sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Portal de S. Braz Branco

 


Eu já comentei em outros textos e inspirações com rótulos agradáveis que tenho dado prioridade a vinhos com um forte apelo regionalista principalmente no quesito “castas”. Nada como degustar um vinho que entrega, com fidelidade, as características mais intensas da sua região, da sua terra, onde a tipicidade se mostre forte e presente, o famoso “terroir”. Populares em seus países, mas não tão conhecidas ao redor do mundo, algumas castas, sejam brancas ou tintas, sobretudo em Portugal, merecem a nossa atenção e o meu rótulo de hoje revela, mesmo diante da sua simplicidade, a nobreza do regionalismo de uma região que tanto amo, que foi a minha porta de entrada para os vinhos lusitanos: Alentejo. Independentes das classificações que os vinhos carreguem, independente de nomes impactantes que esteja no rótulo, os brancos alentejanos sempre foram os meus preferidos na terra dos patrícios e os blends, os cortes, entregam o melhor destes vinhos: frescor, leveza e tipicidade. E não se enganem amigos leitores, vinho não é status, não deve ser encarados como posição social ou poder econômico, mas ligado a celebração, ao prazer da degustação simplesmente, ligado, a quem quiser, a educação cultural.

Então apresentemos o vinho que degustei e gostei que, como disse, veio do Alentejo e se chama Portal de S. Braz, um branco das castas Arinto, Antão Vaz e Roupeiro, sem informação de safra. E já que falamos de regionalismo arraigado, de história e cultura, falemos um pouco das castas que compõe esse rótulo: Antão Vaz, Arinto e Roupeiro.

Arinto

Uma das mais clássicas castas brancas portuguesas, a Arinto é originária da região de Bucelas, mas seu cultivo se expandiu para diversas áreas, como a Bairrada e Vinho Verde. É uma casta versátil, presente na maioria das regiões vitícolas portuguesas, sendo reconhecida pelo nome Pedernã na região dos Vinhos Verdes.

Concelho de Loures e Bucelas ao norte

Dona de ótima acidez, a uva branca Arinto produz vinhos muito frescos, com atraentes aromas de frutas cítricas. Os melhores exemplos de vinhos elaborados com a casta ostentam mineralidade e possui fermentação realizada em baixas temperaturas, o que garante a alta qualidade dos vinhos da uva. Sendo considerada uma das melhores variedades portuguesas, a uva Arinto é utilizada na elaboração de rótulos nobres, inclusive os com maior grau de envelhecimento. Possuindo maturação tardia, a uva é facilmente reconhecida no vinhedo por suas características estruturais. Com bagos pequenos e cor verde amarelada, a uva Arinto possui difícil vinificação, além de possuir sensibilidade a falta de umidade em solos de cultivo. Seus vinhos possuem ótima acidez e podem ser achados vinificados no estilo varietal e em corte, com as uvas Chardonnay e a casta Verdelho. Com complexidade e elegância, acredita-se que a uva Arinto foi levada para a região de Bucelas na época das cruzadas, após o retorno de alguns cavalheiros para a região próxima de Lisboa.

Antão Vaz

Pouco se sabe sobre as origens da casta Antão Vaz. Apesar da aura misteriosa que a rodeia, uma coisa se conhece: a sua filiação alentejana. E também que viajou pouco. Fora do seu Alentejo natal, apenas a Península de Setúbal a planta com alguma expressão, e não se encontram sinonímias para ela noutras regiões – como acontece com tantas outras castas –, comprovando-se assim a sua falta de apetência emigrante. Consensual, amada igualmente por viticultores e enólogos, a Antão Vaz é indiscutivelmente o “ex-libris” das castas brancas alentejanas, o orgulho e alma dos produtores locais. Particularmente bem adaptada ao clima soalheiro da grande planície, apresenta excelente resistência à seca e doença. Mais: é consistente, produtiva, e amadurece de forma homogénea. Tudo condições mais do que suficientes para torná-la incontornável no cenário dos vinhos brancos alentejanos. Por regra, dá origem a vinhos estruturados, firmes e encorpados, embora por vezes lhe falte acidez refrescante e revigorante. Daí a associação comum com as castas Roupeiro e Arinto, que contribuem com uma acidez mais viva. Se vindimada cedo, pode dar origem a vinhos vibrantes no aroma e a acidez firme; se deixada na vinha, pode atingir grau alcoólico elevado e aromas fragrantes, o que a torna boa candidata ao estágio em madeira. Os vinhos de Antão Vaz apresentam por regra aromas exuberantes, apresentando-se estruturados e densos no corpo.

Roupeiro

Roupeiro é uma das castas brancas mais utilizadas no Alentejo. Noutras regiões tem o nome de Síria ou Códega. Casta de uva branca muito utilizada em Portugal é recomendada nas regiões da Beira Interior com o nome de Codo ou Síria, no Douro com o nome de Códega e em todo o Alentejo com o nome de Roupeiro. Produz vinho com aromas primários muito interessantes a flor e a fruto, mas é sensível à oxidação e o seu vinho deve ser consumido nos anos imediatamente seguintes à colheita. Em geral, produz vinhos básicos para serem consumidos jovens, mostrando aromas de frutas cítricas e de caroço, além de notas florais. Quando bem feito, seu vinho apresenta aromas perfumados de frutas cítricas, pêssego, melão, loureiro e flores silvestres. Entretanto, perde rapidamente estes aromas, tornando-se bastante neutra após alguns meses em garrafa. Pode também oxidar rapidamente, sendo uma opção para vinhos jovens, de grande saída. Outros sinônimos: Síria, Malvasia Grossa, Dona Branca, Códega etc.

E agora finalmente o vinho!

Na taça apresenta um amarelo dourado e brilhante, um reluzente e bonito brilhante.

No nariz explode aromas de frutas brancas e cítricas, esta última garantida pela casta Arinto no corte, tais como maracujá, pera, maçã verde, abacaxi, além de notas florais.

Na boca é seco, elegante, com bom volume de boca, alguma expressividade e até mesmo estrutura, entregue pela Antão Vaz, com uma bela acidez que lhe confere jovialidade e frescor, com um final curto.

