Modelo piemontês. É assim que a vinícola San Silvestro &
Figli define a sua “natureza” de produzir vinhos. E nada como aliar suas
produções a regiões emblemáticas como a magnifica Piemonte, lendárias pelos
seus grandes vinhos que vão dos poderosos Barolos, com o potente Nebbiolo aos
vinhos mais frescos, diretos e frutados. E quando um produtor se auto intitula
um “modelo piemontês” é porque se entrega, de corpo e alma, ao terroir daquela
região.
Piemonte traz castas emblemáticas, traz rótulos históricos, traz
vinhos múltiplos em suas propostas. Alguns eu já degustei e gostei, nada
melhor, por exemplo, como um Barbera, mas ainda faltava uma casta muito famosa
por aquelas bandas, que geralmente aparece em blends, me aparece em varietal.
Ah que maravilha, era tudo que eu precisava, jamais esperaria encontrar um
vinho da casta Dolcetto.
E esse rótulo em especial não foi garimpado, não foi uma
busca, mas parece que ele veio até mim, como se estivesse querendo se revelar
diante dos meus olhos. O preço estava muito atrativo, afinal, trata-se de um
varietal da casta Dolcetto o que não é muito comum encontrar em terras
brasileiras.
A compra foi sacramentada, o vinho estava gozando de um
espaço privilegiado na adega e até demorou relativamente um tempo para ser
degustado, afinal talvez estivesse aguardando um momento importante, ou melhor,
o momento importante para degustar esse vinho.
Então sem mais papos vamos às apresentações do vinho que
degustei e gostei e, amigos, que belo vinho, que vinho versátil, muita fruta, mas
carregado de personalidade e expressividade, aquele vinho com o típico caráter
do Piemonte, a cara da Itália. Falo do Sartirano Figli da casta Dolcetto, do
Piemonte, da safra 2018. Então, também para não fugir à risca vamos de
história, vamos de Piemonte e Dolcetto, um casamento perfeito.
Piemonte: a filha pródiga dos vinhos italianos
Piemonte disputa com Toscana a primazia de produzir os
melhores vinhos de seu país. Situado na porção mais ocidental da Itália,
fazendo fronteira com a França, também foram os gregos que deram início à
produção de vinhos. Absorvido mais tarde pelo Império Romano, a zona teve um
grande desenvolvimento nas atividades vitivinícolas, que só foram prejudicadas
mais tarde, já na Era Cristã, durante a invasão de povos bárbaros oriundos do
norte da Europa.
A nobreza medieval se encarregou de retomar o plantio das uvas e a elaboração do vinho, já nessa época surgem menções a uva emblemática da região, a Nebbiolo. Devido a forte influência francesa (a região foi, por séculos, dominada pela Casa de Savóia), por muito tempo seu vinho se assemelhou ao clarete, que era a moda na Europa de então.
Foi somente a partir do século XVIII, quando ocorreu um grande processo de renovação vinícola, que surgiu o Barolo, vinho de grande caráter e símbolo da região, para fazer sua fama. O Piemonte produz atualmente cerca de 300 milhões de litros de vinho por ano em sua área de 58 000 ha. plantada de vinhedos.
Como o próprio nome indica, a região está situada ao pé da
montanha - no caso, os Alpes - sendo, portanto, uma região muito acidentada. A
maior parte de Piemonte está constituída por colinas e montanhas, mas sobram
cerca de 26% de terras planas.
Além dos Alpes, outra cordilheira, o Apenino Ligúrio, invade
também seu território. Os rios Pó e Tanaro cruzam suas terras, onde se
encontram as cidades de Torino (capital), Alba, Alessandria, Asti e Novara,
dentre outras. Seu solo é muito variado, com faixas de calcário e areia, outras
de giz e manchas de granito e argila. Ao longo dos rios há presença de solos
aluviais.
O clima é Continental, com estações bem marcadas, invernos
rigorosos e verões quentes. O índice de chuvas é de cerca de 1.000 mm/ano. As
uvas tintas representam dois terços da produção da zona. Além da Nebbiolo,
vamos também encontrar as Barbera (a variedade mais plantada em toda a Itália),
Brachetto, Dolcetto, Grignolino, Freisa e, em menor escala, algumas cepas
francesas, como a Cabernet Sauvignon.
As principais castas brancas são a Arneis, Cortese, Moscato
Bianco, Malvasia, Erbaluce a Chardonnay. O Piemonte produz cinco vinhos DOCG
(Vinhos de Denominazione di Origine Controllata e Garantita), a elite dos
vinhos italianos, são eles: Barolo, Barbaresco, Gattinara, Asti, Brachetto D'
Acqui. Além desses, também saem da região 42 vinhos DOC (Denominazione di
Origine Controllata) e vários Vini da Tavola de boa qualidade.
Dolcetto
Nem só das uvas Nebbiolo e Barbera são feitos os italianos
clássicos do Piemonte, região noroeste da Itália. Muitas vezes subestimados, os
Dolcettos (em italiano, 'ligeiramente doces' ou 'docinhos'), produzidos com a
'eterna' terceira uva do Piemonte são belos vinhos, mais frutados e macios e
dificilmente apresentam caráter doce que seus poderosos conterrâneos, os
Barolos e Barbarescos, feitos a partir da Nebbiolo, e os Barberas. Os Dolcettos
são bastante tânicos, frescos e secos.
