com isso? No vinho que degustarei hoje trará, em seu blend, castas francesas em sua profusão, a predominância é da Syrah, variedade que encontrou o seu lugar em Lisboa e a rainha das uvas tintas: a Cabernet Sauvignon, além da casta “exportação” de Portugal: a Touriga Nacional.

Não precisa dizer o quão animado estou para degustar esse vinho! E como, no início desse texto, eu mencionei a importância de se conhecer a região do vinho que estamos degustando esse rótulo traz uma novidade: O vinho é oriundo de uma região chamada Arruda dos Vinhos ou Vale Encantado. Tem sido espetacular ter a noção da sub-região arraigada no vinho que degustamos, pois, além de fomentar a busca pelo saber da região em si, traz aquele apelo regionalista.

Claro que vamos tecer, com requinte de detalhes, a história da região, de Lisboa e tudo o mais, mas antes preciso apresentar o vinho que degustei e gostei. Veio claro, de Lisboa e se chama Encosta do Forte Special Selection composto pelo blend Syrah (42%), Touriga Nacional (35%) e Cabernet Sauvignon (23%) da safra 2019. O Quinta São Sebastião, produtor do vinho, é uma novidade para mim, o primeiro que degustei, o Janela Branca Special Selection 2020, também surpreendeu pela qualidade e pelo conteúdo histórico.

Lisboa

A costa de Portugal é muito privilegiada para a produção vitivinícola graças à sua posição em relação ao Oceano Atlântico, à incidência de ventos, ao solo e ao relevo que constituem o local. Entre as principais áreas produtoras podemos citar a região dos vinhos de Lisboa, antigamente conhecida como Estremadura, famosa tanto por tintos encorpados como por brancos leves e aromáticos.

Tem mais de 30 hectares de cultivo com mais de 9 mil aptas à produção de Vinho Regional de Lisboa e Vinho com Denominação de Origem Controlada. O nome passou em 2009 para Lisboa de forma a diferenciar da região de mesmo nome na Espanha, também produtora de vinhos.

O litoral da IGP Lisboa corre para o sul de Beiras a partir da capital de Portugal, onde o rio Tejo encontra o Oceano Atlântico. Suas características geográficas proporcionam certa complexidade à região, pois está situada climaticamente em zona de transição dos ventos úmidos e estios, com solo de idades variadas, secos, encostas e maciços montanhosos se contrapõem a várzeas e terras de aluvião.

Ainda sofre influência direta da capital do país localizada em um extremo da região. Uma de suas características determinantes é a grande variedade de solos, como terras de aluvião (sedimentar), calcário secundário, várzeas e maciços montanhosos, muitas vezes misturados. Cada um desses terrenos pode proporcionar às uvas características completamente diferentes.

Lisboa

Esta região possui boas condições para produzir vinhos de qualidade, todavia há cerca de quinze anos atrás a região de Lisboa era essencialmente conhecida por produzir vinho em elevada quantidade e de pouca qualidade. Assim, iniciou-se um processo de reestruturação nas vinhas e adegas. Provavelmente a reestruturação mais importante realizou-se nas vinhas, uma vez que as novas castas plantadas foram escolhidas em função da sua produção em qualidade e não em quantidade. Hoje, os vinhos da Região de Lisboa são conhecidos pela sua boa relação qualidade/preço.

A região concentrou-se na plantação das mais nobres castas portuguesas e estrangeiras e em 1993 foi criada a categoria “Vinho Regional da Estremadura”, hoje "Vinho Regional Lisboa". A nova categoria incentivou os produtores a estudar as potencialidades de diferentes castas e, neste momento, a maior parte dos vinhos produzidos na região de Lisboa são regionais (a lei de vinhos DOC é muito restritiva na utilização de castas).

Entre as principais uvas cultivadas podemos citar as brancas Arinto, Fernão Pires (ambos naturais de Portugal) e Malvasia, e as tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Touriga Nacional e Aragonez (como é chamada a Tempranillo na região).