Esse passeio pelas histórias das castas, as suas características corroboram o que é o vinho que degusto: fresco, jovial, mas de personalidade e que ostenta a cultura de forma veemente e fiel do Alentejo e as suas castas mais tradicionais e populares, algumas delas que são cultivadas apenas nessa região, que sintetizam, personificam o apelo regionalista que faz do vinho especial. Simples sim, básico sim, mas especial. A polêmica fica para o nome “Private Collection” que, para muitos enófilos mais exigentes poderia colocar em xeque a qualidade do vinho: Será um equívoco um vinho básico levando um título, em seu rótulo com o nome de um vinho de alta gama? Talvez seja uma forma, um tanto quanto torta, de impulsionar o rótulo com um marketing exacerbado, mas é inegável que o vinho é surpreendentemente bom, um belo rótulo alentejano branco de que tanto gosto. Tem teor alcoólico de 13%.

Sobre a Adega Cooperativa da Granja (Granja Amareleja):

A Adega Cooperativa da Granja, com mais de 60 anos de história, beneficia das excelentes condições que o Alentejo oferece para a produção de vinhos de altíssima qualidade, apreciados em todo o mundo. O grande reconhecimento da qualidade dos vinhos aqui produzidos aconteceu em 1989 com a distinção de um vinho “Campeão do Mundo” num concurso que se realizou em Ljubljana, na ex-Jugoslávia e, desde 2007, a Adega tem vindo a evoluir com a modernização de toda a linha de produção, mantendo as tradições da região, nomeadamente com a produção de vinho de talha – tradição herdada do Império Romano – e a utilização das castas tão características da região.

Mais informações acesse:

https://www.granjaamareleja.pt/

Fontes de pesquisa:

Sobre a Arinto:

Portal “Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/arinto

Portal “Wikivinha”: https://www.vinha.pt/wikivinha/section/casta-vinho/arinto/

Sobre a Antão Vaz:

Portal “Revista de Vinhos”: https://www.revistadevinhos.pt/beber/antao-vaz

Sobre a Roupeiro:

Portal “Dfj Vinhos”: https://dfjvinhos.com/v/roupeiro

Portal “Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/uvas-de-alentejo-em-portugal_11821.html

Portal “Enogourmet”: https://enogourmet.ne10.uol.com.br/posts/as-principais-castas-brancas-do-alentejo

 

 

 




Lo Tengo Torrontés 2012

 


Definitivamente a Malbec na Argentina é a casta tinta mais emblemática. Embora não seja uma “filha” natural, biológica, foi adotada e lá se perpetuou e até hoje a história se escreve a cada dia com rótulos emblemáticos. Mas não se enganem caros leitores, há espaço para as cepas brancas e uma, em especial, certamente ganhou notoriedade na terra dos Hermanos e também na minha mesa e no meu paladar: a Torrontés. Oriunda da Espanha, a Torrontés, foi amplamente cultivada na região da Galícia ganhou o terroir argentino ganhando lá a fama que hoje é cultivada pelos mais entusiasmados enófilos a começar por mim. A casta começou a ganhar destaque no início da década de 1970. Mas há indícios de que ela chegou na Argentina muitos anos antes. Algumas fontes citam que foi em 1500 com as missões jesuítas, outras relatam que foi em 1800 com os conquistadores espanhóis, mas a data exata é uma incógnita. O nome Torrontés é utilizado como uma referência para um grupo de uvas brancas, entre as mais conhecidas estão a Torrontés Riojano, a Torrontés Sanjuanino e a Torrontés Mendocino. Mas muitas vezes, apesar da diversidade, encontramos apenas o nome “Torrontés” nos rótulos dos vinhos. Bem, diante dessa ficha técnica da história da Torrontés, eu também tenho a minha história com essa incrível casta branca. Foi com a Torrontés que eu entendi e assimilei o conceito mais pleno de que uma casta branca pode ter personalidade, leve, fresca e com uma bela acidez. Ah a acidez, definitivamente tem tudo a ver com as cepas brancas, pois ela traz a jovialidade e o frescor de que esperamos destas. E a descobri graças as minhas pesquisas, as minhas inquietações e avidez por aprender e conhecer sobre a bebida de que amo tanto: o vinho. Pensei: Será que só existe a Malbec na Argentina? E pesquisei e vi e li muitas referências sobre essa casta: a Torrontés. Descobri alguns rótulos, me enamorei pela cepa e agora sigo nas minhas degustações com essa casta que não falta na minha adega.

E um vinho, claro, da casta Torrontés, me chamou muito a atenção, um vinho que definitivamente eu degustei e gostei e veio da emblemática região argentina Mendoza, e da tradicional Bodega Norton e se chama Lo Tengo, da safra 2012. Um vinho que, já no rótulo, enaltece a cultura da Argentina: o tango. Essas ligações e sinergias com a cultura se reflete fortemente com a vitivinicultura também, isso o argentino faz e muito bem. A Torrontés virou um “produto” que exporta os vinhos argentinos para o mundo, juntamente com a Malbec.

Então vamos ao vinho!

Na taça apresenta um lindo e brilhante amarelo dourado com reflexos esverdeados.

No nariz o destaque fica para as notas frutadas, frutas cítricas também é evidente, notas de limão, de abacaxi, damasco, pera e outro quesito que faz da Torrontés maravilhosa é o toque floral, flores brancas fazem desse vinho agradavelmente aromático e delicado.

Na boca é redondo, elegante, com uma personalidade marcante, com a reprodução das frutas brancas amplamente percebidas no aspecto olfativo, mostrando um equilíbrio entre ela, a fruta e a acidez que está em evidência, mas que não agride ou incomoda, revelando todo o seu frescor e jovialidade.

Um vinho que personifica com fidelidade a casta, que entrega com qualidade as características mais marcantes da Torrontés: personalidade, frescor, leveza, sabor. Essa simbiose faz da casta uma das mais importantes, versáteis e emblemáticas entre as cepas brancas catalogadas no mundo do vinho. São tão versáteis que podem ser degustadas sem acompanhamento, de forma descontraída, mas com comidas leves e até massas. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Bodega Norton:

Em 1895 o engenheiro Edmund James Palmer Norton chega à Argentina para ajudar na construção de uma ferrovia através dos Andes e se apaixona pelo terroir de Mendoza. Fazendo uma mudança drástica em sua vida, ele decide fundar sua própria vinha em Luján de Cuyo com vinhas importadas da França. Em 1919 começam as obras da adega que conhecemos hoje. Em 1951 os vinhos tintos e brancos finos de Norton são aclamados nacionalmente.

