domingo, 11 de outubro de 2020

Pinhel Colheita tinto 2017

 

Eu não sei quanto aos demais enófilos, mas quando a gente conhece uma vinícola ou ainda uma região e se surpreende positivamente, você quer sempre mais, buscar ainda mais rótulos, conhecer um pouco da história dos vinhos do referido produtor e daquela terra de onde veio. É como se fora um vício, talvez a palavra soe um tanto quanto dramática, mas é algo salutar e, para aqueles que curtem mesclar as degustações com história, cultura, é um prato cheio! Lembro-me como se fosse hoje, quando conheci os vinhos da Adega Cooperativa de Pinhel, oriunda da região lusitana do Beira Interior. Pouco conhecida, é bem verdade, em comparação às emblemáticas e populares regiões portuguesas do Douro, Alentejo, Tejo, por exemplo, foi outro estímulo para conhecer e degustar ainda mais os vinhos dessa região. Li algumas publicações de especialistas do universo do vinho que um vinho chamado D. João I branco foi muito bem posicionado em um ranking de degustação às cegas realizado por especialistas e jornalistas do vinho. E quando falaram que o vinho era muito barato me chamou a atenção, é claro. Em minhas incursões aos supermercados, lembrei-me de ter visto esse rótulo nas gôndolas e não hesitei em voltar lá e compra-lo, o que confesso, não ter feito antes por receio de não ser um bom vinho. Comprei e realmente, ele foi arrebatador e os meus comentários seguem neste link, o D. João I branco. E não satisfeito decidi degustar a versão tinta do D. João I e outra gratíssima surpresa! E claro, não poderia negligenciar as minhas impressões sobre ele e textualizá-las, conforme segue no link também: D. João I tinto. Então, a sorte e o garimpo sorriram para mim de novo e mais um rótulo da Adega Cooperativa de Pinhel apareceu diante dos meus olhos. Não hesitei, precisava fazer a aquisição deste novo vinho e me proporcionar uma nova experiência.

Então o vinho que degustei e gostei, o olha que eu gostei também, veio da minha mais nova queridinha região lusitana, Beira Interior, mais precisamente do Concelho de Pinhel, e se chama Pinhel Colheita, das autóctones castas Rufete e Marufo, da safra 2017. E olha que, com as gratas novidades, vem junto o prazer das descobertas que o vinho proporciona pelo menos para mim! Então, para não perder tempo, falemos um pouco do Concelho de Pinhel, que dá nome ao vinho e as castas que o compõe: Rufete e Marufo.

O Concelho de Pinhel

Pinhel é uma cidade portuguesa pertencente ao distrito da Guarda, na província da Beira Alta, região do Centro (Região das Beiras) e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, com aproximadamente 3 500 habitantes.


A origem da cidade de Pinhel é atribuída, sem grande certeza, aos Túrdulos, por volta do ano 500 a.C. O concelho de Pinhel recebeu foral de D. Sancho I em 1209, detendo funções de organização militar e jurisdição. Deve-se a D. Dinis a reedificação do Castelo de Pinhel, constituído por duas torres, e a construção da histórica muralha que rodeava a vila da época (atual zona histórica), constituída por seis portas: Vila, Santiago, S. João, Marrocos, Alvacar e Marialva. Tornou-se sede de diocese e cidade em 1770, durante o reinado de D. José I, por desanexação da Diocese de Lamego, mas em 1881 a Diocese de Pinhel foi extinta pela Bula Papal de Leão XIII e incorporada na Diocese da Guarda. Constitui uma zona de vinhos de altitude, média de 650m. O seu clima é extremamente frio no inverno e quente e seco no período do estio ou verão. O solo é arenoso de origem granítica e de baixa fertilidade. A sub-região de vinhos de Pinhel é ideal para vinhos brancos acídulos. No caso de vinhos tintos, se forem para envelhecimento podemos encontrar grandes surpresas. Dado que as maturações são lentas, é extremamente indicada para produção de espumantes. Os concelhos de Pinhel são: Celorico da Beira, Guarda, Meda, Pinhel e Trancoso. As castas tintas predominantes são: Bastardo, Marufo, Rufete e Touriga Nacional, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%, Baga, Tinta Carvalha, Pilongo e Trincadeira (Tinta Amarela). Já as brancas são: Bical, Arinto (Pedernã), Fonte Cal, Malvasia Fina, Malvasia Rei, Rabo de Ovelha, Síria (Roupeiro) e Tamarez, no conjunto ou em separado, com um mínimo de 80%. Os tintos costumam ser vinosos, vivos e brilhantes enquanto jovens, intensos e equilibrados, com raro bouquet quando estagiados e envelhecidos. E os brancos são vinhos aromáticos, cheios e persistentes no sabor.

Marufo

A casta Marufo tem origem no nordeste de Portugal e sua denominação não tem tradução. As regiões de maior expansão são, claro, Beira Interior, Trás-os-Montes e a emblemática e tradicional Douro.

A casta Marufo e as suas maiores incidências

Tida como uma das cepas mais antigas de Portugal há referências sobre ela que datam do ano de 1512! E é conhecida como: Abrunhal (Pinhel), Falso Mourisco, Mourisco Tinto (Douro), Marufa, Marujo, Mourico (Beira interior) Uva-rei (Trás-os-Montes), Barrete-de-Padre na região demarcada do Dão e Tinta Grossa no Alentejo. 

