quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Marquês de Casa Concha Carmènére 2011
terça-feira, 5 de janeiro de 2021
Marquês de Casa Concha Cabernet Sauvignon 2014
Falar e degustar um vinho da Concha y Toro, a gigante
vinícola das américas e do mundo, pode parecer simples, fácil e até, para
alguns críticos ferrenhos deste produtor, banal, mas não sabem o quanto é
maravilhoso, o quanto é prazeroso. Lembro-me, com grande nostalgia, dos tempos
de outrora quando comecei a degustar os vinhos produzidos com castas, com uvas
vitis vinífera, e a importância dos vinhos da Concha y Toro, mesmos que tenham
sido os seus rótulos básicos, para a minha história de enófilo, para essa tão
importante transição das uvas de mesa para os vinhos finos. Talvez seja fácil
por ele ter tido essa representatividade em minha vida, simples porque é nobre,
mas, vos digo, que não é nada banal, muito pelo contrário, meus bons amigos, é
único, é especial. Essa visão preconceituosa, sobretudo dos tais “formadores de
opinião”, de que, pelo simples fato é uma indústria, são vinhos produzidos em
larga escala e que, por conta disso, são considerados vinhos pouco expressivos
e que não fidelizam as características de seus terroirs e de suas cepas. Não se
enganem, vinho é vinho! Existem vinhos bons, ruins, com inúmeras propostas em
todas as circunstâncias, sejam vinhos de garagem, vinhos de autor, orgânicos,
de produção de larga escala.
E o meu ápice com a seminal Concha y Toro foi com um dos seus
mais emblemáticos e importantes vinhos que, desde 1976, é sinônimo de qualidade
e consistência no que tange a sua tipicidade: Marquês de Casa Concha! Um nome
vultoso, como a sua bebida, um vinho complexo, estruturado, poderoso e que tem
no seu enólogo, Marcelo Papa, um alquimista, um idealizador que opera milagres
com as suas mãos e alma, inteiramente entregue à concepção e produção desses
vinhos que representam as regiões mais importantes do Chile.
E o vinho que degustei e gostei veio do Chile, é claro, da
região do Vale del Maipo, o Marquês de Casa Concha, da casta Cabernet Sauvignon
da safra 2014. Um vinho complexo, estruturado, potente e com um potencial de
guarda que não pude esperar. O vinho me chamava da adega e hipnotizado cedi aos
seus encantos. Com três anos de vida a degustação se fez necessária e urgente
às minhas experiências sensoriais. E, antes de falar nele com requintes de
detalhes, falemos um pouco do Vale del Maipo, da sua história.
Vale del Maipo
O Vale de Maipo é a única região vinícola do mundo com
vinhedos nos limites urbanos de uma capital, Santiago, de 5,5 milhões de
habitantes. O vale abriga o maior número de vinícolas do Chile, muitas delas
com uma longa tradição vinícola que remonta ao início da produção chilena, e
caves do século 19. Trata-se de uma área chamada, muitas vezes, de “Bordeaux da
América do Sul”, onde o Cabernet Sauvignon é, sem dúvidas, o exemplar mais
conhecido. Maipo está localizado no extremo norte do Valle Central, onde a
faixa costeira separa a costa do Oceano Pacífico e, no lado oriental a
Cordilheira dos Andes se divide, separando a região de Mendoza do Vale do
Maipo. As primeiras vinhas cultivadas na região chilena datam de 1540, contudo,
foi apenas em 1800 que a cultura vinícola começou a se expandir notoriamente,
tornando-se uma referência entre os vinhos sul-americanos.
A região pode ser dividida em três sub-regiões, Maipo Bajo,
Central Maipo e Alto Maipo. Os vinhedos cultivados em Alto Maipo, ou Maipo
Superior, percorrem a borda oriental da Cordilheira dos Andes, se beneficiando
de altitudes entre 400 e 760 metros. Nesta altura, os dias são quentes e as
noites frias, proporcionando uma lenta maturação das uvas, isto é, uvas com
maiores índices de acidez. Central Maipo, conhecida também como Maipo Médio, é
uma sub-região de clima mais quente do que no Alto Maipo, bem como solos com
maiores composições de argila, dando origem a vinhos mais refinados e
elegantes. A uva Cabernet Sauvignon continua sendo a variedade mais cultivada
na região, apesar de existirem pequenos cultivos da Carmenère, casta
beneficiada graças as temperaturas mais quentes. Por fim, a sub-região do Bajo
Maipo está situada em torno das cidades de Talagante e Isla de Maipo, onde
apesar de existir o cultivo das vinhas, encontra-se com maior facilidade
diversas vinícolas. Alguns produtores estão localizados perto do rio, onde a
brisa fresca proporciona microclimas adequados para o cultivo, principalmente,
de uvas brancas, além da Cabernet Sauvignon. Valle del Maipo ganhou sua
denominação de origem controlada em 1994, decretada pelo governo chileno.
A região vinícola do Valle del Maipo possui 13 denominações: Alhue (DO), Buin (DO), Calera de Tango (DO), Colina (DO), Isla de Maipo (DO), Lampa (DO), Maria Pinto (DO), Melipilla (DO), Pirque (DO), Puente Alto (DO), Santiago (DO), Talagante (DO) e Til Til (DO).
E agora o vinho!
Na taça apresenta um belíssimo vermelho rubi intenso, escuro
e muito brilhante, sem nenhuma transparência, caudaloso e com uma abundante
concentração de lágrimas, finas e que teimam a se dissipar das paredes do copo.
No nariz sobressaem as notas as notas de frutas negras
maduras se destacando a ameixa e amora, mas, por outro lado, o frescor se fazia
presente, até pela sua jovialidade evcom toques de baunilha e de especiarias, sobretudo
as picantes.
Na boca o vinho confirma o olfato, revelando-se frutado,
sendo potente e estruturado, as especiarias também aparece no palato, com
taninos gulosos e pronunciados e, como todo jovem robusto, ainda um pouco
arredio, mas decidi desafiá-lo e acompanhei as suas modificações em taça. A
acidez é agradável, um toque amadeirado bem integrado, mostrando seu estágio de
16 meses em barricas de carvalho, além do tabaco e um persistente final longo e
cheio.
Como tratar com desdém e rejeição um vinho com essa estirpe?