Edmund James Palmer Norton

Em 1989 o empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski se maravilha com a beleza de Mendoza e vê potencial no desenvolvimento dos vinhos argentinos. Ele decide comprar a Bodega Norton, a única vinícola tradicional da região cercada por vinhedos próprios. Sob a direção de Michael Halstrick, filho de Gernot Langes-Swarovski, começa uma nova era na vinha, com investimentos e expansão, tornando a Bodega Norton uma das primeiras a desenvolver um mercado de exportação. Em 1994 a Bodega Norton passa a ser sinônimo de Malbec argentino e é reconhecida com a classificação DOC (denominação de origem controlada). O renomado enólogo Jorge Riccitelli apresenta o Malbec Norton DOC ao mercado. Em 2000 a Bodega Norton torna-se uma das primeiras vinícolas do país a produzir espumante branco com sua linha Norton Sparkling. Em 2014 Norton lança sua linha Single Vineyard de vinhos de alto padrão chamada LOTE, um conceito inovador que permite ao consumidor desfrutar dos diversos terroirs de cada propriedade. A Bodega Norton se torna uma das vinícolas de exportação mais importantes da Argentina, exportando vinhos de alta qualidade para mais de 60 países. Em 2017 procurando uma forma de refletir melhor os vinhos de qualidade e profissionalismo que a Bodega Norton representa, sem falar na sua equipe de trabalhadores com espírito familiar, a vinícola leva sua marca para um novo rumo. Uma reforma para celebrar uma longa história como pioneiro do vinho argentino. A frase manuscrita "Signature Winemaking" denota a qualidade e a herança da Bodega Norton, inspirada pelo próprio Edmund Norton e continuada por mais de 125 anos.

Mais informações acesse:

http://www.norton.com.ar/en/

Degustado em: 2014


 


sábado, 24 de outubro de 2020

Alandra tinto 2019

 

Nós, simples enófilos, costumamos falar, em profusão, em termos como tipicidade, DNA do vinho, terroir, a terra que o vinho é produzido, a região tem muito ou pelo menos deveria ter entre nós grande importância na escolha de um vinho, por exemplo, e nos nossos conceitos de preferência de rótulos. E quando falamos em região, não podemos negligenciar, é claro, das suas cepas, das suas castas. Atualmente eu estou imergindo fundo no garimpo de novas regiões e principalmente de novas castas, castas essas com um grande apelo regionalista, o que consequentemente reforça o conceito de terra, de terroir, de tipicidade, de cultura, de história, do comportamento de um povo, de uma sociedade com vocação para a feitura, para a produção dessa bebida poética e inspiradora chamada VINHO.

E esse vinho que degustei e gostei vem de um país e região que dispensam maiores comentários pela sua importância e história para a vitivinicultura mundial, mas que, sim, vale e muito ser contada com requintes de detalhes para enaltecer e estimular a degustação do vinho que, mesmo dentro de uma garrafa, na limitação de uma garrafa, expressa e sintetiza a gigante cultura de um país e uma região como Portugal e o Alentejo, respectivamente. E esse vinho, apesar de uma proposta básica, de um vinho básico, de entrada, entrega, com fidelidade, essas características que me agrada e que aqui foram mencionadas, pois tem um forte apelo regional, mesmo não apresentando nenhuma classificação como o “vinho regional” ou o famoso “DOC”, tem inserido em sua proposta esse aspecto tão marcante, nos vinhos portugueses: a força regionalista e cultural. Falo do Esporão Alandra tinto, composto pelas castas autóctones Moreto (15%), Castelão (40%) e Trincadeira (45%). Então já que estamos falando de regionalismos e castas autóctones, por que não falemos sobre as cepas que compõe este vinho?

Moreto

A casta Moreto é característica da zona do Alentejo, sendo bastante cultivada nas zonas de Reguengos, Redondo e Granja-Amareleja. Pensa-se que terá sido introduzida na região, por volta do século XIX, quando se assistiu a um grande desenvolvimento da vitivultura no Alentejo. Esta casta apresenta cachos de tamanho pequeno e bagos de tamanho médio e arredondados. É uma casta bastante produtiva e de maturação tardia. Os vinhos produzidos com a casta Moreto são normalmente pouco encorpados e apresentam pouca cor, por isso é utilizada em vinhos de lote. Normalmente é lotada com as castas Trincadeira, Aragonez e Tinta Caiada. Casta produtiva, de maturação tardia, com baixos teores de açúcares, pelo que é geralmente a última casta a ser vindimada. Casta de elevada robustez e produtividade, indicada para zonas de calor extremo.

Castelão

Uma das formadoras da identidade dos vinhos portugueses, a Castelão é de suma importância para a vinicultura de Portugal. Esta cepa está entres as variedades mais amplamente cultivadas, estando entre as 250 uvas nativas de Portugal.

Periquita?

O mundo do vinho é repleto de confusões de ordem taxonômicas. Uma uva tem nomes diferentes dependendo da época ou localidade, mas no caso da uva Castelão, o fato é ainda mais curioso. Esta confusão acontece na relação entre Castelão e Periquita: muitas fontes (incluindo a Wikipédia) parecem pensar que Periquita é simplesmente um sinônimo de Castelão, mas isso está errado. Periquita é um nome do produto (ou marca, se assim você preferir), propriedade da vinícola José Maria da Fonseca. As misturas de Periquita sempre contiveram a uva Castelão, mas a maioria também contém quantidades variadas de outras uvas (aparentemente, apenas o vinho da Vinícola Fonseca chamada Periquita Clássica é 100% Castelão). A Castelão também já foi amplamente conhecida como Castelão Francês, mas quando Portugal reforçou suas leis do vinho, o nome oficial tornou-se simplesmente Castelão. Os melhores vinhos feitos com uva Castelão são oriundos da região de Setúbal, ao sul de Lisboa. Lá, especificamente, existe um terroir excelente para a produção de vinhos mais concentrados. É no sul de Portugal, abarcando também o Alentejo, aonde a maior parte da produção da uva Castelão é feita. Apesar disso, uma pequena parcela é plantada na parte central, na região do Douro, e estas são utilizadas no vinho do Porto. Nos vinhedos onde nascem as uvas Castelão, encontram-se cachos pequenos com bagos escuros, e com a casca grossa e em grande quantidade, principalmente se comparada à polpa. É sabido que em Portugal os vinhos varietais são raros. Então é mais comum serem encontrados cortes de Castelão misturados com Aragonês e Trincadeira, os quais permitem que o vinho resultante seja mais acessível e suave.