Acredita-se que a elaboração de vinhos seja uma atividade desde o século 12, quando os monges da Ordem de Cister se estabeleceram na região. Uma de suas principais funções era justamente a produção da bebida para a celebração de missas.

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

A Região de Lisboa é constituída por nove Denominações de Origem: Colares, Carcavelos e Bucelas (na zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro da região) e Encostas d’Aire (a norte, junto à região das Beiras).

As regiões de Colares, Carcavelos e Bucelas outrora muito importantes, hoje têm praticamente um interesse histórico. A proximidade da capital e a necessidade de urbanizar terrenos quase levou à extinção das vinhas nestas Denominações de Origem.

A Denominação de Origem de Bucelas apenas produz vinhos brancos e foi demarcada em 1911. Os seus vinhos, essencialmente elaborados a partir da casta Arinto, foram muito apreciados no estrangeiro, especialmente pela corte inglesa. Os vinhos brancos de Bucelas apresentam acidez equilibrada, aromas florais e são capazes de conservar as suas qualidades durante anos.

Colares é uma Denominação de Origem que se situa na zona sul da região de Lisboa. É muito próxima do mar e as suas vinhas são instaladas em solos calcários ou assentes em areia. Os vinhos são essencialmente elaborados a partir da casta Ramisco, todavia a produção desta região raramente atinge as 10 mil garrafas.

A zona central da região de Lisboa (Óbidos, Arruda, Torres Vedras e Alenquer) recebeu a maioria dos investimentos na região: procedeu-se à modernização das vinhas e apostou-se na plantação de novas castas. Hoje em dia, os melhores vinhos DOC desta zona provêm de castas tintas como por exemplo, a casta Castelão, a Aragonez (Tinta Roriz), a Touriga Nacional, a Tinta Miúda e a Trincadeira que por vezes são lotadas com a Alicante Bouschet, a Touriga Franca, a Cabernet Sauvignon e a Syrah, entre outras. Os vinhos brancos são normalmente elaborados com as castas Arinto, Fernão Pires, Seara-Nova e Vital, apesar da Chardonnay também ser cultivada em algumas zonas.

A região de Alenquer produz alguns dos mais prestigiados vinhos DOC da região de Lisboa (tintos e brancos). Nesta zona as vinhas são protegidas dos ventos atlânticos, favorecendo a maturação das uvas e a produção de vinhos mais concentrados. Noutras zonas da região de Lisboa, os vinhos tintos são aromáticos, elegantes, ricos em taninos e capazes de envelhecer alguns anos em garrafa. Os vinhos brancos caracterizam-se pela sua frescura e carácter citrino.

A maior Denominação de Origem da região, Encostas d’Aire, foi a última a sofrer as consequências da modernização. Apostou-se na plantação de novas castas como a Baga ou Castelão e castas brancas como Arinto, Malvasia, Fernão Pires, que partilham as terras com outras castas portuguesas e internacionais, como por exemplo, a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Aragonez, Touriga Nacional ou Trincadeira. O perfil dos vinhos começou a alterar-se: ganharam mais cor, corpo e intensidade.

Arruda dos Vinhos: Vale Encantado

Vila e sede de concelho, Arruda dos Vinhos é centro de uma importante região vinícola do Oeste português, a uma curta distância de 36 quilómetros da cidade de Lisboa. Não sendo certa a origem da povoação, tem-se registo de eventos por lá ocorridos à data da fundação de Portugal, por conquista aos mouros, tendo, no rescaldo, sido alicerçada uma extensão da Ordem de Santiago.

Arruda dos Vinhos

Em Arruda, encontra-se uma harmonia perfeita entre o passado e o presente, num equilíbrio urbano e rural, com monumentos centenários, como o portal manuelino da Igreja Matriz, o Chafariz Pombalino, datado de 1789, ou parte das obras militares que integram as Linhas Defensivas de Torres, de mãos dadas com uma malha urbana moderna, profundamente alargada desde a década de 1980 até ao presente, de zonas industriais não poluentes e de última geração, como centros de investigação na área farmacêutica ou vitivinícola.

