sábado, 4 de dezembro de 2021

Cova do Frade Reserva Touriga Nacional 2015

Quando costumo dizer, confesso, de forma demasiada, que degustar um vinho de caráter, de grande apelo regionalista é maravilhoso, eu não falo em vão. Degustar um vinho da casta que é considerada a rainha tinta de Portugal, a Touriga Nacional, já é especial, mas quando fazemos a degustação oriunda da região do Dão, torna-se, ainda mais, especial.

Por quê? Porque a Touriga Nacional é oriunda de uma pequena região do Dão chamada Nelas. Então degustar um Touriga Nacional do Dão é como se guiássemos um carro ícone, de uma marca emblemática nas terras de onde ele fora concebido. É algo muito expressivo, especial.

E mais especial ainda também quando você percebe, a olhos e rótulos vistos, que uma região, tão importante e emblemática, como o Dão, está de remodelando, crescendo, ganhando grandes contornos de modernidade, mas mantendo, com dignidade, suas tradições.

Tanta coisa boa que antecipa uma degustação que se torna um espetáculo à parte, fazendo de uma degustação uma verdadeira celebração, uma ode às tradições, ao terroir de regiões tão importante para os vinhos neste planeta como o Dão, por exemplo. E nada melhor que degustar um Touriga Nacional lusitano que mesmo impulsione o país para o mundo, traz, ao mesmo tempo, a personificação de características tão marcantes das regiões que figura em Portugal.

Sem mais delongas vamos às apresentações do rótulo que confesso transbordar de alegria em degusta-lo, pois, além dessa entrada magnífica o vinho se mostrou no auge, no ápice de seu momento. O vinho que degustei e gostei vem da região portuguesa do Dão e se chama Cova do Frade Reserva, um 100% Touriga Nacional da safra 2015. Essa será a minha segunda experiência com esse rótulo, haja vista que degustei o Cova do Frade Touriga Nacional de 2015, mas de uma linha de entrada.

E para não perder o costume vamos viajar, mesmo que pelas letras e textos, pela história do Dão, da sua casta símbolo, a Touriga Nacional, antes de trazer as análises desse belíssimo vinho.

Dão

A região vinícola do Dão, em Portugal, sempre foi um área nobre dos vinhos portugueses. Durante certo tempo, perdeu seu lugar para o Douro e Alentejo, amargando um segundo plano no mundo dos vinhos, mas está retornando com todo o orgulho que seus vinhos merecem pelas suas peculiaridades.

A região é formada por planície, com encostas suavemente onduladas, cercada de montanhas que a protegem da influência climática do Oceano Atlântico. Além das montanhas, há também muitos pinheiros na região do Dão, pinheiros que escondem os vinhedos e os protegem de intempéries.

Dão e suas videiras

Dão é nome da região e também do rio que se espalha por vertentes de suave ondulação, de cor verde e dourado por vontade do sol e onde o vinho, como nos amores antigos, nasce há muito tempo. Por exemplo, o Infante Dom Henrique levou-o nas caravelas para Ceuta, em 1415 onde com ele celebravam a vitória.

Atualmente, a Rota dos Vinhos do Dão está levando visitantes e turistas aos espaços oferecidos para apreciação da produção vinícola da região com cinco roteiros diferentes: Terras de Viseu, Silgueiros e Senhorim; Terras de Azurara e Castendo; Terras de Besteiros; Terras de Alva e Terras de Serra da Estrela.

A Região Demarcada do Dão foi a uma das primeiras regiões oficiais produtoras de vinhos de Portugal. O retorno da fama da região do Dão vem lembrar que esta foi uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos de mesa em Portugal, sendo ela a fornecedora de vinhos para o país todo, exportando para inúmeros outros.

Sua decadência ocorreu na década de 1960, quando houve um grande aumento na produção, com o surgimento de uma rede de adegas cooperativas. A quantidade de vinho produzida com intenção apenas de venda, fez a qualidade cair. Ao mesmo tempo, e aproveitando a baixa qualidade na época, as áreas do Alentejo e do Douro passaram a melhorar sua própria produção, mantendo a qualidade e atraindo a atenção dos enólogos e dos consumidores de bons vinhos portugueses.

Situada no centro de Portugal, na província de Beira Alta, a Região Demarcada do Dão foi instituída em 1908, tornando-se a uma das primeiras regiões demarcadas de vinhos não licorosos da Península Ibérica.

Pela qualidade dos seus vinhos, a região do Dão é conhecida como a Borgonha Portuguesa. Os vinhos produzidos no Dão são gastronômicos, com excepcional acidez, trazendo aromas complexos e delicados. Esse caráter de complexidade, elegância, maturidade e equilíbrio, com excelente potencial de amadurecimento, de forma nobre e harmoniosa, criaram a combinação perfeita com a gastronomia local, atraindo a atenção dos apreciadores de vinho do mundo todo.

A Região Demarcada do Dão possui 376 mil hectares, dos quais 20 mil hectares são destinados exclusivamente às vinhas, abrigando vários distritos, como Coimbra, onde se localizam Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua; Guarda, onde estão Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia e Seia; e Viseu, onde se concentram Carregal do Sal, Mangualde, Mortágua, Nelas, Penavaldo, Castela, Santa Comba Dão e Sátão.

Dão

A Região Demarcada do Dão é caracterizada por um relevo acidentado, com solo predominantemente granítico e possuindo terroir e clima propícios para a produção de boas uvas, principalmente devido à sua larga amplitude térmica. Entre suas castas, as uvas colhidas na Região Demarcada do Dão apresentam alguns destaques, como por exemplo, a Touriga Nacional, a casta mais nobre da região, produzindo vinhos com bom teor alcoólico, trazendo aromas intensos, encorpados, com taninos nobres e propícios ao envelhecimento mais longo, tornando o paladar ainda melhor depois de maturados.

A Alfrocheiro Preto é outra das castas nobres, conferindo aos vinhos aromas finos, ganhando complexidade ao longo dos anos em que amadurece, e a Jaen, com teor alcoólico regular, mas com aromas intensos de fruta madura, taninos de grande maciez e de altíssima qualidade.

Entre as castas brancas, a mais nobre e a Encruzado, com bom teor alcoólico, trazendo aromas complexos, frescos e relativamente secos.

DOC Dão

O Dão é o berço da Touriga Nacional, famosa uva de Portugal e uma das principais componentes do vinho do Porto. De tão marcante que é, os vinhos da região demarcada devem ter, segundo a regulamentação vigente, no mínimo, 20% de Touriga Nacional em sua composição. Mas além da Touriga Nacional, que é a mais nobre, outras variedades são cultivadas, tanto tintas quanto brancas.

As tintas

Alfrocheiro: segundo especialistas, essa variedade contribui para o equilíbrio entre a acidez e a doçura do vinho dão.

Aragonês: também conhecida como Tinta Roriz, essa cepa confere potencial de guarda ao vinho (uma das principais características do vinho do Dão), além de dar equilíbrio entre corpo e a acidez.

