domingo, 8 de novembro de 2020

Vinho Verde Wine Experience 2020

 

No dia 7 de novembro de 2020 aconteceu mais um “Vinho Verde Wine Experience”, o festival de degustação de vinhos oriundos de uma das mais tradicionais, queridas e emblemáticas regiões lusitanas de vinho: a Região dos Vinhos Verdes, no noroeste de Portugal e que faz divisa com a Espanha. Por mais uma vez o evento ocorreu no Museu de Arte Moderna na Avenida Infante Dom Henrique, no Parque do Flamengo, Rio de Janeiro.

Esse ano algumas adaptações foram feitas para seguir o protocolo de segurança em virtude da pandemia do COVID-19, como álcool em gel nos estandes dos produtores, cuspideiras para cada enófilo e horários diferentes com um número reduzido de convidados para evitar aglomerações.

Apesar do protocolo de segurança sanitária sendo rigorosamente feito, o risco é sempre iminente em se tratando de um vírus com um alto índice de contaminação, mas decidi arriscar para participar de mais um evento de degustação que, sem sombra de dúvida, para enófilos como eu, é imprescindível para o escambo de conhecimento, além, é claro de conhecer novos rótulos, novas propostas e a degustação, cerne desses eventos.

Sou um grande fã dos Vinhos Verdes! Acho que os vinhos verdes são uma unanimidade no Brasil, haja vista que são vinhos, na sua predominância, leves, frescos, descomplicados, informais e sobretudo acalentadores, ótimos para celebrar com amigos e reunir a família junto à mesa. Sem contar que tem a cara do Brasil, do clima tropical do Brasil e o espírito descontraído do brasileiro.

Quando adentrei o salão do MAM observei os estandes dos produtores, dos principais da Região dos Vinhos Verdes, e vi que tinham tantos rótulos: eram brancos, tintos, rosés, espumantes, leves, frescos, barricados, estruturados, eram várias propostas, um passeio na história dessa tradicional região de Portugal. Segundo os organizadores, a instituição que regimenta e defende os interesses dos produtores e difunde os seus vinhos, que eram mais de 100 rótulos. Não duvido, afinal eram muitos mesmo, acredito que tinham mais, muito mais, para deleite de todos os enófilos que lá estavam.

Mas antes de falar dos vinhos, dos rótulos que degustei, falemos um pouco da história dos vinhos verdes e de sua importante região. Você sabe por que são chamados de Vinhos Verdes? Então vamos lá!

O Vinho é verde?                                                            

Vinho Verde é o vinho do Minho, região localizada no norte de Portugal. Estendendo-se pelo litoral até a fronteira com a Espanha, o Minho é a região de cidades históricas, vilas pitorescas, e do Vinho Verde. Não é tipo de vinho. Também não é cor, já que pode ser branco, tinto, rosé, ou espumante. Vinho Verde é simplesmente a Denominação de Origem de toda a região.

Região dos Vinhos Verdes

Como assim, Denominação de Origem? Grosso modo, se o vinho é feito no Dão, e segue as regras da comissão local, ele recebe Denominação de Origem (DOC) Dão. Analogamente, se é feito no Alentejo, ele pode receber a DOC Alentejo. Feito no Douro, DOC Douro. E feito no Minho, ele pode ter DOC Vinho Verde. O caso do Vinho Verde é uma exceção, em que o nome da DOC não é o nome da região, e isso ajuda a causar um pouco de confusão.

E por que escolheram este nome? A versão preferida pelos produtores de Vinho Verde é de que faz referência ao verde da paisagem da região. Mas a verdade é que o nome é derivado da oposição a maduro, pois as uvas na região, no passado, eram tradicionalmente colhidas ‘verdes’, ou melhor, um pouco antes do ponto ideal de maturação. Ainda hoje, muitos restaurantes do país ainda exibem cartas de vinhos separando os ‘verdes’ dos ‘maduros’.

Hoje em dia isso não é mais verdade, e as uvas são colhidas em seu ponto ideal de maturação. De qualquer maneira, esta herança é responsável pelas características do vinho: leve, de muita acidez, levemente efervescente (como se diz em Portugal, tem agulha), e geralmente de baixo teor alcoólico. E estas características fazem deles vinhos muito gastronômicos, fáceis de harmonizar com pratos muito diversos; e também refrescantes, gelados, à beira da piscina.

As principais uvas cultivadas em Vinho Verde

O clima de Vinho Verde é propício para o cultivo de castas brancas, como a Alvarinho, a Arinto, a Azal, a Loureiro e a Trajadura.

Apesar de a produção vitivinícola ser majoritariamente de vinhos brancos, também são feitos vinhos tintos e rosés. As castas tintas possuem dificuldade de amadurecer na região porque há pouca luminosidade. O pigmento das uvas funciona como bloqueador de raios solares, de forma que só há o cultivo de castas tintas na sub-região de Monção e Melgaço, onde há menos chuva e as temperaturas são mais elevadas.

As principais variedades de uvas tintas cultivadas na região são a Alvarelhão, a Amaral, a Borraçal, a Espadeiro, a Padeiro, a Pedral, a Rabo de Anho e a Vinhão.

As características dos vinhos de Vinho Verde

O clima influencia bastante nas características do vinho, de forma que é relativamente fácil identificar as produções de Vinho Verde de outras regiões portuguesas. A característica mais marcante destes vinhos é a acidez. Como são colhidas antes do seu ponto máximo de maturação, as uvas estão mais possuem menor quantidade de açúcar, o que garante um teor alcoólico mais baixo na bebida. O clima frio e a baixa amplitude térmica (diferença entre a temperatura máxima e mínima em um só dia) da região, por sua vez, explica a acidez e o frescor dos vinhos de Vinho Verde. Além de encorpados, os vinhos são muito aromáticos e bastante frutados, o que é perfeito para a harmonização gastronômica. A região de Vinho Verde produz vinhos leves, com baixa graduação alcoólica, muito frescor e borbulhas.