Uma vila historicamente rica, com um elevado espírito de comunidade e de pertença, onde mais de 15.000 habitantes chamam casa, Arruda dos Vinhos, também conhecido como o “vale encantado” continua a explorar o seu potencial nas mais variadas vertentes agrícolas, industriais, educativas e culturais.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi de tonalidade escura, quase profunda, com algum brilho e lágrimas densas, grossas, lentas e em profusão denunciando a sua graduação alcoólica alta.

No nariz não é tão intenso, aromaticamente falando, mas notam-se as frutas vermelhas maduras, mas com algum frescor, com toques de especiarias, algo de couro e tabaco e um fundo herbáceo.

Na boca é extremamente saboroso, de leve para média estrutura, graças também ao seu bom volume de boca, um vinho cheio, por ser alcoólico, mas sem agredir, com as notas frutadas em evidência com chocolate e baunilha bem discreto, provavelmente pelo pequeno parcial do vinho ter passado por 12 meses em barricas de carvalho, com taninos envolventes, presentes, porém equilibrados, acidez média e um final persistente.

História, tradição, contemporaneidade, uma mistura, uma mescla que harmoniza bem em um vinho lisboeta, com pequenos pedaços de chão que expressam o terroir dessa região, a tipicidade em estado de graça. As castas que dão origem a este vinho vêm precisamente da encosta onde também se situa o Forte de São Sebastião ou Forte do Cego, daí a origem do nome do vinho. E falando do nome do vinho, no rótulo aparece a foto de um cão. Tentei buscar, em minhas pesquisas, referências sobre essa ligação, da região com o animal e infelizmente quase nada encontrei, mas o pouco localizado dá conta de que a região tem muito cachorro, tornando-se, além, claro, da vitivinicultura, um símbolo de Arruda dos Vinhos. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Quinta de São Sebastião:

O símbolo heráldico que inspira o cunho da Quinta de S. Sebastião, conta a história de um mártir e Santo Cristão, que acreditou em poder demover o Império Romano da perseguição aos cristãos.

Nascido em Roma e valente guerreiro, Sebastião ingressa no exército romano e chega ao comando da guarda pessoal do imperador – a Guarda Pretoriana. A sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos, levou o imperador a julga-lo como traidor. Depois de executado por meio de flechas foi abandonado pelos soldados, para que sangrasse até a morte amarrado a uma árvore. 

À noite uma crente cristã, retirou o corpo de Sebastião para dar-lhe sepultura, ao perceber que este ainda estava vivo, deu-lhe abrigo e cuidados até estar restabelecido. Já recuperado, Sebastião quis continuar seu processo de evangelização e com valentia apresentou-se de novo ao imperador, censurando-o e pedindo-lhe que parasse com as injustiças cometidas contra os cristãos.

Diocleciano ordenou que fosse espancado até a morte e lançado no esgoto público impedindo que o corpo fosse venerado. Mas o corpo Sebastião acabou por ser resgatado e sepultado secretamente por crentes cristãos.

Anos mais tarde, os seus restos mortais foram solenemente transportados para a basílica onde se encontra até hoje. Nessa altura, a terrível peste que assolava Roma simplesmente desapareceu no momento da transladação. S. Sebastião passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, fome e guerra.

Esta crença alimentava a fé das gentes desta terra, que a acreditavam abençoada e protegida. As romarias, agradecendo a fertilidade da terra e o milagre de ter sido poupada das Pestes que assolaram o País, são testemunho deste fato. A história de S. Sebastião inspirou o espírito lutador e convicto das gentes desta terra, que do vinho faziam e fazem vida. É esta a herança da Quinta de S. Sebastião, a crença e a paixão que os tempos alimentaram de saber e rigor para contar uma nova história.

Hoje, a vida na quinta ainda reserva as tradições, os ritmos e as rotinas que as vinhas ditam. E acreditar na produção de vinhos de excelência não é só uma crença é uma vontade firmada de capacidade, conhecimento e ambição de vida.