Um vinho voluptuoso, de marcante personalidade que fideliza, que retrata os
mais reveladores e tradicionais, mas com uma assinatura arrojada e
contemporânea, terroirs do Chile. É fácil, é comum, é simples falar dos vinhos
da Concha y Toro? Pode não ser novidade, o Marquês de Casa Concha pode ser um
vinho conhecida deveras nas terras brasileiras, mas nunca podemos negligenciar
a sua importância, a sua qualidade e o impacto avassalador aos nossos paladares
e olfatos. Um vinho nobre, simples, a simplicidade da nobreza nos seus mais
potentes goles que saboreia a alma. Tem 14% de teor alcoólico muito bem
integrado ao conjunto do vinho.
Sobre o Marques de Casa Concha:
Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título
“Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu
meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o
fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques
de Casa Concha.
Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores
nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado
em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal
vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas
práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora
na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em
todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a
completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as
condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras
demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.
Sobre a Concha Y Toro:
Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e
empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa
pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho,
isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira
exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a
expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966,
onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu
principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990
veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de
vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina
entre outras.
Mais informações acesse:
http://www.marquesdecasaconcha.com/?lang=pt-pt
https://conchaytoro.com/holding/
Fontes de pesquisa:
“Vinci”: https://www.vinci.com.br/c/regiao/valle-del-maipo
“Blog Divvino”: https://www.divvino.com.br/blog/colchagua-chile/
“Academia do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=MAIPO#:~:text=O%20vale%20abriga%20o%20maior,produzidos%2C%20at%C3%A9%20o%20planalto%20central.
Degustado em: 2017
sábado, 10 de outubro de 2020
Marquês de Casa Concha Merlot 2012
Ah o vinho! Há que diga que vinho é poesia líquida, que é a celebração, que congrega, que traz momentos de alegria. E quando o vinho é emblemático e icônico, são atrativos que agregam aos momentos e estado de espírito que o mesmo proporciona. Bem, essa é a semana no meu aniversário! Até que me provem o contrário ou que a auto estima não te engane com elementos de autoajuda ou fugazes, é um momento de alegria, de celebração, de pleno júbilo. Então o vinho adentra e protagoniza os bons momentos, trazendo o “tempero” para as nossas vidas também nos capítulos duros e difíceis pelas quais passamos.
E hoje eu olhei com mais carinho para os cantos mais longínquos e esquecidos da minha adega e pensei com uma determinação que há tempos não tinha e disse: Preciso escolher um vinho que me proporcione uma noite aprazível no dia de hoje! E com esse ímpeto, mesclado à sede incontida escolhi um rótulo, e aí faço questão de evocar novamente as palavras aqui citadas, icônico e emblemático.
Um vinho, cujo rótulo, me norteou a compreensão do que são bons vinhos em muitos sentidos e percepções, tais como: terroir e tipicidade, essas são as primeiras palavras que me vem à cabeça. Acredito que, embora extremamente complexas e, em determinados momentos, até incompreensíveis, são elas que nos faz entender que estamos degustando qualidade, que nos suscita, nos proporciona, aos que tem o desejo, de conhecer e imergir na cultura de um país, da filosofia de uma vinícola ou ainda no que aquele enólogo quis traduzir em cada gota que compõe aquela simples garrafa. Um vinho de uma casta que praticamente me introduziu ao universo vasto e incrível do vinho: a Merlot! E um Merlot atípico, especial, não que os anteriores não tenham sido, mas esse é deveras arrebatador.
Então, sem delongas e muito papo, o vinho que degustei e gostei vem da tradicionalíssima região do Vale do Cachapoal, de uma comuna chamada Peumo e é nada mais, nada menos que o Marquês de Casa Concha Merlot, da safra 2012. E não se enganem, caros e estimados leitores, já tive experiências singulares com essa linha de rótulos e uma pode ser conferida, com requintes de detalhes, em uma resenha que fiz sobre o Marquês de Casa Concha Carmènere 2011. Então, para variar, vamos às histórias de Cachapoal e Peumo, no Chile.
Vale do Cachapoal e Peumo
O
Valle del Cachapoal – Valle del Rapel, é uma sub-região da região de Valle
Central. Ocupa a parte sententrional do vale de Rapel, enquanto o vizinho
meridional é Colchágua. Embora por muito tempo se tenha falado só de Rapel,
pouco a pouco ambos foram se desligando dessa vizinhança a ponto de já muitos
poucos rótulos falarem em um Rapel genérico.
Existe
lógica por trás dessa divisão, porque as diferenças são importantes, tanto em
clima quanto em topografia. Boa parte dos produtores mais importantes de
Cachapoal tem seus vinhedos aos pés dos Andes, local chamado de Alto Cachapoal.
Nessa
região a Cabernet Sauvignon brilha com seu frescor e elegância, mas, também,
aproveitando a influência fria da cordilheira e dos pedregosos solos aluviais
de média fertilidade, conseguiram-se interessantes resultados com a Viognier em
brancos e Cabernet Franc em tintos.
O poente, nos arredores de Peumo, as temperaturas aumentam, especialmente nos setores protegidos da influência marítima, como em Las Cabras. Nesse setor, o estilo delicado e elegante transforma-se em maior potência de álcool, maturidade e doçura. Isso explica por que, na região ocidental do vale, a Carménère alcance sua completa maturação sem dificuldades. Em Peumo, na margem setentrional do rio Cachapoal, são produzidos alguns dos mais interessantes Carménère do Chile, é tida como a terra da Carménère.
As brisas frescas da costa que deslizam pela bacia do rio banham os vinhedos de frescor e, ao mesmo tempo, moderam as altas temperaturas do setor. Isso explica, por exemplo, que os tintos tenham essas notas de ervas e frutas vermelhas maduras proporcionadas pelas brisas frescas.
A
comuna de Peumo, localizada por volta de 100 quilômetros ao sul de Santiago,
está inserida na parte norte do Vale del Cachapoal, mais precisamente às
margens do rio que leva o mesmo nome. Foi nesse lugar de paisagens bucólicas e
de próspera produção agrícola que a Carménère encontrou as condições climáticas
e de solo desejadas para se desenvolver plenamente e se tornar uma das uvas
emblemáticas do Chile.
