Há quem diga que degustar o mesmo rótulo da mesma safra duas ou mais vezes não traz nenhuma novidade, pois, segundo defendem essas pessoas, trata-se do mesmo vinho. Bem, em tese é, claro, afinal, lá está estampado o mesmo rótulo e a mesma safra. Mas não se enganem, estimados leitores, que o ato da degustação limita-se a degustação propriamente dita apenas. A boa degustação está em sintonia com outros fatores ou pelo menos deveria estar que impacta decisivamente no prazer em degustar a nossa poesia líquida.
Uma boa companhia, o seu estado de espírito, tem todo um contexto que considero preponderante para que o vinho, o ritual da degustação seja agradável, além, é claro, do vinho em questão. E é nesse ponto que eu gostaria de destacar algo que considero de extrema importância e, embora eu não apresente nada que fundamente a minha tese concretamente, eu a defendo veementemente, com a força de uma fé, baseado em sentimentos, experiências e percepções de um enófilo com alguns anos de caminhada: mesmo que o vinho seja o mesmo, seja um rótulo exatamente igual, a safra idêntica, as percepções, as descobertas, as nuances podem ser sim diferentes.
E o exercício da análise, a experiência podem e muito colaborar
para isso. Exemplo: certas características que você não percebeu na primeira
degustação, pode ser percebida na segunda degustação ou ainda o que você sentiu
no sabor e no aroma na primeira degustação, chegou a conclusão de que não tinha
na sua segunda experiência com o mesmo rótulo, entre outros aspectos.
Mas uma coisa se repetiu quando degustei, pela segunda vez, o OGV (Old Garnacha Vines) da região espanhola da Calatayud, da safra 2016: Que eu degustei e gostei! Que belíssimo e autêntico Garnacha espanhol, de uma região emblemática que é considerada o berço da casta na Espanha, a Catalunha.
Mas eu não quero cair na redundância e anular as minhas teses na minha análise do vinho e também nos aspectos históricos que o rótulo está atrelado. Então, caso queira ler sobre a região da Calatayud, bem como a história da tradicional cepa Garnacha e também fazer a comparação com entre as minhas análises, leia neste link a minha primeira experiência com a OGV (Old Garnacha Vines) 2016.
Espero que não fique entediado e com aquela nítida sensação de que já
lera isso antes em algum lugar. Tanto que irei direto ao ponto, ao que é mais
importante em todo o texto que até agora, estimado leitor, pacientemente você
leu: A análise do vinho!
Na taça apresenta um vermelho rubi com tons violáceos, diria
granada, brilhante e reluzente. Lágrimas grossas e em média intensidade, que
desenha lindamente as paredes do copo.
No nariz é evidente as notas frutadas, frutas vermelhas e
maduras, como framboesa, amoras, cerejas, até diria morango. Um toque de
frescor, de jovialidade se percebe nos aromas, talvez um toque floral.
Na boca é saboroso, um bom volume de boca, de médio corpo tem taninos generosos e macios, com uma ótima acidez que lhe confere o frescor identificado no olfativo. Tem notas de especiarias e um final persistente e frutado.
Não posso deixar de negligenciar uma informação que julgo ser
essencial para as características desse belo Garnacha: oriundo de vinhas
velhas, entre 70 e 100 anos! Vinhas velhas conferem ao vinho a maciez, o
equilíbrio, mas a tal da expressividade que garante personalidade ao vinho, a
Garnacha. Um quesito ímpar, apesar das filosofias e metodologias implantadas
pelos enólogos, bem como as suas propostas, que só a Garnacha pode
proporcionar. O OGV (Old Garnacha Vines) entrega, continua entregando isso com
maestria: robustez, estrutura, mas delicadeza, versatilidade. Outro detalhe que
faço questão de repetir a exaustão e, desde já, caro leitor, peço-lhe imensas
desculpas: é que não podemos passar pela vida decentemente sem degustar um
legítimo Garnacha, seja um rótulo 100% da cepa ou em cortes, em blends, a
Garnacha sempre será um personagem definitivo na cultura vitivinícola universal!
E o forte regionalismo espanhol, da região da Calatayud traz toda a tipicidade
da Garnacha que traduz em belíssimos rótulos que conferem expressividade e
complexidade. Esse belo vinho harmoniza com massas e pizzas, carnes vermelhas e
queijos mais robustos. Tem 14% de teor alcoólico bem integrados e sem passagem
por barricas de carvalho que faz com que predomina as características da cepa.
Sobre a Bodega Virgen de la Sierra:
Situada no sopé da Sierra de la Virgen, no vale do rio
Ribota, esta adega é a mais antiga de DO Calatayud. É o projeto de uma cidade
inteira que deixou de fazer vinho nas vinícolas de sua família para fazer um
trabalho cooperativo. Com um trabalho de mais de 60 anos, Virgen de la Sierra,
hoje mantém a tradição e a sabedoria que herdou de seus ancestrais. Em processo
de modernização, integrou já as mais novas tecnologias, e o resultado delas são
os vinhos que hoje se produzem e que já foram inúmeras vezes reconhecidas nos
últimos anos.
Mais informações acesse:
Obrigado por ler amigo Paulo!
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