A conjugação dos fatores climáticos amenos, dos declives soalheiros, da localização geográfica, da proximidade do mar, da proteção da montanha, e claro das pessoas que todos os dias vivem e cuidam das terras e vinhas da Quinta de São Sebastião, dão corpo ao renascer de vinhos com uma frescura característica e uma identidade muito própria

Os Vales de diferentes exposições solares e distintos declives de terras férteis, a influência do ar marítimo apaziguado pelas montanhas e a presença de cursos de água, criam um microclima equilibrado, perfeito para a produção do que de melhor se faz em Portugal. Formados por calcários, margas, argolas e arenitos, os solos podem considerar-se produtivos, em quase toda a área do conselho Arruda dos Vinhos.

A Quinta de São Sebastião apresenta um terroir ideal que garante a qualidade das mais variadas castas e se, aos fatores naturais, juntando o carinho e o respeito no cuidado que é dado, obtendo os frutos perfeitos que abrem as portas à criação de vinhos exclusivos, servindo os mais exigentes e rigorosos critérios de seleção.

Por isso, para os tintos, as escolhas da fruta recaíram sobre um conjunto de castas nacionais e estrangeiras, as tintas francesas Syrah e Merlot e as portuguesas Touriga Nacional e Tinta Roriz (Aragonês). Nas brancas a opção foi para as variedades nacionais Arinto e Cercial. Embora em 2007 a primeira vindima não tenha respondido às exigências, já em 2008 o resultado foi o renascer de vinhos com uma forte identidade.

Mais informações acesse:

https://quintassebastiao.com/

Referências:

“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/vinho-lisboa/

“Olhar Turístico”: https://www.olharturistico.com.br/regiao-dos-vinhos-de-lisboa/

“Belle Cave”: https://www.bellecave.com.br/vinhos-de-lisboa-saiba-mais-sobre-essa-regiao-produtora

“Infovini”: http://www.infovini.com/pagina.php?codNode=3901

“Freguesia de Arruda dos Vinhos”: https://www.jf-arruda.pt/freguesia/historia#:~:text=Uma%20vila%20historicamente%20rica%2C%20com,%2C%20industriais%2C%20educativas%20e%20culturais.

 

 

 

 










domingo, 21 de agosto de 2022

Marqués de Colbert Reserva Bobal e Tempranillo 2016

 

Escolher e comprar vinhos, como costumo dizer, é assumir riscos! Por que digo isso? Simples! Você pode pesquisar o vinho, buscar referências, se identificar com a região com a qual o vinho foi concebido, das variedades, da proposta que pode entregar, mas quando está na mesa, na taça pode te surpreender negativamente falando.

E nesses últimos tempos venho me interessando, de forma, diria, ávida, pelos vinhos espanhóis reservas, gran reservas e crianzas. Não sei como começou e sinceramente não sei quando irá terminar.

A despeito de que muitos dizem acerca desses vinhos, me encanta a complexidade, as notas amadeiradas em perfeita sinergia com as frutas e características das castas que os compõe e, sobretudo, da sua elegância, de vinhos que são mais redondos, pela proposta de passagem, longa, por barricas de carvalho, do tempo de safra, geralmente são antigas, em média de 8 a 10 anos de garrafa, da particularidade de cada terroir etc.

A reclamação de muitos se dá exatamente na elegância dos vinhos cuja referência que se dá é de vinhos inexpressivos, sem caráter, pouco estruturados ou algo similar. A opinião é livre e precisa ser respeitada, mas acredito que deveria se atentar para a proposta do vinho, pois a partir dela, podemos entender certas nuances do rótulo.

Não esperem amigos leitores, desses vinhos espanhóis, robustez, peso ou coisa que o valha, pois são vinhos que, de acordo com a Lei 24/2003, de 10 de julio, de la Viña y del Vino, passam por um determinado tempo em barricas de carvalho, que “afina” a bebida e ainda fica mais algum tempo em garrafa na vinícola até sair para a venda. Isso é preponderante para o vinho e suas propostas.