Jaen: essa variedade é geralmente usada para trazer aromas para o vinho, pois tem um perfume intenso e, ao mesmo tempo, delicado.

As brancas

Encruzado: é a casta branca mais valorizada da região, que produz vinhos frescos e que, apesar disso, tem potencial para envelhecimento.

Malvasia fina: outra casta branca cultiva na região, de aromas simples.

Touriga Nacional: a rainha tinta portuguesa

Sua baixa produtividade natural quase lhe custou a sobrevivência no território quando uma praga chamada filoxera arrasou com as plantações europeias em meados do século XIX. Nesse momento, muitos produtores portugueses decidiram replantar seus vinhedos com variedades que produzissem mais. Felizmente para a vitivinicultura mundial, a Touriga Nacional sobreviveu em regiões como o Douro e o Dão e, em tempos de moderna vitivinicultura, já na segunda metade do século XX, ganhou novo vigor, com os enólogos e agrônomos tendo maior entendimento de suas características e trabalhando para, pouco a pouco, melhorar sua produtividade sem descaracterizá-la.

Uma das referências mais antigas à Touriga Nacional está no livro “O Portugal Vinícola”, lançado no século XIX pelo renomado agrônomo português Cincinnato da Costa, onde ele diz que nos anos de 1800, quase todos os vinhedos do Dão eram plantado com esta variedade, a porcentagem chegava a 90% do total das terras plantadas.

Suas qualidades, no entanto, só foram ser reconhecidas nacional e internacionalmente há pouco tempo. Por ser uma uva nobre, e, portanto, de produção reduzida, até 1980 ela era preterida por outras castas portuguesas de maior produção. Só quando os consumidores e produtores de vinho em Portugal começaram a exigir uma produção de qualidade superior em vez da primazia da quantidade em larga escala é que a Touriga ganhou novo status.

A Touriga Nacional também é conhecida como Tourigo, Mortágua, Preto Mortágua ou Elvatoiriga. Preto de Mortágua é o nome de uma pequena e antiga vila na zona do Dão. Isso combinado com o fato de outro vilarejo da região ser chamado de Tourigo reforça a ideia de que essa casta existe por lá há muitos séculos.

O que os cientistas são capazes de comprovar com maior facilidade é que dela são derivadas as variedades conhecidas como Touriga Fina e Touriga Macho. No entanto, seu parentesco com a Touriga Franca (conhecida como Touriga Francesa até a virada deste século) é impreciso. Não se sabe se a Franca é uma subvariedade (ou mutação) da Nacional ou uma combinação da Nacional com outra uva.

Os cachos da Touriga Nacional são delicados e compactos. Seus bagos são pequenos, com formato arredondado, bem definido e coloração negro azulada. Sua pele tem boa espessura, o que ajuda na obtenção de cores intensas. Sua polpa é rígida e suculenta. Seu aroma é profundo, variando entre o floral e o frutado, mas característico, e inconfundivelmente nobre. Assim, em poucas palavras, podem-se definir os aspectos físicos da nobre uva portuguesa.

Apesar de fértil, ou seja, se adapta bem a diversos terrenos, a Touriga tem baixa produtividade devido ao seu caráter de elevado vigor fisiológico. Seu cultivo exige cuidados especiais, já que sua maturação é intermediaria; virtudes como rusticidade e forte resistência a pragas, entretanto, fazem dela uma casta especial.

A Touriga Nacional é versátil e produz vinhos diversos, mas sempre elegantes. Bom teor alcoólico, ótima concentração de cor, elevada complexidade, taninos finos, sabores intensos, volume, equilíbrio e aromas florais distintos são características comuns a vinhos elaborados com esta cepa.

Espumantes, tintos secos finos, vinhos licorosos – são variados os gêneros da bebida dos deuses que essa uva é capaz de resultar. O potencial de guarda das bebidas produzidas com a uva símbolo de Portugal é excelente, elas evoluem em garrafa com bastante desenvoltura. O estágio em madeira de carvalho, por outro lado, lhe dá mais qualidades aromáticas e melhora sua estrutura, além de arredondar seus taninos com maior velocidade, o que torna a bebida pronta para consumo em pouco tempo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi intenso, escuro, fechado, caudaloso, denunciando uma personalidade marcante, além de lágrimas finas e espessas que desenham as bordas do copo.

No nariz a explosão de aromas de frutas negras, maduras, tais como ameixa, amora, cereja negra, em perfeita sinergia com o toque amadeirado e de baunilha, trazendo a sensação de um vinho opulento, carnudo.

Na boca as notas frutadas mostram a sua relevância, com as notas amadeiradas, de café torrado, torrefação mesmo e chocolate, graças aos 12 meses de passagem por barricas de carvalho, além de terra molhada. Tem estrutura média, um vinho cheio, de grande volume de boca, com taninos firmes, presentes, porém domados pelos 6 anos de safra, com acidez instigante e um final longo, persistente.

Tudo conspirou a favor desse belíssimo Cova do Frade Reserva Touriga Nacional! Tudo! A história, as tradições, tudo temperou com prazer e celebração a degustação a parte que culmina, o cume da alegria. É a prova cabal de que não é apenas a degustação, o que já é mágico, mas tudo que circunda esse momento, como costumo dizer: degustamos história, degustamos o abnegado trabalho que antecede o engarrafamento desta poesia líquida. É isso mesmo! Uma poesia líquida que nos inspira, que acalenta o corpo e a alma. Não se é feliz o tempo todo, mas quando se tem ao lado uma garrafa de vinho estamos e ficamos sim, felizes. Um vinho expressivo, mas macio pelo tempo, um paladar distinto e marcante que poucas castas entregam como a rainha Touriga Nacional e que ostenta alguns prêmios. Tem 13,5% de teor alcoólico.

Sobre a Ferreira Malaquias:

A Ferreira Malaquias, foi fundada em 1896, é uma empresa familiar, e está presente no negócio do vinho a quatro gerações, e sempre soube ao longo da sua história renovar o seu compromisso e dedicação, através de uma visão de longo prazo.

Fundada por José Ferreira Malaquias em 1896, já no final do século XIX se afirmava como um comerciante e exportador de vinhos de sucesso, com a sua atividade de comercialização de vinhos de lote da região do Dão.

Num passado recente a Ferreira Malaquias, cumpriu um vasto plano de investimento, com a visão de apresentar ao mercado, nacional e exportação, vinhos de qualidade e  caráter, com diferentes estilos e absoluto respeito pelo “terroir” de origem.

Hoje têm no seu portfólio, as mais reconhecidas regiões vitivinícolas de Portugal - Vinhos Verdes (Minho), Douro, Alentejo e Tejo, e continuando a sua histórica ligação, que vem desde a sua fundação, aos vinhos da região do Dão.

O ano de 2013, fica marcado pelo reforço de investimento na enologia, com a entrada de um prestigiado grupo de enólogos, que veio revolucionar com conhecimento, detalhe e tecnologia, todos os vinhos da Ferreira Malaquias, expressão maior de toda a arte de construir os melhores blends e revelar a personalidade de cada região.

