Costumo dizer e defender a importância de cada enófilo, caso
queira conhecer, enveredar o vasto e prazeroso mundo do vinho, a participar,
pelo menos uma vez na vida, de um festival de degustação. A carga de informação
transborda diante dos seus olhos e inundam os seus ouvidos, cabendo a você, é
claro, absorver aquili que você julgar relevante e transformar em conhecimento,
agregar conhecimento ao ritual da degustação. Quando estive, em 2017 em um
evento no Rio de Janeiro chamado “Vinho na Vila”, foi uma experiência e tanto.
Caso queira ler detalhes do evento, segue link: Festival Vinho na Vila 2017. Além de participar de um evento de degustação,
conversar com outros enófilos, produtores e conhecer rótulos novos, castas e
terroirs também novos, foi um festival inteiramente dedicado aos vinhos
brasileiros. Ah como os vinhos brasileiros precisam de protagonismo! Trafegando
pelo espaço onde o evento acontecia fui ao stand da Casa Perini, instalada na
região gaúcha de Farroupilha, decidi me aproximar e conferir, afinal não
conhecia seus rótulos. Degustei alguns e um me chamou a atenção: a linha Arbo
da casta Marselan. Que casta é essa? Não sabia, então logo solicitei que
enchesse a minha taça para degustar. E...
O vinho, produzido em Farroupilha, era muito bom! Me
surpreendeu positivamente e o valor estava muito atrativo, em torno dos R$
30,00! Logo o representante do produtor me informara que era a linha básica da
vinícola, mas o vinho entregava mais do que valia, o preço era justo! Então
comprei! Não levou muito tempo ocupando espaço na minha adega, então o
desarrolhei! O vinho não era safrado, denunciando que era um vinho simples e de
rápida degustação, estimulando-me, ainda mais, em bebê-lo. Mas antes de falar
do vinho, vamos falar um pouco da casta Marselan, não muito popular por aqui em
terras brasileiras.
Marselan
Casta de origem francesa Marselan é um cruzamento entre as
uvas Cabernet Sauvignon e Grenache obtido por Paul Truel em 1961, em
Montpellier, sul da França. O objetivo do cruzamento era obter uma uva com mais
produtividade. O resultado foi uma uva de cachos grandes e pequenas bagas.
Acabou sendo deixada de lado por não apresentar o rendimento esperado. Em 1990
foi inserida no registro oficial de variedades. O nome vem de Marseillan, uma
comuna localizada na costa do Mediterrâneo, França. A primeira videira foi
plantada em Penedès, na Espanha. Na França é plantada principalmente no
Languedoc e no Sul do Rhône. Fora da França há Marselan na Califórnia (Estados
Unidos), Argentina, Uruguai e Brasil. A China também resolveu apostar e há
vinhedos próximo à Grande Muralha. O cruzamento entre as duas espécies
francesas fez com que a Marselan adquirisse características próprias de cada
uma das uvas. A acidez da Cabernet Sauvignon, por exemplo, combinada com a
leveza e versatilidade da Grenache Noir, transformou a Marselan em uma uva
exótica e especial. Tem coloração intensa e aromas que lembram frutas vermelhas
frescas e cacau, a uva Marselan começou a ser comercializada no Brasil a partir
de 2002 encontrando bom espaço, aos poucos e produzido excelentes vinhos.
O vinho:
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso, escuro com bordas
violáceas, com poucas lágrimas e que se dissipam rapidamente.
No nariz tem aromas de frutas negras e um agradável toque
floral.
Na boca é muito seco, com boa estrutura, mas macio, fácil de
degustar, com uma acidez instigante, diria uma alta acidez para um tinto,
taninos delicados e um final de média persistência, um retrogosto frutado.
Uma experiência agradável de uma casta diria que bem exótica,
talvez até mesmo rústica, com um caráter indomável, a qual não recomendo para
aqueles que estão adentrando o mundo do vinho. Inclusive alguns amigos já inveterados
na degustação de vinhos mostraram certa rejeição pela Marselan, mas certamente
eu degustaria outra vez, outros rótulos da casta. A “casta de laboratório” é “provocativa”
e eu gosto de vinhos assim. 12% de teor alcoólico.
Sobre a Casa Perini:
Em 1876 chegava da Itália a família Perini com Giuseppe e
Antônio Perini, mas somente em 1929 começaram a elaborar seus primeiros vinhos
de forma artesanal no porão de sua casa, quando os fornecia para cerimônias
festivas da comunidade local, no Vale Trentino, em Farroupilha. Quatro décadas
após o patriarca iniciar sua modesta produção, seu filho viria a promover
mudanças maiores. Em outubro de 1970 resolve ampliar os negócios da família,
fundando a Casa Perini. Motivado e apaixonado por transformar a uva em vinho,
buscam a cada ano aperfeiçoar a vinícola com equipamentos, tecnologia e equipe
qualificada, pois sem uma equipe profissional a arte de elaborar vinhos perde
criatividade e talento. Em 2005 a Família Perini adquire a unidade Bacardi
Martini em Garibaldi agregando tecnologia ao seu processo produtivo através dos
tanques “Vinimatics”, utilizados na maceração e fermentação dos vinhos tintos.
Em 2010 a vinícola foi pioneira no setor ao implantar o sistema de rastreabilidade
no qual é possível, através do número do lote, rastrear todo o caminho do vinho
desde o vinhedo até a garrafa. O reconhecimento vem a cada prêmio alcançado e a
cada consumidor satisfeito, o que se comprova com a conquista de mais de 200
medalhas nacionais e internacionais e, principalmente, com a recente premiação
do Casa Perini Moscatel, eleito o 5° melhor vinho do mundo de 2017 pela WAWWJ
(World Association of Writers & Journalists of Wines & Spirits).
Mais informações acesse:
Fonte para a história do Marselan:
Site “Vinho Básico”, em: http://www.vinhobasico.com/2019/06/05/marselan-ja-conhece-essa-uva/
Blog “Arts des Caves’, em: https://blog.artdescaves.com.br/uva-marselan-cruzamento-cabernet-sauvignon-grenache-noir
Degustado em: 2017
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