E o rótulo de hoje, claro, espanhol, me atraiu definitivamente pelo valor que era atraente, cerca de R$49! Mas não foi apenas o preço, embora seja prioritário, admito, para a compra. Foram outros quesitos importantes, pelo menos para mim: a região, Utiel-Requena, que vem ganhando alguma notoriedade, onde vem exportando para outros países e o Brasil tem recebido alguns rótulos o que, em um passado não muito distante, a produção e a prática mercadológica eram apenas local. E para finalizar a casta ou pelo menos uma das castas que compõe o rótulo escolhido: Bobal.

E essa variedade merece um comentário à parte pela sua importância para a região de Utiel-Requena que é a maior produtora, a que mais cultiva Bobal na Espanha. Evidente que a Bobal ainda é pouco conhecida entre nós, brasileiros, mas é possível encontrar com relativa facilidade no nosso mercado.

Já degustei alguns poucos rótulos dessa casta, mas o vinho de hoje a Bobal divide o protagonismo com a mais popular da Espanha: Tempranillo. E já degustei um rótulo com esse corte e que me chamou e muito a atenção: O Valtier Reserva 2013 com 50% da Bobal e 50% de Tempranillo.

Então sem mais delongas o vinho que degustei e gostei, como dito, veio da região espanhola de Utiel-Requena e se chama Marqués de Colbert Reserva, composto pelas castas Tempranillo (50%) e Bobal (50%) da safra 2016. Vamos às histórias! Da desconhecida Bobal e Utiel-Requena.

Utiel-Requena

A Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros.

É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI.

Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha.

Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol. Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

Bobal

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, porém com reflexos violáceos, com lágrimas finas, lentas e em média intensidade.

No nariz mostrou-se, inicialmente fechado, mas volatilizando abriu para um mix de frutas pretas e vermelhas maduras, com destaque para o morango, ameixa, cereja e framboesa, com o amadeirado em evidência, mas em sinergia com a fruta, com toques discretos de especiarias e um agradável defumado, diria também fumaça e couro.

Na boca é elegante, redondo, mas com persistência, talvez pelo bom volume, sendo cheio, alcoólico (14,5%) corroborando para uma marcante personalidade, ganhando em complexidade graças a madeira (cerca de 18 meses em barricas de carvalho), com notas de baunilha, caramelo e torrefação, com a fruta também protagonizando. Tem taninos presentes, mas aveludados, acidez correta e um final untuoso e longo.

O preço é atraente, o valor cativa, mas a sedução pode te deixar de joelhos, mas também pode trazer surpresa, aquela surpresa positiva. Esse vinho, o Marqués de Colbert definitivamente surpreendeu e entrega muito mais do vale, sem sombra de dúvidas. Um vinho de marcante personalidade, aquela complexidade que só os espanhóis reservas e gran reservas podem proporcionar. Elegante, equilibrado não cabe espaço para peso, tanta robustez e estrutura que, às vezes, pode ser agressivo ao palato. Mais uma vez um vinho deste produtor, a Marqués del Atrio, revela a capacidade de expressar, grandemente, o terroir, entregando tipicidade. Agora estou entendendo a minha avidez por esses rótulos. Tem 14,5% de teor alcoólico.

Sobre a Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio:

A família Rivero está de fato relacionada ao mundo do vinho há mais de um século. Nos anos 40, Amador Rivero, pai dos atuais proprietários, Agapito e Jesús Rivero, começou então a cultivar videiras e a produzir vinho profissionalmente em sua vinícola Faustino Rivero Ulecia, em Arnedo (na região de La Rioja).

Em 2003, a Família Rivero decidiu construir uma nova vinícola, Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio, S.L., pois o aumento da vinícola em Arnedo não era possível e a oferta de uvas na área era limitada.

A família escolheu a região de Mendavia, no vale do Ebro, porque garante uma qualidade suprema das uvas, necessária para atender às exigências do mercado.

A Rivero Family não vende apenas vinhos com a DOCa Rioja, mas em 1988 começou a vender vinho engarrafado com DO Navarra produzido em Corella (em Navarra) e em 1997 vinhos com DO Utiel-Requena produzido em Requena (em Valência).