Acrescentar diferencial na qualidade em todas as suas marcas, tem sido confirmado, de forma sistemática, pelo reconhecimento do mercado interno e exportação, e atribuição de múltiplos prémios a nível internacional.

Mais informações acesse:

https://ferreiramalaquias.pt/

Referências:

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/touriga-nacional-a-nobre-uva-portuguesa/

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/touriga-nacional-o-tesouro-nacional-portugues_11850.html

“Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/regiao-do-dao-portugal/

“Clube Vinhos Portugueses”: https://www.clubevinhosportugueses.pt/turismo/caraterizacao-da-regiao-do-dao-2/

“Winer”: http://www.winer.com.br/vinho-dao/


 








 


 

domingo, 28 de novembro de 2021

Adega de Monção Alvarinho e Trajadura 2019

 

Com a tradicional Adega de Monção as portas do vinho verde foram abertas para mim. Os grandes vinhos da região, de mesmo nome, tem a cara do Brasil, são frescos, leves, vivazes, plenos, há também os complexos, longevos, inclusive, para, talvez, momentos mais solenes e propícios para análises mais pormenorizadas. Não é somente a cara do Brasil, são especiais pelas suas castas, pelo seu terroir, pelo seu apelo regionalista.

Não me canso de degusta-los! Já disse de forma demasiada, inclusive, que o vinho verde faz parte da minha vida, das minhas degustações, das minhas preferências e os d Adega de Monção nem se fala! Foi o Muralha de Monção branco, foi o Adega de Monção tinto. Para mim os vinhos da Adega de Monção são inspiração, é a personificação do conceito de vinho verde e da região de Vinhos Verdes, do velho Minho.

O vinho que degustei e gostei de hoje eu não havia degustado, mas sempre vi exposto nas gôndolas dos supermercados, mas a um valor injustamente alto, o que inviabilizava a aquisição. Porém quando estive no festival Vinho Verde Wine Experience da edição de 2020, em pleno auge da pandemia, eu estive no estante do produtor, Adega de Monção, e parei claro, para conferir, degustar alguns rótulos.

E lá encontrei o rótulo que hoje estou a degustar. O degustei, pela primeira vez, e foi um arrebatamento, um momento único simbolizado em apenas uma taça. As castas emblemáticas da região traziam o sabor e o aroma daquelas terras, o tal apelo regionalista de que tanto falamos. Quando saí daquele evento, fui taxativo: Preciso comprar, independente do valor, esse vinho!

Voltei ao supermercado onde o valor estava na estratosfera, mas fui agraciado por um desconto em um formato específico de compra e o mesmo saiu por menos de R$ 30! Para a nossa triste realidade brasileira, um preço convidativo. Não hesitei em leva-lo.

Então sem mais delongas apresento o vinho quer degustei e gostei que veio da região lusitana de Vinhos Verdes, das sub-regiões de Monção e Melgaço, tradicionalíssimas, e se chama Adega de Monção das excepcionais castas Alvarinho (50%) e Trajadura (50%) e a safra é 2019. Então como eu nunca me canso de falar da região de Vinhos Verdes, falemos desta região linda, bem como dos seus distritos de Monção e Melgaço.

Vinhos Verdes: Entre-Douro-e-Minho

Desde o tempo da ocupação romana, antes da era cristã, a vinha era cultivada na margem sul do Rio Minho da forma característica e invulgar que se mantém até hoje. Não se trata de suposição. As referências à viticultura na região encontram-se nos escritos do naturalista Plínio, o Velho, em sua História Natural, e do filósofo Sêneca, em seu compêndio Questões Naturais. Está também documentada na legislação do Imperador Domiciano, entre 96 e 51 a.C.

Na Idade Média multiplicam-se as referências escritas ao cultivo das uvas e a elaboração de vinhos no noroeste lusitano, a partir das atividades nos mosteiros e do decisivo suporte da coroa portuguesa. O vinho entra definitivamente, entre os séculos XIII e XIV, nos hábitos das populações entre o Minho e o Douro ao mesmo tempo em que se dá a expansão econômica da região e a crescente circulação da moeda. Ainda que a exportação fosse pequena, os vinhos verdes foram, entre os vinhos portugueses, os primeiros conhecidos fora das fronteiras, particularmente na Inglaterra.

No início do século XX, ultrapassados os problemas das quebras de produção devido às pragas, foram tomadas medidas especiais para a colocação dos vinhos locais e escoamento dos excedentes. Tornava-se obrigatório, para isso, conservar a genuinidade e a qualidade dos produtos, assegurando-se seu valor do ponto de vista cultural e econômico.

O ano de 1908 é crítico na história portuguesa: o rei Carlos I e seu filho são assassinados, abrindo caminho para a República. Nesse mesmo ano, a região dos vinhos verdes é demarcada oficialmente e dividida em seis sub-regiões: Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel. O limite a oeste é o Atlântico e, ao norte, a Espanha.

Região de Vinhos Verdes

A Região Demarcada dos Vinhos Verdes está dividia em nove sub-regiões, cada uma com sua característica específica e suas castas de uva recomendadas:

Sub-região de Monção e Melgaço: utilizam-se apenas as castas Pedral (tinta) e Alvarinho (branca). É de lá o mais icônico Alvarinho, com notas cítricas misturadas com nuances de aromas florais e de frutos tropicais e paladar mineral.

Sub-região de Amarante: as castas brancas são Azal e Avesso e originam vinhos com aromas frutados e com o maior teor alcoólico da Região. Mas é dos tintos que vem a fama da sub-região. Elaborados com Amaral, Vinhão e Espadeiro, são vinhos com cor carregada e muito viva.

Sub-região de Baião: também tem muita notoriedade na produção dos brancos, a partir da casta Avesso.

Sub-região de Basto: a casta Azal atinge o seu máximo potencial e resulta vinhos com aroma de limão e maçã verde muito frescos, de alta acidez.

Sub-região do Cávado: têm vinhos brancos das castas Arinto, Loureiro e Trajadura com acidez moderada e notas de frutos cítricos e de pomar. Os vinhos tintos são na maioria cortes de Vinhão e Borraçal, cor intensa vermelho granada e aromas de frutos frescos.

Sub-região do Lima: Os vinhos brancos mais famosos são produzidos a partir da casta Loureiro. Os aromas são finos e elegantes e vão desde limão até rosas.

Sub-região de Paiva: produz alguns dos tintos mais prestigiados de toda a Regiãoa a partir de Amaral e Vinhão.

Sub-região do Sousa: utiliza a casta Espadeiro, principalmente para a produção de rosés, sendo alguns dos mais destacados da Região.

Sub-região do Ave: Arinto e Loureiro Trajadura juntas compõem um blend perfeito com frescura viva e notas florais e de frutas cítricas.

O uso indiscriminado dos termos “Vinhos Verdes” ou “Vinho Verde” gera muita confusão. Pode parecer uma questão simplesmente ligada ao plural, mas não é. Os termos se referem à Região dos Vinhos Verdes (plural), uma das 14 regiões demarcadas de Portugal e à Denominação de Origem Controlada (DOC) Vinho Verde (singular). Para receber o selo de Denominação de Origem Vinho Verde, os vinhos devem respeitar as normas estabelecidas pela lei. Não há restrição de área de cultivo, toda a produção realizada dentro da Região dos Vinhos Verdes pode receber o selo se respeitarem as diretrizes da DOC.