Trincadeira

A Trincadeira pode não ser muito conhecida, mas é outra uva da família das Vitis vinifera, cultivada essencialmente no Alentejo, na região do Douro e no Ribatejo. Também é conhecida como Trincadeira Preta ou Tinta Amarela (principalmente na região do Douro), e está presente principalmente nas regiões secas e quentes. Embora seja uma das pérolas da vitivinicultura portuguesa, a Uva Trincadeira é frequentemente evitada pelos produtores e enólogos por ser uma uva de difícil trato, por assim dizer. Suas cepas são de uma delicadeza tal que qualquer mínima demora em colhê-la na hora certa pode resultar no apodrecimento de seus cachos e em uma enorme perda de safra. Não é algo estranho que as uvas assumam características diferentes quando cultivadas em terroir distintos. Mas, a Trincadeira possui um temperamento ainda mais peculiar e isso reflete até nas diferentes nomenclaturas que pode assumir. Por exemplo, quando cultivada em Tejo e Alentejo, é chamada de Trincadeira Preta. Já, pelas paragens emolduradas do rio Douro, é chamada de Tinta-amarela. É Mortágua em Torres Vedras, em Arruda é Preto Martinho e Cravo Preto em Algarve. Ironicamente, a quantidade de nomes que possui a uva Trincadeira parece convergir com seu perfil instável, frágil e seu constante transtorno de personalidade. Se por um lado a prematuridade da colheita a deixa sem sabor, a mínima demora reflete na falta de acidez ou rápido apodrecimento dos cachos. É uma uva com bastante potencial para o amadurecimento, especialmente quando no apreciadíssimo barril de carvalho francês. Sua relação com o estágio em madeira é extremamente positiva, podendo revelar vinhos de alta complexidade e qualidade.

E finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo vermelho rubi escuro, intenso, com reflexos violáceos que garante um reluzente brilho, com poucas lágrimas finas e de média persistência.

No nariz traz uma explosão aromática de frutas vermelhas como amora, framboesa e morango, com muito frescor.

Na boca é seco, com nuances frutadas, com boa presença de boca, um bom volume de boca que faz desse vinho, apesar de jovem, expressivo e exuberante, com taninos aveludados e macios, com uma baixa acidez e um final de média persistência.

Um vinho de estilo jovem, um cara de moderno, despretensioso e que certamente pode agradar aos paladares mais inexperientes, que está começando no universo do vinho e para aqueles mais calejados que quer um vinho mais informar ou receber amigos. Digo-lhes que é um vinho saboroso, gostoso e revisitando os meus arquivos de degustação, lembrei que degustei o Alandra tinto a três anos atrás, da safra 2015 e tenho na memória que sempre foi essa a proposta do rótulo: simples, mas nobre na sua proposta e importante no aspecto regional e cultural. Tem teor alcoólico de 13%.


Sobre a Herdade do Esporão:

A Herdade do Esporão está localizada em Reguengos de Monsaraz, cidade situada no Alentejo, região do centro-sul de Portugal que, apesar de ter uma produção bastante recente, com pouco mais de 40 anos, é a maior exportadora de vinhos de Portugal e uma das maiores do mundo. A Herdade tem 700 hectares de vinhas e olivais, além de alguns pomares e hortas. As cerca de 40 castas produzem uma variada gama de brancos, rosés e tintos, além de um excelente espumante e uma peculiar colheita tardia. Já as 4 variedades de azeitona dão origem a um dos mais famosos e prestigiados azeites no mercado internacional.

A Herdade conta com uma vastíssima programação de enoturismo, especialmente interessante no verão (junho a setembro), mas suficientemente variada para atrair novos fãs em qualquer época do ano. Aliás, o refinado restaurante da vinícola conta com cardápios distintos para cada estação. São duelos entre o Douro e o Alentejo, verticais, elaboração do próprio blend, refeições harmonizadas, até passeios de um dia inteiro entre as maravilhas naturais da linda propriedade. 

Mais informações acesse:

https://www.esporao.com/pt-pt/

Fontes:

Sobre a casta Moreto:

Site Vida Rural: https://www.vidarural.pt/insights/castas-portugal-moreto/

Site Vinho Virtual: https://www.vinhovirtual.com.br/uvas-209-Moreto

Sobre a casta Castelão:

Site Enologuia: https://www.enologuia.com.br/uvas/250-uva-castelao-portuguesa-com-certeza

Sobre a casta Trincadeira:

Site Enologuia: https://enologuia.com.br/uvas/232-uva-trincadeira-delicada-e-temperamental

Site Blogs dos Vinhos: https://blogdosvinhos.com.br/conheca-a-uva-trincadeira/

 

 

 

 

 

 

 






segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Casa Silva Reserva Pinot Noir 2013

 

Os grandes Pinots Noir são franceses. Parece que essa afirmação é uma unanimidade! São vinhos delicados, elegantes, frutados, frescos, cheios de vida e expressividade, mas não se enganem caros e estimados leitores, há sim grandes vinhos dessa cepa sendo produzidos em outros solos, em outros cantos do planeta sem sombra de dúvida. Basta algum tempo na grande rede para descobrirmos que países como Nova Zelândia, por exemplo, estão produzindo vinhos de muita personalidade da casta Pinot Noir, de tipicidade, vinhos com identidade própria. Vinhos de personalidade marcante, mas que privilegia as características da casta, que preserva as suas mais interessantes nuances. Não podemos esquecer-nos da Argentina e até mesmo o Brasil, com seus vinhos despretensiosos, diretos, frescos e jovens, oriundos das mais distintas e emblemáticas regiões do bom e valoroso Rio Grande do Sul. Contudo não podemos esquecer , não podemos negligenciar os belos pinots do Chile. Conhecida por produzir grandes vinhos estruturados das emblemáticas castas Carmènére, Cabernet Sauvignon e Syrah, a Pinot Noir naquelas bandas se destacam pela delicadeza, elegância, mas também pela personalidade marcante e expressividade, muito comum entre os vinhos chilenos. E já tive o prazer e a alegria de degustar alguns chilenos dessa maravilhosa cepa e sempre me lembro de ter degustado vinhos frutados, elegantes e delicados, mas que não devem muito pelo contrário, serem conhecidos como “plágios” dos vinhos dessa casta produzidos na França. E antes de apresentar o meu Pinot Noir chileno que degustei e gostei, vale a leitura de uma resenha que fiz sobre o vinho Tripantu Grand Reserve Pinot Noir 2011.