Pode-se
concluir que as condições da zona de Peumo são desejadas e necessárias para se
cultivar quaisquer uvas, porém os resultados obtidos com a Carménère mostram
que essa zona é das melhores, senão a melhor para o seu plantio em todo Chile.
E agora o tão esperado vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi intenso e escuro, mas brilhante,
com lágrimas em profusão, grossas e que teimam em se dissipar das paredes do
copo e nota-se também, graças a sua intensa coloração vermelha, um líquido caudaloso,
que já denuncia um vinho intenso e estruturado.
No nariz entrega uma explosão aromática de frutas negras
maduras como ameixa, notas de especiarias, pimentão, talvez, com um toque de
baunilha e a madeira que lhe confere alguma complexidade, graças aos 18 meses
de passagem por barrica de carvalho.
Na boca se confirma as notas frutadas, de tosta, torrefação
mesmo, chocolate, com taninos de ótima textura, presentes, mas domados, com boa
acidez que lhe confere um frescor e até jovialidade, apesar dos oito anos de
safra. Um vinho redondo, estruturado, mas fácil de degustar, sendo equilibrado
e bem versátil.
Um vinho saboroso! Embora seja uma palavra um tanto quanto
genérica e usual, ela define bem, muito bem, o meu sentimento para com o
excelente Merlot da linha Marquês de Casa Concha. Um vinho que no auge dos seus
oito anos de safra, de vida, está vivo,
pleno e jovial. Suculento, predomina as notas da madeira, mas integrado ao
conjunto do vinho, privilegiando as características da cepa, sem negligenciar
as suas mais marcantes essências. O dia pediu esse momento que, como o vinho,
tem e deve ser emblemático que, independente de questões existenciais e pontos
de vista, a vida se faz presente e o tempo se torna mero detalhe quando é
vivida em todas as suas nuances e em todos os seus dramas. Façamos isso tudo
com vinho como o nosso mais fiel companheiro de todas as horas. Vida longa e
próspera para mim, a todos que leem essa resenha e que o vinho seja um
presente, uma dádiva para a história de todos nós. Tem 14,5% de teor alcoólico
muito bem integrado ao conjunto do vinho.
Sobre o Marques de Casa Concha
Em 1718 o Rei Filipe V de Espanha concedeu o nobre título
“Marques de Casa Concha” a José de Santiago Concha y Salvatierra pelo seu
meritório trabalho como Governador do Chile e Cavaleiro de Calatrava. Nasce o
fundador da vinícola, Don Melchor de Santiago Concha y Toro, o sétimo Marques
de Casa Concha.
Em homenagem ao título hereditário e refletindo tais valores nobres e tradicionais, um Cabernet Sauvignon de 1972 de Puente Alto foi lançado em 1976. Carregava o distinto rótulo Marques de Casa Concha e era o principal vinho da Viña Concha y Toro na época. Em 1990 os avanços no vinhedo, nas práticas de produção de vinho e nos melhores equipamentos levaram a uma melhora na qualidade do vinho e tornaram o rótulo Marques de Casa Concha procurado em todo o mundo. Marques de Casa Concha é a linha de vinhos chilena que abrange a completa diversidade do Chile, com vinhedos onde a complexa relação entre as condições naturais, a planificação do vinhedo, e os anos que as parreiras demoraram a crescer, proporcionam um caráter único para a linha inteira.
Sobre a Concha Y Toro
Em 1883 Don Melchior Concha y Toro, importante político e
empresário chileno, funda a Viña Concha y Toro. A empresa se torna uma empresa
pública limitada e expande se nome comercial para a produção geral de vinho,
isso em 1922. Em 1933 começam a ser negociadas na Bolsa de Valores e a primeira
exportação é feita. No ano de 1957 se estabelece as bases produtivas para a
expansão da vinícola, com a produção do vinho Casillero del Diablo, em 1966,
onde começaram a investir em vinhos mais complexos, lançando em 1987, o seu
principal rótulo, “Don Melchior”, homenageando o seu fundador. A década de 1990
veio com as criações de várias vinícolas nos principais países produtores de
vinhos da América Latina, tais como Cono Sur, no Chile, Trivento, na Argentina entre
outras.
Mais informações acesse:
http://www.marquesdecasaconcha.com/?lang=pt-pt
https://conchaytoro.com/holding/
Referências:
“Academia
do Vinho”: https://www.academiadovinho.com.br/__mod_regiao.php?reg_num=RAPELCACHAPOAL
“Clube
dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/uva-merlot-quando-a-popularidade-encontrou-a-elegancia/
“Blog
do Jeriel”: https://blogdojeriel.com.br/2011/11/09/o-vale-de-cachapoal/
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
Casa Marques Pereira Reserva Malbec 2019
Vinho: Casa Marques Pereira
Reserva
Safra: 2019
Casta: Malbec
Região: Monte
Belo do Sul, Rio Grande do Sul
País: Brasil
Produtor: Casa Marques Pereira
Adquirido: Site Vinhos &
Vinhos
Valor: R$ 74,90
Teor Alcoólico: 13%
Estágio: 12 meses em barricas
de carvalho francês
Análise:
Visual: revela um rubi
intenso, intransponível, escuro, com halos granada, trazendo lágrimas grossas,
lentas, viscosas e em profusão.
Nariz: aromas complexos de
frutas negras e vermelhas maduras, com toques florais que lembram violetas,
além das notas amadeiradas evidentes, porém bem integradas, que aportam
baunilha, cedro, baunilha, tudo isso envolto em especiarias, com destaque para cravo,
pimenta e ervas.
Boca: traz complexidade, que
lhe confere personalidade e alguma estrutura, porém é macio, sedoso e logo
equilibrado. As notas frutadas são percebidas, bem como as amadeiradas, em
perfeito equilíbrio, entregando frescor, baunilha, discreto chocolate. Os
taninos são presentes, mas amáveis, a acidez é média e o final de persistência.
Produtor:
sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
Marqués de Toledo Gran Reserva Tempranillo (80%) e Cabernet Sauvignon (20%) 2011
As vezes alguns discursos engessados no universo do vinho me
aborrecem! Sabe aquela coisa que falam com demasiada reverência: “Ah os vinhos
da região ‘x’ são excelentes”! “Os vinhos da região ‘x’ são especiais”! Sempre
são os vinhos de uma determinada região em detrimento de várias outras que
fazem questão de jogar no ostracismo.