A legislação permite a elaboração de vinhos brancos, rosés e tintos dos tipos tranquilo e espumante. Os tranquilos devem ter um volume alcoólico entre 8,5% e 14% e os espumantes entre 10% a 15% de álcool. Todos são elaborados exclusivamente com castas autóctones da região, são elas: as brancas Alvarinho, Arinto, Avesso, Loureiro, Azal, Batoca, Trajadura, e as tintas Vinhão, Alvarelhão, Amaral, Borraçal, Espadeiro, Padeiro, Pedral e Rabo de Anho. É permitida a criação de varietais e blends. Contanto, varietais de Alvarinho só recebem a certificação DOC Vinhos Verdes quando elaborados na sub-região de Monção e Melgaço. Exemplares de qualquer outra sub-região recebe a certificação de Vinho Regional do Minho.

Em 1926 foi criada a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), responsável por controlar e certificar os produtos elaborados na região. Quando a amostra apresentada à CVRVV não cumpre com os requisitos legais para ser certificada como DOC, o exemplar recebe o selo IG Minho. Isso não quer dizer que o vinho é de pior qualidade, apenas que não se enquadra legalmente aos parâmetros pré-definidos. A IG Minho permite a utilização de maior variedade de castas, incluindo uvas internacionais, e regras distintas de vinificação.

Na maioria dos casos, os produtores não estão buscando necessariamente a tipicidade do vinho, mas a produção de vinhos inovadores. É comum encontrar vinhos IG Minho mais caros que os DOC Vinhos Verdes. Alguns produtores optam de forma intencional por rotular seus vinhos como Regional do Minho, até mesmo por questões de marketing e posicionamento de mercado.

A região dos Vinhos Verdes tem influência atlântica, reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que correndo de nascente para poente facilitam a penetração dos ventos marítimos. É observada elevada pluviosidade, temperatura amena, pequena amplitude térmica e solo majoritariamente granítico e localmente xistoso. Mas algumas regiões, por conta do microclima, apresentam características de terroir distintas. O que influencia diretamente no vinho.

Por que vinho verde?

Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquido cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação. A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte.

Monção e Melgaço

Localizada no Noroeste da Península Ibérica, no ponto mais a norte de Portugal, a região de Monção e Melgaço é uma das nove sub-regiões que fazem parte da denominação de Vinhos Verdes, uma das mais conhecidas de Portugal.

Monção e Melgaço

Possui um microclima muito particular, no qual a viticultura se desenvolveu desde o vale do Rio Minho e dos seus afluentes, subindo na meia encosta da montanha, ultrapassando os obstáculos do terreno e da altitude.

Especificamente lá, no ponto mais ao norte do país, os vinhos mais cultuados são os Alvarinhos. Diz-se, aliás, que a origem da casta seria nesse local às margens do Minho, fronteira natural entre Portugal e Espanha.  A cepa é a estrela de uma região marcada por vinhos que, em sua maioria, são produzidos para serem consumidos muito jovens.

A presença do Alvarinho de Monção e Melgaço estende-se desde o vale do Rio Minho e dos seus afluentes, subindo na meia encosta da montanha, adaptando-se a diferentes tipos de terreno e alcançando razoáveis níveis de altitude. O Alvarinho desta sub-região está pouco exposto à influência do mar e tem como uma das condições favoráveis ao seu desenvolvimento, à amplitude térmica na maturação, caracterizada por dias quentes e noites frias. Este fator contribui para a proteção dos aromas e para a persistência do sabor, retendo a sua frescura.

Mas a Alvarinho, apesar de também gerar bebidas para consumo imediato, é capaz de dar mais corpo e estrutura e gerar brancos respeitados e com poder de guarda, destoando um pouco do conceito de vinhos ligeiros.

A fama da região de Monção e Melgaço com seus Alvarinhos é relativamente nova, pois somente a partir dos anos 1930 é que surgiram alguns dos principais produtores locais, como Palácio da Brejoeira, Aveleda e Soalheiro, por exemplo, e mais recentemente nomes como Anselmo Mendes se destacaram produzindo brancos excepcionais com a casta.

A estrela das castas locais é claramente o Alvarinho, que aqui teve a sua origem. No microclima desta sub-região, a casta Alvarinho produz um vinho encorpado, complexo, com um carácter mineral e grande potencial de guarda.

Mas este território produz muito mais:

  1- Vinhos Verdes Brancos

  2- Vinhos Verdes Tintos

  3- Vinhos Verdes Rosados

  4- Espumantes de Vinho Verde

  5- Aguardentes de Vinho Verde

Esta elevada qualidade é o produto de castas indígenas da Região, cultivadas em variações de solos maioritariamente graníticos, e de um microclima atlântico temperado com influência continental, combinados com experiência enológica de topo.

Os vinhos verdes de Monção & Melgaço têm aromas e sabores intensos e concentrados, mineralidade pronunciada, notas distintas, grande potencial de guarda e de evolução em garrafa.

E agora finalmente o vinho!

Na taça tem um lindo amarelo palha com reflexos esverdeados e um reluzente brilho. No início apresentou pequenas bolhas denunciando o que viria pela frente: frescor e boa acidez.

No nariz uma exuberância de frutas de polpa branca e cítricas como maçã-verde, pera, abacaxi e limão, além do pêssego também.

Na boca é seco, frutado, expressivo, com bom volume de boca, mostrando-se com marcante personalidade, uma “agulha” típica dos verdes que espeta a ponta da língua, tem uma ótima acidez que traz frescor e um alto grau gastronômico, com um final persistente.

Mais uma grata experiência! Um grato momento degustar um vinho verde com castas com apelo tão regionalista. Um vinho vívido, pleno, fresco, jovem, saboroso, com a sua acidez que nos estimula a degustar, a degustar e a degustar de forma ávida e descontrolada. Aqui não há espaço para o famoso “beba com moderação”. A parcimônia passa longe. Mesmo que diante de seu frescor, leveza de delicadeza, é um vinho de personalidade, pois entrega muito além do que esperei. Excelente! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre o Adega de Monção:

Situada em plena Região Demarcada dos Vinhos Verdes, na sub-região de Monção e Melgaço, onde a casta Alvarinho é mais bem representada.

A matéria-prima, aliada à cuidada seleção das uvas à entrega da Adega, conjugada com a tecnologia moderna de vinificação e um contato de proximidade com os clientes, são o garante da qualidade dos seus produtos, produtos estes reconhecidos em Portugal, mas também em grande parte dos países da Europa, África, América do Norte e do Sul.

Entre 1986 e 2004 a Adega de Monção melhorou as condições tecnológicas de resseção de uvas e o processo de vinificação, a capacidade de armazenamento, estabilização e engarrafamento dos vinhos.