Em 2001, pretendendo atender à demanda de vinhos varietais únicos e de consumo diário, a vinícola começou, portanto, a vender vinhos regionais. Em 2007, foi dado outro passo e a venda de Cava foi iniciada, aproveitando dessa forma a oportunidade de expansão na indústria do vinho.

Mais informações acesse:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/

Site “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html

 

 

 

 

 






sábado, 20 de agosto de 2022

Vinha Solo Cabernet Sauvignon 2009

 

Modismos ou não, atualmente há, no ar, as discussões sustentáveis, o consumo correto (O que seria correto para cada um no mundo?) e a busca, por parte do mercado, de produtos que estejam atrelados a essas práticas.

Não quero, pelo menos por enquanto, entrar nas minúcias desta complexa questão, pois a prática sustentável traz várias concepções dependendo da visão de vida e mundo de cada um e a sua busca pela tal qualidade de vida que para outras pessoas, que podem estar, direta ou indiretamente envolvidas na promoção da mesma na vida de outros, ser destrutivas para muitos tantos.

 Acredito que essas questões, essas nuances existenciais que permeiam no conceito, um tanto quanto diverso e as vezes engessado da sustentabilidade, podem ser aplicadas no universo do vinho.

Hoje alguns formadores de opinião, especialistas, jornalistas, críticos e alguns especialistas oriundos de redes sociais defendem e enaltecem os vinhos naturais, os famosos “naturebas”, dizendo, inclusive, com certa euforia, que são vinhos diferenciados e que é o futuro da vitivinicultura.

Se são diferenciados, eu não sei, no auge da minha incapacidade, dizer, haja vista que, confesso, não ter percebido diferenças entre os vinhos tradicionais, naturais e orgânicos, mas o fato é que já é uma realidade esse nicho que, a cada dia, vem ganhando corpo no mercado. E se é o futuro eu também não sei dizer, embora o cenário seja propício para a vinificação de tais vinhos, mas digo que o futuro, como dizia aquela música famosa, repetiu o passado.

Vinhos naturais seguem, a meu ver, basicamente, a proposta dos vinhos que eram produzidos em um passado remoto e vejo com certo entusiasmo o revisitar dessas propostas. Vinhos com o mínimo de intervenção humana, sem pesticidas e agrotóxicos, a saúde agradece e a qualidade, idem. Mas a boa intervenção humana também melhora o vinho. Então digo que dosar pode ser a proposta mais adequada, valorizando a sinceridade dos vinhos em todas as suas nuances e propostas.

Mas eu, como um bom e velho interessado pelo vinho e suas regiões, castas e propostas, de um modo geral, não desprezo nenhum vinho e tenho buscado, com certo interesse, os vinhos que eu, claro, ainda não degustei e os naturais me interessam também.

Estava eu a navegar pela grande rede e acessei um site importante de vendas de vinhos brasileiros e vi que estavam lançando em seu portfólio novos rótulos que, de imediato, me chamou a atenção de cara pelas safras: 2009! Outro detalhe que vem atiçando o meu interesse: vinhos velhos.

E ao acessar o link li a proposta do produtor e vi que faz manejos sustentáveis e rótulos naturais sem o mínimo de intervenção humana e com preços altamente atrativos e competitivos. A adesão foi instantânea: a compra de dois! Um Cabernet Sauvignon e outro blend, o clássico corte bordalês.

Optei por degustar o Cabernet Sauvignon! Não demorei muito para degustar, pois julguei, pelos seus 13 anos de vida que está mais do que no auge para uma agradável degustação. E lá vamos nós a mais uma degustação que projeto ser especial. A abertura do vinho foi feita, mais uma vez o ritual seguido e o vinho está fantástico! A Serra Gaúcha ainda traz os seus atrativos.

Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que degustei e gostei veio de um distrito conhecido como Fazenda Souza, em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha e se chama Vinha Solo, um 100% Cabernet Sauvignon da safra 2009. Antes de entrar na história vale uma curiosidade sobre o rótulo do vinho. Este traz estampado o gavião, uma ave presente em no bioma daquela região e que traz característica da casta Cabernet Sauvignon, que vem do termo francês “sauvage”.

