quinta-feira, 11 de junho de 2020

Dicionário do Vinho


O universo do vinho é muito vasto, e torna-se cada vez mais interessante, conforme nos aprofundamos. Esperamos que esse glossário possa ajudá-lo na sua viagem por esse mundo. Mas a principal dica é: desconfie de qualquer um que achar que sabe tudo...

A

Acidez. Característica do vinho, que pode ter diferentes teores de acidez. Boa acidez deixa o vinho picante e revigorante. A acidez vem basicamente das uvas na forma dos ácidos tartárico e málico, mas também pode incluir o ácido lático.

Acidez volátil. Abreviado para AV, refere-se aos ácidos que ocorrem naturalmente nos vinhos devido à interação entre álcool e oxigênio, principalmente ácido acético (vinagre). Quando o nível de AV sobe de modo a se tornar detectável, como cheiro avinagrado ou de esmalte de unha, significa que o vinho se estragou.

Ácido lático. Ácido suave e amanteigado, também encontrado em laticínios, que é convertido a partir ácido málico durante a fermentação malolática dos vinhos.

Ácido málico. Ácido adstringente bastante presente nas maçãs, e também nas uvas viníferas.

Adega. Lugar adequado para o armazenamento de vinhos.

Adega natural. Adega (em geral subterrânea) cujas condições são naturalmente adequadas ao armazenamento do vinho.

Adstringência. Sensação de boca seca causada principalmente pelos taninos, em especial nos vinhos tintos.

Aerar / respirar. Expor o vinho ao ar por um período de tempo antes de beber, permitindo o desenvolvimento de seu buquê e aroma.

Albariño / Alvarinho. Variedade de uva branca da Galícia, na Espanha. Chamada de Alvarinho em Portugal.

Álcool. O álcool etílico é um subproduto natural do processo de fermentação, que ocorre quando as uvas entram em contato com as leveduras, convertendo o açúcar em álcool.

Aligoté. Variedade branca associada à Borgonha. Também é plantada no Leste Europeu.

Amarone. Vinho tinto emblemático da região de Valpolicella, na Itália, produzido com uvas parcialmente secas.

Amontillado. Jerez envelhecido, de coloração âmbar, com sabor encorpado que remete a nozes.
Antocianina. Pigmentos que estão logo abaixo das cascas da uva e que dão cor ao vinho. Estudos recentes têm mostrado que as antocianinas, juntamente com outras substâncias presentes naturalmente no vinho tinto, são muito saudáveis e podem prevenir algumas doenças.

Appellation. Nome ou região geográfica oficial de origem de um vinho. Parte do sistema de classificação dos vinho.

Appellation d’Origine Contrôlée (AOC). Frequentemente encurtado para AC, significa Denominação de Origem Controlada. Sistema francês de classificação, que procura criar padrões de qualidade por região. Especifica as variedades de uva que podem ser cultivadas em cada região, e outras normas específicas.

Aroma. Fragrância do vinho, expressa por termos descritivos que fazem referência a outros cheiros.
Assemblage. Criação de um vinho a partir de lotes de diferentes cepas, safras, vinhedos, barris ou tanques.

Asti Spumante. Vinho espumante à base de Moscatel, produzido em Asti, Norte da Itália.
Ataque. Um termo de degustação, talvez não tão usual, que se refere ao sabor inicial do vinho quando ele atinge o paladar.

Auslese. Termo alemão para vinho produzido com uvas muito maduras.

Autólise. O que acontece quando o vinho envelhece com as borras, ou células mortas de levedura, que permanecem no barril, tanque ou garrafa depois da fermentação.

Auxerrois. Em Bordeaux, Auxerrois é sinônimo para Malbec ou Côt. Na Alsácia, Auxerrois refere-se a uma variedade branca.

AVA. American Viticultural Area. Região viticultora reconhecida pelo governo dos EUA.

  
B

Banyuls. Vinho de sobremesa francês produzido nos arredores da vila de Banyuls, próxima da costa do Mediterrâneo.

Barbera. Variedade italiana de uva vermelha, a mais plantada do Piemonte.

Barril. Recipiente tradicional de madeira, quase sempre carvalho, usado para armazenar vinhos. O tamanho típico tem capacidade para 225 litros.

Barrique. Termo francês para barril de carvalho com cerca de 225 litros.

Bâtonnage. Essa prática mantém as células mortas de leveduras em um barril ou tanque em contato com o vinho à medida que este envelhece, a fim de evitar a oxidação e acrescentar-lhe sabor e textura.

Bianco. Termo italiano para branco, ou vinho branco.

Biodinâmica. Método de agricultura que busca um maior equilíbrio da natureza. Relacionado ao orgânico que limita o uso de fertilizantes e pesticidas químicos, e dando atenção especial aos ciclos naturais, inclusive às fases da Lua.

Blanc de Blancs. Vinho branco, geralmente espumante, produzido exclusivamente com variedades de uvas brancas.

Blend. Técnica de vinicultura que envolve a combinação de lotes separados de vinho, de diferentes cepas, safras, ou vinhedos, em uma mistura final a ser comercializada.

Blush wine. Termo em inglês para rosé.

Bocoy. Barril ou barrica de madeira (650 litros) usado principalmente na região de Jerez, na Espanha.
Bodega. Termo em espanhol para vinícola ou adega.

Bonarda. Nome dado a uma uva exótica de grande projeção na Argentina, e de origem duvidosa, talvez piemontesa, talvez francesa.

Borra. Sedimento constituído de células mortas de levedura, hastes de uvas, polpa e sementes. Desce para o fundo do tonel ou barril após a fermentação. As borras grosseiras são filtradas.

Botrítis. Forma danosa de fungo, também conhecida como podridão cinza, que pode provocar perdas na colheita. Mas quando afeta os cachos maduros de certas uvas destinadas a vinhos de sobremesa, ganha o nome de podridão nobre. Nome completo: Botrytis cinerea.

Bouchonné. Termo em francês usado para descrever um vinho estragado pelos odores desagradáveis de mofo de Tricloroanisole, também conhecido como TCA, uma substância química que pode infectar rolhas, barris de madeira ou papelão.

Brut. Estilo seco de espumante, padrão na maioria dos países ocidentais.

Brut Nature. Estilo muito seco de espumante sem qualquer adição de açúcar.
Buquê. Termo que descreve o cheiro de um vinho maduro.

C

Cabernet Franc. Variedade de uva vermelha popular em Bordeaux, e onde quer que sejam produzidos blends ao estilo bordalês.

Canaiolo. Variedade de uva vermelha popular na Toscana, nos Marches e na Sardenha.

Capa. Camada de cascas de uva no topo de um recipiente com mosto de uva durante a fermentação.

Carignan. Variedade vermelha comum na Espanha e no Sul da França. Cariñena na Espanha, Carignano na Itália e Carignane na Califórnia.

Carmenère. Uva tinta nativa de Bordeaux, mas atualmente emblemática da vinicultura chilena.

Carvalho novo. Qualquer forma de envase de carvalho utilizada pela primeira vez, quando o carvalho fornece sabor mais potente, e mais taninos.

Carvalho. Tipo de madeira preferida pelos vinicultores ao redor do mundo para envelhecer vinhos, conferindo sabores e texturas. Pode ser usado na forma de barris ou pelo contato do vinho com de pedaços, pó, varetas ou blocos de carvalho.

Cask. Recipiente, geralmente de madeira, maior do que o barril comum de 225 litros. Na Austrália, o termo também pode fazer referência a uma caixa de vinho.

Cava. Espumante tradicionalmente espanhol, originário da Catalunha.

Cave. Palavra francesa para adega subterrânea. Nome dado também às adegas refrigeradas com temperatura controlada que conservam os vinhos sob condições ideais.

Cépage. Termo francês para variedade de uva.

Chai. Lugar de armazenagem de vinhos.

Chambré. Palavra francesa que significa “temperatura ambiente”. Usada para descrever a temperatura ideal para servir o vinho tinto, o que pode ser enganoso, pois as temperaturas ambientes variam muito.

Charmat. Método para a produção de espumantes onde a segunda fermentação acontece em um tanque selado, e não nas garrafas, como no tradicional Método Champenoise.

Chasselas. Variedade de uva branca intimamente relacionada à Suíça, mas também plantada em regiões da França, da Alemanha, da Itália e outros países.

Château. Castelo ou palacete, em francês. Nome usado para designar muitas propriedades produtoras de vinho na França. Pode ser reservado para rotular apenas os vinhos de maior qualidade dessas propriedades.

Chato (ou fechado). Vinhos que parecem não ter nenhum aroma. Indica um vinho demasiadamente jovem ou um vinho servido muito frio.

Chef de cave. Termo em francês para o profissional encarregado da vinicultura.

Cinsault. Variedade de uva vermelha muito cultivada no Sul da França.

Claret. Palavra inglesa que designa o Bordeaux tinto seco (clarete). Anteriormente era amplamente usada nos rótulos de praticamente qualquer estilo de vinho tinto nos Estados Unidos e em todo o Novo Mundo.

Clarificação. Processo de purificação do vinho, no qual um agente filtrante como gelatina, bentonita, derivados do leite e algumas vezes claras de ovo são adicionados ao vinho nos tanques ou barris.

Classificação. Sistema de classificação de vinhos de acordo com a qualidade. Há sistemas diferentes para diferentes países produtores.

Climat. Termo borgonhês para vinhedos específicos ou subdivisões de vinhedos.

Clos. Termo em francês para vinhedo murado ou cercado.

Colar. O anel de bolhas que se forma nas bordas de um vinho espumante.

Colheita tardia. Colheita no final da estação de cultivo, em um período posterior ao do que seria ideal para os vinhos secos, produzindo vinhos com maior teor alcoólico ou mais doces.

Colheita verde. Quando um viticultor remove cachos de uvas verdes das vinhas durante o período de crescimento, para reduzir a produção e melhorar a qualidade dos cachos remanescentes.

Colmeia. Prateleira para vinhos com nichos côncavos – feita de concreto ou de material de resistência semelhante.

Colombard. Variedade de uva branca comum na França, na Califórnia, na África do Sul e na Austrália.

Commune / comuna. Termo usado para descrever uma vila e suas cercanias em regiões vinícolas francesas.

Complacente. Termo de degustação para designar textura macia, mas forte.

Compostos aromáticos. Componentes do vinho percebidos pelo olfato e pelo paladar.

Cooperativa. Associação de viticultores com instalações de vinicultura.

Corpo. Termo usado na degustação para se referir à sensação de textura, peso e volume do vinho na boca.

Corpulento. Vinho com riqueza de corpo e textura.

Cortese. Variedade de uva branca de Gavi, na Itália.

Corvina. Variedade de uva preta italiana comum em Valpolicella e Bardolino.

Côte. Encosta, ou declive, em francês.

Crémant. Termo em francês para designar vinho espumante de outras áreas da França que não seja de Champanhe. Esse vinho é transformado em espumante pelo método tradicional de realizar uma segunda fermentação na garrafa.

Crianza. Termo em espanhol usado para indicar um vinho envelhecido por um determinado período.

Cru. Crescimento, em francês. Do ponto de vista enológico, o termo é usado para descrever um vinhedo, e não o crescimento das videiras.

Cru Bourgeois. Nível de qualidade usado para châteaux de Bordeaux, superado apenas por Cru Classé.