Em 1999 aumentou as suas instalações com a criação de um novo centro de receção de uvas e vinificação – o polo de Melgaço, cobrindo assim de melhor forma toda a área geográfica da sub-região em que se encontra.

Entre 2004 e 2006, teve início às obras de criação de modernas estruturas físicas que permitiram alargar a comercialização a nível nacional e internacional, perfazendo um investimento total de 6,5 milhões de euros, infraestrutura que acolheu os novos serviços administrativos, zona de receção de uvas e nova linha de engarrafamento, obra inaugurada em 2008 aquando da comemoração dos 50 anos.

Na antiga casa do Adegueiro e silos do bagaço, em 2005, foi criado o Espaço Histórico e Cultural da Adega de Monção e levou à sua integração na Rota dos Vinhos Verdes, Itinerário do Minho.

Tanto em 1997, como em 2007, a Revista “Vinhos” galardoou-a como a “Cooperativa do Ano”, e, em 2008, o Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e Pescas distinguiu-a com o Prémio Empreendedorismo e Inovação. Em 2009 foi galardoada, pelo IAPMEI, com o estatuto de PME Excelência, estatuto que desde então tem sido renovado todos os anos.

Atualmente a Adega de Monção apresenta uma faturação anual superior a 15 milhões de euros, sendo reconhecida de forma unânime como uma das melhores Adegas Cooperativas do País, assumindo assim um papel de grande importância na economia local. Possui 1720 produtores associados, que somam uma área de vinha de 1237 Ha e produções na ordem dos 8.000.000 Kg anuais, dos quais 60% dizem respeito à casta Alvarinho.

Para ser possível o desenvolvimento desta atividade a Adega de Monção, como previamente mencionado, possui dois polos de produção, que no conjunto tem uma capacidade de receção de uvas de 700.000 kg por dia. Possui ainda uma capacidade de armazenamento de vinhos de 10.328.648 litros. A Adega de Monção possui capacidade de vinificação e engarrafamento da totalidade dos vinhos produzidos, tendo sido para o efeito adquirida em 2005 uma nova linha de engarrafamento com uma capacidade de produção de 6000 garrafas/hora.

Mais informações acesse:

http://adegademoncao.pt/

Referências:

“Centro de Promoção e Interpretação do Vinho Verde”: https://www.cipvv.pt/pt/castas/alvarelhao-brancelho/

“Blog Tribuna do Norte”: http://blog.tribunadonorte.com.br/vinodivinovino/77338

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-moncao-e-melgaco-e-seus-vinhos-brancos_12910.html

“Vinho Verde”: https://www.vinhoverde.pt/pt/moncao-melgaco

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-verde-bebida-portuguesa-do-verao_8317.html

https://revistaadega.uol.com.br/artigo/a-paisagem-que-deu-nome-ao-vinho_2744.html

“Reserva 85”: https://reserva85.com.br/vinho/indicacao-geografica-ig-denominacao-de-origem-do/regioes-demarcadas-de-portugal/regiao-dos-vinhos-verdes/

 




sábado, 27 de novembro de 2021

Sartirano Figli Dolcetto 2018

 

Modelo piemontês. É assim que a vinícola San Silvestro & Figli define a sua “natureza” de produzir vinhos. E nada como aliar suas produções a regiões emblemáticas como a magnifica Piemonte, lendárias pelos seus grandes vinhos que vão dos poderosos Barolos, com o potente Nebbiolo aos vinhos mais frescos, diretos e frutados. E quando um produtor se auto intitula um “modelo piemontês” é porque se entrega, de corpo e alma, ao terroir daquela região.

Piemonte traz castas emblemáticas, traz rótulos históricos, traz vinhos múltiplos em suas propostas. Alguns eu já degustei e gostei, nada melhor, por exemplo, como um Barbera, mas ainda faltava uma casta muito famosa por aquelas bandas, que geralmente aparece em blends, me aparece em varietal. Ah que maravilha, era tudo que eu precisava, jamais esperaria encontrar um vinho da casta Dolcetto.

E esse rótulo em especial não foi garimpado, não foi uma busca, mas parece que ele veio até mim, como se estivesse querendo se revelar diante dos meus olhos. O preço estava muito atrativo, afinal, trata-se de um varietal da casta Dolcetto o que não é muito comum encontrar em terras brasileiras.

A compra foi sacramentada, o vinho estava gozando de um espaço privilegiado na adega e até demorou relativamente um tempo para ser degustado, afinal talvez estivesse aguardando um momento importante, ou melhor, o momento importante para degustar esse vinho.

Então sem mais papos vamos às apresentações do vinho que degustei e gostei e, amigos, que belo vinho, que vinho versátil, muita fruta, mas carregado de personalidade e expressividade, aquele vinho com o típico caráter do Piemonte, a cara da Itália. Falo do Sartirano Figli da casta Dolcetto, do Piemonte, da safra 2018. Então, também para não fugir à risca vamos de história, vamos de Piemonte e Dolcetto, um casamento perfeito.

Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos

Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália, fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à produção de vinhos. Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do norte da Europa.

A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então.

Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.


Piemonte

Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram cerca de 26% de terras planas.

Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara, dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos aluviais.

O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo, vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália), Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas francesas, como a Cabernet Sauvignon.

As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG (Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D' Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.

Dolcetto

Nem só das uvas Nebbiolo e Barbera são feitos os italianos clássicos do Piemonte, região noroeste da Itália. Muitas vezes subestimados, os Dolcettos (em italiano, 'ligeiramente doces' ou 'docinhos'), produzidos com a 'eterna' terceira uva do Piemonte são belos vinhos, mais frutados e macios e dificilmente apresentam caráter doce que seus poderosos conterrâneos, os Barolos e Barbarescos, feitos a partir da Nebbiolo, e os Barberas. Os Dolcettos são bastante tânicos, frescos e secos.

No Piemonte, as três uvas fazem parte de uma equação que determina a paisagem. Nebiollos só amadurecem em locais bem ensolarados, Barberas, embora menos exigentes, também têm lá suas suscetibilidades, a Dolcetto, ao contrário, é uva fácil de cultivar e que amadurece rapidamente, por isso ocupa os locais menos ensolarados dos vinhedos, muitas vezes os mais altos. Tradicionalmente, a Dolcetto produzia vinhos que podiam ser consumidos muito jovens, e muito antes das outras duas, o que ajudava a equilibrar o cash flow das vinícolas.

Sendo uma das uvas mais alegres da região de Piemonte, a casta Dolcetto é levemente fermentada no processo de vinificação, tal processo é realizado por produtores de renome que conhecem extremamente bem as características e propriedades da uva Dolcetto. A leve fermentação da uva faz com que seja extraído da casta a quantidade ideal de taninos para a elaboração de vinhos tintos secos maravilhosos.

Utilizada em deliciosos e espetaculares vinhos tintos, a casta Dolcetto da região de Alba produz um dos melhores vinhos provenientes da casta. A Dolcetto D´Alba, cultivada em uma comuna do Piemonte, é considerada DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), sendo 80% dos exemplares de vinhos elaborados com a casta consumidos no próprio país de origem. Os rótulos produzidos a partir da cepa Dolcetto D´Alba possuem caráter rústico com taninos bastante leves e coloração rubi.