E agora vamos aos principais rótulos do evento!

Para começar comecei a noite, que estava muito agradável e propícia para a degustação de bons vinhos verdes, com os rótulos da tradicional Adega de Monção com os seus principais rótulos: Adega de Monção branco e os excepcionais vinhos da linha Muralha de Monção, branco e rosé. O Adega de Monção é um vinho mais fresco, leve, com uma bela acidez e um final super frutado. Um vinho frutado, lembrando frutas brancas e cítricas, bem como também a linha Muralha de Monção, sobretudo o seu rosé, muito frutado e o branco um pouco mais estruturado, com alguma complexidade.



Em seguida pulei para o estande da linha básica e de ótimo custo X benefício da Chapeleiro, com as suas versões branca e rosé, seguindo também a linha de vinhos jovens, diretos e fáceis de degustar.


Depois dei um salto na proposta degustando um belíssimo Alvarinho reserva que, embora não tendo passagem por madeira, era um vinho muito estruturado, poderoso, pungente na boca, rico e complexo. E, segundo o representante do produtor, conta com um enorme potencial de guarda para um vinho verde, com 8 a 10 anos de vocação de guarda! Incrível!


E tinha até espumante de vinho verde! No Brasil temos poucos e ou quase nada de ofertas no mercado de vinhos de um espumante de vinho verde, então quando surge a oportunidade de degustar um, não podemos desperdiçar, não é? E que vinho, prezados leitores enófilos, que vinho! Um 100% Alvarinho com uma acidez envolvente e poderosa com muita fruta e perlage. Demais!

Tinha também vinho verde oriundo de vinhas velhas. Esse rótulo abaixo é parte de vinhas velhas e conta com uma especial complexidade, mas fácil de degustar e agradável final com muita persistência. Um vinho para se degustar com calma e reverência.

A linha Azevedo, bem conhecida nas terras do Minho, também marcaram presença e o destaque ficou para o corte das principais castas dessa região: Loureiro e Alvarinho. Que vinhaço! E também o Alvarinho Reserva que não ficou atrás.


O evento teve espaço também para o tradicional Gazela que, muito leve e fresco, ganhou um espaço no meu coração. Para alguns o Gazela é muito ralo, sem expressão e fraco. Mas não o considerei como tal, a rejeição não justifica. É apenas uma proposta de vinho que é ideal para receber amigos e degustar despretensiosamente na beira da piscina ou na praia.

Outra linha importante da Região dos Vinhos Verdes é da Campelo. Nessa edição contou com os varietais Alvarinho e a minha preferida da região, a Loureiro. Mas gostei mais do Alvarinho desse produtor me decepcionando um pouco o seu Loureiro.


Mas o que não decepcionou foi o Loureiro Quinta da Calçada. Guardem o nome desse rótulo: Quinta da Calçada Loureiro! Ele é simplesmente excelente! Especial! Para mim foi o melhor Loureiro que degustei no evento! Fez jus a história da casta e da região: um vinho com alguma estrutura, frutado, redondo, com um bom volume de boca, um senhor vinho! Não ficou atrás também o rosé, o Portal da Calçada, com muita fruta e expressividade.


O evento nos ofereceu alguns vinhos verdes tintos, que são raros, difíceis de encontrar e que vinhos, senhores leitores. Todos com base na famosa casta Vinhão, outros 100% da casta, tinham como ponto forte o bom volume de boca, a excelente acidez e o sabor excepcional! Entre eles podemos destacar os da Adega Cooperativa Ponte da Barca e o Tapada dos Monges, o Terra de Felgueiras e o Arca Nova, todos 100% da cepa Vinhão.





A linha “ABCDarium” também marcou presença e o destaque ficou para o seu excepcional Arinto que é considerada a Riesling portuguesa. E merece essa comparação. São vinhos eloquentes, fáceis de degustar, frutados, equilibrados e muito, mas muito elegante. Muito bom também é o seu Alvarinho e rosé.



O destaque e a curiosidade da noite ficou para o Vinhão Naked branco. A casta tinta em versão branca é bem interessante, pois na vinificação as cascas da cepa são retiradas garantindo a sua versão branca. A mim agradou, com uma bela acidez garantindo o seu destaque. Mas eu prefiro a sua versão tinta.

E já que eu mencionei o Quinta da Calçada Loureiro como o melhor Loureiro do evento, tenho que falar do melhor Alvarinho que degustei na noite desse excelente festival, com passagem por barricas de carvalho. Estruturado, potente, mas deixando revelar a sua fruta, o seu equilíbrio e a sua elegância. Belíssimo Alvarinho! Correndo por fora também o ótimo Valados de Melgaço.

Então foi assim a minha noite com os vinhos verdes! Se eu já amava os vinhos dessa abençoada região nas terras dos nossos amigos patrícios, o Vinho Verde Wine Experience corroborou a minha condição de amor incondicional pelos Vinhos Verdes que amadureceram em meu coração.












































Um comentário:

  1. Foi ótimo o festival de degustação meu amigo. Sou um incondicional fã dos vinhos verdes! Tem tudo a ver com a nossa identidade cultural e é um veículo de intercâmbio entre Brasil e Portugal, sem sombra de dúvida. sem contar que, como bem disse, eventos como esse faz com que você tenha contato com pessoas e produtores fortalecendo as experiências no ato da degustação, seus rótulos, regiões e castas. Saúde!

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