Bem, já anunciei muita coisa do vinho que degustei e gostei, mas, para não perder o costume e o ritual agradável do anunciar, faço questão de fazê-lo: Casa Silva Reserva Pinot Noir da safra 2013 da tradicional região do Vale do Colchágua, no belíssimo Chile. E foi com ele que conheci essa excelente vinícola do Chile que, nesses últimos anos, vem se destacando pela tipicidade, pela tradição mesclada às propostas de contemporaneidade que faz com que o Chile recebe, com merecimentos, o título de “Novo Mundo”, não apenas pelo fato de ser um “jovem” país produtor de vinhos, mas pelo arrojo com que seus artesãos do vinho, aliado às filosofias de cada vinícola podem promover com os seus rótulos em toda a camada de propostas.

Então, para não provocar nenhum tipo de ansiedades, vamos direto às impressões do vinho!

Na taça tem a característica cor vermelho rubi com tons violáceos bem brilhantes e reluzentes com algumas lágrimas finas e que logo se dissipam das paredes do copo.

No nariz apresenta uma explosão de frutas vermelhas como morango, cerejas, framboesas, frutas vermelhas em compota que faz e que nos estimula a ficar com o nariz próximo ao copo de uma forma quase que patológica.

Na boca é fresco, jovial, alegre, mas que mostra uma incrível personalidade, com algum corpo, mas que não esconde, em momento algum, a sua leveza, a sua elegância e a delicadeza tão comum à casta. Confirma-se também a fruta, percebida no aspecto olfativo, com taninos finos e discretos, com uma boa acidez que corrobora a sua frescura, com uma discreta nota amadeirada, graças aos 70% do vinho que passou por quatro meses em barricas de carvalho, além dos 30% restantes estagiando em tanques de aço inoxidável. Tem um final prazeroso com retrogosto frutado.

Um vinho agradável! Um vinho apaixonante! São muitos os inebriantes adjetivos que conferem ao vinho, a casta. A Pinot Noir definitivamente nos anestesia dado o prazer que ela proporciona e o Casa Silva Reserva Pinot Noir revela todos esses predicados, com a “marca” indelével de seus vinhos produzidos com essa cepa: personalidade marcante, expressividade em plena harmonia com a delicadeza e elegância oriunda desta uva desde o seu parreiral até a mesa do mais feliz enófilo. Tem 13,5% de teor alcoólico quase que imperceptíveis ao paladar.

Sobre a Casa Silva:

Quando Emilio Bouchon veio de Bordeaux ao Chile em 1892, tinha o sonho de ser pioneiro na plantação de vinhas de alta qualidade no Vale do Colchágua, e assim criou a vinícola mais antiga do vale. Em 1977, Mario Silva Cifuentes, casado com Maria Teresa Silva Bouchon, recomprou a maioria dos terrenos vendidos, e hoje é considerado visionário e inovador por ser em grande parte responsável por reviver o negócio da família. Ao longo dos anos, a empresa tem acumulado prêmios, tornando-se a vinícola chilena mais premiada no século XXI. Tendo seu funcionamento com base familiar, a Casa Silva tem membro ativamente envolvido na gestão diária do negócio, trabalhando com paixão, empenho e dedicação – fatores que só podem ser encontrados dentro de um grupo familiar que sente apego à sua terra e a seus costumes.

Os novos rumos da Casa Silva e o ápice:

inha Casa Silva nasce em 1997, seguindo um antigo desejo familiar de projetar, em uma garrafa de vinho, o amor e carinho de uma família pela sua terra, o Vale de Colchagua. Com o senhor Emílio Bouchonchegou a primeira geração ao Chile no ano 1892, procedente de Burdeos, St. Emilion, França. Desde aqueles tempos, eles se dedicaram à produção de vinhos, sendo pioneiros no Vale de Colchagua. Mas não foi até o ano 1997, que Mário Pablo Silva, filho mais velho da quinta geração,compartilha com seu pai, Mario Silva, o sonho de produzir vinhos com marca própria. Este último havia dedicado grande parte da sua vida à recuperação dos antigos vinhedos e a adega de vinhos, adquirindo um conhecimento único do terroir do Vale de Colchagua. Aos poucos foram se integrando os outros filhos, Francisco, Gonzalo e Raimundo, contribuindo ao desenvolvimento da Vinha Casa Silva. Começa então o nascimento de um vinhedo familiar e o processo de modernização de todas as atividades que nele se desenvolvem. Vinha Casa Silva é na atualidade o vinhedo chileno mais premiado do século 21.

Mais informações acesse:

https://casasilva.cl/inicio

Degustado em: 2015

 


sábado, 17 de outubro de 2020

OGV (Old Garnacha Vines) 2016

 

Há quem diga que degustar o mesmo rótulo da mesma safra duas ou mais vezes não traz nenhuma novidade, pois, segundo defendem essas pessoas, trata-se do mesmo vinho. Bem, em tese é, claro, afinal, lá está estampado o mesmo rótulo e a mesma safra. Mas não se enganem, estimados leitores, que o ato da degustação limita-se a degustação propriamente dita apenas. A boa degustação está em sintonia com outros fatores ou pelo menos deveria estar que impacta decisivamente no prazer em degustar a nossa poesia líquida. 

Uma boa companhia, o seu estado de espírito, tem todo um contexto que considero preponderante para que o vinho, o ritual da degustação seja agradável, além, é claro, do vinho em questão. E é nesse ponto que eu gostaria de destacar algo que considero de extrema importância e, embora eu não apresente nada que fundamente a minha tese concretamente, eu a defendo veementemente, com a força de uma fé, baseado em sentimentos, experiências e percepções de um enófilo com alguns anos de caminhada: mesmo que o vinho seja o mesmo, seja um rótulo exatamente igual, a safra idêntica, as percepções, as descobertas, as nuances podem ser sim diferentes. 