Serra Gaúcha

Situada a nordeste do Rio Grande do Sul, a região da Serra Gaúcha é a grande estrela da vitivinicultura brasileira, destacando-se pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz. Para qualquer enófilo indo ao Rio Grande do Sul, é obrigatório visitar a Serra Gaúcha, especialmente Bento Gonçalves. 

Serra Gaúcha

A região da Serra Gaúcha está situada em latitude próxima das condições geoclimáticas ideais para o melhor desenvolvimento de vinhedos, mas as chuvas costumam ser excessivas exatamente na época que antecede a colheita, período crucial à maturação das uvas. Quando as chuvas são reduzidas, surgem ótimas safras, como nos anos 1999, 2002, 2004, 2005 e 2006.

A partir de 2007, com o aquecimento global, o clima da Serra Gaúcha se transformou, surgindo verões mais quentes e secos, com resultados ótimos para a vinicultura, mas terríveis para a agricultura. Desde 2005 o nível de qualidade dos vinhos tintos vem subindo continuamente, graças a esta mudança e também do salto de tecnologia de vinhedos implantado a partir do ano 2000.

O Vale dos Vinhedos, importante região que fica situada na Serra Gaúcha, junto à cidade de Bento Gonçalves, caracteriza-se pela presença de descendentes de imigrantes italianos, pioneiros da vinicultura brasileira. Nessa região as temperaturas médias criam condições para uma vinicultura fina voltada para a qualidade. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale.

O Vale dos Vinhedos é a primeira região vinícola do Brasil a obter Indicação de Procedência de seus produtos, exibindo o Selo de Controle em vinhos e espumantes elaborados pelas vinícolas associadas. Criada em 1995, a partir da união de seis vinícolas, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), já surgiu com o propósito de alcançar uma Denominação de Origem. No entanto, era necessário seguir os passos da experiência, passando primeiro por uma Indicação de Procedência.

O pedido de reconhecimento geográfico encaminhado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 1998 foi alcançado somente em 2001. Neste período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (I.P.V.V.). O trabalho resultou no levantamento histórico, mapa geográfico e estudo da potencialidade do setor vitivinícola da região. Já existe uma DOC (Denominação de Origem Controlada) na região.

O Vale dos Vinhedos foi a primeira região entregue aos imigrantes italianos, a partir de 1875. Inicialmente desenvolveu-se ali uma agricultura de subsistência e produção de itens de consumo para o Rio Grande do Sul. Devido à tradição da região de origem das famílias imigrantes, o Vêneto, logo se iniciaram plantios de uvas para produção de vinho para consumo local. Até a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar.

Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, consequentemente, o preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros.

Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Atualmente, a Aprovale conta com 24 vinícolas associadas e 19 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, fabricantes de produtos artesanais, queijarias, entre outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2004 9,3 milhões de litros de vinhos finos e processaram 14,3 milhões de kg de uvas viníferas.

Fazenda Souza, Caxias do Sul

O primeiro nome dado à localidade onde hoje é Fazenda Souza foi Pouso Alto, utilizado bem antes da chegada de imigrantes o que comprova a exploração do local em data anterior a 1760, época do Brasil Colônia.

Nesta época muitos tropeiros passavam com seus cargueiros pelo local e costumeiramente instalavam-se na pousada de Inácio Souza Corrêa. Este, por sua vez, foi soldado da Guarda de Santo Antônio da Patrulha, conseguindo adquirir terras com suas economias e dedicando-se a criação de mulas. Anos depois, ao mudar-se para Uruguaiana, vendeu a colônia Pouso Alto a Inácio Ribeiro. Na venda das terras, realizada em 1º de setembro de 1790, a Colônia foi batizada de Fazenda Souza, assim chamada até hoje.

Fazenda Souza, Caxias do Sul, Serra Gaúcha

Os primeiros italianos se estabeleceram nestas terras no ano de 1880, vindos da cidade de Feltre, na Itália. Como a região era rica em matas de araucárias, a exploração de madeira expandiu-se, fazendo com que surgissem as primeiras serrarias. Por volta de 1895, como a localidade já estava desmatada, as famílias de imigrantes acabaram desenvolvendo a criação de gado para leite e corte.