Por isso sempre faço questão de dizer UNIVERSO DO VINHO! Ele
é vasto, gigante, diversificado, logo traz inúmeras regiões com suas
peculiaridades, especificidades e tudo o mais. Será que realmente não merecemos
desbravar todas elas? Ou pelo menos boa parte delas, até porque precisaríamos
viver mil anos para degustar todos os vinhos do mundo.
E apenas para citar um exemplo: Espanha! Espanha é um dos
“centros” produtivos de vinhos com o maior número de regiões, hectares e tudo o
que tem direito do planeta. Por que ficar restrito a Rioja e Ribera del Duero?
Evidente que são regiões emblemáticas, importantes,
tradicionais e que merecem a relevância, o pedestal que as colocam, mas,
pergunto mais uma vez: Será que só existem essas regiões, as demais não podem
apresentar particularidades, algo especial?
Eu respondo! Sim! E de imediato apresento uma que descobri,
confesso e com certa vergonha, recentemente: Castilla La Mancha. A terra do
errante Dom Quixote tem revelado para mim alguns vinhos excepcionais, diria
surpreendentes para mim. A escolha foi boa? Sorte de principiante? Não sei dizer
ao certo, mas o fato é que as escolhas foram certeiras.
O discurso mais forte que segmenta essa região por parte dos
“formadores de opinião” é: “Ah são vinhos de volume! ” Vinhos de volume tem de
ser sempre ruins? Quais os critérios? Talvez tenham alguns pontos técnicos, de
vinificação, mas me parece que são campanhas perversas de exclusão dessas
regiões e social também.
Então com o meu espírito subversivo e fora da caixinha, tenho
me aventurado nessas regiões “alternativas” da Espanha, como Utiel-Requena,
Valdepeñas, Castilla La Mancha etc. A Espanha é gigantesca e oferece um mundo
de terroirs, de características de vinhos, dos mais básicos aos mais complexos.
E por falar em complexidade e também nessa incessante busca
por todas as regiões espanholas eu tenho me fixado, quase ao ponto de uma “doce
patologia”, em vinhos “reservas”, “gran reservas” que reinam absolutos na
Espanha. Afinal é na Espanha que tais nomenclaturas são ostentadas com rigor,
seguindo uma legislação (Lei 24/2003, de 10 de julio, de la Viña y del Vino)
que garante o mínimo de qualidade aos rótulos.
Mas será que garantem a qualidade? Não! Mas traz um norte às
propostas que carregam, entregam o que realmente são e isso, por si só, já traz
um estímulo à degustação.
E a degustação de hoje marcará uma estreia: a primeira
degustação de um “Gran Reserva” de Castilla La Mancha! E um Gran Reserva com
seus 11 anos de garrafa, 11 anos de vida! Uma série de momentos especiais em
apenas um rótulo!
Então sem mais delongas vamos às apresentações! O vinho que
degustei e gostei veio de Albacete, Castilla La Mancha, e se chama Marques de
Toledo Gran Reserva das castas Tempranillo (80%) e Cabernet Sauvignon (20%) da
safra 2011. Então vamos às histórias, para não perder o costume.
Castilla La Mancha, a terra de Dom Quitoxe e os seus Moinhos
de Vento
Bem ao centro da Espanha, país com a maior área de vinhas
plantadas em todo o mundo e o terceiro maior mercado produtor de vinhos, está
localizada a região vitivinícola de Castilla La Mancha. Um território com
grande extensão de terra quase que completamente plana, sem grandes
elevações. É nessa macrorregião que se
origina quase 50% do total de litros de vinho produzidos anualmente na Espanha.
O nome “La Mancha” tem origem na expressão “Mantxa” que em
árabe significa “terra seca”, o que de fato caracteriza a região. Neste
território, o clima continental ao extremo provoca grandes diferenças de
temperaturas entre verão e inverno.
Nos dias quentes de verão os termômetros podem alcançar os
45°C, enquanto nas noites rigorosas de frio intenso do inverno, as temperaturas
negativas podem chegar a até -15°C.
A irrigação torna-se muitas vezes essencial: além do baixo
índice pluviométrico devido ao caráter continental e mediterrâneo do clima, o
local se torna ainda mais seco graças ao seu microclima, que impede a entrada
de correntes marítimas úmidas.
A ocorrência de sol por ano é de aproximadamente 3.000 horas.
Esta macrorregião é composta por várias regiões menores, incluindo sete
“Denominações de Origem”, das quais se pode destacar La Mancha e Valdepeñas.
La Mancha: é a principal região dentre elas, sendo
considerada a maior DO da Espanha e a mais extensa zona vinícola do mundo. O território abrange 182 municípios,
distribuídos em quatro províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo. As
principais uvas produzidas naquele solo são a uva branca Airen e a popular
tinta espanhola Tempranillo, também conhecida localmente como Cencibel.
Valdepeñas: localizada mais ao sul, mas com as mesmas condições
climáticas, tem construído sua boa reputação graças à produção de vinhos de
grande qualidade, normalmente varietais da uva Tempranillo ou blends desta com
castas internacionais.
A DO La Mancha conta mais de 164.000 hectares de vinhedos
plantados. Com isso, é a maior Denominação de Origem do país e a maior área
vitivinícola contínua do mundo, abrangendo 182 municípios, divididos em quatro
províncias: Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Toledo.
As castas mais cultivadas em Castilla de La Mancha são: Airén,
Viúra, Sauvignon Blanc e Chardonnay entre as brancas e as tintas são:
Tempranillo, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Grenache.
Classificação dos rótulos da DO de Castilla La Mancha:
Jóven: Categoria mais básica, sem passagem
por madeira, para ser consumido preferencialmente no mesmo ano da colheita.
Tradicional: Sem passagem por madeira, porém com
mais estrutura do que o Jóven.
Envelhecimento em
barris de carvalho:
Envelhecimento mínimo de 90 dias em barris de carvalho.
Crianza: Envelhecimento natural de dois anos,
sendo, pelo menos, seis meses em barris de carvalho.
Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 12
meses em barris de carvalho e 24 meses em garrafa.
Gran Reserva: Envelhecimento de, no mínimo, 18
meses em barris de carvalho e 42 meses em garrafa.
Espumante: Produzidos a partir do método
tradicional (segunda fermentação em garrafa), com no mínimo nove meses de
autólise.