Cru Classé. Vinhedo francês oficialmente classificado pela qualidade continuada com o passar do tempo. Em Bordeaux, as propriedades Cru Classé são estratificadas de premier cru a cinquième cru.

Cultivo de alta densidade. Prática em voga mas não cientificamente provada de plantar vinhas extremamente próximas umas das outras para aumentar a qualidade em virtude da decorrente limitação de produtividade por parreira.

Cultivo seco. Vinhedos cultivados sem irrigação.

Cuvée. “Cuve” significa tanque em francês. O vinho produzido em tanques é um cuvée.

D

Decantar. Separar o vinho da borra por decantação. Decantar significa despejar o vinho da garrafa em outro recipiente, chamado decanter.

Decanter. Recipiente no qual os vinhos são decantados antes de serem servidos.

Demi-muid. Barril com capacidade para cerca de 600 litros.

Demi-sec. Francês para “meiosseco”. Vinho com gosto adocicado.

Denominação de origem. Sistema que reconhece os vinhos por nomes geográficos, de onde as uvas foram cultivadas e vinificadas. As denominações de origem da maioria dos países produtores de vinhos são reguladas por lei.

Declaração de safra. Em regiões onde não são produzidos vinhos de uma única safra todos os anos, declara-se a safra em anos excepcionais.

Degustação às cegas. Identificação de um vinho desconhecido, em termos de variedade de uva, região e safra – pela visão, olfato e paladar.

Degustação comparativa. Degustação de diferentes exemplares do mesmo estilo de vinho.

Degustação horizontal. Degustação de vinhos diferentes da mesma safra.

Degustação vertical. Degustação de um mesmo vinho de diferentes safras.

Desclassificar. Nas vinícolas, separar um lote de vinhos como de qualidade inferior.

Desengaçar. Separação das uvas do engaço (cacho) para prepará-las para a fermentação.

Dolcetto. Variedade de uva vermelha no Noroeste da Itália.

Domaine. Propriedade com vinhedos próprios, seja de propriedade de pessoas físicas ou jurídicas.

Dornfelder. Variedade de uva vermelha alemã.

Dosagem. Processo que acrescenta um pouco de doçura e sabor a espumantes com fermentação na garrafa pouco depois da limpeza e antes do arrolhamento.

Doux. Doce. Termo usado para vinhos tranquilos e espumantes.

E

Efervescência. Leve carbonação que é normal e agradável em determinados vinhos, principalmente os brancos bastante jovens e recém-lançados. No caso dos tintos, pode ser sinal de má qualidade.

Eiswein. Também conhecido como Icewine. Vinho doce produzido com uvas parcialmente congeladas nas videiras.

Elbing. Variedade branca tradicional cultivada na Alemanha e em Luxemburgo.

Elegante. Termo da degustação para vinhos equilibrados, leves e de alta qualidade.

Encorpado. Vinho potente, com maior concentração de compostos.

En primeur (também conhecido como “futuros”). Refere-se à compra de vinhos muito procurados antes de serem engarrafados – no mínimo um ano antes da data esperada para venda.

Enérgico. Termo de degustação de vinhos com caráter positivo, que significa acidez vívida.

Enjoativo. Termo usado para descrever vinhos doces demais.

Enologia. Ciência do vinho.

Enólogo. Cientista de vinhos ou vinicultor qualificado.

Enoteca. Frequentemente traduzido como “biblioteca de vinhos”, este termo italiano costuma ser usado para descrever lojas de vinhos.

Envelhecimento em barril. Período que o vinho passa em barris de carvalho depois da fermentação.

Envelhecimento. O vinho é envelhecido em barris ou tanques na vinícola e nas garrafas, depois que está pronto para comercialização. Muitos vinhos evoluem com o tempo na garrafa, ficando mais macios e complexos.

Enxertia. As parreiras, assim como as árvores frutíferas e as roseiras, adaptam-se prontamente ao enxerto de variedades frutíferas no caule de espécies ou variedades diferentes. Isso é necessário em vinhedos da espécie Vitis vinifera em áreas onde o parasita filoxera esteja presente no solo, já que parreiras de vinifera sem enxertia são vulneráveis a essa praga.

Equilíbrio, equilibrado. Vinho no qual sabores, acidez, taninos e corpo realçam uns aos outros.

Ereben. Termo usado para os vinhos de mais alto nível de qualidade de áreas específicas da região alemã de Rheingau.

Erzeugerabfüllung. Termo alemão que significa “engarrafado pelo produtor”.

Espinha dorsal. Expressão que descreve a estrutura do paladar de um vinho. Os componentes que conferem ao vinho sua espinha dorsal são o tanino e a acidez.

Espremedura. Equivale a espremer ou romper as cascas das uvas logo depois da colheita para liberar o sumo das cascas antes da fermentação.

Estabilização. O vinho é estabilizado após a fermentação, evitando que ela continue, e só depois é engarrafado.

Estate-bottled. Termo em inglês que descreve vinhos engarrafados pelo proprietário dos vinhedos onde as uvas foram cultivadas.

Extra-Brut. Espumante bastante seco, produzido com apenas uma pitada de doçura na dosagem.
Extrato. Componentes de sabor, cor e textura de um vinho, derivados das cascas e extraídos durante o processo de fermentação.

F

Fattoria. Palavra italiana comumente usada para descrever uma vinícola.

Fenóis. Substâncias presentes nas uvas, principalmente nas hastes, cascas e sementes que conferem sabor, cor e taninos aos vinhos.

Fermentação. Processo natural conduzido pelas células de levedura, que consome o açúcar do sumo das uvas e produz álcool e gás carbônico como subprodutos.

Fermentação em barril. Processo de fermentar vinhos em barris para aprofundar a textura.

Fermentação maloláctica: Processo utilizado na produção de vinhos em que o ácido málico é transformado em ácido lático, bem mais fraco, permitindo melhor equilíbrio do vinho, com menor acidez geral, textura mais suave e final mais prolongado.

Fermento. Fungo que consome o açúcar das uvas e produz álcool e gás carbônico. O líquido resultante é o vinho.

Filtragem. A maioria dos vinhos é filtrada antes do engarrafamento para remover micro-organismos e purificar. Alguns vinicultores evitam a filtragem para produzir o que acreditam ser vinhos mais naturais.

Final. Retrogosto. Em termos gerais, quanto mais longo o final, melhor o vinho.

Fino. Um estilo de Jerez seco e com sabores encorpados que é envelhecido sob uma camada de levedura flor.

Flor. Uma camada de levedura que se forma na superfície do Jerez e protege o vinho do oxigênio.

Flute. Taça alta e estreita ideal para espumantes.

Foudre. Termo em francês para um grande barril de carvalho.

Fortificado. Vinho ao qual foi adicionada aguardente vínica para evitar o prosseguimento da fermentação, como o Madeira, o Marsala, o Jerez e o Porto.

Frizzante. Vinho ligeiramente espumante da Itália.

Frühburgunder. Variedade de uva vermelha alemã; mutação da Pinot Noir.

Frutado. Descrição positiva para a maioria dos vinhos, onde o caráter da fruta fica evidente.

Fût. Tipo de barril usado na Borgonha.

G

Garagista. Originalmente um termo francês para o produtor de vinho que produz pequenas quantidades nas suas garagens em Bordeaux. Jean-Luc Thunevin foi o 1º garagista em St. Emilion, Bordeaux, pegando o mundo de surpresa ao produzir vinhos fantásticos sob o rótulo Valandraud. A primeira safra foi em 1991, e em 1996 os preços alcançaram valores mais altos do que os principais vinhos Premier Grand Cru Classé dessa região. O mercado para esses vinhos deflacionou, mas Thunevin estava tentando conseguir que seus vinhos fossem reconhecidos formalmente em 2006, quando St. Emilion reclassificaria seus vinhos – um evento que acontece a cada dez anos. Hoje, muitos pequenos produtores em todo o mundo comercializam seus produtos como garagistas.

Garganega. Principal variedade de uva usada nos vinhos Soave da região italiana do Vêneto.

Glicerol. Líquido viscoso que se forma em pequenas quantidades durante a fermentação do vinho e acrescenta sensações de doçura e riqueza que podem ter concentrações consideráveis. Mesmo que glicerina.

Gordo, farto. Descreve um vinho cuja doçura e/ou corpo sobrepuja a acidez e os taninos.

Gosto de carvalho. Refere-se ao vinho envelhecido em barris de carvalho.

Grand Cru. Expressão francesa para “grande vinhedo”, ou “excelente cultivo”. É usado para os grandes vinhedos da Borgonha e da Alsácia. O termo é usado de forma diferente em St-Emilion (Bordeaux) e em Champagne. A designação Grand Cru indica um potencial de qualidade excelente para os vinhos produzidos a partir desses vinhedos. Na Borgonha e na Alsácia a classificação Grand Cru é superior a Premier Cru. Em St-Emilion, 53 propriedades são classificadas como Grand Crus, enquanto outras 13 são Premier Grand Crus (ou “primeiros grandes vinhedos”).

Gran Reserva. Termo em espanhol para vinhos de guarda.

Grand Vin. “Grande vinho” em francês. Termo usado para indicar o vinho de melhor qualidade de uma vinícola.

Grande. Termo que faz referência a vinho com alto teor alcoólico, textura áspera ou tânica e sabores robustos.

Grosses Gewächs. Vinho premier cru alemão de qualidade ao menos Spätlese, de um único vinhedo ou propriedade.

Grosslage. “Vinhedo grande” em alemão. Geralmente faz referência a uma reunião de pequenos vinhedos vizinhos.

Guardar. Armazenar garrafas de vinho na adega para envelhecer. Somente determinados vinhos são adequados para tal a guarda.

H

Halbtrocken. “Semisseco” em alemão. Indica um vinho com relativamente pouco açúcar e o bastante de equilíbrio proporcionado pela acidez para que tenha sabor seco.

Harmonioso. Semelhante a “equilibrado”. Termo que faz referência a um vinho no qual todas as partes combinem bem.

Haut. “Alto”, em francês. Pode fazer referência tanto à localização física quanto à qualidade de um vinhedo.

Hectolitro. Abreviado para hl. Unidade correspondente a 100 litros.

Herbáceo. Refere-se a sabores de ervas no vinho.

Híbrido. Tipo de parreira resultante do cruzamento de duas espécies diferentes de videira. Um cruzamento verdadeiro ocorre quando uma planta é criada a partir de duas videiras da mesma espécie.

I

Icewine. Vinho doce produzido com uvas parcialmente congeladas nas videiras.

IGP. Indicaction Géographique Protegée. Interpretação francesa das novas leis de rotulação da UE que acabarão gradualmente com as classificações Vin de Pays e VDQs nos próximos anos.

Insosso. Termo usado em degustação que significa que o vinho é apagado devido à falta de acidez, relativa à intensidade da fruta.

J

Jéroboam. Tamanho de garrafa. Para o Bordeaux, seis vezes o tamanho normal da garrafa de vinho; para o Champagne, quatro vezes o tamanho padrão.

Johannisberg Riesling. Termo algumas vezes usado na Califórnia para distinguir a uva Riesling alemã da outrora popular Grey Riesling.

K

Kabinett. Termo alemão que indica um nível de maturidade imediatamente abaixo de Spätlese. Os vinhos Kabinett são leves e podem ser ligeiramente doces, demi-sec ou secos.