E o exercício da análise, a experiência podem e muito colaborar para isso. Exemplo: certas características que você não percebeu na primeira degustação, pode ser percebida na segunda degustação ou ainda o que você sentiu no sabor e no aroma na primeira degustação, chegou a conclusão de que não tinha na sua segunda experiência com o mesmo rótulo, entre outros aspectos.

Mas uma coisa se repetiu quando degustei, pela segunda vez, o OGV (Old Garnacha Vines) da região espanhola da Calatayud, da safra 2016: Que eu degustei e gostei! Que belíssimo e autêntico Garnacha espanhol, de uma região emblemática que é considerada o berço da casta na Espanha, a Catalunha. 

Mas eu não quero cair na redundância e anular as minhas teses na minha análise do vinho e também nos aspectos históricos que o rótulo está atrelado. Então, caso queira ler sobre a região da Calatayud, bem como a história da tradicional cepa Garnacha e também fazer a comparação com entre as minhas análises, leia neste link a minha primeira experiência com a OGV (Old Garnacha Vines) 2016

Espero que não fique entediado e com aquela nítida sensação de que já lera isso antes em algum lugar. Tanto que irei direto ao ponto, ao que é mais importante em todo o texto que até agora, estimado leitor, pacientemente você leu: A análise do vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi com tons violáceos, diria granada, brilhante e reluzente. Lágrimas grossas e em média intensidade, que desenha lindamente as paredes do copo.

No nariz é evidente as notas frutadas, frutas vermelhas e maduras, como framboesa, amoras, cerejas, até diria morango. Um toque de frescor, de jovialidade se percebe nos aromas, talvez um toque floral.

Na boca é saboroso, um bom volume de boca, de médio corpo tem taninos generosos e macios, com uma ótima acidez que lhe confere o frescor identificado no olfativo. Tem notas de especiarias e um final persistente e frutado.

Não posso deixar de negligenciar uma informação que julgo ser essencial para as características desse belo Garnacha: oriundo de vinhas velhas, entre 70 e 100 anos! Vinhas velhas conferem ao vinho a maciez, o equilíbrio, mas a tal da expressividade que garante personalidade ao vinho, a Garnacha. Um quesito ímpar, apesar das filosofias e metodologias implantadas pelos enólogos, bem como as suas propostas, que só a Garnacha pode proporcionar. O OGV (Old Garnacha Vines) entrega, continua entregando isso com maestria: robustez, estrutura, mas delicadeza, versatilidade. Outro detalhe que faço questão de repetir a exaustão e, desde já, caro leitor, peço-lhe imensas desculpas: é que não podemos passar pela vida decentemente sem degustar um legítimo Garnacha, seja um rótulo 100% da cepa ou em cortes, em blends, a Garnacha sempre será um personagem definitivo na cultura vitivinícola universal! E o forte regionalismo espanhol, da região da Calatayud traz toda a tipicidade da Garnacha que traduz em belíssimos rótulos que conferem expressividade e complexidade. Esse belo vinho harmoniza com massas e pizzas, carnes vermelhas e queijos mais robustos. Tem 14% de teor alcoólico bem integrados e sem passagem por barricas de carvalho que faz com que predomina as características da cepa.

Harmonizando com um belo queijo parmesão

Sobre a Bodega Virgen de la Sierra:

Situada no sopé da Sierra de la Virgen, no vale do rio Ribota, esta adega é a mais antiga de DO Calatayud. É o projeto de uma cidade inteira que deixou de fazer vinho nas vinícolas de sua família para fazer um trabalho cooperativo. Com um trabalho de mais de 60 anos, Virgen de la Sierra, hoje mantém a tradição e a sabedoria que herdou de seus ancestrais. Em processo de modernização, integrou já as mais novas tecnologias, e o resultado delas são os vinhos que hoje se produzem e que já foram inúmeras vezes reconhecidas nos últimos anos.

Mais informações acesse:

https://www.bodegavirgendelasierra.com/



domingo, 11 de outubro de 2020

Pinhel Colheita tinto 2017

 

Eu não sei quanto aos demais enófilos, mas quando a gente conhece uma vinícola ou ainda uma região e se surpreende positivamente, você quer sempre mais, buscar ainda mais rótulos, conhecer um pouco da história dos vinhos do referido produtor e daquela terra de onde veio. É como se fora um vício, talvez a palavra soe um tanto quanto dramática, mas é algo salutar e, para aqueles que curtem mesclar as degustações com história, cultura, é um prato cheio! Lembro-me como se fosse hoje, quando conheci os vinhos da Adega Cooperativa de Pinhel, oriunda da região lusitana do Beira Interior. Pouco conhecida, é bem verdade, em comparação às emblemáticas e populares regiões portuguesas do Douro, Alentejo, Tejo, por exemplo, foi outro estímulo para conhecer e degustar ainda mais os vinhos dessa região. Li algumas publicações de especialistas do universo do vinho que um vinho chamado D. João I branco foi muito bem posicionado em um ranking de degustação às cegas realizado por especialistas e jornalistas do vinho. E quando falaram que o vinho era muito barato me chamou a atenção, é claro. Em minhas incursões aos supermercados, lembrei-me de ter visto esse rótulo nas gôndolas e não hesitei em voltar lá e compra-lo, o que confesso, não ter feito antes por receio de não ser um bom vinho. Comprei e realmente, ele foi arrebatador e os meus comentários seguem neste link, o D. João I branco. E não satisfeito decidi degustar a versão tinta do D. João I e outra gratíssima surpresa! E claro, não poderia negligenciar as minhas impressões sobre ele e textualizá-las, conforme segue no link também: D. João I tinto. Então, a sorte e o garimpo sorriram para mim de novo e mais um rótulo da Adega Cooperativa de Pinhel apareceu diante dos meus olhos. Não hesitei, precisava fazer a aquisição deste novo vinho e me proporcionar uma nova experiência.

Então o vinho que degustei e gostei, o olha que eu gostei também, veio da minha mais nova queridinha região lusitana, Beira Interior, mais precisamente do Concelho de Pinhel, e se chama Pinhel Colheita, das autóctones castas Rufete e Marufo, da safra 2017. E olha que, com as gratas novidades, vem junto o prazer das descobertas que o vinho proporciona pelo menos para mim! Então, para não perder tempo, falemos um pouco do Concelho de Pinhel, que dá nome ao vinho e as castas que o compõe: Rufete e Marufo.