E agora finalmente o vinho!
Na taça revela um vermelho rubi intenso, com halos já
evoluídos, atijolados, denotando os seus 11 anos de vida, com lágrimas grossas
e esparsas e bem lentas.
No nariz traz exuberantes notas de frutas pretas maduras,
tais como cereja preta, amoras e frutas secas. Os 24 meses de barricas de carvalho
se apresentam com notas amadeiradas, baunilha, tosta, especiarias, algo de
herbáceo, vegetal, couro e tabaco. Uma complexidade típica.
Na boca é seco, de média estrutura, mas elegante, afinal o
tempo de garrafa se encarregou de deixa-lo complexo e macio, com as notas
frutadas protagonizando como no aspecto olfativo. O toque herbáceo também dá o
ar da graça, bem como aquele toque de terra, terroso, de terra molhada, com
taninos presentes, mas domados, com acidez média, amadeirado, que lhe confere
discreto chocolate e um final de média persistência.
11 anos de vida! E ainda um longo caminho pela frente! Um
vinho pleno, complexo em um misto de frutas negras e aromas terciários
revelando a sua versatilidade, a sua complexidade. Alguma estrutura, densidade,
mas que o tempo conferiu elegância e equilíbrio. Por isso que esses especiais
espanhóis vêm me ganhando a cada experiência sensorial. Que venham mais e mais
momentos como esse! Tem 13% de teor alcoólico.
Sobre a Bodegas Lozano:
Em 1853 começa a história da vinícola, quando a família
Lozano planta as primeiras vinhas em Villarrobledo (município da Espanha na
província de Albacete, comunidade autônoma de Castilla-La-Mancha) formada
principalmente pela variedade Aíren, nativa da região. Desde então, foram
quatro gerações na gestão da adega, sempre apostando no bom trabalho e no uso
de técnicas tradicionais na elaboração.
Em 1985, as instalações existentes foram adquiridas. Desde
então, houve muitas melhorias que foram desenvolvidas, proporcionando um
aumento considerável na capacidade de vinificação.
Em 2005, a Lozano diversificou o negócio e começou a
concentrar-se em sucos e concentrados de uva, formando a empresa CONUVA, usando
o mesmo roteiro: para alcançar a mais alta qualidade em todos os seus produtos
e para agregar valor diferenciado a todos os clientes, a confiança.
A adega passou por diferentes estágios que forjaram o que é
hoje: uma empresa familiar e profissional que é referência no setor
vitivinícola que aposta adaptação aos novos tempos através de novos produtos e
formatos.
Mais informações acesse:
https://bodegas-lozano.com/es/
Referências:
“Enologuia”: https://enologuia.com.br/regioes/245-a-regiao-de-castilla-la-mancha-a-terra-de-dom-quixote
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinhos-dos-moinhos_4580.html
“Blog VinhoSite”: http://blog.vinhosite.com.br/la-mancha-maior-regiao-produtora-vinhos-espanha/
sábado, 19 de dezembro de 2020
Vielas tinto 2019
Ah os vinhos de Lisboa! Os vinhos que são a personificação de
Portugal, da identidade cultural deste país que, apesar de ser tão pequeno
geograficamente, mas que se mostra gigante na sua diversidade de terroirs e de
vinhos nas suas propostas e personalidades. Mas os vinhos lisboetas ganharam o
meu coração e afeto de forma infinita. Há se caminhar e ter que explorar sobre
esse chão, sobre essa região, sobre essa história que foi e está sendo escrita
e enraizada nas vinhas e na alma desse povo que respira e sintetiza o que há de
melhor no vinho, o que há de significativo nessa bebida sagrada que retrata
cada canto, cada manifestação cultural de um país, de uma região, de um povo. E
por mais que eu soe redundante no que tange aos meus comentários da região de
Lisboa e de seus vinhos, não hesitarei em fazê-los, pois, o que pode se tornar
um mero elogio, pode se tornar um mantra, entoado com muito respeito e
reverência.
E eu falei de região, de história, de terroir, de geografia e
não é que o meu rótulo de hoje abrange um pouco de tudo? E mostra isso de forma
significativa e evidente aos olhos e paladar. As expectativas que alimentei
saciaram minhas sensações, a minha taça se encheu de prazer e como exaltei cada
gole, cada degustação. Um vinho surpreendente, um vinho simples, mas nobre,
correto e delicioso, mas não quero começar falando do desfecho. Preciso mostrar
o rótulo, apresentar o vinho que degustei e gostei e que vem, é claro, de
Lisboa, em Portugal, e que se chama Vielas, um IG Lisboa, uma Indicação
Geográfica, com um blend tipicamente lusitano das castas Castelão, Aragonez e Trincadeira
e safra 2019. E por que disse que esse vinho, esse rótulo engloba história,
geografia e cultura? Porque o vinho promove esses momentos sempre, mas dessa
vez o faz de forma eloquente porque leva no seu nome uma região tradicional de
Lisboa: As suas vielas ou os seus becos e, para variar, não podemos deixar de
falar um pouco de cada canto, de cada rua que sintetiza a história de Lisboa e
que a Parras Wines decidiu homenagear e que falarei um pouco aqui além do
conceito de Indicação Geográfica (IG) e das regiões demarcadas com essa
classificação, não só em Lisboa, como em outros lugares de Portugal.
As Vielas de Lisboa
Lisboa conta com 153 Becos, sendo que no decorrer dos séculos
alguns deles ganharam o estatuto de travessa por via de alterações urbanísticas
ou por solicitação dos residentes. O Beco é uma rua estreita e curta, muitas
vezes sem saída, ou se quisermos numa só palavra, é sinónimo de viela. A
toponímia empregue nos becos lisboetas caracteriza-se pelo uso das suas
peculiaridades, do tipo de artesãos que lá trabalhavam, das referências
geográficas próximas como igrejas ou outras instituições passíveis de rápida
identificação e dos nomes dos seus moradores.
Primeiro, falemos da exceção que confirma a regra enunciada
no parágrafo anterior: o Beco Pato Moniz, em Benfica, que homenageia um
escritor (1781-1826) que faleceu no desterro a que o condenaram após a
Vilafrancada por ser liberal. Atribuído pelo Edital municipal de 18/06/1926, foi
acompanhado na mesma zona com a atribuição em Travessas e Largos dos também
escritores José Agostinho de Macedo e Curvo Semedo, de três intervenientes no
31 de Janeiro de 1891 – Abade Pais, Sargento Abílio e Miguel Verdial – e do
também republicano General Sousa Brandão, para além do compositor Marques
Lésbio e do pintor Francisco Resende.