Keller. “Adega” em alemão, geralmente usado como sinônimo de vinícola.

L

Labrusca. As videiras Vitis labrusca são nativas do Norte e do Leste da América do Norte e produzem vinhos frutados e almiscarados.

Lagar. Gamela grande ou tanque com laterais baixas usado em Portugal para a fermentação de vinhos, tradicionalmente depois da pisa das uvas. Também usado como sinônimo de instalações de produção vinícola.

Lágrimas ou pernas. Filetes formados pelo álcool que se formam nas partes internas de uma taça umedecida com vinho.

Lambrusco. Tipo de frisante italiano que pode ser seco ou doce.

Landwein. Classificação austríaca e alemã para vinhos de mesa secos ou quase secos com mais corpo do que os vinhos comuns.

Late Bottled Vintage. Vinho do Porto produzido com uvas da mesma safra, envelhecido em barris e comercializados de quatro a seis anos depois da safra. Abreviado como LBV.

Lei Seca. Período de 1920 a 1933 quando a produção e comercialização de bebidas alcoólicas foram proibidas nos Estados Unidos.

Lemberger. Variedade de uva tinta de Württemberg, Alemanha. Chamada de Blaufränkisch na Áustria e de Kékfrankos na Hungria.

Leveduras naturais (ou indígenas). Tipo de levedura que preexiste em um vinhedo ou ambiente vinícola e que agirá sobre o mosto das uvas sem a ajuda do vinicultor.

Leveduras. Organismos unicelulares microscópicos que convertem o açúcar no mosto em álcool etílico e liberam dióxido de carbono no processo.

Liebfraumilch. Termo que significa “leite materno”, utilizado para vinhos baratos e doces exportados da Alemanha, muitas vezes elaborados com Müller-Thurgau.

Lieu-dit. “Nome do local”, usado na Borgonha, Alsácia e outras regiões da França para vinhedos tradicionais sem a condição oficial de denominação de origem. Climat é um sinônimo borgonhês.

Ligeiro. Vinho atraentemente ácido e saboroso.

Limpeza. Etapa do processo de produção de espumantes fermentados na garrafa. Consiste na remoção das células mortas de levedura (borra) da garrafa, onde acontece a segunda fermentação, de modo que o vinho fique limpo e sem sedimentos.

Liquoreux. Licoroso, em francês.

Liquoroso. Vinho fortificado, em italiano.

Lodge. Termo inglês para uma vinícola da região do Porto, em Portugal, onde os vinhos do Porto são mesclados, envelhecidos e engarrafados.

M

Macabeo. Variedade de uva branca plantada na Espanha, especialmente em Rioja e na região de Penedès (onde é mesclada com a Xarel-lo e a Parellada para formar o vinho-base do Cava). Também é encontrada no Sul da França. Sinônimos: Viura e Macabeu.

Maceração. Prática de esmagar (macerar) as cascas de uva no sumo ou no vinho antes, durante ou depois da fermentação, a fim de permitir que mais compostos de coloração e sabor saiam das cascas para o sumo, e, por fim, para o vinho.

Maceração pré-fermentativa. Quando o sumo da uva não fermentado permanece misturado com as cascas depois da maceração.

Magnum. Tamanho de garrafa. Duas vezes o tamanho padrão.

Malvasia. Família de variedades mediterrâneas de uva branca caracterizadas por um perfume distinto.

Manzanilla. Estilo tipicamente leve e seco de Jerez, produzido na cidade de Sanlúcar de Barrameda.

Marsala. Vinho italiano fortificado produzido na Sicília.

Marsanne. Variedade de uva branca vinífera do Rhône.

Master of Wine (MW). Certificação internacionalmente reconhecida pela indústria do vinho como sendo a maior que se pode adquirir e muito difícil de conquistar. Em 2006, havia somente 251 Master of Wines no mundo.

Mataró. Nome dado, em Portugal, para a cepa Mourvèdre.

Maturidade. Quando um vinho desenvolveu-se até atingir um equilíbrio perfeito. Os vinhos amadurecem em diferentes velocidades, conforme as condições de armazenagem. Dizer que um vinho está “maduro” é subjetivo.

Melon de Bourgogne. Variedade de uva branca usada principalmente no Loire para produzir Muscadet.

Meritage. Combinação entre as palavras “mérito” (merit) e “herança” (heritage), essa palavra é utilizada em vinhos americanos produzidos a partir de uvas clássicas de Bordeaux.

Méthode Champenoise. Método desenvolvido na região francesa de Champanhe para produzir vinhos espumantes. Por esse método, ocorre uma segunda fermentação na garrafa, que produz gás carbônico, tornando o vinho espumante. Também conhecido como Método Tradicional ou Clássico.

Método clássico ou tradicional. O método tradicional recebe esse nome porque é a forma como os primeiros espumantes foram elaborados. Esse processo, muitas vezes denominado Champenoise, foi primeiramente criado na região de Champagne, na França, pelos monges cistercienses (a lenda diz que Dom Pérignon o inventou) e manteve- se praticamente inalterado até os nossos dias. Por esse método, as borbulhas do vinho são criadas graças a uma segunda fermentação em garrafa. Ou seja, primeiro fermenta-se o mosto para que ele seja transformado em vinho. Depois, já com o vinho engarrafado, ocorre uma segunda fermentação.

Método por transferência. Método de produzir espumantes no qual o vinho passa por uma segunda fermentação em garrafas individuais que são depois esvaziadas em um tanque sob pressão e misturadas antes do engarrafamento.

Microclima. Descreve as condições climáticas individuais de um vinhedo ou parte de um vinhedo.

Millésime. Grandes vinhos elaborados das melhores safras.

Mineralidade, gosto mineral. Termo para vinhos que vão além do simples sabor frutado.

Mise en bouteille au château. Expressão francesa presente nos rótulos das garrafas que significa que o vinho foi engarrafado no vinhedo ou château em que foi fabricado. Em geral significa que o viticultor e o engarrafador são a mesma empresa.

Mistura. Mistura de vinhos elaborada com diferentes variedades de uvas, vinhedos, regiões ou safras.

Moelleux. Termo francês que descreve um vinho suave, doce e com textura macia.

Monastrell. Nome dado, na Espanha, para a cepa Mourvèdre.

Mondeuse. Variedade de uva tinta de Savoia, França.

Monopole. Designa a região francesa vinícola onde todos os vinhedos pertencem a um só proprietário.

Moscato d’Asti. Espumante de baixa pressão, tipo frisante, feito a partir de uvas Moscatel, na cidade piemontesa de Asti, no norte da Itália, onde se produz também o Asti Spumante.

Moscato. Italiano para Muscat, Moscatel.

Mosto. Suco, ou sumo da uva antes de ser fermentado e transformado em vinho.

Mourvèdre. Variedade de uva tinta originária da Espanha, onde é conhecida como Monastrell.

Mousse, musse. A espuma em uma taça de espumante.

Movimentação por gravidade. Movimentação do vinho em uma vinícola sem o uso de bombas.

Müller-Thurgau. Variedade de uva branca alemã amplamente cultivada.

Muscadelle. Variedade de uva branca francesa comum em Bordeaux e em Bergerac.

Muscat. Família de uvas viníferas que produzem vinhos aromáticos, florais e geralmente doces, de todas as cores. O mesmo que Moscatel.

N

Nariz. Termo para o cheiro de um vinho.

Negociante. Palavra que vem do francês négociant e significa um comerciante de vinhos. Um negociante compra uvas (e fabrica vinho com elas) e/ou compra vinhos (para envelhecer e vender, sob sua própria marca). O oposto dele é o cultivador, que também pode fabricar vinhos de suas próprias uvas. Algumas empresas desempenham as duas funções.

Nouveau. “Novo”, em francês. Vinhos nouveau, como o Beaujolais Nouveau, são engarrafados, distribuídos e geralmente consumidos poucas semanas depois da colheita das uvas.
Novo Mundo. São os países produtores de vinho como os Estados Unidos, a Austrália, a África do Sul e o Chile.

O

Oloroso. Estilo de Jerez bastante exposto ao oxigênio durante a produção. Encorpado, com notas de castanhas.

Organicamente cultivado, ou de cultivo orgânico. Em um rótulo de vinho, o termo indica que as uvas foram cultivadas utilizando-se práticas orgânicas rígidas. Mas dessa forma, não indica que o vinho foi organicamente produzido.

Orgânico. Indica produção agrícola realizada sem o uso de herbicidas, pesticidas e fertilizantes sintéticos.

Oxidação. Processo pelo qual o oxigênio interage com o vinho e modifica sua composição.

Oxidado. Termo para o vinho estragado que sofreu de superexposição ao oxigênio.

 P

Palato. Refere-se à impressão geral que um vinho causa na boca, além de referir-se à área da boca.

Palo cortado. Tipo raro de Jerez, de estilo entre o Amontillado e o Oloroso.

Palomino. Variedade de uva branca usada especialmente para Jerez, mas também para vinhos de mesa.

Passetoutgrains Bourgogne. Vinho básico da Borgonha produzido com Pinot Noir e Gamay.

Passito. Em italiano, termo para vinho elaborado com uvas-passas.

Pays. Em francês, “país” ou “interior”.

PDO. Protected Designation of Origin (Denominação de Origem Protegida). Novo sistema de classificação da União Europeia para garantir a origem de vinhos e outros produtos.

Pedro Ximénez, PX. Uva cultivada principalmente na Espanha para elaborar vinhos brancos secos e de sobremesa densos. É também o nome de um Jerez feito com essa uva.

Perfume. Aroma ou cheiro do vinho.

Persistência. Duração do sabor e das sensações na boca após se ter tomado um gole de vinho. Indicador de qualidade.

Pesado. Vinho forte em termos de álcool ou doçura e sem equilíbrio o bastante proporcionado pela acidez.

Pétillant. Termo francês para vinho ligeiramente espumante.

Petit Verdot. Uma das cinco uvas tintas clássicas de Bordeaux.

Petit Sirah. Variedade de uva tinta mais comumente associada à Califórnia. Petite Sirah é o cruzamento da Syrah com a Peloursin.

Pétreo. Aroma que remete a aço raspado em rocha, uma característica atraente em alguns vinhos brancos.

PGI. Protected Geographical Indication (Indicação Geográfica Protegida). Novo sistema de classificação da União Europeia para garantir a origem de vinhos e outros produtos.

Phylloxera. Minúsculo parasita que come as raízes das videiras e destruiu os vinhedos europeus e californianos no final do século XIX, forçando modificações na viticultura que persistem até os dias de hoje.

Picpoul. Variedade de uva do Langedoc, na França, mais comum em vinhos brancos ligeiros.

Pigeage. Método tradicional de abaixamento do chapéu do mosto durante o processo de fermentação.

Pinot Blanc. A variação mais branca de uma família de uvas que inclui ainda a Pinot Noir e a Pinot Gris. Cultivada na Borgonha, Alsácia, Alemanha (onde se chama Weissburgunder), Itália (onde se chama Pinot Bianco), Europa Central, Leste Europeu e Novo Mundo.

Pinot Meunier. Variedade de uva tinta, uma das três variedades utilizadas no champanhe (sendo as outras Pinot Noir e Chardonnay).

Pinotage. Variedade de uva tinta da África do Sul, cruza entre a Pinot Noir e a Cinsault.