Além de Alba, um pequeno lugarejo, localizado na mesmo província de Cuneo, escapa à essa lógica de produção tradicional: Dogliani, uma comuna minúscula situada perto de Turim. Lá, a Dolcetto reina absoluta e ocupa todos os melhores espaços dos vinhedos. Por conta disso, Dogliani tem sua própria DOCG desde 2005, garantia de qualità superiore.

Muitos dizem que os Dolcettos são vinhos italianos com jeito de vinhos do Novo Mundo. E, de certa forma, isso se explica. Ainda que o nome remeta a um sabor adocicado, a uva Dolcetto produz vinhos muito tânicos e de baixa acidez, com alto teor alcoólico, mas que ainda assim são perfeitos para serem consumidos no dia a dia. Ao contrário da realeza italiana da região piemontesa, que pede obras de arte gastronômicas para uma harmonização digna, caem como luvas ao acompanhar os pratos clássicos de massa da Itália, como spaghettis com molho bolonhesa ou polpettas.

Conhecida também como Ormeasco na região da Liguria, a uva Dolcetto vem conquistando muitos admiradores no mundo do vinho, ganhando bastante espaço em países do Novo Mundo com exemplares bastante potentes, secos e com graduação alcóolica elevada. 

E agora finalmente o vinho!

Na taça entrega um vermelho rubi com reflexos violáceos de um reluzente brilho, lembra um Pinot Noir, com poucas lágrimas e que logo se dissipam.

No nariz goza de uma exuberância aromática protagonizada pela fruta, pelas frutas vermelhas onde se destacam a framboesa, o morango e a groselha, com notas de especiarias, talvez algo de herbáceo, um inusitado amadeirado, apesar de não estagiar em barricas de carvalho.

Na boca é seco, de leve para médio corpo, com um bom volume de boca que lhe confere alguma personalidade, a fruta dá o tom, com taninos gulosos, mas domados, uma acidez equilibrada, correta dando ao vinho frescor e uma jovialidade, com um final de média intensidade calcada na fruta.

Ah que maravilha! Que momento especial! A terceira casta Piemonte sendo degustada por mim pela primeira vez. Essa noite ela se tornou a primeira e única do Piemonte. Não sou muito simpático a essa questão da posição das castas essenciais do Piemonte. Cada casta trazem as suas particularidades, as suas peculiaridades, as suas propostas, primordialmente. Depois do Barbera, agora um Dolcetto e em breve será um Nebbiolo. A santíssima trindade do Piemonte. Este Sartirano Figli entrega, com fidelidade, o que um Dolcetto pode e deve apresentar: fruta, muita fruta, frescor, mas personalidade marcante. Um vinho versátil, equilibrado, vivaz e pleno. Tem 12,5% de teor alcoólico.

Sobre a San Silvestro & Figli:

A vinícola San Silvestro está localizada em Novello, no coração do distrito de Barolo. Aqui, Paolo e Guido Sartirano administram o negócio com sabedoria e respeito pela tradição e pela história. Eles representam a quarta geração e são respeitosos com o trabalho que sua família fez para estar onde estão hoje.

Investimentos para o futuro, com atenção aos valores que aprenderam com seus ancestrais: consistência, autenticidade e inovação. Cada copo de vinho incorpora esses três princípios na produção de vinhos que refletem a singularidade dessa grande área. Trabalhando em estreita colaboração com viticultores de diferentes áreas vinícolas (7 hectares de vinhedos), através de parcerias estabelecidas por meio de contratos de longo prazo, que podem durar por gerações.

Dessa maneira, confiança e cooperação se tornaram fundamentais e de ambos os lados. A seleção profissional e rigorosa entre os produtores de uvas é um ponto forte em San Silvestro. Por fim, San Silvestro oferece uma variedade de vinhos que vão de Gavi a Barbaresco pelos distritos de Asti e Barolo.

Mais informações acesse:

https://www.sansilvestrovini.com/?lang=en

https://www.sartirano.com/?lang=en

Referências:

“RBG Vinhos”: https://www.rbgvinhos.com.br/blog/dolcetto-uma-uva-nada-doce-e-cheia-de-potencial

“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/dolcetto

“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html

 

 


 


sábado, 20 de novembro de 2021

Sanjo Núbio Sauvignon Blanc 2017

 

Depois da grande experiência que tive, a minha primeira, diga-se de passagem, com o Sanjo Núbio Cabernet Sauvignon da safra 2010, da região da São Joaquim, na Serra Catarinense, decidi ir à garimpo de mais vinhos dessa região, afinal, os vinhos de altitude são verdadeiramente especiais e longevos. Sim! A longevidade, os vinhos de grande potencial de guarda são a tônica dessa exuberante região e para mim que está se interessando, de forma ávida, nesses vinhos, São Joaquim parece ser a escolha ideal.

Entretanto esbarramos nos altos valores de alguns rótulos ofertados dessa região. É claro que valores é muito relativo, mas para um simplório assalariado como eu e como milhares de brasileiros, fica impossível investir em vinhos na faixa dos R$ 150,00, por mais que de fato esses vinhos se enquadrem na condição de “investimento”, pois diante de suas propostas de longevidade, você pode deixa-lo evoluir e degustar um vinho com 10, 15 ou até 20 anos de safra!

Como esse Sanjo Núbio da casta Cabernet Sauvignon 2010 que, com os seus 11 anos de safra estava no auge, pleno, vivo, intenso, complexo e que ainda tinha muita vida pela frente. 

E não é somente a região de São Joaquim, que recomendo a leitura de sua história nesta resenha que fiz do Núbio Cabernet Sauvignon, mas também o que me chamou a atenção foi esse rótulo da Cooperativa Sanjo que também debutei na degustação. Como pode um vinho, com essa proposta e complexidade, ter um custo X benefício tão bom, tão atrativo? Pasmem, na faixa dos R$ 60,00!

Então fui buscar novos rótulos dessa jovem vinícola que começou como um proeminente produtor de maçãs e que, há pelo menos 20 anos atrás decidiu investir no ramo de vinhos, mas depois tem mais história desse produtor.

Achei alguns vinhos, alguns rótulos dessa vinícola e, sempre que possível, fui adquirindo, rótulo a rótulo. Infelizmente não há tantos sites especializados ou supermercados que ofertam os rótulos da Sanjo e pude observar que eles dispõe de uma razoável, de uma vasta, diria, gama de rótulos em todas as escalas de propostas, mas com grande parte deles tendo, entre outros, a característica da longevidade, que é o carro-chefe da região de São Joaquim.

E no rótulo que escolhi para degustar hoje nesta agradável noite de sábado, já tradicional em minhas degustações vínicas, teve como impulso, como estímulo para a escolha, além do produtor e da região a qual foi concebida, um detalhe que eu desconhecia sobre essa região: é de que a Sauvignon Blanc de São Joaquim é considerado os melhores produzidos desta cepa no Brasil! Fiquei curioso e aproveitei que estava em busca de novos rótulos da Sanjo e de que estes têm valores bem acessíveis, e achei um Sauvignon Blanc por eles produzidos.