Dos outros 152 Becos alfacinhas, encontramos 32 relativos às
características do próprio local: Beco do Norte (Carnide); Beco do Casal, Beco
da Pedreira da Caneja (Campo de Ourique); Beco da Galheta por corruptela de
Calheta junto ao Tejo, Beco do Olival, Beco do Tremoceiro (Estrela); Beco do
Sabugueiro (Alcântara); Beco dos Aciprestes, Beco da Boavista do Alto de Santa
Catarina (Misericórdia); Beco da Achada, Beco do Alfurja, Beco do Funil, Beco
da Amendoeira, Beco do Azinhal, Beco das Barrelas, Beco das Canas, Beco
Cascalho, Beco do Forno junto ao Largo da Severa, Beco da Lapa, Beco do
Loureiro, Beco da Oliveira, Beco do Pocinho, Beco do Quebra Costas por ser tão
íngreme e dois Becos do Jasmim (todos em Santa Maria Maior); Beco da Bombarda,
Beco do Monte de S. Gens (Arroios); Beco da Laje (São Vicente e Santa Maria
Maior); Beco da Bica do Sapato, Beco da Era, Beco do Mirante (São Vicente);
Beco das Taipas (Marvila). Referindo as
profissões neles exercidas temos 23: Beco dos Ferreiros (Santa Clara); Beco da
Mestra (Carnide); Beco da Botica (São Domingos de Benfica); Beco do Fogueteiro
(Campo de Ourique); Beco da Bolacha, Beco dos Contrabandistas, Beco do
Funileiro (Estrela); Beco dos Armazéns do Linho, Beco do Carrasco (Misericórdia);
Beco do Almotacé, Beco da Atafona, Beco das Atafonas, Beco dos Cortumes por
curtumes, Beco das Farinhas, Beco do
Imaginário pelo escultor de imagens de santos, Beco das Olarias, Beco do Surra, Beco dos Surradores, Beco dos
Três Engenhos (Santa Maria Maior); Beco dos Agulheiros, Beco da Mó, Beco dos
Vidros (São Vicente); Beco dos Toucinheiros (Beato).
Com referências próximas são 38: Beco do Vintém das Escolas (Benfica);
Beco da Enfermaria por referência a um pequeno hospital que ali existiu no séc.
XIX para os criados da Casa Real (Belém); Beco das Fontaínhas (Alcântara); Beco
do Paiol da pólvora, Beco de Santa Quitéria por referência à Travessa do mesmo
nome para substituir o Beco dos Mortos (Campo de Ourique); Beco dos Apóstolos
que queria dizer jesuítas (Misericórdia); Beco da Cruz pela proximidade à Rua
da Cruz dos Poiais, Beco do Forno a São Paulo, Beco da Moeda por estar junto à
Casa da Moeda (Misericórdia); Beco do Colégio dos Nobres, Beco de Santa Marta
do Convento da mesma invocação que hoje vemos como Hospital (Santo António);
Beco do Arco Escuro, Beco do Benformoso junto à Rua do Benformoso, Beco da
Caridade por via da Ermida do mesmo nome, Beco do Castelo e Beco do Forno do
Castelo de São Jorge, Beco dos Cavaleiros para substituir o Beco do Forno junto
à Rua dos Cavaleiros, Beco das Cruzes em Alfama, Beco do Espírito Santo da
Ermida da mesma invocação que depois passou a ser dos Remédios, Beco do Forno
da Galé junto à Rua da Galé, Beco das Gralhas pela proximidade ao Largo das
Gralhas para substituir o Beco do Jasmim, Beco da Guia por mor de um oratório
embutido numa parede, Beco do Outeirinho da Amendoeira, Beco do Penabuquel por
proximidade ao Arco do Penabuquel da muralha fernandina, Beco de Santa Helena
pelo Palácio seiscentista conhecido pelo mesmo nome, Beco de São Francisco por
estar junto ao Terreirinho de São Francisco que depois passou a Largo da Achada,
Beco de São Miguel pela proximidade à igreja da mesma invocação, Beco do
Recolhimento de Nossa Senhora da Encarnação (Santa Maria Maior); Beco de São
Lázaro junto à Rua do mesmo nome, Beco de São Luís da Pena por mor da Igreja da
mesma invocação (Santa Maria Maior e Arroios); Beco do Forno do Sol junto à Rua
do Sol à Graça, Beco do Hospital de Marinha, Beco dos Lóios pela proximidade ao
Largo dos Lóios e para substituir o Beco das Cabras, Beco dos Peixinhos por
proximidade à Quinta dos Peixinhos, Beco do Salvador da Ermida de Jesus
Salvador da Mata, Beco da Verónica pela proximidade à Ermida de Santa Verónica (São
Vicente); Beco do Grilo dos Conventos dos Agostinhos Descalços (Beato) e Beco
da Mitra (Marvila).