Pisa. A prática de macerar uvas com os pés, ainda bastante usada na produção de vinhos do Porto.
Podridão nobre. Quando as uvas brancas destinadas à produção de vinhos doces são afetadas por um fungo chamado Botrytis cinerea. Esse fungo desidrata as uvas e concentra seus açúcares. Quando o Botrytis cinerea afeta as uvas que não são destinadas à produção de vinho doce, a doença é menos favorável e recebe o nome de podridão cinza.

Porta-enxerto. Videira base sobre a qual uma variedade de uva vinífera preferencial é enxertada.

Porto. Vinho fortificado produzido em Portugal. As uvas são cultivadas no Vale do Douro, os vinhos são envelhecidos na cidade do Porto e arredores.

Porto Crusted. Vinho do Porto encorpado.

Portugieser. Variedade de uva tinta também conhecida como Blauer Portugieser, popular na Áustria, Alemanha e outras partes da Europa Central e Leste Europeu.

Prädikat. “Distinção”. Termo usado na Alemanha para identificar vinhos de diferentes níveis de qualidade baseado na maturidade das uvas.

Prädikatswein. Nível máximo de qualificação dos vinhos alemães.

Premier cru. Expressão francesa que significa “primeiro cultivo”. Na região de Bordeaux, refere-se ao mais alto posto em determinados sistemas de classificação que avaliam os melhores châteaux. Na Borgonha, é uma denominação para vinhedos selecionados cuja qualidade está apenas um grau abaixo do Grand Cru.

Prensadora. Máquina usada para espremer o sumo ou vinho das cascas de uvas.

Primeira prensagem. Sumo que escorre de forma natural das uvas depois que elas são retiradas dos cachos e/ou amassadas, mas antes da prensagem.

Primitivo. Variedade de uva tinta cultivada na Itália, descendente de uma antiga uva croata, assim como Zinfandel da Califórnia.

Prosecco. Variedade de uva branca da região de Vêneto, na Itália, mais conhecida pelos espumantes.

Punt. Repuxo no fundo de uma garrafa de vinho, que acrescenta força estrutural ao vidro.

Puro. Vinho fresco, bem produzido, e sem defeitos.

Q

QbA. Qualitätswein bestimmter Anbaugebiete. A categoria mais ampla para os vinhos de qualidade na Alemanha, indicando que as uvas provêm de uma das 13 denominações de origem superiores.

QmP. Qualitätswein mit Prädikat. Em alemão, “vinho de qualidade com distinção”. Baseia-se na quantidade de açúcar do mosto, com seis níveis: Kabinett (o mais leve), Spätlese, Auslese, Beerenauslese, Trockenbeerenauslese e Eiswein.

Qualitätswein. Termo alemão para vinhos de qualidade em um nível bastante amplo.

Quinta. Fazenda ou vinícola, em Portugal.

R

Raízes próprias. Videira que cresce sobre suas próprias raízes, sem enxertos.

Récoltant. Viticultores que produzem seu próprio vinho em vez de vender as uvas. Termo abreviado nos rótulos de champanhe para RM (récoltant-manipulant).

Redondo. Termo para um vinho de textura macia.

Redução. O oposto da oxidação ou do status químico de um vinho que não possui contato com o oxigênio durante a produção.

Refinamento. Descreve um vinho elegante e memorável.

Refosco. Família de variedades de uvas tintas da Eslovênia, Croácia e Nordeste da Itália.

Refrescante. Sensação de paladar que se refere frequentemente a um vinho jovem. Às vezes, os vinhateiros preferem envelhecer o vinho em tonéis de aço inoxidável e não em barris de carvalho, para preservar sua qualidade refrescante.

Reichsgraf. Termo que designa um nobre na Alemanha e é usado em diversos nomes de propriedades vinícolas.

Remontagem. Ato de bombear o sumo do fundo de um tanque de fermentação de vinho tinto e borrifá-lo sobre a capa de cascas de uva do topo (chamada de chapéu do mosto). Em francês, remontage.

Reserva. Termo em espanhol ou em português para descrever um vinho de qualidade excepcional, que foi envelhecido por determinado período mínimo.

Reserve. Pode significar um vinho com maior envelhecimento, mas o termo não possui nenhum significado legal.

Respiração. O que o vinho faz quando a garrafa é aberta e quando ele é servido em taças ou transferido para um decantador, entrando em contato com oxigênio.

Retrogosto. Sensação ou gosto que fica na boca após um gole de vinho. O retrogosto pode ser pouco notável ou persistente, dependendo da qualidade e da idade do vinho. Um retrogosto muito persistente pode ser uma indicação de que o vinho vai envelhecer bem.

Ribolla, Ribolla Gialla. Variedade de uva branca cultivada no Nordeste da Itália, na Eslovênia e na Grécia.

Ripasso. Técnica em que cascas de uvas parcialmente secas são retiradas dos tanques de fermentação e “repassadas” para outros tanques com vinho recém-fermentado a fim de conferir mais sabor e cor.

Riserva. Termo em italiano que indica um vinho que envelheceu mais tempo do que o normal.

Rolha. Pedaço roliço de cortiça usado para tampar garrafas.

Rosato. Vinho rosé, em italiano.

Rosé. Vinho tipicamente elaborado a partir de uvas tintas usando métodos de vinificação de vinhos brancos a fim de criar uma coloração vermelha clara, rosa ou âmbar, e sabores que se situam entre os dos vinhos brancos e os dos tintos.

Rosso. Tinto, em italiano.

Rouge. Tinto, em francês.

Roussane. Variedade de uva do Vale do Rhône.

Ruby port, porto Ruby. Nível básico do vinho do Porto.

S

Safra. Ano em que houve a colheita das uvas de determinado vinho.

Saint Laurent. Variedade de uva tinta, parente da Pinot Noir, e cultivada na Alsácia, Áustria, República Tcheca, Alemanha e outras regiões.

Sauvignon Gris. Variedade de uva branca parente da Sauvignon Blanc, com cascas de coloração semiescura ou rosada.

Savagnin. Variedade de uva desenvolvida na Alemanha cruzando Sylvaner e Riesling.

Schloss. Castelo, em alemão. Usado em nomes de vinhos da mesma maneira que em francês se usa château.

Seco, Sec, Secco. O oposto de vinho doce. Sem doçura. Vinhos secos passam por fermentação completa, a ponto de praticamente todo o açúcar das uvas ser convertido em álcool.

Sedimentos. Minúsculas partículas de vinho que se acomodam lentamente na solução ao longo do tempo e formam uma camada fina no fundo da garrafa.

Segundo vinho. Vinho de qualidade inferior ou produzido com uvas de videiras jovens, em uma propriedade conhecida por seus “grandes vinhos”. Esse termo é usado principalmente em Bordeaux, mas também é utilizado em outros locais.

Sekt. Vinho espumante, na Alemanha.

Seleção clonal. Prática de usar material genético favorável de uma videira em novas videiras ou vinhedos inteiros a partir de cortes dessa planta.

Sélection de Grains Nobles. Abreviado para SGN. Termo que se usa principalmente na Alsácia, França, para vinhos elaborados com uvas afetadas pelo Botrytis cinerea.

Sémillon. Variedade de uva branca de Bordeaux que produz vinhos secos e de sobremesa em todo o mundo.

Seyval Blanc. Variedade de uva branca híbrida francesa e americana comum no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Solera. Sistema de mesclagem e envelhecimento utilizado principalmente para Jerez e outros vinhos fortificados.

Sommelier. Palavra francesa para “garçom dos vinhos”. É o profissional responsável pelas bebidas do restaurante, montando a carta de vinhos e aconselhando os clientes na harmonização da refeição.

Spätburgunder. Pinot Noir em alemão.

Spätlese. “Colheita tardia” em alemão. Refere-se a vinhos de corpo médio, secos ou doces.

Spumante. Em italiano, espumantes com maior pressão do que os vinhos frizzantes.

Sulfitos. Conservante à base de dióxido de enxofre (SO2), também identificado pelo código INS 220.

Superior / superiore / supérieur. Adjetivos (em português, italiano e francês) adicionados a uma denominação. O termo pode significar uma área melhor, a área de origem ou simplesmente que o vinho tem um teor alcoólico mais elevado.

Superprodução. Vinhedo que produz uvas demais por videira, de modo que o teor de açúcar e os constituintes de sabor não se tornam concentrados o bastante para produzir vinhos da qualidade desejada.

Supertoscano. Termo que identifica uma categoria não oficial da Toscana, de vinhos excepcionais.

Sur lie. Refere-se a vinhos que envelhecem em contato com as células mortas de leveduras e outras partículas que ali continuaram após a fermentação.

Sylvaner. Variedade de uva branca cultivada principalmente na Alemanha e na Alsácia.

T
Tabelas de safra. Tabelas que mostram as classificações de determinados vinhos em uma série de safras. Podem ser úteis como referência quando se quiser comprar vinhos.

Tampa de rosca. Lacre metálico cada vez mais popular utilizado como alternativa ao uso de rolhas para fechar as garrafas de vinho.

Tanino. Substância natural encontrada em vinhos, que provém da casca, das sementes e das hastes das uvas, e também do carvalho dos barris. Está mais presente nos vinhos tintos.

Tanoaria. Empresa que produz barris de madeira.

Tawny port, porto Tawny. Estilo de Porto envelhecido por longos períodos em barris de carvalho antes do engarrafamento.

TCA. Abreviatura de 2,4,6- Tricloroanisole, que é uma substância química encontrada em produtos alimentares e líquidos. Quando contaminados com TCA, os vinhos apresentam um gosto de papelão úmido e mofo.

Tenuta. Em italiano, propriedade, designando uma propriedade dedicada à viticultura.

Terra rossa. “Terra vermelha”, em geral com alto teor de ferro, que é apreciada em locais como Itália, Espanha, Austrália e Califórnia.

Terroir (terreno). Termo francês que significa “solo”, e se refere às características peculiares de um vinhedo, como solo, clima, geografia e geologia, que influenciam os sabores das uvas e do vinho de um determinado local.

Terroso. Termo de degustação que significa aroma de terra úmida – atributo positivo para alguns tintos complexos.

Textura. Sensação do vinho na boca.

Tinto. Vinho elaborado a partir de uvas vermelhas (tintas).

Tokaji, Tokay. Vinho doce húngaro, produzido da região de Tokaj, e considerado entre os melhores do mundo.

Tonel. Grande recipiente para vinho que pode ter diferentes tamanhos e ser feito de aço inox, carvalho, concreto ou plástico.

Topo flangeado. Garrafa em cujo pescoço há uma aba para minimizar o pingamento ao servir.

Torrontés. Variedade de uva branca nativa da Argentina, que produz vinhos brancos aromáticos.

Tosta da barrica. O processo de tostar a madeira no interior de uma barrica de carvalho, que será usada para fermentar e maturar o vinho. Essa tosta é efetuada segundo as especificações do produtor e o grau de tostadura afeta o sabor e a estrutura do vinho. O carvalho levemente tostado transfere tanino da madeira para o vinho, mas pouca cor e pouco sabor. O carvalho intensamente tostado adiciona menos tanino, mais cor e sabor mais acentuado de especiarias, fumaça e muitas vezes café torrado.