O Concelho de Pinhel

Pinhel é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta, região do Centro (Região das Beiras) e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, com aproximadamente 3 500 habitantes.


A origem da cidade de Pinhel é atribuída, sem grande certeza, aos Túrdulos, por volta do ano 500 a.C. O concelho de Pinhel recebeu foral de D. Sancho I em 1209, detendo funções de organização militar e jurisdição. Deve-se a D. Dinis a reedificação do Castelo de Pinhel, constituído por duas torres, e a construção da histórica muralha que rodeava a vila da época (atual zona histórica), constituída por seis portas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Tornou-se sede de diocese e cidade em 1770, durante o reinado de D. José I, por desanexação da Diocese de Lamego, mas em 1881 a Diocese de Pinhel foi extinta pela Bula Papal de Leão XIII e incorporada na Diocese da Guarda. Constitui uma zona de vinhos de altitude, média de 650m. O seu clima é extremamente frio no inverno e quente e seco no período do estio ou verão. O solo é arenoso de origem granítica e de baixa fertilidade. A sub-região de vinhos de Pinhel é ideal para vinhos brancos acídulos. No caso de vinhos tintos, se forem para envelhecimento podemos encontrar grandes surpresas. Dado que as maturações são lentas, é extremamente indicada para produção de espumantes. Os concelhos de Pinhel são: Celorico da Beira, Guarda, Meda, Pinhel e Trancoso. As castas tintas predominantes são: Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%, Baga, Tinta Carvalha, Pilongo e Trincadeira (Tinta Amarela). Já as brancas são: Bical, Arinto (Pedernã), Fonte Cal, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Rabo de Ovelha, Síria (Roupeiro) e Tamarez, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%. Os tintos costumam ser vinosos, vivos e brilhantes enquanto jovens, intensos e equilibrados, com raro bouquet quando estagiados e envelhecidos. E os brancos são vinhos aromáticos, cheios e persistentes no sabor.

Marufo

A casta Marufo tem origem no nordeste de Portugal e sua denominação não tem tradução. As regiões de maior expansão são, claro, Beira Interior, Trás-os-Montes e a emblemática e tradicional Douro.

A casta Marufo e as suas maiores incidências

Tida como uma das cepas mais antigas de Portugal há referências sobre ela que datam do ano de 1512! E é conhecida como: Abrunhal (Pinhel), Falso Mourisco, Mourisco Tinto (Douro), Marufa, Marujo, Mourico (Beira interior) Uva-rei (Trás-os-Montes), Barrete-de-Padre na região demarcada do Dão e Tinta Grossa no Alentejo. 

Rufete

A casta Rufete é a mais plantada nos encepamentos tradicionais da Beira Interior, sendo popular nas regiões do Douro e Dão. É uma casta caprichosa e exigente, reivindicando condições muito particulares para poder dar o melhor de si.

A casta Rufete e as suas maiores incidências

Sensível ao míldio e oídio, é uma casta produtiva, com cachos e bagos de tamanho médio. Por ser uma variedade de maturação tardia, tem dificuldade em madurar na plenitude, antes das chuvas do equinócio. Porém, quando amadurece bem, compõe vinhos aromáticos, encorpados, frutados e delicados, com um bom potencial de envelhecimento em garrafa. É uma casta utilizada maioritariamente como lote juntamente com a Touriga Nacional e a Tinta Roriz.

E agora o vinho!

Na taça conta com um vermelho escuro, intenso, mas com reflexos violáceos, muito brilhante e com lágrimas grossas e abundantes que teimam em permanecer nas paredes do copo, desenhando-o.

No nariz apresenta agradáveis notas frutadas, frutas vermelhas, como morango e framboesa, com muito frescor e discretos toques de especiarias

Na boca se confirmam as frutas vermelhas, um vinho de leve para corpo médio, muito macio, delicado e redondo, com taninos macios e sedosos, com acidez baixa, quase imperceptível e sútil. Tem um retrogosto de média persistência, lembrando as frutas vermelhas.

Um senhor vinho! Um surpreendente vinho! E mostra a força regionalista de uma região extremamente tradicional, embora pouco conhecida em terras brasileiras, mas que merece toda e qualquer reverência, afinal, não há nada mais expressivo e forte do que o terroir, a tipicidade de um vinho. Um vinho de personalidade marcante, de médio corpo, mas que se revela fresco, jovial, frutado, de um perfeito equilíbrio, harmônico e elegância. Como tem sido aprazível degustar os vinhos da região de Beiras. Um vinho versátil que harmoniza com comidas mais simples, refeições, mas que, ao mesmo tempo com pratos mais gordurosos, como pizza e massas, por exemplo. Um excelente custo X benefício que entregou muito mais do que valeu. Grata experiência! Tem 13% de teor alcoólico.

Pinhel Colheita harmonizado com queijo provolone

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:

http://www.acpinhel.com/index.html

Fontes de pesquisa:

Portal “Infovini”: http://www.infovini.com/classic/pagina.php?codPagina=45&codCasta=76

Portal “Wine to Wine Circle”: https://www.vinetowinecircle.com/castas_post/marufo/

Portal “Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior: http://www.cvrbi.pt/index.php/castas-cvrbi?showall=&start=1

 




 







sábado, 10 de outubro de 2020

Marquês de Casa Concha Merlot 2012


Ah o vinho! Há que diga que vinho é poesia líquida, que é a celebração, que congrega, que traz momentos de alegria. E quando o vinho é emblemático e icônico, são atrativos que agregam aos momentos e estado de espírito que o mesmo proporciona. Bem, essa é a semana no meu aniversário! Até que me provem o contrário ou que a auto estima não te engane com elementos de autoajuda ou fugazes, é um momento de alegria, de celebração, de pleno júbilo. Então o vinho adentra e protagoniza os bons momentos, trazendo o “tempero” para as nossas vidas também nos capítulos duros e difíceis pelas quais passamos. 

E hoje eu olhei com mais carinho para os cantos mais longínquos e esquecidos da minha adega e pensei com uma determinação que há tempos não tinha e disse: Preciso escolher um vinho que me proporcione uma noite aprazível no dia de hoje! E com esse ímpeto, mesclado à sede incontida escolhi um rótulo, e aí faço questão de evocar novamente as palavras aqui citadas, icônico e emblemático. 