Com nomes ou alcunhas de moradores e/ou proprietários temos
36 : Beco do Chão Salgado do Palácio do Duque de Aveiro arrasado e salgado o
seu chão, Beco de Domingos Tendeiro (Belém); Beco da Ferrugenta, Beco dos
Galegos, Beco de João Alves (Ajuda); Beco de Estêvão Pinto (Campolide); Beco do
Batalha, Beco do Julião ( Campo de
Ourique ); Beco do Machadinho do Tabaco
(Estrela); Beco do Caldeira por estar próximo da Travessa do Caldeira e
substituir o Beco do Esfola Bodes, Beco de Francisco André ( Misericórdia );
Beco do Alegrete por estar junto ao Palácio dos Marqueses do Alegrete, Beco da
Barbadela, Beco do Belo, Beco da
Cardosa, Beco do Chanceler de D. Dinis de seu nome Pedro Salgado, Beco dos
Clérigos, Beco da Corvinha, Beco dos Fróis, Beco do Garcês, Beco do Guedes,
Beco do Maldonado, Beco do Maquinez, Beco de Maria da Guerra, Beco do Marquês
de Angeja, Beco do Melo, Beco do Mexias, Beco da Ricarda, Beco do Rosendo que seria
Resende, Beco do Vigário (Santa Maria Maior); Beco dos Birbantes que esmolavam,
Beco do Borralho de António de Moura Borralho, Beco do Félix, Beco de Maria Luísa,
Beco do Petinguím (Arroios) e Beco da
Amorosa (Beato). Outros de ainda indefinida génese e alvo de discussão entre os
olisipógrafos são 23: Beco da Ré por ser uma arguida ou um termo naval?(Belém);
Beco do Viçoso por ser alcunha ou um local verdejante, Beco do Xadrez por ser
alcunha ou um padrão na arquitetura local? (Ajuda); Beco do Monteiro por ser
alcunha ou sítio de montado? (Campolide); Beco dos Capachinhos por alcunha ou
local de feitura de capachos, Beco das Pirralhas por alcunha ou pela presença
de crianças? (Estrela); Beco da Rosa por ser nome de moradora ou pela presença
da flor? (Misericórdia); Beco da Bicha por ser alcunha ou um animal, Beco do
Bugio por se cravarem estacas no chão ou por haver um macaco, Beco do Carneiro
por ser apelido ou alcunha ou animal, Beco dos Cativos por ter escravos ou
presos, Beco das Flores por ser inócuo ou por ter mesmo flores, Beco da Formosa
por uma mulher ou por uma paisagem bonita, Beco do Leão por alcunha ou por
símbolo, Beco das Mil Patacas por uma lenda ou por uma comunidade macaense,
Beco dos Paus em sentido literal ou figurado, Beco dos Ramos em sentido literal
ou um apelido, Beco de São Marçal por um azulejo do santo ou por um oratório
dessa invocação? (Santa Maria Maior); o Beco da Bempostinha por alcunha ou
outra coisa, o Beco do Índia, o Beco da Índia aos Anjos uma alcunha ou alguém
que esteve na Índia?(Arroios); Beco das Beatas e o Beco dos Beguinhos (São
Vicente).
IG (Indicação Geográfica)
Indicação Geográfica (IG) é um selo que reconhece uma área de
vinha determinada dentro de um país pela sua qualidade diferenciada. Esse selo
garante que os produtos daquela região apresentam características específicas
devido a sua origem. Denominação de Origem (DO) é uma subdivisão mais
restritiva dentro da IG. A regulamentação dessas áreas é extremamente rigorosa.
No entanto, não existe uma regulamentação global para as IGs. Cada país utiliza
regras próprias e define suas normas para que uma área seja Indicação
Geográfica. As normas estabelecem as metodologias de produção e também
características dos vinhos, como doçura e teor alcoólico. Esses selos não
apenas delimitam a área de cultivo como também impõe regras de viticultura e vinificação.
Por exemplo, quantidade de videiras permitidas e rendimento de cada uma delas,
castas autorizadas, teor alcoólico. No geral, os selos protegem os produtores e
tornam o consumidor mais consciente sobre o produto. Para que o vinho seja
rotulado com algum desses selos, a produção anual é submetida a provas e testes
para assegurar que a qualidade e características daquela região estão presentes
na bebida. As áreas de plantio e as vinícolas também são inspecionadas
anualmente para garantir que as normas de cultivo e produção estão sendo
seguidas. Leia mais sobre como os vinhos são feitos. Não ter um selo desses não
significa que o produto é ruim. Apenas que ele não segue regras predefinidas ou
não está em uma área delimitada. A qualidade de produtos com selos de
procedência acaba sendo alta, pois os produtores têm de seguir a riscas as
especificações, garantindo assim o padrão da região. Ter conhecimento sobre as
características dos vinhos produzidos em cada IG é muito importante na hora de
escolher ou harmonizar um vinho. Mas essa não é uma tarefa tão simples. Um
especialista pode indicar o que se espera obter de um vinho apenas sabendo sua
origem.
IG em Portugal e outras denominações
Cada uma das 14 regiões vinícolas demarcadas de Portugal
corresponde a uma Indicação Geográfica (IG), dentro das quais se encontra
disposta ao menos uma DOC. Existem hoje 31 DOCs em Portugal e outras dezenas de
Indicações de Proveniência Regulamentada aguardando para tornarem-se DOC.
Cada região vinícola possui sua própria identitade. Contudo,
para iniciar o processo de estudo, podemos agrupá-las em três grandes perfis:
Atlântico, Continental e Mediterrâneo. Primeiro tem o “Perfil Atlântico”, com
as seguintes regiões: Vinho Verde (Minho), Bairrada (Beira Atlântico) e Lisboa.
As suas características são: Vinhos com pouco açúcar e por isso o teor
alcoólico varia de baixo a médio. Possuem acidez natural elevada e alto
frescor, com efeito “crispy”, que os tornam bem apelativos e agradáveis ao
consumidor. O corpo vai de ligeiro a médio e os tintos são marcantes. Mesmo
assim, são vinhos mais diluídos em sabor e textura. São bem aromáticos, com
notas florais. O segundo é “Perfil Montanhoso ou Continental”, com as regiões
do Douro, Dão, Beira Interior e Alentejo Norte. As características são de vinhos
com acidez que varia de média a alta; no geral, são encorpados, mas há alguns
exemplares mais jovens que têm corpo médio. Os taninos são intensos, mas
redondos e possuem alto grau alcoólico, que está integrado à bebida. São vinhos
com alto potencial de envelhecimento e que valorizam o terroir. É comum a
utilização de Vinhas Velhas para a produção. Como em muitos casos não há
distinção de castas plantadas nessas vinhas velhas, a importância e
características estão ligadas ao terroir. E por fim o terceiro, o “Perfil
Mediterrâneo ou Planície”, das regiões do Tejo, Península de Setúbal, Alentejo
Sul e Algarve e as características são de vinhos com maior indicie de açúcar e
com álcool que vai de médio a alto. A acidez é media/baixa, graças a correção
feita durante a vinificação. Os taninos são suaves e pouco marcantes. São
vinhos frutados, macios, com corpo médio e boa concertação e fáceis de beber. A
produção é em grande volume, mecanizada e moderna. Muitas vinícolas seguem os
parâmetros do Novo Mundo, tanto na característica do vinho quanto na produção.
E agora finalmente o vinho!
Na taça conta com um vermelho rubi intenso, pleno, brilhante,
mas com lindos reflexos violáceos, com uma boa aglomeração de lágrimas.