Então, sem mais delongas, apresento o vinho que degustei e gostei da região de São Joaquim, na Serra Catarinense, que se chama Sanjo Núbio Sauvignon Blanc da safra 2017. E para ilustrar, em linhas históricas, a percepção sensorial maravilhosa que tive deste belíssimo vinho, falemos um pouco da história de crescimento gradual de qualidade da Sauvignon Blanc nas terras de São Joaquim e do quão maravilhoso a casta ter se adaptado muito bem à esse chão, a esse solo.

"Defendo que nós, produtores, devemos abrir um processo e buscar a denominação de origem dos vinhos de Sauvignon Blanc da altitude de Santa Catarina para caracterizar bem nossos diferenciais de solo, clima e da qualidade da própria uva e do vinho”.

                      Acari Amorim, sócio-fundador da vinícola Quinta das Neves.

Com essa afirmação já mostra quão relevante tem se tornado a questão do Sauvignon Blanc catarinense.

A vitivinicultura na Serra Catarinense surgiu aos olhos dos consumidores brasileiros há pouco tempo. Foi somente no final dos anos 1990 que alguns produtores passaram a apostar na fria e alta região serrana do entorno de São Joaquim. Com altitudes que variam de 900 a 1.400 metros acima do nível do mar, além de temperaturas excepcionalmente baixas e solo predominantemente basáltico, o potencial de seu terroir ainda está sendo bastante testado por enólogos e viticultores, mas, nos últimos anos, uma casta vem se destacando: a Sauvignon Blanc.

Mas por que a Sauvignon Blanc parece se adaptar tão bem ao terroir de Santa Catarina? O significado do nome Sauvignon deriva de ‘selvagem’ e, no clima da altitude catarinense, ser selvagem é uma condição básica de sobrevivência. O segredo da adaptação dessa uva está no seu ciclo intermediário. O período entre a brotação e a maturação das uvas não é precoce nem tardio, e essa característica tem permitido escapar das geadas extremas de início e final de ciclo. Por ser uma variedade de ciclo médio e que brota mais tarde, portanto com menor risco de perdas por geada (consegue escapar da maioria das geadas do início da primavera e que frequentemente gera sérios problemas para uvas como Chardonnay e Pinot Noir), ela se adaptou bem ao terroir de altitude catarinense.

As características da Sauvignon Blanc fazem com que ela suporte o clima catarinense: O ápice do broto da variedade é bem algodonoso – envolto em uma espécie de lanosidade –, e a casca da uva é espessa e resistente. Essas características ajudam muito a planta a suportar o frio. Também é um varietal que tolera o vento, que sopra forte na região.

Os enólogos são unânimes em afirmar que o bom desempenho da Sauvignon Blanc em Santa Catarina está em sua equação com as características climáticas locais. Quando as outras castas tendem a sofrer um pouco diante da climatologia do estado, ela, por sua vez, não apenas suporta as intempéries, como se beneficia delas.

Ainda se está em uma latitude em que a corrente marítima quente (Corrente do Brasil) vinda do norte se encontra com a corrente marítima fria (Corrente das Falklands) vinda do sul e isso permite viver as quatro estações do ano em um único dia, várias vezes no mesmo dia.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um lindo amarelo claro de um reluzente brilho, com alguns reflexos esverdeados.

No nariz uma boa expressão aromática, tendo como protagonistas as frutas brancas, tropicais frescas, tais como maçã-verde, pera, melão, goiaba e cítricas como limão e abacaxi, com toques herbáceos, especiarias e um agradável flores, flores brancas.

Na boca é marcante, goza de grande personalidade, mas, por outro lado, é delicado, elegante, tornando-o ainda jovial, apesar dos seus 4 anos de safra, e fácil de degustar. As frutas ganham destaque também, com uma acidez acentuada que torna o vinho longo, com um final prolongado e fresco.

A busca por novas percepções sensoriais, novos terroirs, o garimpo por novidades, as gratas surpresas, tudo corrobora que a zona de conforto não é uma boa condição para enófilos que buscam grandes e infindáveis novidades que faz do universo do vinho algo inexplorado, altamente inexplorado, arriscaria. Uma casta que já é velha conhecida, como a Sauvignon Blanc, ainda trazer grandes novidades em suas características de uma região que para mim e para o cenário vitivinícola brasileiro, ainda é novo. Há muito a se explorar, há muito a degustar e é tão bom que essa nossa estrada não tenha um fim, uma chegada. Sanjo Núbio Sauvignon traz o máximo da expressão aromática, frutas brancas, silvestres, cítricas, com sabor marcante, de personalidade, intenso e persistência. Um vinho maiúsculo e que faz frente a qualquer rótulo dessa casta produzida na França e no Chile, por exemplo. Que venham mais vinhos de altitude! Tem 12% de teor alcoólico.

Sobre a Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim:

Formada originalmente por 34 fruticultores, em sua maioria imigrantes e descendentes de japoneses oriundos da cooperativa paulista de Cotia, a Sanjo construiu uma história de sucesso comercial investindo em qualidade e tecnologia agrícola. Nossa produção alcança mais de 50 mil toneladas anuais de maçãs, em uma área plantada de 1240 hectares.

No Brasil, as variedades mais consumidas de maçãs são a Gala e a Fuji. A Sanjo produz ambas em grande volume, comercializadas em todo o país, e divididas entre as marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi, conforme a categoria. A empresa também comercializa com sucesso a linha de maçãs em sacolas Sanjo Disney, destinada ao público infantil.

A partir de 2002, aliando os valores da tradição japonesa à qualidade das uvas francesas e à experiência de enólogos de descendência italiana, vindos das tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha, a Sanjo passou a investir também com sucesso na produção de vinhos finos de altitude, contribuindo para o reconhecimento alcançado pelos vinhos produzidos na Serra Catarinense. São 25,7 hectares das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, cultivadas com as mais avançadas tecnologias de produção de uvas para a elaboração de vinhos.

Mais informações acesse:

http://www.sanjo.com.br//



quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Valtier Reserva Tempranillo e Bobal 2013

 

Mais um daqueles dias especiais de degustação que, mesmo previamente, já decretei especial. Explico: pelo simples fato de ser mais um vinho com safras especiais, aqueles vinhos com alguns anos de vida e que tem me atraído de uma forma diria arrebatadora, progressiva.

Mesmo que eu ainda não tenha aquela experiência sensorial, uma capacidade enorme para identificar alguns aromas, sabores e características, parece que a simbiose com esses rótulos são tão longevas quanto o tempo desses de safra. Uma espécie de duradoura relação, mesmo que seja por pouco tempo, sobretudo no quesito quantitativo.

Mas mesmo que a minha experiência ainda não seja a suficiente para o entendimento e interpretação na análise desses vinhos, tenho me esmerado na escolha e compra de rótulos com essa proposta, tão difícil nos dias de hoje, haja vista que o mercado está mais preparado para os vinhos frutados, ligeiros, jovens.