Um vinho, cujo rótulo, me norteou a compreensão do que são bons vinhos em muitos sentidos e percepções, tais como: terroir e tipicidade, essas são as primeiras palavras que me vem à cabeça. Acredito que, embora extremamente complexas e, em determinados momentos, até incompreensíveis, são elas que nos faz entender que estamos degustando qualidade, que nos suscita, nos proporciona, aos que tem o desejo, de conhecer e imergir na cultura de um país, da filosofia de uma vinícola ou ainda no que aquele enólogo quis traduzir em cada gota que compõe aquela simples garrafa. Um vinho de uma casta que praticamente me introduziu ao universo vasto e incrível do vinho: a Merlot! E um Merlot atípico, especial, não que os anteriores não tenham sido, mas esse é deveras arrebatador.

Então, sem delongas e muito papo, o vinho que degustei e gostei vem da tradicionalíssima região do Vale do Cachapoal, de uma comuna chamada Peumo e é nada mais, nada menos que o Marquês de Casa Concha Merlot, da safra 2012. E não se enganem, caros e estimados leitores, já tive experiências singulares com essa linha de rótulos e uma pode ser conferida, com requintes de detalhes, em uma resenha que fiz sobre o Marquês de Casa Concha Carmènere 2011. Então, para variar, vamos às histórias de Cachapoal e Peumo, no Chile.

Vale do Cachapoal e Peumo

O Valle del Cachapoal – Valle del Rapel, é uma sub-região da região de Valle Central. Ocupa a parte sententrional do vale de Rapel, enquanto o vizinho meridional é Colchágua. Embora por muito tempo se tenha falado só de Rapel, pouco a pouco ambos foram se desligando dessa vizinhança a ponto de já muitos poucos rótulos falarem em um Rapel genérico.

Existe lógica por trás dessa divisão, porque as diferenças são importantes, tanto em clima quanto em topografia. Boa parte dos produtores mais importantes de Cachapoal tem seus vinhedos aos pés dos Andes, local chamado de Alto Cachapoal.

Nessa região a Cabernet Sauvignon brilha com seu frescor e elegância, mas, também, aproveitando a influência fria da cordilheira e dos pedregosos solos aluviais de média fertilidade, conseguiram-se interessantes resultados com a Viognier em brancos e  Cabernet Franc em tintos.

O poente, nos arredores de Peumo, as temperaturas aumentam, especialmente nos setores protegidos da influência marítima, como em Las Cabras. Nesse setor, o estilo delicado e elegante transforma-se em maior potência de álcool, maturidade e doçura. Isso explica por que, na região ocidental do vale, a Carménère alcance sua completa maturação sem dificuldades. Em Peumo, na margem setentrional do rio Cachapoal, são produzidos alguns dos mais interessantes Carménère do Chile, é tida como a terra da Carménère.

As brisas frescas da costa que deslizam pela bacia do rio banham os vinhedos de frescor e, ao mesmo tempo, moderam as altas temperaturas do setor. Isso explica, por exemplo, que os tintos tenham essas notas de ervas e frutas vermelhas maduras proporcionadas pelas brisas frescas.

A comuna de Peumo, localizada por volta de 100 quilômetros ao sul de Santiago, está inserida na parte norte do Vale del Cachapoal, mais precisamente às margens do rio que leva o mesmo nome. Foi nesse lugar de paisagens bucólicas e de próspera produção agrícola que a Carménère encontrou as condições climáticas e de solo desejadas para se desenvolver plenamente e se tornar uma das uvas emblemáticas do Chile.

Peumo e as demais comunas de Cachapoal

Pode-se concluir que as condições da zona de Peumo são desejadas e necessárias para se cultivar quaisquer uvas, porém os resultados obtidos com a Carménère mostram que essa zona é das melhores, senão a melhor para o seu plantio em todo Chile.

E agora o tão esperado vinho!

Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e escuro, mas brilhante, com lágrimas em profusão, grossas e que teimam em se dissipar das paredes do copo e nota-se também, graças a sua intensa coloração vermelha, um líquido caudaloso, que já denuncia um vinho intenso e estruturado.

No nariz entrega uma explosão aromática de frutas negras maduras como ameixa, notas de especiarias, pimentão, talvez, com um toque de baunilha e a madeira que lhe confere alguma complexidade, graças aos 18 meses de passagem por barrica de carvalho.

Na boca se confirma as notas frutadas, de tosta, torrefação mesmo, chocolate, com taninos de ótima textura, presentes, mas domados, com boa acidez que lhe confere um frescor e até jovialidade, apesar dos oito anos de safra. Um vinho redondo, estruturado, mas fácil de degustar, sendo equilibrado e bem versátil.

Um vinho saboroso! Embora seja uma palavra um tanto quanto genérica e usual, ela define bem, muito bem, o meu sentimento para com o excelente Merlot da linha Marquês de Casa Concha. Um vinho que no auge dos seus oito anos de safra, de vida,  está vivo, pleno e jovial. Suculento, predomina as notas da madeira, mas integrado ao conjunto do vinho, privilegiando as características da cepa, sem negligenciar as suas mais marcantes essências. O dia pediu esse momento que, como o vinho, tem e deve ser emblemático que, independente de questões existenciais e pontos de vista, a vida se faz presente e o tempo se torna mero detalhe quando é vivida em todas as suas nuances e em todos os seus dramas. Façamos isso tudo com vinho como o nosso mais fiel companheiro de todas as horas. Vida longa e próspera para mim, a todos que leem essa resenha e que o vinho seja um presente, uma dádiva para a história de todos nós. Tem 14,5% de teor alcoólico muito bem integrado ao conjunto do vinho.

Harmonizando com um queijo gruyère

Sobre o Marques de Casa Concha

Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título “Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques de Casa Concha.

Don Melchior de Santiago Concha y Toro

Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.

Sobre a Concha Y Toro

Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho, isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966, onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990 veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina entre outras.

Mais informações acesse:

http://www.marquesdecasaconcha.com/?lang=pt-pt

https://conchaytoro.com/holding/

Referências:

“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=RAPELCACHAPOAL

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uva-merlot-quando-a-popularidade-encontrou-a-elegancia/

“Blog do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/11/09/o-vale-de-cachapoal/