No Piemonte, as três uvas fazem parte de uma equação que
determina a paisagem. Nebiollos só amadurecem em locais bem ensolarados,
Barberas, embora menos exigentes, também têm lá suas suscetibilidades, a
Dolcetto, ao contrário, é uva fácil de cultivar e que amadurece rapidamente,
por isso ocupa os locais menos ensolarados dos vinhedos, muitas vezes os mais
altos. Tradicionalmente, a Dolcetto produzia vinhos que podiam ser consumidos muito
jovens, e muito antes das outras duas, o que ajudava a equilibrar o cash flow das vinícolas.
Sendo uma das uvas mais alegres da região de Piemonte, a
casta Dolcetto é levemente fermentada no processo de vinificação, tal processo
é realizado por produtores de renome que conhecem extremamente bem as
características e propriedades da uva Dolcetto. A leve fermentação da uva faz
com que seja extraído da casta a quantidade ideal de taninos para a elaboração
de vinhos tintos secos maravilhosos.
Utilizada em deliciosos e espetaculares vinhos tintos, a
casta Dolcetto da região de Alba produz um dos melhores vinhos provenientes da
casta. A Dolcetto D´Alba, cultivada em uma comuna do Piemonte, é considerada
DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida), sendo 80% dos exemplares
de vinhos elaborados com a casta consumidos no próprio país de origem. Os
rótulos produzidos a partir da cepa Dolcetto D´Alba possuem caráter rústico com
taninos bastante leves e coloração rubi.
Além de Alba, um pequeno lugarejo, localizado na mesmo
província de Cuneo, escapa à essa lógica de produção tradicional: Dogliani, uma
comuna minúscula situada perto de Turim. Lá, a Dolcetto reina absoluta e ocupa
todos os melhores espaços dos vinhedos. Por conta disso, Dogliani tem sua própria
DOCG desde 2005, garantia de qualità superiore.
Muitos dizem que os Dolcettos são vinhos italianos com jeito
de vinhos do Novo Mundo. E, de certa forma, isso se explica. Ainda que o nome
remeta a um sabor adocicado, a uva Dolcetto produz vinhos muito tânicos e de
baixa acidez, com alto teor alcoólico, mas que ainda assim são perfeitos para
serem consumidos no dia a dia. Ao contrário da realeza italiana da região
piemontesa, que pede obras de arte gastronômicas para uma harmonização digna,
caem como luvas ao acompanhar os pratos clássicos de massa da Itália, como
spaghettis com molho bolonhesa ou polpettas.
Conhecida também como Ormeasco na região da Liguria, a uva
Dolcetto vem conquistando muitos admiradores no mundo do vinho, ganhando
bastante espaço em países do Novo Mundo com exemplares bastante potentes, secos
e com graduação alcóolica elevada.
E agora finalmente o vinho!
Na taça entrega um vermelho rubi com reflexos violáceos de um
reluzente brilho, lembra um Pinot Noir, com poucas lágrimas e que logo se
dissipam.
No nariz goza de uma exuberância aromática protagonizada pela
fruta, pelas frutas vermelhas onde se destacam a framboesa, o morango e a
groselha, com notas de especiarias, talvez algo de herbáceo, um inusitado
amadeirado, apesar de não estagiar em barricas de carvalho.
Na boca é seco, de leve para médio corpo, com um bom volume
de boca que lhe confere alguma personalidade, a fruta dá o tom, com taninos
gulosos, mas domados, uma acidez equilibrada, correta dando ao vinho frescor e
uma jovialidade, com um final de média intensidade calcada na fruta.
Ah que maravilha! Que momento especial! A terceira casta
Piemonte sendo degustada por mim pela primeira vez. Essa noite ela se tornou a
primeira e única do Piemonte. Não sou muito simpático a essa questão da posição
das castas essenciais do Piemonte. Cada casta trazem as suas particularidades,
as suas peculiaridades, as suas propostas, primordialmente. Depois do Barbera,
agora um Dolcetto e em breve será um Nebbiolo. A santíssima trindade do
Piemonte. Este Sartirano Figli entrega, com fidelidade, o que um Dolcetto pode
e deve apresentar: fruta, muita fruta, frescor, mas personalidade marcante. Um
vinho versátil, equilibrado, vivaz e pleno. Tem 12,5% de teor alcoólico.
Sobre a San Silvestro & Figli:
A vinícola San Silvestro está localizada em Novello, no
coração do distrito de Barolo. Aqui, Paolo e Guido Sartirano administram o
negócio com sabedoria e respeito pela tradição e pela história. Eles
representam a quarta geração e são respeitosos com o trabalho que sua família
fez para estar onde estão hoje.
Investimentos para o futuro, com atenção aos valores que
aprenderam com seus ancestrais: consistência, autenticidade e inovação. Cada
copo de vinho incorpora esses três princípios na produção de vinhos que
refletem a singularidade dessa grande área. Trabalhando em estreita colaboração
com viticultores de diferentes áreas vinícolas (7 hectares de vinhedos),
através de parcerias estabelecidas por meio de contratos de longo prazo, que
podem durar por gerações.
Dessa maneira, confiança e cooperação se tornaram
fundamentais e de ambos os lados. A seleção profissional e rigorosa entre os
produtores de uvas é um ponto forte em San Silvestro. Por fim, San Silvestro
oferece uma variedade de vinhos que vão de Gavi a Barbaresco pelos distritos de
Asti e Barolo.
Mais informações acesse:
https://www.sansilvestrovini.com/?lang=en
https://www.sartirano.com/?lang=en
Referências:
“RBG Vinhos”: https://www.rbgvinhos.com.br/blog/dolcetto-uma-uva-nada-doce-e-cheia-de-potencial
“Mistral”: https://www.mistral.com.br/tipo-de-uva/dolcetto
“Revista Adega”: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/piemonte-grandiosa-regiao-italiana_8360.html
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