Tostado. Cheiro ou sabor semelhante ao de pão torrado que pode derivar do envelhecimento em barris ou sur lie.

Touriga Franca. Variedade de uva vermelha amplamente cultivada no Vale do Douro, em Portugal.

Touriga Nacional. Variedade de uva tinta portuguesa bastante apreciada.

Traminer. Variedade de uva branca, parente da Gewürztraminer, que produz vinhos florais.

Tranquilo. Vinho sem efervescência ou borbulhas.

Trasfega. Técnica antiga de transferir o vinho de um recipiente para outro a fim de deixar para trás a borra, e, assim, clarificá-lo, e também para manter os barris e os tanques cheios para impedir que o oxigênio estrague o vinho. Pode ser feito por meios gravitacionais ou usando uma bomba.

Trebbiano. Variedade de uva branca mais cultivada na Itália. Também comum no Sudoeste da França, onde é chamada de Ugni Blanc.

Trocken. Em alemão, seco.

Turvo. Vinho com aparência opaca.

U

Ugni Blanc. Trebbiano.

Uva. Em vinicultura, conjunto de ingredientes naturalmente produzidos que inclui sumo adocicado, sementes, polpa e leveduras.

V

Variedade. Subespécie específica de uva.

Variedades de Bordeaux. Variedades usadas em vinhos na região de Bordeaux e por vinicultores de todos o mundo, que emulam esse estilo francês: Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Petit Verdot, Carmenère e Cabernet Franc, para os tintos; Sauvignon Blanc, Sémillon e Muscadelle, para os brancos.

Variedades nobres. Uvas que vêm sendo cultivadas há muitos anos, produzem alguns dos melhores vinhos da Europa, e foram plantadas com sucesso no Novo Mundo. Por exemplo: Riesling, Merlot, Pinot Noir, Syrah, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc e Chardonnay.

Varietal. Um vinho varietal é produzido a partir de uma única variedade de uva.

VDP. A associação dos principais produtores de vinhos da Alemanha.

Vendage Tardive. Em francês, colheita tardia.

Véraison. Período da fase de crescimento quando as uvas mudam de cor.

Verdelho. Variedade de uva comumente utilizada na produção do vinho do Porto e do Madeira.

Vericchio. Variedade de uva branca da Itália Central.

Vermentino. Variedade de uva branca italiana popular na Ligúria, Sardenha, Córsega e Sul da França.

Vidal Blanc. Variedade de uva híbrida encontrada no Nordeste dos Estados Unidos e no Canadá.

Videira não enxertada. Videira que cresce sobre suas próprias raízes, sem enxertos.

Vieilles vignes. Vinhas antigas, em francês.

Vigneron. Em francês, viticultor.

Vin. Vinho em francês.

Vin de pays. Expressão francesa aplicada à produção francesa de vinhos que significa “vinho regional” e denomina um vinho que não foi produzido conforme as regulamentações da Appellation Contrôlée. Fica acima do Vin de Table e abaixo do AOC. A classificação está sendo substituída por IGP.

Vin de Table. Vinho de Mesa, segundo a legislação francesa.

Vinho com gosto de rolha. Vinho defeituoso, contaminado pela rolha, que lhe passou sabores desagradáveis, que lembram papelão úmido. A contaminação é causada por um mofo presente em algumas rolhas, que pode afetar o vinho. Não deve ser confundido com pedaços de rolha no vinho.

Vinho de mesa. No Brasil, esse termo indica um vinho produzido a partir de uvas de mesa de variedades americanas, e não de uvas viníferas Vitis Vinifera. Não confundir com o francês Vin de Table, ou com o italiano Vino di Tavola.

Vinhos de primeira linha (blue chip). Os vinhos mais procurados, recomendados como investimento.

Vinho de sobremesa. Termo genérico para vinhos doces.

Vinho fortificado. Tipo de vinho ao qual são acrescentadas bebidas destiladas para aumentar o teor alcoólico. Isso geralmente é feito durante a fermentação para evitar que as leveduras completem o seu trabalho, retendo o açúcar natural das uvas no vinho. Porto e Jerez são alguns exemplos.

Vinho kosher. Vinho produzido de acordo as normas alimentares judaicas.

Vinho prensado. Vinho que flui da prensadora somente depois que a prensagem é realizada e que se mantém separado do sumo.

Vin Doux Naturel. Em francês, vinho naturalmente doce.

Vin Gris. Expressão francesa que designa um vinho rosé.

Vinhas antigas. Em francês, “vieilles vignes”. O termo em um rótulo indica que o vinho foi elaborado a partir de uvas cultivadas em vinhas completamente maduras.

Vinícola. Instalações físicas onde se produzem vinhos, ou às vezes a empresa legal que é responsável pela produção dos vinhos e documentação para efeitos legais e de tributação.

Vinicultor. Aquele cujo trabalho é ajudar as uvas e o sumo de uvas a se tornar vinho.

Vinicultor voador. Termo usado para descrever vinicultores que atuam como consultores em países ou continentes diferentes.

Vinicultura. Cultivo de uvas viníferas e cultivo de uvas.

Vinífera. A Vitis vinifera é a espécie tradicional de uva vinífera no Oriente Médio e depois na Europa que é utilizada na maioria dos vinhos de qualidade.

Vinificação. Processo de produção de vinhos, principalmente os passos que são executados nas instalações vinícolas para fermentar, amadurecer e preparar um vinho para a comercialização.

Vino da Tavola. Vinho de mesa, segundo a legislação italiana.

Vino de Mesa. Vinho de mesa, segundo a legislação espanhola.

Vintage. Ano em que as uvas de um determinado vinho foram colhidas, o mesmo que safra.

Vintage port. Porto de alta qualidade e digno de envelhecimento feito a partir de uma safra específica e que é engarrafado jovem. Também chamado de Porto Safrado.

Viognier. Variedade de uva branca do Vale do Rhône, na França, hoje amplamente distribuída.

Viticultura. A ciência, o processo e a arte do cultivo das uvas.

Vitis. Termo científico para o gênero das uvas viníferas.

Viura. Variedade também chamada de Macabeo.

W

Wein. Vinho, em alemão.

Weingut. Vinícola em alemão, onde o vinho é produzido a partir de uvas cultivadas da mesma propriedade.

Weinkellerei. Em alemão, adega que em geral compra e não cultiva uvas.

Weissburgunder. Pinot Blanc, em alemão.

X

Xerez. Vinho espanhol fortificado da região de Jerez produzido em diversos estilos. Pode ser chamado também de Sherry. Em espanhol, Jerez.

Xerez Cremoso. Jerez de cor âmbar, generosamente licoroso.

Z

Zinfandel. Variedade de uva tinta cultivada na Califórnia, descendente de uma antiga uva croata, assim como a italiana Primitivo.

Zinfandel branco. Estilo de rosé leve e ligeiramente adocicado feito com uvas Zinfandel, na Califórnia.











sábado, 6 de junho de 2020

Lote 1936 País 2018


É unânime que o Chile produz os melhores vinhos entre os países que compõe o Novo Mundo. Cepas oriundas de outros países tradicionais, como a França, por exemplo, encontraram no solo chileno a sua nova concepção, a sua nova identidade, ganhando relevância e fama, tais como a Cabernet Sauvignon, a rainha das uvas tintas, o Merlot, a Sauvignon Blanc, Chardonnay e a mais emblemática que abraçou o Chile como a sua nova pátria: a Carmènére. 

Vinhos reconhecidos, premiados e consumidos mundo afora. Se uma vinícola chilena não produzir vinhos com as referidas castas, não é uma vinícola do Chile! Mas há também aquelas castas esquecidas, quase que obscuras para muitos enófilos e que, ao longo do tempo, relegadas a uma condição de pouca reputação, caiu no ostracismo após anos e anos de sucesso e representatividade cultural. 

Uma dessas castas é a País, a casta emblemática do Chile dos primórdios, antes das famosas de hoje. Eu confesso que nunca degustei um chileno com essa casta. Ouvi falar, muito remotamente, de forma muito tímida, por alguns enólogos, produtores e críticos do vinho, talvez por se tratar de um tabu ou, como disse, falta de reputação, mas sempre tive aquela típica curiosidade e o ávido interesse em buscar novas experiências e prometi um dia que, caso surgisse a oportunidade de adquirir um rótulo dessa casta, eu compraria. E eis que surgiu o momento!

Mas como pouco conhecia não me deixei levar pela euforia e preferi, antes de sacramentar a minha aquisição, pesquisar um pouco sobre a casta e a história que a envolve no Chile o que foi um trampolim para a compra. Ao desarrolhar o vinho, fui arrebatado de uma forma tão surpreendente, um vinho de excelente custo x benefício. 

O vinho que degustei e gostei se chama Lote 1936, da já mencionada casta País (100%), da famosa e emblemática Região do Maule, da safra 2018. Contudo, como eu havia dito que, antes de comprar fizera uma pesquisa sobre a história da casta, preciso reproduzi-la textualmente, afinal, não é sempre que nós, brasileiros, podemos degustar rótulo com essa antiga cepa.

País

Em meados do século XVI uma uva chamada Listán Prieto vivia na Espanha e é levada ao México por missionários franciscanos que tinham como objetivo cultivá-la para produzir o vinho da missa. Lá, ficou conhecida como Misión. 

Depois de um tempo, viajou aos Estados Unidos, depois à Argentina, onde ficou conhecida como Criolla Chica, até que os jesuítas a levaram para o Chile. A princípio, também produzia o vinho da missa, até que ultrapassou as barreiras religiosas e foi desbravar o terroir chileno. 

Uva País

Somente no século XIX que a Criolla Chica ganhou o nome de País. Não se sabe ao certo o motivo, mas ela viveu tempos de rainha no Chile até que a Cabernet Sauvignon e a Carménère chegaram para pedir a coroa. E levaram. Ficou esquecida a um nível onde já nem se falava mais de sua existência. Algum boato, alguma memória aqui ou ali, nos terrenos mais remotos do Chile, mas nada que ainda a permitisse aparecer. 

Mas eis que surgiu um francês, nascido na Borgonha, instigado pela América do Sul. Louis-Antoine Luyt planejou uma viagem de férias que virou estadia permanente, mas para isso, precisava de um trabalho. À época, Louis estava no Chile e virou lavador de pratos em um restaurante local, onde começou a aprender sobre vinhos e conheceu ninguém menos que Hector Vergara: o sommelier mais renomado do país e o único Master of Wine da América do Sul naquele tempo. 

Louis-Antoine Luyt

Hector estava abrindo a Escola de Sommelier do Chile e Louis já estava entre os seus primeiros alunos. Sabe aquela história de que o conhecimento abre portas? Pois é. Abriu. Ainda bem. Inconformado com a hegemonia da Cabernet Sauvignon e da Carménère nos vinhos chilenos, o francês decidiu que iria explorar as castas e áreas de cultivo do país. Foi então que descobriu que algumas parcelas de outras uvas ainda existiam, mas estavam sendo vendidas ou utilizadas por camponeses para produzir vinho para consumo próprio. 

Decisão tomada. Louis-Antoine Luyt ia aprender a fazer vinho. Voltou para a França estudou viticultura e enologia em Beaune e, durante os estudos, fez amizade com Mathieu Lapierre, proprietário da renomada vinícola Villié-Morgon, onde teve a oportunidade de participar de cinco colheitas e ser introduzido ao vinho natural. Munido de conhecimento, sonho e coragem, Louis abriu uma vinícola no Chile e começou a explorar diferentes terroirs e cepas locais para produzir vinhos que seriam exportados, principalmente, à França. 