Antigamente, assim como Criúva, Fazenda Souza pertencia à cidade de São Francisco de Paula. Hoje, é um distrito de Caxias do Sul e está localizado a 18 km da sede administrativa municipal. Sua principal referência é o Instituto Leonardo Murialdo, conhecido como o Seminário de Fazenda Souza, onde encontram-se os restos mortais do Padre João Schiavo.

Este sacerdote veio da Itália no ano de 1931 e estabeleceu-se no Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, trabalhou em diversas comunidades como as de Galópolis, Ana Rech e Fazenda Souza. Por meio de seus esforços foram fundados o Instituto Leonardo Murialdo e a Instituição Abrigo de Menores São José.

Sua economia se baseia nos hortifrutigranjeiros, com destaque para as culturas de maçã, pêssego, caqui e ameixa, além da apicultura e piscicultura. Porém vem se descobrindo na vitivinicultura, apesar de ser ainda embrionário, se destacando algumas vinícolas, como a própria Vinha Solo com os seus atuais 47 hectares.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi pouco brilhante e com tons acobreados, atijolados, denunciando os seus 13 anos de garrafa, com lágrimas grossas e lentas e em média intensidade.

No nariz é delicadamente aromático e impressiona que ainda os aromas terciários não estejam presentes, com as notas frutadas ainda sentidas, inclusive, notas de frutas vermelhas maduras, como morango e groselha, além de terra molhada, de folhas secas, de bosque, floresta e especiarias.

Na boca é elegante, redondo, equilibrado, o tempo lhe foi gentil, mas com complexidade, volume, diria, com um bom corpo, as frutas vermelhas maduras se apresentam como no aspecto olfativo corroborando a sua vivacidade e altivez, com curiosos toques de caramelo e chocolate, embora não passe por barricas de carvalho, com taninos aveludados e acidez média. Tem final longo e persistente.

Degustando os vinhos naturais da Vinha Solo, pude constatar, apenas com esse rótulo, o Vinha Solo Cabernet Sauvignon 2009, que com a mínima intervenção tem-se a máxima expressão do terroir, a concepção do vinho como ele é, nas características essenciais da variedade. E todo o conceito do Bioma local é sintetizado, inclusive em seu rótulo, em uma espécie de homenagem à biologia, a vida que, de forma latente, reina absoluta naquela região. Discussões oportunistas à parte em detrimento de segmentações, o resgate do conceito natural do vinho é só mais uma oportunidade para o enófilo degustar a poesia líquida em suas várias encarnações e nuances. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a Vinha Solo:

Dois amigos desejavam produzir vinhos naturais. A ideia amadureceu como um bom vinho. O arquiteto Milton Scola e o empresário Raimundo Demore escolheram uma preciosa área no norte de Caxias do Sul, no distrito de Fazenda Souza.

Ali implantaram 20 hectares de vinhedos com mudas trazidas da Itália aproveitando as peculiares características do solo de transição das encostas e dos campos de cima da Serra Gaúcha.

Então nasceu a Vinha Solo já com a missão de elaborar vinhos de altíssima qualidade com a mínima intervenção humana possível. Assim os vinhos são lapidados em seu estado natural mesclando a excelência dos frutos da vinha com as nuances de uma fermentação espontânea.

Os vinhos da Vinha Solo são a demonstração do terroir onde solo, clima, conhecimento e trabalho no manejo dos vinhedos são traduzidos em cada uma das garrafas.

A localidade de Fazenda Souza tem uma altitude que chega a 890 metros e onde os ventos são generosos. O solo de estrutura argiloarenosa mantém uma vegetação natural rasteira em equilíbrio com um regime de chuvas moderado, permitindo uma prática cultural da vinha com pouca intervenção.

Isso propicia que muitas espécies locais de animais como quero-queros, pardais, andorinhas, curicacas, lagartos entre outros vivam em harmonia formando uma bonita biodiversidade.

Mais informações acesse:

https://www.vinhasolo.com.br/



Referências: