No dia 7 de novembro de 2020 aconteceu mais um “Vinho Verde
Wine Experience”, o festival de degustação de vinhos oriundos de uma das mais
tradicionais, queridas e emblemáticas regiões lusitanas de vinho: a Região dos
Vinhos Verdes, no noroeste de Portugal e que faz divisa com a Espanha. Por mais
uma vez o evento ocorreu no Museu de Arte Moderna na Avenida Infante Dom
Henrique, no Parque do Flamengo, Rio de Janeiro.
Esse ano algumas adaptações foram feitas para seguir o
protocolo de segurança em virtude da pandemia do COVID-19, como álcool em gel
nos estandes dos produtores, cuspideiras para cada enófilo e horários
diferentes com um número reduzido de convidados para evitar aglomerações.
Apesar do protocolo de segurança sanitária sendo
rigorosamente feito, o risco é sempre iminente em se tratando de um vírus com
um alto índice de contaminação, mas decidi arriscar para participar de mais um
evento de degustação que, sem sombra de dúvida, para enófilos como eu, é
imprescindível para o escambo de conhecimento, além, é claro de conhecer novos
rótulos, novas propostas e a degustação, cerne desses eventos.
Sou um grande fã dos Vinhos Verdes! Acho que os vinhos verdes
são uma unanimidade no Brasil, haja vista que são vinhos, na sua predominância,
leves, frescos, descomplicados, informais e sobretudo acalentadores, ótimos
para celebrar com amigos e reunir a família junto à mesa. Sem contar que tem a
cara do Brasil, do clima tropical do Brasil e o espírito descontraído do
brasileiro.
Quando adentrei o salão do MAM observei os estandes dos
produtores, dos principais da Região dos Vinhos Verdes, e vi que tinham tantos
rótulos: eram brancos, tintos, rosés, espumantes, leves, frescos, barricados,
estruturados, eram várias propostas, um passeio na história dessa tradicional
região de Portugal. Segundo os organizadores, a instituição que regimenta e
defende os interesses dos produtores e difunde os seus vinhos, que eram mais de
100 rótulos. Não duvido, afinal eram muitos mesmo, acredito que tinham mais,
muito mais, para deleite de todos os enófilos que lá estavam.
Mas antes de falar dos vinhos, dos rótulos que degustei,
falemos um pouco da história dos vinhos verdes e de sua importante região. Você
sabe por que são chamados de Vinhos Verdes? Então vamos lá!
O Vinho é verde?
Vinho Verde é o vinho do Minho, região localizada no norte de
Portugal. Estendendo-se pelo litoral até a fronteira com a Espanha, o Minho é a
região de cidades históricas, vilas pitorescas, e do Vinho Verde. Não é tipo de
vinho. Também não é cor, já que pode ser branco, tinto, rosé, ou espumante.
Vinho Verde é simplesmente a Denominação de Origem de toda a região.
Como assim, Denominação de Origem? Grosso modo, se o vinho é
feito no Dão, e segue as regras da comissão local, ele recebe Denominação de
Origem (DOC) Dão. Analogamente, se é feito no Alentejo, ele pode receber a DOC
Alentejo. Feito no Douro, DOC Douro. E feito no Minho, ele pode ter DOC Vinho
Verde. O caso do Vinho Verde é uma exceção, em que o nome da DOC não é o nome
da região, e isso ajuda a causar um pouco de confusão.
E por que escolheram este nome? A versão preferida pelos
produtores de Vinho Verde é de que faz referência ao verde da paisagem da
região. Mas a verdade é que o nome é derivado da oposição a maduro, pois as
uvas na região, no passado, eram tradicionalmente colhidas ‘verdes’, ou melhor,
um pouco antes do ponto ideal de maturação. Ainda hoje, muitos restaurantes do
país ainda exibem cartas de vinhos separando os ‘verdes’ dos ‘maduros’.
Hoje em dia isso não é mais verdade, e as uvas são colhidas
em seu ponto ideal de maturação. De qualquer maneira, esta herança é
responsável pelas características do vinho: leve, de muita acidez, levemente
efervescente (como se diz em Portugal, tem agulha), e geralmente de baixo teor
alcoólico. E estas características fazem deles vinhos muito gastronômicos,
fáceis de harmonizar com pratos muito diversos; e também refrescantes, gelados,
à beira da piscina.
As principais uvas cultivadas em Vinho Verde
O clima de Vinho Verde é propício para o cultivo de castas
brancas, como a Alvarinho, a Arinto, a Azal, a Loureiro e a Trajadura.
Apesar de a produção vitivinícola ser majoritariamente de
vinhos brancos, também são feitos vinhos tintos e rosés. As castas tintas
possuem dificuldade de amadurecer na região porque há pouca luminosidade. O
pigmento das uvas funciona como bloqueador de raios solares, de forma que só há
o cultivo de castas tintas na sub-região de Monção e Melgaço, onde há menos
chuva e as temperaturas são mais elevadas.
As principais variedades de uvas tintas cultivadas na região
são a Alvarelhão, a Amaral, a Borraçal, a Espadeiro, a Padeiro, a Pedral, a
Rabo de Anho e a Vinhão.
As características dos vinhos de Vinho Verde
O clima influencia bastante nas características do vinho, de
forma que é relativamente fácil identificar as produções de Vinho Verde de
outras regiões portuguesas. A característica mais marcante destes vinhos é a
acidez. Como são colhidas antes do seu ponto máximo de maturação, as uvas estão
mais possuem menor quantidade de açúcar, o que garante um teor alcoólico mais
baixo na bebida. O clima frio e a baixa amplitude térmica (diferença entre a
temperatura máxima e mínima em um só dia) da região, por sua vez, explica a
acidez e o frescor dos vinhos de Vinho Verde. Além de encorpados, os vinhos são
muito aromáticos e bastante frutados, o que é perfeito para a harmonização
gastronômica. A região de Vinho Verde produz vinhos leves, com baixa graduação
alcoólica, muito frescor e borbulhas.
E agora vamos aos principais rótulos do evento!
Para começar comecei a noite, que estava muito agradável e propícia para a degustação de bons vinhos verdes, com os rótulos da tradicional Adega de Monção com os seus principais rótulos: Adega de Monção branco e os excepcionais vinhos da linha Muralha de Monção, branco e rosé. O Adega de Monção é um vinho mais fresco, leve, com uma bela acidez e um final super frutado. Um vinho frutado, lembrando frutas brancas e cítricas, bem como também a linha Muralha de Monção, sobretudo o seu rosé, muito frutado e o branco um pouco mais estruturado, com alguma complexidade.
Em seguida pulei para o estande da linha básica e de ótimo
custo X benefício da Chapeleiro, com as suas versões branca e rosé, seguindo
também a linha de vinhos jovens, diretos e fáceis de degustar.
Depois dei um salto na proposta degustando um belíssimo
Alvarinho reserva que, embora não tendo passagem por madeira, era um vinho
muito estruturado, poderoso, pungente na boca, rico e complexo. E, segundo o
representante do produtor, conta com um enorme potencial de guarda para um
vinho verde, com 8 a 10 anos de vocação de guarda! Incrível!
E tinha até espumante de vinho verde! No Brasil temos poucos
e ou quase nada de ofertas no mercado de vinhos de um espumante de vinho verde,
então quando surge a oportunidade de degustar um, não podemos desperdiçar, não
é? E que vinho, prezados leitores enófilos, que vinho! Um 100% Alvarinho com
uma acidez envolvente e poderosa com muita fruta e perlage. Demais!
Tinha também vinho verde oriundo de vinhas velhas. Esse
rótulo abaixo é parte de vinhas velhas e conta com uma especial complexidade,
mas fácil de degustar e agradável final com muita persistência. Um vinho para
se degustar com calma e reverência.
A linha Azevedo, bem conhecida nas terras do Minho, também
marcaram presença e o destaque ficou para o corte das principais castas dessa
região: Loureiro e Alvarinho. Que vinhaço! E também o Alvarinho Reserva que não
ficou atrás.
O evento teve espaço também para o tradicional Gazela que,
muito leve e fresco, ganhou um espaço no meu coração. Para alguns o Gazela é
muito ralo, sem expressão e fraco. Mas não o considerei como tal, a rejeição
não justifica. É apenas uma proposta de vinho que é ideal para receber amigos e
degustar despretensiosamente na beira da piscina ou na praia.
Outra linha importante da Região dos Vinhos Verdes é da
Campelo. Nessa edição contou com os varietais Alvarinho e a minha preferida da
região, a Loureiro. Mas gostei mais do Alvarinho desse produtor me
decepcionando um pouco o seu Loureiro.
Mas o que não decepcionou foi o Loureiro Quinta da Calçada.
Guardem o nome desse rótulo: Quinta da Calçada Loureiro! Ele é simplesmente
excelente! Especial! Para mim foi o melhor Loureiro que degustei no evento! Fez
jus a história da casta e da região: um vinho com alguma estrutura, frutado,
redondo, com um bom volume de boca, um senhor vinho! Não ficou atrás também o
rosé, o Portal da Calçada, com muita fruta e expressividade.
O evento nos ofereceu alguns vinhos verdes tintos, que são
raros, difíceis de encontrar e que vinhos, senhores leitores. Todos com base na
famosa casta Vinhão, outros 100% da casta, tinham como ponto forte o bom volume
de boca, a excelente acidez e o sabor excepcional! Entre eles podemos destacar
os da Adega Cooperativa Ponte da Barca e o Tapada dos Monges, o Terra de
Felgueiras e o Arca Nova, todos 100% da cepa Vinhão.
A linha “ABCDarium” também marcou presença e o destaque ficou
para o seu excepcional Arinto que é considerada a Riesling portuguesa. E merece
essa comparação. São vinhos eloquentes, fáceis de degustar, frutados,
equilibrados e muito, mas muito elegante. Muito bom também é o seu Alvarinho e
rosé.
O destaque e a curiosidade da noite ficou para o Vinhão Naked
branco. A casta tinta em versão branca é bem interessante, pois na vinificação
as cascas da cepa são retiradas garantindo a sua versão branca. A mim agradou,
com uma bela acidez garantindo o seu destaque. Mas eu prefiro a sua versão
tinta.
E já que eu mencionei o Quinta da Calçada Loureiro como o
melhor Loureiro do evento, tenho que falar do melhor Alvarinho que degustei na noite
desse excelente festival, com passagem por barricas de carvalho. Estruturado,
potente, mas deixando revelar a sua fruta, o seu equilíbrio e a sua elegância.
Belíssimo Alvarinho! Correndo por fora também o ótimo Valados de Melgaço.
Então foi assim a minha noite com os vinhos verdes! Se eu já amava
os vinhos dessa abençoada região nas terras dos nossos amigos patrícios, o
Vinho Verde Wine Experience corroborou a minha condição de amor incondicional
pelos Vinhos Verdes que amadureceram em meu coração.
Fontes de pesquisa:
Blog Grand
Cru: https://blog.grandcru.com.br/sabia-que-o-vinho-verde-pode-ser-branco-tinto-ou-rose/
Portal Caminho do Vinho: http://www.caminhodovinho.tur.br/mas-afinal-o-que-e-vinho-verde/
Foi ótimo o festival de degustação meu amigo. Sou um incondicional fã dos vinhos verdes! Tem tudo a ver com a nossa identidade cultural e é um veículo de intercâmbio entre Brasil e Portugal, sem sombra de dúvida. sem contar que, como bem disse, eventos como esse faz com que você tenha contato com pessoas e produtores fortalecendo as experiências no ato da degustação, seus rótulos, regiões e castas. Saúde!
ResponderExcluir