Mas em 2010, o desastroso terremoto resultou na perda de 90% do seu cultivo. Ele não desistiu. Comprou mais oito hectares de vinhas, entre elas, a País. Desde então, a cepa foi voltando aos palcos, retomando os holofotes e mostrando (novamente) toda a sua capacidade para produzir grandes vinhos. De muita textura e ótima acidez, a País origina vinhos rústicos, bastante gastronômicos e corpo médio.

Com o tempo, os taninos ficam tão elegantes e macios que parecem veludo. Em geral, a uva do país não recebe muito envelhecimento em madeira, pois os aromas dessa variedade são muito delicados e muita madeira pode interferir demais na tipicidade do vinho. Continuou sendo cultivada, principalmente por pequenas famílias agrícolas, até que, nas últimas décadas, alguns produtores começaram a apostar na sua volta ao mundo dos vinhos. 

A Região do Maule é considerada a maior produtora, por hectare, da País atualmente e muitas de suas vinhas, como em todo o Chile, que traz essa cepa, são antigas, com média de 70 a 100 anos de idade! Afinal, foram esquecidas por tanto tempo!

E finalmente o vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com reflexos violáceos brilhantes com lágrimas finas e em pouca intensidade, se dissipando, sumindo brevemente das paredes do copo.

No nariz traz um exuberante aroma de frutas vermelhas como morango, por exemplo, remetendo a um vinho fresco e jovem.

Na boca se reproduz as impressões olfativas, sendo leve e delicado com taninos finos, sedosos e uma boa acidez com final frutado e de longa persistência.

Um vinho honesto e muito bem feito, redondo, que preenche muito bem a boca, de leve, lembrando, inclusive, um Pinot Noir. Tem uma vocação gastronômica, podendo harmonizar com queijos curados e massas mais leves, sem tanto condimentos ou ser degustado sozinho de forma informal e despretensiosa. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Uma curiosidade do nome do rótulo, Lote 1936: corresponde ao ano em que os primeiros membros da família Guerra chegara as Terras do Maule, no Chile e as suas vinhas são bem antigas: com 70 anos, colhidas a mão e uma carga máxima de 4.000 quilos por hectare, o que é muito pouco, levando em consideração a quantidade de produção de nível industrial, sobretudo das grandes potências vinícolas instaladas no Chile.

Sobre a Chilean Wines Company (CWC):

A Chilean Wines Company é uma empresa de propriedade e operação familiar, localizada no coração do vale de Maule, no centro do Chile. A família Guerra plantou e desenvolveu 750 hectares de vinhedos em todo o vale do Maule. Nosso foco tem sido explorar e experimentar diferentes variedades baseadas nos vários microclimas do Vale, alcançando uma expressão autêntica de cada terroir. As origens do vinho do Chile começaram na região vinícola original de Maule Valley e hoje a região produz mais vinhos em todo o país. A herança vinícola do Chile começou aqui quando os primeiros colonos europeus chegaram ao país. Esses colonos escolheram a Maule por suas condições climáticas superiores e solo ideal para o cultivo de uvas para vinho, as mesmas condições que fornecem a base para a produção de uvas excepcionais e vinhos de classe mundial atualmente. Quando a família Guerra migrou para o Chile do norte da Itália em 1920, os seus ancestrais escolheram o Vale Maule com o objetivo de continuar nossas próprias tradições familiares de vinhos. Usando raízes de vinho cuidadosamente transportadas ao longo da longa jornada oceânica, a família plantou novas vinhas para continuar a herança de vinhos da família nesta nova terra. A longa experiência da família Guerra em trabalhar com os vários microclimas e terrenos em Maule Valley forneceu uma capacidade única de fornecer a expressão máxima das variedades com as quais a CWC trabalha. Atualmente, as marcas da Chilean Wines Company são exportadas para mais de 30 países ao redor do mundo.

Mais informações acesse:


Fonte sobre a casta País:





quinta-feira, 4 de junho de 2020

Arbo Marselan


Costumo dizer e defender a importância de cada enófilo, caso queira conhecer, enveredar o vasto e prazeroso mundo do vinho, a participar, pelo menos uma vez na vida, de um festival de degustação. A carga de informação transborda diante dos seus olhos e inundam os seus ouvidos, cabendo a você, é claro, absorver aquili que você julgar relevante e transformar em conhecimento, agregar conhecimento ao ritual da degustação. Quando estive, em 2017 em um evento no Rio de Janeiro chamado “Vinho na Vila”, foi uma experiência e tanto. Caso queira ler detalhes do evento, segue link: Festival Vinho na Vila 2017. Além de participar de um evento de degustação, conversar com outros enófilos, produtores e conhecer rótulos novos, castas e terroirs também novos, foi um festival inteiramente dedicado aos vinhos brasileiros. Ah como os vinhos brasileiros precisam de protagonismo! Trafegando pelo espaço onde o evento acontecia fui ao stand da Casa Perini, instalada na região gaúcha de Farroupilha, decidi me aproximar e conferir, afinal não conhecia seus rótulos. Degustei alguns e um me chamou a atenção: a linha Arbo da casta Marselan. Que casta é essa? Não sabia, então logo solicitei que enchesse a minha taça para degustar. E...

O vinho, produzido em Farroupilha, era muito bom! Me surpreendeu positivamente e o valor estava muito atrativo, em torno dos R$ 30,00! Logo o representante do produtor me informara que era a linha básica da vinícola, mas o vinho entregava mais do que valia, o preço era justo! Então comprei! Não levou muito tempo ocupando espaço na minha adega, então o desarrolhei! O vinho não era safrado, denunciando que era um vinho simples e de rápida degustação, estimulando-me, ainda mais, em bebê-lo. Mas antes de falar do vinho, vamos falar um pouco da casta Marselan, não muito popular por aqui em terras brasileiras.

Marselan

Casta de origem francesa Marselan é um cruzamento entre as uvas Cabernet Sauvignon e Grenache obtido por Paul Truel em 1961, em Montpellier, sul da França. O objetivo do cruzamento era obter uma uva com mais produtividade. O resultado foi uma uva de cachos grandes e pequenas bagas. Acabou sendo deixada de lado por não apresentar o rendimento esperado. Em 1990 foi inserida no registro oficial de variedades. O nome vem de Marseillan, uma comuna localizada na costa do Mediterrâneo, França. A primeira videira foi plantada em Penedès, na Espanha. Na França é plantada principalmente no Languedoc e no Sul do Rhône. Fora da França há Marselan na Califórnia (Estados Unidos), Argentina, Uruguai e Brasil. A China também resolveu apostar e há vinhedos próximo à Grande Muralha. O cruzamento entre as duas espécies francesas fez com que a Marselan adquirisse características próprias de cada uma das uvas. A acidez da Cabernet Sauvignon, por exemplo, combinada com a leveza e versatilidade da Grenache Noir, transformou a Marselan em uma uva exótica e especial. Tem coloração intensa e aromas que lembram frutas vermelhas frescas e cacau, a uva Marselan começou a ser comercializada no Brasil a partir de 2002 encontrando bom espaço, aos poucos e produzido excelentes vinhos.

O vinho:

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro com bordas violáceas, com poucas lágrimas e que se dissipam rapidamente.

No nariz tem aromas de frutas negras e um agradável toque floral.

Na boca é muito seco, com boa estrutura, mas macio, fácil de degustar, com uma acidez instigante, diria uma alta acidez para um tinto, taninos delicados e um final de média persistência, um retrogosto frutado.

Uma experiência agradável de uma casta diria que bem exótica, talvez até mesmo rústica, com um caráter indomável, a qual não recomendo para aqueles que estão adentrando o mundo do vinho. Inclusive alguns amigos já inveterados na degustação de vinhos mostraram certa rejeição pela Marselan, mas certamente eu degustaria outra vez, outros rótulos da casta. A “casta de laboratório” é “provocativa” e eu gosto de vinhos assim. 12% de teor alcoólico.

Sobre a Casa Perini:

Em 1876 chegava da Itália a família Perini com Giuseppe e Antônio Perini, mas somente em 1929 começaram a elaborar seus primeiros vinhos de forma artesanal no porão de sua casa, quando os fornecia para cerimônias festivas da comunidade local, no Vale Trentino, em Farroupilha. Quatro décadas após o patriarca iniciar sua modesta produção, seu filho viria a promover mudanças maiores. Em outubro de 1970 resolve ampliar os negócios da família, fundando a Casa Perini. Motivado e apaixonado por transformar a uva em vinho, buscam a cada ano aperfeiçoar a vinícola com equipamentos, tecnologia e equipe qualificada, pois sem uma equipe profissional a arte de elaborar vinhos perde criatividade e talento. Em 2005 a Família Perini adquire a unidade Bacardi Martini em Garibaldi agregando tecnologia ao seu processo produtivo através dos tanques “Vinimatics”, utilizados na maceração e fermentação dos vinhos tintos. Em 2010 a vinícola foi pioneira no setor ao implantar o sistema de rastreabilidade no qual é possível, através do número do lote, rastrear todo o caminho do vinho desde o vinhedo até a garrafa. O reconhecimento vem a cada prêmio alcançado e a cada consumidor satisfeito, o que se comprova com a conquista de mais de 200 medalhas nacionais e internacionais e, principalmente, com a recente premiação do Casa Perini Moscatel, eleito o 5° melhor vinho do mundo de 2017 pela WAWWJ (World Association of Writers & Journalists of Wines & Spirits).

Mais informações acesse:


Fonte para a história do Marselan:



Degustado em: 2017



terça-feira, 2 de junho de 2020

Festival Vinho na Vila 2017


No dia 20 de maio de 2017 eu participei de um dos melhores festivais de degustação que privilegia os vinhos brasileiros que esse país viu nesses últimos anos. É fato que, nesses últimos anos, o número de eventos de degustações de vinho tem aumentado, diria, significativamente. A oferta era baixa e hoje temos boas opções de eventos nos seus diversos formatos e opções de adesão. Mas é preciso, em minha opinião, democratizar esses eventos, para que os mesmos cheguem a todos os públicos, independentemente da classe social. Se quisermos democratizar é preciso baratear os ingressos que estão muito altos. Situações como essa só segmenta ainda mais um mercado que, por conta de problemas como esse (sim, é uma problema!), só a classe média alta participa.

Mas confesso que, além de ter me animado na época, de participar desse festival de degustação por ser direcionado aos rótulos brasileiros, o seu valor estava bem acessível ao bolso, fazendo valer a pena o investimento.

O Festival Vinho na Vila é projeto idealizado pela Larissa Fin em 2016 tendo a promoção de pequenas e médias vinícolas brasileiras e patrocinada pela IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho), com apoio institucional do “Vinhos do Brasil” e Governo do Estado do Rio Grande do Sul. É acompanhado de música, palestra, comida e degustação, acontecendo em várias cidades brasileiras. O evento tem como primordial objetivo oferecer ao público a oportunidade de conhecer e degustar alguns dos melhores vinhos e espumantes de produção nacional.

No ano de 2017 no Rio de Janeiro, foi realizado no Prédio Touring, na Praça Mauá, nos dias 19, 20 e 21 de maio. Durante os três dias de evento o Vinho na Vila contou com uma programação cultural especialmente pensada para a ocasião, incluindo palestras com temas relacionados ao secreto mundo dos vinhos, som ao vivo com apresentações de bandas de MPB, Jazz e Blues e atrações para os pequenos. Por sorte no dia que escolhi 20 de maio, em um sábado, chuvoso, mas que não me desestimulou nem um pouco, estava rolando um jazz e blues que embalou as ótimas degustações.

Entre as vinícolas confirmadas até o momento estão a Bueno Wines (Campanha - RS), Casa Perini (Vale dos Vinhedos - RS), Dal Pizzol (Vale dos Vinhedos - RS), Torcello (Vale dos vinhedos - RS), Pericó (Serra Catarinense - SC), Panizzon (Serra Gaúcha - RS), Aracuri (Serra Gaúcha - RS), Garibaldi (Serra Gaúcha - RS), Pizzato (Serra Gaúcha - RS), Don Giovanni (Serra Gaúcha - RS), Monte Paschoal (Serra Gaúcha - RS), Gallon Sucos, exclusiva de sucos de uva (Serra Gaúcha - RS), Rio Sol (Pernambuco - PE), Maximo Boschi (Bento Gonçalves - RS), Giaretta (Guaporé - RS), Vinhos Batalha (Campanha - RS), Maria Maria (MG) e Velho Amâncio (Santa Maria - RS).

As degustações

Iniciei as minhas degustações no evento com a excelente Vinícola Torcello, que já conhecia de outras ocasiões, de outros eventos e tive o prazer de reencontrar seus rótulos no Vinho na Vila. A Vinícola Torcello foi fundada no ano de 2000 por Rogério Carlos Valduga, quarta geração da Família Valduga, e filho de Remy Valduga (viticultor, escritor e bisneto de Marco). A Torcello surgiu do fascínio de Rogério pela vitivinicultura e pelo seu desejo de resgatar a tradição da família, a qual elaborava vinho de maneira totalmente artesanal no próprio porão de casa para consumo próprio.

O primeiro a ser degustado foi o Torcello Tannat, que já havia degustado em um evento anterior, mas, claro, não poderia deixar de lado e degustei de novo, o da safra 2014. Continua maravilhoso: Aromas de frutas negras e vermelhas, toque agradável de especiarias, taninos firmes e presentes e boa acidez. Um belo e estruturado Tannat.


Logo em seguida veio o Torcello Merlot da safra 2015. Esse foi uma novidade para mim, muita fruta, um vinho fresco, com bom volume de boca, jovem, aromas de frutas vermelhas em compota. Excelente Merlot brasileiro com muita tipicidade!


Fechei, em grande estilo, com o Torcello Cabernet Sauvignon, também da safra 2015. Arrebatador! Encorpado, frutas negras, um toque, muito bem integrado da madeira, taninos gordos e presentes. Um vinhaço! Esse eu não deixei passar, levei para casa uma garrafa!


E como não pode faltar a degustações de espumantes, avistei ao longe o stand da vinícola Velho Amâncio e estava tão movimentada que decidi conferir. A história da Velho Amâncio começa há mais de 100 anos, ainda no século XIX, quando Amâncio Pires de Arruda, de origem portuguesa, chegou em Santa Maria e por aqui resolveu se estabelecer, nas terras onde ainda hoje encontram-se os vinhedos e a vinícola. Os anos passaram, a cidade cresceu, Itaara tornou-se município e seu neto, Rubens Fogaça, no ano de 1986 iniciou a produção de vinhos no vale onde Amâncio Pires de Arruda havia se estabelecido com a família. Em 1999, a vinícola passa por uma modernização, os vinhedos varietais foram implantados e a qualidade aumentou. Atualmente, a vinícola produz vinhos finos e espumantes em pequena escala e possui vinhedos de uvas finas, conduzidos em espaldeira.

Comecei com o Vivelam Rosé. Apesar de ser um demi-sec, que não me agrada muito, me surpreendeu positivamente, não tendo aquele doce enjoativo, sendo até muito agradável em boca, aromas de frutas, leve e refrescante. Os espumantes dessa linha ão elaborados utilizando o método tradicional de fermentação na garrafa (Champenoise).


Depois, com o atendimento muito simpático e atencioso, dos herdeiros da vinícola, ele me indicou o brut, depois que falei que era fã dessa proposta de espumantes. Esse também foi arrebatador e, como o Torcello Cabernet Sauvignon, não pude deixar de levar. Ótima acidez, leve, fresco, com certa untuosidade, cremoso. Delicioso espumante!


Depois segui para a Casa Perini. Lá estava mais “versátil”, ou seja, tinha tintos e brancos de todas as propostas, espumantes, etc. A história da Casa Perini começa em 1929 quando o filho de imigrantes italianos João Perini começou a elaborar seus primeiros vinhos de forma artesanal no porão de sua casa, quando os fornecia para cerimônias festivas da comunidade local, no Vale Trentino, em Farroupilha.

Comecei com os tintos. Primeiro, por recomendação do representante da vinícola, degustei o Arbo da casta Maselan. Ele havia dito que o custo x benefício era ótimo e que estava tendo uma ótima saída no evento. Mas confesso que me chamou a atenção por conta da casta que não havia degustado até então. A linha “Arbo” é básica do produtor mas que não fica atrás e esse Marselan era muito interessante. Seco, frutado, com alguma estrutura e bem aromático me ganhou: O comprei! Depois degustei o Casa Perini Solidário, um corte das castas Cabernet Sauvignon e Merlot de 2015. Encorpado, amadeirado, frutas vermelhas em abundância, um vinhaço sem dúvida.


Depois fui para o primeiro Moscatel da noite. Um Moscatel Rosé com um residual de açúcar bem equilibrado surpreendeu pela fruta, pelo equilíbrio, leveza e uma simplicidade que faz do vinho muito bom. Não o levei, pois já tinha o Vivelam Brut e eu queria diversificar ou pelo menos tentar, diante de tantos rótulos magníficos.


Fui para um novo terroir para mim: Minas Gerais, representada pelos rótulos da Dom de Minas, da Vinícola Luiz Porto. Quando o Luiz Porto decidiu transformar sua paixão por vinhos em negócio, ele não tinha dúvidas que seria um sucesso. No Sul de Minas ele encontrara todas as características para que suas mudas importadas da França expressassem ao máximo sua qualidade. Mas para que o sonho tornasse realidade, ele sabia que ia precisar ter uma conversa muito franca com alguém que seria decisivo para o triunfo da vinícola: a Mãe Terra.

Como disse tinha apenas dois ou três rótulos distintos, infelizmente. Degustei o Merlot da safra 2014 e o Cabernet Franc da mesma safra. O Merlot era bem leve, agradável, frutado, bem descompromissado e fresco. Mas o que me surpreendeu foi o Cabernet Franc que inclusive fiz uma resenha que segue neste link: Dom de Minas Cabernet Franc. Um vinho de personalidade, mas macio e fácil de degustar. Não deu outra: levei!!


Fui para a vinícola Rio Sol! A Rio Sol está localizada no Vale do São Francisco, na cidade de Lagoa Grande, em Pernambuco. A vinícola produz vinhos e espumantes, cujos rótulos vêm, cada vez mais, conquistando prêmios nacionais e internacionais. A empresa pertence a Global Wines, com sede na região do Dão, em Portugal, produtora de vinhos reconhecida no mercado mundial pelo dinamismo e inovação, com grande diversidade de rótulos premiados entre os melhores da Europa. A vinícola levou  muitos rótulos da linha, tanto dos produzidos no Brasil quanto em Portugal.

Comecei com o Rio Sol Reserva tinto da safra 2014 das castas Cabernet Sauvignon, Syrah e Alicante Bouschet, traz um aroma delicado, com boa acidez, com taninos elegantes e macios.


Depois “viajei” para Portugal, começando com o Cabriz Colheita Selecionada, da emblemática região do Dão, da safra 2016. Das castas Alfrocheiro, Tinta-Roriz e Touriga Nacional traz um aroma exuberante de frutas negras, toque defumado, com belo volume de boca com taninos macios e presentes.


Fechando com o Grilos tinto Reserva. Esse já é um velho conhecido. Já havia degustado em outras ocasiões. Com um blend das castas Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen entrega a tipicidade do Dão, com toque de frutas vermelhas, um vinho equilibrado, harmonioso e saboroso.



Fui para a Vinícola Batalha que nunca tinha ouvido falar. Eles unem o idealismo com as características que conferem uma vocação natural de uma região promissora para uma nova vitivinicultura mundial. São um grupo de jovens idealistas e de espírito empreendedor. O resultado econômico é uma consequência. A pretensão é produzir algo em escala limitada que possa surpreender os consumidores, buscando a valorização da pequena propriedade, onde não prioriza o volume, mas sim, a qualidade.

Degustei o Ideologia. Com um corte das castas Cabernet Sauvignon, Tannat e Merlot traz um equilíbrio interessante que confere ao vinho levez, harmonia e uma marcante personalidade. Frutado, taninos presentes mas sedosos, surpreendeu, mas o que desagradou foi o preço que não considerei como justo para a proposta do vinho.


Depois parti para o Batalha Cabernet Sauvignon da safra 2011. Esse tinha outra proposta. Um vinho mais encorpado, estruturado, mas, ao mesmo tempo macio e fácil de degustar. Um vinho redondo graças a passagem por barrica de carvalho.


Não posso deixar de destacar outro vinho que degustei e gostei e também levei que era da Vinícola Giaretta. A Vinícola Giaretta surgiu no ano de 2006, em uma reunião familiar e na evolução natural do próprio cultivo da uva que era realizado pelo Sr. Moacir. À época, a família estava com dificuldades na comercialização da sua produção de uvas, fato que motivou a abertura da vinícola.
Estava muito movimentado e consegui degustar apenas o Ancellota, mas não me arrependi. O vinho possui cor viva, vermelha rubi. Seus aromas lembram frutas maduras, como ameixa, sendo amplo e penetrante. Na boca é generoso e persistente, com taninos macios, se apresentando com estrutura e corpo marcante.


Como qualquer evento teve alguns problemas. Destaco aqui pelo menos dois: o primeiro foi o famigerado livrinho que constava a relação de todos os rótulos disponíveis para degustação. Era um controle dos organizadores do evento para garantir que todos os participantes degustasse todos os vinhos. Então a cada degustação os representantes dos produtores carimbava no seu livrinho o vinho que você degustou. Confesso que tive dificuldades de ficar, ao mesmo tempo, com o livrinho na mão e a taça e quando, por erro desses representantes que carimbava o rótulo errado e eu solicitava o vinho que fora carimbado para degustar e o representante via, dizia: “Esse o senhor já bebeu!” E quando eu dizia que não degustei ficava a minha palavra contra a do representante, mas no final das contas liberava a degustação. Era melhor definir uma quantidade de vinhos para a quantidade de participantes, embora trabalhoso, pois exige cálculos, é melhor. O outro problema foi o espaço onde fora realizado o evento. Achei pequeno e, por algum momento, ficou complicado e tenso para se locomover no local. Acredito que os organizadores não esperavam tanta gente! O sucesso do evento fora grande, mas nada que impedisse de se divertir e aproveitar os grandes rótulos expostos para degustação.

Foi uma noite maravilhosa e apoteótica que celebrou o vinho brasileiro. O vinho brasileiro que é tão inacessível aos brasileiros, o custo Brasil alto, os tributos que incidem igualmente alto, mas que naquele dia, todos os nossos sonhos foram vividos, mesmo que por algumas horas. Mas levei comigo, além de alguns rótulos, a expectativa de que é possível sim democratizar o vinho brasileiro e que, com isso o mesmo chegue à mesa do enófilo. Como sempre digo: Só falta o brasileiro conhecer o vinho brasileiro.

Minhas aquisições:


A taça do evento:








domingo, 31 de maio de 2020

Torre de Pinhel tinto


De uns tempos para cá, tenho me interessado, de forma gradativa, pelo fator regional quando escolho um vinho, quando degusto um vinho. É a genuína expressão de seu terroir, da sua tipicidade, sem contar que estimula conhecer outras culturas em uma espécie de escambo a cada taça degustada, sem exageros. Como que apenas uma garrafa, fisicamente tão pequena pode reverberar tanta história, uma longa e emblemática história. O vinho precisa eclodir nas taças e fazer cada um de nós, simples enófilos, entender, ao menos um pouco, sobre a história do povo que o concebeu. Mas infelizmente há algumas regiões que não são tão conhecidas ou populares aqui no Brasil como os rótulos alentejanos, durienses, de Bordeaux, Rioja, por exemplo, mas que, quando degustamos e temos a satisfação e o prazer de nos surpreender positivamente, nos perguntamos: como não degustamos vinhos dessa região ainda? Falo da região de Beiras, em Portugal (Beira Interior). Após algumas poucas experiências, mas surpreendentes e agradáveis com a linha D. João I tinto e branco (Leia as análises aqui: D. João I tinto e D. João I branco, da Adega Cooperativa de Pinhel, retomo o meu caminho redescobrindo a região com mais um rótulo deste produtor.

O vinho que degustei e gostei, vem, como disse da região de Beira Interior, da Adega Cooperativa de Pinhel, e se chama Torre de Pinhel, das castas Rufete e Tinta Roriz, não sendo safrado. E convém uma breve explicação pelo fato do vinho não ser safrado. Esse rótulo é um “vinho de mesa”, termo bem conhecido no Brasil que é usado pelos portugueses para designar um vinho básico, de entrada, que não possui um denominação de origem (DOC ou Vinho Regional) e que são produzidos com castas regionais, locais. Diferente do conceito de “vinho de mesa” no Brasil, que são vinhos produzidos com castas não viníferas, de uvas de mesa. Apesar de não possuírem denominações de origem, os “vinhos de mesa” lusitanos podem ser considerados sim, vinhos com forte apelo regional, pois trazem, como disse no início do texto, tipicidade e características da região, do chão que nascem as videiras, é tudo uma questão, também, de um certificado de qualidade, quando, em uma comparação meio distante, uma empresa adquire um “ISO”. Antes de tecer meus comentários acerca do vinho, falarei um pouco da sub-região de Beira, Pinhel.

Pinhel

Pinhel é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta, região do Centro (Região das Beiras) e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, com aproximadamente 3 500 habitantes.



A origem da cidade de Pinhel é atribuída, sem grande certeza, aos Túrdulos, por volta do ano 500 a.C. O concelho de Pinhel recebeu foral de D. Sancho I em 1209, detendo funções de organização militar e jurisdição. Deve-se a D. Dinis a reedificação do Castelo de Pinhel, constituído por duas torres, e a construção da histórica muralha que rodeava a vila da época (atual zona histórica), constituída por seis portas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Tornou-se sede de diocese e cidade em 1770, durante o reinado de D. José I, por desanexação da Diocese de Lamego, mas em 1881 a Diocese de Pinhel foi extinta pela Bula Papal de Leão XIII e incorporada na Diocese da Guarda. Constitui uma zona de vinhos de altitude, média de 650m. O seu clima é extremamente frio no inverno e quente e seco no período do estio ou verão. O solo é arenoso de origem granítica e de baixa fertilidade. A sub-região de vinhos de Pinhel é ideal para vinhos brancos acídulos. No caso de vinhos tintos, se forem para envelhecimento podemos encontrar grandes surpresas. Dado que as maturações são lentas, é extremamente indicada para produção de espumantes. Os concelhos de Pinhel são: Celorico da Beira, Guarda, Meda, Pinhel e Trancoso. As castas tintas predominantes são: Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%, Baga, Tinta Carvalha, Pilongo e Trincadeira (Tinta Amarela). Já as brancas são: Bical, Arinto (Pedernã), Fonte Cal, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Rabo de Ovelha, Síria (Roupeiro) e Tamarez, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%. Os tintos costumam ser vinosos, vivos e brilhantes enquanto jovens, intensos e equilibrados, com raro bouquet quando estagiados e envelhecidos. E os brancos são vinhos aromáticos, cheios e persistentes no sabor.

Agora o vinho!

Na taça tem um vermelho rubi com reflexos violáceos com lágrimas grossas e abundantes que dissipam com alguma lentidão das paredes do copo.

No nariz traz uma explosão de aromas de frutas vermelhas frescas, com toques de especiarias.

Na boca é frutado, meio seco, de leve para médio, com taninos presentes, mas sedosos, com uma agradável acidez revelando frescor e jovialidade, com um final de média persistência.

Um vinho simples, mas correto, bem feito e honesto Equilibrado e harmonioso é macio e fácil de degustar. Não tem passagem por barricas de carvalho, com 13% de teor alcoólico muito bem integrado.

Sobre o rótulo “Torre de Pinhel”:

O Castelo de Pinhel localiza-se na cidade, freguesia e concelho de mesmo nome, no distrito da Guarda. O Castelo de Pinhel, juntamente com o Pelourinho de Pinhel, são os símbolos mais importantes da região. A primitiva ocupação humana de seu sítio remonta a um castro pré-histórico, atribuído ora aos Túrdulos em 500 a.C., ora aos Lusitanos, posteriormente romanizado, quando passou a vigiar a estrada romana que cruzava a região da atual Pinhel. Após a queda do Império Romano do Ocidente, essa modesta fortificação mergulhou na obscuridade. A época da Reconquista cristã da Península Ibérica, com a afirmação da nacionalidade portuguesa, D. Afonso Henriques (1112-1185) procedeu ao repovoamento e reforço das defesas de Pinhel. O seu sucessor, D. Sancho I (1185-1211) deu prosseguimento a essa tarefa, outorgando Carta de Foral a Pinhel (1189 segundo alguns, 1209 segundo outros), de quando datará o início da construção do castelo medieval, concluído sob o reinado de D. Afonso II (1211-1223), que lhe passou novo foral em 1217. Integrante do território de Ribacôa, disputado ao reino de Leão por D. Dinis (1279-1325), a sua posse definitiva para Portugal foi assegurada pelo Tratado de Alcanizes (1297).

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.
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Fontes:




quinta-feira, 28 de maio de 2020

Autoritas Reserva Cabernet Sauvignon 2015


Estava a procura de um vinho que me surpreendesse, que me entregasse certa robustez, estrutura, personalidade e que me custasse pouco, que não doesse tanto ao bolso. Às vezes eu acordo com esse ímpeto em seguir um caminho deveras bem delimitado, definido. Mas, por outro lado, pode se tornar uma missão impossível de encontrar um vinho com tais características a um preço baixo, acessível a bolsos de meros mortais como eu. Fui às compras, fui a busca do que queria. E não é que encontrei esse vinho! O mundo do vinho, quando livre de preconceitos, de visões pré-concebidas, conseguimos “enxergar” o que queremos, a luz se faz forte, iluminando as nossas pretensões e caminhos.

Mas a procedência me ajudou e muito e digo que foi preponderante para a minha bem sucedida escolha e que escolha, foi A escolha, que foi o produtor! Então, sem mais delongas, o vinho que degustei e gostei veio do Chile, da região de Colchagua, e é da tradicional e bem sucedida Luis Felipe Edwards, o Autoritas, da casta Cabernet Sauvignon da safra 2015.

Antes de falar do vinho, vamos as curiosidades. A palavra “Autoritas” vem do latim auctoritas, que significa prestígio, honra, respeito, autoridade. Esses valores foram o que inspirou a criação desta marca, desenvolvida por Luis Felipe Edwards Family Wines. A crista (brasão) da família, presente em cada garrafa, é o selo que reúne esses valores, passados ​​de geração em geração e expressos em cada copo da Autoritas.

O vinho:

Na taça apresenta uma linda cor vermelha intensa, escuro com entornos violáceos, com lágrimas em abundância e lágrimas finas que dissipam vagarosamente das paredes do copo.

No nariz tem uma explosão aromática de frutas vermelhas, com toques de especiarias, baunilha e a madeira discreta, bem integrada, devido aos 6 meses de passagem por barricas de carvalho.

Na boca tem estrutura, de médio corpo a encorpado, mostrando a potência da Cabernet Sauvignon, na sua mais sublime essência, mas muito macio e fácil de degustar, um toque leve de torrefação, taninos redondos e gordos, mas domados, com boa acidez e um final persistente e frutado.

A verdadeira concepção do vinho tipicamente chileno, um Cabernet Sauvignon de personalidade marcante, mas harmonioso, fácil de beber, redondo e a contundente prova de que vinhos com essa proposta pode sim ter um custo acessível a todos os bolsos, democratizando ou pelo menos ajudando a disseminar a cultura do vinho entre todos, indistintamente. Tem 13,5% de teor alcoólico. Ah, o valor foi de R$ 35,90!

Sobre a Viña Luis Felipe Edwards:

A Viña Luis Felipe Edwards foi fundada em 1976 pelo empresário Luis Felipe Edwards e sua esposa. Após alguns anos morando na Europa, o casal decidiu retornar ao Chile e, ao conhecer terras do Colchágua, um dos vales chilenos mais conhecidos, se encantou. Ali, aos pés das montanhas andinas, existia uma propriedade com 60 hectares de vinhedos plantados, uma pequena adega e uma fazenda histórica que, pouco tempo depois, foi o marco do início da LFE. De nome Fundo San Jose de Puquillay até então, o produtor, que viria a se tornar uma das maiores vinícolas do Chile anos mais tarde, começou a expandir sua atuação. Após comprar mais 215 hectares de terras no Vale do Colchágua nos anos de 1980, começou a vender vinho a granel, estudar a fundo seus vinhedos e os resultados dos vinhos, e cultivar diferentes frutas para exportação. O ponto de virada na história da Viña Luis Felipe Edwards veio na década de 1990, quando Luis Felipe Edwards viu a expectativa do mercado sobre os vinhos chilenos. Sabendo da alta qualidade dos rótulos que criava, o fundador resolveu renomear a vinícola e passou a usar o seu próprio nome como atestado de qualidade. Após um período de crescimento e modernização, especialmente com o início das vendas do primeiro vinho em 1995, a LFE se tornou um importante exportador de vinho chileno no começo do século XX. A partir de então, o já famoso produtor começou a adquirir terras em outras regiões do país. Na busca incessante por novos terroirs de qualidade, ele encontrou no Vale do Leyda um dos seus maiores tesouros: 134 hectares de videiras plantadas em altitude extrema, a mais de 900 metros acima do nível do mar.

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Degustado em: 2017