No nariz tem um toque frutado, de frutas negras maduras, como
ameixa e amora, com um toque floral muito agradável, que traz um frescor e delicadeza
ao olfato.
Na boca é seco, leve, redondo, muito equilibrado, macio e fácil
de degustar, mas mostrando a personalidade de um vinho tipicamente lisboeta,
tendo taninos polidos e sedosos, com acidez mediana e um final de média persistência
com retrogosto frutado.
Dos cantos e recantos da região de Lisboa estão sendo
transitadas história e tradição e que são personificadas nesse rótulo. Um
vinho, como disse no início desse texto, simples, mas nobre, pois revela toda a
sua tipicidade, parece que a geográfica abençoa esse vinho, o mar atlântico
traz frescor e certa personalidade a esse Vielas, um vinho com o DNA de Lisboa
com seus vinhos informais e despretensiosos, com a máxima expressão da fruta,
das características mais marcantes das cepas autóctones que entregam com
fidelidade a região na sua cultura vitivinícola. Um vinho descomplicado, mas
versátil, harmoniza com refeições simples e massas leves ou pode degusta-lo
simplesmente sozinho. Um vinho fresco e jovem que vem de uma região banhada
pelo atlântico. 13% de teor alcoólico.
Sobre a Quinta do Gradil:
Não muito distante do sopé da vertente poente da Serra de
Montejunto, entre Vilar e Martim Joanes, está instalada a Quinta do Gradil.
Considerada uma das mais antigas, senão a mais antiga, herdade do concelho do
Cadaval, a Quinta do Gradil tem uma forte tradição vitivinícola que se prolonga
desde há séculos. A propriedade é composta por uma capela nobre ornamentada por
um torreão artisticamente decorado, um núcleo habitacional, uma adega e uma
área agrícola de 200 hectares ocupados com produções vinícolas e frutícolas. A
Quinta do Gradil foi adquirida, nos finais dos anos 90, pelos netos de António
Gomes Vieira, precursor da tradição de vinhos na família desde 1945. Os novos
proprietários iniciaram, em 2000, o processo de reconversão de toda a área de
vinha primando por castas de maior qualidade. A adega sofreu melhoramentos,
estando projetada uma reformulação profunda nos próximos 2 anos, e as cocheiras
recuperadas deram lugar a uma sala de tertúlias. O palacete e capela, em fase
muito avançada de degradação aquando da aquisição da Quinta pelos novos
proprietários, foram limpos e contam agora com um projecto ambicioso de
recuperação, sendo que a herdade tem marcas históricas seculares e constitui um
marco arquitetônico significativo. As mais antigas referências documentais
encontradas sobre a Quinta do Gradil remontam ao final do século XV, num
documento Régio. Em de 14 de Fevereiro de 1492, data do documento, D. Martinho
de Noronha recebeu de D. João II a carta de doação da jurisdição e rendas do
Concelho do Cadaval e da Quinta do Gradil. Por ocasião da ascensão de D. Manuel
I ao trono português e a sua atuação a favor dos membros da Casa de Bragança, a
Quinta do Gradil torna a ser referenciada na confirmação de doação concedida
por D. Manuel I a D. Álvaro de Bragança, irmão mais novo do 3º Duque de
Bragança, D. Fernando II, que acusado de traição foi mandado degolar por D.
João II, em 1483. A Quinta terá sido adquirida pelo Marquês de Pombal por
ocasião do movimento que a partir de 1760 levou à ocupação de terras
municipais, admitindo-se que já na altura contasse com o cultivo de vinha,
fator que terá sido decisivo para o estadista que criou a Companhia das Vinhas
do Alto Douro. Manteve-se na pretensa da família até meados do século XX,
quando foi comparada por Sampaio de Oliveira. Já nos finais dos anos 90 que os
atuais proprietários, a família Vieira, adquirem a herdade.
Sobre a Parras Wines:
A Parras Vinhos de Luís Vieira nasce no ano de 2010,
atualmente com sede em Alcobaça, onde também está instalada a unidade de
engarrafamento do grupo. Cinco anos depois, com a empresa consolidada e voltada
para o mercado internacional, surge a necessidade de se fazer um
reposicionamento de marca e “vesti-la” de outra forma, mais atual. É assim que
no início de 2016 aparece a Parras Wines, mais jovem, mais flexível, e numa
linguagem universal para que possa ser facilmente compreendida por todos, mesmo
os que estão além-fronteiras. Descendente de um pai e de um avô que sempre
trabalharam com vinho, Luís Vieira é o único dono deste projeto. Aos cinco anos
caiu num depósito de vinho e quase morreu afogado, não fosse um colaborador do
avô na altura, que atualmente é seu, tê-lo salvo. Hoje, recorda com graça esse
episódio e diz mesmo que simboliza o seu “batismo nestas andanças do vinho”. A
empresa começa então a formar-se com terra própria na Região Vitivinícola de
Lisboa, mais exatamente na freguesia do Vilar, Cadaval, com duzentos hectares
de propriedade em extensão, sendo que 120 são hoje de vinha plantada. Na mesma
região do país, um bocadinho mais acima, na zona de Óbidos, a Parras Wines é
também responsável pela exploração de 20 hectares de vinha que dão origem aos
vinhos Casa das Gaeiras. Com sede em Alcobaça, nas antigas instalações de uma
fábrica de faianças, deu-se início a uma nova área de negócio – uma Unidade de
Engarrafamento de Bebidas, que hoje serve também de sede à Parras Wines e que
se chama Goanvi. Cinco anos mais tarde, em 2010, constitui-se então a Parras
Vinhos, hoje Parras Wines. Para além de terra na Região de Lisboa, o grupo
começou paralelamente a produzir vinhos de outras regiões do país. Através de
parcerias com produtores locais, a empresa consegue assim dar resposta às
necessidades globais que iam surgindo do mercado, produzindo vinhos do Douro,
Vinhos Verdes, Dão, Lisboa, Tejo, Península de Setúbal e Alentejo.
Mais informações acesse:
https://www.quintadogradil.wine/pt/
Referências de pesquisa:
Portal “Toponímia Lisboa”: https://toponimialisboa.wordpress.com/2017/06/19/os-becos-ou-vielas-de-lisboa/
Portal “Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/
https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/