Rufete

A casta Rufete é a mais plantada nos encepamentos tradicionais da Beira Interior, sendo popular nas regiões do Douro e Dão. É uma casta caprichosa e exigente, reivindicando condições muito particulares para poder dar o melhor de si.

A casta Rufete e as suas maiores incidências

Sensível ao míldio e oídio, é uma casta produtiva, com cachos e bagos de tamanho médio. Por ser uma variedade de maturação tardia, tem dificuldade em madurar na plenitude, antes das chuvas do equinócio. Porém, quando amadurece bem, compõe vinhos aromáticos, encorpados, frutados e delicados, com um bom potencial de envelhecimento em garrafa. É uma casta utilizada maioritariamente como lote juntamente com a Touriga Nacional e a Tinta Roriz.

E agora o vinho!

Na taça conta com um vermelho escuro, intenso, mas com reflexos violáceos, muito brilhante e com lágrimas grossas e abundantes que teimam em permanecer nas paredes do copo, desenhando-o.

No nariz apresenta agradáveis notas frutadas, frutas vermelhas, como morango e framboesa, com muito frescor e discretos toques de especiarias

Na boca se confirmam as frutas vermelhas, um vinho de leve para corpo médio, muito macio, delicado e redondo, com taninos macios e sedosos, com acidez baixa, quase imperceptível e sútil. Tem um retrogosto de média persistência, lembrando as frutas vermelhas.

Um senhor vinho! Um surpreendente vinho! E mostra a força regionalista de uma região extremamente tradicional, embora pouco conhecida em terras brasileiras, mas que merece toda e qualquer reverência, afinal, não há nada mais expressivo e forte do que o terroir, a tipicidade de um vinho. Um vinho de personalidade marcante, de médio corpo, mas que se revela fresco, jovial, frutado, de um perfeito equilíbrio, harmônico e elegância. Como tem sido aprazível degustar os vinhos da região de Beiras. Um vinho versátil que harmoniza com comidas mais simples, refeições, mas que, ao mesmo tempo com pratos mais gordurosos, como pizza e massas, por exemplo. Um excelente custo X benefício que entregou muito mais do que valeu. Grata experiência! Tem 13% de teor alcoólico.

Pinhel Colheita harmonizado com queijo provolone

Sobre a Adega Cooperativa de Pinhel:

Desde tempos muito antigos que em Pinhel, e seu termo, se praticava a cultura da vinha e se produziam vinhos de alta qualidade; já nos princípios do ano 1500, o Rei D. Manuel I, o Venturoso, concedeu diversas regalias e privilégios em favor dos vinhos de Pinhel. Em 1942 e 1943, houve colheitas abundantes e não havia escoamento para a produção, foi então que a Junta Nacional do Vinho, recentemente criada, como organismo de Coordenação Económica, e que veio substituir a antiga Federação dos  Vinicultores do Centro e Sul de Portugal, instalou em Pinhel uma caldeira móvel de destilação, acionada por uma geradora locomóvel, em que foram destilados milhões de litros de vinho e que veio resolver a crise gravíssima, que afetava os lavradores da Região, que viviam exclusivamente do rendimento do vinho. De todos os Organismos Corporativos, criados pelo Estado Novo, a Junta Nacional do Vinho, era o mais querido, pelos beneficias que trouxe a toda a região vitivinícola, por isso os vinicultores depositavam toda a confiança esperançados que o organismo, quando necessário, lhe resolvesse os problemas respeitantes ao vinho. Os vinhos desta área eram tão bons que as aguardentes vínicas resultantes da destilação ficavam de finíssima qualidade. Quando transportadas para os armazéns da Mealhada não eram misturadas com outras provenientes de outras áreas ficando em depósitos separados. Em 1945, a Junta Nacional do Vinho iniciou a instalação de duas caldeiras fixas de destilação contínua, que trabalhavam de dia e de noite, só paravam cada 15 dias para limpeza. Como era pena destilar vinhos de tão boa qualidade, a Junta Nacional do Vinho, em colaboração com o Grémio da Lavoura de Pinhel, pensou na criação da Adega Cooperativa, nas suas próprias instalações que tinham sido compradas à Câmara Municipal de Pinhel e que tinham ficado devolutas pela saída das Forças Militares, ali aquarteladas, e que se tinham revoltado contra o Governo da Ditadura Militar.Em 1947, construíram-se 6 lagares em granito, no parque utilizado pelas viaturas militares e os tonéis foram montados nas cavalariças depois de devidamente adaptadas. A primeira laboração foi feita por processos artesanais, pois em Pinhel não havia energia eléctrica com potência suficiente e a mesma era desligada à meia-noite; às próprias bombas de trasfega, eram movidas por motores de explosão. Foram 33 sócios, a entregar as uvas nesse ano na Adega; embora com bastantes dificuldades, estava criada e posta a funcionar a Adega Cooperativa. Dos primitivos 33 cooperantes, atingiu-se os 2.300 atuais.

Maiores informações acesse:

http://www.acpinhel.com/index.html

Fontes de pesquisa:

Portal “Infovini”: http://www.infovini.com/classic/pagina.php?codPagina=45&codCasta=76

Portal “Wine to Wine Circle”: https://www.vinetowinecircle.com/castas_post/marufo/

Portal “Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior: http://www.cvrbi.pt/index.php/castas-cvrbi?showall=&start=1

 




 







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