Sempre me pego olhando, admirando a adega, já sitiada por vinhos com mais de dez anos de vida, de garrafa, evoluindo, vagarosamente, melhorando, afinando, a cada dia, a cada minuto, para nosso deleite. São vinhos especiais, singulares, sem dúvida alguma.

E os vinhos espanhóis têm recheados grandemente a minha adega, os vinhos reserva, crianza, gran reserva. O rigor da legislação espanhola para que estes vinhos ostentem esses “títulos”, o terroir enaltecido pelos produtores, o apelo regionalista, tudo conspira para vinhos especiais, imponentes e delicados, ao mesmo tempo.

E o rótulo de hoje personifica todas essas percepções e está, já que falei em adega, há pelo menos 2 anos evoluindo na adega, quase 9 anos de safra, 8 anos para ser exato, esperando o explodir da rolha e inundar a minha simples taça. Sem mais delongas vamos ao nome: o vinho que degustei e gostei veio de uma região ainda pouco conhecida por aqui, Utiel-Requena, na Espanha e se chama Valtier Reserva da safra 2013, com um corte bem interessante de Bobal (50%) e Tempranillo (50%).

E já que falei do blend inusitado, haja vista que a Bobal ainda é uma casta não muito conhecida entre nós, brasileiros, mas muito famosa e importante em Utiel-Requena, e a mais famosa da Espanha no mundo inteiro, Tempranillo, convém falar um pouco desta região e da sua relação com a nossa Bobal, que também merece algumas linhas a seu respeito.

Utiel-Requena

A Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros. É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena.

Utiel-Requena

Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos. Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI.

Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha.

Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol. Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.

Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel. A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência frequente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus).

No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica. Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidade Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.

Bobal

As primeiras notícias da Bobal datam do século XIV. Da costa de Valência, esta uva estabeleceu-se com sucesso em outras regiões do interior da Espanha. Lugares como Utiel-Requena, Ribera e Manchuela, todas Denominação de Origem Controlada, tem a Bobal como uma das suas principais variedades, chegando seu cultivo ser quase que majoritário.

A Bobal é pouco cultivada fora da Espanha, há plantações dela nas regiões de Languedoc-Roussillon, no sul da França, e da Sardenha, na Itália. Dentro dessas regiões é também conhecida por requena, espagnol, benicarlo, provechón, valenciana, carignan d’espagne, balau, requenera, requeno, valenciana tinta ou bobos. Seu nome é derivado da palavra latina Bovale, que significa touro, e refere-se à semelhança que os seus cachos têm com a cabeça de um touro.

É uma uva de porte médio para grande, com bagos redondos e cheios de sumo; além disso, apresentam quantidade razoável de taninos e sabores de chocolate e frutos secos. Seus cachos, por sua vez, são muito grandes, bem compactados e pesados.

Dá-se muito bem com climas mediterrâneos. Elabora diferentes tipos de vinhos, com especial destaque para os vinhos rosés, sempre jovens, com muita cor e com boa acidez; a Bobal ainda é responsável pelos aromas frutados destas bebidas. Os tintos desta uva são pouco alcoólicos, mas muito saborosos, vinhos de coloração cereja escura profunda e boa estrutura de taninos.

Por sua versatilidade e acidez adequada, a Bobal pode ainda ser ainda utilizada para produzir espumantes. As peles grossas de Bobal têm uma elevada quantidade de uma substância que dá cor intensa aos vinhos, bem como presenteia a bebida com uma presença importante de taninos finos, esse é um dos motivos que tem dado a esta uva um destaque especial na produção espanhola, principalmente na região de Manchuela, cujo status de Denominação de Origem deu respaldo ao cultivo da Bobal e aos os vinhos elaborados com ela frente ao mercado interno e externo.

E agora finalmente o vinho!

Na taça revela um vermelho rubi intenso, mas com reflexos violáceos que traz vivacidade e beleza, com lágrimas finas e em abundância que desenham as bordas do copo.

No nariz ainda nos entrega frutas negras, apesar dos seus 8 anos de safra, tais como ameixa, amora, groselha preta, com notas amadeiradas, toques de café e tostado, além de especiarias, onde se destaca pimenta e o tabaco.

Na boca é seco, cheio, alcoólico, estruturado, encorpado, mas equilibrado, redondo, afinal o tempo lhe concedeu elegância, bem como os 24 meses em que passou por barricas de carvalho, afinando, porém entregando também as características do aporte da madeira, como baunilha, os toques amadeirados em perfeita sinergia com as frutas negras, taninos presentes, mas que foram “arredondando” ao longo da degustação, mostrando uma incrível capacidade de evolução em taça, com acidez discreta e final de média persistência.

Tantos pré-requisitos que credenciam este rótulo, este vinho complexo, estruturado, mas com uma estrutura delicada, uma textura elegante. O tempo diz tudo, o tempo é o maior amigo para vinhos com essa proposta e nos entrega o que há de melhor na sua qualidade. Um vinho gastronômico, versátil, equilibrado, pois mesmo que no auge da sua complexidade, principalmente no quesito aromático, ele nos proporciona um vinho macio, com taninos amáveis e uma acidez que ainda está presente, mostrando vivacidade e plenitude, podendo inclusive ser guardado por muito e muito tempo. Vinhas velhas com mais de 40 anos, complexidade, longevidade, vivacidade, são palavras que definem um conceito que, a cada dia, nos mostra o quão especial os vinhos longevos podem nos entregar. Tem 13% de teor alcoólico.

Sobre a Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio:

A família Rivero está de fato relacionada ao mundo do vinho há mais de um século. Nos anos 40, Amador Rivero, pai dos atuais proprietários, Agapito e Jesús Rivero, começou então a cultivar videiras e a produzir vinho profissionalmente em sua vinícola Faustino Rivero Ulecia, em Arnedo (na região de La Rioja).

Em 2003, a Família Rivero decidiu construir uma nova vinícola, Hacienda y Viñedos Marqués del Atrio, S.L., pois o aumento da vinícola em Arnedo não era possível e a oferta de uvas na área era limitada.

A família escolheu a região de Mendavia, no vale do Ebro, porque garante uma qualidade suprema das uvas, necessária para atender às exigências do mercado.

A Rivero Family não vende apenas vinhos com a DOCa Rioja, mas em 1988 começou a vender vinho engarrafado com DO Navarra produzido em Corella (em Navarra) e em 1997 vinhos com DO Utiel-Requena produzido em Requena (em Valência).

Em 2001, pretendendo atender à demanda de vinhos varietais únicos e de consumo diário, a vinícola começou, portanto a vender vinhos regionais. Em 2007, foi dado outro passo e a venda de Cava foi iniciada, aproveitando dessa forma a oportunidade de expansão na indústria do vinho.

Mais informações acesse:

https://grupomarquesdelatrio.com/en/

Referências:

Site “Clube dos Vinhos”: https://www.clubedosvinhos.com.br/os-prazeres-da-uva-bobal/

Blog “O Mundo e o Vinho”: http://omundoeovinho.blogspot.com/2015/11/utiel-requena.html